Você está na página 1de 58

GUIA DOS ALTOS GRAUS 1

John Sebastian Marlow Ward


1920’s

[Traduzido, ilustrado e anotado por Elder Madruga]

1 Fonte: http://www.freemasons-freemasonry.com/ward_HD_handbookfr.html
PREFÁCIO
______________________

o tentar fazer um esboço dos vários graus na


Francomaçonaria em um livro deste gênero, eu me
deparo com muitas dificuldades, não sendo a
menor a de escrever sobre eles de uma maneira
interessante sem revelar mais do que o permitido, já que
muitos dos meus leitores neles ainda não ingressaram.
Uma das minhas razões para escrever este livro é
encorajar os Irmãos a ingressarem nestes "Graus Avançados".
Ainda conhecemos Irmãos que dizem não haver nada além do
Simbolismo que vale a pena. Como alguém que recebeu todos
os graus, posso afirmar, por experiência pessoal, que com uma
ou duas pequenas exceções, praticamente todos os graus são
do maior valor.
Claro, meus leitores devem ter em mente que um Irmão
obtém da Maçonaria na exata proporção do que a ela se dedica.
Se ele se aproxima com uma mentalidade intelectual
entusiasmada, tendo por base uma quantidade razoável de
estudo do significado do simbolismo, ele naturalmente se
beneficiará muito mais do que se aproximar apenas com o
entusiasmo de um homem que sabe saborear um bom jantar,
e não dá maior importância ao significado das cerimônias que
ocorrem no interior da sua Loja.
Concluindo, devo externar meu endividamento para com
Messrs. Toye & Co. pelos clichés que ilustram este livro.
ÍNDICE

Pág.

Capítulo 1. Estudo Histórico ................................... 1

Capítulo 2. O Grau da Marca .................................. 7


Os Nautas ............................................. 11

Capítulo 3. O Santo Arco Real de Jerusalém ............ 13

Capítulo 4. Os Graus Crípticos ................................ 21

Capítulo 5. Os Graus Aliados .................................. 25

Capítulo 6. O Antigo e Aceito Rito (ou R.E.A.A.) ....... 29

Capítulo 7. A Ordem Real da Escócia ...................... 35

Capítulo 8. Os Cavaleiros Templários ...................... 41


Os Cavaleiros de Malta ......................... 45

Capítulo 9. Os Graus Restantes .............................. 47

Graus Para-Maçônicos .......................... 49

Conclusão ............................................. 51
CAPÍTULO I
ESTUDO HISTÓRICO

história inicial dos chamados "Graus Superiores" é


ainda mais obscura que a do Simbolismo e,
consequentemente, formou-se uma tendência de
considerá-los como "elaborados" durante o século
XVIII.
Na minha opinião, esta é uma conclusão muito
precipitada, pois alguns desses graus possuem todas as
evidências de antiguidade e contêm uma sabedoria que foi
transmitida de geração em geração.
O terceiro grau claramente sinaliza um grau
subsequente, no qual os segredos perdidos serão finalmente
recuperados. De fato, sem tal grau, as cerimônias do
Simbolismo não teriam sentido. Além disso, como
mostraremos mais adiante, os Graus Superiores mais
importantes usam sinais de grande antiguidade, que foram
claramente transmitidos dos tempos antigos exatamente da
mesma forma que os nossos sinais do Simbolismo, dos quais
foram obtidas evidências completas no Manual de História. Há
também evidências documentais para mostrar que as lendas
de alguns desses graus eram bem conhecidas pelos nossos
ancestrais medievais e, de fato, incorporadas nas Antigas
Obrigações (Ancient Charges). Como, por exemplo, os dois
pilares que foram instalados antes do dilúvio, sobreviveram a
este, e posteriormente foram re-descobertos por maçons. Esta
lenda forma o tema do décimo terceiro grau do Rito Antigo e
Aceito (Ancient and Accepted Rite)2, o qual é chamado de Arco
Real de Enoque (Royal Arch of Enoch)3.

2 N.T.: Denominado Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil (R.E.A.A), que é a


forma que passaremos a nominá-lo.
3 N.T.: Denominado Cavaleiro do Real Arco, conforme o R.E.A.A. praticado no

Brasil
1
As primeiras referências impressas a qualquer dos Graus
Superiores são ao Arco Real (Royal Arch) em 1741 e à Ordem
Real da Escócia (Royal Order of Scotland) em 1743, quando
estava em um estado de saúde tão vigoroso que possuía uma
Grande Loja Provincial em Londres, com pelo menos dois
Capítulos sob seu controle.
Os Graus superiores parecem formar três grupos
principais:
( l) Aqueles que se estendem à história do Simbolismo;
(2) Aqueles que pretendem restaurar os segredos
perdidos; e
(3) Os Graus de Cavalaria.
Com relação ao primeiro grupo, duas tendências parecem
ter sito trabalhadas durante o século XVIII. Uma para eliminar
no Simbolismo várias partes da lenda e a outra para ampliar
certos sucessos mencionados nas histórias da Arte e agregar
detalhes pitorescos, evoluindo a partir deles um novo grau.
Minha própria convicção é de que a raiz de quase todos os
Graus Superiores vem de tradições e lendas veneradas pelos
nossos predecessores medievais.
Não há dúvida de que todos os nossos rituais, incluindo
o Simbólico, foram submetidos a consideráveis revisões
durante o século XVIII. No caso dos Graus Simbólicos, uma
quantidade considerável cortes foram necessários devido a
alteração de cláusula na Constituição da maçonaria inglesa
que mudou de uma base cristã a uma não-cristã. Este
processo de eliminação de todas as referências cristãs não foi
concluído até a ocasião do Tratado da União, em 1813, e para
a Inglaterra um exemplo será suficiente. Dunckley, na segunda
metade do século XVIII, declarou que a "Estrela
Resplandecente" denotava a estrela em Belém, que guiou os
sábios até o menino Jesus. Na Escócia até hoje ainda sobrevive
uma nítida referência ao Cristo nos Graus do Simbolismo, pois
o V.S.E. é aberto pela D.C. com uma citação do verso de
abertura do evangelho de São João: "No princípio era o Verbo",
- e enquanto a Loja está sendo fechada com a seguinte citação

2
da mesma fonte: "E o Verbo Estava com Deus ". Isso indica
claramente a existência de uma explicação cristã sobre os
segredos perdidos, que embora não seja mais observado nos
Graus Simbólicos na Inglaterra, sobrevive em graus como o
Rosa Cruz (Rose Croix).
Verificamos, portanto, que qualquer aspecto Cristão foi
eliminado dos Graus Simbólicos, e isso explica a provável
origem de alguns Graus Superiores. Ao mesmo tempo, o estilo
geral de nossos Rituais do Simbolismo foi alterado.
Aparentemente, nos primeiros tempos, o papel que assumia
realmente o pelo candidato durante a cerimônia era
relativamente pequeno, e a maior parte do trabalho consistia
em preleções, algumas na forma de catecismo, com perguntas
e respostas, enquanto outras partes incluíam várias lendas
ligadas à Ordem. Gradualmente, surgiu a tendência para que
o candidato tivesse um papel mais ativo e dramático na
cerimônia e, para isso, as lendas e acontecimentos que não se
conectavam imediatamente com o tema principal, começaram
a ser descartados. Essas partes eram muito apreciadas pelos
membros mais velhos, e ao invés de vê-las perecer, eles as
tornaram em Graus Laterais, sem que tenhamos razão para
assumir que eles inventaram os sinais correspondentes a esses
graus. Na Ordem Real da Escócia hoje em dia, a maior parte
da cerimônia consiste em perguntas e respostas formuladas
pelo Mestre aos Vigilantes, e incluem a troca de sinais em
certos pontos do catecismo, sinais que, no entanto, não são
ensinados especificamente ao candidato. Sem dúvida, quando
partes semelhantes foram cortadas e se converteram em graus
Cristãos nos sinais os acompanharam e, naturalmente, se
tornaram forma de exame para provar que um Irmão tomou
esse novo Grau Lateral, que na verdade era muito antigo.
Um exemplo característico de um grau que foi
aproveitado de corte em grau do simbolismo é o da Marca, que
era quase certamente parte da cerimônia de um Companheiro
de Ofício, embora não haja dúvida que tenha sido ampliado
desde que começou sua carreira independente. Por outro lado,
alguns dos graus intermediários do R.E.A.A, como os
Cavaleiros Eleitos dos Nove, são meramente amplificações de

3
episódios relatados em poucas palavras na cerimônia do
Simbolismo. O grau dos Cavaleiros Eleitos dos Nove relata, de
forma dramática, a detenção de um dos criminosos.
A uma ordem inteiramente diferente pertencem graus
como o Arco Real, a Ordem Real de Escócia e a Rosa Cruz.
Cada um deles, à sua maneira, afirma ser o grau de conclusão,
no qual os segredos perdidos são descobertos. A explicação, no
caso dos dois últimos, é cristã, e não cristã no caso do Arco
Real, enquanto que as suas sobrevivências indicam a
existência de duas tradições diametralmente opostas. Os
Graus Cristãos representam a solução proposta nos tempos
medievais, enquanto o Arco Real, embora agora esteja
recoberto por temas judeus tomados no século XVIII do Antigo
Testamento, ainda possui traços de uma tradição que remonta
aos tempos pré-cristãos, e claramente descende em parte do
Egito e, em parte, da Índia.
O terceiro grupo afirma prosseguir o ensinamento das
ordens da cavalaria medieval e contém evidências de uma
tradição mística que não era inteiramente ortodoxa. Um
exemplo característico desses graus é o dos Cavaleiros
Templários.
No que diz respeito a esses Graus Cavalheirescos, à
primeira vista pode parecer difícil justificar a reivindicação de
um grêmio de construtores estar vinculado, de alguma
maneira, com a Ordem de Cavalheirismo mais relevante existiu
na Idade Média, mas aqueles que precipitadamente eliminam
essa tradição ignora certas características notáveis da
organização Templária. Os Templários continham pelo menos
três seções, ou sub-ordens, em suas fileiras, ou seja, os
próprios Cavaleiros, os Sacerdotes Templários e os chamados
Frades Servidores, entre os quais estavam todos os maçons.
Quando a Ordem foi suprimida, milhares de cavaleiros
escaparam da perseguição geral e simplesmente
desapareceram da história. Como eles fizeram isso, e o que
aconteceu com eles? A explicação mais razoável é que eles se
dissimulavam como Irmãos Serventes e Laicos do Templo, e
foram protegidos por esses membros mais humildes de sua

4
própria Ordem, que escaparam completamente da
perseguição. Eu aprofundei esse assunto em "A Maçonaria e
os antigos Deuses", e, portanto, me contentarei em dizer aqui
que havia, sem dúvida, um elo entre a Maçonaria e os
Templários, o que é bastante suficiente para explicar uma
superveniência parcial dos Ritos Templários entre a Irmandade
Maçônica. Os Templários certamente tinham um ensinamento
místico muito semelhante ao consagrado na Maçonaria, e
vestígios dele ainda podem ser detectados nos rituais atuais
dos Templários Maçônicos, apesar de terem sido
consideravelmente revisados no último meio século.

__________________
NT.: Com respeito à figura 1, apresentada na próxima página, deve-se
levar em conta que (a) na Inglaterra e País de Gales apenas a Maçonaria
Simbólica e o Sagrado Arco Real são considerados como “antiga e pura
Maçonaria”. O gráfico mostra outras Ordens adicionais, havendo outras
menores e não citadas; (b) a maioria das Províncias inglesas requer que
os candidatos à Royal Order of Scotland (ROS) sejam membros do Arco
Real, mas na verdade este não e um requisito da Ordem em geral.

5
Figura 1 – Estrutura dos Graus “Superiores” na Inglaterra e País de
Gales, distinguindo-se as Ordens de fundo cristãs dos não-cristãs.
(Fonte:
http://www.glpc.org/wp-
content/uploads/2016/07/Structure_of_Masonic_appendant_bodies_in_England_and
_Wales-1024x728.jpg

6
CAPÍTULO II
O GRAU DA MARCA

queles de meus leitores que já estudaram os meus


três primeiros manuais desta série compreenderão
que os verdadeiros segredos de um Mestre Maçom
não lhes foram restaurados. O segredo que
realmente se perdeu foi a compreensão da Natureza de Deus,
e nosso Terceiro Grau indica claramente que, apesar das
crenças populares, não podemos ser capazes de compreender
Deus assim que morramos. Os graus de Simbolismo, em suma,
nos conduzem através do nascimento, vida e morte, e
manifestam os lados Criativo, Preservativo e Destrutivo da
Divindade. A maioria dos demais graus querem tratar com o
que acontece ao homem após a morte, ou então esforça-se para
explicar (ou preencher) certas lacunas daquela narrativa
histórica, que é a base alegórica dos Graus Simbólicos.

Figura 2 – Mestres Maçons da Marca com seus paramentos.

O grau da Marca em parte pertence ao último grupo,


sendo na realidade a conclusão do Segundo Grau.
7
Inquestionavelmente, um Irmão deve receber sua marca
quando ele se torna um Companheiro do Ofício, e o próprio
grau ainda mostra uma forte influência operativa. É governado
pela Grande Loja da Marca (Mark Grand Lodge), que reúne e
tem seus escritórios no Templo, na Great Queen Street (em
Londres), ao lado dos Connaught Rooms. Todos os que amam
os Graus Superiores tem uma dívida de gratidão com a Grande
Loja da Marca, que atuou como Fada Madrinha para muitos
dos Graus Superiores que ficaram abandonados após o
Tratado de União em 1813. De fato, em muitos casos os tomou
mais ou menos sob sua proteção e, consequentemente,
devemos referir-nos repetidamente que o Grande Conselho que
rege um determinado grau tem sua sede no "Mark Mason’s
Hall".
O Grau da Marca tem suas próprias insígnias e uma joia
especial, e talvez nossos irmãos mais novos fiquem
agradecidos pelo alerta de que, com exceção do Arco Real,
nenhuma joia do grau superior pode ser usada em um Loja do
Simbolismo.
A joia do Grau da Marca consiste em uma pedra-chave,
feita geralmente de cornalina branca, na qual estão gravadas
certas letras místicas, cujo significado é revelado aos membros
do Grau. Está suspenso de uma fita azul e vermelha. Os
aventais e colares também são ornados de seda azul e
vermelha.
O ensino deste Grau é em grande parte uma amplificação
do Segundo, e fala sobre a educação e a recompensa pelo
trabalho. Ele também contém uma advertência dramática
contra a tentativa de se obter salários aos quais não temos
direito, e há uma alusão messiânica no fato de que "a pedra
que os construtores rejeitaram tornou-se a chave da
construção". Aliás, a pedra-chave é uma pedra angular, daí a
origem da joia do grau.
Vários fatos nos levam a suspeitar que, em certo
momento, o Grau pode ter sido mais pronunciadamente
cristão do que é hoje. Sabemos que estava florescendo já em

8
1760 em Lojas associadas aos Antigos, que eram
incontestavelmente fortemente pró-cristãs.
A lenda agora faz referência a um período da construção
do Templo anterior à tragédia, embora existam evidências
abundantes que mostrem que, até o momento da formação da
Grande Loja da Marca, em 1856, muitos Lojas da Marca no
Norte tinham uma lenda algo semelhante à usada agora, mas
associando-a com o segundo Templo em vez de com o primeiro.

Figura 3 – A joia do Mestre Maçom da Marca

A Marca, portanto, é, ou realmente deveria ser, parte do


nosso sistema Simbólico, e na Escócia há lojas simbólicas que
ainda tem o poder de conferi-lo, e constantemente o fazem.
Neste país é um requisito necessário para o Excelente Mestre,
que por sua vez é uma qualificação essencial para ingressar no
Arco Real. Deveremos nos referir mais ao grau de Excelente
Mestre quando chegarmos ao Arco Real, mas é desejável
apontar que, na Escócia, os Capítulos do Arco Real também
têm o direito de conferir o Grau da Marca, se um candidato
ainda não o tomou em sua Loja Simbólica.
A Marca, como dissemos, é a conclusão do Segundo Grau,
e contém em si o que é praticamente dois graus, ou seja, o
Homem da Marca e o Mestre da Marca. Já houve muita
controvérsia sobre se o grau de Mestre da Marca já teria sido
conferido a um homem assim que recebia seu Segundo Grau.
Considerando que é impossível, no momento, decidir quando
surgiram os Graus da Marca sua forma atual, tudo o que
podemos dizer definitivamente é que, até onde existe provas
documentais, ou seja, por volta a 1760, parece que sempre
9
houve os Graus do Homem da Marca e Mestre da Marca, e que,
embora, ainda que em teoria, o Homem da Marca pudesse ser
conferido a um Companheiro de Ofício, o Mestre da Marca
parece ter sido sempre restrito aos Mestres Maçons. Nos
tempos modernos, os Graus da Marca são conferidos em
conjunto, e sempre a um Mestre Maçom, embora o ritual de
Marca enfatize a conexão com o Segundo Grau.

Figura 4 – Antiga gravura alegórica alusiva ao grau da Marca

10
OS NAUTAS
O Grau, ou Graus, da Marca também
tem associado a eles, mas em uma "Loja"
separada, o grau dos Nautas ou Marinheiros
da Arca Real (Royal Ark Mariner Degree).
Este parece ser um antigo trabalho
"Operativo", provavelmente elaborado no norte da Inglaterra no
século XVIII por genuínos maçons operativos, ansiosos por ter
uma maneira de distinguir um verdadeiro maçom "operativo"
de um "especulativo". Certamente a mesma explicação deu
lugar à existência do Grau de São Lourenço, o Mártir, do qual
trataremos mais adiante. A lenda dos Nautas está relacionada
ao Dilúvio, e é tomada diretamente da Bíblia. As características
mais interessantes são o uso de uma pedra, em vez da V.S.E.,
sobre a qual se faz o juramento. O motivo é explicado no ritual,
mas pode ser que aqui tenhamos a sobrevivência do antigo
costume de jurar em um altar de pedra, que foi a primeira
forma de um juramento obrigatório. Há também um trabalho
interessante com um triângulo, mas, no essencial, deve-se
confessar que não há muito ensino profundo no grau. É, no
entanto, um grau muito bonito, e tem muitos adeptos
apaixonados. Está sob o mandato direto de uma Grande Loja
da Marca.

Figura 5 – Paramentos, colar e joia.

11
12
CAPÍTULO III
O SANTO ARCO REAL
DE JERUSALÉM

grau da Marca aperfeiçoa o Segundo Grau, mas


até para o mais recente Mestre Maçom deve ser
obvio que se faz necessário mais um grau para
completar o Terceiro Grau.
Os genuínos segredos se perderam, mas, será que nunca
foram re-descobertos? Além disso, já que eram conhecidos por
três pessoas, porque os dois sobreviventes não poderiam haver
nomeado um sucessor e confiar-lhe os segredos perdidos? O
Arco Real se propõe a dar, de alguma maneira, uma resposta
à pergunta: “Quais eram os genuínos segredos de um Mestre
Maçom?”
Em poucas palavras, trata-se de uma Palavra perdida,
mas essa Palavra transmite, simbolicamente, uma explicação
mais interessante e esclarecedora da natureza de Deus. De
fato, pode-se resumir o ensinamento da Simbolismo4 dizendo
que ensina ao homem seu dever para com seu próximo,
enquanto que o Arco Real lhe instrui em seu dever para com
Deus. Qual é a natureza de Deus representada neste grau? É
uma trindade, mas não a Trindade Cristã, parecendo-se mais
com a Trindade hindu de Criador, Conservador e Destruidor 5.
Ela também reflete claramente a união de Corpo, Alma e
Espírito, e mostra que por essa União nos unimos com Deus.

4 Refere-se aos três graus da Maçonaria Simbólica: Aprendiz, Companheiro e

Mestre (N.do T.).


5 N.T.: Criação, preservação e destruição: as três forças que regem o ciclo da

natureza e a existência do homem sobre a Terra dão vida aos três principais
deuses hindus – Brahma, Vishnu e Shiva (fonte:
http://www.triada.com.br/espiritualidade/fe_oriental/aq173-201-1084-1-a-
divina-trindade-hindu.html)
13
Assim, em sua própria essência, o Arco Real é sumamente
místico e ensina a Visão Beatífica.
A lenda aborda o “descobrimento” dos segredos perdidos
durante a reconstrução do Templo, após o regresso dos judeus
do cativeiro na Babilônia. Percebe-se que o “plano de fundo”
do grau é do Antigo Testamento e isto deve ser destacado,
porque há outra explicação da “Palavra Perdida” que se dá em
alguns dos outros graus Superiores, qual seja, que a “Palavra
Perdida” é Cristo, o Logos.
Mas, entretanto, não obtivemos uma resposta à natural
pergunta: por que os outros dois, que conheciam o segredo,
não nomearam um sucessor? A explicação exotérica completa
a esta pergunta, e também como os sinais foram depositados
em um local seguro, são revelados em um dos “graus Crípticos”
ao qual iremos nos referir mais adiante neste livro. Em poucas
palavras, no entanto, eram necessárias três pessoas para
transmiti-la, mas na realidade isto é simbolismo e significa que
Corpo, Alma e Espírito devem estar unidos antes de se poder
compreender plenamente a Trindade Divina. Enquanto, por
um lado, nenhum homem vivo, prezo pelos laços da carne,
pode realmente compreender a natureza de Deus, nem mesmo
imediatamente após sua morte pois nossas almas ainda não
estão suficientemente evoluídas, por outro lado claramente é
ensinado que nosso corpo não perece por completo, mas é
transmutado, como o próprio São Paulo afirma que ocorrerá
no dia do julgamento. Isto é, sem dúvidas, um dogma muito
profundo e de difícil compreensão para nós, mas se pudermos
perceber o fato de que tanto a matéria quanto o Espírito são,
em suas manifestações, originários de Deus e, portanto, uma
parte dele, percebemos que a Matéria também é indestrutível,
embora sua forma possa mudar. Este fato é perfeitamente
reconhecido pela moderna ciência.
Na forma original do Arco Real, que ainda sobrevive em
Bristol, Escócia e Estados Unidos, o candidato deve passar por
quatro véus, que correspondem a distintos estágios espirituais
da existência além da sepultura, estando cada vez um pouco
mais próximo do Ser Divino que no anterior. Os quatro véus
são de cor azul, púrpura, vermelho e branco, e em cada véu o
14
candidato é desafiado por um “Guardião do Véu” que exige dele
a palavra e o sinal do véu anterior. Na Escócia esta cerimônia
forma um grau distinto conhecido como Excelente Mestre e
sua joia é um pentagrama com brilhantes, joia que, é claro,
representa, entre outras coisas, o homem e seus cinco
sentidos. O sinal penal deste grau é de grande antiguidade, e
é o que fez Vishnu quando encarnado na forma do Leão.
Vishnu desceu à terra para derrubar um gigante maligno que
oprimia o mundo e o matou estripando-o. Na Escócia nenhum
maçom inglês do Arco Real pode ser admitido em capítulo
escocês a menos que previamente receba o grau de Excelente
Mestre, grau que não pode receber a não ser que tenha
previamente o da Marca.

Figura 6 – Interior do templo, nos EUA, com os quatro véus.

A Passagem pelo Véu Branco é, na realidade, uma parte


integrante da cerimônia do Arco Real, e o sinal corresponde
aos segredos dos outros véus é bem conhecido pelos maçons
ingleses do Arco Real. É somente após ter superado esta
barreira que o candidato está habilitado a obter os genuínos
segredos de um Mestre Maçom, sendo a cerimônia muito
semelhante à do Arco Real inglês. Em outras palavras, é
somente quando passamos por vários estágios espirituais de
existência que, em última análise, podemos compreender a

15
natureza de Deus. A supressão dos Véus na cerimônia do Arco
Real inglês tende a obscurecer esta importante lição.
Uma lição um pouco diferente nos é ensinada pelo destino
de nosso antecessor no Ofício. Ele não poderia ter revelado o
segredo, mesmo que quisesse fazê-lo, pois era uma experiência
e, portanto, não podia ser comunicada por palavras a qualquer
homem vivo. Não podemos entrar em uma explicação
detalhada desta cerimônia, profundamente mística, em um
livro desta natureza, mas é essencial uma breve explicação de
uma determinada cripta que desempenha um importante
papel. Como todos os símbolos em Maçonaria, ela tem vários
significados, e entendemos que os dois mais importantes são
(a), o submundo, ou o túmulo no qual o homem desce na morte
e a partir do qual sua Alma finalmente ascende aos reinos da
Luz. (b) A interpretação mística é que a cripta é a sede do
Mestre de onde a escuridão se retira e onde nora a Centelha
Divina.
A joia deste grau representa muito claramente a natureza
de Deus. O duplo triângulo dentro do círculo com um ponto,
que está representado pelo Olho que tudo vê, é o antigo
símbolo de Deus. O triângulo dentro do círculo representa o
Espírito no Círculo do Infinito, e está peculiarmente associado
a Deus, o Criador. Os maçons do Arco Real devem perceber a
importância deste fato em conexão com o Altar. O ponto dentro
de um círculo, entre hindus, significa Paramatma 6, o
onipresente, a fonte e o fim de tudo. O triângulo com a ponta
para baixo é o símbolo da chuva (água) e representa o lado
conservador de Deus (Vishnu 7), enquanto o triângulo com a
ponta para cima representa o fogo, cujas chamas vão ao Céu
6 N.T.: Paramatma, que literalmente significa Superalma, é a forma localizada
do Senhor que sustenta a realidade material. Deus está no coração de todos
nessa forma de Paramatma. Não só no coração de todo corpo material, mas
também em todos os átomos da criação. Os grandes místicos entravam em
meditação profunda na Superalma, adquirindo assim todo tipo de poder místico
e controle sob seus corpos e a energia material de Deus, em sua comunhão com
o divino. (Fonte: http://giridhari.com.br/a-deidade/)
7 N.T.: Vishnu é um dos deuses da trindade hindu, formada também por

Brahma e Shiva. Brahma é o deus da criação, Shiva o da destruição e Vishnu o


da manutenção, proteção e sustentação. Quando o mundo está sob a ameaça
de alguma força do mal, é Vishnu quem surge, sob a forma de um de seus
avatares (encarnações), para protegê-lo. (Tonte: http://www.triada.com.br/)
16
e, portanto, é o emblema do Destrutivo, ou melhor, o lado
transformador de Deus (Shiva). Este grande símbolo era
sagrado para os babilônios, egípcios e judeus, e tinha cada um
o mesmo significado interno. Também é sagrado para o hindu
moderno, e também era para os antigos mexicanos, e, de fato,
é um dos símbolos mais venerados do mundo.

Figura 7 – A joia do Arco Real.

Portanto, a joia do Arco Real, longe de ser um mero


ornamento, contém em sí um resumo dos sublimes
ensinamentos desse grau; ainda mais considerando-se que
conta também com um triplo tau. No que diz respeito à cruz
tau, já mostrado em nossos manuais anteriores, na sua origem
era um símbolo fálico que representava o poder criativo.
Devemos nos recordar que fazemos uma cruz tau cada vez que
recebemos os segredos nos Graus Simbólicos. Assim, o próprio
Mestre Maçom fez o triplo tau. Também vale a pena lembrar
aos nossos leitores que apenas aqueles que passaram pela
cadeira e governaram uma Loja têm o direito de usar três
cruzes de tau em seus aventais.
Como um símbolo fálico, converteu-se em um emblema
do Criador como também, com o tempo, das nossas paixões
animais, que devem ser pisoteadas se quisermos avançar na
iluminação espiritual. Ao chegamos ao Arco Real isso
simbolicamente foi feito, e somos lembrados disso pela União
destes três taus sob os triângulos, emblemas do espírito.
Embora este seja essencialmente um grau não cristão, não
podemos esquecer que havia três Cruzes no Calvário.

17
A presença do triplo tau, após a experiência que tivemos
no Simbolismo, mostra quanto cuidadosamente cada grau
conduz ao seguinte, e também transmite esta importante lição.
Cada grau na Arte ensina a evolução e purificação de (1) o
Corpo; (2) a Alma; (3) o Espírito. Estes três, agora em perfeita
união, descansam sob a Sombra do Ser Supremo,
representado pelos Triângulos Duplos. Assim, a presença da
cruz tau nos ensina que o Homem descerá definitivamente à
Presença do Rei dos Reis.
Na verdade, o Arco Real é cheio de interessante
simbolismo: as cores das insígnias, vermelho e púrpura, a
forma do altar, a posição dos três Principais, tudo transmitem
importantes lições, mas não podemos aprofundar ainda mais
neste grau em um limitado espaço de um pequeno Manual
como este. No entanto, não se pode deixar de assinalar que,
assim como no Simbolismo o Venerável Mestre representa o
Espírito, o Primeiro Vigilante a Alma e o Segundo Vigilante o
Corpo, igualmente ocorre com os oficiais correspondentes do
Arco Real, ainda que aqui já não estão separados, mas lado a
lado, e em todos os casos atuam como se fossem um. A razão
é que o Arco Real representa esse estado sublime onde Corpo,
Alma e Espírito são verdadeiramente uno, e estão em Paz na
Presença de Deus – agora corretamente compreendido.

Figura 8 – O Triângulo e o Triplo Tau

18
Nossos leitores assim perceberão que nenhum Maçom do
Ofício pode considerar que cumpriu seu dever como Maçom,
até que ele tenha recebido o Arco Real, porque até então ele
não recuperou os sinais perdidos que ele prometeu tentar
encontrar.
Os paramentos incluem avental e uma faixa de cor
púrpura e vermelha.

Figura 9 – Os paramentos do Arco Real

19
FIGURA 10 - 1. Tesoureiro. 2. Secretario. 3. Rei. 4. Sumo Sacerdote. 5.
Escriba. 6. Capitão da Tropa. 7. Principal Peregrino. 8. Capitão do Real
Arco. 9. Grão-Mestre do Terceiro Véu. 10. Grão-Mestre do Segundo Véu,
11. Grão-Mestre do Primeiro Véu. 12. Sarça Ardente. 13. Altar.
(Fonte: Duncan's Masoic Ritual and Monitor, by Malcom C. Duncan,
[1866], pág 220.

20
CAPÍTULO IV
OS GRAUS CRÍPTICOS

s Graus Crípticos são em número de quatro e são


governados por um Grande Conselho de Mestres
Real e Seleto que, na realidade, está em estreita
aliança com a Grande Loja da Marca, cujo sede é o
seu Quartel General.
Eles são "Mui Excelente Mestre" (The Most Excellent
Master), "Mestre Real" (The Royal Master), "Mestre Seleto" (The
Select Master) e "Super-Excelente Mestre" (The Super-Excellent
Master), e suas lendas cobrem o tempo histórico entre o
primeiro Templo e sua destruição. O Grau de "Mui Excelente
Mestre" não deve ser confundido com o de "Excelente Mestre"
que é trabalhado na Escócia; o Grau de Excelente Mestre é
conferido a um maçom do Arco Real inglês que não tenha
participado da cerimônia da Passagem dos Véus (Passing of the
Veils).8 A Lenda, portanto, está associada ao Segundo Templo,
enquanto o "Mui Excelente Mestre", ao contrário, trata da
conclusão e dedicação do primeiro templo. O avental, que
raramente é usado, é de cor branca com bordas púrpura, e
portam um colar de cor púrpura. A cor refere-se ao sofrimento
sentido pelos Irmãos pela perda do terceiro Principal, cuja
cadeira está vaga. A característica mais marcante na sala da
Loja é uma pequena réplica da Arca da Aliança. Em teoria, a
qualificação para o "Mui Excelente Mestre" é apenas a Marca,
mas como sempre é seguido pelo "Mestre Real”, para o qual a
qualificação é Marca e Arco Rela, na prática, o Candidato deve
possuir esses dois graus.
O Mestre Real é um grau muito interessante, pois mostra
como os segredos do Arco Real veio a ser depositado no local

8 N.T.: A cerimônia de “Passagem dos Véus” na Inglaterra somente é


trabalhada hoje em dia em Bristol, Yorkshire, Northumberland e
Lancashire.
21
onde foram posteriormente encontrados. Embora a cadeira de
Hiram Abif estivesse vaga no "Mui Excelente Mestre", no
Mestre Real, ele é o principal personagem, e suas investigações
sobre o tema da "Morte" é uma das mais belas peças de ritual
na Maçonaria.
O avental neste grau é preto, com borda vermelha, mas
raramente é usado. Os três oficiais principais, no entanto,
usam mantos semelhantes aos utilizados pelos mesmos
oficiais na Arco Real.
O "Mestre Seleto", ao contrário dos graus precedentes,
tem sua própria joia especial, ou seja, uma espátula de prata
dentro de um triângulo do mesmo metal, que é suspenso de
um colar preto raiado e forrado de vermelho.
O avental de forma triangular é
branco, com borda vermelho e dourado,
mas na Inglaterra, nem este nem a joia são
geralmente usadas. Na Escócia, a joia dos
Graus Crípticos combina o triângulo e a
espátula, enquanto na Inglaterra usamos
a Joia do "Super-Excelente Mestre" para
representar todos os quatro.
O "Mestre Seleto" deve ser mantido em uma cripta (daí o
nome "Graus Crípticos"), que é a mesma cripta em que os
segredos do Arco Real foram descobertos mais tarde. A lenda é
semelhante à de um dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito,
e relata como um bem conhecido maçom, empregado pelo Rei
Salomão, invadiu acidentalmente essa cripta quando o Rei
Salomão e Hiram, Rei de Tiro, estavam presentes. O intruso foi
posteriormente perdoado, mas os vigilantes que deveriam ter
impedido sua entrada, foram punidos em seu lugar. Esta é,
sem dúvida, uma lenda antiga que surge novamente em um
Terceiro grau, ou seja, o "Grande Cobridor do Rei Salomão",
um dos Graus Aliados (Allied Degrees). Seu significado
simbólico é que aqueles que impulsiona sua secreta
investigação para além dos limites razoáveis, sem a assistência
e a proteção de pesquisadores mais experientes, correm sérios
riscos.

22
O "Super-Excelente Mestre" é curto e não muito
interessante, mas traz a história do primeiro Templo até o
momento de sua indefesa destruição, enlaçando assim o "Mui
Excelente Mestre" e o Arco Real. A lição ensinada é lealdade
inabalável a Jeová. A cor deste grau é carmesim, e um colar
carmesim deve ser usado. Na prática, no entanto, é usado
apenas pelos membros do Grande Conselho. A joia desses
graus é um triângulo de esmalte branco com a ponta para
baixo, ou seja, o triângulo do Preservador (Preserver), sendo,
como regra, o único emblema a ser usado.
A parte mais interessante deste grau é um tapete no chão
com o seguinte design sobre o mesmo: Dentro de um quadrado
há um círculo, dentro do qual um triângulo apontando para o
Oeste, e dentro do triângulo está o Centro do Círculo sobre o
qual repousa um altar, e no altar está a Arca da Aliança. Como
o desenho do piso não está adequadamente explicado, a
seguinte será de utilidade.
O triângulo apontando para o oeste é o símbolo do
Preservador, e foi adotado como a joia de todos esses graus na
Inglaterra, e certamente denota o princípio básico da série.
(1). O "Mui Excelente Mestre" nos ensina que, apesar da
perda do arquiteto chefe, Deus preservou o trabalho do
Templo e foi devidamente completado.
(2). O "Mestre Real" nos diz como os segredos do Arco Real
passaram a ser preservados.
(3). No "Mestre Seleto", o amigo mais zeloso de Rei
Salomão foi preservado do terrível destino que o
ameaçava.
(4). No "Super-Excelente Mestre", mostramos como Deus
preservou um grupo remanescente do povo, porque eles
preservaram sua fé nele.
O triângulo dentro de um quadrado representa a Descida
do Espírito na Matéria, enquanto o Círculo simboliza o Infinito
- de onde vem o Espírito. O ponto liga o Infinito ao emblema
Daquele que tudo penetra - e também se refere a cada "Ego"
individual.

23
O símbolo inteiro, portanto, significa que Deus, o
Preservador, desceu da Eternidade, e entrando na Matéria
tornou-se carne, e Ele é uno com O onipresente. É, portanto,
um emblema muito sagrado, e o fato de que a Arca da Aliança
esteja no Centro mostra que a Nova Benção (New Dispensation)
surge da antiga, e a referência profética a este fato é enfatizada
pelo legítimo “G.”, que deve nos lembrar Daquele que morreu
na cruz. Assim, este grau tem um significado messiânico e
esotérico, muitas vezes ignorado por aqueles que o tem
recebido.

Figura 11- Arca da Aliança. Norwood Chapter, 18


http://test.norwoodchapter.ca/most-excellent-master-degree-march-6-2017/

24
CAPÍTULO V
OS GRAUS ALIADOS

ob este título estão agrupados vários diferentes


graus que têm pouco em comum. Teoricamente o
Grande Conselho, que se reúne no Mark Masons'
Hall, controla um grande número de graus,
incluindo cinco que são pseudo-maçônicos, mas na prática
eles só trabalham seis graus. Em Newcastle, no entanto, o
Conselho do Tempo Imemorial (Time Immemorial Council)
trabalha também um ou dois outros, incluindo o Cavalheiro
Sacerdote Templário do Santo Arco Real (Real Arch Knight
Templar Priest), com uma cerimônia altamente mística e
bonita.
Os seis graus trabalhados em Londres não se restringem
aos cristãos, e as únicas qualificações necessárias para neles
ingressar são o de possuir os graus da Marca e do Arco Real;
apesar do fato de que São Lourenço, o Mártir, e os Cavaleiros
de Constantinopla serem claramente graus cristãos. A maioria
desses graus é de importância secundária, mas a Cruz
Vermelha da Babilônia (Red Cross of Babylon) e o Grande Alto
Sacerdote (High Priest) são antigos e importantes. Os graus são
os seguintes:
(1). São Lourenço, o Mártir (St. Laurence the
Martyr) -. A joia é uma grelha metálica, e é
bem possível que seja por esse fato que
devamos os contos obscenos do mundo
exterior quanto ao que acontece com um
homem em sua iniciação na Maçonaria. A
lenda deste grau na realidade não tem nada
a ver com a Maçonaria, e é bem conhecida
por todos os estudantes de lendas dos
santos medievais. A lição ensinada é a de
fortaleza. Este grau parece ser um fragmento do antigo

25
ritual operativo trazido de Lancashire, e originalmente foi
elaborado em apenas um grau para permitir que um
verdadeiro "maçom operativo" distinga outros operativos
dentre "desses especulativos modernistas".
(2). Cavaleiro de Constantinopla (Knights of
Constantinople) - estão associados ao
imperador Constantino, e apregoa a útil
lição da igualdade universal. A joia é uma
cruz coroada por uma lua crescente,
dificilmente aceito como uma escolha feliz,
pois sugere o triunfo do Crescente sobre a
Cruz.
(3). Monitor Secreto (Secret Monitor) - é muito
parecido com o primeiro grau do Monitor
Secreto, trabalhado pelo Grande Conclave, e está
associado a David e Jonathan. Sua presença
entre os Graus Aliados como testemunha de
uma desafortunada divisão que ocorreu nos
primeiros anos da organização do Monitor
Secreto do Grande Conclave. É o único grau
em maçonaria inglesa que está sob o
controle de dois corpos inteiramente
distintos. A Figura mostra a joia de peito.
(4). Grande Cobridor do Rei
Salomão (Grand Tyler of King
Solomon) (ou Maçom Eleito dos Vinte e Sete)
- relata a história da intrusão acidental de
um Companheiro do Ofício nas criptas
secretas onde estavam reunidos o Rei
Salomão, Hiram, Rei de Tiro e Hiram Abiff. A
lenda é muito semelhante à relacionada no
"Mestre Seleto", ainda que existam variações
interessantes. Em particular, o “período" da
legenda é anterior. A joia é o triângulo do Preservador,
apontando para baixo, com certas letras hebraicas
gravadas em dourado sobre um fundo de esmalte preto.

26
Todos esses graus são interessantes, mas dificilmente
pode ser chamado de realmente importante, enquanto os
próximos dois ficam em uma categoria bastante diferente.
(5). Cruz Vermelha da Babilônia (Red
Cross of Babylon) - é, sem dúvida,
antigo, e o décimo sexto grau do R.A.A
tratando do mesmo tema, enquanto
incidentes semelhantes também
ocorrem na Ordem Real da Escócia. Em
ordem histórica, o grau segue, e está
intimamente associado, ao Arco Real e a
reconstrução do segundo Templo, e na
Escócia é efetivamente controlado pelo
Supremo Capítulo do Arco Real. Tem
muitos detalhes interessantes, mas sua
característica notável é o cruzamento da Ponte. Embora
transformado em uma ponte física e histórica, sem
dúvida simboliza algo bem diferente. Estamos aqui na
região da escatologia e somos informados sobre o que
acontece com um homem após a morte. Em todas as
grandes religiões do mundo, existe uma tradição que,
mais cedo ou mais tarde, após a morte, a alma deve
atravessar uma certa "Ponte". Claramente, esta "Ponte"
significa a passagem de um estado de existência no
mundo além do túmulo para outro, e indica um avanço
adicional da Alma longe das condições da Terra e em
direção a Deus. Os japoneses, chineses, persas,
maometanos e cristãos medievais falam desta ponte. Por
exemplo, os Persas dizem que os enlutados devem se
levantar ao amanhecer no terceiro dia após a morte de
seu amigo e orar por ele, pois naquela hora ele chega à
ponte que deve atravessar para chegar ao Paraíso.
A Ponte se estende sobre o abismo do Inferno, e no meio
da Ponte a Alma será recebida por uma forma feminina.
Se sua vida foi boa, essa forma será a de uma bela mulher
que irá leve-o para o Paraíso, mas se a sua vida foi má,
será uma bruxa horrível que se reunirá com ele e o jogará
da ponte ao abismo.

27
Na Inglaterra, esta ponte foi chamada "The Brig of Dread"
(Ponde da Angustia), e é retratada em um afresco do
século XII na Igreja Chaldon, Surrey, onde é mostrada
como se fosse construída como uma serra. Entre aqueles
que tentam atravessá-lo há um Maçom com suas
ferramentas na mão. Também se fala dela em um antigo
cântico de Lancashire que relaciona o que acontece com
a Alma do homem morto imediatamente depois de deixar
seu corpo inerte.
“When thou from hence away art past,
Every nighte and alle,
To Whinny-muir thou com’st at last;
And Christe receive thy saule.
If ever thou gavest hosen and shoon,
Every nighte and alle,
Sit thee down and put them on;
And Christe receive thy saule.” 9

A lição exotérica do grau é "Grande é a Verdade", mas a


referência oculta à Ponte das Provas, a qual a alma deve
passar na jornada em direção ao Paraíso, é a
característica mais marcante. A joia é duas espadas
cruzadas em um fundo verde escuro de esmalte.
(6). Grande Alto Sacerdote (High Priest) - ao contrário dos
outros graus, só pode ser conferido a um maçom que
tenha sido um 3º Principal em um Capítulo do Arco Real.
Trata-se do Sacerdócio "após a Ordem de Melchisedic", e
a joia é o triângulo com o ponto para cima, no qual é
imposta uma mitra.
Resumidamente, os Graus Aliados ligam o Antigo
Testamento com o Novo, e os mais importantes são a Cruz
Vermelha da Babilônia e o Grande Alto Sacerdote, embora os
outros quatro não estejam sem interesse.

9 Lyke-Wake Dirge ou This ae nighte, his ae nighte, uma canção fúnebre,


anônimo do século XV. Entre outras versões modernizadas, pode-se encontrar
no 5º movimento, Dirge, de Serenade for Tenor, Horn and Strings (1943), do
compositor britânico Benjamin Britter (N. do T.).
https://en.wikipedia.org/wiki/Serenade_for_Tenor,_Horn_and_Strings
28
CAPÍTULO VI
O RITO ESCOCÊS
ANTIGO E ACEITO10

osacruz de Heredom (Rose Croix of Heredom) é


agora considerada como o 18º Grau do Rito
Escocês Antigo e Aceito (ou Rito Antigo e Aceito),
cujo número total de graus é de 33, em referência
aos 33 anos da Vida do Senhor. Na prática, no entanto, apenas
os graus 18º, 30º, 31º, 32º e 33º são trabalhados na Inglaterra,
e os últimos três são conferidos apenas limitadamente.
Na América, todos os graus intermediários são
trabalhados, ou seja, do 4º ao 33º inclusive, mas na Inglaterra,
o 4º ao 17º meramente são conferidos pelo nome. O 18º é
trabalhado na íntegra, mas o 19º até o 29º inclusive são
igualmente conferidos de forma nominal.
A qualificação para o 18º é que o candidato tenha um ano
como Mestre Mason, e para o 30º, geralmente é exigido que
tenha sido Prior (Prelate) ou Mui Venerável Soberano (M.W.S.,
siglas em inglês), sendo este o título do governante de um
Capítulo Rosacruz (Rose Croix Chapter). O 18º grau é um grau
altamente místico e cheio do mais profundo interesse, e na
Inglaterra é restrito aos cristãos professos. Nos Estados Unidos
e no continente Europeu, no entanto, em geral o grau não é
considerado cristão, e os não-cristãos podem tornar-se
membros. Uma escola de pesquisa maçônica propôs uma
teoria de que o grau Rosacruz (Rose Croix) era originalmente
católico romano e foi criado pelos jacobinos11. Pessoalmente,
10 Para a Inglaterra e País de Gales, onde o Supremo Concelho foi fundado em

1846, a denominação é Rito Antigo e Aceito (Ancient and Accepted Rite).


11 O jacobitismo foi um movimento político dos séculos XVII e XVIII na Grã-

Bretanha e Irlanda que tinha por objetivo a restauração do reinado da Casa de


Stuart na Inglaterra e Escócia (e depois de 1707, ano em que o Reino da
Escócia e o Reino da Inglaterra num Tratado de União se uniram criando a Grã-
Bretanha). O seja, marcou um momento de transição entre os
29
depois de uma pesquisa muito cuidadosa, não consegui
encontrar nenhuma evidência em apoio a essa visão e,
francamente, não consigo conceber nenhum católico romano
consciencioso tomando parte das cerimônias.
Parece mais provável que o grau seja devido à influência
Rosacruz, e a evidência histórica mais antiga que podemos
encontrar desses místicos mostra que eles eram luteranos,
mas é bem provável que herdassem uma tradição anterior.
Parece haver referências a doutrinas Rosacruzas em Dante, e
os Maçons de Comacines12 esculpiam a Rosa e o Compassa
sobre a porta de suas casas em Assis nos primeiros anos do
século XV. Além disso, os antigos astecas que também
veneraram a cruz, tiveram um Rito muito parecido, com os
mesmos sinais e muitos dos mesmos acontecimentos eram
idênticos. Finalmente, não podemos ignorar o fato do Maçom

governos absolutistas ou tradicionalistas dos Stuarts para os governos


parlamentares ou liberais da Casa de Hanôver.
Este tem igualmente um pendor católico e antiprotestante dos primeiros,
daqueles que queriam a abertura para a prática da sua religião.
A sua designação advém de Jaime II da Inglaterra (e Jaime VII da Escócia) de
quem eram adeptos, cujo nome em latim era Iacobus Rex, numa altura em que
era a única língua usada pelos sacerdotes durante as celebrações e aquela que
do uso corrente da diplomacia. Este movimento acabaria por ser derrotado,
sobretudo em dois grandes momentos e batalhas em 1715 e 1748
respectivamente.
O jacobitismo foi a resposta à deposição do referido rei James em 1688, ano
da Revolução Gloriosa, em que ele foi substituído pela sua filha
protestante Maria II de Inglaterra juntamente com o seu marido Guilherme de
Orange, por parte das forças que o apoiavam. Os Stuarts passaram a viver no
continente europeu depois disso, tentando ocasionalmente recuperar o trono
britânico com a ajuda da França e Espanha (e das forças católicas existentes
em certas zonas como a Irlanda e as Highlands escocesas).
Os realistas (royalists) apoiavam o jacobitismo porque eles acreditavam que
o parlamento não tinha autoridade para interferir com a sucessão real e muitos
católicos viam-no como o alívio da opressão protestante. Muitas pessoas
envolveram-se nas campanhas militares por vários motivos também. Na
Escócia, a causa jacobita tornou-se envolvida na agonia do sistema dos clãs
guerreiros das Highlands, e tornou-se uma memória revivalista romântica.
O emblema dos jacobitas é a rosa branca, a White Rose of York; o Dia da Rosa
Branca é celebrado a 10 de junho, o aniversário de Jaime Francisco Eduardo
Stuart, conhecido como "The old pretender" que caso tivesse tido êxito teria sido
o rei Jaime III de Inglaterra (VIII da Escócia), nascido em 1688.
12 NT.: “Maçonaria e os Mestres Comacinos”- H.L. Haywood:

https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2015/04/05/a-maconaria-e-os-mestres-comacinos/

30
Aceito Henry Adamson, em "The Muses Threnodie" 13 (Lamento
das Musas), escrito em 1636, dizer:
"Por sermos Irmãos da Rosacruzes, temos a Palavra do
Maçom e a Segunda Visão"14

Isso mostra uma associação da "Palavra do Maçom" com


a Rosacruz (Rosie Cross). Pessoalmente, acho que isso se
refere, não ao presente 18º grau, mas à Rosacruz da Ordem
Real da Escócia (Rosy Cross of the Royal Order of Scotland.).

Isso indica, assim, influência Rosacruz na Maçonaria


muito antes da ascensão dos movimentos jacobitas, sendo
encontrado nesse poema que descreve os protestantes de
Perth.

Voltando ao décimo oitavo grau como o conhecemos hoje


em dia, nós encontramos que ele tem quatro seções distintas.
O primeiro consiste em conferir
(ou comunicar) nominalmente os graus
intermediários, e as outras seções
formam o próprio Grau Rosacruz. É
uma peça de simbolismo muito místico
e expressa a passagem do Homem
através do Vale das Sombras da Morte
acompanhado das Virtudes Maçônicas
Fé, Esperança e Caridade. Ele conclui
com sua aceitação final na morada da
Luz, da Vida e da Imortalidade e com a
reparação do mundo inferior.
A insígnia é dupla: de um lado é
preto, tendo no centro uma cruz do
Calvário vermelha; do outro lado é branco, com bordas de cor
rosa; no avental está bordado um Pelicano que alimenta suas
crias, enquanto na aba tem um triângulo dentro do qual estão

13 Poema “Muses Threnodie: of Mirthful Mournings on the death of Mr Gall”


(Edimburgo, 1638) )N. do T.)
14 A “segunda visão” é uma forma de percepção extra-sensocial do futuro. (N.

do T.).
31
certos caracteres hebraicos. Há um colar que similarmente
possui duas faces: No reverso é preto com três cruzes
vermelhas, e na frente rosa, ricamente bordado. Entre os
símbolos representados estão a coroa de espinhos e a serpente
segurando a cauda na boca, o emblema da eternidade. A joia
que está suspensa do colar, sendo um compasso dourada
aberto a um ângulo de 60 graus, encimado por uma coroa
celestial. Dentro do compasso uma cruz escarlate e por baixo
dele um pelicano alimentando suas crias. Ao inverter a cruz é
de prata, com uma águia prateada subindo para o céu, e em
ambos os lados na articulação do compasso há uma rosa.
Apesar do atual cenário cristão, parece que em seus
principais detalhes esse grau possui uma cerimônia muito
antiga. Todos os seus traços essenciais são encontrados na
cerimônia Bora dos aborígenes australianos, uma das raças
mais primitivas ainda sobreviventes. Na Índia e na China, os
sinais deste grau estão associados a Deus o Preservador. No
antigo Egito certas partes do Livro dos Mortos abordam os
mesmos assuntos e mostram os mesmos sinais em uso. Como
já foi dito, os antigos Astecas no México parecem ter
praticamente a mesma cerimônia, e alguns dos sinais que eles
faziam sobreviveram entre os peles vermelhos até hoje. Na
Europa medieval, encontramos exemplos constantes do uso
dos dois sinais principais empregados, como por exemplo, na
Catedral de Coire (Suiça), - nas obras dos séculos XII e XV -
em um afresco em Basileia, pintado nos primeiros anos do
século XVI e em um quarto com painéis do século XVII agora
no Museu na região suíça da Engadina, em St°. Moritz. Além
disso, um certo sinal associado ao 9º grau do R.E.A.A. que
indica a tristeza, também é encontrado na Europa, lado a lado,
com esses sinais Rosacruzes em todos os casos acima
mencionados. Fatos como esses não podem ser simplesmente
ignorados, e impedem-nos de aceitar a opinião de que a
Rosacruz foi inventada no século XVIII. De fato, os códices
mexicanos, que praticamente mostram a cerimônia completa,
são pelo menos dois séculos e meio antes da data em que foi
sugerido que este grau foi criado.

32
OS GRANDES ELEITOS CAVALEIROS DE KADOSH
O outro nome para este grau 30º, é Cavaleiro da Águia
Branca e Negra (Knight of the Black and White Eagle). Nos
países latinos é de tom fortemente Templário, e adquiriu um
significado sinistro porque em alguns dos rituais o dever de
vingar a morte de Molay e dos os outros Templários
sacrificados é ensinado de forma dramática. Uma vez que os
principais culpados responsáveis pela matança de Molay e
seus Cavaleiros foram Philip, Rei da França e Clemente, o
Papa, este fato é declarado ter sido utilizado para ensinar os
Candidatos que o rei e a igreja são os opressores do povo.
Provavelmente esse significado interior não é tão
universalmente aplicado no Continente, como pretendem os
escritores anti-maçônicos, mas, em qualquer caso, o Ritual
Inglês foi purgado de qualquer ideia desse tipo, se é que de fato
já o possuiu.
O grau é elaborado, requerendo três câmaras e uma ante-
sala quando trabalhado na íntegra, e somente o próprio
Supremo Conselho pode conferi-lo. O paramento, que pode ser
usado nos Capítulos de Rosacruzes, consiste em uma ampla
faixa preta suspensa do ombro esquerdo, com a ponta orlada
com franja prateada, e nela estão bordados os emblemas do
grau. Estes são uma águia voando em direção ao sol,
segurando a Âncora da Esperança em suas garras; na
extremidade está a bandeira da Inglaterra e do País de Gales,
que consiste em três leões dourados sobre fundo vermelho;
este é cruzado pela bandeira do Supremo Conselho, e abaixo
está uma cruz vermelha formada por quatro cruzes de tau,
geralmente chamado de Cruz de Jerusalém.
A joia de peito é uma cruz patada (ou
pátea) em esmalte vermelho, com o número
"30" sobre um centro em esmalte azul. De
uma coleira de fita preta com uma borda
prateada, pendia uma águia negra com asas
abertas, com uma coroa sobreposta e
segurando uma espada com as garras. A
palavra "Kadosh" é hebraica, e significa

33
"separado" ou "consagrado". Os três graus restantes do Rito
Antigo e Aceito são conferidos com moderação, e ocupam o
lugar em grande parte do “Grand Rank” em outros graus.
Passaram muitos anos antes de que um jovem maçom
alcance essas alturas exaltadas, e, portanto, qualquer
descrição detalhada, mesmo dos paramentos, dificilmente será
necessária em um guia desta natureza. No entanto, tão logo se
torne um maçom Rosacruz, ele certamente terá a oportunidade
de ver, de vez em quando, os membros desses ilustres graus e
aprender com eles, tanto quanto tenha o direito a saber, antes
que os graus lhes sejam conferidos.
O Rito Escocês Antigo e Aceito, como atualmente
organizado, deriva sua autoridade da carta que lhe foi
concedida em 1845 pelo Supremo Conselho da Jurisdição do
Sul dos EUA, mas os Graus Rosacruz, Kadosh, 28º grau e
outros graus intermediários já eram totalmente estabelecidos,
e são trabalhados século XVIII, como mostram os registros
históricos, embora ainda seja matéria de controvérsia de
quando se pode datar sua origem.
No que diz respeito aos graus intermediários, é um erro
supor que eles não têm nenhum valor ou interesse. Eles
variam consideravelmente em mérito, mas graus como o Arco
Real de Enoque, com sua clara indicação de influência dos
rosacruzes, e o relato da descoberta de um dos antigas Pilares
com inscrições do antigo aprendizado, (mencionado nos
Ancient Charges) é digno de estudo cuidadoso, e o mesmo se
aplica a vários dos outros graus. Por esta razão, insto
encarecidamente a todos os maçons Rosacruzes a participar
do festival anual do rei Eduardo VII, do Capítulo Rosacruz de
Aperfeiçoamento (Rose Croix Chapter of Improvement), que se
celebra na Primavera a cada ano no Mark Masons’ Hall,
quando dois dos graus intermediários são ensaiados na
íntegra.
Este é o Rito Escocês Antigo e Aceito; um grande Rito,
sem dúvida, cheio de Sabedoria mística, e que mostra aos
membros que a busca da palavra perdida termina, não no
Templo de Jerusalém, mas no Monte Calvário.

34
CAPÍTULO VII
A ORDEM REAL DA
ESCÓCIA

sta Ordem governa dois graus, o Heredom e a


Rosacruz. O Heredom é conferido em um corpo
chamado Capítulo, e assim, nesta Ordem, um
Capítulo está agregado a uma Loja. Na prática, no
entanto, esses dois corpos são os mesmos.
A Ordem Real tem muitas características peculiares, e é
impossível fazer justiça em um capítulo deste livro.
Em primeiro lugar, cabe assinalar que esta Ordem é
única na medida que tem apenas um órgão de governo para o
mundo inteiro e é o único corpo maçônico inglês nessa
condição. A Grande Loja deve sempre se reunir na Escócia.
Tal como estabelecido pela Grande Loja da Escócia
(Grand Lodge in Scotland), para ascender é necessário
acumular cinco anos como Mestre Maçom, mas a Grande Loja
Provincial Metropolitana (Metropolitan Provincial Grand Lodge)
na prática só irá admitir membros do 30º grau do Rito Escocês
Antigo e Aceito. Os maçons de Londres que não alcançaram
esse grau, devem, portanto, ir à Grande Loja Provincial dos
Condados do Sul, que se encontra em Windsor.
Esses graus são de grande antiguidade e, pessoalmente,
considero-os os maiores de todos os nossos graus maçônicos.
Eles não são tão dramáticos como certos outros, como o da
Ordem dos Templários, mas eles têm uma unidade de
propósito e um ritual antigo que está cheio dos mais profundos
ensinamentos místicos.
Em sua maior parte, está escrito em uma curiosa e antiga
linguagem poética fronteira, e a partir de análises internas
parece anterior a data de nossos formatos atuais, inclusive dos

35
graus Simbólicos, embora isso pressuponha claramente a
existência deles.
Dos registros históricos, sabemos que esses graus
"escoceses" já se trabalhavam em Londres em 1743, pois há
um registro de uma Grande Loja Provincial em Londres, como
tendo pelo menos dois Capítulos sob seu controle, naquele
momento.
O mero fato de que havia pelo menos dois Capítulos de
Heredom trabalhando nesta data exclui a possibilidade da
Ordem ter surgido em 1743, e o fato de ter que viajar da
Escócia e depois se estabelecer e se espalhar em Londres,
justifica-nos em considerar que dificilmente a origem possa ser
mais tarde do que a data da formação da Grande Loja
Simbólica da Escócia, que foi em 1736. Sete anos é, considero,
muito pouco tempo para permitir que um novo grau se
espalhasse da Escócia para Londres e se estabelecesse
firmemente, mas se tomarmos essa data, veremos que a Ordem
Real tem precedência na antiguidade de qualquer alto grau.
Porém, em vista desses fatos, não podemos descartar de pronto
a evidência da precisa descrição de Henry Adamson, de Perth,
em "The Muses Threnodie", escrita em 1638, praticamente um
século antes, na qual ele registra:
"Pois somos irmãos da Rosacruz, temos a Palavra do
Maçom, etc."15
Agora a Ordem Real pretende dar aos seus membros a
perdida “Palavra do Maçom”. Portanto, se a linguagem significa
alguma coisa, isto quer dizer que os irmãos da Rosacruz
afirmavam ter a verdadeira Palavra do Maçom, uma afirmação
que ainda fazem os irmãos da Rosacruz da Ordem Real.
Minha firme convicção é, portanto, que Adamson, que era
um Maçom Aceito e um clérigo, era um membro da Royal Order
of Scotland, e como o estilo e a linguagem do ritual se enquadra
nesse período, ou ainda antes, eu considero que a Ordem Real
remonta a esse período pelo menos. Em conexão a isso, é bom

15
O autor destaca que o poema original utiliza a expressão “Rosie Cross”, em
lugar do habitual Rosy Cross, correspondendo exatamente essa primeira
denominação com a do grau dessa Ordem Real (N. do T.)
36
lembrar que o primeiro registro da iniciação de um
especulativo na Maçonaria na Inglaterra é no dia 20 de maio
de 1641, quando Robert Moray, "intendente geral do exército
da Escócia", foi iniciado em Newcastle por membros da Loja de
Edimburgo, que estavam com o exército escocês que entraram
na Inglaterra em armas contra o Rei Charles.
Além disso, Moray era "Protetor" de Vaughan, o famoso
Rosacruz do século XVII. Se, portanto, além do Simbolismo,
havia uma Ordem Maçônica Rosacruz que só poderia dar
ingresso a aqueles que se qualificassem primeiramente como
Maçons, então podemos ver uma excelente razão do por que
Moray, que estava claramente interessado no Misticismo em
geral, e o Rosacrucianismo em particular, deveria estar ansioso
para ser iniciado em uma loja, ainda que o exército no qual ele
era intendente-geral estivesse em campanha.
A propósito, esses fatos contradizem a teoria ainda
sustentada por alguns estudiosos de que a Ordem Real era
jacobita. Na realidade, quanto mais de perto se estuda esta
Ordem, menos motivos são encontrados para se ter esse ponto
de vista.
Nesse caso, naturalmente, alguém procuraria alguma
referência no próprio Rei Mártir. Note-se que isso poderia ter
sido feito com perfeita segurança, pois no Livro de Oração da
Igreja Estabelecida da Inglaterra havia, durante o século XVIII,
um serviço especial em memória de Charles, Rei e Mártir.
Assim, a inclusão de referência à Rosa Branca, ou a Charles o
Mártir, poderia com facilidade e segurança ter sido trabalhado
nesse ritual.
Em segundo lugar, consideremos o ensinameto do grau.
Tanto o Antigo quanto o Novo Pretendentes eram Católicos
Romanos; portanto devemos esperar que haveria traços de
orientações católico romano no ritual, ou que pelo menos
houvesse algum cuidado para evitar qualquer coisa que fosse
em oposição direta à fé do herói dos jacobitas. No entanto, ao
olhar para o ritual, encontramos certas omissões importantes.
Não há menção à “Santa Igreja Católica", nem à "Comunhão
dos Santos", ambos conceitos dos dias medievais e que se

37
mantinham intactos nas igrejas episcopais da Escócia e da
Inglaterra; mais ainda, o ritual se afasta de declarar que só
obteremos a salvação através de Cristo, atingindo a doutrina
da intercessão dos santos, e até mesmo diz que nossa salvação
só é possível pela Fé.
Agora, este é apenas um dos pontos particulares da
divisão entre protestantismo e catolicismo, pois este último
sempre manteve a necessidade da fé ser provada por boas
obras. A salvação somente pela fé era um dos marcantes
princípios dos presbiterianos, e mostra claramente que o ritual
em sua forma atual é enfaticamente presbiteriano.
Será que os homens que estavam inventando um grau
para promover a causa Jacobita se desviariam de seu caminho
para inserir frases que poderiam ferir seu herói e muitos de
seus fiéis seguidores?
Este aspecto é ainda mais enfatizado pelo fato de que,
entre todas as parafernálias empregadas nos graus, não há
cruz nem crucifixo, embora os encontremos em outros Graus
maçônicos de Alto Grau. A omissão deve ser deliberada, pois
dada a natureza do ritual esses emblemas poderiam ter sido
empregados.
Diante desses fatos, nenhuma palavra de uma natureza
pró-jacobita pode ser alegada no ritual e, portanto, não vejo
nenhum motivo para afirmar que esses graus foram feitos para
ajudar os jacobinos.
Os graus em si próprios são muito místicos, conduzindo
o candidato Mestre Maçom através do Antigo Testamento, pela
"Ponte", pelo segundo Templo e, finalmente, traçam a vida e a
morte de Cristo e mostram que Ele é a Palavra Perdida.
Há claros vestígios dessa visão da vida que se chama
"Rosacruz" e, portanto, são bons argumentos para aqueles que
afirmam que o Rosacrucianismo influenciou a Maçonaria.
Mantendo-se estritamente na Ordem Real, encontramos nela a
questão fundamental de muitos de nossos Graus Superiores,
e é possível que alguns deles tenham sido elaborados a partir
de assuntos extraídos dos rituais da Ordem Real.

38
Como guia, indicarei referências a ideias que,
provavelmente, foram desenvolvidas posteriormente, embora
seja justo acrescentar que a alterno contrário também é
possível, a saber, que esses graus também já existiram e
contribuíram para o ritual da Ordem Real em vez de ter
simplesmente evoluído a partir deles. Estes são o Arco Real, a
Marca, a Cruz Vermelha da Babilônia - o último muito
claramente - Templário e Rosacruz. Além disso, existem
muitas partes inteiras não representadas em outros lugares na
Maçonaria.
O ritual trabalha principalmente por meio de perguntas e
respostas, como nas preleções do Simbolismo, mas merece
uma menção especial uma importante prática ritualística.
Em certos momentos, os Irmãos viajam no sentido
inverso do Sol. Isso está correto, pois eles supunham estar na
região dos Mortos, e a tradição popular sempre ensinou que os
fantasmas dos homens vão em direção contrária à do Sol.
A Torre também é muito significativa e lembra um edifício
semelhante descrito em “As Núpcias Alquímicas de Christian
Rosenkreuz”, traduzido por V. Ir. Waite.
Os sinais usados neste grau são muitos em número, e
cada um é de grande antiguidade e pode ser encontrado em
várias partes do mundo associado com Deuses pagãos e
antigos Ritos de Iniciação. O real sinal do Heredom pode ser
visto nos antigos manuscritos astecas, e é mostrado em uma
cena de um vaso encontrado em Chama, no México. Esta cena
representa claramente um candidato sendo iniciado em um
Rito Mexicano, e sendo ensinado o sinal. O vaso certamente é,
sem dúvida, anterior ao ano 1500 A.D. e foi desenterrado no
começo do século XX. Na Índia, o sinal de Heredom está
associado a Vishnu o Preservador. No antigo Egito, é mostrado
em um afresco em Tebas datado de 1500 a.C., fragmentos
estes que estão no Museu Britânico. Numerosos exemplos
podem ser citados a partir de trabalhos medievais na Europa,
como por exemplo, nos painéis da sala conhecida como
"Câmara de Audiência da Visconti-Venosta", do século XVII,
que está agora no Museu da Engadina, em Saint Moritz, ao

39
qual nos referimos no Capítulo anterior. Nesta sala também
são mostrados exemplos do sinal associado ao grau Rosacruz,
e, nos cantos dele, figuras que fazem o sinal de beber (drinking
Sn.) da Ordem Real da Escócia. Essas figuras são organizadas
em pares, como se estivessem interrogando um ao outro.
Talvez o fato, quem sabe o mais significativo de todos, é
que o ritual da Sociedade Hung na China, conhecida também
como a Sociedade da Tríade, ou a Sociedade dos Céus e da
Terra, é quase precisamente o mesmo, em seus principais
aspectos, das cerimônias da Ordem Escocesa.
Os paramentos da Ordem são bastante elaborados.
Consiste em uma liga de braço (“arm Garter”), insígnia de
oficial e duas faixas, uma
vermelha para o Heredom, e uma
verde para a Rosacruz, e um
elaborado avental branco,
contornado com fitas vermelha e
verde.
Cada candidato recebe ...,
que se presume seja para
mostrar sua virtude
característica, e que, em regra, é
escrito sem vogais.
Isso deve ser o suficiente
para a Ordem Real, embora
merece muito mais espaço.

40
CAPÍTULO VIII
OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS
E CAVALEIROS DE MALTA

s Templários continuam com a tradição da Ordem


Medieval e podem ser considerados como o
ensinamento da vida cristã em ação. Até que ponto
há uma conexão histórica entre a Ordem Maçônica
e seus predecessores medievais é uma questão sobre a qual os
estudantes maçônicos estão em desacordo. O presente escritor
considera que existe uma forte probabilidade de haver uma
conexão definitiva, e deu seus motivos extensivos em
"Maçonaria e Deuses Antigos" (Freemasonry and the Ancient
Gods).

Figura 12 – Foto com Cavaleiros Templários e de Malta reunidos

Não proponho entrar de cheio nesta controvérsia neste


livro, já que o objetivo aqui é indicar, na medida do permissível,
o significado dos Altos Graus, mais que de sua história. Certos
fatos, no entanto, merecem ser registrados:
(1) Que na Inglaterra, e ainda mais na Escócia, a Ordem,
embora nominalmente suprimida em 1307 e seguintes,

41
não sofreu o abate impiedoso de seus membros tal como
caiu sobre eles na França. Além disso, devido ao fato de
que a Escócia estava em revolta aberta contra Edward II,
que supostamente os governava, era impossível a
imposição dos editos contra os Cavaleiros.
(2) Que certos ramos da Ordem - por exemplo, na
Espanha e em Portugal – inquestionavelmente
sobreviveram simplesmente adotando um novo nome.
(3) A Carta da Transmissão reivindica a continuação da
sucessão desde a França. Essa Carta agora está
pendurada no Mark Masons Hall, e se fosse geralmente
aceita como genuína, praticamente resolveria o assunto.
O fato de anatematizar os Templários Escoceses, se for
genuíno, indicaria uma organização separada dos
sobreviventes na Escócia e, portanto, explicaria de onde
derivam os Templários Escoceses e Ingleses.
(4) O fato indubitável de que não só muitos cavaleiros,
mas também todos os sacerdotes templários e irmãos
leigos, alguns dos quais maçons, nem sequer foram
presos, aponta para outra possível linha de sucessão.
Seja como for, o Ritual trabalhado atualmente, embora
tenha sido revisado várias vezes nos últimos anos, contém
muitas características curiosas que indicam considerável
antiguidade.
Em Bristol, um homem não pode ser um Rosacruz, a
menos que seja um Templário, e isso apoia a teoria daqueles
que acreditam que, originalmente, a Rosacruz era o trabalho
interno dos Templários. A Ordem Real da Escócia também
mostra indicações claras de uma conexão com o Templário,
tanto na lenda de sua fundação quanto no uso de uma
determinada palavra comum a ambas as Ordens e não usada
em nenhum outro Grau.
Tendo em vista do fato de que a Ordem Real tem seu Grau
Cavalheiresco da "Rosacruz", esses pontos são de especial
relevância.

42
A Lenda da fundação da Ordem Real é que Bruce, depois
de Bannockburn16, criou o Grau da Cruz Rosada para
recompensar os maçons que o ajudaram na batalha, e
conferindo-lhes a honra de Cavaleiros. Agora sabemos que os
Cavaleiros Templários, em vez de se entregarem a Edward II,
quando enviou seus comissários para a Escócia para prendê-
los, juntou-se a seu inimigo, Bruce.
Não seria então provável que Bruce, com a fundação
desta nova Ordem, recompensou esses Templários
restaurando a Cavalaria que, pela dissolução da antiga Ordem,
havia prescrita?
O Ritual, como utilizado hoje em dia, sofreu recentemente
uma revisão drástica. Para dar apenas um exemplo, não há
dúvida de que o altar no Oriente é uma inovação moderna, por
mais bonita que seja. Anteriormente havia apenas um
sepulcro, e ainda existem alguns preceptórios onde o antigo
Ritual é permitido. Mesmo os membros do Ritual moderno,
lembrarão que tomaram seu juramento no sepulcro, que está
significativamente no Centro e não no Oriente.
Esta é uma questão de grande importância, como logo
veremos. Na Escócia, o Grau é dividido em Noviço, Escudeiro
e Cavaleiro. Na Inglaterra, ainda existem três pontos
correspondentes a essas divisões medievais, embora o fato seja
bastante mais confuso. Se recordarmos que (a), o Robe marca
o Noviço; (B) a Túnica marca o Escudeiro; (C) apenas o
Cavaleiro é investido com o Manto; percebemos que o Ritual
ainda é testemunho dessas três etapas. Nos Estados Unidos a
16
A Batalha de Bannockburn (23 - 24 de junho de 1314) foi travada entre forças
da Inglaterra e da Escócia, resultando em vitória significativa para esta última,
no âmbito das Guerras de Independência Escocesa.
O exército inglês, de cerca de 25 000 homens, comandado por Eduardo II da
Inglaterra, foi interceptado no vau de Bannockburn (riacho Bannock Burn,
afluente do rio Forth) por um contingente escocês de cerca de 9000 soldados,
sob o comando de Robert Bruce. Aos primeiros embates do dia 23, relativamente
modestos, seguiu-se um grande confronto no dia seguinte. O resultado pode ser
atribuído à desastrada disposição das forças inglesas, entre dois riachos e em
solo pantanoso. Eduardo II retirou-se do campo e fugiu de volta à Inglaterra.
A vitória escocesa foi completa e, embora o reconhecimento inglês da
independência da Escócia ainda tardasse mais de 10 anos (1328),
ajudou Roberto I a restabelecer um Estado soberano escocês.

43
Taça da Recordação (Cup of Remembrance) ainda é bebido de
um recipiente incomum, e é enfaticamente a “Taça da Morte
Mística” (Cup of Mystical Death).
O Ritual do Cavaleiro Templário, como a conhecemos hoje
em dia, obviamente tem um significado exotérico e outro
esotérico. A lição exotérica, que também é uma bela lição, é de
que o soldado cristão deve ter sempre diante de seus olhos, em
sua luta com o mundo, os preceitos do Mestre, Cristo. Ele deve
ser um bom soldado de Cristo fora das portas do Templo; ele
deve defender a verdade e a justiça, defender os fracos e
estabelecer um bom exemplo de conduta cavalheiresca em sua
vida diária. Em suma, ele não deve apenas professar o
cristianismo, mas realmente vive-lo.
Portanto, seria assim visto que um candidato precisaria
ser um cristão, mesmo que não fosse definitivamente chamado
a defender a fé cristã – a qual professa. Mas dentro dessa lição
prática existe uma elevada mensagem mística. Somos
ensinados sobre o Cordeiro que foi morto de forma mística
antes do início do mundo. Nós entramos como um peregrino
lutando para escapar do espírito mundano. Dedicamo-nos a
Cristo na Cruz, isto é, nos rincões ocultos de nossas almas.
Naquele lugar oculto, a nossa vida passada de pecado
morreu, assim como o corpo terrenal do Redentor se deitou no
túmulo. Portanto, nisto nos dedicamos, descobrindo que, em
nosso passado morto, surge, por assim dizer, a figura de O
Crucificado.
Equipados com as armas do Espírito, seguimos nossa
jornada espiritual, e depois de longas e dolorosas viagens,
retornaremos vitoriosos de nosso conflito com os inimigos
espirituais do homem. Note que os três anos simbólicos,
correspondentes aos três anos do ministério de Cristo na Terra
na vida.
Mas, após a ação deve vir penitência e meditação, e acima
de tudo devemos meditar, não apenas na morte física, mas
ainda mais nesse maior mistério, a morte mística; e, assim
preparados, devemos oferecer nosso sacrifício. Ainda mais,
devemos ser marcados com o sinal de Seu sacrifício, mas, no
44
misticismo cristão, somos ensinados que o verdadeiro místico
deve crucificar-se espiritualmente, mesmo que o Grande
Mestre tenha sofrido fisicamente na Cruz, sendo esta a morte
mística. Estará este último incidente na vida do místico
esquecido no Ritual desta grande Ordem? Pense nisso, irmãos
Cavaleiros.
Esta é uma linguagem velada e, na medida do permitido,
tentei indicar que o Templário Maçônico tem uma ótima lição
mística. Existem inúmeros pequenos pontos no Ritual que
apoiam essa visão, mas, por razões óbvias, os omiti; por
exemplo, a investidura gradual do candidato indica a
aquisição, por graus, de certas qualidades espirituais.

OS CAVALEIROS DE MALTA
e considerarmos os Cavaleiros Templários como
um Grau, descobrimos que a Ordem tem dois, ou
possivelmente três Graus no total. Após o Cavaleiro
Templário vem o Passo do Mediterrâneo, que é
tratado como um passo intermediário em direção ao Grau de
Cavaleiro de São João e o de Cavaleiro de Malta. Na atualidade,
praticamente é apenas um grau de aprovação que leva ao de
Malta, mas que tem um significado próprio. O sinal, para
começar, é, sem dúvida, antigo. O Major Sanderson encontrou
o mesmo sinal em uso entre os Yaos na África Central, e
também era conhecido e venerado pelos árabes. Em vista da
tradição que liga o Passo do Mediterrâneo e os Graus de Malta
com os Árabes, esse fato é obviamente importante. Nem,
esotericamente, podemos ignorar a importância da serpente
em conexão com uma jornada mística e, da mesma forma, "O
Mar" é uma frase bem conhecida entre os místicos para
insinuar certos fatos espirituais, e sempre se diz que está além
da ressurreição mística.
Para me deixar claro aos leitores não místicos, deixe-me
acrescentar que a morte mística e a ressurreição são estágios
bem reconhecidos no desenvolvimento da alma do homem que,
enquanto ainda estiver no corpo, estará se esforçando para

45
alcançar a união espiritual com Deus. São Paulo dizia que
morria diariamente em Cristo.
Quando chegamos ao Templo em que o grau de Malta
deve ser trabalhado, passamos por certos emblemas que nos
dizem indicar o nascimento, a vida, a morte, a ressurreição e
a ascensão. Estes são um resumo simbólico de toda a nossa
carreira maçônica desde o momento em que entramos no
Simbolismo até o momento em que finalmente somos
nomeados um Cavaleiro de Malta. Além disso, a ressurreição é
por si só um novo nascimento que pressupõe uma nova vida e,
no mundo místico, devemos assim como São Paulo, estar
preparados para morrer todos os dias em Cristo.
O Malta, então, é um Grau de ressurreição mística e não
física, sendo enfatizado pela ligação dos atos simbólicos com a
verdadeira história dos antigos Cavaleiros de São João de
Malta. Os símbolos na mesa devem ser estudados com esta
chave, particularmente a da galé que levava as almas em
segurança, embora se autodestruíssem. Nosso corpo morrerá
um dia, mas se tivermos vivido corretamente, ele trará nossas
almas em segurança às "Ilhas dos Bem-Aventurados". Isso é
verdadeiro, seja vendo misticamente, ou em relação à vida no
mundo da ação.
Os sinais usados neste grau são certamente antigos, e o
penal especialmente peculiar e significativo. Dificilmente
poderia ter sido inventado no século XVIII. O sinal no grau
Templário é mostrado na sala do Visconti Venosta, a que já nos
referimos, e na mesma sala são vistas figuras que fazem o sinal
dos Cavaleiros de Malta.
A cor dos trajes Templários é branca com uma cruz
vermelha, ou seja, o "Sangue do Cordeiro", no qual nos
lavamos e ficamos tão brancos como a neve. Mas os de Malta
são negros, com uma cruz branca: fora da noite negra da Alma,
fora da escuridão da morte mística, a Cruz da Salvação se
eleva, não mais uma cruz de sofrimento, mas da Glória
resplandecente.

46
CAPÍTULO IX
OS GRAUS RESTANTES

esta ainda outra Ordem de Cavalheirismo Cristão


(Order of Christian Chivalry) e sua característica
excepcional é que é a única Ordem aberta aos
maçons ingleses que se propõe declaradamente a
dar uma interpretação cristã do Simbolismo e do Arco Real. Os
graus que constituem esta Ordem são:
(A) Os Cavaleiros da Cruz Vermelha de Constantino (The
Knights of the Red Cross of Constantine), e
(B) Os Cavaleiros de São João e do Santo Sepulcro (The
Knights of St. John and the Holy Sepulchre).
Como a dos Cavaleiros Templários, esta Ordem tem o seu
Quartel Principal no Mark Masons’ Hall (sede dos Maçons da
Marca).
O grau dos Cavaleiros da Cruz Vermelha de Constantino
nos ensinam a conhecida história de como Constantino chegou
a converter-se, mas a Preleção contém uma referência muito
interessante ao Colégio Romano dos Arquitetos (Roman College
of Architects), a quem pessoalmente considero antepassados
diretos dos construtores Comacinos, de quem descende a
Maçonaria. Devo admitir, no entanto, que eu exigiria provas
bastante fortes para me convencer de que o próprio
Constantino foi membro de um dos Colégios.
Mas, em todo caso, este grau é apenas um passo para o
grau realmente grande que é o dos Cavaleiros de São João e do
Santo Sepulcro. Este grau parece ter sido originalmente
consistido em três graus e ainda atualmente tem pelo menos
três "pontos", embora estes possam ser interpretados como
correspondentes a noviços, escudeiros e cavaleiros. As
cerimônias são solenes, dramáticas e de profundo significado
místico, mas sua característica mais marcante é uma tentativa
47
de explicar as Cerimônias do Simbolismo e do Arco Real em
um sentido cristão.
Aqueles que desejam conhecer esta interpretação podem
consegui-la juntando-se a esses graus, não sendo uma boa
ideia divulga-la, além de dizer que o Arquiteto do Templo é
identificado com Cristo e os vários acontecimentos na história
do nosso herói são interpretados de forma semelhante à luz da
história cristã. O fato notável, no entanto, é de que aqui,
definitivamente, somos informados de que nossas cerimônias
têm um significado interno secreto e este é o único grau na
Maçonaria inglesa, de que tenho ciência, que se empenha em
dar o significado do Simbolismo e do Arco Real.

Figura 13 – Membros da Ordem Cavaleiros de São João e do Santo


Sepulcro com paramentos.
Os graus enumerados até aqui são os que podem ser
chamados estritamente maçônicos, que estão abertos ao
Maçom inglês comum, mas existem várias ordens para-
maçônicas, ou Sociedades, como geralmente são chamadas,
que, para todos os efeitos práticos são maçônicas, uma vez que
exigem uma qualificação maçônica, e como outros graus
maçônicos trabalham um ritual com secretos especiais. Estes
são os que agora vamos considerar.

48
GRAUS PARA-MAÇÔNICOS

Monitor Secreto que funciona sob o Grande


Conclave é um dos mais conhecidos dessas
Sociedades, onde apenas Maçons são admitidos, e
há dois graus e um grau da Cadeira, ou seja, um
grau para dirigir os trabalhos. Unido a ele existe a Ordem do
Cordão Escarlate, que tem pelo menos sete graus. O verdadeiro
objeto do Monitor Secreto é fortalecer os laços da Fraternidade
e fazer cumprir o princípio de que um Irmão deve, sempre que
possível, ajudar outro Irmão. Frequentemente os Conclaves
são mais animados e calorosos do que o que se observa em
média nas lojas de Londres, mas não há muito significado
interno nas cerimônias e nenhuma lição muito valiosa será
aprendida com eles.
De um tipo bastante diferente é a Societas Rosicruciana
in Anglia. Esta, como o Monitor Secreto, não admite ninguém
que não seja Mestres Maçons, e seus dirigentes são membros
eminentes do Simbolismo. Há nove graus e os mais altos são
conferidos apenas pelo mérito. A Ordem sempre tem uma
Preleção em cada uma de suas
reuniões sobre algum assunto
complexo. A Societas Rosicruciana,
como é carinhosamente chamado por
seus membros, afirma ter os mesmos
objetos que os Rosa-cruzes Medievais,
e parece provável que haja alguma
conexão histórica. No entanto, não é o
único corpo que apresenta essa
afirmação, mesmo na Inglaterra, mas
estes outros não são de modo algum
maçônicos.

49
A Societas Rosicruciana também está vinculada à Ilustre
Ordem de Luz que atualmente funciona apenas em Bradford,
e com outra Ordem. Não é tanto que essas Ordens estejam sob
o controle da Societas Rosicruciana mas os principais
personagens em cada uma estão intimamente associados à
Societas Rosicruciana e os membros dessas Ordens são
procedentes apenas desta Sociedade.

Figura 14 - Afresco na Igreja Chaldon, em Caterham, sul de Londres.


Ver no google street view: https://goo.gl/XOALCK

50
CONCLUSÃO
______________________

ssim, vimos que praticamente todos os graus na


Maçonaria têm uma lição definida a ensinar e um
significado interno para suas cerimônias. Alguns
graus, sem dúvida, são mais importantes do que
outros, mas o homem que nunca ultrapassou o Simbolismo
ainda tem muito a aprender. Ainda não fez nenhum esforço
real para recuperar o que foi perdido e, portanto, não
conseguiu fazer um avanço diário no conhecimento maçônico.
Se ele não tiver tempo de assumir todos os graus, pelo menos
que tente completar o Segundo Grau, avançando no Grau da
Marca, e obtenha uma resposta para a questão do que foi
perdida, exaltando no Grau do Arco Real.
Se ele já o fez e não foi mais longe, que não diga "Eu não
penso muito nos Graus Superiores". Até ele que os tenha
tomado, ele não está em posição de formar qualquer tipo de
opinião, e depois de ter feito terei certeza de que ele não mais
falará com desdém de alguns dos maiores mistérios desta ou
de qualquer época.

51
52

Você também pode gostar