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Introdução

A Igreja da Madre De Deus é um marco para a história da arquitetura, da religião como também de
Pernambuco e do Brasil. Com peças e estilos únicos, a igreja é um convite a uma fantástica viagem pela
história e é, de fato, um patrimônio da humanidade. Entretanto, apesar de algumas intervenções do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) ao longo das últimas décadas. Esse baluarte, ímpar para
o entendimento de certos contextos históricos, que nos habilita o entendimento da sociedade pernambucana
e também brasileira do século XVI até os dias atuais, infelizmente se encontra “oculto” e esquecido pelo
governo e pelos órgãos competentes, responsáveis pela sua manutenção e restauração, bem também como
os atores que convivem dia após dia com o patrimônio. Pretendemos elucidar os fatores que podem levar a
esse descaso e, além de denunciar, propor soluções emergenciais e um projeto para o resgate material e
imaterial do patrimônio em questão, porque, de acordo com as pesquisas e visitas feitas em campo durante o
trabalho, seria, talvez até, revoltante e uma falta de humanidade de nossa parte, se não perpetrássemos um
projeto de “salvação” de um patrimônio histórico-cultural dessa magnitude. Começando contando um breve
histórico sobre o monumento e suas interligações históricas, passando sobre o acervo material e cruzando
informações de diferentes épocas com o objetivo de mostrar mudanças para servir de base de dados para
formulação de hipóteses, como também servirá para futuros trabalhos e pesquisas. Durante a formulação do
presente trabalho nos deparamos com as carências das pessoas que frequentam o local, e até com carências
de pessoas que trabalham no e para o patrimônio, o que nos deu base para formular no projeto um plano de
resgate cultural, aproveitando projetos antes feitos, mas que foram esquecidos e se “perderam” nos
documentos, aglutinando também a esses nossa contribuição para uma futura intervenção dos órgãos
competentes, o que sabemos que não é um simples trabalho, visto que, os obstáculos são muitos e que
sabemos que é preciso uma mobilização de muitas pessoas. Entretanto, como é sabido que essas
adversidades são comuns num projeto que engloba tantos atores, não podemos nos intimidar com o desafio
pela frente, se realmente quisermos dar uma contribuição, mesmo que tímida, que fará que num futuro breve
(esperamos) sensibilize a sociedade e as autoridades, para que os bens materiais e imateriais do monumento
não continuem esquecidos.

Diagnostico Arqueológico

Aspectos Históricos

Em 1534, em Olinda, já existia um convento da ordem de ao Felipe de Neri, fundado na época em que a
capitania pernambucana participou do ciclo da cana-de-açúcar, ocupando assim um lugar de destaque na
produção e comercialização no nosso mercado europeu.

Por volta do ano de 1650, plena época de catequização, o padre João Duarte do Sacramento e o padre
Bartolomeu de Quental, desejavam fundar em Pernambuco duas congregações do tipo oratoriano. Dessa
forma, em 1671 o padre João Victorio foi enviado a Roma para solicitar a autorização do Papa, onde o mesmo
sugeriu a criação de uma que fosse semelhante à de São Felipe de Neri originária da Itália. A sugestão foi
aceita passando a existir desse momento a Congregação do Oratório de São Felipe de Nery de Portugal e
Pernambuco, e os padres que faziam parte dessas congregações eram conhecidos como oratorianos.

Mas, em 1732 se transferiu para o Recife, para o local que abrigava desde a ocupação holandesa o Porto do
Recife, considerado no século XVIII o porto mais movimentado das Américas, este edifício abrigou durante
cem anos o convento Oratoriano de São Felipe de Neri, sendo essas terras doadas pelo Capitão Antonio
Fernandes de Matos em 1679, além disto, doou também a quantia de doze mil cruzados e três casas sitiadas
junto a ponte do Recife (atual Maurício de Nassau) com o receptivo cais de pedra. Essas terras e construções
se destacaram por ser um lugar seguro e amplo perto justamente das atividades portuárias. Um dos grandes
motivos para os investimentos na área, ou seja, estas construções oratorianas foi o fato da necessidade de
um sistema de proteção portuária, para evitar o quanto fosse possível a ação de outros povos, entre os quais,
sobretudo, franceses e ingleses que viviam por esses mares em busca das riquezas aqui encontradas ou
produzidas.

A construção da Igreja iniciou em 1680 em um modelo de taipa que foi chamada de São José, para
demarcação do local, feito com base em uma licença provisória da câmara. Sete anos depois, o mesmo
capitão fez mais uma doação no valor de 8.000 cruzados para manutenção da mesma. Com o passar dos
anos o numero de fiéis fora aumentando e logo surgiu a necessidade de amplificação da capela sob a ideia do
Padre João Duarte do Sacramento pela invocação da Madre de Deus; sendo assim em 1707 uma carta régia
concedeu subsídios aos padres que lhe permitiriam concluir a grande igreja então em construção; para sua
conclusão, em 1711 enviaram uma nova ajuda de cinco mil cruzados que foi outorgada por cinco anos, alem
do auxílio real que chegou em 1715, e no mesmo ano após a conclusão foi celebrada a primeira missa.
Entretanto a igreja, foi celebrada em sua totalidade, só foi entregue ao culto no dia 24 de março de 1720, no
dia de Ramos. Vale salientar nestas entrelinhas que Don Pedro II era o protetor/responsável pela igreja e o
convento da Madre de Deus.

Recuando um pouco as origens, somente em 15 de outubro de 1681, foi concedida a licença para a
fundação do convento que fora destinado a pouco mais de 12 religiosos. No ano de 1688 o mesmo, foi
elevado à categoria de Casa Principal da ordem, ficando a de Olinda destinada para férias e convalescência
dos padres enfermos. No convento funcionava desde a fundação, um curso secundário de filosofia e teologia,
como também superior, de geometria, musica e entre outros, como também davam aulas para os presidiários;
possuía uma biblioteca com mais de 4 mil volumes de assuntos e autores variados.

Porém, por aviso imperial de 23 de dezembro de 1825 o edifícil do convento foi confiscado pelo governo para
instalação da Alfândega do Recife.

Atraves de uma lei de 9 de dezembro de 1830, a congregação de São Felipe de Neri foi extinta, de forma que
o edifícil da Igreja e outros imóveis foram incorporados a Fazenda Nacional, passando para a Irnandade de
Sant'Ana em 1835.

Além da Irmandade de Sant’Ana, diversas outras instalaram-se na igreja, ao longo dos anos. A de Nossa
Senhora Mãe dos Homens nela ficou abrigada de 4 de dezembro de 1864 até o ano de 1866.

Com a demolição da Igreja do Corpo Santo em 1913, para amplificação do cais e modernização do atual
bairro do Recife, todos os objetos foram levados para a Igreja Madre de Deus após a celebração da ultima
missa, abrigando também a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, a qual sua procissão existe desde
1654 provinda de uma promessa pelos militares que guerrearam na batalha dos Guararapes. Em 1720,
tornou-se assim a Matriz do bairro do Recife

Após um incêncio causado por um curto-circuito na estalação eletrica de um casamento, em 21 de março de


1971 , a igreja teve sua capela-mor destruída pelas chamas, ocorreram danos irreparáveis. Graças as
prostitutas que viviam nas mediações da igreja, o antigo hotel chamado Chanteclair, onde também funcionava
como bordel, que notaram o incêndio, adentraram na igreja e salvaram algumas imagens das chamas; este
incêndio também, foi presenciado pelo atual Irmão Provedor da Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus
dos Passos do Recife que se chama Jones Carlos de Albuquerque Ferreira, ele relata o seu auxilio no resgate
de peças e cessamento do fogo, ter sido muito eficaz por ser conhecedor da construção e do mapeamento da
igreja.

A restauração dos pontos críticos do incêndio só ocorreu quatro anos depois e durou 13 anos, foi um trabalho
de grande complexidade, devido á exuberância do barroco, com sua riqueza ornamental. O IPHAN ao
concluir, devolveu a igreja para o culto religioso. Vinte anos depois, reparam-se desgastes graves em toda
estrutura. Voltando a abertas as portas ao público em 2 de junho de 1984.

É monumento tombado pelo IPHAN, estando inscrito no livro de Belas Artes, folha 33, sob o número 188,
desde julho de 1938.

Após restauro - Arquitetura

A igreja, após sua conclusão, no primeiro quartel do século XIX, apresentava uma única torre, do lado da
Epístola. Ao longo dos anos, sofreu várias modificações, tendo sido acrescentadas uma torre no lado do
Evangelho, em 1931, e ocultadas as cantarias, atualmente rebocadas com granitado.

A fachada principal é cortada verticalmente por duas pilastras centrais e quatro cunhais que delimitam as
torres, que são rematadas superiormente por uma cornija. Acima dessa cornija, erguem-se os últimos andares
das torres sineiras, que têm cobertura em forma de calota esférica pouco alongada e, no centro, o frontão
retangular com o nicho do padroeiro, encimado por uma cruz e pináculos.

No nível do pavimento térreo, existem cinco portas de madeira, almofadadas, com vergas retas e frontões
sincopados adornados com pináculos. Sobre esses vãos, há cinco janelas envidraçadas, com balcões de
ferro, também com vergas retas e frontões sincopados, sendo que as situadas nas verticais das torres são
encimadas por óculos redondos, envidraçados, com molduras em pedra.

Os dois campanários apresentam vãos em arco com peitoris salientes.

Interiormente, a igreja é constituída por uma ampla nave com corredores laterais. Nela, existem três altares de
cada lado e dois colaterais ao arco-cruzeiro, dois níveis de balcões, dois púlpitos, vários painéis a óleo sobre
tela assinados por Henrique Mosar e Baltazar da Câmara e um coro alto, apoiado sobre dois grandes pilares
de arenito com as bases ornadas com losangos.

Os altares colaterais ao arco-cruzeiro apresentam retábulos com pintura antiga e denotam um atalha de
transição do rocaille para o neoclássico, nas suas colunas de fuste quase liso, nos ornatos floridos e simples,
embora no frontão se misturem ainda peças arquitetônicas cercando uma cartela fenestrada. O dourado é
utilizado para avivar ornatos e o brando dá a nota dominante da cor.

Os altares laterais seguem o estilo dos colaterais, com exceção do que abriga a imagem de São Francisco de
Sales, que é de planta côncava, com colunas salomônicas, frontão com baldaquino ao gosto joanino, mas que
julgamos de construção posterior.

As ilhargas da capela-mor apresentam painéis a óleo sobre madeira, representando cenas do Novo
Testamento, atribuídos a Sebastião Canuto da Silva, que foram queimados no incêndio; dois balcões em cada
lado, com guarda-corpos com balaústres e talha dourada florida.

O teto é constituído por pequenas abóbadas cruzadas, ornadas de talha com motivos fitomórficos, onde
aparece algumas peças enegrecidas pelo incêndio, que foram aproveitadas, rodeadas por outros executadas
posteriormente.

O retábulo do altar-mor, embora queimado parcialmente e restaurado, conserva os vestígios carbonosos e o


aspecto suntuoso da talha joanina, com a sua planta côncava, onde se inserem pares de colunas salomônicas
assentes sobre mísulas e atlantes. Tem na base, uma mesa de altar, acessível por cinco degraus curvos a
partir do pavimento da capela, com o frontal aberto, formando um nicho, onde é abrigada a imagem do Senhor
Morto.

Acima da mesa, existe um sacrário entalhado, que é encimado por uma maquineta envidraçada, em que se
pensa colocar a imagem de Nossa Senhora da Conceição do antigo arco da mesma invocação.

De um lado e de outro do sacrário, sobre mísulas, estão as imagens de São Pedro Apóstolo e de São Pedro
Gonsalves, padroeiro da igreja.

A parte superior do retábulo, envolvendo o arco do camarim, é do tipo joanino, com grandes anjos sentados
sobre peças arquitetônicas e com um centro em que se destaca o cálice eucarístico.

O trono foi destruído pelo incêndio. No seu lugar, foi colocado um Cristo, em grande vulto, preso à parede de
fundo do camarim.

A sacristia, que fica situada atrás da capela-mor, é um ambiente ricamente adornado. Possui um belo arcaz de
jacarandá com alçado formado por painéis entalhados e um oratório, em cedro; dois armários de amictos,
também em jacarandá; um magnífico lavabo de mármore de Extremoz e de outras qualidades e o teto de uma
bonita composição, de traçado ondulado, com medalhões circulares tendo os centros com figuras de anjos.

*
Efeitos Culturais

Pela importância histórica da Igreja da Madre De Deus, consequentemente o monumento se torna


uma referência cultural em Pernambuco e por sua arquitetura peculiar se reconhece com um rápido olhar que
há muitas histórias por traz da beleza do lugar. Muitas pessoas não conhecem sobre a maior parte dessa
história, mesmo os freqüentadores mais assíduos (que são muito diminutos). Existem vários motivos pra isso
ocorrer, tanto o descaso dos governantes da cidade do Recife como fatores culturais e educacionais e a falta
de divulgação e projetos, como um todo, visando à educação patrimonial, e em particular de nossa parte,
realmente há ainda informações muito escassas sobre a história da igreja, o que demonstra falta de
investimentos em pesquisa sobre a mesma. A carência dos frequentadores do local é percebida quando
alguns entrevistados somente atentam para o valor histórico do lugar em segundo lugar, o que mais se ouve
delas é que são atraídas pela beleza do lugar. Por exemplo, tivemos a oportunidade de entrevistar uma
família de estrangeiros, que estavam tão apressados, preocupados em tirar fotos rapidamente, que não nos
deram seus nomes e quando perguntado sobre o motivo da visita ouvimos que “Pela beleza da igreja e
porque chama muita atenção [...]; e que somos chamados pela história mesmo, da igreja...” - disse a única
recifense do grupo, porém quando perguntamos o porquê de serem “chamados pela história” ouvimos que era
porque “dá pra ver pela arquitetura!” – continuou a recifense, demonstrando que o conhecimento é superficial,
além de que foi a primeira visita desse grupo. Vale ressaltar que, pela localização da igreja em um tumultuado
ponto empresarial e comercial, muitas pessoas que participam das missas em dia de semana e freqüentam o
local por motivos de fé, o fazem por trabalharem próximas ao local como Karina, jovem de 23 anos que
trabalha na empresa Herbalife “no prédio amarelo ao lado daqui da igreja”, diz ela parecendo pouco
conhecedor da história desse prédio (que era o convento da congregação dos Oratorianos de São Felipe de
Néri que fundaram a igreja e cuidavam da mesma no século XVII), que hoje é o Shopping Paço Alfândega.
Karina diz também que gosta muito da beleza da igreja e sempre passa ao fim do expediente para rezar.
Porém, nem todas as pessoas desconhecem a importância da preservação do patrimônio bem como a
história que o cerca.Entre essas pessoas está a senhora Leci Oliveira, que é uma frequentadora das missas
dos domingos, e faz a seguinte queixa: “O que falta é uma informação ou alguma identificação como placas
explicativas para quem visita a igreja[...]”. Ela fala também que no continente europeu, nas igrejas, até nas
mais simples capelas, existem monitores e “até se paga para entrar no patrimônio” – diz ela atentando
também para a falta de guardas na Madre De Deus e a “sensação que se tem, é de que a igreja está
abandonada!” – reclama Leci.

Além das diferentes visões acerca do valor histórico da igreja, a Madre De Deus contém também
curiosidades, reconhecidas por poucas pessoas do local como o sacristão Daniel, que demonstrou profunda
preocupação no que diz respeito ao zelo do local (voltaremos com seu relato mais adiante). Curiosidades
essas, que podem ser abordadas durante o plano de educação patrimonial. Uma história muito interessante
que a cerca é a da imagem do Bom Jesus Dos Passos que se encontra no altar a esquerda do altar-mor, que
é contada no seguinte relato:

"A imagem do Bom Jesus dos Passos que vem às ruas da nossa católica cidade, numa sexta-feira da
Quaresma, possui a sua lenda e bem significativa. Em uma noite de grande trovoada e de formidável
aguaceiro, desses que anunciam no Recife a entrada do inverno, um pobre velho, andrajoso, trôpego,
doente, pingando água, foi bater à porta do Convento do Carmo. Entre os estalar de dois pavorosos
trovões, o leigo, lá dentro, interrompendo o sono ouviu estranhas pancadas e veio de andar arrastado,
esfregando os olhos, de mau humor, ver quem era o afoito que lhe perturbava o repouso. Ladeou o
claustro todo inundado e abriu o postigo do parlatório. - Quem é? À voz ácida do leigo, respondeu a
voz mansa do mendigo. - Um agasalho pelo amor de Deus! - Aqui não é hospedaria. Vá dormir debaixo
da ponte. O leigo vira, ao abrir de um relâmpago, a roupa esfarrapada do velho e não teve medidas
para repelí-lo. Foi-se o pobre, resignado e humilde, debaixo do temporal, em busca de teto mais
cristão. E, caminhando a esmo, viu-se no Largo do Corpo Santo. Ainda existia o templo que a "estética
dos engenheiros" derrubou para substituí-lo em outros pontos da cidade pelos arranha-céus... Subiu
os degraus de mármore e bateu à porta da sacristia. Não foi preciso bater muito. O vigário atendeu e
mandou-o entrar. - Durma aí nesse banco, irmão. No outro dia, ao clarear, indo despertar o hóspede, o
pároco não o encontrou mais. Ao invés dele achava-se na sacristia do Corpo Santo a bela imagem do
Senhor dos Passos. E ali ficou até que a igreja foi abaixo. E dali começou a sair em procissão desde
aquela época. "(Livro: Maxambombas e maracatus (São Paulo: Cultura Brasileira, s.d., 348 p. il. de Percy
Lau e Nestor Silva, p. 329 e segs.)

Podemos atentar para o fato de que, um patrimônio da majestade que é a Madre De Deus (que encontra
problemas para ser reconhecido pela população e pelo governo, como muitos outros patrimônios no país),
carece de um grande projeto para educação patrimonial, que possa envolver a população local, como também
envolver o município como um todo. Essa medida vai abranger também uma atividade turística que ganhe
expressão econômica o suficiente para que o estado se preocupe com a manutenção e proteção do
monumento, bem como a volta de projetos como o Circuito das Igrejas (voltaremos depois a falar sobre o
assunto mais adiante). O que isso nos deixa por hora, é a profunda importância cultural que está atrelada a
Igreja Da Madre De Deus e por isso a necessidade do resgate da sua história e seus antecedentes.

Emergencial Arqueológico

Vestígios Materiais

Possui uma larga nave acompanhada por dois corredores e foi construída em uma única etapa,como se
pode ver na sua estrutura,que retrata o estilo barroco D. João V, já a sua fachada contém esculturas em pedra
dos arrecifes e uma estátua de São Filipe de Néri, em tamanho natural.

Como foi dito previamente, a igreja do Corpo Santo foi demolida e muitos objetos vieram de lá para a
Madre de Deus, já que ela iria se transformar em matriz, como a pia de água benta, a estátua do Bom Jesus
dos Passos e o piso, por exemplo. Ao chegar à mesma, se pode perceber que é feita por uma nave bem
avantajada e acompanhada por dois corredores laterais com a mesma característica, a igreja possui nove
altares, sendo quatro laterais, três frontais e os outros dois são divididos igualmente em cada corredor, os três
frontais são os principais, que inclui o altar-mor, onde ocorreu o incêndio e destruiu a parte mais alta
(coroamento) e o forro octogonal. Na sacristia tem-se um mobiliário extraordinário, como uns armários de
madeira raros (pau-rosa escuro) embutidos. São quatro que a decoram, com alçados típicos em molduras
quadradas, eles possuem dois desenhos diferentes. Um tem vinte gavetas para amictos, quadradas,
colocadas por cima de dois compridos gavetões que, por sua vez, se apoiam sobre o espaço do armário,
fechado por duas portas ricamente trabalhadas. No outro desenho há somente quinze gavetas para amictos
na parte superior e os quatro compartilhamentos de baixo são inteiramente abertos, havendo um simples
gavetão de fundo.

Voltando ao altar-mor e as peças resgatadas do incêndio, podemos falar da estátua de São Filipe de Néri,
encontrada no altar e moldada de terra cota, antes do incêndio existia uma imagem da sagrada família, Madre
de Deus e um crucifixo de madeira, que depois do acontecido se tornaram irrecuperáveis. Nos outros altares,
existem duas mais importantes, a Santa Egípcia, por conta de sua posição, que diante todo o mundo é a
única assim e o Bom Jesus dos Passos, que veio da Corpo Santo e sai na Caminhada dos Passos. O prédio
comportava apenas uma torre sineira, só depois foi construída outra. Cada campanário possui quatro sinos,
alguns desses sinos vieram de Portugal e outros foram confeccionados aqui em Pernambuco, porém,
ultimamente desses oito sinos, só funcionam dois, alguns dos que estão fora de funcionamento se encontram
na sacristia ou em corredores, e estão lá jogados.

O Projeto Monumenta visava também proporcionar conhecimento patrimonial, que ficaria em uma faz
sala do edifício e lá teria vídeos e informes, contando a história da igreja e do valor cultural que ela possui,
também, queriam retratar em uma maquete de como a igreja foi encontrada, para perceberem o quanto
mudou na restauração feita, entretanto hoje em dia, essa sala destinada ao projeto, está totalmente
abandonada e esquecida, lembrando que o projeto acabou e ninguém resolveu continuar tal ato.

A escadaria que dá acesso ao primeiro andar continua sendo original e foi restaurado pelo IPHAN, no
mesmo andar, o lugar é conservado em partes, existem alguns móveis pelo corredor e uma poça de água em
parte do piso, também se encontra um órgão musical em estilo neoclássico, foi doado pelo Barão de Casa
Forte, ainda na época da igreja do Corpo Santo, que agora, o instrumento pertence à Venerável Irmandade
Do Bom Jesus Dos Passos.

A Igreja sofreu várias intervenções, com isso, aconteceram muitos roubos, desaparecimentos de peças,
modificações na estrutura da igreja e um próprio “esquecimento cultural” por parte da população, um exemplo
disso é a sacristia, que alguns relatos mostram que havia pinturas, onde hoje, são espaços com tinta branca,
dizem também que existiam alguns espelhos de cristais, porém tudo isso foi retirado e apagado da igreja, por
conta de uma suspeita modernização da igreja. Existia uma escultura, em pedra, de N. Senhora Da
Conceição, que pertenceu ao arco, que continha o mesmo nome e está emprestada ao museu da ordem
terceira de São Francisco do Recife.

Fatores Bióticos, Abióticos e Biofísicos

Levando em conta a localização da Igreja Da Madre De Deus, não é difícil apontar os problemas que podem
afetar a sua estrutura ao longo do tempo, e devido ao estado atual observada, percebesse o descaso dos
responsáveis pela manutenção do estabelecimento, proporcionando impactos ao patrimônio, e muitos deles
se não avaliados rapidamente podem acarretar em perdas irreversíveis.

É comum de ocorrerem intempéries causadas pela temperatura do local e umidade do ar. Ao longo da
pesquisa no local, foi percebido que, com o esquecimento dos locais não freqüentados pelo público, é natural
que ocorra a formação de micro e macro climas, como visto na galeria direita do segundo piso, onde uma
infiltração de água preocupante proporciona aparecimento de fungos no piso de madeira, porém não é para
menos com a poça d’água que se forma com a mínima chuva na região, a madeira está comprometida e por
isso apresenta risco de desabamento. Em outros locais da mesma galeria e como nas escadarias que levam
ao campanário, é facilmente visto formação de liquens (associação de fungos, algas e bactérias). Por todas
as estruturas de madeira da igreja, temos a presença de cupins, isso se apresenta nas naves como também
no altar-mor, que além dos cupins temos os problemas na estrutura por conta da restauração mal feita
anteriormente, e por isso ainda tem restos da madeira antiga queimada pelo incêndio aglutinada à madeira
nova.

Encontramos também placas soltas nos jazigos, e rachaduras nas paredes como em imagens, a imagem da
Santa Egípcia, por exemplo, está com duas rachaduras que a divide em três partes. Essas rachaduras pelo
local como um todo podem ser explicadas por um intenso tráfego de carros e veículos de grande porte na rua
da Madre de Deus.As pinturas que não foram afetadas pelo incêndio apresentam também desgaste ,no
mesmo local é evidente a depredação dos vitrais, principalmente o da cúpula, e quando chove há o
alagamento da nave principal.Esses fatores só demonstram o descaso dos administradores do patrimônio
quanto a falta de manutenção.

Equipe especializada para limpeza e organização

A necessidade de uma equipe de limpeza é notável em todos os setores. Artefatos como: imagens
(esculturas), pinturas; e ambientes como: altares, escadarias, salões e jazigos, estão abandonados meio ao
lixo e poeira; a falta de respeito com o patrimônio, com os mortos e com a história e exorbitante. O zelo pelo
patrimônio é obrigação de todos. A universidade Federal de Pernambuco conta com um projeto de apoio
chamado FADE-UFPE que funciona como alternativa de parceria para projetos e atividades em áreas
estratégicas juntamente com o governo estadual, este projeto foi o responsável pela ultima limpeza técnica na
Madre de Deus no ano de 2003, durante estes dez anos a igreja só tem limpado as áreas de maior
movimentação como: a tribuna e o ambiente da capela-mor sem pormenores, por apenas motivos de
celebração de: casamentos, batismos e missas. A igreja conta com o apoio de três supostos sacristãos que
revezam a salvaguarda, apresentação do patrimônio ao publico, limpeza patrimonial e monitoramento de
capacidade carga, eles revezam entre dois e dois dias.

Observações:

Segurança do Local

Se não inexistente é mínima. Dentro de 15 dias consecutivos de visitas á igreja, só encontramos em um


único domingo a presença superficial da Patrulha do Bairro, onde três guardas conversavam e caminhavam
por trás da igreja.

Administração Formidável

A igreja necessita de um padre comprometido com as obras da mesma.

Restauração Necessária

Profissionais para analise e reparos; área de: sinos, escadarias, telhado (forro que vai até a cúpula), guarda-
corpos, piso (térreo e superior) e artefatos.

Finanças

A Igreja é responsabilidade da Arquidiocese de Recife e Olinda, tornando o padre o sumo responsável pela
contabilidade da mesma, onde ocorre um balanceamento de valores arrecadados de missas, casamentos e
batismos.

Casamentos: Varia de cinco a sete salários mínimos, sendo pago 50% de entrada e os outros 50% na ultima
quinzena antes do casório.

Programa de Resgate Arqueológico

Projeto Solução

- Profissionais de limpeza e organização

A única área que é mantida a limpeza é a nave principal, geralmente mantida pelos sacristães, porém o
restante da igreja é esquecido, e o primeiro fator que leva a isso é que alguns sacristães são de idade já
avançada e não tem tantos(três até onde se sabe) para atender a demanda,então terá que ser especificado
durante o projeto a possível contratação de uma empresa especializada em limpeza de patrimônio.

- Segurança do local

Observamos a falta de segurança do local, que apresenta um total esquecimento das autoridades, pois essas
não acionam nem investem no policiamento do local. Sugerimos que sejam acionadas unidades de segurança
que fiquem responsáveis pela igreja em si, como a guarda municipal, algo que depende do poder público.

- Profissionais para análise de reparos

Terá que ser empreendido esforços para contratação de profissionais de restauração para todo o local seja
eles da iniciativa privada ou de instituições publicas.

- Reforma nos guardas corpos e na parte superior

A galeria superior,bem como as escadarias,o forro da igreja como um todo,e todas as alas que pertencem a
mesma precisam de restauração urgente devido ao estado demonstrado no item - Fatores bióticos abióticos e
biofísicos.

- Administração

Por pertencer a Arquidiocese de Recife e Olinda, a igreja da Madre de Deus é de inteira responsabilidade da
mesma, portanto a administração da igreja é perpetrada pelos seus componentes, incluindo o padre que é o
atual responsável pela igreja e sua manutenção e esses atores devem ser chamados à atenção quanto à falta
de conservação do patrimônio.

- Programa de resgate arqueológico

Nesse programa não podemos esquecer que é necessário um estudo aprofundado sobre a história da Madre
de Deus, esse estudo será base para o projeto de educação patrimonial que irá promover o resgate do valor
histórico da igreja para a sociedade e também para guiar os profissionais envolvidos com a restauração e
preservação do patrimônio histórico-cultural. Sem essa iniciativa não se pode levantar fundos para a
restauração, pois, se a população não reconhece o bem como patrimônio os órgãos públicos esquecem-se de
preservar o mesmo e essa, talvez, seja a principal razão do atual estado deplorável que o monumento de
importância histórica da relevância da Madre de Deus, ao ponto de futuramente, se assim continuar, a igreja
seja abandonada (que provavelmente só não o é devido aos altos preços dos casamentos e batizados).

Propomos também a volta do Circuito das Igrejas e da volta do projeto da Aula Patrimônio e aglutinando a
esses projetos culturais uma distribuição maior de folders, cartilhas e panfletos informativos sobre o circuito e
principalmente da Madre de Deus. Junto a isso, nos corredores abaixo podem ser exibidos artefatos da igreja,
fazendo assim um Museu, e nas galerias superiores atividades artístico-culturais para os visitantes com
atividades diversas envolvendo poesia, música e também teatro. Em relação à música especificamente os
concertos podem voltar a Madre de Deus com a implementação desse projeto cultural e o Órgão francês do
século XIX, que está no segundo piso inutilizado, pode ser usado para esses fins culturais.

O projeto pode custar caro, porém os resultados positivos trarão crescimento para o estado de Pernambuco
como um todo, porque será mais um atrativo turístico que fará crescer a economia local e trará empregos.
Todavia, é importante lembrar que para isso o projeto deve “sair do papel”, e não, como da última vez que
houve uma restauração da igreja da Madre de Deus, que de acordo com dados do próprio IPHAN (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) foram gastos em 2005 mais de 18 mil reais só em educação
patrimonial, mas tudo que foi descrito no projeto da restauradora Débora Mendes não foi feito na prática e não
se sabe o que foi feito do dinheiro na verdade. Para que isso não ocorra novamente, somente uma
mobilização social pode fazer valer um projeto que resgate a igreja Madre de Deus, tanto no seu valor como
patrimônio material quanto no imaterial

Conclusão

Adepta de uma historia pouco conhecida, a Igreja Madre de Deus, é possuidora de uma dimensão
histórica infinita, sendo ela uma das mais belas, antigas e importantes do Recife. Sua Importância cultural é
soberana por todas as suas interligações com diversos monumentos nacionais e internacionais. Entretanto a
igreja é pouco explorada nos ambientes de ensino e pesquisa consequentemente é pouco conhecida pela
sociedade pernambucana. Assim, embasado em pesquisas cientificas, o projeto foi criado a fim de
diagnosticar o patrimônio, descobrindo suas necessidades e elaborando sugestões para que os problemas
mencionados ao longo do trabalho, não interfiram mais no desenvolvimento do patrimônio, tendo em mãos o
levantamento necessário, de opções e saídas, ainda que emergenciais, para melhor gerenciamento do bem.
Para essas conclusões foram analisadas áreas de aspectos históricos, físicos, administrativos e culturais, e
tivemos como base a certeza de que a devida importância não foi dada, e que o devido levantamento
informativo não foi realizado e principalmente não apresentado à população. Temos a necessidade como
cidadão de buscar por este recurso a não ignorância e ao zelo pela honra da cultura de um povo. De forma
direta e obvia a restauração é fundamental para resgatar esses valores socioculturais do patrimônio e
compreender melhor a relação do monumento com a sociedade existente naquele período. Com isso, tanto os
estudiosos quanto os visitantes poderão desfrutar de um monumento acessível e conservado pela autoridade
competente.

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