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PALAVRA VIVA
Revista de estudos bíblicos para jovens e adultos.
Publicação semestral.
2021 – Ano IV – Nº 01
Evangelho de Mateus – Jesus é o Deus presente para sempre
Revisão
Metodológica Profª Thaís Paiva Porto de Souza
Teológica/Didática Profº Fabiano Nogueira Cortez
Teológica/Ortográfica Pr. Tarcísio Farias Guimarães
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO
Sexta Mt 27:33-44
Sábado Mt 28:16-20
INTRODUÇÃO
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O APÓSTOLO EX-PUBLICANO
5
da multiforme graça de Deus, usando de todos os meios para que a verdade
bíblica fosse proclamada.
QUANDO E ONDE?
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O uso da linguagem semita, na maioria das vezes sem tradução ou
explicação, demonstra que ele escreveu para um contexto judaico:
Por isso, a Palestina seria, naturalmente, o lugar aceito como origem, mas
considera-se mais especificamente o litoral da Síria devido às evidências
linguísticas. A ausência de qualquer indicação da identidade dos seus
destinatários pode significar que o autor redigiu seu Evangelho no contexto da
própria igreja destinatária. A cidade provável para se encontrar uma comunidade
cristã de origem judaica na época era Antioquia da Síria (BÍBLIA BRASILEIRA DE
ESTUDOS, 2016, p.1271).
7
O TEMA CENTRAL
Os principais títulos usados foram: Cristo (Mt 1:1; 16:16), Filho de Davi, Filho
de Deus (8:29; 27:54) e Filho do Homem (8:20; 26:2); este último, preferido por
Jesus ao falar de si mesmo em terceira pessoa. Segundo Irênio Silveira Chaves
(2002, pp.36-37), Mateus faz uso deste título em três categorias: a sua condição
terrena (Mt 8:20), a sua condição como Servo Sofredor (17:12;22) e a perspectiva
escatológica (Mt 24:30; 25:31; Dn 7:13). Messias (em hebraico, Mashiach) ou
Cristo (em grego, Christos), contudo, é o título mais importante usado por Mateus
para identificar Jesus, considerando como pano de fundo o messianismo,
indispensável para entender o pensamento judaico ao tempo do seu ministério
terreno.
Mateus ensinou aos judeus do seu tempo que o Messias era o Rei (Mt 2:2;
27:29), Filho de Davi, que veio inaugurar o Reino de Deus (3:2; 4:17). Este reino,
que já foi inaugurado na primeira vinda de Jesus, será manifestado plenamente
na sua volta, no fim dos tempos. O Reino de Deus (em grego, Basileia) é a esfera
do domínio de Deus desde aqui até a eternidade, com a esperança de intervenção
futura de Deus (24:14). A entrada nesse Reino se dá através do arrependimento,
que representa a adoção de uma nova ética que Jesus veio ensinar (4:17).
Este Reino é chamado por Mateus de “Reino dos céus”. Sobre o uso da
expressão “Reino dos Céus”, preferida por Mateus (32 vezes), em vez de “Reino
de Deus” (4 vezes), pode tratar-se apenas de uma escolha estilística tendo em
vista os destinatários judeus e a observância do terceiro mandamento, que
ordenava não tomar o nome de Deus em vão (Êx 20:7). “Comparando o uso nos
demais evangelhos sinóticos (Marcos e Lucas), a preferência entre um termo ou
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outro não é relevante. Trata-se da mesma realidade e possui o mesmo significado
em qualquer situação” (CHAVES, 2002, p.39).
A ESTRUTURA DO EVANGELHO
Embora não tenha sido o primeiro a ser escrito, seus temas proporcionam
uma excelente transição entre o Antigo e o Novo Testamento, mostrando que a
vida e o ministério de Jesus cumprem as profecias e as expectativas a respeito do
Reino de Deus. “Dessa forma, Mateus faz o papel de ‘meio de campo’,
estabelecendo transição entre o AT e o alvo final de Deus na história da redenção
da humanidade em Jesus Cristo” (BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO, 2016, p.1269).
Mateus está mostrando que Jesus era aquela figura prometida que seria
maior do que Moisés (Dt 18:15). Ele libertaria Israel da escravidão, daria um novo
ensino divino, salvaria o povo dos seus pecados e estabeleceria uma Nova Aliança
entre Deus e seu povo (THE BIBLE PROJECT, 2020). As cinco partes principais do
livro apontam para Jesus como um Mestre ao lado dos cinco livros de Moisés,
sendo assim, a nova autoridade da Aliança que vai realizar a história do
Pentateuco (Torah, em hebraico: Instrução).
A estrutura do livro está baseada nestas cinco claras seções, que são
concluídas com cinco grandes discursos ou longos blocos de ensino de Jesus:
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O sermão do monte, que trata da ética do Reino (caps. 5-7);
O sermão de comissionamento dos discípulos (cap. 10);
A sequência de parábolas do Reino, que trata da soberania do Senhor
(cap. 13);
O sermão da humildade, que apresenta disciplinas eclesiásticas (cap. 18);
O PROPÓSITO DO TEXTO
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Mateus causou tanto impacto nas primeiras comunidades cristãs. Era a revelação
de Deus sobre o Seu Filho, contrariando todas as expectativas.
CONCLUSÃO
11
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QUESTÕES PARA ESTUDO
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Lição 02
A CHEGADA DO REI-MESSIAS
Sábado Mt 2:19-23
INTRODUÇÃO
O segundo capítulo registra que Jesus nasceu nos dias do rei Herodes, mais
especificamente quando magos do Oriente chegaram a Jerusalém. Eles foram
informados que Belém era a cidade profetizada para o nascimento (Mq 5), sendo
conduzidos até o lugar onde estava Jesus por uma estrela e, ao chegarem,
adoraram o menino (2:1-12). Depois que os magos partiram, José foi avisado por
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um anjo, em sonho, para fugir com o menino e sua mãe para o Egito, onde ficou
até à morte de Herodes. Mateus viu nesse fato o cumprimento da profecia
descrita em Oséias 11:1 (1:13-15). Herodes mandou matar todos os meninos
menores de dois anos, de Belém e dos arredores, segundo o tempo informado
pelos magos (2:16-18). Este fato, segundo Mateus, cumpriu de forma tipológica a
profecia de Jeremias (Jr 31:15). Depois da morte de Herodes, o anjo apareceu
novamente a José ordenando-o que voltasse a Israel, para a região da Galiléia.
O PRÓLOGO DE MATEUS
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ESQUEMA 02 – Significado do nome “Jesus Cristo”
16
Sayão (2020), “A história da salvação é construída a partir dos cacos da história
humana”.
(1) O ser humano nasce para a grandeza (Gn1:27). Nasceu para ser rei (Sl
8:4).
(2) O ser humano perde sua grandeza. Em vez de rei, torna-se escravo do
pecado. É a tragédia.
O NASCIMENTO DO REI-MESSIAS
17
Emanuel (Is 7:14; 8:8,10). Nas profecias subsequentes de Isaías, essa promessa
foi, finalmente, aplicada ao futuro rei davídico que um dia governaria a nação.
O termo hebraico Ìalmah, usado pelo profeta para referir-se à esposa do rei,
significa mulher jovem, podendo ser solteira ou casada. A Septuaginta, mais
antiga versão grega do Antigo Testamento, usou o termo partenós, que significa
virgem, dando espaço para a aplicação a Maria (Mt 1:23). Mas, o centro da
narrativa é o nascimento milagroso, por ação sobrenatural do Espírito Santo,
afirmado como pressuposto e confirmação da divindade do Messias. A concepção
sobrenatural de Cristo pelo Espírito Santo (v.20) garantiu que ele nascesse sem
pecado. Maria, portanto, não precisava ser imaculada para gerar Jesus santo. O
fato de ser gerado pelo Espírito Santo é o principal no texto; a gravidez de Maria
ainda virgem é um fato secundário, muito embora também seja um milagre. O
Novo Testamento apresenta Maria como mãe de Jesus e lhe dá destaque como
serva de Deus que foi agraciada com esta missão especial. A sua posição nos
evangelhos exige da igreja respeito e admiração, nada além disso. Ela fazia parte
da humanidade pecadora e necessitava igualmente de salvação (Lc 1:47), não
sendo capaz de interceder nem fazer mediação entre Deus e os homens (1Tm
2:6).
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Mateus é o único autor em todo o Novo Testamento que identifica Jesus,
explicitamente, como Emanuel (Is 7:14). A palavra grega Emmanouel significa
“Deus conosco” e comunica o fato de que Jesus era Deus unido com o homem,
estabelecendo sua habitação entre nós, uma ideia semelhante à do evangelista
João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”, ou seja, armou sua tenda entre
os homens (Jo 1:14). Para Mateus, o título Emanuel também define o ministério
de Jesus, que declara em suas próprias palavras: “e eu estarei convosco todos os
dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28:20). Os eruditos da Bíblia Brasileira de
Estudo (BBE) concordam que os textos de 1:23 e de 28:20 são a moldura dentro
da qual os detalhes do Evangelho de Mateus devem ser entendidos. Eles lembram
que o Cristo Emanuel nascido da virgem Maria é o mesmo Cristo ressurreto e o
Emanuel da Grande Comissão. É aquele que dá profundo significado à vida de seu
povo, e este, em todas as esferas do mundo, deve viver para proclamá-lo e
glorificá-lo.”. (BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO, 2016).
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de Daniel 1:20 e 2:2. Alguns deles eram conselheiros dos reis. A tradição oriental
fala em doze. Na Idade Média surgiu a ideia de que eram três, certamente por
causa dos presentes ofertados: ouro, incenso e mirra. Esta tradição advém da
interpretação de textos como Salmos 68:29 (“os reis te trarão presentes”). De
qualquer forma, é intrigante que eles tenham ido adorar o rei dos judeus (v.2).
Mateus está mostrando para a sua comunidade de judeus convertidos que Deus
também age entre os gentios pagãos, que estão fora da aliança com Israel. O
próprio fato de Jesus ser direcionado à Galiléia depois do retorno do Egito
comunica a intenção do autor em apresentar aos judeus o Messias como Salvador
de todos os povos.
Os três presentes podem ser uma referência a Jesus como rei, sacerdote e
profeta. Ouro para um rei, incenso para um sacerdote, mirra para quem vai
morrer (BARCLAY, 1984, p. 36). Os eruditos do Comentário Bíblico Nova Versão
Internacional (NVI), por outro lado, destacam a utilidade desses presentes na fuga
para o Egito como uma providência divina: “O ouro pagou os custos da viagem, o
incenso e a mirra, fáceis de carregar e com bons preços no Egito, supriram as suas
primeiras necessidades lá” (BRUCE, 2008, p.1555). O Filho de Deus identificado
profeticamente com Israel (Is 49.3), recapitulou a história do seu povo (2.15), indo
também ao Egito.
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leitores modernos que uma postura racionalista diante da Bíblia, negando o
milagre, nunca chegará à compreensão do seu sentido original: Deus age de
forma extraordinária na natureza, nos poderes terrenos e na vida das pessoas.
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Messias, como Servo Sofredor (Is 40-55), já que Nazaré era uma cidade
desprezível naqueles dias. Jesus é Deus que veio para identificar-se com o
sofrimento humano. Tanto Nazaré quanto toda a Galileia, região historicamente
oprimida, representam este sofrimento em todas as suas dimensões.
CONCLUSÃO
O nosso estudo dos primeiros dois capítulos de Mateus foi orientado pelo
tema central da obra, apresentado na primeira lição: Jesus é o Rei-Messias para
toda a humanidade. O prólogo do Evangelho deixa essa mensagem bastante clara
como um convite para os leitores. Por isso, a narrativa do seu nascimento e da
infância tem o seu acento na pessoa de Jesus que, com toda a sua vida, é uma
manifestação do amor e do poder de Deus. A comunidade para a qual Mateus
dirigiu primeiramente este livro estava sendo ensinada sobre a missão de
compartilhar esta mensagem para todos os povos.
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QUESTÕES PARA ESTUDO
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Lição 03
O INÍCIO DO MINISTÉRIO MESSIÂNICO
INTRODUÇÃO
Como vimos até aqui, o Evangelho de Mateus apresenta Jesus como o rei
messiânico. Os primeiros dois capítulos dão conta de como o seu nascimento e
sua infância revelam o plano de amor de Deus em resgate da humanidade perdida
no pecado. Nos capítulos 3 e 4, Mateus dá um salto cronológico na vida pessoal
de Jesus e passa a apresentá-lo como adulto. Esta escolha literária do evangelista
Mateus comunica que os fatos concernentes à sua infância, adolescência e
juventude não são relevantes ou prioritários para a revelação bíblica e sim o
relato de seu ministério (CHAVES, 2002).
24
batismo e a tentação como afirmação e teste da Sua identidade e missão, e o
começo, propriamente dito, ao lado dos seguidores mais próximos.
O PRECURSOR
Elias pregava o arrependimento como João Batista viria a fazer (Lc 3:8),
advertindo acerca do julgamento divino sobre o seu povo e a iminência da
instalação do Reino de Deus, em conformidade com as profecias de Isaías 40:3 e
Malaquias 4:5,6. Mesmo pertencendo a uma família sacerdotal descendente de
Arão (Lc.1:5), João renunciou a tudo para encarnar esta mensagem. O precursor
do Messias, com seu estilo de vida radical, estava denunciando a centralidade do
Templo (“no deserto” – v.1), a superioridade dos religiosos (“vestes de pelos de
camelo e um cinto de couro” – v.4), e a opressão da corte de Herodes
25
(“gafanhotos e mel silvestre” – v.4). Sua permanência no deserto, suas roupas e
sua comida representavam uma ação profética contra a estrutura religiosa e
política estabelecida.
A Bíblia Brasileira de Estudo (2016, p.1278) define assim estas duas seitas
judaicas:
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Filho de Deus, que traria o julgamento final para salvar os piedosos e destruir os
ímpios.
O BATISMO
27
crê e recebe Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Significa que ele morreu para o
mundo e nasceu para uma nova vida com Deus. Isto quer dizer que o batismo
acompanha a decisão pessoal de seguir a Cristo. Em todas as circunstâncias, a
Bíblia mostra o ato do batismo como consequência de dois fatos importantes: a
decisão de receber Jesus e a confissão pública da fé em Jesus como Salvador e
Senhor. Somente pessoas capazes de compreender o significado do ato deve ser
batizado. Por este entendimento, os Batistas historicamente nos levantamos
contra o pedobatismo, o batismo de crianças. Além do ensino por trás do símbolo,
a própria forma do batismo sugerida no texto (“saiu logo da água” – v.16)
comunica o seu significado profundo de transformação espiritual experimentada
através da fé (como foi ensinado por Paulo em Rm 6).
A TENTAÇÃO
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testa a sua resolução pessoal quanto à identidade afirmada pelo Pai. Ele usa uma
condicionante: “se tu és o Filho de Deus” (v.4;6). Uma vez vencida a tentação e
aprovado como Messias, Jesus inicia seu ministério. Esta experiência real de Jesus
transformou-se em um poderoso ensino cristão: Deus permite o sofrimento na
vida cristã para provar a fé dos crentes, mas Ele é sempre fiel para não permitir
que a situação usada para o teste extrapole a capacidade de suportar (1 Co
10:13).
29
Luiz Sayão, renomado biblista e hebraísta brasileiro, entende que esta
tentação aconteceu no nível mental, na forma de propostas. Jesus respondeu à
primeira declarando ser sustentado pela Palavra de Deus (Dt 8:3); a segunda foi
respondida com o compromisso de submissão à vontade de Deus (Dt 6:16); a
terceira, com a ordem de retirar-se e a convicção de que deveria adorar a Deus
através do sofrimento da cruz (Dt 6:13). Sayão ainda lembra que as três tentações
usaram ou distorceram a Palavra de Deus e que foram vencidas com a própria
Palavra de Deus. Sobre este fato, ele cita Antônio Vieira, no Sermão da
Sexagésima, de 1655: “As palavras de Deus, pregadas no sentido em que Deus as
disse, são palavras de Deus; mas pregadas no sentido em que nós queremos, não
são palavras de Deus, antes podem ser palavras do Demônio” (SAYÃO, 2020).
O INÍCIO DO MINISTÉRIO
30
ensinar (didaskon), pregar (kerysso) e curar (therapeuon) autenticavam o
ministério messiânico de Jesus e representam uma antecipação da eternidade (Ap
21:1-8).
MINISTÉRIO MESSIÂNICO
Irênio Silveira Chaves relaciona estas bases ministeriais de Mateus 4:23, que
são ensino, pregação e cura, com Mateus 9:5 e entende que, aqui, Mateus
“apresenta aos líderes de sua comunidade, o propósito de dar continuidade a esse
ministério tríplice de Jesus entre os homens. Creio até que se constitui em um
desafio para os pastores e líderes cristãos de hoje, de concentrar os esforços do
ministério nessas três áreas de atuação” (CHAVES, 2002, p.63). As curas realizadas
por Jesus serviram para autenticar a sua messianidade bem como a autoridade
concedida por Ele aos apóstolos. Na história bíblica, somente em dois outros
momentos, no Êxodo com Moisés e no início da monarquia com Elias e Eliseu,
esta quantidade de curas foi registrada. Hoje, Deus continua curando pessoas
milagrosamente, de acordo com Sua vontade e propósito. No entanto, as curas
divinas não são mais necessárias para autenticar o ensino e a pregação da igreja,
uma vez que o cânon das Escrituras está completo. O ministério de cura em uma
igreja local deve ser entendido de maneira mais ampla, através do cuidado entre
os irmãos a da assistência aos necessitados.
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CONCLUSÃO
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QUESTÕES PARA ESTUDO
2) Por que Jesus foi batizado e o que este fato representa para a vida cristã?
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Lição 04
A VIDA NO REINO DE DEUS
Sábado Mt 7:15-29
INTRODUÇÃO
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como deve viver aquele que entra no Seu reino. A entrada nesse reino, conforme
a pregação de João Batista (3:2) e do próprio Jesus (4:17), se daria através da
porta do arrependimento.
35
a promulgação da Lei no Sinai: “A Lei começa com os Dez Mandamentos, que
estabelecem as leis fundamentais que governam o comportamento daqueles que
começariam um relacionamento de aliança com Deus. As Bem-aventuranças são
dirigidas àqueles que mostram por meio da sua vida que já satisfizeram as
exigências do decálogo” (BRUCE, 2008, p.1569).
Os humildes de espírito
O reconhecimento da pobreza espiritual é a condição para receber o Reino de Deus - Is
57:15; 66:2;
Os que choram
Choro de arrependimento que demonstra um coração contrito diante de Deus - Is 6:5;
Os mansos
Consequência natural de quem é humilde de coração - Sl 37:11;
Os que têm fome e sede de justiça
Desejo intenso de praticar a justiça moral (Sl 42:1-2) e social (Am 8:4-6);
Os misericordiosos
Cuidar dos necessitados com os próprios recursos (Sl 41:1-4; Mq 6:8);
Os limpos de coração
Apego à verdade e transparância de caráter (Sl 24:4; 51:10);
Os pacificadores
Promover a paz e a reconciliação (Sl 34:14; 122:6-8); 36
Os perseguidos
Sofrer perseguição decorrente do discipulado cristão (Sl 44:22; Jr 15:15);
A ÉTICA SUPREMA DO REINO
37
pela vida e obra do Messias (SAYÃO, 2020). Somente pela ação sobrenatural do
Espírito Santo somos capacitados a cumprir as condições de permanência no
relacionamento com Deus. Por isso, o caminho para a vida no reino deve começar
na humildade (5:3) e tem como alvo o amor (5:44). Nesta direção, os discípulos
são desafiados a desistirem da justiça própria e da vida meramente religiosa, a
humilharem-se diante de Deus e exercitarem a dependência total, agindo sempre
motivados pelo amor.
A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE
38
Por isso, Jesus ensina que a oração deveria ser no “quarto secreto” (6:6). A
palavra tameion (em grego), além de um quarto privado, designa também a
dispensa, um recinto secreto que ficava na parte mais íntima da casa para que os
suprimentos ficassem protegidos dos ladrões e animais selvagens. Essa câmara de
provisões não possuía janelas e era a única parte da casa do agricultor da época
que podia ser trancada. Era a ilustração mais adequada para o sentido de “teu
Pai, que vê em secreto”, porque ninguém poderia entrar nem olhar. Jesus estava,
assim, estabelecendo a diferença entre a oração sincera e a oração dos fariseus,
realizada nas praças e nas sinagogas. O próprio Mestre deu exemplo aos seus
discípulos, ao se retirar com frequência para lugares isolados do assédio da
multidão a fim de conversar com o Pai (BÍBLIA BRASILERIA DE ESTUDO, 2016,
p.1287).
39
transformação interior. Novos pensamentos, palavras e atos têm origem nesse
processo. Mas o princípio estabelecido por Jesus, de receber o perdão divino
apenas quando perdoamos nossos devedores (6:12), eleva o nível de exigência do
discipulado ao máximo. Para o Mestre, a ausência de perdão demonstra a
ausência de transformação. Somente quem se reconhece pecador e agradece o
perdão recebido, pode, em total dependência, oferecer perdão. Quem não
perdoa, não conhece o perdão.
Para Jesus, uma das fontes de tentação está na relação com o dinheiro. O
discípulo é desafiado a assumir uma postura diante dos bens materiais na qual o
seu coração não seja dominado pelo desejo de possuir sempre mais, de acumular
e confiar nos “tesouros sobre a terra” (v.19). O problema para a espiritualidade
não é possuir ou não o dinheiro, mas qual é a relação do coração com o dinheiro;
é possível ter recursos e não ser escravizado pelos bens materiais. O teste do
dinheiro na espiritualidade é o serviço; usar o dinheiro ou servir ao dinheiro. Jesus
deixou claro que não é possível “servir a dois senhores” (v.24), e que é necessário
decidir-se entre Deus e Mamom (em aramaico, riqueza personificada em
oposição a Deus). Com este ensino, Jesus estava confrontando a religião dos
escribas e fariseus, uma religião baseada no discurso. Em seu comentário em
áudio Rota 66, Luiz Sayão explica que a hipocrisia religiosa é desmascarada pela
atitude dos religiosos diante dos bens materiais e dos compromissos do cotidiano.
Segundo ele, religiosos normalmente usam prosperidade material como evidência
de santidade pessoal; por esta visão de mundo, vivem sempre ansiosos, escravos
do dinheiro (SAYÃO, 2020).
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cuida dos pássaros e das plantas, e sabe de todas as necessidades dos seus
servos. Por esta razão, a oração do discípulo deve expressar confiança no sustento
diário e contínuo de Deus e não no acúmulo de bens materiais e poder humano.
Para vencermos a ansiedade, devemos confiar plenamente em Deus e priorizar o
serviço a Ele. A prioridade do seguidor de Jesus está no relacionamento pessoal
com Deus e no serviço ao Seu Reino (v.33).
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procedimento fala mais alto do que palavras e a imagem social. Os falsos profetas
“dizem” que demonstram poder espiritual (“hão de dizer-me” – v.22), mas servem
a Deus apenas da boca para fora (“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! –
v.21). Luiz Sayão destaca que nem mesmo demonstração de poder espiritual
serve como autenticação da espiritualidade do Reino; o extraordinário não supera
o ordinário (SAYÃO, 2020).
CONCLUSÃO
42
Seria impossível viver de acordo com as elevadas exigências éticas do
Sermão do Monte não fossem a presença e o poder de Jesus na vida do discípulo
pelo Espírito Santo. Por isso, humildade e amor são as marcas principais da
verdadeira espiritualidade cristã; ser humilde para receber e amar,
compartilhando tudo que recebe de Deus. As riquezas materiais deste mundo
passageiro não são o tesouro do coração de uma pessoa que vive com esta
postura. Aquele que confia no controle de Deus sobre todas as coisas e sacrifica
seus próprios interesses para viver de acordo com a justiça divina, vence a
ansiedade. Desta forma, o discípulo obedece à Palavra de Deus e frutifica como
verdadeiro cidadão do Reino dos Céus.
43
44
Lição 05
O PODER EXTRAORDINÁRIO DO MESSIAS
INTRODUÇÃO
45
líderes religiosos que se opunham tenazmente ao Seu ministério (8:16-22; 9:9-
17). O que Mateus está ensinando nesse trecho é que as pessoas só
experimentam verdadeiramente o poder da graça de Cristo quando O seguem e
se tornam Seus discípulos; quando escolhem posicionar-se humildemente diante
do poder sobrenatural do Messias que, além de realizar milagres, pode salvar do
pecado e da morte eterna.
46
realizado na ocasião, mereceu destaque de Mateus, provavelmente por se tratar
de uma mulher.
Uma grande multidão seguia a Jesus atraída pelos milagres. Mas, muitos
não estavam preparados para segui-lo prontamente, como é o caso de dois
discípulos que apresentaram desculpas para cuidarem dos seus interesses (8:18-
22). Mateus pode ter inserido este relato aqui para indicar que, já no início do
ministério de Jesus, havia pouca seriedade por parte de muitos que O seguiam. O
Evangelho ensina que, para seguir a Cristo, é necessário renúncia e disposição
para obedecer aos Seus ensinos e engajar-se no serviço cristão. Irênio Silveira
Chaves chama a atenção, no entanto, para o que ele entende ser a maior
renúncia exigida do cristão, a saber: a do orgulho de quem pensa que pode
resolver tudo sozinho e colocar-se no lugar de Deus (CHAVES, 2002, p.76).
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miraculoso de Jesus para ensinar que, aqueles que aceitam o desafio de segui-lo,
podem estar seguros de que nem mesmo as forças da natureza podem limitar a
Sua autoridade divina. Aprendemos com este episódio o que diz aquela canção
infantil tão conhecida: “com Cristo no barco, tudo vai muito bem”, de autoria de
Josué Barbosa Lira. Contudo, mesmo já tendo testemunhado vários milagres, os
discípulos temeram a tempestade; faltou-lhes fé e coragem, por isso foram
repreendidos, por causa da pequenez da sua fé. De todo modo, aquele milagre
abriria suas mentes para o fato de que estavam diante do Cristo, o Senhor de
tudo.
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completa, física e espiritual. Nem toda doença física é consequência do pecado
(Jo 9:2-3). Nesse caso em particular, Jesus percebeu que as duas coisas estavam
ligadas e que o homem precisava da libertação dos seus pecados, além da cura
física da paralisia.
49
que eles creram (v. 28,29), e que esse é o único caso em que a cura é
condicionada totalmente à fé e confiança da pessoa curada (BRUCE, 2008).
CONCLUSÃO
50
com a conclusão de Luiz Sayão (2020), que diz: “Diante do poder total e
extraordinário de Jesus, restava apenas a decisão radical de segui-lo ou rejeitá-lo.
A experiência com o poder de Jesus não permite neutralidade ou insensibilidade; a
sua presença é extraordinária e exige uma decisão”.
2) Por que Jesus fez questão de demonstrar que Seu poder estava acima de
regras e limites da religião?
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4) Por que era necessário que Jesus demonstrasse poder sobre as doenças
incuráveis, sobre os espíritos malignos e sobre a morte?
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5) Quais são as exigências de Jesus para que uma pessoa se torne seu
discípulo?
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Lição 06
A MISSÃO DOS APÓSTOLOS
INTRODUÇÃO
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ensinamentos de Jesus, mas são enviados a eles demonstrando compaixão,
mesmo sob o risco de serem ridicularizados e até mortos.
A NECESSIDADE DE MISSIONÁRIOS
Mateus não tem dúvida de que Jesus é Deus que veio para cuidar,
pessoalmente, do Seu rebanho. A ‘metáfora do pastor’ era muito significativa
para os judeus em toda a sua história e mesmo no tempo de Jesus. Esta figura é
aplicada aos principais líderes, como Moisés, Josué e Davi, e ao próprio Deus,
enquanto as ‘ovelhas sem pastor’ servem para ilustrar o povo de Israel
abandonado pelos maus líderes (BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO, 2016, p.1298). O
mundo hoje continua carente de cuidado e direção. O aumento das religiões e a
diversidade de doutrina dentro das religiões provocam uma desorientação
generalizada e um apego místico a qualquer nova mensagem. Por conta disso,
ideologias políticas estão sendo elevadas ao nível religioso. Mas, como o Estado
ou qualquer tipo de promoção humana não são capazes de conferir sentido pleno
à vida, as pessoas acabam afundando ainda mais em frustração e desespero.
53
vísceras eram a sede do amor e da piedade. Esta era a palavra mais forte da
língua grega para expressar a piedade que alguém pode experimentar por outro
ser humano (BARCLAY, 1984). Podemos dizer que todo o ministério de Jesus foi
movido pelo amor visceral que Ele conhecia na relação eterna com o Pai e com o
Espírito Santo, o amor eterno que é a essência divina. Assim, Ele não via números
e estatísticas, como o Império Romano fazia para auferir seus lucros escorchantes.
Ele via cada pessoa com suas necessidades e angústias, sofrendo como “ovelhas
que não têm pastor” (v.36). Sentia compaixão íntima por suas dores e tristezas,
sua fome, suas doenças, seu desespero.
OS MISSIONÁRIOS ESCOLHIDOS
54
testemunhas oculares do ministério, da ressurreição e da ascenção de Jesus (At
1:21-22). Os apóstolos de hoje são os ‘missionários’, aqueles que estão na linha
de frente da obra missionária. Toda igreja é apostólica quando se mantém fiel ao
ensino bíblico e obediente à comissão de evangelizar as nações.
William Barclay (1984) comentou que “Estes homens singelos, sem um pano
de fundo ou origem social destacada, provenientes de distintas esferas da fé,
eram as pedras fundamentais sobre as que se construiria a Igreja. Homens e
mulheres comuns constituem o material sobre o qual está fundada a Igreja de
Cristo”. Já os estudiosos do CBA notaram a importância do número doze como
símbolo da nova ordem que sucederia as doze tribos de Israel, não no sentido
político ou geográfico, mas como veículo para as bênçãos de Deus ao mundo,
tarefa originariamente dada a Abraão (Gl 3:7). (ADEYEMO, 2010, p.1174).
55
patrícios judeus. Mas a ordem não era permanente. O próprio evangelista se
encarrega de deixar isso claro, ao encerrar sua obra com a comissão de todos os
discípulos a todas as nações (28:19-20). Ele também anotou a profecia de Jesus
sobre o Evangelho sendo pregado a todas as nações (24:14) antes do fim do
mundo e o mundo inteiro reunido diante d’Ele para que todos sejam julgados
(25:32).
Eles deveriam ir com pressa e, por isso, sem o peso da bagagem. Sua
mensagem e a autorização para curar lhes foram concedidas gratuitamente,
portanto, os serviços prestados (v.9) seriam oferecidos igualmente de graça. Além
disso, contariam com a hospitalidade daqueles que recebessem a mensagem (v.
10). Eles também foram, por isso, orientados a dispensar o uso de bolsas (os
cintos serviam como uma bolsa ou carteira). Uma única túnica bastaria (algumas
pessoas carregavam uma extra - Mc 6.9). O mesmo princípio da túnica extra
deveria ser aplicado às sandálias e ao bordão. Jesus estava proibindo o conforto
desnecessário. Sobre os versículos 8-15, os estudiosos do Comentário Bíblico NVI
destacam que estamos aqui diante de princípios e não de regras. Paulo, por
exemplo, mesmo sendo apóstolo, se esforçou em levar consigo um companheiro
de viagem de posição semelhante (Mc 6.7) mas, ao menos em Corinto, fez
questão de não aceitar a hospitalidade de ninguém (1Co 9.12; 2Co 11.9; 12.13) e
de trabalhar pelo seu próprio sustento” (BRUCE, 2008, p.1581).
O Reino de Deus sempre provoca divisão entre quem recebe e quem rejeita.
Os apóstolos foram instruídos a oferecerem, gratuitamente, a mensagem e o
poder do Evangelho, mas as bençãos ou maldições dele resultantes seriam
condicionadas ao recebimento ou à rejeição. ‘Sacudir os pés’ (v.14) era um gesto
simbólico de desprezo ao sair de uma região gentílica, considerada impura. Ao
rejeitar os discípulos enviados por Jesus, aquelas casas ou localidades se
tornavam iguais às cidades gentílicas e merecedoras de juízo mais rigoroso do que
o reservado para “Sodoma e Gomorra” (v.15). William Barclay (1984) explica esta
associação às cidades de Sodoma e Gomorra lembrando que aquelas cidades,
antes da sua destruição, foram culpadas de uma grave violação das leis da
hospitalidade (Gênesis 19:1-11). Elas também tinham rechaçado os mensageiros
de Deus, os anjos, contudo, não tiveram a oportunidade de conhecer diretamente
56
ao Cristo e sua mensagem. É por isso que seu destino no dia do julgamento será
menos trágico que o das cidades e aldeias da Palestina (BARCLAY, 1984).
57
apenas aconselha seus fiéis a perseverar porque existe uma esperança”
(ADEYEMO, 2010, p.1175).
58
Comparando com Marcos 13:9-13, em que Jesus apresenta o mesmo ensino
no contexto de sinais de proximidade de Sua segunda vinda, os v.17-22
pressupõem uma missão mais extensa em termos de tempo e espaço do que a
viagem missionária que os apóstolos estavam realizando (BÍBLIA BRASILEIRA DE
ESTUDO, 2016, p.1300). Além disso, os registros de perseguição no ministério
deste período são bastante limitados (v.6). Desta forma, as palavras de Jesus,
reunidas por Mateus, podem ter sido pronunciadas quando enviou os Seus
discípulos a pregar pela primeira vez juntamente com as palavras que lhes
comunicou depois da ressurreição, quando os enviou a todo mundo (BARCLAY,
1984). Aqui temos, pois, não só palavras do Jesus da Galileia, mas também do
Cristo Ressuscitado, o mesmo Messias, apenas em estágios diferentes do Seu
ministério e de preparação dos Seus enviados. Desta forma, a “missão dos doze”
mantém uma relação de sentido com a passagem conhecida como “A Grande
Comissão” (28:16-20), o ponto mais alto do comissionamento evangélico.
CONCLUSÃO
Para a expansão do Reino que viera inaugurar, Jesus comissionou doze dos
Seus discípulos como apóstolos, para realizarem a obra que Ele havia começado:
ensinar, pregar e curar. Os apóstolos receberam autoridade para esta missão e
deveriam ser motivados pela mesma compaixão do Mestre. Embora fossem
perseguidos, deveriam estar seguros da recompensa de identificarem-se com os
sofrimentos e a glória do Messias. Assim como o Senhor, devemos rogar a Deus
por vocacionados aos campos distantes, mas pedir para que cada crente
demonstre que é salvo através de uma ardente compaixão pelos perdidos.
Enquanto ‘falsos apóstolos’ hoje buscam ser recompensados materialmente, a
igreja deve permanecer no firme propósito de seguir a Cristo mesmo em meio à
perseguição crescente em todo o mundo. Em cada ambiente no qual Deus nos
permitiu estar presentes e atuar, devemos ‘tomar a nossa cruz’ como símbolo do
compromisso radical de quem foi enviado com o privilégio de representar o
Senhor Jesus Cristo.
59
60
QUESTÕES PARA ESTUDO
61
Lição 07
A REJEIÇÃO AO MESSIAS
INTRODUÇÃO
A reação a Ele foi composta por dúvida, no caso de João Batista, por
neutralidade e frustração da parte de Sua própria família, e de oposição ferrenha
vinda dos líderes de Israel, principalmente os fariseus e os escribas, que O
62
consideravam herege e blasfemador. Mas, o Mestre não se mostrou surpreso
com essas reações e seguiu desenvolvendo Seu ministério na direção da cruz.
João Batista já havia dado testemunho de Jesus por ocasião do batismo (Jo
1:29). Ele compartilhava de um ponto de vista popular acerca do Messias que O
esperava como Juiz (3:1-10). O profeta pode ter se decepcionado com o fato de
Jesus ter escolhido ser primeiro um agente de misericórdia. No contexto
miserável da prisão, cansado e desanimado, com o sentimento de esperança
adiada, ele vacilou na fé. No que parece ser o sentido mais natural e instrutivo do
texto (A CAMBRIDGE BIBLE FOR SCHOOLS AND COLLEGES, 2020), duvidou e
enviou mensageiros em busca de confirmação (11:2-6). Jesus respondeu à dúvida,
citando indiretamente Isaías 29:18,19; 35:5,6; 61:1 e falando em termos de
manifestação de poder e anúncio do Evangelho aos pobres.
63
Mateus informaria depois (14:1-12) como Herodes Antipas, rei da Galileia e
da Pereia, mandou matar João Batista a pedido de Herodias, mulher de Felipe,
seu irmão, porque o profeta condenou o incesto do rei com ela. Nesse contexto,
aprendemos com o evangelista que a rejeição do rei galileu a Jesus era pela
crença de que João Batista havia ressuscitado e voltado como um messias. Para o
tirano, esta seria a única explicação para os seus poderes miraculosos (14:1-2). A
rejeição a João Batista também era uma rejeição ao Messias, do qual ele era o
precursor. Por esse motivo, Jesus já havia criticado, em outra ocasião, a atitude
incoerente dos religiosos, que rejeitaram tanto a João (“Tem demônio” – 11:18)
quanto a Ele (“glutão e bebedor de vinho” – 11:19). Como bem resumiu William
Barclay (1984), “Ao ascetismo de João chamavam loucura; à sociabilidade de
Jesus chamavam falta de moralidade. Em uma ou outra forma, sempre tinham
algo que criticar. O fato concreto é que quando a gente não quer escutar a
verdade, encontrará com muita facilidade alguma desculpa para não a escutar”.
64
entranhas. Todos testemunharam mais um milagre messiânico quando quatro
mil, contando apenas homens, comeram e se fartaram.
Todos estes milagres foram realizados por Jesus para comprovar Sua
natureza divina e para servir de sinal messiânico diante do povo. Contudo, o povo
ficou preso apenas nos milagres como simples demonstração de poder e não
entendeu que estava diante do Verdadeiro Deus. Isso pode explicar o motivo pelo
qual a rejeição ao Messias não foi apenas por parte dos religiosos, mas também
do povo das “cidades impenitentes” Corazim, Betsaida e Cafarnaum (11:20-24).
Mateus deixa claro que o Reino já estava no meio deles com sua mensagem e
poder, mas não houve o necessário arrependimento (v.20). Por isso, aquela
população estaria debaixo de maior rigor no julgamento do que cidades
estrangeiras como Tiro e Sidom, Sodoma e Gomorra. Em momento posterior
(12:43-45), Jesus explicaria que experimentar cura física, ou até mesmo libertação
do poder de demônios, não significava salvação. A pessoa liberta de um espírito
imundo voltaria a ficar sujeita ao Diabo, se a sua ‘casa’ (v.44), o seu coração, não
fosse preenchido pelo Espírito Santo. Uma vez que a pessoa recebe a mensagem
de Cristo, é necessário abrir o coração imediatamente, por se estar diante de uma
nova realidade.
65
A intenção de Jesus era enfatizar a importância de uma decisão pessoal
diante da Sua revelação como Messias. Por isso, quando procurado por Sua
família, afirmou que aquele que faz parte do Seu Reino são “mãe e irmãos” dele
(12:49-50). O Seu ensino na sinagoga de Nazaré causou admiração por causa da
sabedoria e do poder; os conterrâneos se perguntavam: “não é este o filho do
carpinteiro?” (13:55). O evangelista Marcos acrescenta que tamanha foi a
incompreensão dos familiares de Jesus a ponto de chegarem a considerá-lo “fora
de si” (Marcos 3:21). Já Mateus fez uma nota que carece de explicação: “não fez
ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles” (58). O poder de Jesus não
dependia da fé das pessoas, mas não era mais proveitoso nem benéfico fazer
sinais messiânicos naquela região; não faria sentido realizar sinais para corações
endurecidos (SAYÃO, 2020).
Os escribas e fariseus, mesmo depois de verem tudo o que Jesus havia feito
até então, ainda lhe pediram um sinal (12:38-45), isto é, um milagre que os
convencesse. Era uma “geração má e adúltera” (v.39), equiparada aos idólatras do
Antigo Testamento. O único sinal a ser dado a eles seria o de Jonas: assim como o
profeta estava praticamente morto, mas foi restaurado à vida, o Filho do homem
ressurgiria “do coração da terra”. O Messias só seria reconhecido
incontestavelmente com a morte e ressurreição. Em outro momento, associados
aos saduceus, os fariseus ainda insistiriam no pedido de “um sinal vindo do céu”
(16:1). Quando isso aconteceu, os próprios discípulos já estavam contaminados
com o “fermento”, ou seja, a doutrina deles (16:6) e, por isso, foram repreendidos
pelo Mestre (16:7-12).
66
mãos. Jesus respondeu denunciando a transgressão que eles praticavam diante
do mandamento de honrar os pais (Ex 20:12; 21:17; Lv 20:9), quando se
recusavam a ajudar os pais porque afirmavam que suas propriedades haviam sido
dedicadas a Deus, mas continuavam a usá-la para benefício próprio. Era a Lei
sendo descumprida por causa da tradição dos mestres da Lei.
67
Quando Jesus curou um endemoninhado cego e mudo (12:22-37), diante
dessa manifestação do poder de Deus (v.28) que provava a chegada do Seu Reino,
os fariseus O acusaram novamente de fazer isso pelo poder de Belzebu, como já
haviam feito (9:34). Para eles, Jesus estava possuído pelo “chefe dos demônios”,
Satanás, e, por isso, conseguia expulsar os demônios mais fracos. Deste ponto em
diante, Jesus passa a dirigir-se a eles de forma mais dura e decisiva: “Quem não é
por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (v.30). Ele revelou,
então, que a blasfêmia contra o Espírito Santo (v.31) era o pecado sem perdão,
pois a boca fala do que está cheio o coração (v.34). Se alguém rejeita a
comprovação de que Jesus era o Messias e o testemunho inquestionável do
Espírito Santo sobre Sua obra, com resistência permanente, estaria, assim,
rejeitando o perdão de Deus e provando que ainda não recebeu o Espírito de
Deus (SAYÃO, 2020).
68
acolheram como Senhor e Salvador (11:25-30). Eram os “pequeninos”, seguidores
humildes do Messias, aos quais o Pai havia revelado a verdade sobre a missão do
Seu Filho. Os “sábios e entendidos” (escribas e fariseus) impunham pesados
fardos sobre eles; eram as interpretações distorcidas da tradição dos anciãos.
Estavam cansados e sobrecarregados e, agora, podiam, finalmente, encontrar
descanso para suas almas. A eles foi dirigido o convite mais terno e encantador de
todos, o convite da salvação: “vinde a mim” (v.28). Era um convite a Ele, Sua
pessoa e obra, como o “Servo sofredor” que viera para carregar a nossa cruz
(Isaías 42:1-4).
Aqueles que aceitarem este sublime convite também devem “tomar” o jugo
e “aprender” com a mansidão e a humildade do Mestre. O foco desse chamado é
o aprendizado com a vida e o ensino de Jesus. Ele oferecia um jugo suave e um
fardo leve porque primeiro Ele trilhou o caminho da obediência à vontade de
Deus, o caminho da humilhação, da cruz. Quando exigia do discípulo que O
seguisse, prometia alívio e libertação de toda sorte de opressão. Os religiosos
rejeitaram a Jesus porque eram orgulhosos e hipócritas, não reconheciam o
próprio pecado e ainda ostentavam uma espiritualidade falsa. Se recusavam em
reconhecer que a verdadeira mudança aconteceria de dentro para fora.
CONCLUSÃO
Mateus iniciou o Evangelho afirmando que Jesus era o Messias (1:1; 23;
3:16-17). Jesus comprovou este testemunho com o Seu ensino (caps. 5-7) e
demonstrando poder extraordinário (8-9). A rejeição a Jesus, pelos líderes
religiosos e pelo povo das cidades onde operou mais milagres, foi motivada pela
frustração diante da expectativa criada: João Batista O esperava como o juízo
imediato; O povo esperava libertação política de Roma; Os religiosos O avaliaram
a partir da tradição dos mestres da Lei. Esta rejeição não gerou nenhuma surpresa
em Jesus. Ele direcionou Seu ministério para aqueles que eram humildes a ponto
de reconhecerem que a maior opressão era o pecado e a maior libertação era
experimentar a salvação de Deus. Seus milagres não seriam suficientes para
convencer quem estava preso às próprias expectativas ou ao próprio orgulho. Os
69
humildes O receberam como o Messias e decidiram seguir com Ele no caminho da
cruz.
70
QUESTÕES PARA ESTUDO
2) Por que Jesus foi rejeitado pelos Seus próprios familiares e conterrâneos?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
71
Lição 08
AS PARÁBOLAS DO REINO
INTRODUÇÃO
72
AS PARÁBOLAS COMO MÉTODO DE ENSINO
73
da estrutura geral do evangelho por assinalar uma mudança definitiva no
ministério de Jesus. Ele deixa de pregar nas “sinagogas” e passa a pregar “à beira-
mar”. (BARCKLAY, 1984).
Jesus não era mais bem-vindo nas sinagogas e, portanto, pregava em campo
aberto, na praia e nas casas. Neste sentido, Warren Wiersbe sugere que as
expressões “saindo Jesus de casa” (v.1) e “à beira-mar” poderiam ter significado
para Mateus mais do que, simplesmente, lugares. Segundo ele, o evangelista
pode ter usado o termo “casa” como referência à “casa de Israel” (Mateus 10:5);
já o mar seria uma referência às nações gentílicas do mundo (Isaías 60:5;
Apocalipse 17:5).
74
cumprimento à profecia de Salmos 78:2 – “Abrirei os lábios em parábolas e
publicarei enigmas dos tempos antigos” (passagem citada por Mateus em 13:35).
75
parábolas de Jesus deve manter-se equilibradamente entre os extremos da
alegorização, isto é: empregar sentido espiritual a todos os detalhes da história; e
a análise moderna, que reduz a mensagem a apenas um tema central impossível
de ser descoberto sem a orientação do Espírito Santo. A verdade está entre os
extremos. Uma parábola tem somente uma mensagem, mas muitos dos seus
detalhes são contribuições para o seu significado. Sempre que o contexto indicar
o significado, é relativamente fácil distinguir entre o núcleo da história e o cenário
necessário que não tem influência sobre a aplicação. “Na coleção do cap. 13, não
há contexto, e por isso a interpretação se torna muito mais difícil; temos de ser
muito cuidadosos com o que descartamos como cenário” (BRUCE, 2008, p.1085).
76
3) Descobrir o propósito ou a ideia central da parábola a partir do seu
contexto;
4) Interpretar os detalhes da história apenas na medida em que eles
contribuem para enfatizar ou destacar a ideia principal das parábolas;
5) Usar o bom senso para fazer distinção entre os elementos da parábola
que possuem significado especial e outros que são apenas detalhes
incidentais;
6) Observar a reação explícita ou implícita dos ouvintes;
7) Confirmar sua conclusão sobre o tema principal da parábola por meio de
um ensino bíblico explícito.” (BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO, 2016, p.
1349)
77
experimentar estágios de maturidade espiritual diferentes ao longo da carreira
cristã” (SAYÃO, 2020).
Aprendemos, por mais uma parábola, que o joio (do grego: zizania), uma
espécie de “trigo bastardo”, foi semeado ao lado do trigo verdadeiro (v.24-30).
Seu grão, além de não alimentar, é tóxico, produz náuseas e tem efeito narcótico
(BAPTISTA, 1984, p.34). Ele permanecerá emaranhado ao trigo durante o
crescimento e a diferença na coloração (será mais escuro) só poderá ser
percebida na fase final do ciclo vital, sendo impossível separá-los antes da
colheita. Os servos do proprietário precisaram exercitar a paciência e esperar o
momento apropriado para separar joio de trigo. Na explicação (v.36-43), Jesus
ensina que não é possível separar o bem e o mal, quem o recebe e quem o rejeita
no contexto da implantação do Reino, na era presente. Está posto pelo Mestre
um impedimento de julgar pela aparência e uma séria advertência sobre o
cuidado no exercício da disciplina eclesiástica. O Pr. Walter Baptista observa que
há nesta pequena história uma percepção muito realista de que a Igreja de Cristo
está composta daquilo que Agostinho chamou um ‘corpus mixtum’ (corpo misto).
Contém o bom e o mau, que serão separados no final quando se dará o Juízo. “A
igreja ainda não é perfeita, não é 100% pura, e não é tarefa primordial dos
discípulos limpá-la no sentido de alcançar esse nível. É um alvo impossível na
manifestação terena do reino” (BAPTISTA, 1994, p.34).
78
quando a rede recolhia todo tipo de peixe que era separado na praia (v.47-48).
Segundo William Barclay, a parábola afirma que chegará o momento da
separação em que se enviará os bons e os maus a seus respectivos destinos. Mas
essa separação, por mais segura que seja, não é tarefa do homem, mas, sim, de
Deus. “De maneira que nosso dever consiste em aceitar a todos os que desejem
vir, e não julgar nem separar, a não ser deixar o julgamento final a Deus que é o
único que pode fazê-lo” (BARCLAY, 1984).
79
experiência do apóstolo Paulo é uma viva ilustração destas parábolas no Novo
Testamento (Filipenses 3:7-8).
80
CONCLUSÃO
81
QUESTÕES PARA ESTUDO
82
Lição 09
IGREJA: A COMUNIDADE DO MESSIAS
INTRODUÇÃO
A ENTRADA NA IGREJA
Uma igreja deve ser formada por pessoas que foram convertidas a Cristo,
que confessam publicamente Jesus como Senhor e Salvador, dando testemunho
da sua regeneração, sendo biblicamente batizadas, para adorarem a Deus,
viverem em comunhão e fazerem discípulos em todo o mundo. A partir da
afirmação de um dos discípulos, Pedro, Jesus pôde estabelecer a sua igreja.
Aquela confissão (16:16) acerca de quem era Jesus tem servido como base para
que Deus realize um projeto maior para a salvação de todo homem. “E a igreja de
Jesus hoje é o conjunto daqueles que concordam com a afirmação de Pedro e
professam a fé em Jesus Cristo, aquele que foi enviado por Deus para dar a sua
vida em resgate dos perdidos, com o fim de ser Senhor” (CHAVES, 2002, p.94).
84
O QUE A IGREJA REPRESENTA
Uma vez que a pessoa se torne discípulo de Jesus e entre na igreja pela
porta da conversão, deverá ser preparada a viver sob a sombra da cruz. Assim
como Pedro e os fariseus, o povo esperava um rei com poder político e militar,
uma interpretação de Salmos 2 e Daniel 2. Mas Jesus ensinava segundo os temas
do profeta Isaías, segundo o qual o rei messiânico sofreria e morreria pelos
pecados do próprio povo (Isaías 53). Walter Baptista observa que “Isaías 53 é o
background de Mateus 16:13-23. Jesus Cristo estende seu reino sobre o povo
pelos caminhos profundos do sofrimento e da morte. Essa é a sua grande
comissão”. (BAPTISTA, 1984, p.40). Nos versículos seguintes, Mateus registra as
palavras de Jesus sobre o preço do discipulado: “Se alguém quer vir após mim, a
si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (v.24). O Reino do Messias
funciona por um caminho diferente: perder a si mesmo é ganhar a vida (v.26). A
renúncia do mundo, por causa de Cristo, é o único caminho para a salvação.
Contudo, a igreja que trilha o caminho da cruz também reflete a glória de Deus no
mundo em trevas.
85
desapareceu (Judas 9). Os discípulos compreenderam, depois, que o ministério
preparatório de Elias havia se cumprido na vinda de João Batista (v.10-13). Moisés
e Elias representam a Lei e os Profetas, enquanto Jesus é o cumprimento de
ambos e estava sendo glorificado pelo Pai como preparação final para o Calvário:
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (v.5). A declaração
que havia inaugurado o ministério (Mateus 3:17), agora autenticava o seu êxito.
Pedro propôs que se fizessem “três tendas” (v.4): para Jesus, Moisés e Elias
no monte, mas, juntamente com os outros discípulos, caíram atemorizados diante
da glória (v.6). Jesus ordenou que se erguessem para continuarem no caminho da
missão. Ao descerem para o vale, depararam-se com um jovem possesso,
identificado como “lunático” (v.15); provavelmente ele sofria ataques epiléticos.
Na antiguidade, as doenças eram descritas de maneira fenomenológica; como se
manifestavam. Acreditava-se na interferência das fases da Lua em transtornos
mentais (CHAVES, 2002, p.96).
86
Depois da primeira viagem missionária (Mateus 10:1-42), parece que os
discípulos estavam tão convencidos da vitória que não dependiam tanto de Deus.
Jesus, mais uma vez, os confronta com a predição de sua morte e ressurreição (a
primeira está em 16:21-23). E, mais uma vez (17:22-23), a perplexidade diante do
sofrimento futuro (“Eles o matarão” – v.23) os impediu de perceber também a
ressurreição (“e ao terceiro dia ressuscitará” – v.23). A glória que era natural para
Cristo deveria ser misturada com a humilhação da cruz: as duas deveriam ficar
juntas. Seus discípulos também deveriam enfrentar a cruz para conquistar a
glória. “Qualquer teologia que negue que os discípulos de Jesus devam sofrer é
problemática e se opõe à vida terrena de Jesus, aos ensinamentos bíblicos e à
experiência humana” (ADEYEMO, 2002).
A crianças são pecadoras; não são puras por natureza (Salmos 51:5). Mas
elas são dependentes de quem delas cuida, recebem de outros o que necessitam.
Uma vez participantes da igreja, o discípulo deve abandonar a autossuficiência e
87
aprender a depender de Deus. Para entrarem na igreja e viverem nela segundo o
padrão de humildade, é necessário passar pela “conversão” (v.3 – em grego,
strepho; usado no sentido metafórico: mudar a mente, mudar interiormente;) da
ambição por poder e prestígio para o serviço abnegado. A direção do Reino é a
glória, mas o caminho é a cruz.
O sermão prossegue com Jesus ensinando como se deve lidar com o irmão
em pecado – “se teu irmão pecar contra ti” (v.15). A expressão “contra ti” não
está presente em todos os manuscritos antigos. Esta omissão pode estar
indicando que o pecado, independentemente da situação em que ocorra, não
deve ser tratado com indiferença (BRUCE, 2008, p.1089). O processo de
confrontação do pecado, na chamada “regra de Jesus”, passa por três estágios:
pessoal, testemunhal e público. A iniciativa de buscar deve ser de quem se sentiu
ofendido, evitando, ao máximo, contudo, o desconforto e a publicidade. Caso a
abordagem pessoal não seja suficiente, testemunhas (duas ou três) devem
verificar a validade da acusação e a atitude do transgressor. Este processo pode
terminar com a exclusão do faltoso, uma vez que não haja arrependimento.
Mesmo após um afastamento inevitável, ainda se considerará quem pecou como
“pagão e publicano” (v.17), ou seja, campo missionário e alvo do amor da igreja.
88
reconciliação revela que o ministério da igreja na terra cumpre a vontade de Deus
nos céus (“terá sido ligado” – v.18). Esta harmonia da igreja com o céu
(“concordarem” – v.20) confirma a autoridade concedida por Deus. Neste sentido,
“onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”
(18:20). Estas palavras do Senhor servem como encorajamento para os pequenos
grupos de cristãos espalhados pelo mundo. Contudo, o foco está na seriedade e
na aplicação correta na disciplina. Aqueles que se engajam nesse processo podem
ter certeza da presença de Cristo. A expressão “em meu nome” (em grego, eis to
onoma) em uma tradução mais literal pode significar “por causa de”, “no
interesse de”, “para a possessão de” (BRUCE, 2008, p.1090). Sendo assim, não
será a mera reunião de pessoas, em qualquer quantidade, que garantirá a
presença divina, mas a reunião daqueles que pertencem ao Senhor e cumprem a
Sua vontade.
Sabemos que foi assim por causa da parábola do credor incompassivo (v.23-
35). O servo que foi perdoado de uma dívida de 10.000 talentos, não perdoou seu
conservo que devia 100 denários. Um talento equivalia a 6.000 denários. Um
denário era o salário correspondente a um dia de trabalho braçal. O servo sem
compaixão deveria trabalhar 200.000 anos para pagar ao rei, mas não perdoou
uma dívida possível de ser paga em menos de meio ano (BÍBLIA BRASILEIRA DE
ESTUDO, 2016, p.1316). Essa é uma ilustração da nossa dívida impagável diante
de Deus por causa dos nossos pecados. Jesus retoma o princípio ensinado na
oração modelo (Mateus 6:14-15). Recusar ter misericórdia e compaixão por
89
alguém é prova de que não se recebeu e não se entendeu a misericórdia de Deus.
A marca distintiva da igreja é o perdão.
CONCLUSÃO
90
Comentando este texto, William Barclay (1984) observa que há
interpretações diferentes para a palavra “rocha”, usada por Jesus nesta
passagem. As três principais são estas:
91
(SAYÃO, 2020). A tradução, considerando um original aramaico, deveria ser:
“Você é Pedro, a Rocha, e sobre esta Rocha...” Por isso, Sayão conclui que, Pedro,
representando os apóstolos (“Mas vos?” – Mateus 16:15), é o fundamento da
igreja por ter recebido a revelação; isso não dá base para a sucessão apostólica,
porque a autoridade é colegiada e não particular (SAYÃO, 2020).
Continua sendo heresia do catolicismo romano usar este texto (Mt 16:18),
isoladamente, para afirmar que Pedro foi o primeiro papa, ou para defender a
infalibilidade papal. Para refutar esta falsa doutrina, basta seguir a leitura do
texto. Após anunciar que sua missão como Messias seria cumprida através do seu
sacrifício, Pedro, sob influência satânica, repreendeu Jesus e foi por Ele
repreendido como “pedra de tropeço” (v.23), por não entender o caminho de
Deus e reduzir a obra salvadora a um projeto político. Ademais, a vida familiar de
Pedro não se enquadraria no perfil imposto pela Igreja de Roma nem mesmo para
um padre. Mateus registra que Jesus curou a sogra de Pedro (8:14-15) e Paulo
lembra que aquele apóstolo se fazia acompanhar por esposa (1Co 8:5).
92
Neste sentido, a afirmação “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus” (16:18)
será interpretada em relação com Mateus 18:18, onde todo o colégio apostólico
(e depois toda a igreja) recebe a mesma autoridade: ligar ou desligar as pessoas
no Reino. Isto não significa que a igreja determina quem entra ou não no Reino;
ela reconhece, com base na Palavra de Deus e no poder do Espírito, aqueles que
já foram ligados ou desligados no céu (“terá sido ligado/desligado nos céus” –
v.19). As “chaves” entregues a Pedro e aos apóstolos são uma referência à
evangelização do mundo. O evangelista João expressa a mesma compreensão
teológica, quando registra as seguintes palavras do Cristo Ressurreto aos
apóstolos: “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos
retiverdes, são retidos” (Jo 20:23). O Evangelho é a boa notícia do perdão de Deus
em Cristo. Evangelizar é anunciar que a porta do perdão já está aberta para quem
crê e se arrepende.
3) Por que a criança foi apresentada por Jesus como modelo para os seus
discípulos?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
93
5) O que Jesus quis ensinar quando disse para os discípulos perdoarem
“setenta vezes sete”?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
94
Lição 10
O CONFRONTO COM OS RELIGIOSOS
INTRODUÇÃO
95
estudarmos agora a visão desse reino invertido, a autoridade divina do Messias e
a condenação da hipocrisia religiosa.
O REINO INVERTIDO
A questão do divórcio revelou que os fariseus não eram uma seita unida. A
pergunta sobre o motivo permitido para o divórcio (em torno da interpretação de
Dt 24:1) mostra que eles pertenciam aos dois grupos rivais de Hillel, liberal, e
Shammai, conservador e mais popular. Toda a discussão teológica ganhou grande
repercussão por causa de Herodes Antipas, o tetrarca, que se divorciou para se
casar com Herodias, ex-esposa de seu irmão Filipe. Esse casamento, como vimos,
levou João Batista à morte (14:9-11). Jesus, porém, foi além do rabinato da época,
e até mesmo da Lei, lembrando do princípio espiritual do casamento, a sua lei
original: “tornando-se os dois uma só carne?” (v.5). A teologia da criação deveria
reger o casamento. Moisés concedeu a carta de divórcio como “permissão”
apenas por causa da “dureza de coração” (v.8). Contudo, a regra divina, reforçada
por Jesus, está no perdão e na reconciliação possíveis a um coração sensível e
obediente ao mandamento do amor. Desta forma, Jesus enfatiza o casamento ao
ensinar que o divórcio é um remédio amargo para o adultério sem
arrependimento e perdão. Luiz Sayão (2020) vê uma possível relação entre as
crianças como modelo de humildade (v.13-15) e o orgulho dos maridos que
exploravam, levianamente, os preceitos mosaicos. “O Deus que institui o
casamento é o mesmo que valoriza a humildade que garante um bom
relacionamento”, afirma Sayão (2020).
96
Os fariseus introduziram a questão do divórcio para “experimentarem” (v.3)
Jesus e depois o acusarem de defender uma posição contrária à de Moisés. Esta
estratégia continuaria sendo usada de forma cada vez mais agressiva. Outras
situações, no entanto, foram aproveitadas por Jesus, para revelar mais
profundamente a sua visão do Reino de Deus. Um “jovem” (somente Mateus
identifica assim), rico e muito importante (talvez ocupasse uma posição oficial –
Lc 18:18;23), perguntou o que era necessário fazer para ser salvo. Após insistir
que cumpria os mandamentos, aquele homem foi desafiado por Jesus a vender
todos os seus bens, distribui-los com os pobres e segui-lo. O jovem “retirou-se
triste, por ser dono de muitas propriedades” (v.22). Considerava-se como alguém
religiosamente perfeito, mas amava demasiadamente o dinheiro e, por isso, não
confiava, completamente, em Deus.
O Mestre já havia ensinado que não era possível servir a Deus e às riquezas
(Mt 6:24), agora Ele afirma que “um rico dificilmente entrará no reino dos céus”
(19:23). A expressão “passar um camelo pelo fundo de uma agulha” (v.24) causou
espanto nos discípulos porque significa que é impossível para alguém que confia
nas riquezas “alcançar a vida eterna” (v.16). A crença popular dava conta de que,
quanto mais riquezas uma pessoa possuísse, mais abençoado seria por Deus. As
riquezas em si não são o problema, mas o quanto elas escravizam o ser humano.
O fascínio das riquezas está no poder materializado, que se torna um ídolo. O
coração humano tem fraqueza por ídolos. Mas, o poder de Deus é capaz de salvar
o rico e, pelo mesmo motivo (idolatria), salvar a todos; existem pobres dominados
pelos bens ou por outros meios de escravidão.
97
Neste contexto, a morte e a ressurreição do Messias foram preditas pela
terceira vez (20:17-19). O sacrifício de Jesus seria a expressão máxima da sua
graça para todos, independente das riquezas ou da religiosidade. Pelo padrão do
mundo, poder e violência governam. Mas, todos os grandes reinos do passado,
neste padrão, estão sepultados. Os discípulos ainda não haviam compreendido
assim. Ficaram indignados (20:24) quando a mãe de Tiago e João pediu uma
posição de destaque para os filhos. Contrariando a expectativa dos próprios
discípulos, Jesus declarou que, no reino invertido, o verdadeiro líder é quem serve
mais (20:28).
98
guinada começou quando sua autoridade foi questionada, o que se deu a partir
da purificação do templo (21:12-17), em cumprimento à profecia de Isaías 56:7.
99
multidão (v.45-46). Com a Parábola das Bodas, um banquete de casamento ilustra
a vida no reino futuro do Messias (v.22:1-14). Enquanto a elite religiosa o rejeita,
pessoas desprezíveis para a sociedade recebem o convite e são incluídos no
relacionamento com Deus em plenitude. Mateus 22:7 – “incendiou a cidade” –
pode ser uma predição da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. (CHAVES, 2002,
p.104). O homem que não estava vestido com veste nupcial foi expulso do
casamento (v.11-13). Os convidados recebiam roupas apropriadas; o homem
rejeitou por orgulho. Esta é uma figura para os religiosos que rejeitaram o
Messias (SAYÃO, 2020).
100
reconheciam apenas o Pentateuco como Escritura válida e atribuíam a
ressurreição a uma invenção posterior dos anciãos (BÍBLIA BRASILEIRA DE
ESTUDO, 2016, p.1372). Nisso, erram rivais dos fariseus, continuadores da
tradição dos anciãos. Jesus, por sua vez, afirmou a ressurreição, exortando-os a
conhecerem mais as Escrituras. Além de usar o próprio Pentateuco (Êxodo 3:6)
para dizer que Deus é “Deus de vivos”, confirmou a existência dos anjos (v.30-32).
As multidões ficaram maravilhadas. Nesta passagem, também aprendemos que,
embora entremos no céu com corpo que será físico e espiritual, não haverá
casamento, porque a função da procriação é desta realidade terrena, não fazendo
parte da nossa essência (SAYÃO, 2020). Seremos “como os anjos dos céus” neste
sentido (v.30).
101
A CONDENAÇÃO DA HIPOCRISIA RELIGIOSA
102
Por isso, às autoridades judaicas, representadas pelos fariseus, Jesus dirigiu
a mais terrível e extensa denúncia do NT. Através de sete “ais”, seu objetivo foi
expressar a preocupação de Deus com o seu povo e o desejo de que ele se
arrependesse. A palavra grega usada pelo evangelista (ouai), representa uma
mistura de ira e dor que prevê uma iminente tragédia (BAPTISTA, 1994, p.43). São
sete advertências, ou denúncias, que podem ser assim identificadas:
103
Sétimo Ai (v.29-30) – Contra a falsa veneração aos profetas (ou contra
matar os profetas). Os fariseus e seus seguidores tinham grande dificuldade em
reconhecer os pecados dos seus ancestrais. Com isso, tentavam justificar a sua
própria geração.
CONCLUSÃO
104
mundo. Ainda hoje, Jesus continua ameaçando a religiosidade superficial,
marcada pela falsidade. Por isso, uma vez salvos pela graça, devemos viver pela
graça. Devemos reconhecer a autoridade de Jesus em nossa vida como Senhor
Absoluto e submeter a Ele todas as áreas do viver: a família, as finanças, a
cidadania, o ministério e tudo mais. No Reino invertido de Jesus, o líder é quem
serve, os humilhados são exaltados e a hipocrisia é condenada. Neste Reino, a Lei
Perfeita de Deus é obedecida por gratidão ao Seu Amor demonstrado na cruz. O
amor a Deus e ao próximo dispensa rituais e formalidades, mas exige toda a
obediência, toda a dedicação, todo o nosso ser.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1) Por que a visão de Jesus sobre o Reino de Deus causou o espanto até
mesmo dos seus próprios discípulos?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
2) Segundo Jesus, o que uma pessoa precisava fazer para entrar no Reino de
Deus?
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______________________________________________________________
3) Por que Jesus representou uma ameaça à religião oficial da sua época?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
105
106
Lição 11
A CONSUMAÇÃO DO REINO
INTRODUÇÃO
1
Mateus 24 e 25 são textos fundamentais da Escatologia, área da Teologia que estuda o futuro à luz da
Bíblia. Esta doutrina foi tema de uma edição da Revista Palavra Viva, publicada pela PIB em
Divinópolis, e os capítulos que estudaremos nesta lição ocuparam 05 lições.
107
consumação do Reino, que começou com o início da era cristã e culminará com os
acontecimentos do fim: a Grande Tribulação, a Vinda do Filho do Homem e o
Juízo Final
A PERSPECTIVA DUPLA
O sermão escatológico foi motivado por uma pergunta feita pelos discípulos
a respeito da profecia de Jesus sobre a destruição do Templo (23:34-29): “Dize-
nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da
consumação do século” (v.3). Jesus estava passando as noites no Monte das
Oliveiras e ali ministrava seus ensinos, particularmente, aos seus discípulos. Eles
queriam saber (1) quando aconteceriam “estas coisas” (a destruição do Templo) e
(2) que sinal haveria da “consumação do século” (culminando com a Segunda
Vinda).
108
estudo do seu prólogo – Lição 2). Durante os últimos duzentos anos antes de
Cristo, foi produzida uma grande variedade de textos deste tipo, especulando
sobre o fim catastrófico do mundo que envolveria um julgamento radical do povo
e a criação de uma nova ordem das coisas. A profecia feita neste estilo olha para
eventos distintos do futuro sob um mesmo ponto de vista: o controle de Deus na
história e seu juízo definitivo sobre o mal; juízo este associado à vinda do Messias.
A linguagem utilizada pelos escritores era a dos sonhos e pesadelos. Jesus
profetizou na linguagem que os seus contemporâneos poderiam mais facilmente
entender (BAPTISTA, 1994, p.47).
109
Jerusalém se tornara uma pedra de tropeço para os judeus, pois, havia uma falsa
segurança por causa da insensibilidade ao pecado. Jesus era maior que o templo
e, depois de sua vinda, o Templo já não era mais necessário. Por isso, “os cristãos
devem concentrar-se na edificação do reino de Deus, em vez de erguer edifícios
que tomem o lugar do verdadeiro objeto de nossa adoração: o próprio Deus”
(ADEYEMO, 2010, p.1204).
Dois tipos de sinais que aconteceriam antes do fim podem ser identificados
logo no início do sermão (CHAVES, 2002, p.109): 1) sinais do cotidiano e 2) sinais
da proximidade do fim. Os sinais do cotidiano, chamados por Jesus de “princípio
das dores” (24:4-8), caracterizam a vida humana desde os tempos antigos: engano
religioso, guerras, fomes. “Dores de parto” era um termo técnico da época para
referir-se aos sofrimentos que precederiam o estabelecimento do Reino
messiânico (BRUCE, 2008, p.1096). Os outros sinais indicam que o fim se
aproximava, mas só seriam percebidos pelos participantes do Reino: perseguição
aos fiéis, conflitos entre os crentes (escândalos, traições e enganos), esfriamento
do amor por causa do aumento da iniquidade e o avanço da pregação do
Evangelho em todo o mundo (24:9-14).
A GRANDE TRIBULAÇÃO
110
Daniel 11:31, tem como pano de fundo a ação de Antíoco Epifânio que, em 168
a.C., edificou um altar dedicado a Zeus e ofereceu um porco como sacrifício no
Santo dos Santos. Alguns estudiosos acreditam que a profecia teve cumprimento
definitivo em 70 d.C., quando o general romano Tito saqueou o templo. Todavia,
com base em textos como 2Ts 2:4, muitos propõem ser melhor entender que a
profecia se refere ao anticristo e ainda aguarda cumprimento. Como temos
defendido, é provável que se refira aos dois fatos (BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO,
2016, p.1375). Se for desta forma, estaríamos diante do que a Teologia chama de
profecia de duplo cumprimento.
A agonia das grávidas e das lactantes (v.19), tentando fugir dos soldados
romanos que sitiavam Jerusalém, foi projetada com referência à grande
tribulação. Por outro lado, o conselho para que “os que estiverem na Judeia,
fujam para os montes” (v.16), pode sugerir uma interpretação tipológica de
referência futura ao anticristo no templo a ser reconstruído (SAYÃO, 2020). Há
divergência entre os estudiosos sobre a “grande tribulação” como um período
específico ou a intensificação do sofrimento ao longo da história, culminando com
a Volta de Cristo (o autor assume esta última posição). Deve haver concordância,
contudo, de que o sofrimento alcançará proporções nunca experimentadas (“não
tem havido e nem haverá jamais” - v.21) e que aponta para o clímax de alcance
mundial (“assim como o relâmpago que sai do oriente e se mostra no ocidente” -
v.27).
111
vindoura. Entre essas duas épocas está o Dia do Senhor. A descrição da Segunda
Vinda no Sermão Profético, usou termos e imagens do AT relativas a este Dia Final
(Sf 1:14-18; Jl 2:30-31; Is 13:10-13). Ganha relevo, também aqui, a diferença entre
a primeira e a segunda vinda. Na primeira, pequeno, humilde, servo sofredor. Na
segunda, “sobre as nuvens”, com “glória e majestade”, Rei de toda a Terra, diante
de quem todos se prostrarão (Fp 2:10) em todos os lugares (BAPTISTA, 1094,
p.46-47).
O TEMPO DO FIM
Para falar da vigilância necessária, por não ser possível saber o tempo do
fim, o Senhor usa a Parábola da Figueira, árvore que se destaca no inverno da
Palestina mais do que outras, em virtude da sua secura e ausência de folhas. O
aparecimento das primeiras folhas é um sinal seguro da primavera. Para o
112
observador atento, os sinais da Segunda Vinda serão igualmente claros quando
forem dados (BRUCE, 2008, p.1096). As palavras do Senhor jamais passaram; são
mais reais que os céus e a terra; elas serão cumpridas (24:35). Isso não significa
que será possível saber “a respeito daquele dia e hora”. A afirmação de que só o
Pai sabe quando acontecerá (v.36) atesta o fato de que Jesus era
verdadeiramente humano e verdadeiramente divino.
PARÁBOLAS ESCATOLÓGICAS
113
Através de parábolas escatológicas, o Mestre está confirmando que os
eventos profetizados se cumprirão com certeza, mas que apanhará os insensatos
de surpresa como nos dias de Noé. Enquanto Noé anunciava o juízo vindouro, as
pessoas conduziam normalmente suas vidas sem considerar a possibilidade da
intervenção divina (v.38 – “comiam, bebiam, casavam-se”). Ao contrário, todos
devem estar preparados para receber o Senhor a qualquer momento (v.37-44).
114
O GRANDE JULGAMENTO
115
116
CONCLUSÃO
117
QUESTÕES PARA ESTUDO
118
Lição 12
A MORTE DO MESSIAS-SERVO
INTRODUÇÃO
Jesus era Deus entre os homens, defende Mateus. Sua morte provou sua
humanidade, mas também Sua divindade. Era necessário, todavia, mostrar,
historicamente, como Jesus morreu sendo inocente e como aqueles que o
executaram tiveram uma culpa real, ainda que, mesmo assim, cumprissem o
plano divino. O Evangelho de Mateus, este documento de valor incalculável, é um
testemunho de que a morte e a ressurreição de Jesus, como eventos inseparáveis,
constituíam o único modo de salvar a humanidade.
119
Assim como nos primeiros capítulos, neste ponto do seu enredo, o
evangelista aumenta o número de referências ao AT com o objetivo de mostrar
que a morte de Jesus não foi uma tragédia ou um fracasso, mas o cumprimento
surpreendente das antigas promessas proféticas. Para o evangelista, Jesus é o
Messias Servo mencionado por Isaías 53. Ele foi rejeitado pelo seu próprio povo,
julgado em vez de julgar, e morreu em consequência dos pecados deles.
Mateus é o único evangelista a demonstrar que Jesus sabia ser aquela a sua
última páscoa. Um evento anunciado como preparatório foi a unção em Betânia
(26:6-13). O Evangelho de João (12:1-3) informa que Maria, irmã de Lázaro e
Marta, ungiu Jesus antes da “Semana da Paixão”. Mateus e Marcos não indicam
quem teria sido a mulher (v.7) que, possivelmente, se inspirou no ato de Maria.
De todo modo, o episódio contrasta o ódio mortal dos líderes religiosos judeus e a
traição de Judas com o amor e a devoção dessa mulher. Ou, então, a fim de
associar a conspiração para matar Jesus com sua unção antecipada para a
sepultura (BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO, 2016, p.1377). Aquele gesto, de tão
significativo, seria contado em todo o mundo onde o Evangelho fosse pregado
(26:13).
120
Em contraste com a devoção da mulher, Judas propôs aos principais
sacerdotes um acordo para entregar Jesus. Este é o Judas Iscariotes, escolhido por
Jesus para ser apóstolo (Mt 10:4) e constituído tesoureiro do grupo (Jo 12:6). O
nome Iscariotes significa habitante de Queriote (Js 15:25). Ele traiu Jesus por uma
quantia paga como indenização por um escravo ferido (Êx 21:32), equivalente a
120 denários (BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO, 2016, p.1330). O caráter complexo
do traidor e o silêncio do NT sobre a sua real motivação, sempre abriram espaço
para conjecturas. Pode ter sido a avareza (Mt 26:15) ou a amargura por Jesus não
ter implementado de forma política o Seu reino messiânico. É possível que ele
não esperasse a condenação à morte e sim que a prisão fosse o estopim de uma
revolução (27:3). No final das contas, o ato foi inspirado pelo próprio Satanás, que
veio a possuí-lo (Lc 22:3; Jo 13:2;27).
121
de Jesus com os discípulos aconteceu entre os anos 29 e 30 d.C., na tarde do
quarto dia da última semana, início do quinto dia (CHAVES, 2002, p.115).
Jesus estava reclinado (do grego, anakeimai) em uma mesa baixa, com um
recipiente onde o pão era embebido em molho. O traidor estava presente, mas
não permaneceu no momento da instituição da Ceia do Senhor (Jo 13:30).
Durante a refeição, o pão sem fermento (matzah, em hebraico) era colocado
sobre a mesa em uma espécie de bolsa contendo três partes. O pedaço do meio
era quebrado e uma das metades (afikoman, sem tradução) era escondida e
trazida depois da refeição. Na tradição dos anciãos, esta parte poderia significar
Isaque ou os Levitas. De qualquer forma, era símbolo de sacrifício. O sentido mais
profundo é a revelação de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo (SAYÃO, 2021).
Quando Jesus disse “Este é o meu corpo” (26:26), Ele tinha de volta nas mãos o
afikoman.
122
simbolismo é poderoso e chegou a nós na forma do culto da Ceia Memorial (1Co
11:23-26), a Páscoa Cristã (ADEYEMO, 2010, p.1192).
A traição de Judas não foi um fato isolado, tanto que os demais discípulos se
escandalizaram com a prisão, a morte e o julgamento do Mestre, mesmo tendo se
comprometido a não o abandonarem (26:35). Pedro, Tiago e João foram
escolhidos pelo Senhor para vigiar com Ele, em um momento de agonia no qual a
sua alma estava “profundamente angustiada até a morte” (26:38). O lugar de
oração, Getsêmani (palavra de origem aramaica), significa lagar ou prensa de
azeite. Os discípulos não resistiram ao sono. Sozinho, Jesus orou e submeteu-se à
vontade do Pai, entregando sua vida, voluntariamente, às mãos dos pecadores
(26:45).
123
testemunhas falsas. As duas que conseguiram, repetiram apenas o que Jesus disse
sobre a destruição e reedificação do santuário em três dias (Jo 2:19).
Caifás, o sumo sacerdote, sabia que a acusação não seria suficiente, por
isso, lançou mão da estratégia final: induzir o Senhor a dizer que era “o Cristo, o
Filho de Deus” (26:63). O seu nascimento sobrenatural, seu poder extraordinário,
sua vida sem pecado e a autoridade do seu ensino já haviam provado isso. Mas,
Jesus sabia que toda aquela encenação (“Eu te conjuro pelo Deus Vivo” – v.63) era
apenas para justificar o veredito previamente definido. Segundo a lei dos
saduceus, usada no julgamento, um acusado não poderia ser obrigado a fazer o
juramento exigido apenas de testemunhas. Mesmo assim, Jesus confirmou sua
identidade e disse mais: “vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-
Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (26:64).
124
Cuspir em alguém era o insulto mais degradante dentro da cultura judaica
(26:27). O ódio destes religiosos foi motivado pela recusa de Jesus em seguir a
tradição dos seus antigos mestres, e por confrontá-los em sua hipocrisia. Eles,
então, transformaram a questão em guerra religiosa e assumiram a
responsabilidade sobre a morte do Senhor. Luiz Sayão (2020) lembra, contudo,
que o responsável legal foi o Império Romano, mas que, espiritualmente, foram
os nossos pecados, porque Jesus havia dito sobre a sua vida que “ninguém a tira
de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou” (Jo 10:18). A autoridade de
entregar e reaver a própria vida foi um mandato recebido do Pai.
125
Os soldados, antes da crucificação, não apenas açoitam Jesus (27:26) como
também escarnecem dele, cobrindo-o com um manto escarlate, pondo em sua
mão um caniço e na cabeça uma coroa de espinhos. Todo o destacamento se
reuniu para este espetáculo, certamente todos os que estavam presentes dentre
os 600 homens que compunham a coorte (do grego, speria). Jesus foi considerado
por eles como mais um fanático galileu, um impostor que pretendia ser rei dos
judeus. Ele foi alvo de brincadeiras, cuspido e espancado covardemente (26:27-
31). Aquele que tinha à sua disposição milhares de anjos (26:53), submeteu-se à
vergonha sem proferir uma única palavra.
Em seu livro “A Cruz de Cristo”, John Stott (1998) afirma que, após
examinarmos Pilatos, Caifás, Judas e seus associados, os sacerdotes, o povo e os
soldados, a quem os evangelistas parecem apor a culpa pela crucificação,
constatamos que usa-se o mesmo verbo: paradidomi (grego), traduzido por
entregar ou trair. Jesus havia predito que seria entregue. Judas o entregou aos
sacerdotes, e estes o entregaram a Pilatos que, por fim, o entregou aos soldados
para o crucificarem. Para Stott, devemos conservar estes dois modos
complementares de olhar para a cruz. No nível humano, Ele foi entregue por
pecadores; no nível divino, o Pai o entregou para morrer pelos pecadores. O
apóstolo Pedro uniu estas duas verdades em Pentecostes: “sendo este entregue
pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o
por mãos iníquas” (At 2:23).
126
“contado” entre os malfeitores. Os próprios ladrões que o ladeavam, repetiam os
mesmos impropérios (27:44). Ele foi exposto, publicamente, como amaldiçoado
por Deus (Gl 3:13; Dt 21:22-23). Sobre a sua cabeça, puseram escrita a acusação:
“Este é Jesus, o Rei dos Judeus” (27:37).
O véu mencionado aqui pode ter sido o que separava o Lugar Santo do
Lugar Santíssimo, ou aquele que impedia que os adoradores olhassem para
127
dentro do Lugar Santo quando as portas do Templo estavam abertas. Com base
em aspectos teológicos, a primeira opção parece mais provável (BRUCE, 2008,
p.1102). Esta posição pode ser confirmada por Êx 26:31-33. O fato de ter-se
rasgado de alto a baixo, significa que Jesus ofereceu o sacrifício definitivo, do Céu
para a Terra, pelos nossos pecados (Hb 7:26-27).
CONCLUSÃO
128
salvos quando reconhecemos que, no ápice do seu sofrimento, Jesus estava
assumindo o nosso lugar.
129
Lição 13
A RESSURREIÇÃO DO REI-MESSIAS
INTRODUÇÃO
130
O CORPO FOI SEPULTADO
131
O SEPULCRO ESTÁ VAZIO
132
O CRISTO RESSURETO FOI VISTO
133
poderiam saber que os discípulos haviam roubado o corpo. Se viram o roubo, por
que não deram o alarme?
Quem seria capaz de remover uma pedra que pesava em torno de duas
toneladas? Por que um anjo desceria do céu para fazer isso se Jesus não houvesse
ressuscitado ou se estava por ressuscitar? Além disso, como as aparições
poderiam ser explicadas? Maria Madalena, Pedro, João, Tomé, todos os apóstolos
(Jo 20-21) e os discípulos de Emaús (Lc 24) são algumas testemunhas oculares do
Cristo Ressurreto. O Apóstolo Paulo afirma que Cristo “foi visto por mais de
quinhentos irmãos de uma só vez” (1Co 15:6).
134
Mesmo diante de tantas evidências, os descrentes ainda apresentam
alternativas que precisam ser refutadas (SAYÃO, 2020):
135
salvação” (BAPTISTA, 1994, p.58). A ressurreição é o alicerce da fé cristã. Se Jesus
não houvesse ressuscitado, continuaríamos em nossos pecados (1Co 15:17) e a
morte não seria derrotada (Hb 2:14).
136
(1) ir por todo o mundo, transpondo todo tipo de fronteiras, em busca
dessas pessoas;
CONCLUSÃO
137
e continua mudando histórias. Mudou para sempre a vida das mulheres, cujo
testemunho não era confiável, mas foram as primeiras porta-vozes da nova vida
trazida pela ressurreição. Desde então, crentes anunciam a descrentes, com
provas históricas e com a transformação de suas próprias vidas, que Jesus é o
Cristo.
138
REFERÊNCIAS
A CAMBRIDGE BIBLE FOR SCHOOLS AND COLLEGES. Matthew. Disponível em: <
https://biblehub.com/commentaries/cambridge/matthew/1.htm>. Acessado em:
04 nov. 2020
BÍBLIA BRASILEIRA DE ESTUDO. Editor: Luiz Alberto Teixeira Sayão. São Paulo:
Hagnos, 2016.
BRUCE, F.F. Comentário Bíblico NVI. São Paulo: Editora Vida, 2008.
139
MCGEE, J. Vernon. Mateus. Thru The Bible Radio. Disponível em:
<https://ttb.org/>. Acessado em: 16 out. 2020.
SAYÃO, Luiz Alberto Teixeira. Mateus. Rota 66. Aplicativo desenvolvido por
Hübner Solutions. 2020.
140