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Vilas
Tetragrama Sagrado ocupa no grau de aprendiz, o que deve, desde logo, fazer o
companheiro reflectir sobre a relação entre os dois símbolos.
Sublinhemos que neste discurso se fala da estrela, referindo que Deus nos dotou de
um fogo sagrado que nos deve levar a certo comportamento, e do triângulo, no qual
se vê o nome de Deus, que se explica simbolicamente pela geometria, como fonte do
conhecimento.
Instruções sobre o grau de Companheiro | M. Vilas
A estrela surge no manuscrito inglês Sloane, de 1710, mas que transcreve um texto
de cerca de 1610, como uma das três jóias da loja. A «Maçonaria Dissecada», de 1730,
referindo-se ao mobiliário da loja diz: «pavimento mosaico, o chão da loja, estrela
ardente, o centro, e orla denteada, a fronteira à sua volta».
Esta estrela é uma luz de natureza diferente da das luminárias Sol e Lua, pois nunca
é associada, e ainda menos confundida, com outras representações da luz em loja.
Então, «Deus disse: “Haja luz” e houve luz. Deus viu que a luz era boa, e Deus separou
a luz e as trevas», ou seja, a luz assim descrita é a própria Luz da consciência que a
divindade adquire da sua criação («Deus viu»).
Esta Luz é diferente e precede a luz física do Sol e da Lua, as luminárias, criadas no
quarto dia [Génese 1, 14], que são um símbolo físico – e como todos os símbolos,
necessariamente material –, da Luz metafísica.
Instruções sobre o grau de Companheiro | M. Vilas
Na loja, a Luz é emanada pelo Grande Arquitecto do Universo, que a dirige com a sua
luz (e não as suas luzes) e sabedoria, em nome de quem o Venerável a abre, a dirige,
e a fecha – em numerosos rituais mais antigos, a loja era aberta em nome e não à
glória do Grande Arquitecto do Universo, dando a clara ideia de que o Venerável era
um provisório delegado.
Sol e Lua, presentes em todos os ritos, iluminam a loja, quer de dia quer de noite
(porque a lua, embora apenas espelhe a luz solar, ilumina a noite e marca os meses
lunares). Se nos ritos modernos, estão directamente associados às colunas
salomónicas, ao lugar dos vigilantes e às colunas de irmãos, nos ritos antigos essa
associação não existe.
Além das luminárias, a luz material, símbolo da Luz metafísica, é ainda representada
por Bíblia-Esquadro-Compasso, candelabros, janelas, pavimento.
Os candelabros servem para assinalar as posições diárias do Sol, nos ritos de tipo
antigo («Três Pancadas Distintas»), ou, nos ritos de tipo moderno, os pontos
extremos e médio do Sol no ano, num triângulo rectângulo que pode ter o ângulo a
Este ou a Oeste, tendo sempre um dos braços a Sul.
As Três Grandes Luzes são um dos elementos diferenciadores dos Ritos antigos
(nascidos nas Grandes Lojas da Irlanda e da Escócia e de Inglaterra segundo as
Antigas Instituições) e modernos (nascido na Grande Loja de Londres e
Westminster, depois de Inglaterra).
Os momentos rituais relacionados com a Luz e com as luzes que a representam são
fundamentais no trabalho da loja e no trabalho de cada irmão em loja.
Na generalidade dos ritos, estes passos rituais são: a localização cósmica dos
dignitários; a circulação da palavra do grau que concretiza a acção criadora, uma vez
que a Luz é criada pela palavra; a iluminação dos candelabros – prévia ou durante o
rito; a abertura – prévia ou durante o rito – da Bíblia, do esquadro e do compasso,
que concretizam a Luz no plano da palavra e da geometria. Estas acções, mais o
painel, transformam um espaço qualquer no templo de Salomão onde brilha a luz
divina.
Estes passos podem ter duas sequências lógicas: a entrada no templo perfeito e
iluminado ou a entrada no templo ainda incompleto que será ritualmente
completado, havendo, naturalmente, misturas, e dependendo da sensibilidade das
lojas.
Estes símbolos da Luz podem estar presentes antes do começo dos trabalhos e
continuarem-no depois do encerramento, ou serem acesos durante a abertura e
extintos durante o encerramento. Têm é que estar presentes na sala para que se
possa trabalhar.
As variações, que não dependem das famílias rituais, decorrem de os textos rituais
mais antigos (que eram auxiliares de memória para o que tinha de ser dito)
omitirem os actos rituais serem transmitidos por tradição e memória. Estes actos
não eram acompanhados de palavras, uma vez que a gestuália era compreendida
como símbolo e não necessitava de explicações. Assim, não sabemos exactamente
em que momento da abertura eram executados alguns actos rituais, o que permite
sequências ligeiramente diferentes do que é feito. O que importa é que seja feito com
solenidade e ritmo.
Do mesmo modo que o facto de o maçon trabalhar para algo maior do que o próprio
homem, procurando a luz, a verdade, o bem, o belo e o bom num modelo maior do
que ele próprio (embora elas estejam também dentro de si), é uma forma de o levar
até aos seus justos limites, isto é, aos planos traçados para si pelo Mestre que
governa a Loja, exaltando-o em vez de o diminuir, libertando-o em vez de o prender.
Um desenho francês de meados do século XVIII mostra uma estrela de cinco pontas
dentro do círculo que se usa para a traçar; parcialmente dentro da estrela, mas
deixando a cabeça de fora, há um homem que tem pendurado ao pescoço um prumo
que lhe desce até ao umbigo, associando claramente o aprumamento do Maçon à
estrela.
A imagem mostra que o maçon realizou a harmonia dos seus diferentes níveis
através da descida em si próprio simbolizada pelo prumo, sendo, portanto,
espiritualmente e fisicamente saudável. Algumas obediências maçónicas
conservaram até tarde fórmulas para encabeçar ou terminar a correspondência que
incluíam o desejo de saúde.
A exortação ao iniciado do Rito Emulação, diz-lhe que é seu dever «seguir uma regra
de disciplina» que conduza «à preservação das vossas faculdades mentais e
corporais em toda a sua vitalidade».
Luciano escreveu: «O divino Pitágoras (…) nunca começava uma carta por Bom dia
ou Prosperidade, mas prescrevia começar por Saúde (…) porque convinha
perfeitamente à alma e ao corpo. Por outro lado, (…), ao pentagrama, símbolo
interno da seita, chamavam Saúde». A ideia de que o corpo humano reproduz por
analogia a composição do quintessencial do cosmos é também pitagórica.
Instruções sobre o grau de Companheiro | M. Vilas
O único homem para que a estrela pode remeter é o homem justo e perfeito,
aprumado e harmonioso, cuja unidade permite ao espírito brilhar em si, dando-lhe
saúde espiritual e física.