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A DOUTRINA DA PESSOA

E DA OBRA DE CRISTO

A p esso a de C ris to

Na Teologia, a discussão sobre a doutrina do homem é seguida pela


doutrina de Cristo. A transição de uma para a outra não só é lógica, mas
também muito natural e fácil. O nosso estudo da doutrina do homem concluiu
com uma explicação da aliança da graça, e desta podemos agora passar
naturalmente para a consideração do M ediador da aliança, Jesus Cristo, e
para a obra objetiva4 da redenção efetuada por ele para todo o seu povo.
Discutiremos a aplicação subjetiva4 dessa obra numa seção posterior.

Os n o m e s d e C ris to

Há um grande número de nomes que são aplicados a Cristo na Escritura,


dos quais uns apontam para o seu ser essencial, outros, para as suas naturezas.
Uns servem para designar o seu estado, e outros, os seus ofícios. Ele é
chamado de Filho de Deus, Filho do Homem, Homem de Dores, Senhor da
Glória, Messias, Mediador, Senhor, Profeta, Sacerdote e Rei. Cinco de seus
nomes exigem discussão especial, a saber: Jesus, Cristo, Filho do Homem,
Filho de Deus e Senhor.

A. O N O M E JESU S. O nome “Jesus” é simplesmente a forma grega do


nome hebraico “Jehoshua” (Josué) (Js 1.1; Zc 3.1), do qual a forma regular
nos livros históricos pós-exílicos é “Jeshua” (Jesua) (Ed 2.2). O nome é
provavelm ente derivado da palavra hebraica “salvar”, o que está
inteiramente de acordo com a interpretação dada pelo anjo do Senhor em
Mateus 1.21. O nome foi usado por dois bem conhecidos tipos de Jesus
do Antigo Testamento: Josué, o filho de Num, que prefigurou Cristo como
líder real, dando a seu povo a vitória sobre os seus inimigos e conduzindo-o
à terra santa; e Josué, o filho de Jeozadaque, que tipificou o Cristo como
o grande sumo sacerdote levando os pecados de seu povo (Zc 3.1ss).
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B. O NOME CRISTO. O nome “Cristo” é o equivalente neotestamentário


de “M essias” do Antigo Testamento, e significa “ungido”. N a antiga
dispensação, os reis e sacerdotes eram regularmente ungidos (Êx 29.7;
L v4.3; Jz 9.8; 1Sm 9.16; 10.1; 2Sm 19.10). O rei era chamado o “ungido
do S e n h o r ” (IS m 24.6).

Há apenas um único exemplo registrado da unção de um profeta


(lR s 19.16), mas houve provavelmente referência a ela em Salmos 105.15
e Isaías 61.1. O óleo usado na unção sim bolizava o Espírito de Deus
(Is 61.1), e o ato de ungir representava uma transferência do Espírito
para a pessoa consagrada (1 Sm 10.1,6,10; 16.13-14). Incluía três elementos:
(1) a designação para um ofício; (2) o estabelecimento de um a relação
sagrada entre o ungido e Deus; e (3) a comunicação do Espírito de Deus
àquele que tomou posse do oficio (IS m 16.13). O Antigo Testamento
refere-se à unção do Senhor em Salmos 2.2 e 45.7; e o Novo Testamento,
em Atos 4.27 e 10.38. Cristo foi indicado ou designado para o seu ofício
desde a eternidade, mas historicamente sua unção aconteceu quando foi
concebido pelo Espírito Santo (Lc 1.35), e quando recebeu o Espírito,
principalmente no momento de seu batismo (Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22;
Jo 1.32; 3.34). Isso serviu para qualificá-lo para a sua grande missão.

C. O NO M E FILH O DO H O M EM . O nom e “F ilho do H om em ”


encontra-se em Salmos 8.4; em Daniel 7.13; Enoque5 46 e 62; 2Ed5 13 e,
além disso, é um a designação freqüente do profeta Ezequiel. Hoje, é
geralmente admitido que, quando aplicado a Cristo, o nome deriva de
D aniel 7.13, embora nessa passagem seja m eram ente um apelativo
descritivo, e não um título ainda. Entretanto, já havia se tomado um título
quando o livro de E noque foi escrito. “F ilho do H om em ” era a
autodesignação mais comumente usada por Jesus. Ele o usou em mais de
quarenta ocasiões, enquanto outras pessoas quase nunca o empregavam,
sendo as únicas exceções as indicadas em João 12.34; Atos 7.56;
Apocalipse 1.13; 1 4 .1 4 .0 nome é, por certo, expressivo da humanidade
de Cristo, e é usado, às vezes, em passagens em que Jesus fala de seus
sofrimentos e da sua morte; mas é também claramente sugestivo da
singularidade de Jesus, de seu caráter sobre-humano e de sua vinda futura
com as nuvens do céu em glória celeste (Mt 16.27-28; Mc 8.38; Jo 3.13-
14; 6.27; 8.28). Alguns são de opinião de que Jesus gostava desse nome
mais do que dos outros, porque era pouco entendido e serviria muito bem
para ocultar a sua missão messiânica. É mais provável, porém, que ele o
preferisse porque não continha nenhuma sugestão das interpretações
errôneas do Messias que eram correntes entre os judeus.
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D. O NOM E FILHO DE DEUS. O nom e “Filho de D eus” é usado


variadamente no Antigo Testamento. Aplica-se a Israel como nação (Êx
4.22; Os 11.1), ao rei prometido da casa de Davi (2Sm 7.14; SI 89.27),
aos anjos (Jó 1.6; 38.7; SI 29.1) e às pessoas piedosas em geral (Gn 6.2;
SI 73.15; Pv 14.26). No Novo Testamento Jesus apropriou-se do nome, e
os seus discípulos e até os demônios ocasionalmente lho atribuíam ou o
tratavam por ele. O nome, quando aplicado a Cristo, não tem sempre
exatamente o mesmo sentido. Ele é usado:

1. NO SENTIDO NATALÍCIO, ou seja, para indicar que a natureza


humana de Cristo deve sua origem à direta atividade sobrenatural de
Deus, e mais particularmente, do Espírito Santo. Em Lucas 1.35, o
nome “Filho de Deus” claramente denota esse fato.

2. NO SENTIDO OFICIAL OU MESSIÂNICO, descrevendo mais o


ofício que a natureza de Cristo. O Messias é frequentemente chamado
o Filho de Deus, como seu herdeiro e representante. Os demônios
evidentemente usaram o nome nesse sentido (Mt 8.29). Parece ter
esse significado tam bém em M ateus 24.36 e M arcos 13.32. Há
passagens em que esse significado é combinado com o que se segue.

3. NO SENTIDO TRINITÁRIO, que serve para designar o Cristo como


a segunda pessoa da Trindade. É o sentido mais profundo em que o
nome é usado. Provavelmente, o próprio Jesus tenha invariavelmente
empregado o nome nesse sentido específico. É assim usado claramente
em Mateus 11.27; 14.28-33; 16.16; 21.33-46; 22.41-46; 26.63, e em
passagens paralelas dos outros evangelhos. Em algumas das passagens
indicadas entra também mais ou menos a ideia da filiação messiânica.

E. O NOME SENHOR. O nome “Senhor”, quando aplicado a Cristo no


Novo Testamento, tem também diversos sentidos.

1. Em certos casos, é usado simplesmente como forma de tratamento


cortês e respeitoso (Mt 8.2; 20.33). Em tais casos, significa pouco
mais do que a palavra “senhor” que se usa com frequência no tratamento
cortês entre nós.

2. Em outras passagens, é expressivo de domínio e autoridade, sem indicar


algo quanto ao caráter divino de Cristo e sua autoridade em assuntos
espirituais e eternos (Mt 21.3; 24.42).

3. Finalmente, há passagens em que é expressivo do caráter exaltado de


Cristo e sua suprema autoridade espiritual, e é quase o equivalente ao
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nome de Deus (Mc 12.36-37; Lc 2.11; 3.4; At 2.36; ICo 12.3; Fp


2.11). É especialmente depois da ressurreição que esse nome é aplicado
a Cristo como indicação do fato de que ele é o dono e o governador da
igreja, embora haja exemplos que mostram que o nome aproximava-se
desse significado mesmo antes da ressurreição (Mt 7.22; Lc 5. 8).

P er g u n t a s pa r a r e c a p it u l a ç ã o :

1. Como a doutrina da pessoa e obra de Cristo se relaciona com a do


homem em relação com Deus?

2. Que diferentes espécies de nomes se aplicam a Cristo na Escritura?

3. Qual é a derivação e o significado do nome “Jesus”?

4. Quem são os tipos de Cristo no Antigo Testamento?

5. Qual é o significado do nome “Cristo”?

6. O que significa o óleo usado na unção?

7. Que elementos eram usados na unção?

8. Quando Cristo foi ungido para a sua obra?

9. De onde derivou a expressão “Filho do Homem”?

10. O que ela expressa?

11. Por que Cristo deu preferência a esse nome?

12. Outros aplicaram-no a ele?

13. Em que sentido é usado o nome “Filho de Deus” no Antigo Testamento?

14. Quais são seus diferentes sentidos quando aplicado a Cristo?

15. Quais são os diferentes significados do nome “Senhor” quando aplicado


a Cristo no Novo Testamento?

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