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INTRODUÇÃO
Em sua Exaltação ao Arco Real, o Maçom é recompensado com a joia da ordem
“como um testemunho de nossa inteira aprovação”. É uma parte essencial dos
paramentos de cada Companheiro, e deve ser usada no peito esquerdo, tendo
precedência sobre todas as outras joias maçônicas, ou seja, outras joias devem estar
à sua esquerda do ponto de vista do Companheiro que a usa. Deve ser usada não
apenas dentro dos Capítulos do Arco Real, mas também nas Lojas como um sinal
visível da ligação indissolúvel entre o Arco Real e a Maçonaria Simbólica.
A joia é de ouro e contém dois triângulos equiláteros entrelaçados, circunscritos por
dois círculos concêntricos. A fita da joia é tricolor para Grandes Oficiais e
Superintendentes, carmesim para aqueles Companheiros que foram instalados como
Principais num Capítulo, e branca para todos os demais Companheiros.
A joia é particularmente importante porque simboliza, de forma concisa, o que a
Maçonaria ensina e, como tal, vale a pena estudar.
Anverso Reverso
1
No Ritual Aldersgate encontramos uma explicação da Joia do Arco Real
apresentada pelo E. Comp. Shepherd-Jones, OBE, PAGSoj. Um artigo de
Christopher Powell também fornece uma excelente explicação sobre a joia e
sua história10. No presente artigo me baseei em ambos textos, e tento trabalhar
mais o tema e acrescentar outras explicações.
ANVERSO DA JOIA
Voltando à joia, na parte inferior do seu anverso encontramos um pergaminho
com as palavras: “Nil nisi clavis deest”, “Nada falta a não ser a chave”. A
inscrição entre os dois círculos concêntricos é: “Si talia jungere possis sit tibi
scire satis”, que significa “Se conseguires compreender o que se segue, já
sabes o suficiente.”
Chegamos então ao que constitui o cerne da Joia. Nos triângulos entrelaçados
temos novamente uma dupla tríade.
O triângulo com o vértice apontando para cima é o triângulo espiritual, em
cuja base contém a inscrição “Encontramos”, que se repete em grego,
“Eyphkamen” e novamente em latim “Invenimus”, nos outros dois lados do
triângulo.
No triângulo material, ou seja, o triângulo com o vértice apontando para
baixo, a base está em branco e nos dois lados temos “Cultor Dei, Civis
Mundi”, traduzido livremente como “Culto a Deus, oh Cidadão do
Mundo”.
Ligando a inscrição “Invenimus” contida no triângulo espiritual com “Cultor
Dei, Civis Mundi” no triângulo material, temos uma tradução livre da frase
assim formada como “Encontramos o culto a Deus, oh cidadão do mundo”.
Shepherd-Jones, no entanto, discorda dessa tradução livre, preferindo
traduções literais para “Cultor” como “adoração” em vez de “culto”.
Temos, portanto, duas inscrições separadas:
“Encontramos”
e “Cultuador (ou Adorador) de Deus, oh cidadão do mundo”;
além de um espaço em branco no triângulo material.
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Quando você recebeu seu Certificado do Grande Capítulo havia um espaço
em branco para você preencher com sua assinatura. Da mesma forma, quando
você recebe a Joia do Arco Real, este espaço em branco no triângulo material
que deve ser preenchido com o seu nome. Quando ele for inserido, então a
tríade nesse triângulo estará concluída e se lerá: “Seu Nome; Cultor Dei;
Civis Mundi” ou “Seu Nome; Adorador de Deus, oh Cidadão do Mundo”.
Com este endosso o titular da Joia faz uma declaração de que ele é um
adorador de Deus, como um cidadão do mundo. Ao mesmo tempo, ele
subscreve o que está escrito no triângulo espiritual; “Encontramos”. Estas
foram as palavras ditas pelos três Forasteiros quando descobriram algo
escondido na cripta, “Eurekamen inveimus! Encontramos (isto)”! Mas a Joia
não nos diz o que é encontrado, ainda falta a chave.
Dentro dos dois círculos concêntricos também se encontra a inscrição “.AL
AD.” que quase certamente se refere a Anno Lucis (AL) e Anno Domini
(AD). Anno Lucis (AL) é latim para “Ano da Luz”, expressando um ano que
é 4.000 além de Anno Domini (AD) “O ano de Nosso Senhor”. James
Anderson, em suas “Constituições” de 1723, refere-se aos 4.000 anos
avançados, “Anno Lucis”, como “O Ano da Maçonaria”. Estas datas estão
registradas nos Certificados da Obediência e do Supremo Grande Capítulo,
bem como aqui na Joia do Arco Real. No entanto, não há espaço suficiente
no anverso da joia para inserir a real data de exaltação. Quando examinarmos
o reverso da joia veremos que há ali um lugar para inserir a data.
Como uma digressão, vi uma explicação alternativa, provinda da América do
Norte, postulando que as duas abreviaturas na inscrição são destinadas a fazer
um leitor parar e então considerar que as letras realmente soletram “A LAD”
e não “AL AD”, que em português seria “Um RAPAZ”. (Rapaz como sendo
o Maçom do Arco Real usando a joia). Pessoalmente, discordo, mas não é
incomum ver referências aos maçons norte-americanos como “A LAD”
(Rapaz).
Dentro dos triângulos entrelaçados da Joia há outro triângulo, com o sol no
interior, seus raios dispersos. Este não é o sol da Maçonaria Simbólica, onde
é descrito como um glorioso luminar da natureza. Na Joia encontramos um
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sol dentro de um triângulo, indicando que no Sagrado Arco Real ele é
considerado como um emblema da Divindade.
Também encontramos aqui o emblema perfeito da ciência da Agricultura
apontado por um compasso saindo do sol e aberto sobre um globo,
representando a terra e, assim, retratando a criação animal e vegetal da
Divindade, e advertindo-nos em sermos cuidadosos, realizando cada
operação em seu devido tempo, para que não percamos os frutos de nosso
trabalho.
1
NT: A figura não consta no texto original.
8
O Triplo Tau significando T. H. Templum Hierosolym, Templo de Jerusalém,
tem sido, desde 1842, considerado como parte do distintivo de um Maçom do
Arco Real, pelo qual o portador se reconhece um servo do verdadeiro Deus;
que ali havia estabelecido Sua adoração, e a cujo serviço aquele glorioso
Templo foi erguido. O símbolo do Arco Real, portanto, pode recordar
apropriadamente em nossas mentes nosso constante dever de oferecer
adoração ao Grande Elohim; O Altíssimo: O Eterno: O Deus Todo-Poderoso.
Cada Companheiro tem três Triplos Taus em seus paramentos do Arco Real:
na Joia, na faixa e no avental; três vezes três. Todos nós podemos nos lembrar
de nossa iniciação na Maçonaria quando fomos admitidos na Loja com três
b...s dados pelo Cobridor. Essas três b...s indicavam: “Pedi, e dar-se-vos-á”;
“Buscai e achareis” (ao qual me referirei novamente mais tarde), “Batei, e
abrir-se-vos-á”; e essas b…s foram repetidos por nós no ombro do 2º
Vigilante e novamente no ombro do 1º Vigilante, três vezes três, prevendo o
Sagrado Arco Real e suas triplas tríades.
O Triplo Tau no Sagrado Arco Real representa a conclusão da jornada
espiritual do candidato na Maçonaria. Seus três passos regulares na Arte, cada
um na forma de um Tau, são separados, assim como no avental de um
Venerável Mestre. Ele é levado para reunir aqueles Taus no Arco Real e,
assim, ser conduzido à Divindade.
O REVERSO DA JÓIA
Consideremos agora as demais inscrições que se encontram no reverso da
Joia. Entre os dois círculos concêntricos temos novamente uma dupla tríade.
Gravada em latim entre os dos dois círculos concêntricos está uma dupla
tríade: “Deo, Regi, Fratribus; Honor, Fidelitas, Benevolentia.”
Essas duas tríades são lidas conjuntamente, e uma tradução literal seria:
“Deo, Honor” = A Deus, honra.
“Regi, Fidelitas” = Ao Rei, fidelidade.
“Fratribus, Benevolentia” = Aos Irmãos, amor.
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Esta é uma versão de uma citação encontrada na Primeira Epístola de São
Pedro, capítulo 2 e versículo 17:
“Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai o rei.”
A inscrição também é uma tradução para o latim de parte do Poema Regius,
o manuscrito mais estimado em posse da Grande Loja da Inglaterra, que
remonta ao século XIV. Os versos conforme registrados no poema, mas que
foram latinizados na Joia, são:
Quem quiser aprender este Ofício e chegar a tal condição,
Deverá sempre amar bem a Deus e santa igreja, (Deo Honor)
E também ao Mestre com qual esteja,
Onde quer que vá, no campo ou na mata fechada, (Regi Fidelitas)
E deverá amar ainda, aos vossos Companheiros,
Pois é o que vosso Ofício requer que faças. (Fratribus Benevolentia)
As inscrições restantes no reverso da Joia estão nos triângulos entrelaçados e
formam novamente uma dupla tríade. No primeiro triângulo encontramos
“Concórdia, Verdade, Paz” e, como estão em um triângulo apontando para
cima, são aspectos de Deus. A Preleção do Primeiro Grau destaca que a
“Verdade” é um atributo divino e que “todas as suas leis estão em
concórdia”. “Paz” é a “paz de Deus que ultrapassa toda compreensão”. Isso
foca nossas mentes no conhecimento e no amor de Deus, que é central para a
Ordem do Arco Real e a razão pela qual é chamada de Sagrado Arco Real.
No segundo triângulo estão inscritas as palavras “Sabedoria, Força, Beleza”.
Estas referem-se às Grandes Colunas que sustentam uma Loja Maçônica e
são moralizadas na Prelação do Primeiro Grau como:
“Sabedoria para nos conduzir em todos os nossos
empreendimentos. Força para nos sustentar em todas as
dificuldades e Beleza para adornar o homem interior.” 11
Estão também ilustrados na mesma preleção como:
“O Universo é o Templo da Divindade a quem servimos;
Sabedoria Força e Beleza estão em volta de Seu trono como
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colunas de Suas obras, pois Sua Sabedoria é infinita, Sua Força
onipotente e Sua Beleza brilha através de toda a criação em
simetria e ordem.” 11
Na parte inferior do reverso da joia há um pergaminho com a palavra
“Exaltado”. A par disto, no lado oposto do rolo, é habitual acrescentar a data
da exaltação do portador, para acompanhar o nome gravado no anverso.
A FITA DA JÓIA
Para um Companheiro, a fita na qual a joia está pendurada é branca,
significando luz, referindo-se às linhas que o recém-exaltado Companheiro lê
no pergaminho descoberto na Cripta:
“... e Deus disse: ‘Haja luz e houve luz’”
e do Evangelho de São João:
“Nele estava a luz, e a luz era dos homens”.
A fita dos Principais é carmesim, denotando fogo, uma referência à história
de Moisés e a sarça ardente, encontrados no primeiro véu na Cerimônia de
Exaltação do Arco Real do século XVIII.
A fita tricolor para Grandes Oficiais é azul escuro, escarlate e azul claro,
denotando as cores do Véu do Templo. Pois como diz no Livro do Êxodo,
capítulo 26, versículo 31:
“Farás também um véu de estofo azul, púrpura, escarlate e linho
fino retorcido …”
A cerimônia de passagem dos véus entrou no Ritual do Arco Real durante o
século XVIII, na época em que a joia foi projetada, mas infelizmente não é
mais praticada na Inglaterra e no País de Gales, exceto em Bristol. É, no
entanto, trabalhado ainda na Escócia, Irlanda, e EUA no grau de Excelente
Mestre, como preparação para a exaltação. Na Inglaterra e no País de Gales
a fita tricolor é tudo o que resta do grau de Excelente Mestre. 10
11
A ALEGORIA DO ARCO REAL
Nossa cerimônia diz respeito à reconstrução do templo do rei Salomão e uma
busca da “Palavra Perdida”; aquela palavra perdida pela morte prematura de
nosso Mestre Hiram Abif, ilustrada pela Cerimônia do Terceiro Grau na
Maçonaria Simbólica.
A principal alegoria dentro da Maçonaria é “a busca da Palavra”, a “Palavra”
que chegou até nós através das incontáveis eras e sempre carregando o mesmo
significado – “A Vontade ou Lei de Deus”.
De fato, é por isso que devemos continuar a prática de abrir o Livro das
Sagradas Escrituras em nossas Lojas no prólogo do Evangelho segundo São
João, como era o costume invariável em tempos antigos.
São João, capítulo 1 versículo 1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus.”
No anverso da joia tínhamos a inscrição:
“Nada falta, senão a chave”
Mas qual é a chave?
No século XVIII, uma chave era um símbolo maçônico bem conhecido,
explicado na Preleção do Primeiro Grau.11 A Preleção do Primeiro Grau
explica que o propósito de uma chave é desvendar os segredos inestimáveis
do coração de um maçom, e está pendurada por:
“O fio da vida, na articulação do som”
Conectado com o coração como:
“…um indicador da mente, ela deve expressar apenas o que o coração
realmente dita.”
e composta por:
“Nenhum metal, é a linguagem da boa reputação.”
Lembre-se que o desenho da joia coincidiu com o momento em que o ritual
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estava sendo entregue em forma de catecismo. Muito dele já foi perdido de
nossa prática normal, mas ainda é abordado nas preleções formais que
raramente são ministradas hoje em dia.
É essencial, portanto, que “a língua da boa reputação” indique que colocamos
todo o nosso conhecimento maçônico na prática de nossa conduta diária, e
que seguimos a vontade de Deus. 10
Aqui está a chave e o Companheiro que pensa ter encontrado a chave com a
descoberta da Palavra do Maçom, *2 faria bem em lembrar que o maior
Mestre de todos disse que não é suficiente dizer “Senhor! Senhor!”, mas fazer
a vontade de Deus.
Aqui temos a grande alegoria da Maçonaria, pois a busca da Palavra Perdida
significa não só a busca da PALAVRA mas, mais importante, a Vontade de
Deus, e tentarmos cumprir a Vontade de Deus.
Uma pista clara para o significado da busca também foi dada anteriormente
na antiga oração pelo candidato em sua exaltação. Ao invés de
“sempre se lembre que a finalidade de nossa instituição é o bem-
estar de nossos semelhantes”,
as palavras usadas foram
“sempre se lembre que a finalidade da nossa instituição é o bem-
estar dos nossos semelhantes e, acima de tudo, a honra e a glória
do Teu Santíssimo Nome”.
Aqui está a chave para a alegoria que começou com a segunda das três b...s
pelos quais somos admitidos em uma Loja Maçônica, “Buscai e achareis”.
O Companheiro que encontrou a Palavra certamente deve ter seu nome
inserido na Joia no espaço vago do triângulo. Ele também deve ser capaz de
entender o significado da inscrição entre os círculos concêntricos: “Se podes
entender isso, já sabes o suficiente”, pois a Palavra, a vontade de Deus,
compreende todos os fundamentos, preceitos e princípios da Maçonaria, tudo
2
NT: No texto original inclui aqui T.S.A.M.N.O.T.T.A.L.G.M.H.
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que a Maçonaria ensina.
Feliz é o maçom que encontra a Palavra e obtém entendimento. É o grande
projeto de ser feliz e comunicar felicidade.
Tenho certeza, Companheiros, de que vocês concordarão que a Joia do Arco
Real mostra; mais uma vez, que o Sagrado Arco Real é o clímax da
Maçonaria.
A Maçonaria é antiga, mas “No princípio era o Verbo” e nele está a força.
Referências
1. The Jewel of the Order: E.Comp. Shepherd-Jones OBE, PAGSoj, from
Aldersgate Ritual.
2. A Short Royal Arch Miscellany: E.Comp. Shepherd-Jones OBE, PAGSoj.
3. The Companion’s Jewel of the Royal Arch: Gran Loggia Regulare d’Italia
4. The Royal Arch Jewel: Irish Masonic Jewels
5. The Lectures of the Holy Royal Arch, Lecture II: The University of Bradford
6. Royal Arch Jewel: Encyclopaedia of Freemasonry and its Kindred Sciences:
Albert C. Mackay M.D.
7. The Symbolism of the Royal Arch Jewel – II: R.E.Comp. Arthur A. Page
8. Freemasons’ Book of the Royal Arch: Edward E. Jones, revised by Harry Carr
9. Royal Arch Complete Workings – pre 2002
10. The Royal Arch Jewel – An Explanation. Christopher Powell. (Norman B.
Spencer Prize for 2009). Quatuor Correspondence Circle Ltd. 2010.
11. The Lectures of the Three Degrees in Craft Masonry, Third Edition 2000. Ian
Allan Lewis Masonic.
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