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Os conventos de 1778 (Convento de Galias) e 1782 (Convento de Wilhelmsbad)

embora tenham soado como uma sentença de morte para os ideias da E.O.T iniciaram a
reorganização que daria ao R.E.R. a face que hoje conhecemos. É bem verdade que essa
reorganização – sobretudo ritualística – se deu até 1788 mas as atas do convento de
1782 foram formalizadas e depositadas nos arquivos municipais de Lyon como sendo
‘produto final’ sob o nome de: “Ritual Para o Regime da Franco-maçonaria Retificada
Adotado no Convento Geral da Ordem em Wilhelmasbad em 1782”, ( todas as versões
que surgiram posteriormente – até 1785 (1788) - trazem a nota : “ Adotado do Convento
Geral” !) e apresentam esclarecimentos na primeira pagina de que seu conteúdo vem das
notas feitas em Wilhelmsbad.
Essas versões trazem referências a algumas mudanças, por exemplo, a troca do
nome do aprendiz de Tubalcain para Phaleg, seguindo as orientações do “Agente
Desconhecido” (?). A alegação inicial para que tal troca fosse feita era que sendo
Tubalcain um trabalhador dos metais – ferreiro - sua iniciação só poderia ser impura
( Além do fato de ser filho do perverso Lameque e de Zilá , fazendo parte da
descendência de Caim). O nome adotado então para o aprendiz foi o nome Phaleg, o
descendente de Shem, abençoado por Noé , um verdadeiro mestre maçom e construtor
da primeira loja.
Nessas versões se vê também a primeira referência ao abandono de metais, pois o
aprendiz tem que ser despojado deles.
Uma nota interessante a se fazer aqui é que, de acordo com a Bíblia, Tubalcain teria
sido o primeiro homem a fazer uso do cobre e do ferro em construções na humanidade
(Gênesis 4:22) , justamente dois dos metais abandonados na recepção ao Grau de
Companheiro Maçom.
A redação final dos rituais se deu entre novembro de 1787 e abril de 1788, tempo
em que Louis-Claude de Saint-Martin viveu em Lyon ( coincidência ? Não há como
afirmar).
Seja como for, a ultima versão dos Rituais Azuis enviada em 1802 ao Venerável
Mestre Achard da loja “Tripla União” em Marselha (Ms FM 418, B.N. Paris) recebe uma
impregnação da cosmovisão Martinezista que até aquele momento nunca fora atingida no
R.E.R. e não há registro de que essas revisões finais tenham sido submetidas aos
superiores alemães da ordem. Esses ritos, utilizados atualmente pela G.L.N.F , não
podem ser apresentados como decisões de Wihelmsbad. As inovações neles sugeridas
teriam certamente surpreendido boa parte dos Delegados do Convento.
Vejamos por exemplo o fato de que o candidato vai de encontro aos "Elementos"
(melhor chamá-los de "essências espirituais"): Fogo ao Sul, Água ao Norte, Terra a
Ocidente.
Esse episódio era desconhecido do Rito Filosófico Escocês e do Rito Francês 1 (as
provas de purificação nesses ritos foram introduzidos na mesma época mas seu
significado é extremamente diferente do R.E.R) , no R.E.R o significado central dessa
purificação esta impresso na cosmovisão de Martinez de Pasqually , para quem o caráter
ternário da criação é um reflexo do Poder Triplo que governa o mundo: Pensamento,
Vontade e Ação Divina, representado no altar do oriente pelo candelabro de três braços.
Pasqually acreditava que o universo tem a forma de um triângulo que tem cada canto
sendo ocupado por um dos três elementos fundamentais da matéria, o Ritual Retificado
recorda esta disposição e enfatiza que o candidato viaja pelas três regiões em que o
mundo se divide. Há ainda a introdução dos emblemas da Justiça (no Oriente) e
Clemência (no Ocidente), alusões à queda do primeiro homem e à condição de sua
“reintegração” a seu estado primordial, sucessivamente apresentados ao recipiendário
que recebe “o primeiro raio de Luz”.
No grau de Companheiro Maçom foram introduzidos a virtude do grau (a
“Temperança”) e a rejeição dos metais (Prata, Bronze e Ferro) que marcam as três
viagens do recipiendário , um uso sem precedentes na franco maçonaria do seculo XVIII.
A instrução ainda explica que as viagens deveriam ser em numero de cinco mas o
recipiendário é poupado pela generosidade do Venerável Mestre. Isso retira todo o
sentido operativo da ritualística levando-a a um nível muito mais elevado onde predomina
uma forte simbologia moral e esotérica.
Tudo isso demonstra que o homem deve se livrar das imperfeições grosseiras que o
amarram à matéria, simbolizadas pelos vícios dos metais, se ele quiser ascender na vida
Espiritual.
O mecanismo através do qual essa renuncia acontece é muito interessante e esta
carregado de um simbolismo muito forte: O recipiendário é apresentado aos metais
durante sua viagem pelos pontos cardeais, toma-o nas mãos e o contempla … o
experimenta … é então alertado pelo Irmão Introdutor sobre os vícios inerentes aquele
metal, ele então deita o metal a seus pés seguindo a orientação do Irmão Introdutor e se
deixa conduzir na continuidade da viagem. É levado finalmente ao V.’.M.’. que lhe
apresenta uma máxima que , se seguida, o conduz as virtudes que podem combater os
vícios dos metais que lhe foram apresentados. Nesse ponto, assim como no ritual de
recepção de aprendiz se percebe a importância de abandonar-se a sabedoria daqueles
que o guiam. Outro ponto interessante é que as máximas representam já uma via que
conduz a purificação ante as impurezas que os metais representam, assim , a formula
para a alquimia anterior já lhe é revelada cabendo a ele adotá-la para que a transmutação
desejada ocorra.
A renúncia deve ser conseguida em paralelo com o trabalho na Pedra: “A pedra
sobre a qual deveis trabalhar era bruta e informe. Os próprios Mestres não podiam

1
Todavia , um catecismo de 1749, de uma Loja de Lille, comporta a resposta: “Fui purificado pela água e pelo fogo”.
Trata-se da mais antiga menção desta inovação , a qual já existia em altos graus praticados na época, podendo ter
migrado dai para a maçonaria azul. No Rito Francês a primeira alusão é de 1786
reconhecer nela nem os defeitos nem a beleza. Sob a orientação dos chefes, foste
encarregado de limpá-la e de desbastá-la, a fim de que eles pudessem estimar os
verdadeiro valor e determinar a sua utilização”
O novo Companheiro pode agora trabalhar na pedra polida. É o momento de
relembrar que o trabalho sobre si mesmo, usando os instrumentos de trabalho maçônicos,
é indispensável para a admissão final no Templo, admissão esta da qual conhecemos
agora o sentido:
“Usai com frequência o esquadro, o nível e o prumo para fazer desaparecer
inteiramente a pedra bruta e vossos Irmãos não vejam mais em vós outra coisa que não
seja uma pedra polida, digna de entrar na construção do Templo para o qual trabalhais”
Uma ultima nota: O Rito Escoces Antigo e Aceito estabelece formalmente em seus
rituais o vínculo entre o abandono dos metais em loja e a construção do Templo de
Salomão durante a qual não havia “ruido” causado por qualquer ferramenta feita de metal
ou nenhum ruido de martelo. O Rito Escoces Retificado , por sua vez, diz que “ os
materiais que foram empregues na construção do Templo de Salomão foram tão bem
preparados que não se ouvia qualquer barulho de ferramentas durante a construção” .
Isso nos remete ao Livro de Reis I 6:7 : “O Templo foi construido com pedras já talhadas;
de modo que não se ouviu barulho de martelo, de cinzel, nem de qualquer outro
instrumento de ferro no Templo, durante sua construção”. Fazendo uso de alegorias,
podemos considerar que o Templo de que os rituais nos falam é um símbolo do Templo
Interior que cada Maçom deve construir em sí mesmo. A construção desse Templo Interior
é uma obra que implementa as forças espirituais e morais do obreiro, tal trabalho exige
dele a entrega de TODO o coração e de TODA a mente. Os metais aqui , com seus vicios
e tragédias, são dispensáveis… indesejaveis a bem dizer. Sem seu abandono , a Grande
Obra não pode ser realizada.
QUADRO DOS METAIS NO SEGUNDO GRAU DO R.E.R

METAL LOCALIZAÇÃO ALERTA / VICIOS MÁXIMAS

O insensato viaja
toda a vida sem
saber para onde vai,
nem donde vem, ou
A prata dividiu os o que deve fazer.
Prata Norte homens e separou
os Irmãos. Mas o sábio da-se
conta de todos os
seus passos, porque
conhece a sua
importância e o
destino.

O homem é
naturalmente bom ,
justo e compassivo.
Este metal é o Por que estará ele
emblema do orgulho tantas vezes em
Cobre Sul que pela sua liga contradição consigo
impura, degrada as mesmo ? Estuda a
maiores virtudes causa, com
serenidade Irmão
Aprendiz, ela é muito
importante para
descobrir
Aquele que, uma vez
entrado no caminho
O mais duro dos da Virtude e da
metais é destruido Verdade, não tem a
Ferro Ocidente pela ferrugem coragem de ali
quando abandonado perseverar, é cem
a sí mesmo vezes mais
lamentável do que o
seria antes disso
BIBLIOGRAFIA

 Ursin, Jean. Criação e História do Rito Escocês Retificado. Primeira edição [Ed
Madras]: 2014

 Pierre NOEL. La Réforme de Lyon.

 Pierre NOEL. Les remaniements d'après Wilhelmsbad.

 JB News. Informativo Nr. 443. Rito Escoces Retificado. Disponivel em


<http://www.jbnews33.com.br/informativos/JB%20News%20-%20Informativo%20nr
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 EXTRAIT VOCABULAIRE MAITRE. Disponivel em


<http://www.editionsdelahutte.com/RESSOURCES/EXTRAIT_VOCABULAIREMAIT
RE.pdf > no dia 29 de Fevereiro de 2017.

 De Saint Martin, Louis-Claude. Instruções Aos Homens de Desejo. Disponivel em


< http://www.sca.org.br/uploads/news/id408/MIHDesejo.pdf > em 05 de Março de
2017

 Pasqually, Martinez. Tratado De Reintegração Dos Seres Criados


“ Esses três ângulos nos dão a idéia da divisão que os espíritos do eixo deram à matéria
da universalidade das formas, modificando as essências segundo a forma triangular, isto
é, dando a parte sólida ao oeste, que denominamos mercúrio, a parte fogosa ao sul dado
ao enxofre, e a parte salina ao norte dada ao sal, ou a parte aquática. É positivamente
essa distinção que dá forma a todo universo. “
Louis-Claude de Saint-Martin

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