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A DIVINDADE DE CRISTO

A comprovação bíblica da divindade de Cristo é bem ampla no Novo


Testamento. Vamos examinar as declarações diretas da Bíblia de que Jesus é
Deus ou de que é divino.

*A palavra Deus (theos) atribuída a Cristo*. Apesar de a palavra theos,


“Deus”, ser em geral reservada no Novo Testamento para Deus Pai, há
algumas passagens em que é também empregada em referência a Jesus
Cristo. Em todos esses trechos, a palavra “Deus” é empregada com um sentido
denso em referência àquele que é Criador do céu e da terra, o governante de
tudo. Entre essas passagens encontram-se *João 1.1 e 18* (em manuscritos
melhores e mais antigos); *João 20.28*; *Romanos 9.5*; *Tito 2.13*; *Hebreus
1.8* (citando *Sl 45.6*) e *2Pedro 1.1*. Há pelo menos essas sete passagens
no Novo Testamento que se referem explicitamente a Jesus como Deus.
Um exemplo do *Antigo Testamento* do *nome Deus aplicado a Cristo*
encontra-se numa *passagem messiânica* bem conhecida: “Porque um menino
nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o
seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, *Deus Forte*...” (Is 9.6).

b. A palavra Senhor (kyrios) atribuída a Cristo. Às vezes a palavra


Senhor (gr. kyríos) é empregada simplesmente como tratamento respeitoso
dispensado a um superior (veja Mt 13.27; 21.30; 27.63; Jo 4.11). Às vezes
pode simplesmente significar “patrão” de um servo ou escravo (Mt 6.24; 21.40).
Ainda assim, a mesma palavra é também empregada na Septuaginta (a
tradução grega do Antigo Testamento, de uso comum na época de Cristo)
como uma tradução do hebraico yhwh, “Javé”, ou (conforme traduzido com
frequência) “o Senhor” ou “Jeová”. A palavra kyrios é empregada para traduzir
o nome do Senhor 6 814 vezes no Antigo Testamento grego. Assim, qualquer
leitor grego da época do Novo Testamento que conhecesse um pouco o Antigo
Testamento grego reconheceria que, nos contextos apropriados, a palavra
“Senhor” era o nome do Criador e Mantenedor do céu e da terra, o Deus
onipotente.
Ora, há muitos casos no Novo Testamento em que “Senhor” é empregado
em referência a Cristo e só pode ser compreendido nesse sentido
veterotestamentário denso: “o Senhor” que é Javé ou o próprio Deus. Esse
emprego da palavra “Senhor” é bem contundente na palavra do anjo aos
pastores de Belém: “... hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é
Cristo, o Senhor”(Lc 2.11). Embora essas palavras nos sejam familiares pela
leitura frequente da história de Natal, precisamos perceber como seria
surpreendente para qualquer judeu do primeiro século ouvir que algum recém-
nascido era o “Cristo” (ou “Messias”)18 e, além disso, que esse Messias era
também “o Senhor” - ou seja, o próprio Senhor Deus! O significado
surpreendente da declaração do anjo, que os pastores tiveram dificuldade em
acreditar, equivalia, em essência, a dizer: “Hoje em Belém, nasceu uma criança
que é vosso Salvador e vosso Messias, e é o próprio Deus”. Não é de
estranhar que “todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos
pastores” (Lc 2.18).
Quando Maria chega para visitar Isabel alguns meses antes do
nascimento de Jesus, Isabel diz: “E de onde me provém que me venha visitar a
mãe do meu Senhor?” (Lc 1.43). Uma vez que Jesus nem havia nascido, Isabel
não podia estar empregando a palavra “Senhor” com algum sentido de “senhor”
humano. Antes, estava empregando-a no sentido veterotestamentário mais
denso, dando um significado admirável à frase: “Por que me é concedido que a
mãe do próprio Senhor Deus venha a mim?”. Ainda que seja uma declaração
muito vigorosa, é difícil compreender nesse contexto a palavra “Senhor” em
algum sentido menos profundo.
Vemos outro exemplo quando Mateus diz que João Batista é o que clama
no deserto: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mt
3.3). Ao fazê-lo,João está citando Isaías 40.3, que fala do próprio Senhor Deus
chegando para o meio de seu povo. Mas o contexto aplica essa passagem ao
papel de João na preparação do caminho para a vinda de Jesus. A implicação
é que quanto Jesus vier, o próprio Senhor w irá.
Jesus também se identifica como o Senhor soberano do Antigo
Testamento quando pergunta aos fariseus acerca de Salmos 110.1: “Disse o
Senhor ao meu Senhor. Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus
inimigos debaixo dos teus pés” (Mt 22.44). O significado dessa frase é que
“Deus Pai disse a Deus Filho [o Senhor de Davi]: Assenta- te à minha direita...”
Os fariseus sabem que ele está falando de si mesmo e se identificando como
alguém digno do título veterotestamentário kyrios, “Senhor”.
Tal uso é visto com frequência nas epístolas, onde “o Senhor” é nome
comumente empregado em referência a Cristo. Paulo diz: “... há um só Deus, o
Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor,
Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele” (ICo 8.6;
cf. 12.3 e muitas outras passagens nas epístolas paulinas).
Uma passagem especialmente clara encontra-se em Hebreus 1, em que o
autor cita o salmo 102, que fala sobre a obra do Senhor na criação e a aplica a
Cristo:
No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra,
e os céus são obra das tuas mãos;
eles perecerão; tu, porém, permaneces;
sim, todos eles envelhecerão qual veste;
também, qual manto, os enrolarás,
e, como vestes, serão igualmente mudados;
tu, porém, és o mesmo,
e os teus anos jamais terão fim (Hb 1.10-12).

Cristo é aqui mencionado explicitamente como o Senhor eterno do céu e


da terra que criou todas as coisas e permanecerá imutável para sempre. Tal
emprego específico do termo “Senhor” em referência a Cristo culmina em
Apocalipse 19.16, onde vemos Cristo retornar como Rei vencedor, tendo “no
seu manto e na sua coxa um nome inscrito: Rei dos Reis e Senhor dos
Senhores”.
c. Outras fortes alegações de divindade. Além dos usos da palavra Deus
e Senhor em referência a Cristo, temos outras passagens que defendem com
vigor a divindade de Cristo. Quando Jesus disse a seus opositores judeus que
Abraão vira seu dia (o dia de Cristo), eles o contestaram: “Ainda não tens
cinquenta anos e viste Abraão?” (Jo 8.57). Aqui uma resposta suficiente para
provar a eternidade de Jesus teria sido: “Antes que Abraão fosse, eu era”. Mas
não foi isso que Jesus disse. Antes, ele fez uma declaração muito mais
estarrecedora: “Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão
existisse, eu sou” (Jo 8.58). Jesus combinou duas declarações cuja sequência
parecia não fazer sentido: “Antes de ocorrer algo no passado [Abraão
existisse], ocorreu algo no presente [eu sou]”. Os líderes judaicos
reconheceram de imediato que ele não estava falando por enigmas nem
pronunciando insensatez: quando disse “eu sou”, estava repetindo as palavras
que o próprio Deus empregou quando se identificou a Moisés como “eu sou o
que sou” (Êx 3.14). Jesus estava atribuindo a si o título “eu sou”, pelo qual
Deus designa-se como o que existe eternamente, o Deus que é a fonte da
existência dele próprio e que sempre foi e sempre será. Quando os judeus
ouviram essa declaração solene, enfática, incomum, sabiam que ele estava
alegando ser Deus. “Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus
se ocultou e saiu do templo” (Jo 8.59).19
Outra forte alegação de divindade é a declaração de Jesus no final de
Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Omega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o
Fim” (Ap 22.13). Quando isso é combinado com a declaração de Deus Pai em
Apocalipse 1.8, “Eu sou o Alfa e Omega”, também constitui uma forte alegação
de divindade equivalente à de Deus Pai. Soberano sobre toda a história e
sobre toda a criação, Jesus é o princípio e o fim.
Em João 1.1, o autor não só chama Jesus de “Deus”, como também se
refere a ele como “o Verbo” (gr. logos). Os leitores de Joao reconheciam nesse
termo logos uma dupla referência tanto à Palavra de Deus poderosa e criadora
do Antigo Testamento, pela qual os céus e a terra foram criados (Sl 33.6), como
ao princípio organizador ou unificador do universo, dando-lhe conjunto e
sentido dentro do pensamento grego.20 João está identificando Jesus com
essas duas ideias, dizendo que ele não é só a Palavra de Deus poderosa,
criadora, e a força que organiza e unifica o universo, mas também que se
tomou homem: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e
de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).
Eis outra forte alegação de divindade, juntamente com uma declaração
explícita de que Jesus também se tornou homem e andou entre nós como
homem.
É possível encontrar outras evidências de alegações de divindade no fato
de Jesus denominar-se “o Filho do homem”. Esse título é empregado oitenta e
quatro vezes nos quatro evangelhos, mas somente por Jesus e somente para
falar de si próprio (observe,
e.g., Mt 16.13 e Lc 9.18). No restante do Novo Testamento, a frase “o
Filho do homem” (com o artigo definido “o”) é empregado somente uma vez,
em Atos 7.56, onde Estêvão refere-se a Cristo como o Filho do Homem. Essa
expressão singular possui como pano de fundo a visão de Daniel 7, segundo a
qual Daniel viu um como um “Filho do Homem” que se dirigiu “ao Ancião de
Dias” e recebeu “domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e
homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que
não passará” (Dn 7.13-14). E notável que esse “filho do homem” veio “com as
nuvens do céu” (Dn 7.13). Essa passagem fala claramente de alguém que teve
origem celestial e recebeu domínio eterno sobre todo o mundo. Os sumos
sacerdotes não perderam de vista o centro dessa passagem quando Jesus
disse: “... desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-
Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu (Mt 26.64). A referência a Daniel
7.13-14 era indubitável, e o sumo sacerdote e seu conselho sabiam que Jesus
estava alegando ser o governante eterno do mundo, aquele de origem celestial
mencionado na visão de Daniel. De imediato, disseram: “Blasfemou! [...] É réu
de morte” (Mt 26.65-66). Aqui Jesus finalmente explicita as fortes
reivindicações de que o governo eterno do mundo, antes só insinuado em seu
frequente uso do título “Filho do homem”, aplicam-se a ele próprio.
Ainda que o título “Filho de Deus” possa às vezes ser simplesmente
empregado em referência a Israel (Mt 2.15), ou ao homem criado por Deus (Lc
2.38), ou ao homem regenerado em geral (Rm 8.14, 19, 23), há, entretanto,
casos em que a frase “Filho de Deus” se refere a Jesus como o Filho celestial
eterno igual ao próprio Deus (veja Mt 11.25- 30; 17.5; ICo 15.28; Hb 1.1-3, 5,
8). Isso ocorre especialmente no evangelho de João, em que Jesus é visto
como um Filho singular do Pai (Jo 1.14, 18,34,49) que revela plenamente o Pai
(Jo 8.19; 14.9). Como Filho, ele é tão magnífico que podemos confiar nele para
obter a vida eterna (algo que não se poderia dizer de nenhum ser criado: Jo
3.16, 36; 20.31). Ele é também aquele que possui toda a autoridade
proveniente do Pai para dar vida, pronunciar julgamento eterno e governar
sobre tudo (Jo 3.36; 5.20-22, 25; 10.17; 16.15). Como Filho, ele foi enviado
pelo Pai e, portanto, existia antes de vir ao mundo (Jo 3.37; 5.23; 10.36).
Os primeiros três versículos de Hebreus são enfáticos ao dizer que o
Filho é aquele a quem Deus “constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual
também fez o universo” (Hb 1.2). Esse Filho, diz o autor, “é o resplendor da
glória e a expressão exata [lit, é a ‘duplicata exata’, gr. charaktêr] do seu Ser,
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). Jesus é a
duplicata exata da “natureza” (ou ser, gr. hypostasis) de Deus, que o torna
exatamente igual a Deus em todos os atributos. Além disso, ele mantém
continuamente o universo “pela palavra do seu poder”, algo que só Deus podia
fazer.
Essas passagens combinam-se para indicar que o título “Filho de Deus”,
quando aplicado a Cristo, declara com firmeza sua divindade como o Filho
eterno na Trindade, alguém igual ao Pai em todos os seus atributos.
2. Sinais de que Jesus possuía atributos de divindade. Além das
afirmações específicas da divindade de Jesus vistas nas muitas passagens
citadas acima, vemos muitos exemplos de atos na vida de Jesus que indicam
seu caráter divino.
Jesus demonstrou sua onipotência quando acalmou a tempestade no mar
com uma palavra (Mt 8.26-27), multiplicou os pães e peixes (Mt 14.19) e
transformou a água em vinho (Jo 2.1-11). Alguns podem objetar, dizendo que
esses milagres só mostraram o poder do Espírito Santo agindo por intermédio
dele, assim como o Espírito Santo poderia agir por meio de qualquer outro ser
humano e, assim, isso não comprova a divindade de Jesus. Mas as
explicações contextuais desses eventos muitas vezes destacam não o que
demonstram do poder do Espírito Santo, mas o que demonstram do próprio
Jesus. Por exemplo, depois que Jesus transformou água em vinho, João nos
diz: “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galiléia;
manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2.11). O que se
manifestou não foi a glória do Espírito Santo, mas a glória do próprio Jesus,
quando seu poder divino atuou para transformar a água em vinho. De modo
semelhante, depois que Jesus acalmou a tempestade no mar da Galiléia, os
discípulos não disseram: “Como é grande o poder do Espírito Santo que age
por intermédio deste profeta”, mas: “Quem é este que até os ventos e o mar lhe
obedecem?” (Mt 8.27). Era a autoridade do próprio Jesus a que o vento e as
ondas estavam sujeitos, e isso só podia ser a autoridade de Deus que domina
sobre os mares e tem poder para acalmar as ondas (Cf. SI 65.7; 89.9;
107.29).21
Jesus afirma sua eternidade quando diz: “... antes que Abraão existisse,
eu sou” (Jo 8.58, veja discussão acima), ou, “Eu sou o Alfa e o Ômega” (Ap
22.13).
A onisciência de Jesus é demonstrada no fato de conhecer os
pensamentos das pessoas (Mc 2.8), de ver, de muito longe, Natanael sob a
figueira (Jo 1.48), de conhecer “desde o princípio, quais eram os que não criam
e quem o havia de trair” (Jo 6.64). É claro que a revelação de eventos ou fatos
particulares e específicos era algo que Deus podia dar a qualquer um que
tivesse o dom de profetizar no Antigo ou no Novo Testamento. Mas o
conhecimento de Jesus era muito mais extenso. Ele sabia “quais eram os que
não criam”, implicando com isso que distinguia a fé ou a incredulidade que
estava no coração de todos os homens. De fato, João diz explicitamente que
Jesus “não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do
homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2.25). Os
discípulos mais tarde puderam dizer-lhe: “Agora, vemos que sabes todas as
coisas' (Jo 16.30). Essas declarações dizem muito mais do que se poderia
dizer de qualquer grande profeta ou apóstolo do Antigo ou do Novo
Testamento, pois implicam onisciência da parte dejesus.22
Por fim, depois de ressuscitar, quando perguntou a Pedro se o amava,
este respondeu: “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”
(Jo 21.17). O que Pedro está dizendo aqui não é só que Jesus conhece seu
coração e sabe que ele o ama; é muito mais. Ele está, antes, fazendo uma
declaração geral (“tu sabes todas as coisas”) e, a partir disso, chega a uma
conclusão específica (“tu sabes que eu te amo”). Pedro está convicto de que
Jesus conhece o que está no coração de cada pessoa e, portanto, tem certeza
de que Jesus conhece o coração dele.
O atributo divino da onipresença de Jesus durante seu ministério terreno
não é afirmado diretamente. Entretanto, ao olhar para o futuro, quando a igreja
seria estabelecida, Jesus podia dizer: “... onde estiverem dois ou três reunidos
em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20). Além disso, antes de deixar
a terra, disse aos discípulos: “E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século” (Mt 28.20).23
Vê-se que Jesus possuía soberania divina, um tipo de autoridade
exclusiva de Deus, no fato de que ele podia perdoar pecados (Mc 2.5-7).
Diferente dos profetas do Antigo Testamento que declaravam “Assim diz o
Senhor”, ele podia introduzir suas declarações com a frase: “Eu, porém, vos
digo” (Mt 5.22, 28, 32, 34, 39, 44) - uma alegação surpreendente da própria
autoridade. Ele podia falar com a autoridade do próprio Deus porque ele
mesmo era plenamente Deus. O Pai tinha-lhe dado “todas as coisas”, bem
como a autoridade para revelar o Pai a quem desejasse (Mt 11.25-27). Sua
autoridade é tal, que o futuro estado eterno de cada um no universo depende
do fato de crer nele ou rejeitá-lo (Jo 3.36).
Jesus também possuía o atributo divino de imortalidade, a incapacidade
de morrer. Vemos isso indicado no início do evangelho de João, quando Jesus
fala aos judeus: “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei’ (Jo
2.19). João explica que não estava falando do templo feito com pedras em
Jerusalém, “porém, se referia ao santuário do seu corpo. Quando, pois, Jesus
ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele
dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus” (Jo 2.21-22).
Precisamos insistir, é claro, que Jesus realmente morreu: a própria passagem
fala de quando ele “ressuscitou dentre os mortos”. Mas é também significativo
que Jesus prediz que terá função ativa na própria ressurreição: “o
reconstruirei”. Ainda que outras passagens digam que Deus Pai atuou na
ressurreição de Cristo, aqui ele diz que ele mesmo atuará em sua ressurreição.
Em outra passagem do evangelho de João, Jesus alega ter poder para
entregar a vida e reassumi-la: “Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha
vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu
espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e para reavê-la.
Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.17-18). Aqui Jesus fala de um poder
que nenhum outro ser humano teve — o poder de entregar a vida e o poder de
retomá-la. Mais uma vez, isso é uma indicação de que Jesus possuía o atributo
divino da imortalidade. De modo semelhante, o autor de Hebreus diz que Jesus
é sacerdote “constituído não conforme a lei de mandamento carnal, mas
segundo o poder de vida indissolúvel” (Hb 7.16). (O fato de a imortalidade ser
uma característica singular exclusiva de Deus é visto em lTm 6.16, que fala de
Deus como “o único que possui imortalidade”.)
Outra confirmação clara da divindade de Cristo é o fato de ele ser
considerado digno de culto, algo que não pode ser dito de nenhuma outra
criatura, inclusive anjos (veja Ap 19.10), mas só de Deus. A Bíblia ainda diz de
Cristo: “Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo
nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e
debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória
de Deus Pai” (Fp 2.9-11). De modo semelhante, Deus ordena que os anjos
adorem a Cristo, pois lemos: “E todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6).
João tem permissão de vislumbrar o culto que ocorre no céu, pelo que vê
milhares e milhares de anjos e criaturas celestes em torno do trono de Deus
dizendo: “Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e
sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5.12). Então ele ouve “toda
criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o
que neles há, estava dizendo: Aquele que está sentado no trono e ao Cordeiro,
seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap
5.13). Cristo é aqui chamado “o Cordeiro que foi morto”, sendo-lhe concedido o
culto universal oferecido a Deus Pai, demonstrando-se assim claramente sua
equivalência em divindade.
Cristo é plenamente divino. O Novo Testamento, em centenas de
versículos explícitos que chamam Jesus de “Deus” e “Senhor” e empregam
alguns outros títulos de divindade em referência a ele, e em muitas passagens
que lhe atribuem ações ou palavras aplicáveis somente ao próprio Deus,
declara repetidas vezes a divindade plena e absoluta de Jesus Cristo. “Aprouve
a Deus que, nele, residisse toda plenitude’ (Cl 1.19) e “nele, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9). Numa seção anterior
argumentamos que Jesus é plena e verdadeiramente homem. Agora
concluímos que ele é também plena e verdadeiramente Deus. Ele é
corretamente chamado “Emanuel”, ou seja, “Deus conosco” (Mt 1.23).
Por que é necessária a divindade de Jesus? Cabe reconhecer que é
crucialmente importante insistir na plena divindade de Cristo, não só porque ela
é ensinada de maneira clara nas Escrituras, mas também porque (1) só alguém
que fosse Deus infinito poderia arcar com toda a pena de todos os pecados de
todos os que cressem nele — qualquer criatura finita não seria capaz de arcar
com tal pena; (2) a salvação vem do Senhor (Jn 2.9 arc), e toda a mensagem
das Escrituras é moldada para mostrar que nenhum ser humano, nenhuma
criatura, jamais conseguiria salvar o homem - só Deus mesmo poderia; e (3) só
alguém que fosse verdadeira e plenamente Deus poderia ser o mediador entre
Deus e homem (ITm 2.5), tanto para nos levar de volta a Deus como também
para revelar Deus de maneira mais completa a nós (Jo 14.9).
Assim, se Jesus não é plenamente Deus, não temos salvação e, por fim,
nenhum cristianismo. Não é por acaso que ao longo da história os grupos que
abandonaram a crença na plena divindade de Cristo não têm permanecido
muito tempo na fé cristã, desviando-se logo para um tipo de religião
representada pelo unitarismo nos Estados Unidos e em outros lugares. “Todo
aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem
Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2Jo
9).

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