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Caxias-MA
2021
ALLEF GUSTAVO SILVA DOS SANTOS
Caxias-MA
2021
S237d Santos, Allef Gustavo Silva dos
127f.
Orientador: Profª. Dra. Antonia Valteria Melo Alvarenga.
BANCA EXAMINADORA
This work, of historiographical character, aims to describe and contextualize the processo f
istitution of the ecclesiastical cemeteries of São Benedito and Nª Senhora dos Remedios in
Caxias-MA, observing the historical contexto of transition from a religious to a civil Catholic
Society-secular in the second Half of the 19th century, based on the perspective of the medical
hygienist discourse and the reformulation of urban space. The ai mis to provide information
from the burials of elites inside churches to open-air cemetery spaces, using as a source:
periodicals, colletions of laws and decrees, commitments of local religious brotherhoods and
regulations. The process is based and theorized through the authors: Ariès (2012) “History of
death in the West”, Vovelle (2010) “Souls in Purgatory”, Rodrigues (1997 and 2005) “Places
of the dead in the city of the living”, “On the frontiers of the beyond: the secularization of death
in Rio de Janeiro (18th and 19th centuries)”, Reis (1991) “Death is a party: funeral rites and
popular revolt in 19the century Brazil” and Coe (2008) “We, the bonés that are here, are waiting
for yours: hygiene and the endo f ecclesiastical burials in São Luís (1828-1855).
Figura 1: Lápide de João Manoel Bacharias. Igreja de São Benedito. Imagem atual .............. 71
Figura 2: Lápide do Coronel Pretextato. Igreja de São Benedito. Imagem atual ..................... 72
Figura 3: Lápide do Padre João Joaquim Guimarães. Igreja de São Benedito. Imagem atual . 72
Figura 4: Lápide de D. Antonia Emilia dos Santos Carvalho. Igreja de São Benedito. Imagem
atual .......................................................................................................................................... 73
Figura 5: Lápide de D. Hortência Rodrigues Villa Nova. Igreja de Nª Senhora dos Remedios.
Imagem atual ............................................................................................................................ 73
Figura 6: Lápide de Antonio Rodrigues da Silveira. Igreja de Nª Senhora dos Remedios.
Imagem atual ............................................................................................................................ 74
Figura 7: Lápide de Manoel Pinto Ribeiro. Igreja de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual
.................................................................................................................................................. 74
Figura 8: Lápide de Eusebia Maria da Conceição. Igreja de Nª Senhora do Rosário. Imagem
atual .......................................................................................................................................... 75
Figura 9: Lápide do capitão Francisco Antonio Antunes. Igreja de Nª Senhora do Rosário.
Imagem atual ............................................................................................................................ 75
Figura 10: Lápide de D. Genoveva de Oliveira Pereira. Igreja de Nª Senhora do Rosário.
Imagem atual ............................................................................................................................ 76
Figura 11: Faixada do cemitério São Benedito, Caxias-MA. Imagem atual ............................ 90
Figura 12: Mausoléu do fim do século XIX no cemitério São Benedito. Sem identificação.
Imagem atual ............................................................................................................................ 90
Figura 13: Mausoléu decorado externamente com pedras de granito. Dentro, um crucifixo
médio e o teto semelhante ao de uma capela. Imagem atual .................................................... 91
Figura 14: Vista frontal interna do lado direito do sentido ao interior do cemitério São Benedito.
Ao fundo pode-se notar o topo da Capela cemiterial. Imagem atual ....................................... 91
Figura 15: Rua central do cemitério São Benedito sentido a Capela. Do lado esquerdo dois
mausoléus modernos. Imagem atual ......................................................................................... 92
Figura 16: Túmulos com cruzes e oratório no cemitério São Benedito. Imagem atual ........... 92
Figura 17. Faixada do Cemitério de Nª Senhora dos Remedios. Imagem recente ................... 94
Figura 18: Capela cemiterial de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual ............................. 94
Figura 19: Túmulo do século XIX pertencente à família Cruz no Cemitério de Nª Senhora dos
Remedios. Imagem atual .......................................................................................................... 95
Figura 20: Túmulo do século XIX no cemitério de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual95
Figura 21: Cruz do cemitério de Nª Senhora dos Remedios e, desfocado ao fundo o Anjo
espreme-limão. Imagem atual................................................................................................... 96
Figura 22: Vista diagonal, sentido interior para a frente do cemitério de Nª Senhora dos
Remédios com enfoque nos túmulos paralélos à lateral da Capéla Cemiterial. Imagem atual 96
Figura 23: Túmulos do interior da Capela cemiterial de Nª Senhora dos Remedios, ao todo 6
túmulos. Imagem atual ............................................................................................................. 97
INDICE DE TABELAS
Tabela 1: Relação de sepultados na Igreja de Nª Senhora dos Remedios. ............................... 77
Tabela 2: Relação de sepultados na Igreja de Nª Senhora da Conceição e São José. .............. 77
Tabela 3: Relação de sepultados na Igreja de São Benedito. ................................................... 78
Tabela 4: Relação de sepultados na Igreja de Nª Senhora do Rosário. .................................... 78
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO
Observar na instituição dos espaços, as formas e necessidades, que permeiam a
narrativa historiográfica das cidades. É com este intuito que buscaremos desenvolver nas
páginas deste trabalho uma descrição dos espaços fúnebres da cidade de Caxias-MA, na
segunda metade do século XIX e, apontar a sua correlação com o contexto histórico de
separação entre vivos e mortos como aspecto da urbanidade e civilidade propagadas no
oitocentos. A pergunta norteadora da pesquisa será: como se deu o processo de transição dos
sepultamentos ad sanctus apud ecclesiam1 em Caxias na segunda metade do século XIX?
Desta forma, a temática morte de acordo com uma observação histórica, foi tomada
como natural em outras épocas2 a exemplo do medievo3, e na passagem da baixa Idade Média
para o período moderno com o barroquismo4, ela se enriquece de representações, do morto, do
além, dos santos intercessores e da própria morte, isto dentro dos templos e em capelas5
1
Expressão em latim para sepultamentos realizados no “interior e entorno” das igrejas.
2
Remete-se às pesquisas de Ariés (2012) e Vovelle (2010). Onde a primeira busca historicizar a morte através das
atitudes diante da morte e das transformações de concepções sociais e religiosas principalmente durante a Idade
Média até os primórdios da modernidade e, a segunda busca desenvolver conexões entre representações do além
em retábulos de igrejas a partir do século XVI.
3
Na Idade Média se constrói o conceito de “boa morte”. Uma morte preparada, organizada. A pessoa sabe em que
momento falecerá e, portanto, prepara seu próprio funeral, em algumas vezes até o dirige, porém, a ideia é a
percepção de uma estreiteza entre a vida e a morte, a última como fiel cumpridora dos desígnios de Deus.
4
Estilo artístico e literário, surgido do contexto de contra reforma nos fins do século XVI, primeiramente na Itália,
que tinha entre outras características, a da expressividade das imagens, por exemplo, e impressões gestuais
“comoventes”. Alguns traços desta arte nas representações do purgatório, podem ser vistas nos retábulos das
igrejas europeias com a inserção de São Francisco de Assis e da Virgem comedida, pois algumas representações
mais antigas trazia a mesma como os seios de fora, e, com o cristo em forma de criança. Obviamente existe muito
mais, no entanto não nos alongaremos neste assunto.
5
A Não é algo distante do que poderia ocorrer no Maranhão e em outras partes do Brasil, pois, se para muitos o
destino de seu cadáver poderia ser uma estrada, mato ou o quintal da própria casa, as elites tinham tanto o espaço
das igrejas quanto suas capelas particulares e, um exemplo é encontrado no Jornal A imprensa, 1858, n°15, p.04.
Diz o periódico que o Tenente Procopio Pereira da Costa, natural de Caxias, faleceu em sua fazendo e teve “seus
14
restos mortaes sepultados em uma Capella particular na sua fazenda, por haver antes de exhalar o ultimo suspiro
pedido, que ahi tivesse seo corpo eterno jazigo”.
15
de 1850, para a população católica livre e de boa condição principalmente. Em “A morte é uma
Festa” (REIS, 1991) o autor traz este conflito entre as práticas religiosas socialmente aceitas e
as novas medidas suscitadas pela lei de 1828, a exemplo da cemiterada na cidade de Salvador-
BA em 1836.
6
Nos jornais, a exemplo do JORNAL DE CAXIAS. 1851, n°276, p.01; O TELEGRAPHO, 1850, n°248, p.01,
A IMPRENSA. 1857-1860, entre outros, existe uma preocupação em relação a doenças infecciosas e contagiosas,
como Cólera e Febre amarela.
7
Algumas comunidades rurais de Maranhão mantiveram até a pouco tempo, o hábito de sepultar seus entes
queridos nos terreiros de casa, mantendo com os falecidos uma relação de intimidade, proximidade e convívio
diário. Esse tipo de prática pode ser observado, por exemplo, em vários trechos da BR --- que liga Caxias-MA a
Teresina-PI.
16
A segunda metade do século XIX exibe um processo de transição forte que ocorre por
motivações políticas, sociais e sanitárias. Entre 1850 e 1860, uma epidemia de febre amarela
impele a modificações de pensamento e das estruturas urbanas de muitas cidades8, sobretudo
das capitais. De 1850 a 1889 o regime escravista passava, de uma prática legalmente constituída
a uma forma juridicamente inescrupulosa9 de se tratar um ser humano culminando na abolição
da escravatura. Nesse período igualmente, a monarquia patrocinou a entrada de estrangeiros10
europeus, com o intuito de substituir gradativamente a mão de obra escrava por uma livre e
especializada, elevando o contingente populacional em algumas regiões e, introduzindo novas
práticas culturais, cujo resultado pode ter sido, no campo fúnebre, um aumento dos espaços de
sepultamento de características seculares, denotando nesta sucessão de acontecimentos e
transformações a passagem de um imaginário popular imbuído dos ritos e sacralidades
presentes até meados da segunda metade do século XIX, para, se dissociarem gradativamente
na esfera do Estado e do imaginário da sociedade urbana culminando na separação entrte Estado
e Igreja.
8
Precisamente entre 1849 e 1850 e, sobretudo a corte, sofreu um surto de febre amarela, surgindo como resultado,
além de muitas mortes, uma série de modificações nos sepultamentos religiosos.
9
Gradativamente o Brasil vai abolindo a escravidão, primeiro com a lei do ventre-livre, a lei dos sexagenários, a
alforria por serviços militares prestados no momento da guerra contra o Paraguai e, por fim, a lei Áurea de 1888.
10
Uma ideia que toma forma mais presente na segunda metade do século XIX. O intuito parece ser o de
substituição gradativa dos escravos por estrangeiros europeus, especializados ou não, mas, engajados em trabalho
livre e assalariado nas terras, principalmente, dos grandes cafeicultores do sudeste.
11
Assunto para o capítulo 2 no qual delinearemos a implementação do discurso “higienista” na cidade.
12
Implementada sobe o olhar vigilante do código cultural religioso de época e, em seu aspecto legal através dos
códigos de postura mais rígidos.
13
Companhia caxiense de navegação por vapores. O FAROL, 1850, n°17, p.04. Almanak Administrativo da
província do Maranhão, 1870, p.154 a 155.
14
Para mais informações sobre preços e quantidade de exportação e importação, podem ser consultados os números
49, página 04 e, 52, página 03, do jornal DIÁRIO DO MARANHÃO de 1855, apenas a título de exemplo sobre
a puljança econômica da cidade de Caxias no período.
17
15
barbeiros, sangradores, carpinteiros, comerciantes, fabricas de licor, chapelarias e charutarias. (ALMANAK
ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO, 1860, p.518 a 519).
18
social ocasionada pela decomposição dos cadáveres, o nascimento do culto civil aos mortos e
dos cemitérios secularizados.
19
...uma profunda mudança na concepção da santidade leiga: não bastava mais cumprir
as exigências de seu estado e dar o exemplo de virtudes religiosas e morais, mas era
necessário imitar o Cristo em sua humilhação e em seus sofrimentos, tentando fazê-
los através de gestos e ritos. (SOUZA, 2015, p.17)
Os livros de horas são manuais de auxílio ao cristão leigo, parte mais atuante na
estrutura interna da Igreja entre os séculos XIII e XIV (SOUZA, 2015, p.17), com o intuito de
aproximar o fiel e a instituição que antes se fazia presente no meio do laicato através das atitudes
de devoção, caridade e desprendimento das riquezas materiais nos votos de pobreza, os quais
remeteriam mais a um status devocional contemplativo que participativo. Desta maneira,
atitudes “Antes reservadas aos clérigos” passam a fazer parte da “experiência da devoção
pessoal e da meditação” dos leigos que “praticam a devoção a fim de se sentirem agraciados
16
O que não significa esquecermos a pluralidade cultural brasileira que se verifica em muitos cantos do seu
território, a partir de contribuições culturais indígena e africana, aportados algumas vezes neste trabalho como
comparação à ideia da temática central.
20
pela santidade, participando, desse modo, da vida dedicada a Deus” (SOUZA, 2015, p.18). As
iconografias complementam esse acompanhamento religioso através de uma pedagogia da
imagem que, nos séculos XVII e XVIII transformam-se em objetos sacros dos cemitérios,
estabelecendo o que Ariès (2012, p.73 e 75) considera como ruptura entre o imaginário medievo
e contemporâneo, a ideia de um culto ao cemitério e, a visita melancólica ao túmulo, assim
como a identificação do lugar de descanso do morto, referenciado antes apenas por uma lápide
dentro da Igreja. No cemitério o fiel católico pode rezar pelos seus mortos, tomando o espaço
cemiterial como lugar de culto civil aos mortos.
Na península Ibérica, o culto aos mortos foi cristalizado entre os séculos XI e XIII,
pelos monges clunyacenses, possibilitando o que Petrucio Pessoa (2016, p.25 a 27) chamou de
“secularização do culto fúnebre”, depreendendo-se de tal perspectiva que, a secularização
enquanto processo histórico da difusão e massificação das práticas fúnebres e os cultos ou
liturgias a ela relacionados, deve ser concebido como um processo de intensa participação social
dos leigos na estrutura da Igreja:
A partir do século XII, os cistercienses passam a exercer uma forte crítica às práticas
de Cluny, exatamente por esses terem “secularizado”46 o culto dos mortos. Cister
compreendia que grande parte dos rituais do culto dos mortos exercido por Cluny
dizia respeito apenas à comunidade monástica, e que por esse motivo não deveria ter
a participação de leigos, todavia não os excluíam totalmente, porém não permitiam
que estes participassem dos rituais ou que tivessem direito a túmulos junto aos irmãos
da ordem. Também resolveram simplificar os rituais do culto dos mortos, reduzindo-
os à comunidade dos mosteiros. (PESSOA, 2016, p.27)
Deste processo, temos que, manuais serão criados para serem utilizados, pelos fieis
leigos e sacerdotes do baixo clero na liturgia, as exéquias17 por exemplo. Nos ofícios e nas
orações diárias, os livros de horas baseados nas sagradas escrituras, que contém, em alguns,
uma pequena parte especial para o cristão católico, é o que mostra a vida da vigem Maria,
escrito a partir de um fragmento no lecionário ou leccionári. É uma espécie de manual que visa
aproximar as famílias de uma vida diária de fé. Contemplam as necessidades que a Igreja
entende serem essenciais ao cristão, como “preparação para a hora da morte e para se alcançar
a salvação” (SOUSA, 2015, p.21), e traz em sua estrutura ofícios como do “espírito santo” da
“santa Cruz”, “salmos”, o Calendário e o já mencionado “pequeno Ofício da Virgem” (SOUSA,
2015, p.21 e 23). Como muitos desses aspectos teológicos e pedagógicos sobre a morte foram
massificados entre os séculos XIV e XVII a menção à Idade Média se faz necessária.
17
Cerimônias ou honras fúnebres.
21
18
Esta observação é válida para analisar o aspecto da doutrina da Igreja em relação aos mortos. Desta maneira, os
cuidados com “todos” os mortos não figuravam como uma posição uníssona da instituição, aliás, falar em unidade
da instituição entre os séculos IV e VI é ainda perigoso. Por este motivo, o que se quer afirmar nesta passagem é
que atitudes de cuidado em relação aos falecidos entre as camadas mais pobres, por parte de alguns monges e
santos, evidenciadas durante esse período, não podem ser tomadas, ainda, como uma “posição doutrinal” da
instituição religiosa.
22
proibida às sepulturas. Sabemos como isto se deu em Amiens, no século VI: o bispo
Saint Vaast, morto em 540, escolhera sua sepultura fora da cidade. Mas quando os
carregadores quiseram lcvanrá-lo, não puderam remover o corpo, que de repente
tornara-se demasiadamente pesado. Então o arcipreste rogou ao santo que ordenasse
"que sejas levado ao lugar que nós (ou seja, o clero da catedral) preparamos para ti":",
Interpretava bem a vontade do santo, pois logo o corpo tornou-se leve. Para que o
clero pudesse, dessa forma, contornar o interdito tradicional e prever que guardaria na
catedral os santos túmulos, além das sepulturas que o santo túmulo atrairia, era preciso
que se atenuassem as antigas repulsas. (ARIÈS, 2012, p.43).
As linhas divisórias entre a cidade dos vivos e dos mortos apaga-se, e o desejo de
enterrar os mortos em locais que os mártires estão também enterrados, contribui para o
crescimento da estrutura da Igreja, ajuda financeiramente em suas reformas arquitetônicas,
acrescentando as pinturas, os mosaicos, as famosas galerias com gavetas e ossuário. A
população medieva parece aceitar isso muito bem, pelo que, então “a separação entre a abadia
cemiterial e a igreja catedral foi então apagada” (ARIÈS, 2012, p. 43).
Assim, entre os séculos XVII e XIX, essa proximidade precisa ser abandonada e a
divisão é tornada mais clara e definitiva. Os cemitérios ou campos santos19, passam a atrair a
atenção da sociedade, pela sua imponência arquitetônica recém saída das paredes das catedrais
para o ar do público. Este ato dava importância ao indivíduo morto, haja em vista que dentro
da igreja muitas vezes pouco importava de quem era o osso do morto, e sim, que era necessária
sua permanência próxima aos santos, perto do lugar sagrado, no intuito de facilitar as preces
pela purgação dos pecados:
Na Idade Média ou ainda nos séculos XVI e XVII, pouco importava a destinação exata
dos ossos, contanto que permanecessem perto dos santos ou na igreja, perto do altar
da Virgem ou do Santo Sacramento. O corpo era confiado à Igreja. Pouco importava
o que faria com ele, contanto que o conservasse dentro de seus limites sagrados.
(ARIÈS, 2012, p.47).]
19
Como ficarão reconhecidos os primeiros cemitérios, dado sua extensão em terreno a céu aberto e a benção
sacerdotal “benzimento” do mesmo pelo sacerdote católico.
23
Segundo Ariès eles (os mortos) não serão mais enterrados nas igrejas, e seu espaço
denominar-se-á cemitério21 e, “também neste asilo intitulado cemitério, onde se enterrava ou
não, decidiu-se construir casas e habitá-las. O cemitério designava, então, se não um bairro, ao
menos um quarteirão de casas gozando de certos privilégios fiscais e dominiais”. (ARIÈS, 2012,
p. 49).
Assim, o cemitério retomou um lugar na cidade, lugar ao mesmo tempo físico e moral,
que havia perdido no início da Idade Média, mas que havia ocupado durante a
Antiguidade. O que sabemos das civilizações antigas sem os objetos, as inscrições e
a iconografia que os arqueólogos encontraram nas escavações dos túmulos? Nossas
sepulturas encontram-se vazias, mas nossos cemitérios tornam-se eloquentes. Trata-
se de um fato de civilização e de mentalidade muito importante. (ARIÈS, 2012, p. 78-
79).
20
VOVELLE, Michel de. O apogeu do Purgatório na Idade Clássica. In: As almas no Purgatório. Trad. Aline
Meyer e Roberto Cattani: Unesp, 2010. P.121 a 208.
21
De acordo com os estudos de lexicógrafos, a palavra cemitério apresentava diferenciações que foram sendo
corrigidas ao longo do tempo. ARIÈS, Philippe. História da Morte no Ocidente. 2012, p. 44;45.
24
Para Ariès (2012) o cemitério, rechaçado pela alta sociedade eclesiástica do início
do período medieval que ficava restrito aos limites extramuros será ao mesmo tempo local de
culto aos mártires, seus principais habitantes passando a ser nos séculos seguintes a um lugar
de convívio, público:
Assim, das igrejas para os bairros os cemitérios viraram referência nas cidades, e
noção historiográfica de transformação da estrutura do imaginário social ou continuidade, para
a historiografia. No Brasil, por exemplo, as práticas evidenciadas acima, de sepultamento dentro
das Igrejas irão vigorar até a necessidade de saúde pública e ordenamento do espaço urbano
tomar a cena através das elites do império entre 1840 e 1870. Alguns fatores deram cabo dessa
atuação mais forte do poder político, como o avanço da urbanização no século XIX, a
redistribuição do espaço econômico, e crises sanitária e de saúde trazendo à tona as doenças:
febre amarela e cólera, entre outras, nas décadas de 1850 e 1860.
Saraiva (2010, p.15), a transição do sermão fúnebre enquanto manifestação da piedade cristã,
reveste-se de eloquência, de maneira que este é o aspecto mais presente nos discursos fúnebres
proferidos em velórios caxienses na segunda metade do século XIX.
Mas, a preparação não diz respeito só ao corpo desfalecido, dado que existem
manuais do “bem morrer” que ajudam o fiel católico a preparar-se para sua morte ainda em
vida22. Assim o ser humano busca dar a morte vestes simbólicas e ritos, que se transformam em
tradição e a tradição em história. Diz Ariès sobre o ato de morrer da idade média até os séculos
XVII e XVIII:
Primeiramente, são advertidos. Não se morre sem se ter tido tempo de saber que vai
morrer. Ou se trataria da morte terrível, como a peste ou a morte súbita, que deveria
ser apresentada como excepcional, não sendo mencionada. Normalmente, portanto, o
homem era advertido. (ARIÈS, 2012, p. 31)
O indivíduo sabe quando está próxima a hora finda de sua vida, e isso é algo que
encontra ressonância, em alguns casos, no Brasil do século XIX. Não significa com isso dizer
que o homem assume o controle sobre a morte, e sim condiciona seus efeitos aos fatores sociais
e históricos, construindo em torno da mesma uma ritualística que vira tradição, parte da cultura.
Evoca-se, portanto, um preparo para a “passagem” natural, mas que se entende necessário dotá-
la de uma aura de simbolismos, de lida mesmo com o momento e com o falecido. Para melhor
detalhar, em O Homem diante da morte o autor expressa que:
Não morrem de qualquer maneira: a morte é regulada por um ritual habitual, descrito
com complacência. A morte comum, normal, não surge traiçoeiramente, mesmo se
for acidental na sequência de um ferimento, mesmo se for o efeito de uma emoção
demasiado grande, como acontecia. (ARIÈS, 2000, p.13)
22
Pode ser destacado como exemplo “O Breve aparelho e modo fácil para ensinar a bem morrer um cristão” de
Estevam de Castro. (RODIGUES, 2005, p.59-72)
23
Conhecidos como ars moriend, representam um esforço gradativo da Igreja de se apropriar ou ocupar o lugar
de mestra no ofício fúnebre, ensinando o fiel a se portar diante da morte através da arte do bem morrer.
(RODIGUES, 2005, p.52).
24
VOVELLE, Michel. O apogeu do purgatório. In: As almas do purgatório: ou o trabalho de luto. Trad. Aline
Meyer e Roberto Cattani: Unesp, 2012.
26
político. Nos centros urbanos das capitais acontece com certa facilidade por se concentrar nestas
áreas o poder político e econômico de quase todas as províncias, podendo ser ainda mais
dinâmico no caso do Rio de Janeiro, sede do poder político nacional, provincial e municipal ao
mesmo tempo. Os cemitérios enquanto espaços descolados das igrejas existem nas periferias
para a classe pobre, que sepulta seus entes queridos até mesmo em uma extensão do terreno da
própria casa.
Na cidade de Salvador-BA, por exemplo, João José Reis (1991) “A morte é uma
festa” descreve a revolta denominada cemiterada. Ela representou o imaginário da época ainda
arraigado nas concepções religiosas de sepultamento dentro dos cemitérios paroquiais, ou das
próprias igrejas. De acordo com o autor, o recôncavo baiano chamava a tenção dos visitantes
pela disposição natural de seus morros, do mar e da própria cidade de Salvador, com suas ruas
e becos do centro calçados e bem movimentados, e igrejas imponentes (p.27-30). A este cenário
agrega-se a disputa social pelo espaço, todos eles, inclusive os espaços dos mortos, numa
sociedade escravocrata e latifundiária. Para Reis (1991):
que o discurso médico não havia se materializado enquanto prática na sociedade, em outras
palavras, não tinha ganhado força concreta. Segundo a autora, entre as recomendações médicas
para os novos parâmetros educacionais de saúde urbana eram:
Nos cemitérios, distantes de suas casas e igrejas, de suas paróquias, a céu aberto, os
mortos encontrariam abrigos nos túmulos. Por isso, muitos deles reproduziram
cenários de igrejas e de capelas, em escalas reduzidas, enquanto outros, com
morfologias laicizadas, assemelhavam-se às residências de seus proprietários.
(MOTTA, 2010, p. 56).
No Brasil seguiu-se, até o século XIX, nos núcleos urbanos a linha divisória entre
vivos e mortos parecia inexistir, e isto se tornara uma necessidade, até que reviravoltas
acontecessem e, a medicina científica penetrasse no aparelho estatal começando assim a
reorganizar, inclusive desde os ritos fúnebres, até as disposições dos locais de sepultamento
(RODRIGUES, 1997, p. 59).
São Luís, por exemplo, institui uma junta sanitária para acompanhar casos de
epidemias na cidade, e recomendar medidas de saúde e melhorias na estrutura urbana (COE,
2008, p.37 a 44). São estas ideias, que adentram o interior da província pouco a pouco para
fundamentar o discurso das elites locais e o medo propagandeado nos jornais a respeito da
perniciosidade do ambiente e seus efeitos. A cidade de Caxias passou a discutir o mesmo
processo através dos códigos de postura, leis e regulamentos.
30
25
A IMPRENSA, 1858, n°15, p.04.
31
A Igreja Católica fornecia manuais com as formas de “bem morrer”, que tinham como
objetivo organizar um imaginário social fundamentado pelo temor acerca da morte.
Desta forma, o medo da morte era uma aprendizagem diária, a Igreja transmitia aos
seus fiéis a possibilidade de salvarem ou não suas almas, de acordo com certas
atitudes. O padre português Bernardo Queirós recomendava em seu manual publicado
em 1802, que os católicos na hora da morte não esquecessem de seus parentes mais
necessitados e também aconselhava que não morresse deixando qualquer bem
indevidamente adquirido (REIS apud TAVARES, 2010, p.02).
Assim, Ariès (2012), Reis (1991) e Rodrigues (1997) parecem estar de acordo que
o “morrer como uma arte” ou “atitudes diante da morte” podem ser verificadas, nos
monumentos, nos lugares dos mortos, nos testamentos e nos registros de óbito e, pode ser
conceitualizada segundo Rodrigues (2005) como um conjunto de práticas devocionais
instigadas ainda na baixa Idade Média, entre os séculos XIV e XV, pelos santos e pregadores
da Igreja, possivelmente em resposta ao contexto da nascente modernidade e maior acúmulo
material por grupos, proporcionando o nascimento da burguesia que mais tarde influenciaria
muitos aspectos da vida cotidiana, política e religiosa:
[...] a ars moriendi significava uma resposta àquela ansiedade dos indivíduos diante
da morte incentivada pelos pregadores. Desenvolvida entre os séculos XIV e XV, ela
representou um gênero de literatura devocional, composto por textos e imagens que
procuravam ensinar os cristãos a se prepararem para a “boa morte” [...]
(RODRIGUES, 2005, p.53)
26
A saber: pagamentos por missas; últimos desejos; doações à igreja e obras de caridade.
32
Em Caxias e seu entorno, por exemplo, estão presentes nestes documentos e, notas
de jornais “atos de caridade”. Partindo desta primeira observação, em alguns periódicos
noticiosos locais, os testamenteiros27 noticiam o início do processo de ratificação dos últimos
desejos do falecido em testamento, não é propriamente o registro transcrito no jornal, conforme
o exemplo:
A este respeito pode ser observado nas leis sobre heranças, porcentagens de
encargos a serem pagos pelos falecidos em testamento para o governo, uma espécie de
“imposto”. Não se buscou demonstrar serialmente este avanço na província do Maranhão29, e
sim pontualmente, por exemplo, em sua fala a assembleia, o presidente da província em 1884,
27
Pessoa, cujo testador, escolhe em testamento para fazer cumprir suas promessas expressas, antes de falecer, no
próprio testamento.
28
Figura 1 página 69.
29
Por que não é intuito deste trabalho, mesmo que, as características de legislação e administração do Estado
possam ajudar muito na compreensão mais aprofundada do “processo de secularização da morte”, mediante uma
construção linear progressiva da atuação, deste ente, sobre processos específicos, neste caso a morte.
33
propõe que 4 classes de contribuintes estejam sujeitas a 4 taxas proporcionais de encargos sobre
suas respectivas partes em um testamento:
As vontades reveladas pelo “jacente”, momentos ou até mesmo anos antes da morte,
estas devem ser cumpridas pelo testamenteiro, o qual é guardião e promotor do que foi expresso
no testamento. A respeitabilidade aos desejos do falecido, de alta patente ou classe, é tão forte
que mesmo diante da proibição dos sepultamentos nas igrejas em São Luís, no ano de 1856, foi
concedida, por meio da câmara municipal desta cidade, uma sepultura eclesiástica a José
Olímpio Machado:
Já nas práticas das boas ações, podem corresponder propriamente a uma busca de
obtenção de redução de penas purgatórias que o falecido poderia enfrentar no além
(RODRIGUES, 2005, p.118, 119, 120). Desta maneira, temos dois testamentos de informações
30
Coleção de Leis, Decretos e Regulamentos da Província do maranhão, 1852, p.84-92.
34
NOTICIÁRIO
31
Periódico de circulação na capital, São Luís, mas, que influenciava alguns outros periódicos do interior e era
igualmente fonte de informação parta muitos destes. Os números referentes aos testamentos estão entre os anos de
1876 e 1879, e são transcrições de um outro jornal, o qual não encontramos os números, a saber O Commercio
de Caxias.
32
Poeta romancista da segunda metade do século XIX nascido em Caxias e tido como uma das referências em
literatura e poesia de caráter indigenista, nacionalista e ufanista nacional.
35
Tendo-se verificado o seo passamento em sua fazenda Cajueiro, foi d’ali trazido e
chegando no dia seguinte, foi seo cadáver dado a sepultura no cemitério de N. S. dos
Remedios.
Por outro lado, não se deve esquecer que pela lei do ventre livre de 1871, filhos de
escravos nascidos a partir desta data passavam a ter condição de libertos, de maneira que, não
se poderia afirmar que a menor, criada como filha, seria ainda escrava ou não neste contexto,
pois a idade não é mencionada.
Quero que quando fallecer seja o meo corpo sepultado sem pompa, n’uma catacumba
do cemitério mais próximo à minha parochia, cujo parocho dirá por minha alma uma
missa de corpo presente, fazendo-se em devido tempo a trasladação dos meos restos
mortaes para um carneiro, ou catacumba na egreja de Santo Antonio, ou em outra
qualquer que as venda, e quero que no acto desta trasladação o meo testamento mande
celebrar por minha alma os officios fúnebres, segundo o ritual da egreja, mandando
dizer logo em seguida ao meo falecimento, cinco capellas de missas, sendo três pelas
almas de meo pae, de minha mãe e de meos irmãos, e, finalmente dusa pela minha
alma. (DIÁRIO DO MARANHÃO, 1879, n°1913, p.01)
Ele inicia seu testamento empregando os dizeres “achando-me doente, mas em meu
perfeito juízo e entendimento, temendo a morte pela incerteza da hora, faço o presente
testamento contendo as disposições da minha livre e espomntanea vontade para terem legal
execução depois do meu falecimento” (DIÁRIO DO MARANHÃO, 1879, n°1913, p.01),
deixando claro que a sua necessidade de testar se fazia pelo estado de saúde.
Destina parte de seus bens para obras de caridade. Esmolas a pobres que por ventura
queiram acompanhar o seu cortejo fúnebre ou simplesmente pedi-las no dia. Ajuda financeira
a instituições religiosas de ensino. construção de altar religioso em uma Igreja de Caxias e
outras cidades. Libertação de escravos, bem como, imóveis e terrenos a amigos próximos,
lembrando a necessidade da amizade e afetividade humanas desenvolvidas no processo da
vivencia em sociedade:
Deixo a quantia de 100$ reis para ser distribuída em esmolas de dous mil reis, á 50
pobres mendigos que se apresentarem a pedi-las no dia do meo enterro.
Deixo 1:000$ rs., sendo 200$ rs., para a illuminação da capella do altar do Santissimo
Sacramento da Matriz da conceição da cidade de Caxias, e 200$ rs., para cada uma
das seguintes quatro egrejas – Conceição, Rosario, S. Benedito e Remedios – todas
d’aquela mesma cidade, ficando assim completa a presente verba.
Por especial devoção que consagor ao Senhor Bom Jesus de Mathosinhos, nas
vizinhanças da cidade do Porto, e ao Senhor Bom Jesus do monte, em Braga, reino de
Portugal, deixo três arrobas de cêra, ou o seo equivalente em dinheiro para o culto de
cada uma das referidas Santissimas imagens.
Deixo 200$., a cada um dos seguintes meos afilhados – D. Maria Aurora, filha
legitima do sr. Raimundo Pereira da Fonseca, morador em Caxias, e João Alexandre,
filho legitimo do sr. Major João Antonio Vaz Portella, morador n’esta cidade.
[...]
Deixo ao meo bom amigo sr. Major Antonio Justiniano de Miranda, o meo relógio de
ouro com trancelim e sinetes do mesmo metal, e os demais seguintes moveis de meo
uso: - uma bengala de canna da India com castão de outro lavrado, - uma secretaria
de cedro polido com gavetas – uma estante envidraçada com todos os livros de leitura
que contem – um guarda roupa de cedro polido, e dou-me por pago da quantia que
está a dever-me em conta antiga particular como consta dos meos assentos.
[...]
Declaro que por meo fallecimento ficam forros e livres do captiveiro os meos escravos
– Miguel e Francisco, ambos africanos e já velhos. Em attenção aos bons serviços que
o dito Francisco me tem prestado, especialmente depois que tive a infelicidade de ficar
37
paralytico, deixo-lhe a diária de 240 rs, para seo sustento, a contar do dia do meo
fallecimento, até que elle possa trabalhar, e viver á sua custa. (DIÁRIO DO
MARANHÃO, 1879, n°1913, p.01)
Outro testador, João de Sá, residente na vila de Coroatá, inicia declarando seu
estado físico e mental, depois de confirmar sua fé na religião católica. Ditou suas últimas
vontades sob o termo “verba”, ao todo 7. Diz ele que em:
Verba terceira – Deixo a esmola de cem mil reis moeda corrente para ajuda da
construção da igreja de Nossa Senhora da Piedade desta villa de Coroatá, cuja quantia
será entregue a quem de direito competir, quando a obra tenha seo devido andamento.
Verba quarta – Deixo mais a quantia de cincoenta mil reis moeda corrente a José da
Silva Raposo, em attenção a amisade que sempre me teve, e ser um moço pobre e
muito doente, e bem comportado.
Verba quinta – Declaro que o restante dos meos bens, dedusidos todas as dispesas e
legados, será dividido em trez partes iguaes, a primeira destas trez partes instituo por
herdeiro a minha afilhada Maria, filha de Eufrasia Maria da Conceição, da segunda
parte dos meos bens será herdeira Marcelina Rosa Rabello, em attenção a muita
amizade e bons serviços que sempre me prestou; e da terceira e ultima parte dos ditos
meos bens serão herdeiros o menino Germano filho de Anna Francisca de Souza, e
João Paulo da Silva Cardozo, dividindo-se em ambos com igualdade de direito, e cada
um dos ditos meos quatro herdeiros instituídos, mandarão diser seis missas, sendo trez
por alma de meos pais, e trez pela minha alma, cada uma das esmollas de seicentos e
quarenta reis.
Verba sexta – Declaro que tenho contas de dever e há de haver com Augusto José de
Macedo e Britto, e que este tem em seo poder saldo a meo favor, como melhor se verá
dos meos papeis: bem assim me he devedor de não pequena quantia o padre José
Mauricio Rodrigues de Araujo, e tanto esta divida, como outras mais que se me
devem, constão de meos papeis, e de um termo de conciliação havido entre mim e o
dito padre.
Verba sétima – Declaro que meo enterro será feito á contento de meo testamenteiro.
(A IMPRENSA, 1861, p.03)
38
Na região de Caxias os testadores ditam suas últimas vontades, ao que tudo indica,
abordando muitos aspectos de caridade33, como libertação de escravos e doações para
irmandades, um destes testadores, falecido em São Luís não inicia seu testamento da maneira
como o que falece em Coroatá, revelando a ideia de secularização da morte nos testamentos34.
Desta forma, no Maranhão a ideia de secularização da morte pode ser abordada sob
o prisma da dicotomia capital-interior. São Luís em relação às demais cidades da província,
tinha a preeminência de ser a sede do poder político, econômico e cultural, com um porto onde
chegavam não só mercadorias, mas ideias e isto pode ter influenciado a secularização das
práticas, dos ritos, dos lugares dos mortos e no hábito de testar mais rapidamente.
33
Tomando como exemplo as informações dos testamentos de D. Guilhermina Rita de Almada Chagas e João
Manuel Gonçalves Dias.
34
Anexo A e B nas páginas 105 e 109.
39
em estado muito grave de saúde o padre devia “...abreviar o ritual untando os olhos, orelhas,
nariz, boca e mãos – os instrumentos dos cinco sentidos, peças de pecado”, no acompanhamento
“o pároco e ajudantes – entre os quais podiam incluir outros” (REIS, 1991, p.106). Os
preparativos e cuidados com o corpo do morto, seriam parte de um rito “doméstico” (capítulo
5, p.114).
35
Ele aparece em todos os óbitos consultados.
36
Anexo E deste trabalho, na 113, consultar “características da encomendação e forma do ritual”.
37
O FAROL, 1857, n°227, p.02 a 04. Anexo G página 119.
38
Infelizmente não tivemos acesso ao livro e, apenas consultamos registros de óbito microfilmados
disponibilizados pelo site https://www.familysearch.org/pt/ referentes às encomendações da Igreja de Nossa
Senhora de Nazaré da Trizidela de Caxias, cuja abrangência temporal está entre 1877 e 1908, dos quais
consultamos 60 entre 1877 e 1883. Anexo E página 113.
40
Artigo 16°. A Camara fornecerá um livro rubricado e encerrado ao seo Secretario que
servirá para lançamento dos óbitos, cada um em artigos separados extrahido das
cadernetas, conferido com as guias que o Zelador apresentar, ficando as guias
archivadas, e a caderneta em poder do Zelador depois de conferido e rubricado pelo
Secretario, estas conferencias terão lugar toos os sabbados impreterivelmente, e por
cada omissão do Secretario será multado em quatro mil reis, a beneficio do cofre do
Município.
Artigo 17°. O Procurador da Camara soffrerá a mesma multa quando seja omisso no
cumprimento de seus deveres, não dará guia para sepultura daquelles que tiverem
fallecido de repente, de contusões, ferimentos, ou outras mortes que possão causar
suspeitas, sem se intender. FONTE: (O FAROL, 1857, n°227, p.02 a 04)
Aos trinta dias do mes de Março de mil oitocentos e setenta e nove, na Igreja Matriz
de Nª Senhora de Nazareth da tresidela de Caxias, sepultou-se o corpo de Lourenço
Cavalcante de Moraes, detem idade de dezoito annos, sendo filio legítimo de
Tintiliano Cavalcante de Moraes, e sua mulher Fatima Maria Souza, faleceo de febre,
foi encomendado na forma do Ritual Romano e, envolto em hábito branco. ("Vargem
Grande, Maranhão, Brasil Registros," imagens, FamilySearch
(https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939V-BYSP-Z6 : 8 de março de
2021), imagem 940 dos 2404; Arquivo da Arquidiocese de São Luís do Maranhão).
39
Período em que se deu a transição dos sepultamentos no interior e adro das igrejas em Caxias para os cemitérios
das irmandades de São Benedito e Nª Senhora dos Remedios.
41
Acreditava-se que qualquer atropelo no ritual fúnebre podia levar o morto a se tornar
uma alma penada. Os que morressem devendo promessa a santo e dinheiro a vivos,
os que ficassem sem sepultura, aqueles cuja família não respeitasse o luto e, sobretudo,
aqueles que falecessem em circunstâncias trágicas ou de repente, sem a devida
assistência religiosa, eram sérios candidatos a ficar vagueando e atrapalhando a vida
dos que ainda não haviam partido deste mundo [...] (COE, 2008, p.27)
O que desta maneira impele a observar além do que o registro de óbito diz sobre a
causa-mortis do falecido, fazendo a seguinte pergunta: existia no imaginário social caxiense o
medo das epidemias a ponto de requererem modificações nos sepultamentos, nas
encomendações e em como se faziam os cortejos fúnebres? Os jornais parecem ter os caminhos
da resposta. Porém, nos óbitos consultados, 43 dos cadáveres foram encomendados na Igreja e
apenas 16 no cemitério e 1 em outro lugar, demonstrando que até os fins do século XIX a Igreja
ainda era o principal local de encomendação dos falecidos entre as elites de Caxias.
40
Pelo concílio de Trento 1546 e 1563, que reforçou a doutrina doo purgatório, ou seja, rezar pelos falecidos e,
dar os sacramentos aos enfermos, este concílio ficou conhecido pela reafirmação dos dogmas da Igreja Católica
Apostólica romana frente ao protestantismo e definia a unidade de fé, doutrina e rituais da instituição em todo o
mundo.
41
Óbito n°02, 1877. "Vargem Grande, Maranhão, Brasil Registros," imagens, FamilySearch
(https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939V-BYSP-Z6 : 8 de março de 2021), imagem 937 dos 2404;
Arquivo da Arquidiocese de São Luís do Maranhão.
42
Como é o caso curioso de três pessoas, um homem, uma mulher e uma criança: óbitos n°14, n°15 e n°16, 1877.
"Vargem Grande, Maranhão, Brasil Registros," imagens, FamilySearch
(https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939V-BYSP-Z6 : 8 de março de 2021), imagem 939 dos 2404;
Arquivo da Arquidiocese de São Luís do Maranhão.
42
Uma notícia de última hora escrita no jornal A imprensa caxiense (1861) dá conta
sobre o andar da epidemia de “febre amarela” em Teresina, além de fazer um alerta, do qual
podem ser retiradas algumas conclusões. A primeira é que existia a preocupação a respeito da
organização espacial e higiênica da cidade. A segunda, que o medo da epidemia pairava no
meio da elite e, as doenças infectocontagiosas não estavam tão longe, nem mesmo se
dissipavam com o passar do tempo, o jovem do qual foi transcrito o óbito de 1879, faleceu de
“febre”. Não se sabe exatamente que a epidemia tenha vitimado caxienses ou um grande
número destes, pois, existe o conhecimento da doença, correspondências com informações
sobre cuidados e alguns óbitos que delimitam a causa da morte simplesmente em febre, contudo,
óbitos de 1877 e, a epidemia é de 1850. De acordo com A imprensa Caxiense (1861), tomando
nota da situação de Teresina, exige das autoridades locais medidas para se preservar a cidade
de Caxias de possíveis surtos:
...a febre amarela que flagella os habitantes d’quella cidade, desde princípios de
novembro, vai tomando um caracter assustador, visto ceifar 6 e 8 vidas por dia 1.
A forma do rito permanece durante todo o fim de século, ou seja, segue-se que da
leitura e comparação seriada dos óbitos, a afirmação “na forma do ritual romano” está presente
em todos os consultados. Este ritual romano, significa um cuidado específico, pré-estabelecido
acerca da liturgia fúnebre da Igreja Católica, reafirmando a unidade da instituição na unidade
do ritual, que entre outras práticas sob o corpo da encomendação constavam, a administração
dos sacramentos; o emprego do hábito ou mortalha; cortejo; dobres de sinos; as missas: de
corpo presente e pela alma do falecido (RODRIGUES, 1997, p.176).
43
Anexo E página 113.
43
uma higiene da cidade e o seu reordenamento urbano, bem como, mudanças de hábitos, dentre
eles, os relacionados às práticas fúnebres preconizando que “a higiene da cidade se afigurava
como fator de extrema relevância na contenção de epidemias” (COE, 2008, p.82).
A partir do que foi exposto, existe no meio social da elite citadina caxiense a ideia
de “boa morte” nos testamentos, e da continuidade das práticas fúnebres na forma do ritual
romano, porém, com flexibilidade de lugar e o não impedimento para que um corpo pudesse
ser sepultado sem encomendação no cemitério público provisório. O número de casos de morte
por doenças sendo ainda maior do que outras causas entre as décadas de 1870 e 1880 evidencia
perenidade da causa que pode ter levado a elite a pressionar as autoridades locais para
instituição de um cemitério público, fazendo com que um provisório fosse feito em 1857 e que
as irmandades de São Benedito e Remedios construíssem os seus em 1862 e 1863
respectivamente.
44
De acordo com Rodrigues (1997, p.55 e 57) a vigilância e o controle marcaram uma
nova etapa da administração pública centralizada. Uma das características deste movimento
pode ser a instituição de leis e decretos que regulam a vida social e seus hábitos, e possibilitam
cada vez mais a especialização do Estado sobre as várias formas das manifestações culturais e
ideológicas da sociedade humana:
[...]
Esta medicina, que se impôs durante a primeira metade do século XIX, penetrou no
aparelho estatal com um novo tipo de racionalidade que era assumida pela nova
configuração de Estado que emergia. (RODRIGUES, 1997, p.56 e 57)
O cemitério público provisório é uma das medidas tomadas pela elite local caxiense,
antes da criação dos cemitérios eclesiásticos das irmandades de São Benedito e Remedios, como
forma de amenizar os problemas decorrentes do número crescente de enterramentos nas igrejas.
Quanto ao aumento no número dos sepultamentos, não se sabe ao certo qual a causa, podendo
ser desde doenças a uma maior procura de famílias pelas sepulturas eclesiásticas dos templos
religiosos. Neste ínterim, a pressão das elites toma corpo no sentido de se buscar uma medida
45
de separação entre vivos e mortos, ou pelo menos entre cadáveres contaminados e os não
contaminados.
medida em que difundiu a concepção de que as sepulturas e seus cadáveres eram focos de
contaminação”.
44
Necrópole é outro nome que se dá ao cemitério, que remete a uma cidade dos mortos, se for de grande porte.
47
Os mortos então foram vistos como um problema que precisava ser sanado sob pena
de não cessarem as epidemias, infecções, miasmas e a “podridão” exalada pelos cadáveres
depositados no interior ou entorno dos templos religiosos prejudicando o convívio social
urbano. Na cidade de São Luís, por exemplo, a classe médica ganhava cada vez mais
importância no contexto social, político e cultural a medida em que fazia ecoar muitas dessas
ideias, não sem motivo, pois de 1844-1856 a ilha viveu pequenos surtos de varíola chegando
ao ápice em número de mortos no ano de 1856:
Dentre as várias construções teóricas, havia o ideário que buscava uma urgente
reorganização e saneamento do espaço urbano ludovicense. Diante desse contexto,
havia uma preocupação com as epidemias que assolaram a cidade principalmente ao
longo do século XIX, e que para as autoridades locais tinham relação com o descaso
da população para com as mínimas regras de higiene. (COE, 2012, p.18)
No entanto, mesmo diante de todas estas observações, até os fins do século XIX,
pode-se conjecturar que ocorreram sepultamentos eclesiásticos e depósitos de restos mortais
trasladados. Em Pastos Bons, região próxima ao entorno de Caxias, os sepultamentos ad sanctus
apud ecclesiam, pelo menos das elites ocorreria até as décadas de 188046 e 1890.
45
Largo de São Benedito, Frente à Praça D. Luís Marelim (Praça da Chapada).
46
Na página 80 deste trabalho faz-se referência à tentativa de sepultamento do cadáver do sr. Manoel da Costa
Nunes em 1880 na Igreja da cidade de Pastos Bons, sendo impedido o sepultamento pelo pároco local, dado que
o referido cidadão era maçon. (PACOTILHA, 1883, n°28, p.03).
48
Tem-se desenvolvido desde os fins do anno passado uma enfermidade que já conta
com algumas victimas, a qual em menor escala costuma affligir a população com a
entrada da estação chuvosa; mas que no presente anno tem merecido mais serias
considerações aos facultativos pela sua maior intensidade. (O FAROL, 1856, n°210,
p.02)
Sendo certo que a epidemia reinante se torna mais mortífera nos lugares onde há
menos limpeza e aceio, somos da opinião que a Ilustrissima Camara faça cumprir as
Posturas Municipaes tendentes ao aceio das ruas, praças e terrenos da Cidade,
adoptando igualmente as seguintes medidas de conveniência publica – Prohibir que
depositem immundicias nas vizinhanças das cazas e estradas – fazer distruir curraes
de gado contíguos às cazas de vivenda – evitar que se lancem nos arrebaldes da Cidade
animaes mortos obrigando seos donos a manda-los conduzir para lugar desviado afim
de serem enterrados, ou queimados – recomendar o aceio possível nos matadouros, e
açougues, e que os bois cortados para consumo não sejam enfezados, ou empestados
– fazer esgotar os pântanos estagnados, ou charcos que contenham agoas estagnadas
porque, os destroços animaes, e vegetaes, que encerram, são o germen de muitas
moléstias epidêmicas. A estes pântanos attribuimos as febres intermittentes que há
dois annos tem grassado nesta Cidade. (O TELEGRAPHO, 1854, n°255, p.01)
47
De acordo com o higienismo, as doenças se originam no meio ambiente e, para o infeccionismo, as doenças e
os males delas advindos são ocasionados por infecção devendo-se evitar o contato com os doentes.
48
Capítulos 3 e 4 deste trabalho.
49
O FAROL, 1851, n°65, p.01, citação na página 81 deste trabalho.
49
Quanto a isto, Luiz de Christo escrevendo a seu amigo Xisto, procurador das causas em
Teresina, relata que:
Sr. Edictor. Grassa há mais de quatro mezes nesta Cidade uma epidemia de febres,
que tem acommetido a um grande numero de pessoas. Com quanto maior numero de
casos o seo typo característico seja o intermitente, em alguns indivíduos tem
apparecido complicações de ___ mas graves; se bem que todos os doentes da minha
clinica se tenham restabelecido, todavia esta moléstia tem assustado a muita gente,
supondo que já existe entre nós a febre amarella. (JORNAL CAXIENSE, 1851,
n°227, p.01)
Além do que já uma vez disse em um artigo sobre esse ponto, inserto no “Jornal
Caxiense” que a este acompanha, é de suma importância fazer cumprir os artigos 60,
90, 100 e 111 do Código de Posturas: a este ultimo lembro que designado o logar
para se receber os doentes desfalidos, ahi deverá hir diariamente o Facultativo da
Camara para examina-los, fazendo as competentes applicações, e a custa do governo
haverá uma Botica para fornecimento dos precisos medicamentos a aquelas pessoas,
50
que por sua pobreza os não poderem comprar. (O TELEGRAPHO, 1850, n°248, p.01,
grifo nosso)
o culto público, era outro objeto de normatização por parte das autoridades.
Segundo o mesmo jornal, no artigo 4° a câmara propôs e foi aprovado pela assembleia
legislativa provincial, limitar os dobres de sinos. A chamada “vigilância auditiva” era instituída
na cidade:
Art. 4°. Os dobres de sinos por morte de qualquer pessoa não excederão em nas
respectivas freguesias no numero que tem estabelecido a constituição do bispado, e
não durará enda um mais de três minutos. Ao contraventor que será sempre o
procurador da irmandade que administrar a igreja ou cemitério, multa de trinta mil
reis e o duplo nas reincidências. (PUBLICADOR MARANHENSE, 1871, n°142,
p.01)
Nos periódicos jornalísticos locais, o assunto sobre os espaços dos mortos aparece
com frequência, principalmente em momentos de crises epidêmicas, quando se fazem notar o
50
Ainda que tenha sido uma das mais importantes igrejas da cidade de Caxias, chegando a servir como matriz de
uma freguesia importante (Tresidela), resolvemos abordar apenas as igrejas que ficam a leste do rio Itapecuru.
52
[...] Este defeito resulta de que os parochos só registrão os mortos, que se enterram na
matriz, ou no cemitério, e talvez nem todos. Ora é sabido que nas freguesias extensas,
como são todas da província, continuão a enterrar os mortos em qualquer capella, ou
mesmo na beira das estradas em qualquer cruz. (A IMPRENSA, 1857, n°50, p.02,
grifo nosso)
Portanto, em Caxias até o século XIX, os sepultamentos das pessoas que viviam em
áreas “urbanas”, e ocorriam no “interior”, no “entorno” das igrejas e capelas locais, passou a
representar um problema sanitário entre 1850 e 1870, do qual a elite tomou consciência
mediante o processo de medicalização da sociedade através do discurso médico-higienista e das
leis, decretos e resoluções proibitivos de tais práticas. A separação, que antes era hierárquica,
51
Largo de Nossa Senhora dos Remedios, Bairro Castelo Branco. Planta anexo L na página 127.
52
De acordo com os discursos fúnebres, a serem transcritos nas páginas seguintes, o visconde não era brasileiro e
seu sobrenome remete a uma dinastia francesa com ganho de notoriedade no tempo lá pelos fins do século XII e
início do XIII na França.
53
Consultar o projeto do cemitério público de Caxias de 1849, no capítulo 5 deste trabalho.
53
A meza pede concorrência dos devotos a estes actos religiosos. (O FAROL, 1863,
n°104, p.04, grifo nosso)
54
Cortejo próprio das confrarias de Misericórdia portuguesas, realizado no dia de Todos os Santos. Procissão dos
ossos. Acesso em: museuvirtualdalusofonia.com. Acessado em: 2020.
55
Anexo G página 119.
56
No Jornal Diário do Maranhão, de 1858, a secretaria de obras públicas estipula um prazo de 3 anos para nova
abertura de sepultura de adultos: “nenhum adulto poderia ser aberto senão três annos depois do enterramento”,
p.01. Já no Jornal de Caxias do ano de 1897 o enfoque recai sobre as diretrizes para se registrar um óbito “dentro
de vinte e quatro horas o interessado deve apresentar atestado médico ou de duas pessoas idôneas com competente
visto da autoridade” (n°89, p.04).
54
sepultura aos cadáveres dentro e fora das igrejas, bem como, os procedimentos para se dar
sepultura a quem houvesse falecido repentinamente a quem a causa da morte já fosse atestada
como “doença contagiosa”, ou seja, o discurso médico já influenciava as práticas de
sepultamento na cidade desde dentro dos templos religiosos culminando na separação entre
vivos e mortos:
Art. 124. Nenhum corpo de pessôa que tenha fallecido repentinamente, será dado à
sepultura sem ordem da auctoridade, à quem competir o direito de mandar proceder
os exames necessários para conhecimento da cauza, que deu logar à morte.
Art. Os corpos de pessôas, que fallecerem por motivos de moléstias contagiosas, serão
conduzidos para os logares, em que devem ser sepultados, em caixões fechados, em
tumbas, ou esquifes e bem cobertos com panos. (COLEÇÃO DE LEIS E DECRETOS
DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO, 1846, p.65)
Além das notas de pesar bem elaboradas que preenchem as páginas dos jornais, O
Farol e A imprensa caxiense, os agradecimentos públicos pelas participações de parentes,
amigos e bandas de música revelam um pouco de como era o cortejo fúnebre das elites
caxienses no acompanhamento ao último jazigo. Esse poder de representação social é fruto de
uma condição diferenciada. Ao comendador João Paulo Dias Carneiro, um editor do jornal O
Farol (1861) rende homenagens e um culto público à sua memória. Diz ele:
57
O número fica mais escasso quando fora do meio periódico de circulação mais restrita, como: O Farol e A
imprensa caxiense, e mesmo nestes, quando se passa da década de 1850 a menção aos mortos ilustres com páginas
inteiras dedicadas às suas “necrologias” vai diminuindo, contam-se ao todo nestes jornais 23 assuntos relacionados
a discursos fúnebres, missas de sétimo dia e notas de agradecimento para os que acompanharam um enterro. Nos
jornais: Gazeta de Caxias e Jornal de Caxias, os termos são substituídos por “registros de óbitos” e, vez ou outra,
aparece um discurso fúnebre mais extenso, no entanto é muito raro. A primeira dupla de jornais foi consultada
com o recorte temporal de 1850 a 1867, e a segunda de 1880 a 1900.
55
No dia 31 de Janeiro p. findo a portou a esta Cidade bastante enfermo de sua fazenda
o Ilm. Snr. Commendador João Paulo Dias Carneiro, e as 4 horas do dia seguinte teve
logar o seu passamento.
Huma biografia seria talves pequeno monumento erigido em memoria d’uma vida tão
prodiga de actos honrosos, tão caritativa, tão beneficente...
Huma linha pois, que annuncie, que o venerando ancião já não existe, numa palavra
que chame a attenção da geração presente sobre a vida do finado; uma lagrima de dôr
e de saudade derramada sobre seu tumulo, eis o que podemos.
Sua morte deixou um vacuo... Torrentes de lagrimas derramadas sobre o seu tumulo
não pagarião os benefícios por ele derramados em sua vida.
Não ha invejar a gloria do sabio, a gloria do soldado, quem se – tornou glorioso pela
caridade. – E’ a gloria do finado João Paulo; gloria que está nas conversações do povo,
e que se – transmitte de pais a filhos, gloria que está nos corações de todos.
Pai da pobreza... Era assim, que se – falava do Commendador João Paulo; é com este
honroso e bem merecido título, que sua lembrança será guardada.
O Snr. Commendador João Paulo viveu 74 annos, ocupou altas posições na sociedade.
Foi elle o ultimo Prefeito desta comarca.
Elle está com Deos... E’ bem que a terra tão bem conserve sua lembrança; para isso
não são precisos marmores, nem bronze, e basta que todos aquelles seos amigos
tenhão escripto nos seos corações o seu nome. E vós, chorado amigo, aceitai da
manção onde resides um adeos d’amizade sincera.
A terra lhe seja leve, a misericórdia da senhora seja com elle. (O FAROL, 1861, n°335,
p.01-02)
58
A IMPRENSA, 1861, n°11, p.01.
56
ser favorável ao fim dos sepultamentos no interior das igrejas e um crítico aos preços das
sepulturas:
A ideia de luto coletivo que pode ser expressa na procissão, no cortejo fúnebre e
nas notas de pesar que trazem os elementos do mesmo, como a possibilidade de grande
quantidade de pessoas, de comoção e solidariedade para além das teias familiares, estão
presentes nos agradecimentos, os quais levam a pesquisa a desenhar as características do funeral
das elites em Caxias. Havia música, quantidade significativa de pessoas, possivelmente a
presença das irmandades, amigos e sacerdotes para guiar os ritos. No passamento da irmã de
Manoel José de Azevedo estiveram presentes 4 padres, público e música, que segundo a nota
de agradecimento foi tocada “voluntariamente”:
A Snra. D. Claudia Custodia dos Anjos, por ocasião da morte de seu Filho Honorio
Barbosa de Brito.
SONETO.
59
Notas fúnebres transcritas tanto no jornal O DÁRIO DO MARANHÃO de 1858, como no A NOVA
EPOCHA, 1858, n°120, p.04 e, representa estimada riqueza literária e concepção de um luto partilhado, coletivo.
60
O FAROL, 1861, n°335, p.01-02.
58
momento e estado do próprio corpo, ajudam a vislumbrar um pouco do luto coletivo em Caxias.
Neste discurso fúnebre estão presentes tanto a ideia da morte dramatizada como a de que a
Igreja e os santos estariam ali para guardar, proteger e ajudar os fiéis sepultados. Proclama
Augusto Cezar Marques:
Reparai, Senhores!...
Antes que para sempre desapareça a nossos olhos o cadáver, que como christãos, aqui
viemos confiar guarda ao Senhor, antes que se suma nos segredos do Túmulo este
corpo d’onde há pouco se desprendeo uma alma nobre e generosa, ouvi-me por pouco
tempo.
Sahindo da região das trevas, onde me levou cruel moléstia, e mal podendo encarar a
luz do dia, apenas venho chorar sobre os restos mortaes do visconde Saint-Amand.
Em outro trecho, Marques aborda com mais ênfase a vida do visconde e origem de
seu nascimento, não deixando de dar um afago ao “centro da civilização” da época, a saber a
França, de onde veio Amand para o Brasil:
O visconde em vista de seu estado de saúde, deve ter ditado suas últimas vontades
em testamento, porém não alcançado pela pesquisa, este documento impossibilita descrever
mais como foram realizados os ofícios fúnebres de sua encomendação deixando, no entanto,
que os discurso fúnebres e notas de pesar apontem o caminho de se visualizar o sepultamento
deste indivíduo distinto. Cezar Marques e o alferes Ataliba discutem sobre o ser humano que
partiu e o apresentam ao público, mas, o periódico Diário do Maranhão (1858) dá uma
dimensão do impacto social que a morte causava no ceio da sociedade caxiense, dramatizando
59
...nos braços de sua infeliz esposa suspirou em presença de seo medico assistente, o
Dr. Vaz, e o Dr. Andreini! Apenas correo tal notícia ninguém acreditou, e só a vista
convencia que elle já tinha sido riscado do numero dos vivos! Triste realidade!
[...]
Seo enterro foi muito concorrido; parecia que os habitantes d’esta cidade, desde o
mais alto funcionário publico até o mais pequeno e humilde artista, todos a porfia
querião tributar honras à memória do illustre estrangeiro, que muito nos captivou por
suas maneiras attenciosas e delicadas, só próprias d’um cavalheiro de fina e desvelada
educação. Forão ao caixão os Srs. Coronel Pretextato José da Silva, juiz de direito
interino, Dr. Cezar Augusto Marques, coronel Agostinho da Silva Braga, Faustino
Fernandes Lima, o capitão Agostinho José de Viveiros, e o negociante Joaquim Pedro
dos Santos. Uma companhia de tropa de linha commandada pelo capitão
commandante d’esta guarnição, lhe fez honras militares. Seo corpo foi dado a
sepultura na Igreja de Nossa Senhora dos Remedios, onde os Srs. Dr. Cezar, e alferes
Ataliba, recitaram os discursos que abaixo se seguem. (DIÁRIO DO MARANHÃO,
1858, n°126, p.02)
Que de embaraços não lutarão os mortos, quando necessário for, unir-se a alma a seu
barro, estando os ossos, membros e tudo o mais que resta de terrestre, dispersos e
confundidos com os ossos e membros dos irmãos também finados? (O FAROL, 1856,
n°212, p.02, grifo nosso)
60
Termos como: a terra te seja leve, uma lágrima de saudade, denotam a ideia de
morte dramatizada em circulação nos periódicos e, representa a característica literária do culto
aos mortos influenciado pelo romantismo. As expressões desse movimento buscam dar teor
realista de dor aos escritos, descrevendo o momento como “triste” e a tristeza partilhada tanto
pelos que circundam o defunto como pelos que leem o discurso no periódico. No final pede-se
que os fiéis rezem “um padre nosso” pela alma do finado e uma avemaria. Nas lápides
eclesiásticas das igrejas São Benedito, Nª Senhora do Rosário e Nª Senhora dos Remedios existe
o pedido escrito, precedido da biografia reduzida do defunto que guarda.
Nesta nota de pesar, o escritor destaca uma aura simbólica que rodeia a morte do
indivíduo, que havia sido assassinado. A lua nova e o ano da celebração de canonização de um
santo não poderiam deixar impune os assassinos de pessoa de “virtude personalizada”:
Oh! Dor!... não comprehendemos como a penna das mãos nos não cabe!... oh!
Saudade!...
[...]
Mas Oh! Ceos! de quanto é capaz o fado adverso! = como tão injusto é como a virtude
personalizada! – virtude, virtude, tu es umma chiméra!
[...]
61
Roga-se á todos os fieis que resem um Padre nosso, e umma Ave Maria para descanço
d’alma do finado.
Pax tecum.
O homem e sua morte já não são tratados como mistério, como uma passagem, mas
algo muito natural decorrente da condição física e não pecaminosa. As expressões como “uma
lágrima de saudade”, “a terra te seja leve”, “ó dor”61 vão dando lugar as estatísticas e, a morte
é gradativamente silenciada, pelos menos nos jornais, pois, o cortejo do início de século XX
ainda agrega grande número de pessoas, porém, o velório agora é particular, privado e
silenciosa, a morte torna-se individualizada.
Nos fins do século XIX, o corpo do ser humano já não era mais tão misterioso e
fora de questão nos círculos de opinião, demonstrando as relações sociais, históricas, políticas
e científicas que a morte pode influenciar, e na mesma medida sua concepção modificada. No
jornal Gazeta de Caxias (1891), o corpo humano passa a ser um composto químico, de materiais
considerados ou vistos como não muito preciosos para a sociedade, de forma que:
O homem contém treze matérias principaes, das quaes cinco gaseiformes e oito
sólidas. A principal é o oxygenio em um estado de extrema pressão. Um homem
normal de 70 kilogramas de peso contém 44 kilos de oxygenio, que no estado natural
ocupam um espaço de 18 metros cúbicos; [...]
Vê-se por ahi que o corpo humano não contem metaes preciosos, mas sim em
substancia matérias de preço tão baixo como a amora silvestre.
61
Ao final deste trabalho tem uma tabela com listas de assuntos relacionados a morte que aparecem em alguns dos
periódicos locais entre 1850 e 1899. Anexo E página 113.
62
-Uma verdadeira ninharia que não vale dois corações! (GAZETA, 1891, n°133, p.04,
grifo do autor)
Mesmo assim, ainda que estas organizações religiosas fossem tão representativas e
importantes nos ofícios fúnebres brasileiros, para Reis (1991) no contexto da cemiterada em
Salvador, a presença das mesmas nos velórios e acompanhamentos estava em “declínio”:
O certo é que, por mais populares que fossem, não houve nenhum período em que a
maioria dos habitantes da Bahia pertencessem a elas. E na conjuntura da Cemiterada
há fortes indícios de que essa participação estivesse em declínio. Os testadores, por
exemplo, pediam cada vez menos suas presenças nos funerais. (REIS, 1991, p.151)
62
Entre 1837 e 1839.
64
na morte, revela ainda existência do comercio de sepulturas dentro da Igreja para os não irmãos,
fazendo notar tanto o regulamento dos preços pela própria irmandade, bem como, o fator que
permitia a ocorrência do ato, a inexistência, pelo menos não oficialmente, de cemitérios. Para
adentrar a esta irmandade esra necessário desembolsar a quantia de 5:000$ reis e mais 2:000$
reis anuais, parágrafos 1 e 2 do capítulo 2° do compromisso63.
Art. 5°. A cada um dos Irmãos, que fallecer, se lhe mandará dizer por alma cinco
Missas; uma de corpo presente, ou no dia da noticia de seu óbito, e as mais sem falta
ao terceiro, ao sétimo, ao trigésimo, e finalmente ao dia anniversario.
Art. 6°. O Irmão, que fallecer durante o cargo de Mesario, ou depois de haver servido
de Juiz, em lugar de cinco, terá dez Missas; e por cada vez que tenha sido Juiz terá
mais cinco Missas, todas dentro do anniversario, e as primeiras na forma do artigo
antecedente.
Art. 7º. Os Irmãos, em quanto não houver Cemiterio, terão grátis sepultura no
Cruzeiro do corpo da Capella, acompanhamento da Irmandade, e o maior numero de
signaes que permitte o L.4°. tit.47 n°828 da Constituição do Bispado, os que tiverem
sido Juizes mais de duas vezes serão sepultados grátis na Capella mór.
Art. 8°. Às mulheres e filhos-familias dos Irmãos são concedidos grátis os mesmos
signaes, e acompanhamento da Irmandade, e sepulturas do vestíbulo às portas lateraes
da Capella.
[...]
63
Coleção de Leis, Decretos e Resoluções da Província do Maranhão, 1851, p.11 a 16.
64
Coleção de Leis, Decretos e Resoluções da Província do Maranhão, 1855, p.31 a 38.
66
“últimos jazigos”, porém, deixando claro que suas sepulturas em cemitérios seriam negociadas
com as irmandades detentoras da administração destes:
Art. 29. Os irmãos, em quanto não houver cemitério próprio da irmandade, serão
sepultados em qualquer cemitério dos existentes, para o que se deverá a
irmandade contractar com qualquer das irmandades, que os tiver, as sepulturas
dos irmãos, mediante uma somma, que será estipulada anualmente, e logo
também suas mulheres e filhos legítimos ou legitimados.
Art. 30. Além do que já fica disposto nos artigos: 26, 27, 28 e 29, terão os irmãos
fallecidos o acompanhamento da irmandade, e o maior numero de signaes, que
permite o livro 4°, tit.47, n°828 da constituição do bispado.
Art. 31. Os irmãos serão conduzidos aos seus últimos jazigos em um esquife, ou
caixão coberto, salvo quando não quizerem os seus parentes, ou amigos, e se
obrigarem a mandar fazer caixão próprio. (COLEÇÃO DE LEIS E DECRETOS DA
PROVÍNCIA DO MARANHÃO, 1863, p.29, grifo nosso)
Art. 24. Na noite do dia de finados a irmandade fará celebrar na capella do cemitério
procissão dos ossos em comemoração dos irmãos fallecidos, e logo que os meios da
65
Coleção de Leis, Resoluções e Decretos da Província do Maranhão, 1864, p.47.
67
Percebe-se então, que existe um setor especializado nos ofícios fúnebres e seus pés
estão fincados na Igreja até o momento, motivo pelo qual, a gradativa secularização da morte e
posteriormente dos espaços dos mortos enfraquece e desagrada parte do clero (RODRIGUES,
2005, p. 212 a 217), mas isto não desarticula a notoriedade e preeminência, social e política,
que a instituição religiosa desempenhou e desempenha na vida e na morte dos membros de sua
congregação, pois, os cemitérios nascem concebendo espaços para capelas onde se realizarão
os ofícios dos mortos guiados por um sacerdote e mantem as distinções sociais das sepulturas
eclesiásticas.
66
Imagem anexo H página 123.
67
Tabela 3 página 78.
68
Capítulos 3 e 6 do respectivo compromisso.
68
coberto. É dentre as quatro igrejas visitadas a que mais se parece no aspecto artístico da faixada
com a Igreja de Nª Senhora do Rosário, de estilo barroco.
Foi feito o seu patrimonio por Manoel da Silva Pinto <<n’um quarto de legua de terra
de frente, e meia legua de fundo>> em 13 de agosto de 1803, sendo lavrado o termo
de doação pelo escrivão Gonçalo Lopes de Mattos. (MARQUES, 1870, p. 124-125)
Contam-se nesse templo 8 lápides, sendo 5 na nave lateral esquerda sentido interior
para fora, e 3 na nave lateral direita no sentido interior para fora, com uma dimensão temporal
dos falecimentos e dedicatória dessas lápides entre 1856 a 1875, de onde constata-se que
“encerradas”, histórica e politicamente as prática de sepultamentos no interior das igrejas, pelo
menos culturalmente ela deve ter sobrevivido pelos fins do século XIX, mediante aquisição,
pela elite, de um pedaço de parede para depósito dos restos mortais de um falecido.
Organizou-se uma irmandade para cuidar d’este templo, sendo seu compromisso
aprovado pela lei provincial n. 298 de 10 de novembros de 1851. (MARQUES, 1870,
p.125)
69
Imagem anexo I página 124.
70
De acordo com Marques (1870), esta vila foi dividida mediante um artigo de lei provincial de 1836, em três
matrizes, sendo elas: Nª Senhora da Conceição e São José, Nª Senhora de Nazaré e de São Benedito. (MARQUES,
1870, p.122). Lei n° 26, 02/07/1836. (Coleção de Leis, Decretos e Resoluções da Província do Maranhão, 1836,
p.20)
71
Imagem anexo J página 125.
69
Descendo um poco a rua a direita da paróquia de São Benedito, mais abaixo sob o
olhar vigilante desta capela do início do século XIX, hoje com ares de catedral, fica situada a
igreja de Nª Senhora do Rosário dos pretos72 e, apesar de ter uma faixada mais simples em
relação às demais, é a única que conservou um altar em estilo barroco, graça possivelmente
partilhada pelos altares adjacentes. É de fato a Igreja mais simples das mais antigas, mas, algo
chama a atenção, seus jazigos figuram entre os mais belos, seu altar central é rico das cores
branco e azul, e na parte externa a cor figurante é amarelo. A nave central não se sobressai por
ser exatamente a mais alta das naves e a mais importante dentre as quais, mas por parecer ir a
frente enquanto as outras são puxadas, o que é causado pela ilusão de ótica, pois a construção
foi feita para dar esta perspectiva a medida em que as naves laterais além de estarem um pouco
para trás da nave central, são igualmente baixas e o sino, que nas outras igrejas ocupa as torres
das naves laterais, nesta apresenta-se no topo da nave central e é tão pequeno que passa
imperceptível ao olhar desatento. De acordo com Marques:
Não significando exatamente que a capela tenha sido erigida logo no dia seguinte,
nem mesmo no ano seguinte. Mas, vamos abordar um pouco algumas informações importantes.
A capela é fruto de uma ideia vinda de uma irmandade de escravos, por isso o nome “Nª Senhora
do Rosário dos pretos”.
Na cidade de São Luís, por exemplo, os escravos e demais pessoas livres, pobres
ou não, eram sepultadas direto no cemitério do Santa Casa de Misericórdia, Cemitério dos
Passos73, e quando se tratava de morte por uma doença contagiosa, epidemia, entre outras, o
72
Chamada assim por ter em sua base uma irmandade oriunda do meio escravo, homens e mulheres livres, e alguns
brancos. Imagem anexo K página 126.
73
Pelo menos os jornais: Diário do Maranhão; Publicador Maranhense; Nova Epocha e Jornal do Comércio, trazem
suas “estatísticas da cidade” ou “Cadáveres sepultados...”, com o número de falecimentos, causa e condição social,
70
cadáver era sepultado em um cemitério separado das imediações da zona urbana, demonstrando
este caráter de diferenciação que a sociedade impunha aos indivíduos até na hora da morte:
Conforme exposto, a cidade de Caxias por meio de suas igrejas centenárias, viveu
o período cultural dos sepultamentos ad sanctus apud ecclesiam atrelado ao imaginário católico
popular e elitista, que possibilitou vivencias coletivas nas práticas fúnebres, evidenciadas
através de um luto coletivo, mas que, sofreu a transição para a morte silenciosa e individual, e
monumentalização dos túmulos cemiteriais posteriormente. Outro ponto a ser observado é que,
dentro das igrejas já parece existir um processo de secularização através da estética empregada
nas lápides, demonstrando flexibilidade na disciplina interna dos templos católicos quanto a
harmonia da arquitetura dos mesmos e “As covas dentro das igrejas eram anônimas, sendo
proibida a construção de sepulturas que viessem a alterar a arquitetura original dos templos
religiosos” (COE, 2008, p.22). O exemplo da lápide de D. Hortência Rodrigues Villanova,
instituída em 1860, pode servir de ilustração, pois a defunta foi sepultada em 1857, portanto 3
anos antes da lápide ser colocada, possivelmente uma nova:
e apenas observando alguns números desses diferentes jornais o leitor pode notar que os números de sepultados
nos mesmos, em sua grande maioria, paira entre as classes sociais com menos poder aquisitivo e escravos. A título
de sugestão deixa-se o n°28, p.04 de 1858, do Jornal do Comercio.
71
Figura 1: Lápide de João Manoel Bacharias. Igreja de São Benedito. Imagem atual
Figura 3: Lápide do Padre João Joaquim Guimarães. Igreja de São Benedito. Imagem atual
Figura 4: Lápide de D. Antonia Emilia dos Santos Carvalho. Igreja de São Benedito. Imagem atual
Figura 5: Lápide de D. Hortência Rodrigues Villa Nova. Igreja de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual
Figura 6: Lápide de Antonio Rodrigues da Silveira. Igreja de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual
Figura 7: Lápide de Manoel Pinto Ribeiro. Igreja de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual
Figura 8: Lápide de Eusebia Maria da Conceição. Igreja de Nª Senhora do Rosário. Imagem atual
Figura 9: Lápide do capitão Francisco Antonio Antunes. Igreja de Nª Senhora do Rosário. Imagem atual
Figura 10: Lápide de D. Genoveva de Oliveira Pereira. Igreja de Nª Senhora do Rosário. Imagem atual
74
Filho de D. Balduina. A lápide em memória da mãe também menciona o filho.
75
Faleceu em São Luís, mas, de acordo com a lápide dedicada ao mesmo na página 63 figura 07, o filho diz que
seus restos mortais foram trasladados para a cidade e depositados sob essa lápide.
76
Apenas o mencionamos por este ter tido seus restos mortais sepultados também no interior da Igreja com um
túmulo completo de mármore junto com D. Luiz de Andreas, mas ambos são do século XX e XIX,
respectivamente. Anexo F página 118.
77
Possivelmente um parente do comendador João Paulo Dias Carneiro. Assim diz a correspondência: [...] e com
quanto nos conste que é de um desinteresse verdadeiramente evangélico o nosso actual vigário nessa freguezia,
com tudo sabemos que elle acaba de elevar os preços das sepulturas naquella Igreja, e tanto assim é, que tendo
exigido pela sepultura para o Coronel Francisco Dias Carneiro, a quantia de 50$000, exigio pala que se deo ao
cadáver do commendador João Paulo, 100$000!. (A IMPRENSA, 1861, n°14, p.01)
78
COM BASE EM: O Farol (1856 e 1863) e Lápides da Igreja de São Benedito.
78
É dedicado a este falecido um discurso fúnebre no jornal O Farol, 1856, n°205, p.02.
79
É dedicado a este rapaz que faleceu com 13 anos um discurso fúnebre no jornal A imprensa caxiense, 1863,
n°97, p.02.
80
- José Jansem Ferreira, e sua mulher D. Hermelinda da Costa Nunes Ferreira, agradecem e protestão sua gratidão
a todas as pessoas, que se prestarão acompanhar a seu ultimo jazigo, o corpo de seu prezado filho Raimundo
Jansem Ferreira em 8 deste mez, a Igreja de Sam Benedicto desta cidade. Caxias, 12 de Outubro de 1859. (O
FAROL, 1859, n°296, p.04)
79
A verticalização das sepulturas pode ser tomada como um dos aspectos mais
importantes da “monumentalização” dos cemitérios, correspondendo ao impacto concreto mais
visível da secularização da morte no espaço fúnebre, observado como contraponto ao que era
comum até meados do século XIX: sepultamentos no interior e no adro das igrejas, com lápides
de estética disciplinada, de modo a não desarmonizar a arquitetura dos templos religiosos (COE,
2008, p.22).
Desta forma, até meados da segunda metade do século XIX, parte das sepulturas na
cidade de Caxias eram horizontalizadas e outras desconhecidas, que passam nas décadas
subsequentes, com a implantação dos cemitérios eclesiásticos, à verticalização. Os túmulos
mais suntuosos são os que denotam altura em meio aos outros mais baixos, o detalhe da arte e
matéria prima empregadas na construção dos mesmos acrescentam o toque de secularidade
patrimonial já flexível dentro das igrejas por motivos de lucro para as irmandades e párocos
(COE, 2008, p.51).
Assim, este capítulo busca partir dos espaços eclesiásticos em meados da década de
1850, descrevendo sua transição para os cemitérios extramuros entre 1859 e 1865, não deixando
de notar a diferença entre a instituição deste e o processo de secularização do mesmo mais tarde,
pois, de acordo com Franco (2019):
[...] em Caxias (se é verdade o que a pouco se nos contou) tem havido
aproximadamente algumas mortes: nesta Cidade, na rua do Cemiterio foi, não há
seis dias, huma infeliz, e fraca mulher barbaramente assassinada, por um
desmoralizado: na noute do dia 3 do corrente, foi assaltado estando a sua janela o
Tenente Coronel Francisco do Valle Porto, [...] (FAROL MARANHENSE, 1828,
n°02, p.02)
Pela data do jornal, 1828, o cemitério já existia a pelo menos 34 anos, o que revela
a separação em Caxias, até meados de 1862, dos mortos não só concernente ao status social,
conquanto destinava aos falecidos da elite e membros de irmandades os sepultamentos ad
sanctus apud ecclesiam. Ou seja, estes cemitérios eram quase em sua totalidade destinados aos
sepultamentos de indivíduos das camadas sociais menos abastardadas da cidade, mesmo que o
regulamento do cemitério provisório revele que as sepulturas tinham uma hierarquia, preços e,
eram negociadas inclusive pela câmara municipal82, não parece ter prosperado em boas
condições. Destaca o inspetor da província que “Ficou em projecto. Escolheu-se o terreno,
destocou-se, limpou-se, cercou-se de talos de pindova, pou-se-lhe um portão, gastou-se muito
dinheiro, e hoje não existe nem a cerca, nem o portão, e só o terreno coberto de mata-pasto e
outras plantas”. (ALMANAK ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL DA
PROVÍNCIA DO MARANHÃO, 1860, p.308).
81
Fica claro que a necessidade de um cemitério público na cidade de Caxias já se fazia sabida desde pelo menos
a década de 1840, conforme encontramos no jornal Publicador maranhense, de 1843, n°119, p.01.
82
Artigo 20 do regulamento do cemitério, anexo C página 110.
81
Quando, nesta mesma sessão, o Sr. Florencio Manuel de Mattos pedia, que se
votassem para a construcção de um cemitério publico nesta Cidade, a fim de remover
dos templos sagrados a podridão dos cadáveres; quando elle pedia dinheiro para
reparo da igreja da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que está sendo um
escarneo feito ao Culto Divino, quando pedia dinheiro para calçamento de algumas
de nossas ruas, que se acham completamente intransitáveis; essa mesma maioria,
sempre cega e desabrida, sempre recalcitrante e perversa como o genio máo que a
creou, levantou um brado de indignação e de despeito contra o ousado Sr. Mattos, que
se atrevera a fazer uma requisição dos cofres provinciaes, da qual nenhum proveito
lhe poderia resultar, e nem à Camarílha torpe que a arregimentára.
O Cemiterio será quadrado e terá cada face exterior do muro trezentos palmos de
comprimento, nos alicerces trez de grossura e cinco de profundidade, nos pés direitos
dez de altura, e dous de grossura. No centro da face da frente colloca-se-há hum portão
de grades de ferro de quinze palmos de altura e oito de largura da forma indicada pela
planta, formado lateralmente por duas columnas de cantaria de dezoito palmos de
altura e quatro de lado no socco, e trez e meio na pilastra. De huma parte e d’outra
destas columnas assentar-se-hão duas janellas de grades de ferro pelo modo e com as
dimensões da planta isto he sete palmos de altura e cinco de largura. Ao lado de cada
huma destas janellas, e bem assima em cada hum dos ângulos do Cemiterio, colocar-
se-há huma columna de onze palmos e hum quarto de lado no socco e dous e meio na
pilastra. O interior do Cemiterio compor-se-há de quatro compartimentos symetricos,
como indica a planta, correspondendo àos quatro ângulos do Cemiterio, separados
huns dos outros po duas ruas perpendiculares entre si e parallelas àos muros exteriores.
Estas ruas terão trinta palmos de largura, sendo quinze de calçada e quinze de passeios
destribuídos por metades para cada lado das ruas. No ponto de seo encontro formarão
hum circulo de cincoenta palmos de raio, cujo centro será occupado pela Capella do
83
A professora e pesquisadora Cláudia Rodrigues em Os espaços dos mortos nas cidades dos vivos, aborda muito
bem os detalhes que margeiam uma reformulação urbana na capital imperial (Rio de Janeiro) recorrendo desde
uma historiografia do sanitarismo e das doenças, até os aspectos ideológicos que transitavam o pensamento da
medicina brasileira deste período entre 1840 e 1860, dentre os quais, a separação entre os vivos e os mortos.
82
Cemiterio. Cada hum dos compartimentos terá duas entradas de sete palmos de
largura, hum em cada huma das ruas que o limitem. Os muros interiores terão trez e
meio palmos de profundidade e dous e meio de altura e hum e meio de grossura nos
pes direitos. A Capella será edificada bem no centro do circulo de encontro das ruas,
terá trinta e quatro palmos de comprimento e vinte e cinco de largura exteriormente.
O seo comprimento ficará perpendicular ao muro de entrada, e a porta principal
defronte do portão deste muro. As paredes lateraes deste edifício terão vinte dous e
meios palmos de altura, cinco de profundidade e trez e meio de grossura nos alicerces.
Os vértices dos triângulos das paredes da frente, do correr de traz e do meio collocar-
se-hão a trinta palmos a cima do solo.
As dimensões destas paredes nos alicerces, e bem assim a grossura delas nos pes
direitos serão as mesmas que nas paredes lateraes. O cubículo, indicado na planta por
traz da Capella para arrecadação dos objetos indispensáveis á celebração dos offícios
fúnebres, terá de comprimento vinte e cinco palmos, de largura dez, e será disposto
de modo que a primeira destas dimensões fique no sentido da largura da Capella.
Todas as paredes serão de pedra e cal. A pedra será da melhor que houver a exclusão
da q’ em Cachias se denomina cabeça de jacaré. Evitar-se-há quando for possível o
emprego de matacões lavando-se convenientemente as pedras. Na construcção ellas
se amarrarão perfeitamente humas com outras, ficando sempre hum vão de frente de
hum cheio e o tição perpendicular a face da parede.
O orçamento inicial da obra estava previsto em 14:000$000 réis, com dispêndio por
parte do governo em 6:000$000 (PUBLICADOR MARANHENSE, 1851, n°1163, p.01),
portanto menos da metade do valor total, e levando-se em conta que obra seria levada a cabo
por uma companhia particular estes valores parecem não ter agradado muitos os possíveis
interessados, motivo pelo qual o cemitério ficou no “projeto”.
O atraso nas obras provoca críticas na imprensa. Diz O Farol que Assim então “De
novo nos asseguram que o Sr. Comandante superior por causa do memorável cemitério de
Caxias, esta resolvendo a ir deitar perolas pela boca [...]” (O FAROL, 1851, n°71, p.01) e, em
mais uma correspondência, com autor que usa possivelmente o pseudónimo João Saboroso ao
seu compadre José Dependurado, a construção do cemitério é incerta “Sobre o que você
pergunta da obra do cemitério, inda p’ra mim é um mistério: não sei se a arrematação está
cantractada ou não” (O FAROL, 1854, n°162, p.02).
83
A Camara Municipal, vai pôr esta obra em hasta publica, e estamos convencidos que
inda desta vez não achará licitadores: bastante tem sofrido os Caxienses deste barriga
Inspector! (O FAROL, 1856, n°201, p.02)
O jornal O Publicador maranhense (1856) aponta o que seria a causa mais precisa
do atraso nas obras do cemitério. Ao transcrever um ofício da câmara municipal de Caxias, o
periódico expõe que “no dia designado para sua arrematação, não concorreram licitantes;”
(n°66, p.01).
A inhumações na Ponte
Já por mais de uma vez temos reclamado contra o enterrado de cadáveres em frente
ao morro de S. Antonio, na Ponte, por ser o local improprio para cemitério (grifo
nosso), por estar muito perto do riacho e de casas já edificadas (grifo nosso) e que
continuam a edificar-se por ali.
[...]
Enfim, os cemitérios acabam sendo incorporados ao ceio social e o que antes era
feito dentro, ao lado ou na porta das igrejas passa a ter lugar separado, longe da cidade, com
regulamento, cuidado pelas autoridades públicas e pelas irmandades que manterão a relação
comercial das sepulturas. Dessa forma, as necrópoles caxienses reafirmariam a diferenciação
social dos sepultamentos de maneira quase idêntica na utilização dos espaços cemiteriais para
preservação das hierarquias eclesiásticas, antes observadas dentro dos templos religiosos:
Na Capela, além dos ofícios fúnebres, era possível sepultar padres e membros da
elite, mantendo uma espécie de continuidade da prática do sepultamento ad sanctus apud
ecclesiam em um contexto espacial diferente. No cemitério de São Benedito e de Nª Senhora
dos Remedios, por exemplo, existem estes traços culturais em suas respectivas capelas.
Cemitérios públicos
Quando Caxias ganha seus dois primeiros cemitérios eclesiásticos, por volta de
1862, a cidade de São Luís, capital da província, já tinha pelo menos 5 cemitérios84, não
significando, porém, que as práticas de sepultamentos nas igrejas desta cidade já fossem
totalmente abolidas, senão com fiscalização mais rigorosa:
84
Além do cemitério da Santa Casa de Misericórdia, tinha o dos Passos, cemitério Inglês e, cemitério do Gavião.
85
Dessa forma, nota-se que parte da elite não estava muito satisfeita com os
sepultamentos ad sanctus apud ecclesiam. O medo de doenças “infectocontagiosas” e,
“epidemias”, como a de febre amarela e cólera, assolava o núcleo urbano da cidade, a exemplo
do que se tratou no capítulo 3 deste trabalho. A correspondência no jornal O Farol (1854, n°156,
p.01) elenca o mau cuidado dos responsáveis pela preservação das sepulturas e do ambiente,
não observando precauções sanitárias de encerramento das covas e abertura das mesmas fora
do tempo estimado em dois anos.
85
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província Do Maranhão, 1860, p.308.
86
Nos fins do século XIX nota-se uma efervescência do culto à memória dos mortos,
já iniciado e massificado no meio civil através do culto público do dia de finados realizado
pelas irmandades nas capelas cemiteriais de seus respectivos cemitérios. A especialização nos
serviços de decoração e gravura em lápides ganha fôlego e começa a aparecer nos periódicos:
LARGO DA MATRIZ
José Pedro da Silva gravador em lapidas para sepulturas, em madeira, & pode ser
procurado para os serviços concernentes à sua arte no Pé da Ladeira da Cruz.
- A Semana por tanto, cobre-se de galas para sauda-lo – e atirar-lhe na estrada da vida
um punhal de flores – alentadas no cruel da mais sincera gratidão.
87
Os filhos do Dr. Francisco Dias Carneiro leram em um dos jornaes que se pupblicam
na cidade de Caxias, que V. S. aventou a idéa de abrir ahi uma publica subscripção,
afim de ser erigido no cemitério dessa cidade um mausoléo ou túmulo condigno
que perpetue a memoria do nosso falecido Pae. (JORNAL DE CAXIAS, 1897,
n°64, p.01, grifo nosso)
O CEMITÉRIO CIVIL
Art. 2°. Logo que esteja o referido cemitério construído, serão fechados os das
irmandades de N. S. dos Remedios e de S. Benedicto.
Art. 3°. O Intendente formulará uma tabella de preço das sepulturas do cemitério
municipal, e devendo submete-la a approvação da Camara, em sua primeira reunião
ou em outra para esse fim convocada.
O cortejo fúnebre civil é outro aspecto da morte secularizada e do culto aos mortos.
Por exemplo, o cortejo de Maura Pedreira de 13 anos, cujo corpo chegou de Teresina onde
estava em tratamento por conta de uma doença, veio para Caxias com os pais e demais
familiares e, foi recebido por “numerosíssimas pessoas de ambos os sexos” (JORNAL DE
CAXIAS, 1899, n°198, p.01), sendo conduzido o cadáver já no caixão a “pulso” até a casa de
D. Maria José de Moura Betencourt, ou seja, não foi levado à Igreja, e seu caixão foi feito sob
encomenda. Assim diz:
Dali foi conduzido, o caixão a pulso, por amigos do sr. Pedreira, até a casa da exm.ª
srª. D. Maria José de Moura Bitencourt, d’onde seguio as 6 horas da tarde para o
cemitério dos Remedios, com grande acompanhamento, sendo o caixão preparado
ricamente pelo hábil artista sr. A. Campos. (JORNAL DE CAXIAS, 1899, n°198,
p.01)
Desta forma, diante das informações até aqui apresentadas e discutidas, ressalta-se
que entre as décadas de 1850 e 1870 a cidade de Caxias vivenciou um período literário da morte
“dramatizada” influenciada pelo romantismo oitocentista, mas, ao mesmo tempo, parte da elite
reveste-se dos discursos médico-científico e higienista para criticar e exigir uma mudança nos
hábitos sociais e religiosos, este último ponto, evidenciado no apelo à interrupção dos
sepultamentos no interior e entorno das igrejas e, por fim, promove a secularização das
sepulturas eclesiásticas através da instituição de lápides mais suntuosas e construção de
mausoléus nos cemitérios como guarda de memória. Entre 1880 e 1900 a cidade vivencia um
período de secularização do espaço cemiterial a céu aberto e as práticas fúnebres de culto civil
aos mortos, com o corpo sendo velado em casa para depois partir rumo ao cemitério em grande
acompanhamento.
86
Primeiro bispo da cidade de Caxias, que tomou posse em 1940, e hoje está sepultado na Igreja Catedral (Nª
Senhora dos Remédios).
89
do recinto da cidade, e no logar designado pela câmara respectiva, de accordo com o Exm.
Bispo dioceses” (COLEÇÃO DE LEIS, DECRETOS E REGULAMENTOS DA PROVÍNCIA
DO MARANHÃO, 1858, p.40), tratando-se, portanto, de um cemitério eclesiástico.
Foi terminada sua construção por volta de 1862, e ampliado no século XX. A
escassa relação de fontes concernentes ao próprio cemitério, como regulamento e planta,
impossibilita muitas análises, tendo que liga-lo à história da Igreja de São Bendito e à
irmandade.
87
Atualmente ambos os cemitérios apresentam o formato geométrico retangular, e a capela fica ao centro, o que
se pode inferir pela expansão dos terrenos exatamente na parte de trás de cada capela. Isso ficará melhor mostrado
nas fotografias que serão inseridas adiante.
88
Chegou a ser prefeito da cidade durante 1978 a 1983.
89
O túmulo fica nos limites da área original do cemitério e está deteriorado.
90
Figura 12: Mausoléu do fim do século XIX no cemitério São Benedito. Sem identificação. Imagem atual
Figura 13: Mausoléu decorado externamente com pedras de granito. Dentro, um crucifixo médio e o teto semelhante ao de
uma capela. Imagem atual
Figura 14: Vista frontal interna do lado direito do sentido ao interior do cemitério São Benedito. Ao fundo pode-se notar o
topo da Capela cemiterial. Imagem atual
Figura 15: Rua central do cemitério São Benedito sentido a Capela. Do lado esquerdo dois mausoléus modernos. Imagem
atual
Figura 16: Túmulos com cruzes e oratório no cemitério São Benedito. Imagem atual
Figura 19: Túmulo do século XIX pertencente à família Cruz no Cemitério de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual
Figura 20: Túmulo do século XIX no cemitério de Nª Senhora dos Remedios. Imagem atual
Figura 21: Cruz do cemitério de Nª Senhora dos Remedios e, desfocado ao fundo o Anjo espreme-limão. Imagem atual
Figura 22: Vista diagonal, sentido interior para a frente do cemitério de Nª Senhora dos Remédios com enfoque nos túmulos
paralélos à lateral da Capéla Cemiterial. Imagem atual
Figura 23: Túmulos do interior da Capela cemiterial de Nª Senhora dos Remedios, ao todo 6 túmulos. Imagem atual
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Caxias, como ficou demonstrado, viveu o período dos sepultamentos
eclesiásticos ad sanctus apud ecclesiam até os fins da primeira metade do século XIX e parte
da década de 1860. A sociedade caxiense estava por este período, imersa nas concepções
religiosas que ditavam as maneiras de se fazer e se proceder diante de um velório e se portar
em relação à morte de outra pessoa, evidenciadas nos testamentos e chamadas para
cumprimento destes, nos periódicos locais e discursos fúnebres, pelos quais nos foi acessível a
prática do luto compartilhado ou coletivo e da morte dramatizada.
Os óbitos dos fins do século XIX ajudaram a perceber que o rito continuava, pelo
menos na região correspondente à Tresidela, a serem feitos dentro da Igreja, mas a flexibilidade
conseguida mediante institucionalização das concepções médicas na sociedade, fez com que o
culto aos mortos e seus ritos passassem a serem feitos nas Capelas cemiteriais, construídas para
este fim.
Outro fator da modificação das práticas fúnebres em Caxias pode ser visto no caso
da jovem Maura Pedreira, falecida aos 13 anos. Ela teve seu corpo preparado em um Hospital
na capital do Piauí, Teresina, ou seja, o cuidado com o corpo do morto foi entregue ao ambiente
médico especializado para este fim, é a terceirização de parte dos chamados “ritos fúnebres
domésticos” (REIS, 1991, p.116). A instituição dos cemitérios oficiais eclesiásticos, por tanto,
foi motivada pela pressão da elite local fundamentada nas concepções médicas, que
compartilhava vertentes convergentes e divergentes em suas teorias, como higienistas e
infeccionistas. A existência de cemitérios periféricos denota as diferenças entre o destino mais
comum das elites e das classes mais pobres entre 1850 e 1870, principalmente escrava.
instituição dos lugares dos mortos descolados das igrejas e seu entorno, assim como, a
institucionalização do discurso médico nas práticas sociais que antes eram normatizadas pela
religiosidade. Os problemas que decorrem do modelo tido como antigo, arcaico e anti-civilizado
de sociedade tomam forma geralmente em crises de larga escala. Deste modo, os surtos
epidêmicos e infecções, locais e regionais, motivaram a gradativa desagregação de algumas
práticas socialmente institucionalizadas na cidade.
O discurso médico-científico passa a ser propagado pelas elites locais através dos
jornais e institucionalizado mediante decretos de leis, códigos de posturas, compromissos das
irmandades e concretizado na separação dos lugares de inumação de cadáveres dos ambientes
de convivência e socialização dos vivos. Os cemitérios eclesiásticos de São Benedito e Nª
Senhora dos Remedios surgem como expoentes oficiais destas novas práticas, mas refletem a
transposição das hierarquias dos sepultamentos ad sanctus apud ecclesiam das igrejas para os
cemitérios a céu aberto e descolados dos templos religiosos.
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- E este o com que falleceu o major Alexandre Bernardo Siqueira, aberto pelo juízo da provedoria dos
resíduos e capelas, desta capital, no dia 20 do corrente.
Eu Alexandre Bernardo de Siqueira, achando-me doente, mas em meu perfeito juízo e entendimento,
temendo a morte pela incertesa da hora, faço o presente testamento contendo as disposições da minha
livre e espomntanea vontade para terem legal execução depois do meu fallecimento.
Sou súbdito brasileiro, nascido e baptisado na cidade de Caxias, filho legítimo do Sr. Joaquim de
Siqueira Almeida Loureiro e de sua mulher a senhora D. Quiteria Joaquina Feijó de Siqueira naturaes
do reino de Portugal, e ambos já fallecidos.
Declaro que apenas tive um irmão e uma irmã; esta morreu solteira e aquelle casou, e poucos mezes
depois falleceu ab intestato em Pernambuco, dem deixar descendência.
Declaro que sou solteiro, e que não tenho filhos naturaes, nem adoptivos. Nada devo, e se por accaso
dever será cousa tão insignificante que por isso mesmo não me lembro. Tambem não sou depositário de
bens públicos, ou particulares, nem estou compromettido com fiador de pessoa alguma.
Declaro que a sr. Viúva de meo irmão, devidamente representada por seu segundo marido, remetti de
Lisbôa e ella recebeo em Pernambuco, em dinheiro descontado, a importância integral do quinhão que
lhe coube em partilha amigável, como herdeira da meação da legitima materna do meo irmão, seo
primeiro marido, como tudo consta da escriptura de quitação que me passou.
Declaro tambem que durante a minha vida commercial, nesta província, e ultimamente no decurso da
minha longa estada em Portugal, tratei de vários negócios judiciaes pertencentes a diversas pessoas
residentes n’este império, dos quaes negócios prestei contas em seus respectivos tempos, ficando salvo
e quite com todos os meos committentes.
Declaro mais que a minha singela escripturação _________clara e modesta fortuna que Deus foi servido
confiar-me, está quasi liquidada, consistindo actualmente em apólices geraes de seis por cento em
dinheiro à minha disposição em poder dos srs. Delfim Guimarães e C., desta cidade, vencendo tambem
o juro de seis por cento o restante em letras e obrigações a receber , alem dos escravos meus serventes
e moveis do meo uso: qualquer alteração que houver na collocação actual d’estes fundos, constaria dos
meus assentos.
Portanto, à vista do que tenho fielmente exposto e declarado, considero-me em circunstancias de poder
livremente e dispor do que é meo como as leis permittem, e o faço do modo seguinte:
Quero que quando fallecer seja o meo corpo sepultado sem pompa, n’uma catacumba do cemitério mais
próximo à minha parochia, cujo parocho dirá por minha alma uma missa de corpo presente, fazendo-se
em devido tempo a trasladação dos meos restos mortaes para um carneiro, ou catacumba na egreja de
Santo Antonio, ou em outra qualquer que as venda, e quero que no acto desta trasladação o meo
testamento mande celebrar por minha alma os officios fúnebres, segundo o ritual da egreja, mandando
dizer logo em seguida ao meo falecimento, cinco capellas de missas, sendo três pelas almas de meo pae,
de minha mãe e de meos irmãos, e, finalmente dusa pela minha alma.
Deixo a quantia de 100$ reis para ser distribuída em esmolas de dous mil reis, á 50 pobres mendigos
que se apresentarem a pedi-las no dia do meo enterro.
Deixo 500$ rs., sendo 200$ rs., para o recolhimento de N. S. da Annunciação e Remedios, e 300$ rs.,
para as obras da egreja de Santo Antonio d’esta cidade.
Deixo 1:000$ rs., sendo 200$ rs., para a illuminação da capella do altar do Santissimo Sacramento da
Matriz da conceição da cidade de Caxias, e 200$ rs., para cada uma das seguintes quatro egrejas –
Conceição, Rosario, S. Benedito e Remedios – todas d’aquela mesma cidade, ficando assim completa a
presente verba.
106
Por especial devoção que consagor ao Senhor Bom Jesus de Mathosinhos, nas vizinhanças da cidade do
Porto, e ao Senhor Bom Jesus do monte, em Braga, reino de Portugal, deixo três arrobas de cêra, ou o
seo equivalente em dinheiro para o culto de cada uma das referidas Santissimas imagens.
Deixo 200$ ., a cada um dos seguintes meos afilhados – D. Maria Aurora, filha legitima do sr. Raimundo
Pereira da Fonseca, morador em Caxias, e João Alexandre, filho legitimo do sr. Major João Antonio
Vaz Portella, morador n’esta cidade.
Deixo 2:000$ reis, á minha afilhada D. Maria Alexandrina Palmira, esposa do sr. Lourenço Leite Bastos,
morador nesta cidade, e no caso de não sobreviver-me quero que este legado reverta á sua filha, tambem
minha, D. Maria das Neves.
Deixo ao meo bom amigo sr. Major Antonio Justiniano de Miranda, o meo relógio de ouro com
trancelim e sinetes do mesmo metal, e os demais seguintes moveis de meo uso: - uma bengala de canna
da India com castão de outro lavrado, - uma secretaria de cedro polido com gavetas – uma estante
envidraçada com todos os livros de leitura que contem – um guarda roupa de cedro polido, e dou-me
por pago da quantia que está a dever-me em conta antiga particular como consta dos meos assentos.
De tudo quanto actualmente possuo, nada preso e venero tanto como o meo santuário com as sete
belíssimas imagens e ornamentos que encerrão, e é por essa razão que deixo e muito recomendo á sra.
D. Rita Joaquina Marques, esposa do meo amigo particular sr. Dr. Cezar Augusto Marques, a quem me
confesso muitíssimo grato pelo zelo e cuidado com que tem me tratado como medico assistente.
Cumpre-me declarar que a urna ou commoda a quem serve de poanha ao dito Santuaria, faz parte
componente do mesmo.
Deixo 1:000 $ rs., á menina D. Philomena, filha legitima do meo prestimoso amigo Pedro de Souza
Guimarães, e de sua esposa a sra. D. Maria Basilia de Freitas Guimarães, para ser por seo pae a dita
quantia empregada como melhor convier aos interesses da jovem legatária, e se esta não sobreviver-me,
será o mesmo legado dividido igualmente por todos os seos irmãos, filhos do dito sr. Pedro de Souza
Guimarães, havidos do seo consorcio com a referida senhora D. Maria, para os fins já mencionados.
Deixo 1:000 rs., á meo primo Victorino Feijó Brabo, morador da villa da Chapada, ou de Santa Cruz da
Barra do Corda, no interior d’esta província.
Deixo 1:000$ rs., a meo primo Antonio Guimarães d’Almeida Azevedo, recém vindo de Portugal para
esta cidade, aonde se acha empregado no armazém do seo tio o sr. João d’Almeida Azevedo.
A meo primo José Antonio Alves Junior, morador em Caxias, dou plena quitação da quantia que está a
dever-me, como consta d’uma obrigação existente na minha carteira.
Deixo 2:00$000 rs., á minha ex-cunhada srª. D. Carlota Emilia Carneiro da Cunha, residente em
Pernambuco; e no caso de não sobreviver-me quero que este legado reverta em favor da srª. D. Francisca
Benedicta Pereira Lapa, moradora n’esta cidade, em companhia de seos irmãos.
Deixo 3:000$000 rs., á minha prima srª. D. Maria José de Quadros Sequeira, filha legitima de meo
fallecido tio paterno sr. Dr. José Sequeira Seixas Cardoso Barros, morador, quando vivo, na sua quinta
de Couto d’Esteves, conselho de Séver do Vouga, distrito de Aveiro no reino de Portugal; e no caso da
legatária não sobreviver-me, quero que este legado reverta em beneficio das nossas primas, filhas
legitimas do fallecido sr. Dr. José Simões Couceiro, moradores em Souto de Lafões, conselho de
Oliveira de Frades, em companhia de seo irmão José Cerveira Cabral, a quem dou plena quitação da
quantia que está a dever-me constante de uma escriptura passada na cidade do Porto, hypothecando-me
a sua quinta denominada – Abraveses – conselho Vizeu.
Tendo eu há quatro annos, alforriado em louvor do Glorioso Sam Benedicto, a mulatinha Eponina
Celeste, filha de minha escrava Antonia Cafusa, e desejando acautellar o seo futuro, contra as incertesas
da sorte, deixo-lhes por uma só vez, a esmola de 1:000$000 rs., cuja quantia será pelo meo testamento,
empregada em acções do banco, das quaes acções, assim como dos seos rendimentos só poderá a
legatária tomar conta, e dispor como propriedade sua, depois que casar, ou atingir a sua maior idade,
tudo comprevio consentimento do seo tutor, e auctorisação do sr. Juiz dos órfãos, e no caso deste legado
não sobreviver-me quero que este legado reverta aos meos herdeiros.
107
Deixo mais á dita Eponina Celeste, para seo uso e a minha marqueza de angico, com os competentes
clchões, e travesseiros, e cobertas de chitas finas, e uma das minhas commodas, á sua escolha, para lhe
servir de guarda roupa.
A minha patrícia srª. D. Benedita Amada, esposa do sr. Gervasio Vieira de Souza, deixo 2000:$000 rs.,
por uma vez somente, para auxilia-la nas despesas que tem a fazer com a entrada de sua filha Adalgiza
para um collegio de educação.
Deixo por uma vez somente esmola de 100$000 rs., a cada uma das seguintes senhoras. D. Maria
Francisca de Lima, e Monica Maria da Conceição, ambas moradoras nesta cidade.
Deixo a esmola de 30$000 rs., ao velho Antonio Lisbôa, para tratamento de sua filhinha doente.
Deixo a meo primo Joaquim Feijó Brabo, o uso fructo dos serviços do meo escravo Julio, por espaço de
quatro annos consecutivos a contar desde o dia do meo falecimento, pois que preenchido esse tempo
poderá o dito escravo gozar de liberdade como forro e livre que ficará sendo desde então para sempre,
com a condição de fazer companhia à sua mão, e de prestar-lhe todos os serviços que poder.
Declaro que sendo eu um dos quatro herdeiros de meo tio materno o sr. Victoriano Gomes Feijó,
fallecido abintestato em Caxias, há mais de trinta annos, fiquei de acordo com os mais interessados, com
o escravo Miguel, pela quantia de 600$ rs., moeda corrente, em pagamento das despesas dos nossos
direitos de sucessão quando disputado pelo sr. Emiliano Ferreira da Silva, e sua mulher, ficando todavia
intactos, e em seo inteiro vigor os direitos dos ditos quatro herdeiros, os quaes direitos, pela parte, cedo
e transfiro a minha prima d. Antonia Feijó, para d’elles usar em seo proveito ou no de seos herdeiros,
como sempre prometti, e agora confirmo.
E’ muito de minha vontade que a decima dos legados constantes do presente testamento a partir do valor
de 30$ rs até 1:000$ rs., inclusive seja paga à minha custa, pois quero que os respectivos legatários
recebam integralmente as quantias que lhes deixo.
Em quanto não forem plenamente cumpridas todas as disposições contidas neste meo testamento, não
será permitido aos legatários acima designados, transferir, vender ou negociar de qualquer modo que
seja, os direitos que lhes competem em virtude destas minhas disposições testamentarias sob pena de
perder em favor da Santa Casa da Mizericordia desta cidade, o seo respectivo legado aquelle que o
contrario fizer.
Esta mesma condição é igualmente extensiva aos meos herdeiros, e por isso julgo conveniente que os
interessados tenhão dela conhecimento para não allegarem ignorância.
Declaro que por meo fallecimento ficam forros e livres do captiveiro os meos escravos – Miguel e
Francisco, ambos africanos e já velhos. Em attenção aos bons serviços que o dito Francisco me tem
prestado, especialmente depois que tive a infelicidade de ficar paralytico, deixo-lhe a diária de 240 rs,
para seo sustento, a contar do dia do meo fallecimento, até que elle possa trabalhar, e viver á sua custa.
Quanto ao escravo Miguel, que tem estado em Caxias desde que fui para a Europa, limito-me a
recomendá-lo á protecção dos meos herdeiros.
Por meo fallecimento ficam igualmente forras e livres do captiveiro as minhas escravas Antonia Cafuza,
e Jovina, mulata e lhes recommendo que aproveitem o melhoramento da sua actual condicção pessoal
para formarem os eos constumes, tornando-se mais morigeradas, e serviçais do que teem sido como
minhas escravas, serventes: guiado por estes sentimentos de caridade christão, deixo a cada uma destas
escravas por uma só vez, a esmola de 50$ rs., para principiarem a sua vida, e deixo-lhes mais os
utensíllios de cozinha e alouça do meo uso com que se achão na vidraceira da varanda e a minha afilhada
d. Maria Alexandrina, conjunctamente a minha patrícia, d. Bendicta Almada, se estas senhoras
precisarem de alguns delles.
Declaro que logo depois de minha chagada a Europa, alforriei gratuitamente o rapazinho Roque, filho
de minha escrava Jovina, como consta de uma carta de liberdade que passei, e entreguei á srª d. Candida
Lapa, sua generosa protectora.
108
Fica desde já sem effeito o meo testamento de 15 de agosto de 1863, approvado pelo tabellião Antoni
d’Abranches Coelho, assim como fica inteiramente revogado para sempre o meo testamento de 05 de
agosto de 1870, approvado n’esta cidade em 29 do dito mez e anno pelo tabellião Saturnino Bello.
Depois de satisfeitas todas as disposições contidas neste meo testamento, quero determinar que a
importância total dos meos remanescentes seja dividida em duas metades iguaes, a sber: d’uma dessas
metades instituo herdeiros as minhas primas, senhoras D. Umbelina, D. Aurora (filhas legitimas do sr.
José Antonio Alves negociante em Caxias)) e a ______filha mais velha de seo irmão, nascida do seu
consorcio co a fallecida senhora D. Maria Martins Viana, e da outra metade são herdeiros os meos
primos Joaquim Feijó, José Feijó Brabo, e sua irmã a senhora D. Antonia Feijó todos moradores na
comarca de Caxias, se algum dos meos herdeiros – Feijós – sobreviver-me, nem por isso o que, ou os
que ficarem existindo deixará de receber por inteiro a herança que lhes deixo, observando-se a mesma
regra a respeito das minhas primas senhoras D. Umbelina e D. Aurora, com sua sobrinha e filha mais
velha do senhora José Antonio Alves Junir.
Aos dito meos herdeiros peço o favor de prestarem a sua caridosa protecção á mulatinha Eponina
Celeste, fazendo tudo quanto lhes for possível para que ella acabe de aprender as primeiras letras e
possuir todas as prendas próprias do sexo, pois que tendo-a eu criado como se fora filha minha, sendo
apenas minha protegida, muito desejo que ella proceda bem para poder ser feliz neste mundo em que a
deixo creança, pobre e sem amparo. Deos a proteja.
Instituo por meo testamenteiro n’esta cidade, em primeiro logar o sr. Delfim da Silva Guimarães, se ao
tempo do meo fallecimento já tiver regressado de Portugal – em 2° logar o sr. Major Antonio Justiniano
de Miranda – em terceiro o sr. José Joaquim Pereira dos Santos – e finalmente em quarto logar o sr.
Antonio Marcolino Campos Costa, todos moradores n’esta cidade, os quaes hei por abonados
independente de prestação de fiança alguma, e aquelle dos ditos srs. que dignar-se a acceitar a regência
d’este meo testamento segundo a ordem de sua nomeação, rogo que cumpra e faça cumprir todas as
disposições aqui contidas, para cujo fim lhe confiro e outorgo todos os poderes em direitos necessários,
assim como para receber, e administrar tudo quanto me pertencer, por cujo trabalho receberá comissão
concedida pela lei.
Marco para a residência deste meo testamento o praso de dous annos, contados do dia da sua aceitação;
mas se este praso fôr insuficiente, terá o mesmo testamenteiro mais um anno para prestar suas contas.
Por esta forma tenho concluído este meo testamento, com as disposições de minha ultima vontade, e
suplico ás justiças de sua majestade o imperador, que se sirvão dar-lhe o cumprimento, pois quero que
somente este tenha toda a validade tanto em juízo como fora delle, revogando, como já declarei, outro
qualquer – sedula – ou codicillo, que anteriormente tenha feito.
Impossibilitado de escrever por estar paralythico, pedi ao sr. Theodoro José da Silva Bessa, que este por
mim escrevesse o qual vai por mim assignado depois de o lêr, e achar em tudo conforme ao que eu havia
dictado. – Maranhão, 18 de Setembro de 1874. – Alexandre Bernardo de Siqueira. – como facto rogo
do testador . – Theodoro José da Silva Bessa.
FONTE: (DIÁRIO DO MARANHÃO, 1879, n°1913)
109
Em nome de Deos – Amem – Eu João de Sá achando-me em meu perfeito juiso e entendimento que
Deos Nosso Senhor foi servido dar-me, e não sabendo o dia e a hora em que terei de ser chamado ao
Tribunal do Altissimo, faço este meo testamento e disposição da ultima vontade –
Verba primeira – Declaro em primeiro lugar que professo a Religião Catholica Apostolica Romana, em
cuja crença e fé sempre vivi, e desejo morrer, sou natural do reino de Portugal, da comarca da Freira, e
sou filho legitimo de Anna Dias já fallecida, e não declaro o nome de meo pai, por eu apenas de cinco
ou seis mezes de nascido, e sahido de casa ainda de menor idade para hir aprender o officio de ferreiro
na cidade do Porto, e depois vindo para o Brasil, nunca me ocorreu indagar o seo nome: outro sim
declaro que sou brasileiro adoptivo e que sempre vivi no estado de solteiro, e porque meos pais já
fallecidos, e eu não tenha herdeiros descendentes, passo a dispor de todos os meos bens pela forma
seguinte –
Verba segunda – Declaro e he minha vontade que sejão meos testamenteiros em primeiro logar Frederico
Augusto Saldanha, em segundo Pedro Miguel de Aleancara Coelho, em terceiro a todos elles peço, e a
cada um, em particular que sirvão fazer-me a esmola de aceitarem e cumprirem esta minha
testamentaria.
Verba terceira – Deixo a esmola de cem mil reis moeda corrente para ajuda da construção da igreja de
Nossa Senhora da Piedade desta villa de Coroatá, cuja quantia será entregue a quem de direito competir,
quando a obra tenha seo devido andamento.
Verba quarta – Deixo mais a quantia de cincoenta mil reis moeda corrente a José da Silva Raposo, em
attenção a amisade que sempre me teve, e ser um moço pobre e muito doente, e bem comportado.
Verba quinta – Declaro que o restante dos meos bens, dedusidos todas as dispesas e legados, será
dividido em trez partes iguaes, a primeira destas trez partes instituo por herdeiro a minha afilhada Maria,
filha de Eufrasia Maria da Conceição, da segunda parte dos meos bens será herdeira Marcelina Rosa
Rabello, em attenção a muita amizade e bons serviços que sempre me prestou; e da terceira e ultima
parte dos ditos meos bens serão herdeiros o menino Germano filho de Anna Francisca de Souza, e João
Paulo da Silva Cardozo, dividindo-se em ambos com igualdade de direito, e cada um dos ditos meos
quatro herdeiros instituídos, mandarão diser seis missas, sendo trez por alma de meos pais, e trez pela
minha alma, cada uma das esmollas de seicentos e quarenta reis.
Verba sexta – Declaro que tenho contas de dever e há de haver com Augusto José de Macedo e Britto,
e que este tem em seo poder saldo a meo favor, como melhor se verá dos meos papeis: bem assim me
he devedor de não pequena quantia o padre José Mauricio Rodrigues de Araujo, e tanto esta divida,
como outras mais que se me devem, constão de meos papeis, e de um termo de conciliação havido entre
mim e o dito padre.
Verba sétima – Declaro que meo enterro será feito á contento de meo testamenteiro.
E por esta forma, hei por findo este meo testamento e declaração de ultima vontade, e peço a justiça de
Sua Majestade Imperial lhe queirão dar todo devido cumprimento, por eu o achar conforme, e segundo
ditado havia, depois de ouvir ler, e por não saber escrever se não só o meo nome, pedi ao tabelião interino
Joaquim Pereira dos Santos Queiroz a meo rogo escrevesse, e no qual tão somente me assigno. Villa de
Nossa Senhora da Piedade do Coroatá, vinte e dois de março de mil oitocentos e cincoenta.
FONTE: (A IMPRENSA, 1861, p.03)
110
Artigo 1°. A Camara nomeará um empregado que tenha a seo cargo a administração deste
estabelecimento, com o titulo de Zelador, recebendo o ordenado de cento e cincoenta mil reis annuaes,
pagos pela Camara, e duzentos reis de risco de cada sepultura, pagos pelos encarregados dos enterros.
Artigo 2°. As sepulturas devem ter sete palmos de profundidade, nove de comprimento e três de largura;
devendo ter entre uma e outra sepultura o intervallo de um e meio palmo, e para que possa regular-se o
sepultamento haverá um quadro de madeira com as dimensões que ficão ditas, e uma escala para medir
a profundidade, largura e intervallo.
Artigo 3°. As sepulturas para Anjos menores de sete annos, seguirão o mesmo alinhamento, com cinco
palmos de profundidade, e dois de largura, e o mesmo intervallo, o cumprimento será regulado pelo
cadáver; pagarão pelas sepulturas o mesmo que pagão os menores de sete annos, e os duzentos reis de
risco.
Artigo 4°. Quando o caixão ou cadáver for lançado na sepultura, os serventes do Cemiterio farão descer
sobre as cordas ou cintas, com decencia e respeito, lançando-lhe depois três palmos de terra em cima,
fazendo então o primeiro socamento, aos seis palmos o segundo, chegando-lhe depois toda a terra para
cima até ficar nivelado com o terreno.
Artigo 5°. Na cabeceira de cada sepultura será collocada uma pedra enterrada ao alto com o numero da
sepultura, paga pelo encarregado do enterro, e que o Zelador conservará sempre em bom estado, para
saber-se na ordem da numeração com a do livro competente, quem alli foi sepultado.
Artigo 6°. As sepulturas serão abertas em seo cumprimento de Nascente a Poente, terão começo do lado
do Norte alinhadas até o fundo da cerea, pelo modo que dipto nos artigos anteriores, e quando se ache
esta linha occupada, voltará seguindo a linha na mesma direcção, estas sepulturas serão consideradas
como de primeira ordem, pelas quaes por cada se pagarão quatro mil reis para a Camara, e duzentos reis
de risco para o Zelador.
Artigo 7°. Seguirá outra ordem de sepulturas começando no fundo da cerca do lado do sol, seguindo as
mesmas regras prescritas, pagando por cada sepultura dois mil reis, e os duzentos reis de risco, ficando
o intervallo de dez palmos em frente da porta em linha ao fundo, intervallo entre as sepulturas de
primeira e segundo ordem.
Artigo 8°. Não tendo a Camara serventes de Cemierio, serão as sepulturas abertas, os corpos sepultados,
e os números collocados nas cabeceiras das sepulturas a custa dos encarregados dos enterros.
Artigo 9°. A Camara fornecerá ao Zelador uma maca para conducção dos corpos a sepultura, duas
alabancas ou cavadores, duas enchadas, duas pas de ferro e dois soquetes, que tudo ficará debaixo da
guarda e responsabilidade do dito Zelador.
Artigo 10°. Não serão abertas sepulturas das que estão occupadas, sem que tenhão decorrido dois annos
depois do ultimo enterramento.
Artigo 11°. Aos fallecidos inteiramente pobres, dar-se-há sepultura de risco gratuito, porem serviço de
abrir sepultura e enterramento serão pagos pela Camara, para o que fica seu Procurador authorizado.
Artigo 12°. Haverá uma sirêta collocada por cima do portão do Cemiterio, que servirá para dar dois
signaes grátis a todos os corpos que alli forem sepultados, e quando exceda os signaes ao numero que
fica dito, sendo pedidos pelos encarregados dos enterros, serão por elles pagos a beneficio do Zelador,
a quantia de cento e vinte reis por cada um.
Artigo13°. O Zeador não dará sepultura sem que receba do Procurador da Camara uma guia, em que
declare a quantidade de sepulturas que deve dar, nome, idade, naturalidade, qualidade da moléstia de
que succumbio o que vai ser sepultado, cuja guta deve rubricada pelo Presidente da Camara, e assignada
pelo Procurador.
Artigo 14°. A Camara fornecerá a seu Procurador um numero de guias sufficientes (com os claros
necessários para encher) parte para as sepulturas de quatro mil reis, e parte das de dois mil reis, ficando
111
o tallão das guias na Camara, e serão cheias pelo Procurador em conformidade com o artigo 13°, ficando
debitado pelo valor total dellas.
Artigo 15°. A Camara fornecerá ao Zelador cadernetas, rubricadas pelo seo Presidente, para fazer
assentamento dos óbitos em conformidade com as guias do Procurador da Camara, acrescentando no
registo e na guia, o numero da sepultura que tiver dado, sendo obrigado todos os sabbados a fazer
conferencia com o Secretario da Camara, o qual rubricará a conferencia.
Artigo 16°. A Camara fornecerá um livro rubricado e encerrado ao seo Secretario que servirá para
lançamento dos óbitos, cada um em artigos separados extrahido das cadernetas, conferido com as guias
que o Zelador apresentar, ficando as guias archivadas, e a caderneta em poder do Zelador depois de
conferido e rubricado pelo Secretario, estas conferencias terão lugar toos os sabbados
impreterivelmente, e por cada omissão do Secretario será multado em quatro mil reis, a beneficio do
cofre do Município.
Artigo 17°. O Procurador da Camara soffrerá a mesma multa quando seja omisso no cumprimento de
seus deveres, não dará guia para sepultura daquelles que tiverem fallecido de repente, de contusões,
ferimentos, ou outras mortes que possão causar suspeitas, sem se intender com alguma das autoridades
policiaes, que poderão pór o visto nessas guias.
Artigo 18°. O Rendimento do Cemiterio e de certidões de óbitos, mandados passar pela Camara, farão
parte de seo patrimônio.
Artigo 19°. Fica pertencendo aos Reverendo Vigarios os acompanhamentos e encomendações dos
finados que tiverem sido seus parochianos, sem que por falta dessas solemnidades possão impedir o
enterramento no Cemiterio.
Artigo 20°. A Camara reunida com numero sufficiente de Veriadores, poderá vender sepulturas com
tempo determinado ou perpetuas, convencionando com as partes qua assim requerem, e sem esta
formalidade e ordem escripta, não poderão os empregados do Cemiterio consentir que coloquem louzas
sobre as sepulturas.
Artigo 21°. O Zelador do Cemiterio terá todos o cuidado no registo dos óbitos, sendo multado em quatro
mil reis por cada registo que deixar de fazer, a mesma quantia pagará por cada contravensão dos artigos
do presente Regulamento, terá sua residência o mais perto possível do estabelecimento, será pontual em
mandar abrir as sepulturas logo que lhe sejão apresentadas as guias de que tratão os artigos anteriores,
não consentirá que dentro do Cemiterio ou perto da porta se fação ajuntamento de pessoas com taboleiros
de comestíveis e mesmo que se ajuntem com batuques, por cada vez que tal acontecer será multado em
mil reis, cujas multas reverterão ao cofre do Municipio.
Artigo 22°. Deverá abrir a porta do Cemiterio todas as vezes que lhe for pedido por devotos, que tenhão
de hir orar sobre as sepulturas de seos finados, conservarão todo aceio possível, tanto no
estabelecimento, como nas ruas que dão serventia em frente do Cemiterio, entendendo-se a tal respeito
com o Fiscal e Procurador da Cmara.
Artigo 23°. O Fiscal e Procurador da Camara Conservarão as ruas que dão serventia para o Cemiterio,
como sejão a da Areia, e a que vai da frente da Matriz de S. Benedito, sempre limpas e capinadas, e no
mesmo estado deverão conservar o largo da Misericordia, por onde tem de transitar os
acompanhamentos dos enterros.
Artigo 24°. O presente regulamento ficará em inteiro vigor como postura da Camara, em quanto a
Assembléa Provincial ou o Exm. Presidente da Província não mandar o contrario. Paço da Camara
Municipal da cidade de Caxias, 13 de Abril de 1857. – Agostinho José de Viveiros. P – Faustino
Fernandes Lima. – Luiz França Freitas. – João Marcellino Barbosa. – Manoel de Cerqueira Ribeiro.
FONTE: (O FAROL, 1857, n°227, p.02 a 04)
112
filha de uma
escrava.
1879 (ÓBITO Martinho (3 Na Igreja Nª Senhora de Nazareth, na
12, p.939) anos forma do ritual romano.
“inocente”) Febre
1879 (ÓBITO (4 meses) Na Igreja Nª Senhora de Nazareth, na
13, p.939) forma do ritual romano, envolto em Moléstia interna
hábito azul.
1879 (ÓBITO Vicente Ferreira Na Igreja de Nª Senhora de Nazareth,
14, p.939) Soares (30 anos, na forma do ritual romano, envolto Repentinamente,
branco) em “hábito secular”. por causa de um
Raio
1879 (ÓBITO Luís Soares de Na Igreja matriz de Nª Senhora de
15, p.939- Sousa (10 anos, Nazareth, encomendado na forma do Repentinamente,
940) filho de Vicente ritual romano, envolto em “hábito de por causa de um
Ferreira Soares) anjo”. Raio
1879 (ÓBITO Antonia Maria Na Igreja matriz de Nª Senhora de Repentinamente,
16, p.940) do Carmo Nazareth, na forma do ritual romano, por causa de um
(mulata e noiva) envolto em hábito branco. Raio
1879 (ÓBITO Lourenço Na Igreja matriz de Nª Senhora de
17, p.940) Cavalcante de Nazareth, na forma do ritual romano,
Moraes (18 envolto em hábito branco. Febre
anos, pardo)
1879 (ÓBITO José (6 anos) Na Igreja matriz de Nª Senhora de
18, p.940) Nazareth, na forma do ritual romano, Moléstia no
envolto em hábito branco. interior
1879 (ÓBITO Clementina Na Igreja matriz de Nª Senhora de
19, p.940) Dias de Nazareth, na forma do ritual romano, Moléstia interna
Carvalho (1 envolto em hábito branco.
anos, parda)
1879 (ÓBITO João Francisco Na Igreja matriz de Nª Senhora de
20, p.941) de Sousa (60 Nazareth, na forma do ritual romano, Pleurisia
anos) envolto em hábito branco.
1879 (ÓBITO Joana Eugenia Na Igreja matriz de Nª Senhora de
21, p.941) (3 anos, parda e Nazareth, na forma do ritual romano, Febre
filha de uma envolto em hábito branco.
escrava)
1879 (ÓBITO “ilegível” José Na Igreja matriz de Nª Senhora de
22, p.941) Pereira (50 anos Nazareth, na forma do ritual romano,
ou mais; natural envolto em hábito secular. Pleuris
de Portugal e
confessado)
1879 (ÓBITO Raimunda Na igreja Nª Senhora de Nazareth, na
23, p.941) Pereira dos forma do ritual romano, envolto em Moléstia de
Santos (50 hábito branco. parto
anos)
1879 (ÓBITO Bonifácio (10 No cemitério dos Remédios, na forma
24, p.942) anos; pardo; do ritual romano. Afogado em um
filho de escrava; rio
inocente)
115
COM BASE EM: ("Vargem Grande, Maranhão, Brasil Registros," imagens, FamilySearch
(https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:939V-BYSP-YX : 14 de março de 2021), imagens 937 a 948 dos
2404; Arquivo da Arquidiocese de São Luís do Maranhão).
118
COM BASE EM: O Farol (1850 a 1864); A imprensa Caxiense (1857 a 1863); O Commercio de Caxias (1879);
Gazeta Caxiense (1890 a 1895) e Jornal de Caxias (1896 a 1900)
123