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guy verval

as características do
rito escocês retificado.

reflexões sobre seus


quatro graus simbólicos

tradução do francês de
antonio rocha fadista

pesquisa, montagem e
adaptação dos textos:

cleber tomás vianna, 9º rm;


33º reaa e adonhiramita
grande benemérito gob/goeb.

Pesquisa: Cleber Tomás Vianna


Pesquisa: Cleber Tomás Vianna
ÍNDICE

I. Introdução.
II. Disposição da Loja.
1) Rito Moderno Francês.
2) O fundador do Rito Escocês Retificado, J. B. Willermoz
(1730-1824)
3) Rito Escocês Retificado
a) As Colunas do Templo,
b) As Grandes Luzes,
c) As luzes da Ordem,
d) Joias, paramentos e ornamentos,
e) A Espada,
f) Conseqüências.

III. As circunstâncias da Recepção.


1) Primeiro e segundo graus do Rito Moderno Francês.
2) Rito Escocês Retificado.
a) Primeiro Grau,
b) Segundo Grau.
3) O problema do Terceiro Grau.
a) A organização em três graus,
b) A lenda de Hiram Versão moderna,
c) A lenda de Hiram Adaptação retificada
4) A solução do Quarto Grau Retificado.
a) A Palavra Reencontrada
b) A simbólica do Templo
c) A doutrina de Martinez de Pasqually,
d) A Joia do Mestre Escocês de Santo André
5) Conclusões.

IV. O Cristianismo do Rito Escocês Retificado.


1) O cristianismo das Constituições de Anderson.
2) É cristão o Rito Escocês Retificado?
3) Situação atual do Rito Escocês Retificado

V. Epílogo.

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I. Introdução
O objetivo deste Trabalho é fazer uma apresentação
sumária do Rito Escocês Retificado, bem como de sua mensagem
específica, ao longo de seus quatro graus simbólicos. Lembramos, se é que
isso é necessário, que os termos em quatro não implicam em
uma única organização administrativa. Efetivamente, atualmente, os três
primeiros graus, são administrados exclusivamente pelas Grandes
Lojas/Grandes Orientes, enquanto que o quarto grau, depende dos
Grandes Priorados nacionais e independentes, da Ordem dos Cavaleiros
Benfeitores da Cidade Santa.

Entretanto, esta divisão administrativa não impede que


haja uma continuidade de conteúdo do primeiro ao quarto grau, pela
simples razão de que seus rituais foram escritos por uma só pessoa, J. B.
Willermoz, de 1778 a 1809, e que estes rituais são a soma de seus
conhecimentos e de suas convicções. A este fato se deve o caráter
específico, ou retificado, pelo qual cada grau completa o grau precedente e
anuncia o grau seguinte. Por isso mesmo, o Rito Escocês Retificado merece
a denominação de Rito, mais do que nenhum outro sistema maçônico.
Ressaltar a particularidade específica do Rito Escocês
Retificado implica em comparar os sistemas praticados na época em este
Rito foi criado. O Rito Escocês Retificado nasceu em Lyon no final do séc.
XVIII. Seus fundadores, e entre eles, é claro, Willermoz, conheciam a
Maçonaria francesa de seu tempo, praticada desde então até hoje sob o
nome de Rito Moderno Francês, e também conheciam os graus Escoceses
que constituiriam bem mais tarde o Rito Escocês Antigo e Aceito (graus de
Vingança, Escoceses, Rosa-Cruz...) É em relação ao Rito Francês,
particularmente em relação a certos graus escoceses deste Rito, que o Rito
Escocês Retificado será comparado. Sem dúvida que toda a tentativa de
introduzir na comparação dados pertencentes ao rito britânico
desconhecidos de nossos fundadores, só poderia levar a um impasse. Com
efeito, os graus azuis (filosóficos) do REAA, que só foram

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criados entre 1805 e 1810, não podem servir de referência para o
nosso trabalho. Aliás, este assunto já foi tratado por P. Noel (1984), e
nós recomendamos a leitura de seu trabalho.
As comparações que faremos têm por base os rituais
do R E R atualmente em uso na França e na Bélgica. A forma final
destes rituais foi estabelecida com base nos manuscritos arquivados,
em sua maior parte, na biblioteca de Lyon e datam de 1785-1787 para
os graus azuis e de 1809 para o quarto grau. O Rito Francês é estudado
a partir da documentação publicada em 1801 pelo Grande Oriente de
França sem, entretanto, perder de vista que este Rito é muito mais
antigo. Daí o grande interesse pela documentação e pelas gravuras
publicadas no séc. XVIII. (P. Noel, 1983).
Algumas pessoas poderão se surpreender de não
encontrar aqui alusões ao conteúdo dos rituais da Ordem Interior dos
Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa. Este silêncio tem várias
explicações. Em primeiro lugar, este trabalho é de interesse específico
da Maçonaria Retificada simbólica, isto é, dos seus quatro graus
básicos. Em primeiro lugar, a mensagem metafísica específica do
R E R está toda ela inserida nos rituais dos graus simbólicos. Por isso
mesmo, de nada adiantaria buscar referências nos rituais da Ordem dos
C. B. C. S. (graus filosóficos).
Em segundo lugar, a Ordem dos C. B. C. S. é uma ordem
cavalheiresca, baseada na Milícia do Templo, ou antes, sobre suas
lembranças. Os seus princípios e os seus ensinamentos são
admiravelmente analisados nas obras de J. Tourniac, às quais seria de
muita presunção querer adicionar qualquer comentário. Por isso mesmo,
recomendamos outras obras sobre o assunto, sobretudo a de Tourniac,
de 1969. Enfim, numerosos são os ritos maçônicos nos quais a joia da
coroa é representada por graus de inspiração templária (é o caso do Rito
Escocês Antigo e Aceito e do Rito de York americano). Assim, não parece
indispensável tratar aqui de um elemento do R E R que não lhe é
próprio.

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II. Disposição do Templo
1) Rito Moderno Francês

A descrição do Templo do Rito Moderno Francês já foi objeto de


vários trabalhos (René G., 1961; P. Noel, 1983). Para uma exposição completa
sobre o assunto, recomendamos aos leitores as obras destes autores.
Lembramos que o Templo do Rito Moderno Francês conservou o
Átrio do Templo de Salomão, que o mesmo possui uma abóbada celeste
estrelada, se apoia nas três grandes Colunas, Sabedoria Força Beleza, e é
iluminada por três Grandes Luzes, o Sol, a Lua e o Venerável Mestre (também
representado pela Estrela Flamejante). O V M (Sabedoria), que representa
estas três colunas, forma com as duas Colunas colocadas uma de cada lado da
porta do Templo, a oeste da Loja, um triângulo isósceles (dois lados iguais) cuja
base fica no ocidente. Estas colunas (J Beleza e B Força) são associadas ao
segundo e ao primeiro Vigilantes. O Templo propriamente dito é orientado do
Oriente (o Santo) para o Ocidente (Santo dos Santos). O caráter salomônico das
colunas é sublinhado por sua associação com os três Grandes Mestres míticos da
primeira Loja de Mestre, Salomão (V M ), Hiram de Tiro (1º Vig ) e Hiram Abif
(2º Vig )
As três Grandes Luzes são representadas pelas três velas
(tochas no original) colocadas em voltado Painel, mais precisamente a nordeste,
a sudeste e a sudoeste, formando um triângulo retângulo de base voltada para o
oriente. Estas três Grandes Luzes têm significado solsticial, joanina e trinitária. Os
dois ternários têm assim um termo comum: o V M , que no Oriente é uma
coluna e no Ocidente é uma luz (a sua, é a luz colocada a sudeste).
A Loja se utiliza dos instrumentos de trabalho do Maçom: as
joias móveis (esquadro nível prumo) e as imóveis (pedra bruta pedra cúbica
piramidal prancheta da Loja). O Templo é ornado pelo Pavimento Mosaico, pela
Orla Dentada e pela Estrela Flamejante. Esta última tem significado também
trinitário porque ela equivale ao V. .M. . da Loja, terceiro termo do ternário novo-
testamentário. A Estrela Flamejante é, inclusive, bordada no colar do Venerável
Mestre.

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Pedra cúbica Piramidal

Luz

by Cleber

= Luz = Coluna
Fig. 1: Sistema de posicionamento do Rito Moderno Francês

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Os da Loja são a Bíblia aberta no início do
Evangelho de São João, o compasso e o maço. O ritual é explícito a respeito:
Bíblia confere caráter sagrado às obrigações assumidas (juramentos ou
promessas), o compasso mede a justeza de nossas ações e o maço serve para
desbastar a pedra (Instrução de 2º grau).
Este esquema simples (fig. 1) cria entre os símbolos da Loja
laços sutis que levam a reconhecer neles das quais não é possível
separar nenhum elemento. Estas estruturas intangíveis se articulam
sobre verticais intercambiáveis.
É possível reconhecer nos lugares-chave da Loja uma
superposição de sentidos, que aprofundam o seu significado. Por exemplo, no
ângulo noroeste da Loja vemos a coluna J, o 2º Vig , a Beleza, a Nova Aliança,
Hiram Abif, e a perpendicular; ou ainda, no ângulo sudeste do Painel, o Mestre da
Loja, o Cristo, o Sol do Meio-dia e a pedra cúbica piramidal.
Estas verticais se organizam então em
que são todas elas ternárias.
Assim são as duas estruturas fundamentais, representadas
pelos dois triângulos já descritos. Estas duas estruturas são ao mesmo tempo
vétero-testamentárias (o átrio do Templo de Salomão) e neo-testamentárias (as
três pessoas da Trindade). Ampliando ou não este significado, o que importa
compreender é que uma é espacial e geográfica (as Colunas da Loja), por isso
mesmo sincrônica, e a outra é temporal (os candelabros que, por sua disposição
solsticial, acompanham o curso do Sol) e por isso mesmo é diacrônica. As duas
dimensões que fazem parte da vida humana, o Espaço e o Tempo, são assim
apreendidas em sua totalidade, o que comprova e justifica as frases do ritual que
definem as dimensões da Loja (do Oriente ao Ocidente, do Norte ao Sul, do
Zênite ao Nadir) e o período de trabalho do Maçom (do Meio-dia à Meia-noite).
A Loja é a imagem do cosmos em suas dimensões espaços-
temporais. Ela resume e demonstra a lei da analogia que é a própria base da
linguagem simbólica: que está em baixo é como o que está no .
Mas estas duas dimensões, inseparáveis e complementares,
têm um significado especial vétero e neo-testamentário. Daí nasce a mensagem
fundamental de que as duas Alianças também são

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inseparáveis e complementares. Sua justaposição e sua articulação pelo
termo comum que representa o Mestre da Loja criam a Loja e, como
conseqüência, o Universo. A abertura dos trabalhos deve ser assim um ato
espiritual de criação, que o gesto primordial do Grande Arquiteto
do Universo (P. De Laey, 1987).
Vemos assim que a complexidade da Loja é muito maior do
que parece à primeira vista. Isto tem como conseqüência imediata que toda a
tentativa de análise de um símbolo, isolado de seu contexto, só pode terminar
num beco sem saída. Daí o caráter falível das inúmeras exegeses deste tipo.

2) O fundador do R E R J. B. Willermoz (1730-1824)

O Rito Escocês Retificado não existiria, em sua forma atual, sem a ação deste
negociante de Lyon que foi um dos Maçons de maior destaque em seu século.
Iniciado em 1750 , Venerável Mestre em 1752, ele criou em 1760 a
Loja dos Mestres de Lyon, da qual foi seu Grão-Mestre e depois
Arquivista até à Revolução.
Ávido de conhecimentos ele coleciona os altos graus, torna-
se Rosa-Cruz (1765) e rejeita com horror os graus de vingança do Cavaleiro
Kadosh. Em 1767, ele é recebido na Ordem dos Eleitos Cohen, criada por
Martinez de Pasqually, e cujos ensinamentos terão sobre o nosso Lyonês
influência capital.
Em 1773, ele toma contato com a Observância
alemã, sistema de altos graus criado pelo barão de Hund, e que
tinha por objetivo relançar a Ordem do Templo, extinta no séc. XIV. Esta
Obediência exercia também sua autoridade sobre as Lojas azuis que saíam da
órbita inglesa, pela o que era entendido como uma simples
mudança de obediência. Willermoz adotou as formas da Maçonaria templária
alemã na qual introduz mudanças radicais. O seu objetivo era simples:
substituir a Ordem da Estrita Observância, uma Maçonaria reformada cuja
doutrina tinha por base os temas Martinistas cujos fins reais não eram
revelados senão aos corpos superiores dos Grandes Profetas
(reforma de Lyon, 1778).

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Assim, a organização do rito compreendia quatro graus
simbólicos, os de Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Escocês. Estes graus
simbólicos abrirão a porta da Ordem Interior: cavaleiro, então chamado de
Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa, termo que substituiu o de cavaleiro
templário para evitar a reação da Igreja. Enfim, entre os C.B.C.S., seriam
escolhidos os Profetas e os Grandes Profetas.
Os esforços de Willermoz foram recompensados pela
convocação da Convenção de Wilhelmsbad (1782) que reuniu delegados
franceses, suíços, alemães e italianos. Entre as decisões finais desta Convenção,
três nos interessam especialmente: rejeitar a filiação histórica com a Ordem do
Templo, o óbvio afastamento dos graus operativos e, sobretudo, a missão,
confiada a Willermoz, de redigir os cadernos de recepção dos graus simbólicos
retificados.
Em uma carta de 1810 enviada ao príncipe Charles de Hesse,
Willermoz escreveu:
Vossa Alteza se recorda sem dúvida que o tempo os deputados
da Convenção Geral (de Wilhelmsbad) poderiam ter prolongado a duração
daquela assembleia.... pois só houve a preocupação de esboçar a Reforma dos
graus simbólicos e dos dois da Ordem Interior. A versão inicial dos três primeiros
.... foi impressa e distribuída aos deputados. Uma comissão especial formada por
Irmãos (Lyon) e da Borgonha (Strasburgo), conhecidos por seu grande
saber, foi encarregada de fazer .... a redação definitiva .... As bases do 4º grau
foram também retardadas e Vossa Alteza me confia pessoalmente as Instruções
e o esboço do Painel mostrando a Nova Jerusalém e a Montanha de Sion, tendo
em cima o Cordeiro Triunfante. As circunstâncias geográficas e políticas levaram
Willermoz, sozinho, a redigir os graus simbólicos, cujas versões sucessivas nós
conhecemos (J. Granger, 1978,1981):

Os rituais :
1778
Apresentação, na Convenção dos Gauleses, de um ritual com várias dezenas de
páginas.
1782
Elaboração, para a Convenção de Wilhelmsbad de uma nova

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versão um volume com o dobro de folhas do apresentado em 1778. É feita a
apresentação dos elementos do primeiro grau, cuja palavra de passe era
Tubalcain .
1785
O último ritual no qual, por razões diversas, a palavra Phaleg substitui
Tubalcain. O segundo grau termina pela dos . É o texto final,
praticado até hoje nas Lojas da Suíça, da França e da Bélgica.

Os rituais :
1776
Primeira versão do . Este ritual, assaz pequeno, não continha
nenhuma alusão a Santo André nem ao último Painel.

1778
Nova versão, sempre mencionar ainda Santo André nem o último Painel. A jóia
não continha a representação de Santo André. Atualmente esta representação
existe no verso da joia.
1809
Elaboração final do grau. Introdução de sem dúvida sob influência
da obra do barão de Tschoudy, fundador do Grau de Escocês de Santo
André atualmente o 29º grau do REAA. O reverso da jóia representa
Santo André crucificado.

Como já indicado na introdução, nós nos baseamos nos rituais


de 1785 e de 1809, expressão definitiva do pensamento de Willermoz.

3) Rito Escocês Retificado

Ao contrário do rito francês, o rito retificado situa a Loja no


Templo propriamente dito, e não mais no átrio.
Pergunta: O que representa a Loja ?
Resposta: O Templo de Salomão reedificado misticamente pelos
Maçons (Instrução do Primeiro Grau).
Qual é o novo conceito que troca tudo ?
a) As Colunas do Templo.
No R. .E. .R. . os três grandes candelabros, colocados à volta do
Painel (pintado no Tapete), formam um triângulo retângulo cuja base está no
ocidente e o vértice (ângulo formado pela junção da hipotenusa com o cateto
maior) está no sudoeste. E os candelabros não são mais só

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luzes, como no Rito Moderno Francês, mas sobretudo as três colunas (Sabedoria
Força Beleza), fundamentos da Loja. Esta nova interpretação é confirmada
pelas frases pronunciadas na abertura dos trabalhos. O V M acende a vela
(tocha no original) do sudoeste, dizendo: a Sabedoria presida nossos
. Os dois Vig. . acendem suas velas do Ocidente, dizendo:
1º Vig. . : Que a Beleza os adorne,
2º Vig. . : Que a Força os .
No Rito Moderno Francês, as duas colunas Beleza e Força eram
representadas pelas colunas J e B colocadas de um lado e de outro da porta do
Templo e a coluna da Sabedoria era representada pelo V M . No R E .R as
três colunas são representadas pelos candelabros colocados nos ângulos do
Tapete.
As três colunas conservam a sua orientação original (base
ocidental e vértice ápice, no original oriental) mas elas são deslocadas de 90º
à volta do Tapete. Uma vez que têm em cima as velas, convertem-se também em
luzes. O R E R materializa assim uma característica de todos os ritos
escoceses : a fusão das colunas com as luzes (René G., 1961).

R.F . Leste Leste


R.E.R.

Sabedoria
Sabedoria

Tapete Tapete

Força Beleza
Beleza Força
J B J B
by Cleber by Cleber

Fig. 2: Deslocamento das Colunas no R E R e fusão


das Colunas com as Luzes

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Deste deslocamento resulta que a Loja ( = o templo )
é representado pelo Tapete circundado pelas colunas. De outro lado,
ressaltamos que os atributos Beleza e Força são invertidos em
relação ao Rito Francês, sem que seja evidente a razão para esta
inversão.
Consta que já em 1730 os ingleses
tinham invertido a posição das colunas J e B sem modificar a
disposição dos atributos Força e Beleza, nem os dos Grandes
Vigilantes lendários. Os franceses adotaram esta solução.
O R E .R completa a inversão de 1730, invertendo
também os atributos das colunas (dupla inversão retificada).

R.M. antes 1730 R.M. antes 1730

2º Vig. 1º Vig.
2º Vig. 1º Vig.
Perpendicular Nível
Perpendicular Nível
Hiram Abif Hiram de Tiro
Hiram Abif Hiram de Tiro
Beleza Força
Beleza Força

B J J B

R.E.R
Perpendicular Nível
Hiram Abi (?) Hiram de Tiro
Força Beleza

J B

Fig. 3
by Cleber

O deslocamento das colunas nos ângulos do Tapete


acentua o caráter vétero-testamentário da Loja retificada, uma vez que
enfatiza a importância do Templo de Salomão, aqui representado pelo Painel
(no Tapete), ponto de convergência dos olhares dos Maçons.
Esta modificação da topografia do Templo é, verdade seja
dita, imprópria do rito retificado.

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Reencontramos esta modificação no Rito Escocês
Filosófico criado em Avignon por volta de 1774 e no Rito Escocês Antigo e
Aceito, cujos graus azuis foram elaborados mais tarde (por volta de 1805-
1810) (Ver E. Mazet, 1980; R. Désaguliers, 1983). Esta é de fato uma
característica essencial dos ritos escoceses e aparecia já nas gravuras da
divulgação : franco-Maçons (1747) texto que continha uma
das mais antigas alusões ao grau de (P. Noel, 1984).
Mas estas inovações têm uma outra conseqüência ! Elas
consagram a dicotomia das Colunas Tochas S B F e as Colunas J e B,
que conservam a sua disposição original.
Sabemos que no Rito Moderno Francês a Coluna J é
associada à Beleza, a Coluna B, à Força. No R. .E. .R. . e nos ritos
escoceses, em geral, isto não acontece.
A instrução do 1º grau nos confirma esta dicotomia :
P : Em quantas partes se divide o Templo ?
R : Três, a saber: o Pórtico ( Átrio ou Vestíbulo), o Templo e o Santuário.
P : Em que parte trabalhastes como aprendiz ?
R : No Átrio (Pórtico, no original).
P : O que encontrastes no Átrio ?
R : Uma escada de sete degraus ...
P : O que mais encontrastes ?
R : Duas grandes Colunas na entrada do Templo, sobre uma delas a letra J
Os Aprendizes não podiam entrar no Templo, representado
pelo Painel (Tapete Fig. 4, pág. seguinte), o que confirma a cerimônia de
recepção do primeiro grau. Eles trabalharam no Átrio (Pórtico, no original)
onde viram as duas Colunas J e B. O ritual distingue então 3 Colunas, que
estão no interior do Templo e 2 Colunas que estão do lado de fora do
Templo.
Esta dicotomia das colunas (3 + 2) introduz na Maçonaria um símbolo
binário, considerando que até então só havia símbolos ternários ( colunas,
joias, .... etc.). Esta inovação terá consequências importantes para o
desenvolvimento das exegeses posteriores que ressaltarão os princípios
opostos (ativo-passivo, masculino-feminino, preto-branco ... etc.).
Observemos, para terminar o assunto, que o Rito Escocês
Antigo e Aceito consagrou definitivamente esta dicotomia ao

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Fig. 4: Painel do segundo grau do Rito Escocês Retificado

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utilizar o termo para designar as colunas S F B, reservando a
palavra para as colunas J e B.
b) As Grandes Luzes.
No Rito Moderno Francês a Loja é iluminada por três luzes
fixas de menor interesse : as janelas dispostas no Oriente, no Meio-dia e no
Ocidente e, sobretudo, por três Grandes Luzes (Sol, Lua e V. .Mestre ou
Estrela Flamejante), representadas pelos grandes candelabros dispostos em
esquadro ao redor do Tapete (SE SO NO) e também pelo candelabro de
três ramos colocado sobre o altar do Oriente. Estas luzes têm significado
solsticial, joanino e trinitário (P. Noel, 1983).
Willermoz mantém, em certa medida, a herança francesa,
mas o deslocamento das colunas e a sua fusão com as luzes modifica a
mensagem original (e, sobretudo, a obscurece!).
P : O que vistes logo que recebestes a luz ?
R : Três Grandes Luzes.
P : O que significam estas três Grandes Luzes ?
R : O Sol, a Lua e o Venerável Mestre.
Estas três Grandes Luzes são sempre representadas pelas
chamas das velas colocadas nas colunas à volta do Tapete. Como sabemos,
estas colunas são também colunas do Templo.
Por outro lado, o candelabro do altar do Oriente adquire
significado próprio:
P : O que mais vistes ainda ?
R : Um candelabro de três ramos sobre o altar do Oriente.
P : A que faz alusão este candelabro ?
R : À Tríplice Potência que ordena e governa o mundo e que é
representada na Loja pelo V. . M. . e pelos VVig .
O candelabro do Oriente mantém, por isso mesmo, um valor
trinitário mas, por outro lado, as respostas acima atribuem uma função
trinitária aos Vigilantes ! É uma inovação em relação ao Rito Moderno Francês,
que garantia aos Vigilantes um significado exclusivamente vétero-
testamentário.
Mas, se os três grandes candelabros representam o Sol, a
Lua e o Venerável Mestre, como então dividi-los ?
Para o Venerável Mestre, o problema é simples e resolvido
na abertura : ele está colocado no SE (sudeste). A instrução nos mostra o
lugar do Sol e da Lua :
P : Explicai-me o significado do Sol.

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R : Ele representa o Venerável Mestre, que ilumina todos os irmãos da Loja como
o Sol ilumina o mundo.
P : Explicai-me o significado da Lua.
R : Ela representa os Irmãos Vigilantes que, assim com a Lua recebe e reflete a
luz do Sol para nos iluminar durante a noite, também eles recebem e refletem
a luz do Venerável Mestre sobre os irmãos da Loja.
O Sol está no Oriente e se confunde com o V. .M. . e com o
castiçal (ou candelabro) do SE (sudeste). A Lua, que se confunde com os dois
Vigilantes, é colocada no Ocidente e é representada coletivamente pelos dois
castiçais do Ocidente. A ruptura com o Rito Moderno Francês, deste modo, é
radical :

R.M.F. R.E.R.

L L

Lua V.M V. M
Sol
Sabedoria

Sol
2º V. 1º V.
Lua Lua
Força Beleza
O by Cleber O by Cleber

Fig. 5
Enfim, se o R. .E. .R. . confere aos Vigilantes um significado
trinitário - que eles não possuem no Rito Moderno Francês - eles conservam o seu
simbolismo vétero-testamentário inicial ( dos Grandes Vigilantes da Primeira Loja
de Mestre ).
A partir deste ponto, misturam-se e enredam-se os ternários
vétero e

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neotestamentários! O Rito Moderno Francês sublinha a articulação de dois
sistemas distintos : as colunas da Lei Antiga e as luzes da Nova Lei. Este Rito
atribuía ao primeiro ternário um significado topográfico e estático, e ao segundo
ternário um significado temporal e dinâmico . Os dois sistemas eram unidos por
um elemento comum: o Venerável Mestre, ponto de convergência de todo o
simbolismo.
No Rito Escocês Retificado, tudo se mistura, o Venerável Mestre
e os Vigilantes têm uma função por sua vez vétero e neotestamentária. Os três
grandes candelabros são, ao mesmo tempo, colunas e luzes. Este
privilegia a mensagem vétero-testamentária pela ênfase posta no Templo de
Salomão, centro e lugar da Loja, ênfase que será ainda acentuada pelos
discursos das recepções.
O esquema da página seguinte pode resumir nossas
constatações (Fig. 6).
Esta nova disposição tem várias consequências problemáticas.
A inversão dos atributos Força e Beleza tem a vantagem de restabelecer as
concordâncias J Força e B Beleza, perdidas no Rito Moderno Francês. Mas
esta correspondência é imediatamente rompida pela dicotomia das colunas-luzes
e das colunas J e B, situadas fora do Templo. Por outro lado, esta inversão
também tem o grande inconveniente de quebrar sua correspondência com as
joias dos Vigilantes. O nível do primeiro Vigilante está unido à Beleza e à
Perpendicular, enquanto que o segundo Vigilante está relacionado com a Força.
Ora, a Beleza sempre tem sido o símbolo de Hiram Abif, segundo
Vigilante da lendária Loja de Mestre, e a Força simbolizava Hiram de Tiro, o
primeiro Vigilante dessa Loja.
Parece inconcebível a lógica pela qual Hiram Abif se converte
em primeiro Vigilante e Hiram de Tiro se torna segundo Vigilante. A instrução do
grau de Mestre confirma esta interpretação ao reiterar as associações
tradicionais:
P : Quais são o modelos do Mestre ?
R : Salomão, que recebeu de Deus o dom da Sabedoria; Hiram, rei de Tiro,
símbolo da Força, que forneceu a Salomão as madeiras e os materiais
necessários para a construção do Templo e Hiram Abif, símbolo da Beleza, que
projeta e executa os ornamentos que deviam embelezá-lo.
Por outro lado, e isso talvez seja o mais condenável, convém
ressaltar as consequências que resultam da assimilação da

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Rito Moderno Francês
L

Sabedoria
V. M. - Salomão
Esquadro
Lua V. M.
Espírito Estrela Flamígera
São João Batista Cristo
Mesa
(Loja) Sol
Pai
São João Evangelista
2º V.
1º V.
Perpendicular
Nível
Beleza
Força
Hiram Abif
Hiram de Tiro
J B
Adro by Cleber

Santuário do Templo
Rito Escocês Retificado
L
Santuário
V. M.
Esquadro
Sabedoria
Sol
Mesa
(Templo)
Lua Lua
Força Beleza
2º V. 1º V.
Hiram de Tiro Hiram Abif
Perpendicular Nível
by Cleber

J Adro B

Fig. 6: Sistema de posicionamento dos Rito Moderno Francês e


Escocês Retificado.

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Loja ao Templo.

O deslocamento das colunas J e B para fora do Templo força a


localização do Átrio no Ocidente da Loja e não mais no Oriente. A partir deste
momento o Santo dos Santos fica situado no Oriente, onde fica o Venerável
Mestre! A orientação do Templo, tradicional e historicamente correta, ficou assim
invertida e adotou a disposição habitual das Igrejas cristãs: o Coro no Oriente e o
Átrio no Ocidente.
Esta mudança tem uma conseqüência inesperada... e
involuntária! Ela restabelece a situação correta das colunas J e B. Com efeito, o
livro de Reis I (7,21 e 39) nos ensina que a coluna J é a coluna da direita (para
um observador situado no interior do Templo). Esta disposição, respeitada no
Rito Moderno original, tinha sido quebrada pela inversão de 1730. A assimilação
da Loja ao Templo (dupla inversão retificada) as recoloca em seu lugar, senão
pela orientação real, ao menos para o observador (com efeito, J estava colocada
ao Sul e B ao Norte, segundo o texto bíblico).

L L L
Santuário
Coro
Adro Adro
(Loja)
Templo
Nave
(Loja)

B J B
J N S
N S N S J B
Templo Templo
Adro
(Antecâmera)

Santuário Santuário

O O O
Templo de Salomão Inversão do Moderno Inversão dupla do Retificado

Fig. 7: Reorientação (inesperada) de colunas para o R. E. R.

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c) As luzes de Ordem
Uma das particularidades do R E R , desconhecida dos
outros ritos, é a discrição minuciosa das de em cada grau.
Estas luzes são as mesmas que temos vindo a descrever mas,
consideradas em seu conjunto, elas adquirem também um outro
significado, impregnado de uma muito particular.
A instrução do 4º grau simbólico sublinha a importância
destas luzes:
P : Por quê em cada grau existe um número fixo e determinado de luzes
para a iluminação de Ordem ?
R : Porque os números empregados nestes graus têm um valor intelectual
indicativo das coisas que ainda estão veladas.
No primeiro e no segundo graus, existem nove luzes de
Ordem : três sobre o altar do Venerável, três outras à volta do Tapete da
Loja e as três últimas sobre os altares dos dois Vigilantes e do Secretário.
Estas luzes são, bem entendido, aquelas sobre as quais já falamos antes.
Mas no R E R os números 3, 6 e 9 têm um significado bem particular
sobre o qual falaremos ao tratar do grau de Mestre Maçom (nesta
abordagem falaremos também das baterias).
No grau de Mestre existem 15 luzes de Ordem, ou seja: as
luzes ao redor do Tapete são tríplices, como no Rito Francês. O ritual
explica isto da seguinte maneira:
- O que significam elas?
- Os nove mestres que foram enviados por Salomão em busca do corpo de
nosso Respeitável Mestre Hiram.
No 4º grau, existem 25 luzes de Ordem e mais
particularmente vários conjuntos de 4 luzes, das quais 4 em torno do
Tapete. Na numerologia de Willermoz, inspirada em De Pasqually, o número
4 é o número particular do homem: homem, a última emanação de
todas as classes de seres espirituais, consequentemente não tendo
cometido crime algum, foi o único a ser revestido de seu poder e de seu
número, o quaternário divino, pelo qual ele exercia sua
(Willermoz, 1774-1776).
Este poder quaternário do homem permitia que ele
pudesse exercer livremente as quatro faculdades espirituais: pensamento,
vontade, ação e operação das quais ele se serve, aliás, para precipitar a
sua

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queda e criar o seu corpo material atual. Devido a isso, ele perdeu o seu poder
quaternário e de pensante, tornou-se Pensativo.
d) Joias, Paramentos e Ornamentos
No Retificado, as únicas joias são o Esquadro, o Nível e o Prumo,
que decoram o Venerável Mestre e os dois Vigilantes. Já vimos os inconvenientes
que resultam da inversão dos atributos Força e Beleza em um rito que respeita a
disposição tradicional do primeiro Vigilante Nível ao Sul e do segundo Vigilante
Prumo ao Norte.
Por outro lado, existem duas séries de três : os
móveis e os fixos. Os móveis são o compasso, a trolha e o maço; os fixos são a
pedra bruta, a pedra cúbica e prancheta da Loja. Os últimos são atribuídos
respectivamente aos Aprendizes, aos Companheiros e aos Mestres, como as
jóias fixas do Rito Moderno Francês. Na relação dos móveis, a trolha substitui a
Bíblia, que é um emblema e nos ensina a Lei que era conservada no
Santuário do . Esta frase confirma, ressaltamos, a inversão
ao situar o Santuário no Oriente da Loja, colocado onde, no altar do
Venerável Mestre, está o Livro Sagrado.
Os ornamentos da Loja são os mesmos do Rito Moderno
Francês: o Pavimento Mosaico, a Orla Dentada e a Estrela Flamejante, Mas,
inovação surpreendente, o Pavimento Mosaico a entrada do subterrâneo
do Templo entre as duas . Este subterrâneo, sobre o qual não
entraremos em detalhes, mostra que as instruções foram redigidas por pessoa
que conhecia os graus que tratam da descoberta do Nome Sagrado
em uma câmara arqueada, situada sob o Santo dos Santos (lenda do Real Arco,
base dos graus ingleses e continentais do mesmo nome).
e) A Espada
Característica essencial, a Bíblia é recoberta pela Espada. Esta
espada significa o Poder que é confiado ao Venerável Mestre, fundado na própria
Lei que constitui a Loja. Notemos que a lâmina desta espada é reta e não a
. A espada tem, na Maçonaria uma importância
fundamental. Ela é usada em Loja por todos e o seu manuseio, no R E R é
codificado de modo bastante preciso. Pode-se talvez afirmar, sem medo, que
com a disposição das três colunas, sua presença caracteriza os ritos escoceses.

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A bem da verdade, a introdução da Espada na Loja era já
costume antigo na França. Ela tem um significado sociológico. Os primeiros
Maçons (especulativos) franceses eram nobres e, como era costume na época,
usavam a espada, símbolo de sua alta posição social; e era inconcebível privá-los
dela, de modo semelhante ao que acontecia na Inglaterra. Por outro lado, os
ideais de fraternidade implicavam em que todos, nobres ou plebeus, portavam
em Loja a espada, que perdia assim o seu significado de dignidade social
profana. Esta é a razão da generalização de seu emprego, bem representada
pelo círculo de espadas que recebem o neófito desde 1745 (A ordem dos
Maçons traídos). Daí também o desenvolvimento do ideal cavalheiresco bem
distanciado das tradições artesanais, que tinha permeado o discurso do cavaleiro
Ramsay em 1737. De fato, o objetivo principal destas inovações era ocultar o
caráter artesanal, senão obreiro, da Maçonaria operativa e, ao mesmo tempo,
atribuir-lhe origens mais reluzentes e socialmente aceitáveis! O desenvolvimento
dos altos graus de todos os ritos e sistemas contribuiu, neste sentido, para o
sucesso que todos conhecemos.
f) Consequências.
Os fundadores do Rito Retificado quebraram a coerência da
Maçonaria francesa. Eles não respeitaram estruturas sutis mas essenciais, que
subentendiam a sua disposição centralizadora. Daí resultou a impressão de
suavidade que exala da Loja retificada e que impede a sua imediata apreensão.
É claro que o R E R conserva todos os símbolos maçônicos
tradicionais, colunas, luzes, joias ... mas a sua articulação em estruturas ternárias
com significados definidos, em boa medida, vira fumaça, e assim é perdida.
Longe de alcançar o equilíbrio entre duas dimensões,
salomônica e espacial de um lado, e trinitária e temporal do outro, o R E R as
confunde de maneira complicada de tal modo que, perdido neste o
Maçom não consegue mais separar uma dimensão da outra.
Assim procedendo, o R E R privilegia a mensagem vétero-
testamentária em detrimento da mensagem trinitária. Daí a descristianização da
Maçonaria azul (o que é, no mínimo, paradoxal, para um rito expressamente
cristão) e justifica a frase do quarto grau: o que vistes em nossas Lojas se
baseia unicamente no Velho Testamento . Esta interpretação não é arbitrária. O
próprio Willermoz a explica em uma carta:

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Não podeis negar que os três primeiros graus não podem apresentar mais do que
emblemas e símbolos ... além disso, eles se baseiam no Templo de . ou
no Antigo Testamento, que é baseado na lei escrita da religião revelada, que
sucedeu à lei ou religião naturais, as quais são simbolizadas em nossas Lojas pelas
duas colunas do Átrio. Era tudo o que os filósofos maçons de então podiam
. (carta enviada a B. de Turkheim a 08 de junho de 1784, in R. T. nº 26.p.
285. 1978).
Daí se conclui que, para Willermoz, a descristianização da Loja azul
aconteceu naturalmente. Na verdade, ele não se tinha apercebido do profundo
sentido da Maçonaria francesa que ele tinha recebido!
O R E R é uma testemunha privilegiada do desenvolvimento das
características que propiciaram o afastamento da tradição operativa,
preservada no Rito Moderno Francês.
Lembramos:
1) a fusão das Colunas e das Luzes
2) a dicotomia das Colunas-Luzes e das colunas J e B.
3) a assimilação da Loja ao próprio Templo (a partir da disposição das
colunas-luzes à volta do Tapete) e o seu corolário:
4) a do Templo.
5) A importância dada à Espada, em detrimento dos instrumentos de trabalho do
Maçom.
6) E, finalmente, a descristianização de fato da mensagem maçônica pela
ocultação de seu sentido.
Estamos também conscientes de que o afastamento da tradição
operativa, bem como a exaltação dos valores cavalheirescos (a Espada) e
sacerdotais (o Templo) conduziram naturalmente à Ordem Interior (graus filosóficos).
A recepção no grau de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa, 6º grau do rito, não pode
ser compreendida senão como uma dupla iniciação, cavalheiresca e sacerdotal,
característica que este grau partilha com os graus 32 e 33 do R E A A .

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III. Circunstâncias da Recepção

1) Primeiro e Segundo Graus do Rito Moderno Francês.

Neste rito, próximo das origens, a recepção no primeiro grau é


simples. A mensagem se reduz aos movimentos realizados.
O recipiendário, preparado em uma sala anexa ao Templo, é
apresentado nem nu nem vestido, e com os olhos vendados. Esta preparação
serve para confirmar seu sexo (o seio esquerdo) e para prepará-lo para o
Juramento (o joelho direito).
Ele faz três viagens em volta do Tapete da Loja, viagens
simbólicas dos perigos da vida profana, que são também uma promessa de um
futuro melhor. Ele presta o Juramento com a mão sobre o Evangelho entre o
Esquadro (joelho direito) e o Compasso (seio esquerdo), após o que recebe a luz
dentro do círculo de Espadas (introdução cavalheiresca ligada às condições
sociológicas de antigamente). De agora em diante ele pode ir ao Oriente pelos
três passos em esquadro efetuados sobre o Tapete (indicando assim que ele
entrou na Loja). Após a sua consagração pelo Venerável Mestre, ele recebe os
segredos do grau: sinais, palavras e toques. Finalmente, ele ouve a leitura da
Instrução do seu grau, a qual, antigamente, era feita em torno da mesa do ágape
que fechava a reunião.
Esta cerimônia, simples, não era nada mais do que a admissão
de um novo obreiro na fraternidade. Ela não tinha nenhum caráter metafísico ou
mesmo intelectual. Tudo se explica facilmente: o candidato estava vendado ...
porque não tinha ainda prestado o juramento de discrição; ele tinha o seio
esquerdo desnudado ... porque ele devia demonstrar que não era uma mulher e
porque neste lugar se deve aplicar o compasso; os segredos lhe são
comunicados ... Que lhe permitem fazer-se reconhecer ...
Esta simplicidade caracteriza ainda a recepção ao segundo grau,
que é dividida em duas partes. Na primeira, o recipiendário realiza cinco viagens
que representam os cinco anos de aprendizado, durante os quais o obreiro
aprende a se servir dos utensílios de sua arte. Mas estas viagens são também
ligadas a valores

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morais, que mostram que a mão é o prolongamento do espírito e do coração. Esta
primeira parte da cerimônia poderia talvez ser presenciada por todos os aprendizes
porque, se o conhecimento teórico dos utensílios é uma coisa, o seu uso adequado
é outra, e exige tempo e paciência, vontade e compreensão interior. A segunda
parte, ao contrário, é, por sua vez, serena e solene. Ao completar o tempo de
aprendizagem, finalmente concluída, o recipiendário sobe a escada à procura de
quem o conduza à porta da câmara do meio, que não é o Templo, menos ainda o
subterrâneo, mas sim um lugar próximo. E lá, ele contempla a letra G que o ilumina
e cujo sentido lhe é finalmente revelado: inicial da palavra Geometria, a quinta das
ciências, mas também o símbolo do Grande Arquiteto do Universo. Esta letra brilha
no centro da Estrela Flamejante, que também é o símbolo do Filho, como a
chamam as três Grandes Luzes da Maçonaria.
O Rito Moderno Francês conserva assim um caráter operativo
muito marcante! Sua mensagem pode ser resumida em termos simples: o homem
é um artesão da obra que se realiza no Universo (a Loja) construído pelo Criador do
qual as estruturas simbólicas ilustram a passagem da Antiga para a nova Lei.
Assim, a iniciação artesanal termina no 2º grau. O Companheiro é
mestre de sua arte, por isso mesmo apto, assim o demonstra este a
dirigir uma Loja de Maçons operativos. Mas esta simplicidade contém nela o
fermento o fermento de sua decadência. A mensagem, é preciso dizer, era e será
sempre muito simples! Daí vem a necessidade de continuar a criar graus adicionais
aos primeiros, e que se tornaram habituais, senão obrigatórios.
Que nos seja permitido lembrar que tudo o que compõe o grau de
Companheiro, em todos os ritos, constitui um afastamento da tradição operativa
(salvo, talvez, o grau de Mestre Instalado).

2) Rito Escocês Retificado.

a) Primeiro Grau.
À primeira vista, o esquema da recepção é o já descrito para o Rito
Moderno Francês. Passamos pelas mesmas etapas: Preparação, Introdução,
Viagens, Juramento .... Mas

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a análise das falas e conceitos pronunciados durante a cerimônia
demonstram a vontade de comunicar ao recipiendário uma mensagem
espiritual e metafísica de maneira ainda mais alusiva.
Esta mensagem é desenvolvida segundo dois eixos
inseparáveis: o destino humano e a história do Templo de Jerusalém.
1) O estado atual do homem é descrito em termos muito
sombrios:
absolutamente necessário que estejais persuadidos de vossa fraqueza e
da impossibilidade, de onde estais, de progredir na direção do Templo da
(Preparação do Instrutor).
homem é a imagem imortal de Deus, mas quem poderá reconhecê-
(1ª viagem).
fraco raio de luz deve ser para vós o testemunho da impossibilidade,
em vosso estado atual, de fixá-lo em todo o seu . (pequena luz).
Tudo sublinha a decadência, a imperfeição, a do
homem em seu estado atual. Mas, explícita é também a promessa que o
homem de Desejo pode, por suas obras, recuperar tudo e alcançar um
no qual, libertado de suas fraquezas atuais, ele chegará a
contemplar a Verdade e, por isso mesmo, a Presença Divina.

Fig. 8: Coluna quebrada com a inscrição


Símbolo do 1º Grau.

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Esta promessa já estava contida nas palavras Perseverança,
e este é o sentido profundo da expressão enigmática Adhuc Stat
inscrito na coluna quebrada (Fig. 8, acima).
2)Esta promessa repousa, sobretudo, na figura do Templo de
Jerusalém, que é o centro das instruções dos quatro graus retificados.
No 1º grau, o ritual anuncia o objetivo da Iniciação: a entrada,
simbólica, no Templo e, por isso mesmo, a fusão do Maçom com o próprio
Templo. Este objetivo pode ser resumido assim: construir em seu coração o
templo espiritual, do qual o homem é, ao mesmo tempo, o artesão e a matéria
prima. As dificuldades a vencer na construção do templo interior são ilustradas
pelo que aconteceu ao próprio Templo de Jerusalém.
Tapete que vedes representa o famoso templo que
construído em Jerusalém pelo rei Salomão: ele é a referência fundamental da
Maçonaria, e objeto permanente de profundas meditações dos
(Instrução do 1º grau).
a entrar neste templo, nós vos fizemos subir os dois
primeiros degraus, mas como ainda não era o momento certo, a porta
permaneceu
A analogia Homem-Templo é ainda afirmada nestas frases, onde
é lembrado o duplo caráter de construtor e de matéria prima da construção.
-te conceder ao nosso zelo um final feliz, para que
terminemos o Templo que nos propusemos construir para a Tua (Oração
de abertura dos trabalhos).
E ainda:
pedra bruta, na qual vindes trabalhar, simboliza as vossas
próprias imperfeições. Trabalhai nela sem descansar para desbastar as suas
arestas e para a polir, porque este é o único meio que tendes para descobrir as
belas formas que nela existem, e sem o quê ela seria rejeitada na construção do
Templo que elevamos ao Grande Arquiteto do 10).
A chave do R E R é essa: compreender que a assimilação do
Maçom ao Templo de Jerusalém é o objetivo da iniciação maçônica, assimilação
esta representada pela entrada no Templo do Maçom, que é ao mesmo tempo
construtor e matéria prima da sua própria construção. De outra maneira, não
existe em nós o dito Templo simbólico. A nós compete edificá-lo.
Esta assimilação é sincrônica. A divisão

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ternária do homem Alma encontra sua
correspondência na divisão ternária do templo, inspirada pelo próprio Deus
Templo Santuário (ou Santo dos . O Maçom retificado é
convidado pelas estruturas de seu rito a se debruçar sobre os mistérios do
Templo de Salomão, a penetrá-los e a compará-los com o que a Ordem
espera dele: a construção de um Templo espiritual de mesma estrutura.
Esta divisão ternária do homem e do Templo é também a
da matéria: Terra, Água e Fogo, elementos que o recipiendário encontra ao
longo das suas viagens. Devemos ressaltar que o simbolismo destas
viagens é aqui didático e visa o reconhecimento dos elementos de que o
universo e o homem são constituídos. Não se trata aqui de purificação
como é o caso das viagens do Rito Francês tardio ou do Rito Escocês Antigo
e Aceito (11).
b) O Segundo Grau.
O segundo grau retificado é de longe o que mais se afasta
da Tradição maçônica francesa. As viagens, reduzidas a três, não
representam mais os anos de aprendizagem e perderam todo o simbolismo
operativo. São, ao contrário, centrados na renúncia aos metais, prata,
bronze e ferro. Este gesto tem um simbolismo moral, e também um
aspecto esotérico.
Ele mostra que o homem deve se livrar das imperfeições
grosseiras que o amarram à matéria, se ele quiser ascender na vida
Espiritual.
Esta renúncia deve ser conseguida em paralelo com o
trabalho na Pedra: pedra sobre a qual deveis trabalhar era bruta e
informe. Os próprios Mestres não podiam reconhecer nela nem os defeitos
nem a beleza. Sob a orientação dos chefes, foste encarregado de limpá-la
e de desbastá-la, a fim de que eles pudessem estimar os verdadeiro valor
e determinar a sua (2º grau).
O novo Companheiro pode agora trabalhar na pedra
polida. É o momento de relembrar que o trabalho sobre si mesmo, usando
os instrumentos de trabalho maçônicos, é indispensável para a admissão
final no Templo, admissão esta da qual conhecemos agora o sentido:
com frequência o esquadro, o nível e o prumo para fazer
desaparecer
inteiramente a pedra bruta e vossos Irmãos não vejam mais em vós outra
coisa
que não seja uma pedra polida, digna de entrar na

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construção do Templo para o qual (12).
Mais tarde, o Maçom aprenderá que estes instrumentos de
trabalho são símbolos das virtudes cardeais, revelados progressivamente em cada
grau.
Esta recepção comporta, enfim, uma inovação interessante, a
introdução do espelho no qual o candidato é convidado a se conhecer, espelho
este adotado mais tarde pelas Maçonarias holandesa e belga. Mas o seu sentido é
aqui mais esotérico que moral, como explica o Venerável Mestre.
então o véu, meu Irmão, a fim de vos verdes tal como
sois. Mas que vossas deformidades não vos assustem demais e que não percais
de vista que, de um bloco informe e sem beleza, o artista pode fazer uma imagem
exata do ser, o mais perfeito que exista na natureza. Por outro lado, ele não pode
executar o que o mestre-de-obras deseja, se ele não tiver primeiro uma ideia real
das perfeições de seu modelo ...
Isto lembra a decadência do homem, por suas faltas mergulhado
em uma escória disforme, e é uma exortação ao trabalho de redescoberta da
Faísca divina mas também uma advertência de que sem o Conhecimento,
nenhuma realização é possível.

3) O Problema do Terceiro Grau.

a) A organização em três graus.


A Maçonaria original só tinha dois graus, os de Aprendiz e de
Companheiro ou Mestre Maçom. O segundo grau era o resultado do sistema e
coroava o acesso do operativo ao mestrado, no sentido próprio de seu ofício. Ainda
em nossos dias a palavra em inglês, indica a plena posse de sua arte,
como mostram os termos da Real ou da Real Sociedade
de por exemplo. O of the não tinha nada mais a aprender,
como também o da Compagnonage francesa. Era entre os
Companheiros que eram escolhidos os mestres da Loja, habilitados para dirigir uma
Loja de Maçons operativos, como lembra a atual cerimônia de adiantamento ao
grau de de . O mestrado era originalmente uma função e não um
grau.
Os primeiros textos rituais conhecidos relatam duas cerimônias

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diferentes, comportando comunicação de segredos dos quais os mais
importantes são as palavras, Boaz e Jachin, e os cinco pontos da Compagnonage,
comunicados no segundo grau. Naquela época, é provável que um não operativo
recebesse os dois graus no mesmo dia, enquanto que um operativo devia
esperar vários anos antes de ascender ao 2º grau. Não obstante, desde 1711
aparecia em certos documentos que os segredos comunicados aos Maçons eram
tríplices. O Trinity College Ms. (1711) divide em 3 os conhecimentos esotéricos
dos Maçons.
Masters sign is backbone, the Word Matchpin. The fellow
sign is knuckes, and sinues, the word Jachquin. The entre
signes is sinues, the word Boaz or its .
Encontramos nesta época três palavras B. J. e M que eram
muito provavelmente comunicadas ao candidato não operativo no mesmo dia.
Esta divisão não significa que ele tivesse passado por três cerimônias diferentes
naquela época. Não obstante, o texto sugere que o da Loja possuía já
certos segredos característicos. A função (dirigir a Loja) era, então, também um
grau (uma vez que um grau se caracteriza por seus sinais, palavras e toques
particulares).
Um texto, impresso em Dublin em 1723, whole Institutions
of Free-Masons Opened descreve tamém 3 séries de segredos:
first word is Jachin and Boaz is answer to it, and grip at
the forefinger point. Your second word is Magboe and bae is the answer to it, and
grip at the wrist. Your third word is Gibboram, Esimberel is the answer, and grip
at the elbow, an grip at the rein of the .
Encontramos aqui três séries de palavras: J e B para o primeiro,
M e B para o segundo e Gi para o terceiro. Estas palavras são acompanhadas de
toques no dedo, no pulso e no cotovelo.
Na edição da Constituição de 1723, Anderson reconhecia
também três categorias de Maçons, cada um tendo o seu próprio ensino
esotérico: o Aprendiz e o Companheiro de um lado e o Mestre da Loja de outro
(no postcriptum da Constituição que contém a de constituir uma nova
. Conhecendo os costumes atuais da Maçonaria inglesa

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não é difícil concluir quais os segredos atribuídos a estas três
categorias de Maçons, que deviam ser muito próximos dos dados no
texto irlandês:
-Palavras com J e B, com toque no dedo, para os
-Aprendizes.
-Palavras com M e B, com toque no punho, para os
-Companheiros.
-Palavras com Gi com toque no cotovelo, para o Mestre
-da Loja.
Mas, nos sete anos seguintes, vai se produzir uma
revolução espetacular, com a organização final em três graus
distintos: Aprendiz, Companheiro e Mestre, o último sendo agora um
grau e não mais uma função. Se o grau de Companheiro perdeu o
seu status de coroamento iniciático, o novo grau de Mestre Maçom
não está mais ligado à direção de uma Loja. Esta nova divisão é
definitivamente consolidada em 1730, data da publicação de
Maçonaria de S. Prichard, que descreveu o conteúdo das
três cerimônias básicas.
Como foi feita esta divisão? Pode-se imaginar o
seguinte esquema:
1) Redistribuir entre Aprendizes e Companheiros os conhecimentos
esotéricos comunicados anteriormente ao Aprendiz Operativo, em
relação a B no 1º grau, e a J no 2º grau (antes da inversão de 1730).
2) Atribuir ao novo Mestre Maçom segredos anteriormente
reservados ao Companheiro: as palavras com M e B assim como os
cinco pontos de perfeição.
3) Manter os segredos referentes à função de Mestre da Loja
(Venerável Mestre). O motivo desta revolução foi, provavelmente, o
aparecimento das três séries de segredos descritos anteriormente,
cuja comunicação parecia incoerente em um sistema de dois graus.
b) A Lenda de Hiram Versão Moderna.
Talvez alguém se surpreenda de que, até aqui, não
tenha sido feita nenhuma menção à lenda hiramítica. A razão é
clara! Este mito era desconhecido antes da Dissected de
Pritchard (1730), texto este que contém a primeira versão desta
lenda, muito próxima da conhecida atualmente.
Tudo se passa, de fato, como se a lenda,
desconhecida dos

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operativos e do próprio Anderson (em 1723), tivesse sido preparada para a
cerimônia do 3º grau, na qual ela se tornou o veículo que permitia a comunicação
dos cinco pontos de perfeição. A origem desta lenda, apócrifa, é de totalmente
desconhecida.
O primeiro esboço do drama hiramítico contém a descrição da
morte do arquiteto, assassinado por três Companheiros, decididos a lhe arrancar
a palavra do Mestre, sua inumação temporária, a descoberta de seu cadáver, por
quinze (Prichard, 1730), que marcaram o local da tumba com
um ramo de acácia e, finalmente, a exumação e os funerais adequados do
Mestre, no Santo dos Santos do Templo, por ordem do Rei Salomão. Ponto
importante da descrição: pouco antes da descoberta, os cujo
grau não era mencionado, decidiram que, caso eles não descobrissem a Palavra
nas proximidades do cadáver, a primeira palavra que eles pronunciassem tornar-
se-ia a Palavra do Mestre. Esta decisão sugere que estes irmãos, que ignoravam
a verdadeira palavra, só podiam ser Companheiros!
A lenda seria adotada pelos Maçons franceses não sem antes a
modificar e enriquecer. Publicações francesas dos anos 1745-1755 nos
mostram, com efeito, que se os Aprendizes e os Companheiros recebiam,
respectivamente, as palavras Jakin e Boaz, os Mestres (bem entendido, os
Mestres Maçons) se reconheciam pela palavra Jehovah a verdadeira e
primitiva palavra do Mestre. Era esta palavra que os maus Companheiros
queriam e que causou a funesta sorte de Hiram.
Nos mesmos textos, Salomão ordena a nove Mestres, e não
mais a quinze Companheiros, como afirma Prichard, que partissem à procura do
arquiteto. Por um feliz acaso, eles descobrem a tumba camuflada sob um ramo
de acácia e decidem, por sua própria iniciativa, trocar a palavra do Mestre, que
com toda a certeza eles conheciam, acreditando que Hiram a tivesse revelado
sob ameaça de tortura. Nesta versão, a Palavra não estava perdida. Ela foi
somente substituída, e compreende-se daí que a antiga palavra seja comunicada
ao recipiendário do 3º grau, comunicação essa que permanece até hoje uma
característica fundamental do Rito Moderno Francês.
Nesta versão, a ênfase é colocada na resistência de Hiram à
violência cega, lição ética, mais do que metafísica. Isto não diminui em nada o
valor iniciático da cerimônia, toda ela centrada na experiência vivida pelo
recipiendário, a morte e o renascimento

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ensino verbal do grau torna-se quase acessório. A lenda não é, assim, o
invólucro fortuito do drama pessoal vivido pelo personagem, cujos detalhes
poderiam ter sido tomados de outros personagens míticos. Aliás, existiu a
tentação de adotar a lenda de Noé, ressuscitado após a sua morte pelos seus
três filhos, como mostra um documento inglês anterior a Pritchard (Graham
Ms., 1726). A lógica do linguajar simbólico se justifica, a partir do momento que
o ciclo hiramítico é fechado no terceiro grau. A primitiva palavra do Mestre será
sempre conhecida. Não há nenhuma necessidade de procurá-la em graus
superiores, e Salomão pode mandar gravá-la, para conhecimento de todo o
Mestre, no triângulo de ouro que ornamenta a tumba do arquiteto.
O Rito Moderno Francês mostra-se, assim, como um sistema
completo em três graus, sem necessidade de nenhum desenvolvimento
posterior.
Já vimos que os dois primeiros graus contêm a totalidade da
mensagem operativa: a ligação da antiga à nova Lei e a entrada na câmara do
meio, iluminada pela Estrela Flamejante, coroamento do mestrado (em seu
sentido próprio) operativo. O terceiro grau fecha o ciclo pela experiência
fundamental, morte e renascimento, e a comunicação tanto da Antiga Palavra
do Mestre quanto da nova, que a substituiu.
O Rito Moderno Francês pode justamente ser qualificado de
Rito 2 + 1, ritmo que se encontra (por acaso) na bateria de Aprendiz deste rito!
Faz-se necessário ressaltar, finalmente, que na sua simplicidade, este rito é o
mais fiel à tradição operativa original, até mais do que o atual rito inglês (dito
de Emulação) que se afastou, pelo seu desenvolvimento mais recente, do rito
Antigo (P. Noël, 1984).
e) Adaptação Retificada da Lenda de Hiram.
Os Irmãos que criaram o Rito Escocês Retificado tinham sido
iniciados e elevados segundo a tradição maçônica francesa. Assim, não surpreende
-a a seu
projeto mais vasto. Efetivamente, o discurso retificado é comunicado por etapas,
ao longo de quatro cerimônias sucessivas. O terceiro grau não é mais do que um
ponto de passagem e não o ápice do sistema. Deste modo, faz-se necessário
ressaltar o caráter transitório e incompleto das coisas, conservando o

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Fig. 9: Mausoléu do Terceiro Grau do R. .E. .R. .

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fundo tradicional. As mudanças no desenrolar da cerimônia, a adaptação da lenda
hiramítica e, finalmente, a apresentação do símbolo chave do grau: o mausoléu (Fig. 9).
A diferença essencial para o Rito Francês é a perda da antiga palavra
de Mestre, que jamais foi pronunciada. No triângulo de ouro representado sobre a urna
mortuária de Hiram são gravadas somente as letras ... A ... . Os nove Mestres
decidem, durante a sua busca, não mais usar a palavra antiga e também decidem
substituí-la pela primeira palavra que pronunciassem durante a exumação do cadáver
de Hiram. A palavra que eles pronunciaram foi completamente perdida e
foi substituída pela expressão ...B... que, coincidentemente, é a mesma do Rito
Moderno. Esta nova mudança, introduzida na França, amputa uma parte do 3ºgrau e,
por si só, justifica o aparecimento de graus superiores, que serão consagrados à busca
e à descoberta da Palavra Perdida. De fato, o Venerável Mestre se dirige assim aos
novos Mestres:
Irmãos, conservemos preciosamente a lembrança destas duas
letras (J e A ), pois talvez vos ajudem um dia a encontrar a Palavra .
A expressão é uma exortação à busca da senda iniciática, que está
longe de ser concluída.
O estado atual do homem é comparado ao cadáver de Hiram, no qual a
carne se desprende dos ossos, vítima da podridão mortal e do afastamento do Princípio
Divino. A promessa da reintegração ao estado adâmico, representado pelo retorno do
Arquiteto à vida, está implícita nas frases do ritual:
vos apresentastes pela primeira vez à Ordem, (como
Aprendiz) nós vos admitimos para Investigar (a verdade). No segundo grau, fostes
reconhecido como Perseverante na investigação da Verdade. Quereis agora vos
transformar em Sofredor na esperança de a descobrir (a
O sentido que é necessário dar ao Hiram em putrefação está claramente
definido na instrução do 4º grau:
no caixão como se não mais existisses, mas conservando
todos os princípios da vida, figuraste o homem viciado e corrupto ... Entretanto,
mantiveste sempre a capacidade de sair desse estado funesto, a partir do momento
em que não se extinguiu, no fundo de tua alma, o germe que ainda te liga ao teu
.
Pode-se dizer com mais propriedade que o homem, em seu estado
atual, não passa de um morto-vivo que, apesar disso, mantém no seu âmago

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a faísca divina, lembrança de seu Primeiro Estado ?
Compreende-se melhor agora as alusões do 1º grau em
relação ao estado de decadência e de fraqueza que caracterizam o homem
atual.
3º grau, o mausoléu. Ele tem forma triangular e é colocado numa plataforma
com
três degraus. Em cada um dos seus ângulos aparecem três pequenas bolas
amarelas ou ouro, no total de nove bolas. Em cima dele está uma urna
funerária,
do alto da qual se eleva uma chama. Ele tem as seguintes inscrições:
aliena, ascendit (O abandono da matéria
aperfeiçoa o espírito) e formatus, nonenario (O ternário
coagula e a enéade, ou tríplice ternário, dissolve). A primeira inscrição
dispensa explicação. Ela resume de modo admirável o que temos dito sobre
o homem, morto-vivo, e de Hiram deitado sob a acácia. A segunda inscrição
pode ser compreendida se examinarmos com cuidado a forma como são
descritas as baterias e as luzes da Ordem.
P : Qual é o simbolismo geral das baterias dos Aprendizes, dos Companheiros
e dos Mestres?
R : O começo, o meio e o fim das coisas criadas.
P : O que significa a bateria de Aprendiz por três batidas?
R : O começo, ou a união dos princípios.
P : O que significa a dos Companheiros, por duas vezes três golpes?
R : A duração, ou os princípios postos em ação.
P : O que significa a dos Mestres por três vezes três?
R : O fim ou a decomposição do corpo.
(Instrução do 3º grau)
Três é o número do começo, momento especial da união
dos três princípios, aqueles que formam o Poder que comanda o
e o ternário Espírito Alma Corpo, simbolizado pelo fogo, pela
água e pela terra, entrevistos no 1º grau. Nove é o número da morte (há nove
luzes à volta do Tapete do 3ºgrau, que apresenta 81 lágrimas).
mausoléu, colocado no Ocidente, oferece um espetáculo
mais consolador, ensinando a distinguir o que deve morrer daquilo que é
. A chama escapa da matéria corruptível é a morte (nove
bolas)! a chama

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acima deste monumento vos ensina que sua natureza essencial é imperecível e
que ela é destinada a retornar à sua fonte primitiva, desde que haja o devido
.

4) A Solução do Quarto Grau Retificado.


A mensagem retificada torna-se agora mais clara. O primeiro
grau insistia sobre o estado de fraqueza e de decadência do homem, mas
também numa promessa de redenção ou de reintegração, para empregar uma
terminologia mais adequada. O segundo grau nos mostra que esta integração
não pode ser alcançada a não ser pelo trabalho sobre si próprio, pelo constante
dos utensílios maçônicos, imagens das virtudes cardeais. O terceiro grau,
articulação incontornável do sistema, nos mostra que o processo redentor passa
pela experiência iniciática primordial: a morte e o renascimento para a vida
espiritual. Mas este terceiro grau retificado deixa a mensagem incompleta porque
a Palavra está perdida. A obra não ainda terminada, como o sublinha a instrução
dos Mestres:
P : Qual é o objetivo do vosso trabalho ?
R : O de chegar a encontrar, com a ajuda do Grande Arquiteto do Universo e com
a assistência da Ordem, a verdadeira Palavra dos Mestres que está perdida, e
usá-la de modo digno.
P : Não a conheceis então ?
R : Eu conheço somente duas letras indicativas: ... A ... que estão gravadas no
.
O quarto grau, o do Mestre Escocês de Santo André, nos faz
viver a descoberta da Palavra Perdida e nos dá a chave da doutrina do Rito.
Este quarto grau é, sem dúvida, a forma mais elaborada das
versões do grau de cuja primeira menção oficial data de 1743
(Regulamentos Gerais da Grande Loja de França, P. Noël, 1984).
De maneira esquemática, pode-se resumir o desenvolvimento
anárquico dos altos graus escoceses, na França, nos quais reconhecemos a
existência de vários temas.
O primeiro deles é o dos graus de vingança (graus dos Eleitos)
nos quais se descreve, com tintas fortes os detalhes macabros da punição dos
assassinos de Hiram.

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O segundo é o tema da descoberta de um livro ou uma
palavra em uma câmara subterrânea e arqueada. Este tema é a base dos
graus do Real Arco e de Grande Escocês do Arco Sagrado (14ºgrau do atual
REAA).
O terceiro tema está centrado na figura de Zorobabel e a
construção do segundo Templo.
À cabeça dos Israelitas, vindos do exílio, este do
se incumbe da reconstrução do Templo destruído, malgrado a
hostilidade dos habitantes da planície de Canaã. Esta oposição os obriga a
conduzir sua obra em meio a uma população hostil, daí a imagem
impressionante do construtor que trabalha com a trolha , tendo ao lado a
espada. Estes temas fundamentais (Zorobabel, a reconstrução do templo e o
uso conjunto da espada e da trolha) estão já presentes na primeira versão
impressa do grau de Escocês (O Perfeito Maçom, 1744).
Vários graus em vigor atualmente no REAA derivam desta
fonte: o grau XV (Cavaleiro do Oriente ou da Espada), o grau XVI (Príncipe de
Jerusalém) e o XXIX (Grande Escocês de Santo André de Escócia).
Acrescentamos que, a cada um destes temas, é atribuída
uma cor característica: o preto para os graus dos Eleitos, o vermelho para os
graus crípticos (graus Escoceses propriamente ditos), e o verde para os graus
de reconstrução. Willermoz, grande colecionador de graus maçônicos,
conhecia estes temas. E ele os usou para elaborar o 4º grau de seu rito,
exceptuando-se os graus de vingança, dos quais ele tinha horror, e realiza
assim uma síntese das aspirações dos Maçons de sua época. A mesma fonte
levou, mais tarde, o Grande Oriente de França a elaborar o Rito Francês, que
superpôs mais quatros Ordens superiores aos graus azuis: Eleitos, Escocês,
Cavaleiro do Oriente e
Príncipe Rosa-Cruz.

a) A Palavra Reencontrada.
A palavra, perdida pela morte de Hiram, arquétipo do erro (a
morte de Hiram) , é reencontrada no 4º grau do R E R em condições que
limitam a sua importância. Ela é, com efeito, reencontrada após a
reconstrução do Templo por Zorobabel . Ora, este segundo templo estava
longe de apresentar as perfeições do primeiro! anciãos que tinham visto a
glória, as riquezas e a magnificência do passado, derramavam lágrimas
amargas

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.
O segundo templo representa, simbolicamente, o que se podia conseguir de
melhor neste mundo, o homem de Desejo, realização que mantém aberto o
caminho da Reintegração ao Estado primeiro. A associação da palavra
reencontrada com este estado imperfeito mostra que sua descoberta não pode
ser o fim último da Busca. Resta ainda uma etapa na via da realização espiritual,
etapa essa não menos rica de promessas:
palavra e o fogo sagrado, reencontrados, foram os símbolos
visíveis de sua reconciliação e do cumprimento das promessas .
O que não é, aliás, nada surpreendente. Sabemos que a palavra
reencontrada é a antiga palavra do Mestre, Jehovah. Ora, esta palavra não era
outra senão a simples leitura do tetragrama hebraico, gravado no triângulo de
ouro, verdadeiro nome do Grande Arquiteto do Universo, e cuja pronúncia estava
efetivamente perdida.
b) O Simbolismo do Templo.
No grau de Mestre, no qual o Templo, evidentemente, tem lugar
preponderante no drama que se desenrola, o recipiendário descobre que as
provas por que passou não tinham outro objetivo senão o de -se digno de
entrar no . Na verdade, até então ele estava confinado ao átrio, e a
entrada no templo, representada pelo espaço delimitado pelas três grandes
colunas Sabedoria Beleza Força, lhe era vedada.
Mas a entrada no templo, longe de ser uma apoteose, é
seguida, sem demora, pela morte iniciática, rica de promessas para o futuro,
apesar da dissolução do ser.
Aqui também, a solução real só será oferecida no 4ºgrau porque
devemos considerar a reabilitação de Hiram um ato de menor importância, por se
apoiar somente na comunicação de segredos substituídos. A verdadeira
ressurreição de Hiram é anunciada pelo 3º painel do 4º grau, que o apresenta
de sua tumba e ressuscitando gloriosamente rodeado (das) virtudes
(cardeais) por ele heroicamente praticadas e que o conduzem à feliz
imortalidade. Eis aqui o cumprimento das promessas feitas ao homem de bem
que consegue a vitória sobre si mesmo. o último estágio de seu glorioso
. Hiram, arquétipo do destino da Humanidade, mostra a via da
Reintegração ao Estado Primeiro, a união com o Princípio de Todas as Coisas.
Por outro lado, também conhecemos a importância da assi-

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-milação do homem ao templo. Este ensinamento fundamental é ainda lembrado
no 3º grau:
Templo de Salomão é a base imutável de toda a Maçonaria...
Meditai no seu destino, nos planos de acordo com os quais ele foi construído ...
suas dimensões, divisões, ornamentos, enfim as grandes mudanças por que
passou. Talvez encontreis semelhanças convosco. Talvez encontreis também
grandes semelhanças com a natureza e com o seu
Pode-se afirmar que a assimilação Homem-Templo deve ser, por
sua vez, sincrônica (já desenvolvemos este ponto) e diacrônica. Esta
concordância diacrônica é um dos ensinamentos essenciais do 4º grau.
Com efeito, durante a cerimônia, são apresentados vários
painéis que retratam o futuro do Templo de Jerusalém. O primeiro Templo
construído por Salomão havia recebido os planos do próprio é, em
seu resplendor, a imagem do que (foi) criado livre, o que significa que
tinha a faculdade de agir segundo sua pura e santa vontade, que o unia a seu
criador. O abuso que ele fez de sua liberdade fez com ele a
. Esta perda, esta decadência do Estado primeiro, adâmico, é
representada no 4º grau pelo Templo destruído (1º Painel).
degradação do homem, é o resultado do abuso de sua
liberdade, a punição que ele recebeu, a escravidão na qual ele caiu, e o
resultado funesto de seu orgulho, que já vos foi representado hoje no primeiro
painel pelo saque e pela destruição do primeiro templo de Jerusalém: imagem
sensível da humilhante metamorfose sofrida pela primeira forma corporal do
.
O segundo Templo, reconstruído com muitas imperfeições por
Zorobabel (2º painel) representa a humanidade no estado em que se encontra
atualmente, no que ele tem de melhor porque, pelo o uso das quatro virtudes
cardeais, Justiça, Temperança, Prudência e Força, ela trabalha sem descanso
pelo seu aperfeiçoamento espiritual.
A Reintegração final do homem de Desejo é, finalmente,
representada pela visão do templo celeste, não construído pelas mãos do
homem, a Jerusalém celeste, entrevista por São João o Evangelista (4º painel).
Este projeto grandioso, evidentemente fora do alcance dos
homens comuns, só pode ser realizado por seres excepcionais, para os quais

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o paradigma é Hiram. Mas esta apoteose de evolução espiritual também (enfim,
poderíamos dizer) é a mesma que ensinava a Loja do Rito Moderno Francês: a
passagem da Antiga para a Nova Lei! Ela já está implícita no título do 4ºgrau:
Mestre Escocês de Santo André. 4º grau figura .... a passagem maçônica
do Antigo para o Novo Testamento, quer seja pelos símbolos relativos aos dois,
quer seja pela passagem de Santo André, que abandona João Batista, o mestre
da antiga lei, para seguir Jesus Cristo, o mestre da nova (Willermoz a B. de
Turckheim, carta já citada). vem do grego (genitivo de andros) que
significa . O sentido está claro!
c) A Doutrina de Martinez de Pasqually.
O Rito Escocês Retificado repete sem descansar a sucessão de
quatro estados:
- A perfeição original.
- A degradação.
- A destruição corporal
- A ressurreição futura
Este arquétipo se aplica a Hiram (o Arquiteto vivo, assassinado, em
decomposição no túmulo e, finalmente, a sua ressurreição gloriosa) e ao Templo de
Jerusalém (o Templo de Salomão, o Templo destruído e reconstruído e, finalmente,
o Templo apocalíptico). Mas este sistema se aplica, sobretudo, ao futuro humano e,
por conseguinte, ao Cristo. O 4º grau apresenta ao Maçom estes quatro estados,
pela revelação sucessiva de quatro painéis.
Esta visão do destino é inspirada no sistema teosófico de Martinez
de Pasqually de quem J. B. Willermoz, redator dos rituais retificados, estava
impregnado. Em seu da (1767), Martinez relata a criação por
Deus de Adão, emanado para governar o universo criado, prisão dos anjos decaídos.
Como o próprio Deus, Adão era revestido de um corpo e possuía as três
faculdades espirituais fundamentais: pensamento, vontade, ação, susceptíveis do
poder ao ato como intenção, vontade e palavra, e produzir, por sua união ao verbo
uma ação eficaz.
possuía então um verbo poderoso que fazia nascer, ao
comando de sua palavra, segundo sua boa intenção e sua boa vontade espiritual,
formas gloriosas e semelhantes àquelas que apareciam na imaginação do .
Martinez continuava:

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forma gloriosa (do Adão primordial) não é outra coisa senão uma forma de
figura aparente que o espírito concebe e cria segundo o seu desejo e segundo as
ordens que recebe do criador ... Esta forma gloriosa teria sido perpetuada por
Adão pela reprodução de sua posteridade espiritual, mas, entretanto, sem
nenhum princípio de operação material, como nos tem mostrado a natureza, com
o advento e a ressurreição do Cristo e a descida do espírito divino no Templo de
(Tratado, pág.44).
Mas esta forma gloriosa foi retirada de Adão devido ao abuso
que ele fez de seu verbo, depois de ter a sua intenção pervertida pelo Maligno. E
ele foi punido precisamente no produto da operação de seu verbo, isto é:
em lugar de uma forma gloriosa, ele só obtém de sua
operação uma forma tenebrosa, em tudo oposta à .
Eis aí como, de um glorioso estado corpóreo primeiro, Adão cai
num estado corpóreo material, do qual se torna escravo. Estes dois estados
apresentam, entretanto, uma estreita analogia, porque o segundo não passa da
imagem condensada e figurada do primeiro:
segundo corpo, de matéria terrestre, tinha a mesma figura
aparente do corpo glorioso do qual Adão tinha sido emanado. Ele sofreu
somente uma mudança nas leis pelas quais ele se governaria se tivesse
permanecido no princípio de justiça .
Deste modo é colocada a dupla natureza do homem,
indissociável, feito espírito e matéria (analisaremos em maior profundidade a
questão da alma). E a tomada de consciência desta dualidade é a finalidade real
da prova do espelho, no 2º grau.
A reintegração no Estado Primeiro, glorioso, que Martinez
promete, pelas práticas teúrgicas que ensinava na Ordem dos Eleitos-Cohens, é
objeto de numerosas alusões no Rito Retificado, alusivas no começo, explícitas
no 4º grau.
P : Qual tem sido o resultado de vosso trabalho ?
R : Tenho buscado os símbolos do antigo resplendor do Templo.
O antigo resplendor do Templo deve ser entendido como o
estado primordial do homem. Nós o sabemos, o templo do homem é seu corpo, e
o antigo resplendor do templo é o estado corpóreo glorioso, figurado por Hiram,
que ressuscita gloriosamente (3º painel do grau).

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Ora, esta reintegração é o resultado de um trabalho, aquele ao qual nos convida
a instrução do 2º grau.
guia que a Loja vos deu para vos conduzir da pedra bruta à
pedra polida, e na qual haveis aprendido a trabalhar, figura esta força ativa e
benfeitora que preside à vossa educação e favorece os vossos esforços. Não
torneis os seus sonhos inúteis, usando com frequência o Esquadro, o Nível e o
Prumo, para fazer desaparecer inteiramente a pedra bruta, e que vossos Irmãos
não vejam mais em vós outra coisa senão uma pedra polida, digna de participar
na construção do Templo em que trabalhais junto com .
A reintegração é possível ( ? ) pela conjunção de dois fatores
indispensáveis: uma ativa e vinda do alto, e o trabalho do
homem, isto é, suas obras.
Os instrumentos de trabalho do Maçom são o esquadro, o nível e o prumo, aos
quais a instrução do 2ºgrau junta o compasso. Estes instrumentos devem ser
entendidos como virtudes. No 4º grau, estes quatro instrumentos são associados
à obra de reconstrução do templo. No 2º painel, eles são representados nos
quatro ângulos e substituídos, no 3º painel, pelas quatro virtudes cardeais, que
não são outras senão aquelas reveladas sucessivamente ao longo dos quatro
graus: justiça, temperança, prudência e força.
Mas esta reintegração está presente de duas maneiras. O
segundo painel faz alusão à fase vétero-testamentária (do Antigo Testamento), à
fase da Antiga Lei. O terceiro painel alude à sua fase neotestamentária (do Novo
Testamento) porque a ressurreição de Hiram se relaciona também com a
ressurreição do Cristo, e anuncia assim a visão da Jerusalém celeste, finalidade
última da busca.
d) A Joia do Mestre Escocês de Santo André.
A joia do grau é constituída por dois triângulos entrelaçados,
tendo em seu centro a letra H cercada por quatro instrumentos maçônicos (Fig.
10, abaixo). O seu sentido geral é dado pela instrução:
P : O que representa o duplo triângulo luminoso ?
R : Ele exprime a dupla natureza daquele que é a verdadeira luz do mundo e
do homem, criado à sua imagem.
O triângulo para (triângulo superior) deve ser identificado com a
lâmina de ouro onde está gravado o tetragrama.
P : De onde vem esta grande luz ?
R : De uma lâmina de ouro triangular que encontrei onde estava

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Fig. 10: Face da joia de Mestre Escocês de Santo André.
gravado o Santo Nome de Deus, que irradiava luz intensa, e de um duplo
triângulo luminoso que forma uma estrela flamejante de seis pontas, e que
me foi mostrado no Oriente. O triângulo superior é talvez um emblema
trinitário, mas que, sobretudo, é o símbolo das três faculdades espirituais:
Pensamento, Vontade, Ação.
P : Como é iluminado o altar do Oriente ?
R : Por três luzes, que são sempre as mesmas em todos os graus.
P : Por quê o número não varia ?
R : Porque o Respeitabilíssimo Mestre está para a Loja assim como o
Grande Arquiteto para o Universo, que governa por seu pensamento, sua
vontade e sua ação, faculdades estas que são associadas na Loja ao
Respeitabilíssimo Mestre e aos seus Vigilantes.
O triângulo que aponta para cima é assim a
representação do aspecto corpóreo glorioso do Homem primordial (o Adão
ou o Cristo), enquanto que o triângulo que aponta para baixo é o símbolo
do corpo material.

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A joia faria então aparecer uma estrutura binária do homem: matéria/espírito
(lembremos as viagens do 1º grau). Mas a sede da alma é o sangue, segundo
ensina Martinez de Pasqually ! Ora, a parte central, comum aos dois triângulos é
vermelha. É esta cor que os une, assim como a alma une as duas naturezas,
corpo e espírito.
Finalmente, a letra H (inicial de Hiram ou de Homem) e os
quatro instrumentos maçônicos que ornam o centro da jóia ressaltam o seu
significado antropológico e lembram os meios da reintegração.
Adicionalmente lembremos: o que acaba de ser dito pode ser
aplicado tanto ao Cristo como ao homem comum (dupla natureza, corpo glorioso
...) o que sugere que, no espírito dos criadores do Rito, o Cristo converte-se num
exemplo porque assumiu a condição humana até ao fim, sem ser, portanto,
qualitativamente diferente de Hiram, ou do homem comum. Concepção esta bem
diferente daquela do dogma católico.

Fig. 11: Reverso da Joia do Grau 4 Mestre Escocês de Santo André.

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O reverso da joia lhe confere um caráter cristão explícito, desempenhando o
mesmo papel do último painel. Ela representa Santo André crucificado sobre a
cruz em X (Fig. 11 acima). A mensagem é clara e atestada pela passagem do
discurso final já citado. Sublinhamos entretanto que X é a inicial grega de
XPISOOS (Cristo, em grego. O primeiro O deve ser cortado ao meio, na horizontal,
pois figura um théta T grego). e que André é o Homem. Esta crucifixão
demonstra a analogia do Cristo e do Homem, que se fundem num futuro comum,
como o Maçom e o Templo nos graus anteriores. Aqui, estamos mais próximos do
de herético, que dos Evangelhos canônicos!
5) Conclusões.
O quarto grau do rito termina a série de graus simbólicos e
conclui o ensino específico do R E R : um programa espiritual que abarca, na
sua totalidade, o futuro humano.
Em seu discurso este grau explicita, de modo bastante alusivo, o
ensinamento dos três primeiros graus. Finalmente descobrimos a admirável
coerência da linguagem simbólica. Com efeito, já ressaltamos em Martinez a
teoria dos quatro estados: o corpo glorioso, o corpo degradado e putrefato, o
corpo reintegrado. Reencontramos nos três graus simbólicos o esboço deste
esquema: a degradação ressaltada no primeiro, a promessa de reintegração pelo
trabalho espiritual no segundo, a reintegração virtual no terceiro grau (virtual
porque parcial e fraca). O quarto grau explicita esta mensagem, mas de maneira
transcendente: a degradação no 1º painel, a redenção parcial pelo trabalho no 2º
grau e finalmente a reintegração real do 3º e, sobretudo do 4º painel. Não se
pode deixar de ficar chocado pela analogia do conteúdo iniciático que permite,
desta vez justamente, afirmar que o grau superior e último explicita o conteúdo
dos três primeiros graus, sem que haja qualquer ruptura qualitativa em seu
discurso.
De agora em diante podemos distinguir no R E R dois eixos
principais.
De agora em diante podemos distinguir no R E R dois eixos
principais. De um lado, o rito adota estruturas de base da Maçonaria, de origem
operativa, mas cuja lógica interna é quebrada. Esta metamorfose deliberada
resulta, sem dúvida, mais da incompreensão dos criadores do que de sua
decepção diante

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da simplicidade da mensagem original.
De outro lado, ele transfere em sua versão revisada, uma mensagem com teor
metafísico e espiritual que pretende responder às questões fundamentais do
homem e também conduzi-lo à iluminação final. Esta mensagem é a mesma, sob
nova roupagem, de um avatar da pesquisa gnóstica à procura do Nirvana, da
Identificação Suprema de outras tradições. O R E R dá assim à Maçonaria uma
dimensão realmente iniciática, no sentido que René Guénon atribuiu a este
termo.
Mas, por isso também, o R. .E. .R. . força a transformação de
uma organização operativa em uma organização especulativa. Este movimento
caminha junto com a exaltação dos valores sacerdotais e cavalheirescos, sem
levar muito em conta, aliás, as potencialidades reais de cada Maçom.
Pode-se assim concluir que a Maçonaria do R E R não tem
muita coisa em comum com pré Andersoniana. Os materiais de base são
mantidos, mas o acabamento do edifício é radicalmente diferente.
Mas, não nos enganemos, o edifício não é a Revelação Divina. É
obra de homens que conhecemos bem !
E a personalidade destes homens, Willermoz principalmente,
deixa supor o que será o terceiro eixo de deslocamento do R. .E. .R. . : o seu
cristianismo. Estes homens, com efeito, sinceramente cristãos, quiseram
introduzir na Maçonaria o discurso gnóstico de um aventureiro do espírito,
Martinez de Pasqually, cuja ortodoxia cristã é, no mínimo, olhada com cuidado ! A
visão martinista estava, sob muitos aspectos, em contradição com a fidelidade à
Igreja e nossos fundadores tiveram de assumir compromissos, por
vezes bem notórios, para conciliar estas contradições.
Este é o problema do cristianismo retificado, que tentaremos
esclarecer.

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IV. O Cristianismo do R E R

O Rito Retificado é algumas vezes apresentado, na Maçonaria contemporânea,


como a ponta-de-lança de um certo fundamentalismo cristão, para não dizer
católico, contrário aos princípios universais da Maçonaria regular. Esta é uma
questão capital que não pode ser negligenciada e que merece uma análise
precisa.
Mas é necessário ressaltar de imediato o fato de que este
problema se insere, em outro bem mais vasto, que é o do cristianismo da
Maçonaria em geral, assunto que frequentemente tem sido tratado de maneira
inadequada, senão tendenciosa.
A tese mais difundida é simples: a Maçonaria operativa era
cristã, por razões sociológicas evidentes, mas sua transformação em uma
organização apontada como especulativa, veio acompanhada de uma
descristianização radical, abrindo a porta das Lojas a todos, até aos ateus, desde
que não fossem estúpidos (tese sobre as Maçonarias Latinas, insustentável sob
todos os aspectos) ou para todos os crentes, sem distinção de confissão religiosa
(posição das Obediências regulares contemporâneas, entre elas as que
trabalham no R E R ). As constituições de Anderson de 1723 seriam o ponto
de passagem entre a Maçonaria operativa e a Maçonaria especulativa
.
Esta tese se apoia na análise do primeiro artigo das
constituições de 1723, Deus e a . Estas constituições são, como
se sabe, uma compilação das Old documentos
usados na Maçonaria operativa inglesa, que começam por uma invocação à
Santa Trindade. Anderson omite esta invocação e estipula, neste primeiro artigo,
que considera mais adequado obrigá-los (os maçons) somente àquela religião
com a qual todos os homens concordam, quer dizer, serem pessoas de bem e
leais ... . Isto é suficiente para afirmar que os fundadores de 1717 rompiam com
uma tradição cristã da Maçonaria operativa ? Não pensamos assim, porque a
leitura atenta de todo o texto contradiz esta interpretação.

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Além disso, a omissão da fórmula trinitária por nosso pastor não é
suficiente para afirmar a adesão à . Se na Idade Média, todos os
textos, inclusive os profanos, começaram por uma fórmula deste tipo, o mesmo não
aconteceu no século XVIII. O espírito da época tinha mudado! A manutenção da
invocação nos textos maçônicos do século XVII e mesmo no século XVIII (Ver as
Constituições de Roberts de 1722, em P. Noël, 1983) só comprova o
conservadorismo inglês.
Mais absurdo ainda é a tese extrema daqueles que pensam que
Anderson e seus amigos romperam com a tradição católica dos Maçons ingleses do
século XVII. É o mesmo que ignorar o lado fundamental da reforma anglicana. Não
esqueçamos que os ingleses sempre permaneceram católicos, mesmo e sobretudo,
após haverem rompido com Roma.
Como escreveu G. Draffen, bibliotecário da Grande Loja da Escócia
(carta de 28.9.1955 citada por M. Lepage: Ordem e as pág. 88):
...A Igreja (anglicana) é tão romana quanto Roma, salvo que 1) ela
rejeita inteiramente o Papa como chefe da Igreja; 2) ele rejeita inteiramente os
dogmas ou doutrinas pelo ou após o Concílio de Trento ... Os serviços religiosos da
Igreja da Inglaterra têm por base a missa, e permaneceram inalterados. Por estas
razões, os Maçons ingleses aceitaram as (que parecem, aos Maçons
continentais, católicos romanos) porque eles representam a Igreja, tal e qual eles
sempre a conheceram. A lei canônica da Igreja inglesa é a mesma lei canônica,
inalterada, que vigorava em Roma em 1570 ...
Por aí se vê a incompreensão dos autores franceses (Naudon, por
exemplo) que estudaram o caso Anderson com seus olhos continentais.
Esta atitude britânica, embora particular, permite assim a Anderson
qualificar de a religião que ele descrevia no artigo primeiro:
... we being only, as Masons, of the Catholic Religion above
; we are also of all nations, tongues, kindreds and languages, and are
against all politicks, as what never yet to the welfare of the Lodge,
nor ever will. This charge has always been strictly and ; but
especially ever since the Reformation in Britain, or the dissent

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and secession of these nations from the communion of (Artigo VI,
parágrafo 2)
Não podemos dizer melhor! Nosso pastor (Anderson) não
hesita em qualificar de católicos os Maçons ingleses reformados. Anderson
escrevia para os cristãos no contexto inglês de sua época, a do de
promulgado por Guilherme III em 1689, que consagrava a
coexistência, na Inglaterra e na Escócia, de todas as variantes da lei
reformada.

1) O Cristianismo das Constituições de Anderson.

A tese de uma Maçonaria pré-andersoniana cristã, quer


dizer, católica, e de uma Maçonaria pós-andersoniana sem confissão
religiosa, não resiste à leitura atenta do Livro das Constituições de 1723.
Desde o primeiro artigo, que concerne a eà
é dito que o Maçom (must) be good man and true, or man of honour and
honesty, by whatever denomination or persuasions they may be
. Ora, a palavra denomination, em Inglês, designa, até hoje, as
diferentes seitas ou variantes das religiões reformadas (Anglicanos,
Presbiterianos, Quakers Metodistas ...) Todas tendo em comum o fato de
serem cristãs!
E as de Anderson reservam outras
surpresas!
Na história lendária da Ordem (pág. 20), podemos ler:
Arts and Sciences ... came to Rome: which thus became the centre of
learning ... under August Caesar (in whose reign was born Messiah,
the Great Arquitect of the . Frase cristã, sem nenhum equívoco!
Continuando (pág. 28): the Goths and Vandals ...
overran the Roman Empire ... they utterly destroyed many of the finest
edifices as the Asiatic and African Nations fell under the same calamity by
the conquest of the Mahometans, whose grand design is only to convert the
world by fire and sword, instead o cultivating the Arts and . Tal
como escreveu N. Cryer (1984), não se trata de uma linguagem impregnada
de um deísmo tolerante, mas sim da expressão sincera de um cristão.
Willermoz, em suas instruções, nunca se referiu deste modo aos
muçulmanos!

Pesquisa: Cleber Tomás Vianna


Não vejamos nestes textos declarações simples e sem importância. Lembrem-
nos, ao contrário, que eram textos para serem lidos na recepção do Aprendiz,
como especifica o título completo das Constituições:
Constitutions, History, Laws, Charges ... of the Fraternity
of Accepted Free Masons ... to be read at the admission of a new brother ... .
Anderson não visava os cristãos do seu tempo, desunidos pelas guerras civis
que ensanguentaram a Inglaterra do século XVII. Ele não tinha por objetivo
outra coisa senão a reunião dos cristãos em Loja, qualquer que fosse a sua
: Anglicanos, Presbiterianos, ou Dissidentes. E sabemos que
não eram raros os Judeus nas Lojas inglesas no século XVIII. Além disso, na
edição de 1738 das mesmas Constituições, Anderson confirma suas
posições:
"In his 20th year after Augustus, or the vulgar A.D. 34, the
Lord Jesus Crhist, aged 36 years, was crucified without the walls of Jerusalém
... and rose again from the dead on the 3rd day, for the justification of all that
believe him". (pag. 42).
Ou ainda (pag. 41), falando do 26º ano ( ? ) do reinado de
Augusto: " The word was made flesh, or the Lord Jesus Christ IMMANUEL (sic)
was born, the Great Architect or Grand Maste of the Christian Church".
Estes extratos parecem ser claros. A carta constitutiva da
Maçonaria especulativa cristã em sua expressão, e sem equívocos.
Estas constituições foram reformadas na época pelas
Grandes Lojas da Irlanda e da França. E as adaptações francesas acentuaram
ainda mais o caráter cristão:
será recebido na Ordem sem ter prometido ou
jurado a sua fidelidade inviolável à Religião, ao Rei e aos usos e costumes.
Todo o maldizente que queira falar ou escrever contra os sagrados dogmas
da antiga fé dos Cruzados será excluído para sempre da . (Os
estatutos usados nas Lojas da França, 1742, citado por P. Naudon, 1964,
pág. 282).
Não é possível ser mais explícito!

A conclusão se impõe. A Maçonaria era cristã antes e após


Anderson. E assim permaneceu durante o século XVIII, na Inglaterra e na
França, ainda que isso significasse uma adesão maqui-

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-nal e relutante para muitos Maçons. Mas, e isso é muito importante, não
impediu, ao menos na Inglaterra, a iniciação de profanos não cristãos, isto é,
Judeus, o que é uma honra para a Maçonaria inglesa.
Onde se pode encontrar uma primeira etapa do processo
de abertura das Lojas aos não cristãos, é na segunda edição das
Constituições (1738). O primeiro artigo aqui é diferente: Mason is obliged
by his tenure to observe the moral law, as a true Noachita . Esta pequena
palavra, Noachita (descendente de Noé) abria o caminho à tolerância
recíproca entre Judeus e Cristãos, pois todos respeitam as Leis de Noé. A
é o resultado de uma longa evolução, que não
ousaríamos afirmar que já ter terminado.
Se se pode aceitar as Constituições de Anderson como a
primeira etapa desta evolução, deve-se ainda esperar o século XIX para vê-la
concretizada em seus rituais. Na Inglaterra , a jovem Loja
criada em 1813, procedeu à reforma de seus rituais, retirando deles (quase)
todas as alusões cristãs, sob influência do Duque de Sussex, Grão Mestre,
que queria a universalidade da Ordem. Na Bélgica e na França, este
processo foi mais radical permitindo até a admissão de ateus. A este
radicalismo não foram estranhos, nós o sabemos, os ataques injustos,
maldosos e desonestos da Igreja romana. Ao contrário, na Escandinávia a
Maçonaria manteve o seu caráter cristão original.
O R E R foi criado no século XVIII, antes que este lento
processo fosse bem sucedido. Ele é assim, naturalmente, impregnado deste
cristianismo, mais alusivo que explícito, sempre limitado pelo desejo de
afirmar a complementaridade dos dois testamentos (bíblicos).
Variante tardia do Rito Francês, o R E R não se afasta
das linhas de força de seu tempo e a maçônica em uso nas Lojas
não passa por cima das convicções andersonianas ou das
expressões dos primeiros estatutos da Maçonaria francesa. Mas o R E R
enxerta em suas bases cristãs um discurso metafísico que lhe é estranho. E
pode-se perguntar se isto não é algo mais do que um simples veículo, que
conduz à exposição de uma linguagem universal, a do esoterismo.
Mas então, o R E R é ainda cristão ?

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2) O R E R é ainda cristão ?

Esta questão é menos simples do que parece. Vejamos então os


fatos, de que dispomos, de forma nua e crua.
1) O Rito Moderno Francês, é a fonte maçônica do R E R atual,
pela disposição da Loja, uma ilustração da passagem, ou da articulação da Antiga para
a Nova Lei. Este Rito está então totalmente de acordo com a Maçonaria Operativa e
com as Constituições de Anderson (acabamos de ver isso). Mas esta mensagem é
mais alusiva que explícita, uma vez que ela deve ser apreendida pelos olhos do
espírito!
O Rito Escocês Retificado desloca o conjunto simbólico francês
(por incompreensão?), relega a segundo plano (nos graus azuis) a mensagem
trinitária e privilegia a estrutura salomônica, ou seja vétero-testamentária (do Antigo
Testamento) da Loja.
2) O discurso retificado, bastante explícito, anuncia ao Maçom a
possibilidade da reintegração ao estado primordial do homem. Isto é representado
pela visão apocalíptica da Jerusalém celeste e pela doutrina que nos mostra que
Hiram, a exemplo do Cristo, pôde atingir o último estágio do destino humano. Esta
iluminação final é vazada em termos e formas cristãs, corretas, mas desprovidas que
toda e qualquer orientação eclesiástica e sem intervenção de nenhum mediador
autorizado, ou seja, de um padre. Além disso, a cristologia do R E R é muito
particular e vê em Cristo mais um paradigma do que um redentor. Dito de outra
maneira, o Cristo dá o exemplo, mas por si só isto não salva ninguém.
3) Nos primeiros graus, o R E R é descristianizado até ao seu
limite extremo, e a instrução do 4º grau o diz explicitamente: o que vistes até
ao momento em nossa Loja tem por base única o Antigo Testamento ... . No 4º
grau, unicamente, aparece o anúncio cristão com a visão do último painel, mas a sua
exegese é incompatível com os ensinamentos de toda a igreja organizada, católica ou
reformada. Não esqueçamos, o fato é importante, que a pessoa do Cristo é
apresentado e glorificado em um plano doutrinário que é o de Martinez de Pasqually,
que não é mais do que o ressurgimento das heresias gnósticas dos primeiros
séculos, que combatiam vigorosamente os Pais da Igreja. A cristologia de Martinez
de Pasqually e sua visão da criação e do destino do homem são incompatíveis com

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com os ensinamentos do Magistério romano.
De tudo isso, resulta que se o R. .E. .R. . se refere, como
toda a Maçonaria do século XVIII, à mensagem evangélica, ele dá ao Cristo
uma interpretação em total contradição com o ensinamento da Igreja
romana (e talvez, o que é mais grave, com o Credo do Concílio de Nicéia). De
outro lado, não engana ninguém o fato de que a nova edição do novo Código
de Direito Canônico (1983) não mais faz menção aos Maçons, tendo o
Vaticano reiterado sua posição de uma maneira quase oficial no Osservatore
Romano de 22 de fevereiro de 1985, sob o título: Nada de conciliável entre
a Fé e a .
Este documento afirma um estudo aprofundado
conduziu a Santa Congregação para a Doutrina da Fé (a antiga Inquisição) a
confirmar a sua convicção de que os princípios da Maçonaria e os da fé
cristã são fundamentalmente (citado por R. Dachez, 1985).
Mas, e está aí o ponto essencial, a razão da condenação
não é mais a velha lenga-lenga (conspiração contra a Igreja, culto do
demônio bafomet pontos de vista políticos diferentes ... ), desta vez são
(diríamos, finalmente) fundamentais: Para um cristão católico não é
possível viver sua relação com Deus de uma maneira dupla, isto é, dividida
em duas modalidades: uma que seria supraconfessional, e outra que seria
. A oposição é, desta vez, doutrinária e não mais política. A Igreja
reconhece na maçonaria o projeto de uma educação espiritual para o
homem. Ela admite que no fundamento desta educação se encontra uma
certa fé ou confiança em Deus. Mas ela constata também que a passagem
para a meditação eclesiástica, fundamento da religião católica romana, é
posta em dúvida. De agora em diante a questão que se coloca é: que se
faz em Loja que não se encontra na Igreja O que faz lembrar a conclusão
dos bispos alemães de 1981: podem de novo realizar a comunhão
sacramental da salvação pelo batismo, a penitência e a eucaristia também,
e pelos três graus fundamentais alcançam a iluminação e vencem a morte,
expressos nos rituais maçônicos (citado por R. Dachez, 1985).
Estas condenações aplicam-se, certamente, a todos os ritos
e todas as Obediências. Mas elas não se aplicariam melhor ainda ao
R E R que tem um discurso próprio sobre a pessoa de

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Cristo, discurso este que, já vimos, é definitivamente herético ?
De agora em diante, a posição do Rito Escocês Retificado
torna-se clara. Ele tem referências cristãs e se refere aos valores cristãos, mas
eles estão colocados fora de toda a ortodoxia eclesiástica e constituem de fato
uma heresia que, em outros tempos, teria levado à fogueira.
Vê-se claramente o paradoxo do R E R . Ele oferece do
homem e do seu destino uma visão que não pode ser senão condenada pelas
Igrejas, e mais particularmente pela Igreja romana, apegada a seu papel
pastoral. E, todavia, este Rito afirma a sua ligação formal ao cristianismo
tradicional, por suas referências ao Evangelho de São João, sua submissão à
Religião e sua profissão de fé no para uso das Lojas
.
Estas contradições devem primeiro ser recolocadas no
contexto da época. Willermoz e seus amigos eram sinceramente ligados à Igreja
católica ou luterana de sua infância. Mas como todos os homens instruídos do
seu tempo, eles atribuíam um valor por demais relativo às injunções de um clero
corrompido no seu comando, ou ignorante na sua base. As respostas dos
clérigos não podiam satisfazer a sua sede (de conhecimento) do Absoluto.
Enfim, impregnados também pelo espírito de seu tempo, o tempo das luzes,
eles quiseram dar as suas próprias respostas à inquietude metafísica eterna da
humanidade.
Mas esta dupla posição, a submissão formal aos valores
antigos, e o desejo de abertura e de realização pessoal, deviam conduzi-los a
uma atitude mais que ambígua. No concerto dos ritos maçônicos do século
XVIII, todos cristãos desde Anderson, o R E R ocupa um lugar de combate,
porque só ele ousa colocar a questão religiosa do lugar do homem no mundo
cristão. E, o pior, ele ousa trazer uma resposta para esta questão, resposta essa
que, longe de esvaziar a pessoa do Cristo, o integra nos termos inaceitáveis
para toda a Igreja constituída.
Por um surpreendente retorno da história, esta resposta, por
sua referência ao Cristo, torna-se, atualmente, a própria razão da desconfiança
que o R E R suscita no seio das Maçonarias regulares (e irregulares também).
Com efeito, a evolução da Maçonaria no século XIX e XX
conduziu à sua efetiva descristianização na

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Inglaterra, pela vontade de abri-la às religiões não cristãs (Cryer, 1984), e
também no Continente Europeu, pelo anticlericalismo de origem política. O
R. .E. .R. . permanece fiel à sua mensagem original por razões históricas: a sua
utilização no helvético (suíço) após o seu desaparecimento na
França e na Alemanha. Daí vem a situação paradoxal que conhecemos
atualmente: em 1987, o único abertamente herético, desde sua origem, se vê na
situação de ser acusado, por todos os lados, entre as Obediências Continentais,
de entreguista católico ( ?! )
Esta situação difícil pode parecer injusta sob muitos aspectos. O
que não impede que (esta situação) não possa ser analisada com a serenidade
de uma reflexão realmente maçônica.

3) A Situação atual do R E R .

A Maçonaria retificada é cristã em sua forma e suas referências.


O caráter se acentua com os graus. Que este cristianismo parece suspeito de
heresia é uma evidência que não exige grande demonstração, mas que também
não é mais importante numa época em que nenhum católico segue ao pé da
letra os ensinamentos da Igreja, quando padres guerrilheiros latino-americanos
atendem aos fiéis que comungam, dando-lhes a hóstia com uma mão e a pílula
(ou a camisinha) com a outra! Permanece o fato de que as referências cristãs são
indispensáveis à sobrevivência do R E R como rito maçônico. E isto é
suficiente para que os Maçons retificados sejam taxados de entreguistas
disfarçados!
O problema é sério e os Maçons retificados não podem enfrentá-
lo a não ser gritando alto e claro que suas Lojas estão abertas a todo o profano,
desde que ele acredite em Deus. Mas que fique claro para todos que esta
abertura não pode, de maneira alguma, colocar em risco a organização e a
essência do rito. De fato, as Lojas retificadas belgas estão abertas aos não
cristãos, de acordo com a Constituição da Grande Loja Regular da Bélgica. Mas
esta abertura deve ser bem compreendida.
Ela não pode significar a eliminação das referências cristãs do
ritual, sob o pretexto de que poderiam ferir a consciência da alguns. Este
processo é o mesmo seguido pelos Maçons ingleses do século XIX quando
decidiram a Maçonaria. Isto levou a Maçonaria azul inglesa
a deixar de fazer referências aos valores vétero-

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testamentários (do Antigo Testamento) e, por isso mesmo, quer se queira quer
não, levando-a a privilegiar um mundo intelectual que continha maior inspiração
cristã do que judia! Esta rejeição de todo o valor cristão levaria, para dar um
exemplo no campo da Arte, à rejeição da Missa em Si de J. S .Bach e à destruição
da basílica de Vézelay. É difícil compreender que uma mensagem espiritual ou
estética possa ser realmente (talvez principalmente) apreciada e amada, se nela
não vemos nenhum constrangimento doutrinário ?
Entretanto, a atitude britânica, por mais legítima que ela seja,
assinaria a sentença de morte do R. .E. .R. ., o que é suficiente para isolá-lo.
A do R. .E. .R. . pode também significar a manutenção
das referências cristãs, esvaziando-as de seu sentido real. Pode-se conservar o
Evangelho de João e a visão apocalíptica, assegurando ao candidato que não se
trata senão de fórmulas vagas e sem importância. Esta atitude seria certamente
a mais tolerante (embora, praticamente, não se trate de tolerância, mas de
indiferença), mas ela levaria a esta situação mais paradoxal ainda de que os
únicos constrangidos seriam os cristãos autênticos, que não poderiam ver, assim,
profanado (no verdadeiro sentido) o Livro da sua Fé. A abertura a todos de um
rito cristão, em sua forma, não pode levar à rejeição dos cristãos autênticos.
A solução passa pela afirmação incontornável de que não existe
nenhum obstáculo mas, ao contrário, enriquecimento, ao se admitir, no seio do
R E R , de algum modo intangível, todo o homem de Deus, cristão ou não. Mas
esta não pode ser feita a qualquer preço.
É indispensável que todo o candidato reconheça, sem
reticências (sem qualquer restrição mental), que os valores do cristianismo têm
um caráter sagrado, sem que isso implique numa superioridade essencial,
qualquer que seja ela, sobre as outras tradições. É necessário que os candidatos
estejam dispostos a realizar, segundo a forma intangível do ritual retificado, o
programa de realização espiritual que este rito propõe, simbolizado pela
construção do templo ideal. Finalmente, é necessário que o juramento feito sobre
o Evangelho de São João (e ele próprio como o afirma o ritual) seja para todos,
tanto para os que o fazem, como para os que o ouvem, como um ato sagrado que
compromete o recipiendário, e não como uma formalidade, ou pior, uma
profanação (afirmação que também se aplica ao Rito Moderno Francês).
Se estas condições forem mantidas, o Rito Escocês Retificado
poderá se pretender fiel à tradição maçônica universal

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à exigência de sua expressão cristã. Esta aposta, facilmente entendida por
qualquer um, passa pela informação precisa aos candidatos à Iniciação. Um
profano, que tenha sido julgado digno de ser iniciado, deve ser colocado a par
do clima do R E R . Ele deve também saber o que o rito tem de intangível e
aceitá-lo como ele é. Dito de outra maneira, se os Maçons devem se reservar o
direito de aceitar ou de recusar um profano, segundo os critérios universais da
Maçonaria regular, também o candidato tem o direito de aceitar ou de recusar
ser Maçom retificado.
Mas nesta informação, que eles devem prestar, os Maçons
retificados deverão sempre se colocar no plano esotérico porque o esoterismo
é só Um, que aproxima da Verdade e que transcende todos os exoterismos
particulares. Limitar-se ao domínio esotérico permite deixar de se preocupar
com as confissões de fé exotéricas. Mas permanecerá sempre imperioso
descartar os que limitam a busca do conhecimento baseado em um
particularismo religioso (afirmação que, aliás, se aplica a todos os ritos).
O futuro do Rito Escocês Retificado depende, no fim das
contas, da profunda compreensão que os seus membros possam ter dele.

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V. Epílogo

A análise do Rito Escocês Retificado revela três eixos principais:


1) A manutenção, ou a sobrevivência, da tradição maçônica
francesa, operativa no passado, não sem alterações notáveis que obscureceram
o seu sentido primeiro (operativo).
2) A introdução em seu aspecto ritual de uma mensagem que
leva em conta a totalidade do futuro humano. Esta mensagem, de forma cristã,
transcende toda a religião organizada porque visa ao essencial, ao principal, sem
nenhum tipo de direção (ou controle) eclesiástica.
3) A ligação a uma ideia cristã que, por ser a da Maçonaria
original, não pode ser condenada pelas Igrejas, sobretudo pela Igreja romana,
porque se fundamenta no esoterismo cristão, esoterismo esse cuja existência é
negada precisamente pela Igreja.! E este esoterismo cristão, desde que
esotérico, é aceitável por todo o homem de boa fé, tenha ele, ou não, qualquer
vínculo exotérico.
Tudo isto não é isento de falhas (o R E R é obra humana) nem
de grandezas. Estas qualidades são suficientes para que o R E R mantenha
um lugar singular, mas não privilegiado, no concerto dos ritos maçônicos.

Esperamos que estas poucas reflexões ajudem os Maçons


retificados a conhecer melhor o seu rito. Esperamos, sobretudo que os outros
Maçons, os que não desejam pertencer a este rito, compreendam que ele é uma
expressão legítima da tradição maçônica universal e não um perigo que é
necessário combater.

24 de janeiro de 1987

Pesquisa: Cleber Tomás Vianna


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