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O MOSTEIRO

DA IMACULADA
CONCEIÇÃO DA LUZ

O então chamado Convento da Luz ainda em 1862.


Fotografia de Militão Augusto de Azevedo. Acervo do Museu da Cidade.

Datado de 1774, o Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz, que abriga o Museu


de Arte Sacra de São Paulo, é um dos poucos edifícios coloniais em São Paulo
que conserva suas características originais: estrutura de taipa de pilão e uma
ampla chácara conventual na parte de trás do edifício. Seu interior se caracteriza
pela presença de jardins internos (conhecidos como claustros) e corredores
largos com grande número de janelas.

Trata-se de uma das mais antigas e bem conservadas construções coloniais da


cidade e que ainda mantém sua função primordial: abrigar as irmãs da Ordem
da Imaculada Conceição.

O que hoje se configura como um mosteiro foi, inicialmente, concebido para ser
um recolhimento de mulheres. Sua construção foi organizada por Frei Antônio
de Sant’Anna Galvão em negociação com o governador da província, o Morgado
de Mateus.

Fundado em 1774 pelo Frei Galvão e pela irmã Helena Maria do Espírito Santo
com mais duas religiosas oriundas do Recolhimento de Santa Teresa. Frei Galvão,
à época, era designado confessor do Recolhimento de Santa Teresa.

Museu de Arte Sacra de São Paulo


Neste período, era comum na América Portuguesa o uso do barro como matéria
prima para as edificações de grande, médio e pequeno portes. Desta forma, a
técnica utilizada para edificação do mosteiro foi a taipa de pilão, procedimento
que consiste em socar o barro, com auxílio de um pilão, dentro de formas de
madeira, denominadas taipal, a fim de formar grandes blocos para construção.
Durante cerca de 50 anos, Frei Galvão empreendeu esforços para a coleta de
doações para a reforma e ampliação do Mosteiro.

Após a sua morte, em 1822, os trabalhos de construção da torre da igreja foram


concluídos por seu sucessor, Frei Lucas da Purificação. O Mosteiro da Luz
passou por uma série de alterações até o início do século XX, que conferiram
ao edifício sua atual configuração.

Este conjunto arquitetônico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional - IPHAN (1943), Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico - CONDEPHAAT (1979) e Conselho Municipal
de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São
Paulo - CONPRESP (1991).

BREVE HISTÓRICO
DO EDIFÍCIO
O Mosteiro da Luz caracteriza-se por ser uma edificação de alto grau de
complexidade, dada a natureza histórica do monumento que, desde a fundação
até o presente momento, já sofreu diversas modificações. O corpo principal em
torno do primeiro claustro e Igreja, correspondente à ala ocupada pelo Museu
de Arte Sacra nela instalada desde 1970, foi construída em 1774, com a fachada
principal voltada para o Centro, atual Rua Jorge Miranda.

No ano de 1802, foi executado um novo acesso voltado para a atual Av. Tiradentes,
inaugurando-se uma segunda fachada principal, caracterizada por uma galilé
sob um frontão triangular.

Por volta dos anos de 1827 e 1835, esse frontispício foi novamente alterado
para receber a sineira atual e ampliou-se um lanço na ala conventual, conforme
registro iconográfico representado na aquarela de Miguel Dutra datada do ano
de 1835.

Entre 1835 e 1868 o frontão da antiga Igreja, rua Jorge Miranda, foi modificado
perdendo sua feição clássica com a inclusão de elementos barrocos, conforme
demonstram fotografias de Augusto Militão, registradas nos anos de 1868 e
1875.

Em 1908 executou-se uma grande ampliação da ala conventual, sob o patrocínio


do Conde Prates, pelo lado esquerdo de quem observa o Mosteiro pela Av.

Museu de Arte Sacra de São Paulo


Tiradentes, construindo-se mais dois claustros, um edifício que seria a residência
que abrigaria o capelão do Recolhimento e a fachada recebeu um tratamento
neoclássico, linguagem estética bastante usual naquele momento. Anos mais
tarde, em 1928, todas as elevações da nova ala conventual receberam tratamento
neocolonial, buscando-se minimizar a discrepância de estilos.

Em 1966, sob o acompanhamento de técnicos do DPHAN (atual IPHAN), foram


executadas obras de reforma em toda a cobertura do edifício. Nos anos de 1969
e 1970, realizaram-se obras no piso térreo da ala antiga visando a instalação
do Museu de Arte Sacra.

A última intervenção no edifício, já caracterizada como obra de restauro, data


do ano de 1980, por ocasião da visita do Papa João Paulo II ao Mosteiro da Luz,
executadas por uma equipe composta por técnicos do Museu, do IPHAN e do
CONDEPHAAT, conforme registrado em memorial descritivo.

FREI GALVÃO:
O PRIMEIRO SANTO
BRASILEIRO

Retrato de Frei Galvão nas obras do Mosteiro da Luz.


Pintura de Carlos Oswald.1954. Acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo.

Antônio Galvão de França nasceu na Freguesia de Santo Antônio, Vila de


Guaratinguetá, no ano de 1739, filho do português Antônio Galvão de França
e Izabel Leite de Barros. Aos 13 anos, foi enviado para estudar no Seminário

Museu de Arte Sacra de São Paulo


de Belém na Bahia, mantido pela Companhia de Jesus na Vila de Cachoeira.
De acordo com o historiador Afonso de E. Taunay, “não houvesse ocorrido a
extinção dos jesuítas é possível que o ex-aluno de Belém se congregasse na
companhia”.

Frei Galvão se juntou aos Frades Menores Descalços (Franciscanos) e foi


recebido pelo Provincial Frei Francisco da Purificação e enviado ao Convento
de S. Boaventura da Vila de Macacu, na Capitania do Rio de Janeiro.
Recebeu o hábito com 21 anos, no dia 15 de abril de 1760, sendo guardião do
Irmão Confessor Frei José das Neves. Abandonou o nome “França” para chamar-
se Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, escolhendo Sant’Anna em homenagem
à padroeira de sua família.

Em 1761, terminou o tempo de noviciado e, no ano seguinte, aconteceu sua


ordenação sacerdotal. Logo em seguida, foi enviado para o Convento de São
Paulo, a fim de iniciar o Curso de Filosofia e, depois, o Curso de Teologia.
Após os estudos, Frei Galvão voltou seus olhos para o Recolhimento de Santa
Teresa, onde, entre 1769 e 1770, tornou-se Confessor. Lá, conheceu a Irmã
Helena Maria do Espírito Santo, que afirmava ter visões para fundar um novo
recolhimento. Frei Galvão passou a ocupar-se com a construção de um novo
recolhimento, que viria se tornar o Mosteiro da Luz. O fato se deu diante de
negociações com o governador da província, Morgado de Mateus, por meio de
uma confluência de interesses entre ambas as partes.

Este projeto ocupou boa parte da vida de Frei Galvão, que participou de questões
burocráticas e de planejamento. Também fez constantes viagens ao interior em
busca de fundos para a construção. Em uma de suas enfermidades, Frei Galvão
se encontrou incapacitado de realizar longas caminhadas diárias e obteve a
licença do Bispo para mudar-se para o Mosteiro da Luz.

Entretanto, morreu antes do término da construção, quando faltavam terminar


a construção das duas torres da Igreja, como comprova o “risco” que deixou
na parede de sua cela no Mosteiro da Luz. As causas de sua morte não foram
identificadas e seus sucessores terminaram a Igreja pouco tempo depois de
sua morte, alterando seu projeto inicial.

Dois séculos se passaram e, no dia 11 de maio de 2007, Frei Antônio de Sant’Anna


Galvão foi canonizado, sendo o primeiro santo do Brasil.

Saiba mais em: TOLEDO, Benedito Lima de. Mosteiro da Luz. São Paulo: Editora
KPMO Cultura e Arte, 2021, 180 p.

Museu de Arte Sacra de São Paulo

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