Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
quanto menos medo tivesse de você mais feliz eu seria em minha vida. Oh, querida
companheira de longas viagens, onde olho eu te encontro. Vejo-te em toda parte em que
estou. Às vezes a encontro de uma forma triste, mascarada pela dor e sofrimento. Nos
feriados, estás sempre rondando os acostamentos das rodovias, e de repente, estás nas capas
dos noticiários. Por vezes estás nos países pobres, dizimando populações pobres, carentes e
sem recursos para sobreviver. Outras em cidades destruídas por guerras, bombas químicas,
pestes. Por que isso tudo?
Mas quero estar contigo o tempo todo. Você me fortalece, quanto mais lembro que estas
comigo, mas sei que devo viver intensamente. Você é um poço de água que me fortalece. É o
mel que adoça a minha vida. Procurei por muito tempo qual o sentido dessa vida, li os
letrados e filósofos para entender o que é a felicidade e como alcança-la. Apresentarem-me 10
passos infalíveis para consegui-la, mas até então sempre fui infeliz e inquieto por não
encontrar um sentido para essa minha vida fugitiva. Mas quando te conheci descobri tudo:
você deu sentido a minha vida. Por que viver, perguntava eu? Viver, porque vou morrer. É
simples, o resto é complemento. Você não é o sentido único, mas é o que dá sentido aos
outros.
Caminhando comigo, vejo sempre minha companheira. Por vezes a vejo encenando nas festas
e em momentos de alegria, outras, velada nos berços familiares. Frequentemente, você
aparece nos noticiários, jornais e rádios. Nos feriados, sei que gosta de caminhar pelos
acostamentos de rodovias e, hora ou outra você passeia por países em guerras e tomados por
pestes e fome. O fato é que eu não quero te esquecer, companheira. Fingir que você não existe
me faz ser indiferente com a vida, e essa é muito valiosa para ser desaforada. Não dá pra te
negar; você é o sentido disso tudo, pena que muitos não entendem.
Que no final você não seja nomeada como a terrível que me levou, a injusta, a ceifadora de
minha vida. Viver é morrer todos os dias, disso estou certo. O silenciar de meu miocárdio ou
cessar de atividade cerebral jamais será minha morte de fato, de forma alguma. Não permito
que técnicos digam quando morri; o tempo não é deles, e nem ao menos me conhecem para
assumir tal responsabilidade. Minha morte será apenas uma cerimônia de encerramento da
mais solene e sublime celebração da natureza: a vida. Para mim, será uma honra te encontrar,
querida companheira.