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de Ouro Preto
Dalton A. Raphael
3 BURy, 2006.
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Ouro Preto 75
10. Como se sabe, em Minas Gerais não se tem notícia de grandes abóbadas de
alvenaria ou de pedra, executadas no século XVIII. Os passos da Paixão do
Bom Jesus do Matozinhos em Congonhas do Campo possuem abobadilhas
“barrete de clérigo”. Mas grandes abóbadas de berço, inexistem. De um modo
geral as abóbadas são executadas de maneira falsa, em tabuado, na forma de
berços. Esta estrutura pode ser facilmente fixada no madeiramento dos telhados.
Porém em São Francisco, a abóbada de tabuado deve cobrir uma nave que
como já se viu, possui lados convexos. A solução de cobertura da nave é então,
absolutamente genial. Trata-se de uma cobertura que se aproxima muito de
um grande e alongado “barrete de clérigo”, mas que possui quatro grandes
triângulos esférico-convexos, afins, cada um deles de uma das superfícies
cilíndricas convexas nos cantos da grande nave. Esta abobada complexa de
tabuado, ora côncava, ora convexa, é suporte para uma das pinturas de forro
mais lindas do Brasil: A Senhora da Porciúncula de Manoel da Costa Atahayde.
Figura 4
Grande abóboda de taboado, chanfrada
para concordar com a nave,
suporte da pintura de N. Sra. da Porciúncula
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Ouro Preto 77
Pormenor
Pormenor
13. Em São Francisco de Assis, nos pisos dos corredores que se encaminham à
sacristia, pode-se notar exemplos únicos de mosaicos executados em tijolos
de argila cozida. Pela diagramação estudada e requintada pode-se concluir
que foram pensados para habitar o sítio em que se encontram. Da mesma
maneira no adro, há um desnível em pedra, parte do todo projetado. Não se
têm notícia em Ouro Preto de outro local de onde se possam vislumbrar pisos
diagramados, na arquitetura religiosa.
14. Nesta igreja o côro é sustentado por uma arcada, que se apóia em contracurvas
desafiadoras. Ortogonalmente, o próprio coro executado em madeira de lei,
também se apresenta em curvas e contracurvas que se dirigem das paredes laterais
para o centro da nave, serpenteando em volta dos cilindros dos campanários.
No pavimento superior, o côro propriamente dito é encimado por um imenso
arco abatido, cujo rigor geométrico é exemplar até para a corte. Em Ouro Preto,
assim como na região, os coros são executados em madeira, tão somente, o que
sem dúvida distingue sobremaneira ao elemento de São Francisco.
15. Via de regra, os telhados das arquiteturas religiosas de Ouro Preto são
executados separadamente. Uma primeira cobertura, sobre a grande nave,
composta de duas águas, entaladas entre a fachada principal e o Arco do
Cruzeiro. Após este arco, uma segunda cobertura, de ponto menor, composta
de três águas, sendo uma tacaniça. Completa o sistema de telhados. Todavia
em São Francisco de Assis, diferenciam-se. Logo junto ao frontão movimen-
tado, uma cobertura composta por um segmento de superfície conóide faz a
interseção com a cobertura da nave, que aqui, apresenta-se com mais três
águas distintas. A parte do altar-mor é coberta em conjunto com as grandes
galerias laterais e com as varandas. Já a sacristia é encimada por um telhado
de quatro águas, quase residencial. Notadamente curioso, este último telhado
assenta-se em cimalhas que se localizam à mesma altura da cimalha real do
corpo da nave. Isto aufere à edificação um aspecto de inusitada volumetria,
para uma arquitetura de uso religioso.
16. Na capela mor, caprichosos vãos iluminam o ambiente. O projeto destes vãos
encontra-se no museu da Inconfidência, na mesma cidade. Todavia, não se
encontram soluções de iluminação similares na cidade.
17. A sacristia, consiste em um salão de grandes dimensões que é encimado por
outro ambiente igual, no qual se encontra consistório. Na sacristia pode-se
encontrar um grande lavabo de 1776, por muitos considerado a obra prima de
Antonio Francisco. O lavabo é bastante eclético, podendo-se encontrar nesta
escultura, elementos ora classicizantes, ora dinâmicos e ricos em teatralidade
à maneira barroca.
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Figura 5
Solução de telhado distinta
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Bibliografia
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Ouro Preto, Ed.Ouro Preto.
BAZIN, Germain, 1971 – Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Rio de Janeiro, Record.
BAZIN, Germain, 1971 – O Aleijadinho. Rio de Janeiro, Record.
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MENEZES, Ivo Porto, s/d – Manoel da Costa Athaide. Belo Horizonte, Ed.Arquitetura.
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4 SANTOS, 1951.