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Olá estudante!

Agora você vai aprender sobre Evangelho Segundo Mateus, te convido então a
estudar atentamente este capítulo e expandir ainda mais os seus conhecimentos. Observe que
na ordem tradicional, o Evangelho Segundo Mateus faz a abertura do Novo Testamento. A
justificativa e que ele é aquele entre os quatro evangelhos que procura, mais acentuadamente,
estar dentro da linha do Antigo Testamento. Mateus lança uma ponte entre a expectativa do
reino messiânico, cuja vinda é proclamada nos livros proféticos do Antigo Testamento, e o
advento de Jesus Cristo, que O Novo Testamento apresenta como a resposta a essa espera
(Oscar CULLMAN).

Um olhar atento sobre a obra de Mateus pode lhe ajudar a perceber, na experiência de Jesus,
o retrato da experiência de seu povo, que foi exilado, perseguido por causa de sua fé,
resistência aos seus profetas, morte de suas lideranças e, mesmo assim, tornou-se luz das
nações. Jesus é o herdeiro e, ao mesmo tempo, a concretização das promessas dessa fé.

Mateus demonstra como as promessas feitas a Israel se cumpriram em Jesus, filho de Davi,
filho de Abraão e filho de Maria de Nazaré. Toda a história do nascimento, vida, obra e morte
de Jesus evocam a caminhada do povo de Deus.

Da mesma maneira que Evangelho Segundo Marcos foi estudado, o Evangelho Segundo
Mateus também será dividido em três seções: questões históricas, questões literárias e
questões teológicas.

O objetivo é o mesmo, que você, estimado estudante, obtenha uma compreensão panorâmica
desse Evangelho e possa apontar caminhos pelos quais poderá ler, interpretar e ensinar o
conteúdo do texto. Este evangelho – com cerca de 18.300 palavras em grego – é mais de 50%
maior que o de Marcos (11.300 palavras em grego). Observe que a maior parte deste aumento
se explica pelos dois capítulos que relatam a infância de Jesus e pelos longos sermões
formados com base em ditos e sentenças do Mestre ausentes em Marcos. A cura do jovem
servo do centurião e a do endemoninhado cego e mudo (Mt 8.5-13; 12.22-23), tomadas de Q
são as únicas histórias de milagres completamente não marcanas no ministério de Jesus
segundo Mateus. Ademais, estima-se que Mateus reproduza cerca de 80% de Marcos (BROWN,
2002, p. 247).

Convido você, novamente, a iniciar os estudos com as questões históricas.

3.1 QUESTÕES HISTÓRICAS Recorde que com as questões históricas fazemos referência à
origem, autor, data, lugar de composição, destinatários e situação que motivou a obra e as
fontes utilizadas.

“Na atualidade, alguns estudiosos contestam que o texto grego seja uma tradução do original
hebraico ou aramaico em virtude de que o texto não se parece com uma tradução.”

AUTORIA Caro estudante, você já sabe que todos os quatro Evangelhos, em sua origem, são
anônimos. Ou seja, os manuscritos originais não levaram o nome dos autores. Porém, a
tradição da Igreja Primitiva os atribui respectivamente a Mateus, Marcos, Lucas e João (EARLE;
SANNER; CHILDERS, 2015, p. 21). Eusébio de Cesareia menciona Clemente de Roma – morto
em 101 d.C. – como dizendo que “o primeiro dos quatro Evangelhos, que são inquestionáveis,
foi compilado por Mateus, que 'outrora fora coletor de impostos, mas posteriormente um
apóstolo'”. Também Eusébio afirma: “Com efeito Mateus, que primeiramente tinha pregado
aos hebreus, quando estava a ponto de ir para outros, entregou por escrito seu Evangelho, em
sua língua materna, fornecendo assim por meio da escritura o que faltava de sua presença
entre aqueles de quem se afastava”( CESAREIA, 2002, p. 65). Se isto for um fato, uma edição
grega acabou por substituir completamente a hebraica (aramaica) uma vez que não se
encontrou nenhum fragmento de um Mateus em sua língua materna. Na atualidade, alguns
estudiosos contestam que o texto grego seja uma tradução do original hebraico ou aramaico
em virtude de que o texto não se parece com uma tradução. Contudo, as passagens “Q” de
Mateus demonstram regularmente um cuidadoso paralelismo semita, “o evangelho não é
desprovido de seus semitismos e não é necessário se argumentar que Mateus [...] tenha
traduzido literalmente” (BLOMBERG, 2009, p. 180). O nome próprio Mateus significa “dom de
Deus, dádiva de Javé” e aparece em todas as listas dos doze apóstolos (Mt 10.2-4; Mc 3.16-19;
Lc 6.13-16; At 1.13). Perceba que no primeiro Evangelho, Mateus é identificado como um
publicano, e isso não ocorre nas demais listas. Na narrativa da chamada, o primeiro Evangelho
menciona “Mateus” (Mt 9.9); Marcos o chama “Levi, filho de Alfeu” (2.14) e Lucas menciona
simplesmente “Levi” (5.27). Sem dúvida os três querem indicar a mesma pessoa. Lembre-se
que era bastante comum um judeu ter dois nomes (HALE, 2001, p. 87). Depois do texto de Atos
1.13, Mateus – Levi – não é mencionado outra vez no Novo Testamento. Pouco se sabe de sua
vida e ministério. Eusébio é quem, novamente, preserva as tradições do século II acerca da
autoria de Mateus, mas existe pouca coisa a respeito de sua obra depois disso. Várias histórias
afirmam que ele evangelizou a Etiópia, Macedônia, Síria, Pérsia e Média. Existe uma tradição
sobre ele ter sofrido morte natural na Etiópia ou na Macedônia. De outro lado, as Igrejas Grega
e Romana celebram seu martírio (HALE, 2001, p. 88). Uma coisa deve ficar clara, em sua
mente, estudante: a Igreja Primitiva é unânime em atribuir a Mateus a autoria do primeiro
Evangelho canônico. A razão de remeter-se sempre à tradição da igreja antiga é que as
informações dela são muito precisas, de maneira que prometem fornecer, ao menos, boas
coordenadas para nossas indagações.

CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 3.1.2. DATA

A data máxima para composição final deste Evangelho deve ser colocada em 115 d.C., quando
Inácio, Bispo de Antioquia da Síria, referiu-se a ele em sua carta à igreja de Esmirna. Da mesma
forma, como já visto, Eusébio menciona Clemente de Roma como tendo feito referência ao
Evangelho Segundo Mateus. Como Clemente morreu por volta de 101 d.C., significa que este
Evangelho não poderia de modo algum ter sido escrito depois desta data. A data mais antiga
depende da datação que fizemos do Evangelho Segundo Marcos, uma vez que ele forma a
estrutura de nosso Mateus.

É preciso conceder certo tempo para a composição e circulação de Marcos. Levando em conta
esses diversos fatores uma época antes de 60 d.C. seria difícil de ser defendida (HALE, 2001, p.
89). Existe quem coloque a redação deste Evangelho para o início da década de 70 do primeiro
século (CHAVES, 2002, p. 25). Outros advogam o surgimento do Evangelho entre os anos 80 a
90 d.C. Na nossa compreensão fica difícil aceitar uma data posterior a 70 uma vez que
Jerusalém já estaria destruída e o Evangelho desenvolve toda a sua narrativa como se a cidade
e o Templo ainda existissem. Assim podemos assumir uma data entre 63 e 67 d.C. 3.1.3. LUGAR
DE COMPOSIÇÃO Caro estudante, com referência ao local em que foi escrito o Evangelho
Segundo Mateus, também existem diversas informações. Atanásio afirma que foi escrito em
Jerusalém; Ebedjesu, diz que foi na Palestina; e Jerônimo, na Judeia, para que os discípulos
daquela região fossem beneficiados (BERKHOF, 2014, p. 61). Nos dias atuais grande parte dos
estudiosos afirma que o local foi Antioquia da Síria (EARLE; SANNER; CHILDERS, 2015, p. 22).
Antioquia era capital da província romana da Síria e a terceira cidade do império, depois de
Roma e Alexandria. Uma cidade bastante cosmopolita que tinha o grego como língua oficial e o
helenismo como aglutinador de diversos povos. A colônia judaica dessa cidade era muito
importante, e nela a infiltração do helenismo era um fenômeno bastante notável
(MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 343).

10 MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 3.1.4.


PROPÓSITO Vamos agora aprender o propósito desse Evangelho. Estimado estudante, levando
em conta o conteúdo do Evangelho podemos inferir que a comunidade de Mateus era bastante
heterogênea: tinha um componente fundamentalmente judeo-cristã, parcialmente judeo-
cristão helenista – o texto está em grego e faz uso da LXX, mas também parece abrigar cristãos
procedentes do paganismo. A igreja de Mateus polemiza com o judaísmo farisaico. É uma
igreja estabelecida num centro urbano, com certa organização, como se depreende por seus
ministérios (23.8-10, 34) e seu procedimento disciplinar (18.15-20) (MONASTERIO; CARMONA,
1991, p. 342). Uma leitura de todo o texto pode apontar pelo menos quatro finalidades
básicas: litúrgica, “kerygmática”, didática e apologética (HALE, 2001, pp. 93-98). Dessa forma,
você pode perceber que Mateus escreveu para atender as necessidades de adoração e leitura
pública; uma leitura casual demonstra que este é o mais fácil, dos evangelhos, de se ler. Parece
dispor o material por tópicos. No que diz respeito ao kérygma Mateus propõe-se a preservar
todos os elementos da pregação apostólica primitiva. Seu interesse é evangelizar os judeus
(15.24; 10.5,6), mas não se limita a eles (8.11; 24.14; 28.20).

O tema da morte de Jesus é desenvolvido através da demonstração do cumprimento das


profecias, descendência davídica, nascimento, vida, morte, ressurreição, ascensão e a
promessa da volta de Jesus.

Observe que a estrutura desse Evangelho também tem o propósito de instruir, ou seja,
didático. O texto está divido em cinco seções em torno dos discursos do Senhor. Quanto ao
caráter apologético, é preciso lembrar da crescente tensão entre o cristianismo e o judaísmo;
parece ter surgido certa indecisão, por parte de alguns judeus, em entrarem completamente
na justiça, que só pode ser recebido como um dom de Deus. Perceba que Mateus retrata a
trágica rejeição, por parte de Israel, de seu Messias. A meta apologética pode ser resumida na
seguinte sentença: “Jesus é o Messias e nele a profecia judaica foi cumprida” (TASKER, 1980, p.
14). 3.2.

QUESTÕES LITERÁRIAS Nesse momento vamos analisar as questões literárias desse Evangelho.
Seguiremos o padrão adotado para Marcos:

crítica textual, conteúdo, linguagem e estilo. Depois, dentre inúmeras opções, propomos uma
estrutura geral do Evangelho Segundo Mateus. Mais uma vez é importante

11 MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS

“É preciso lembrar da crescente tensão entre o cristianismo e o judaísmo; parece ter surgido
certa indecisão, por parte de alguns judeus, em entrarem completamente na justiça, que só
pode ser recebido como um dom de Deus.” alertar, a você estudante, para a necessidade de
uma primeira leitura da obra como um todo. Para que seja feito um reconhecimento
inicial.uma primeira leitura da obra como unidade literária. 3.2.1. CRÍTICA TEXTUAL Podemos
dizer que Mateus faz fundamentalmente uma síntese a partir de dois projetos anteriores, o
Evangelho Segundo Marcos e o documento Q (Quelle).

Ele assume o Evangelho Segundo Marcos como referência, o que resulta, assim, em uma obra
com forte essência narrativa, mas na qual inclui material discursivo do documento Q
(MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 149). A leitura mais bem documentada de Mt 1.16 é “Jacó
gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo”. Existem leituras
variantes desse versículo: uma destinada a evitar chamar José de “esposo de Maria”, outra
preservando o padrão usual de X gerou Y, mas ainda assim chamando Maria de virgem.

Note que em Mateus 6.13 temos o término “do Maligno, do mal”. Segundo o testemunho de
importantes e antigos manuscritos alexandrinos e ocidentais, dentre outros, bem como de
comentários sobre o Pai-Nosso escritos por diversos Pais da Igreja antiga, o texto termina com
ponerou. Entenda que, para adaptar essa oração ao uso litúrgico na Igreja antiga, copistas
acrescentaram vários finais diferentes, com destaque para os seguintes: “pois teu é o reino, e o
poder, e a glória para sempre, Amém”; “pois teu é o reino e a glória para sempre. Amém”; e,
“pois teu é o reino e o poder e a glória do Pai e do Filho e do Espírito Santo para sempre.
Amém” (OMANSON, 2010, p. 7, 8).

As denominações mais antigas de que são conhecidas a partir dos manuscritos são as
seguintes: A inscrição EUANGGELION KATA MAQQAION também foi preservada 4.64.67 em
uma folha de papiros conexos î com fragmentos de Mateus e Lucas do final do século II.

Essa forma longa também é sustentada pela tradução latina antiga, que presumivelmente
tenha surgido no último quartel do século II (MAUERHOFER, 2010, p. 78, 79). 12

MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS KATA MAQQAION ¥B 13 euaggelion kata matqaion D f 33 Û


bo euaggelion kata maqqaion W 1 agion euaggelion kata matqaion f al arch sun qew tou
maqqaion euaggelion 1241 al ek tou kata maqqaion Lal

CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Na tabela abaixo estão dispostos os relatos que
ocorrem exclusivamente no Evangelho Segundo Mateus (MAUERHOFER, 2010, p. 77, 78). 13
MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS 1.1-17 1.18-25 2.1-12 2.13-23 5.4s, 7-10 5.14, 16-24 5.27-29
5.31-37 6.1-18 7.6, 15 9.27-31 10.5-15 10.34-39 10.40-42 11.28-30 12.36-37 13.24-30,36-43
13.44 13.45, 46 13.47-50 13.50-52 14.28-32 16.17-19 17.24-27 18.15-22 18.23-35 20.1-16
21.14-16

A genealogia real de Jesus Anúncio do nascimento de Jesus a José Visita dos astrólogos do
Oriente Fuga para o Egito e assassinato de crianças em Belém Partes do Sermão do Monte Cura
de dois cegos e um mudo possesso Envio dos discípulos exclusivamente aos israelitas
Condições do discipulado O salário dos que auxiliam os mensageiros de Jesus O convite de
Jesus – Venham a mim Advertência contra o falar inútil Parábola do joio no trigo Parábola do
tesouro no campo Parábola da pérola preciosa Parábola da rede de pesca Comparação com um
patrão Pedro anda sobre a água Resposta de Jesus à confissão de fé de Pedro O imposto do
templo Sobre o perdão A parábola do servo impiedoso A parábola dos trabalhadores na vinha
Curas no templo e o louvor das crianças Material Exclusivo Conteúdo CAPÍTULO 3 O
EVANGELHO SEGUNDO MATEUS “Lembrem-se de que os textos de O Novo Testamento surgem
na encruzilhada cultural do mundo helenístico e do mundo semítico.” É importante ressaltar
que Mateus modifica a ordem de suas fontes para obter composições de caráter temático,
diferente de Lucas, que respeita a ordem de Marcos, embora seja interrompido em alguns
momentos para introduzir o material do documento Q e o material próprio (MONASTERIO;
CARMONA, 1991, pp. 149, 150). 3.2.2. LINGUAGEM E ESTILO Lembrem-se de que os textos de
O Novo Testamento surgem na encruzilhada cultural do mundo helenístico e do mundo
semítico. Perceba isso de maneira nítida no Evangelho Segundo Mateus, o mais judaico dos
Evangelhos, que não obstante, escreve num grego mais correto que o do Evangelho Segundo
Marcos e que, contra o que se acreditava em outros tempos, não pode mesmo ser mera
tradução de um original aramaico ou hebraico. Contudo, faz uso de diversos procedimentos
estilísticos de origem semítica. Ao ler Mateus você descobre de imediato esses recursos
estilísticos. Vamos destacar aqui os recursos que mais se sobressaem ao longo do texto
mateano (MONASTERIO; CARMONA, 1991, pp. 150-154): Inclusões são a repetição de palavras
ou expressões-chave no início e no fim de uma seção que a delimita e a orienta sobre o
conteúdo. No princípio do Evangelho, Jesus é apresentado como o Emanuel (VEmmanouh,l),
Deus-Conosco (1.23); ao final, o Senhor diz aos apóstolos “eu estou convosco todos os dias, até
à consumação dos séculos” (28.20). Os versículos 4.23 e 9.35 são uma inclusão que delimita a
seção melhor construída de toda a obra e indica seu conteúdo. As inclusões ocorrem com
frequência em seções pequenas (pelos seus frutos os conhecereis – 14 MÓDULO 08
EVANGELHOS E ATOS 21.28-32 22.1-14 23.15-22 25.1-13 25.31-46 27.3-10 27.19 27.52,53
27.62-66 28.11-15 28.16-20 Os dois filhos desiguais As bodas reais Contra os fariseus Parábola
das dez virgens Discurso sobre o julgamento dos povos O fim trágico do traidor Judas O sonho
da esposa de Pilatos Ressurreição de muitos santos durante a crucificação de Jesus A guarda do
sepulcro de Jesus A fraude do Sinédrio Aparição no monte da Galileia, ordem missionária e
promessa Material Exclusivo Conteúdo CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 7.16,20;
Reino dos céus na primeira e na oitava bem-aventurança, 5.3,10). Um outro recurso estilístico
bastante comum em Mateus são os paralelismos e quiasmos. Em 7.24-27 você encontra duas
estrofes paralelas em tudo, mas com conclusões contrárias: trata-se de um paralelismo
antitético; o texto paralelo em Lucas 6.47-49 não apresenta essa forma literária exata. Por
vezes, o paralelismo tem forma circular, dando lugar ao quiasmo. Veja a estrutura abaixo:
porque aquele que quiser salvar a sua vida (a) perdê-la-á (b) e quem perder a sua vida (b') por
amor de mim achá-la-á (a') Você também encontra outros exemplos em 10.39; 13.13-18;
18.10-14. O quiasmo é um procedimento frequente no Antigo Testamento. É importante incluir
aqui as citações de cumprimento: 1.22; 2.5; 2.15; 2.17; 2.23; 4.14; 8.17; 12.17; 13.14; 13.35;
21.4; 27.9. São citações do Antigo Testamento próprias de Mateus, que se caracterizam por
uma reflexão introdutória do evangelista, na qual se afirma explicitamente o cumprimento do
texto das Escrituras hebraicas em algum episódio da vida de Jesus. Podemos destacar ainda a
fórmula que está no final dos discursos de Jesus em 7.28; 11.1; 13.53; 19.1 e 26.1. É evidente a
importância dessas fórmulas mateanas; servem tanto para fechamento como transição. Além
disso, modifica o ambiente ou o assunto. Existem diversos outros recursos estilísticos, mas eles
podem ser verificados à medida que você, prezado estudante, ler e estudar o texto mesmo.
3.2.3. ESTRUTURA LITERÁRIA Repare que, enquanto Marcos termina seu relato de forma
abrupta, sem a descrição formal da ressurreição, Mateus inclui um capítulo inteiro dedicado à
volta de Jesus do mundo dos mortos e à comissão final dada por ele aos discípulos. Mateus
apresenta basicamente cinco grandes blocos de material discursivo. A intensão de Mateus de
que esses cinco principais sermões de Cristo fossem vistos como unificados, intercalados ao
longo de sua narrativa, fica evidente que por meio da repetição, já mencionada acima, com que
encerra cada um dos sermões: “Havendo Jesus concluído essas palavras”. 15 MÓDULO 08
EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Aqui também adotaremos
a estrutura que procura demonstrar as diversas etapas da vida de Jesus de acordo com o
desenvolvimento natural do texto. Veja abaixo a estrutura do Livro: ESTRUTURA DO LIVRO I. A
origem e a infância de Jesus, o Messias 1.1-2.23. II. Início do Ministério de Jesus, o Messias 3.1-
4.25. III. A Ética do Reino de Deus 5.1-7.29. IV. As obras poderosas de Jesus 8.1-9.34. V. Jesus e
seus pregadores missionários 9.35-10.42. VI. As prerrogativas de Jesus, o Messias 11.1-12.50.
VII. Sete parábolas do Reino do Céu 13.1-52. VIII. A rejeição de Jesus em Nazaré e o martírio de
João Batista 13.53-14.12. IX. Jesus se retira dos domínios de Herodes 14.13-17.27. X. A vida na
comunidade messiânica 18.1-35. XI. A viagem para Jerusalém 19.1-20.34. XII. O Messias desafia
Jerusalém 21.1-22.46. XIII. O Messias denuncia os escribas e fariseus 23.1-39. XIV. A queda de
Jerusalém o aparecimento do Filho do Homem 24.1-51. XV. Três parábolas de julgamento 25.1-
46. XVI. A narrativa da paixão 26.1-27.66. XVII. A ressurreição de Jesus 28.1-10. XVIII. Narrativas
pós-ressurreição 28.11-20. Aqui optamos por uma estrutura um tanto quanto mais detalhada
apenas por objetivos didáticos. 3.3. QUESTÕES TEOLÓGICAS Chegamos agora à última seção de
nossa análise do Evangelho Segundo Mateus. Lembre-se de que as obras dos evangelistas são
fundamentalmente teológicas. Dessa forma, interessa-nos saber qual a abordagem teológica
mateana. Nisto consiste o grande diferencial no que diz respeito ao conteúdo. Isso também é
importante para as questões interpretativas. 16 MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3
O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Rio Jordão “ Pouco a pouco, Jesus foi se revelando às
multidões enquanto formava seus discípulos na construção progressiva de sua Igreja –
instrumento para o mundo da presença do Reino dos Céus .” 3.3.1. NÚCLEO DO PENSAMENTO
MATEANO Você já deve ter observado que o Evangelho Segundo Mateus desenvolve uma
teologia da história em perspectiva dupla: do passado, com as genealogias (1.1-7), as citações e
as frases evocativas de amplos contextos do Antigo Testamento, como a “Boa Nova do Reino”
(4.23; 9.35; 24.14), palavra e doutrina do Reino (13.19,52); do futuro, anunciando que todos os
povos devem ser feitos discípulos através do ministério da pregação dos enviados (28.16-20).
Deus faz história com os seres humanos de maneira única e decisiva em Jesus, o Cristo e Filho
de Deus (MARCONCINI, 2012, p. 130). O trajeto terreno de Jesus proposto por Mateus é único.
Pouco a pouco, Jesus foi se revelando às multidões enquanto formava seus discípulos na
construção progressiva de sua Igreja – instrumento para o mundo da presença do Reino dos
Céus (como ele chama o Reino de Deus). O ponto de partida desse trajeto aparece no
evangelho da infância. Evocando as profecias hebraicas, Mateus explicita a maneira como Jesus
realiza as esperanças judaicas. Mateus atribui-lhe os títulos messiânicos tradicionais. Segundo
o anúncio profético, ele nasce em Belém, cidade real: é verdadeiramente “Filho de Davi”
(9.27). Contudo, Jesus não é o Messias nacionalista esperado pelos seus contemporâneos.
Perceba que a fim de corrigir este equívoco, Mateus apela para a figura do “Servo” de Deus
(8.17); extraída de Isaías (Is 42.1-4 e 53.4); se ele é rei (21.5), é um rei humilde, segundo a visão
de Zacarias (9.9). De toda forma, são as Escrituras que, incessantemente, legitimam sua
identidade. Caro aluno, assim o núcleo do pensamento de Mateus é dividido em três
dimensões fundamentais que dão sustentação à teologia do Evangelho: a dimensão
eclesiológica, a dimensão cristológica e a dimensão ética e moral. Veja abaixo de forma
introdutória cada uma dessas três dimensões. 3.3.1.1. DIMENSÃO ECLESIOLÓGICA A primeira
dimensão é Eclesiologia. Ela é profundamente enfatizada. O Evangelho Segundo Mateus
sempre foi considerado o evangelho eclesial por antonomásia, devido a duas razões
fundamentais: em primeiro lugar, dos Sinóticos, Mateus é o único Evangelho em que aparece a
palavra ekklesia, três vezes (ZUCK, 2010, p. 54). Nas duas vezes que Jesus utiliza o termo, uma
tem conotação universal, referindo-se uma a todo o novo povo do Messias Jesus (16.18) e
outra, tem um sentido particular, como uma comunidade ou igreja local, com seus problemas
disciplinares (18.17); em segundo lugar, na obra inteira, sobretudo nas partes discursivas,
transparece a vida da Igreja. É possível descobrir mesmo os conflitos da comunidade e, até
certo ponto, seus ministérios (MONASTERIO, CARMONA, 1991, p. 318). 17 MÓDULO 08
EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS Note que a dimensão
eclesiológica desse Evangelho está centrada no discipulado daqueles que são chamados a viver
no “agora” o “ainda não”, ou seja, a viver no tempo presente os ensinamentos do Mestre como
se estivessem vivendo os tempos finais, do juízo. A comunidade de Mateus, formada por
judeo-cristãos, é chamada a viver no aqui o Reino de Deus. A Igreja, neste Evangelho, é
apresentada como uma realidade complexa na multiplicidade de imagens que a representam:
ora como a rede lançada ao mar, que acolhe uma diversidade de peixes (13.47-50), ora é
figurada no campo de um pai de família, que plantou nele a boa semente e o inimigo nele
semeou a cizânia. Ambos crescem juntos e a colheita só pode ser feita no final (13.24-43). É
preciso destacar que quando Jesus declarou que edificaria a Sua Igreja, não tinha em mente a
formação de uma estrutura como se tornou a Igreja posteriormente. Não se pode afirmar
categoricamente que Jesus queria formar a Igreja da maneira como a conhecemos hoje.
Naquele momento Jesus estava dando os fundamentos para o surgimento do novo conjunto do
povo de Deus, a partir da afirmação de Pedro: “tu és o Cristo, o filho de Deus vivo” (16.16), do
mesmo modo como estava estabelecendo a autoridade conferida a essa nova comunidade
(18.19). A vida da Igreja de Cristo deveria ser marcada pela comunhão e pela unidade (CHAVES,
2002, p. 42). Caro aluno, o Evangelho é um discipulado continuado referente à construção da
comunidade, constituída de regras próprias, o perdão, a oração, a correção fraterna (18) e que
termina no Reino. A Igreja está aberta para todos os povos, fazendo aí uma diferença com o
Antigo Israel (21.43) (MARCONCINI, 2012, p. 131). Lembre-se de que Jesus chamou pessoas
para o seguirem, formando um grupo de fiéis, a quem chamou de discípulos (maqhth,j -
mathetes), servos ou escravos (dou/loj - dulos) e serviçais da casa (oivkiako,j - oikiakós) (10.25)
(CHAVES, 2002, p. 43). Em Mateus, você pode notar que, a Igreja é uma continuidade de Israel,
enquanto povo separado por Deus. Como novo povo de Deus, a Igreja é o lugar para congregar
pessoas vindas de todas as partes, gentios e judeus, em torno do Reino dos Céus (8.11). A
Igreja e o Reino de Deus são expressões que estão muito próximas, mas dizem respeito a
realidades distintas. O Reino é o domínio total de Deus sobre tudo o que existe; a Igreja é a
família composta pelas pessoas que entram no Reino e estão submissas ao poder soberano de
Deus. A Igreja, portanto, é o verdadeiro povo de Deus, pertencente ao Messias (CHAVES, 18
MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS 3.3.1.2.
DIMENSÃO CRISTOLÓGICA A segunda dimensão é a Cristologia. Jesus é o fundamento da Igreja.
A Igreja pertence a Ele. Ele é o seu Senhor. Entre os vários títulos dados a Jesus, Filho de Deus
(2.15) unido a Senhor (ku,rioj - Kýrios) fortalece a imagem referencial para as comunidades em
formação (MARCONCINI, 2012, p. 131). Talvez possamos afirmar com segurança que este seja o
mais importante título em Mateus dado para Jesus. Muitas pessoas chamavam Jesus de
“Senhor” e, em diversos casos, parece que isso queria significar pouco mais que “Mestre”.
Porém, em muitos lugares, o contexto sugere que Senhor (Kýrios) é o título correto utilizado
pelos discípulos plenos, especialmente quando eles precisam da ajuda que apenas alguém que
possua prerrogativa e poder divinos pode oferecer (8.2,6,25; 9.28) (ZUCK, 2010, p. 27).
Portanto, parece mesmo apropriado falar de pessoas “adorando” (proskune,w - proskynéo:
termo utilizado para o culto a Deus) o Senhor durante a sua vida (2.2,8,11; 14.33) (BLOMBERG,
2009, p. 172, 173). Você pode observar, que em Mateus, muitas vezes, a expressão Senhor em
si mesma não precisa indicar meramente cortesia social (LADD, 2003, p. 287). Por esse, e os
demais motivos é que você vai observar abaixo, a cristologia de Mateus é “mais elevada” e
mais explícita do que a de Marcos e de Lucas. Observe, estimado aluno, que a primeira
designação que aparece para Jesus é Messias (Cristo,j - Cristós) (1.1), título que se repete
diversas vezes no início do Evangelho (1.16,17,18). Esse título corresponde a uma preocupação
fundamental dessa seção introdutória: apresentar a Jesus como o Messias enviado a Israel e
como cumprimento das promessas. No restante da obra, esse título ocorre poucas vezes (11.2-
3; 16.16; 26.63) (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 311). Ainda na seção introdutória, junto
ao título de Messias (Cristo), tem importância fundamental o tema da descendência davídica
de Jesus. Observe isso em 1.1,6,17,20; 2.6. O Evangelho Segundo Mateus é o texto de O Novo
Testamento que mais faz uso da expressão “Filho de Davi”; das nove vezes em que aparece no
Evangelho, sete foram introduzidas pelo seu redator, ou seja, por Mateus. O uso do título Filho
de Davi confirma o caráter judeucristão de Mateus (MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 311). O
ressuscitado ainda conserva a fisionomia do Mestre. Ele não envia os onze, como aparece em
Marcos e Lucas, Atos e João, como testemunhas da sua ressurreição, ou para proclamar o
evangelho. Jesus envia seus apóstolos para fazerem discípulos Seus em todas as nações. Isto é,
eles são enviados não apenas para ensiná-las, mas para torná-las seus discípulos, ensinando-as
a observarem tudo o que Jesus lhes havia ensinado a observar (28.19s). O Jesus glorioso,
ressuscitado, os reenvia para que recordem seus ensinamentos, dados na condição terrena,
antes 19 MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS
Estimado estudante, outro aspecto oculto e doloroso da pessoa de Jesus reflete-se em sua
obra. O Reino de Deus, que ele inaugura, possui origens modestas e difíceis. O capítulo das
parábolas traz esta afirmação (4.1-34). Seus discípulos somente podem segui-lo por um
caminho de humilhação, de desprendimento e de cruz (8.34s; 9.35; 10.15; 10.24s,29s,39; 13.9-
13). A narrativa marcana demonstra que os acontecimentos foram a confirmação deste plano
divino. Em Jesus, humanamente falando, encontramos somente contradições e fracassos. É
assim que Marcos destaca a insensibilidade das multidões (4.12; 5.40; 6.2s), as hostilidades das
autoridades judaicas (2.1-3,6; 3.22; 7.5; 14.1), a incompreensão de sua própria família (3.21) e,
por fim, a fraqueza de seus discípulos (6.52; 7.18; 8.17s.21,33; 9.19,32,34; 10.38;
14.4s,27,30,37s,66-72). De outro lado, Jesus como “o Filho do Homem”, manifesta, como
adiantamos acima, um mistério mais profundo. Ele é o misterioso personagem messiânico de
origem celeste anunciado em Daniel (7.13-14), o qual padecerá, morrerá, mas ressuscitará
(8.31; 9.9,31; 10.33-34) e virá na glória de seu Pai com os anjos (8.38), sentado à destra de
Deus sobre as nuvens e com grande poder (13.26; 14.62). Perceba estudante, que a chave para
a compreensão desse Evangelho está na eminente dignidade de Jesus e em sua condição
menosprezada: Jesus é um Messias crucificado. Contudo, o escândalo da cruz só pode ser
compreendido através do fato de sua ressurreição gloriosa. Jesus é o único Mestre (23.10)
capaz de iluminar, exortar, julgar e tornar leve o jugo (11.28-30) da Igreja. Ele está
constantemente presente, desde a encarnação, quando se apresenta como Emanuel
(VEmmanouh,l - Deus conosco, 1.23), no dia-a-dia, quando garante “estar no meio” daqueles
que se reúnem para orar (18.20), continuando a assistência também após a ressurreição
(“estarei com vocês todos os dias até a consumação dos séculos”, 28.20) (MARCONCINI, 2012,
p. 131). Prezado aluno, para Mateus, em Jesus se realiza a presença de Deus (VEmmanouh,l) no
meio de seu povo e, consequentemente, esse novo povo de Deus se caracteriza por sua
relação com Jesus. Em 18.20, Jesus fundamenta o poder da comunidade e a eficácia de sua
oração na promessa de que, “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu
no meio deles” (evkei/ eivmi evn me,sw| auvtw/n - ekei eimi em mesô autôn). Jesus, que por
seu nascimento humano era Deus-Conosco, continua agora desempenhando esse mesmo
papel para além de sua vida terrena. Mateus não diz que Jesus é Deus, mas fala de tal forma
que insinua sua pertença especial à esfera da divindade. Em 9.2 Jesus é acusado de blasfêmia
por sua pretensão de perdoar os pecados, do que não se retrata em absoluto (MONASTERIO;
CARMONA, 1991, p. 314). 20 MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS “Para Mateus, em Jesus se realiza a presença de Deus no meio de seu povo
e, consequentement e, esse novo povo de Deus se caracteriza por sua relação com Jesus. ”
VEmmanouh,l 3.3.1.3. DIMENSÃO ÉTICA E MORAL A terceira e última dimensão é a Ética e
moral. O Evangelho Segundo Mateus coloca-se na mesma linha de Tiago. Ele oferece indícios
da ética e moral da comunidade cristã. O que importa é agir (7.21). O juízo final, fortemente
enfatizado, é levado a cabo com base nas obras de caridade. Não basta pertencer fisicamente à
comunidade: tem-se o chamado, mas ainda não se é eleito. A condição de eleito transparece
diante de ações cristãs concretas (MARCONCINI, 2012, p. 132). Desta maneira, prezado
estudante, esse Evangelho traz cinco grandes discursos descritos em uma forma característica
de apresentação (Mt 5.1- 2; 13.1-3, por exemplo). Ao terminar, Mateus faz a conclusão do
discurso com fórmulas fixas: “... concluindo Jesus este discurso” (7.28; 19.1) ou “... acabando
Jesus de dar instruções aos doze discípulos” (11.1; 13.53; 26.1). O conteúdo desses discursos é
a ética. Nesse enfoque se entende melhor o sentido da afirmação de Jesus que veio para levar
ao cumprimento a Lei (5.17-19), a superação de certas normas mosaicas (5.21-48), isso não
para atenuar, antes, para realizar, de forma mais profunda, a vontade de Deus (19.8),
concentrando-se no amor que já era central no Antigo Testamento (ZUCK, 2010, p. 50). Em
Mateus, Jesus deixa claro que a fonte de todas as ações humanas, justas e boas, consiste em
três princípios elaborados em polêmica, contra uma religião superficial e hipócrita: 1) a
experiência religiosa dos discípulos de Jesus deve superar o comportamento dos escribas e
fariseus (5.20); 2) a experiência religiosa dos discípulos deve levá-los a uma confiança tal no Pai
dos céus, a ponto de acreditarem na recompensa daquilo que é feito em segredo (6.4,6,18) e
não se mostrarem religiosos e piedosos aos outros, apenas pelas aparências (6.1,5,16); 3) essa
experiência religiosa, deve levar os discípulos a consagrarem sua vida, seguindo um só
mandamento: amar a Deus totalmente, na experiência concreta do amor aos irmãos (7.12) e
não se deixarem aprisionar na gaiola dos preceitos e de normas religiosas (MARCONCINI, 2012,
pp. 133-142). Contudo, se quisermos tratar de normas, podemos resumi-las em quatro
atitudes: o amor (ágape); a justiça, a retidão, a piedade (dikaiôsyne); a misericórdia (heléos); o
perdão (afiémi). Essas quatro atitudes, como essência da religião, são aprofundamentos e
princípios norteadores da vida moral e espiritual. 3.3.2. O REINO DE DEUS Em Mateus,
estimado aluno, você encontra a declaração de que, juntamente com o advento de Jesus
Cristo, é chegado o Reino de Deus (basilei,a| tou/ qeou - Basileía tou Theoû) ou Reino dos Céus
(basilei,a tw/n ouvranw/n - Basileía tôn ouranôn). A expressão preferida por Mateus é Reino
dos Céus, empregada 32 vezes, enquanto Reino de Deus é empregada apenas quatro vezes
(CHAVES, 2002, p. 39). 21 MÓDULO 08 EVANGELHOS E ATOS CAPÍTULO 3 O EVANGELHO
SEGUNDO MATEUS “Se quisermos tratar de normas, podemos resumilas em quatro atitudes: o
amor (ágape); a justiça, a retidão, a piedade (dikaiôsyne); a misericórdia (heléos); o perdão
(afiémi).” Note que o Reino de Deus é apresentado em Mateus como um tesouro (13.44-46),
como um presente aos pequeninos (19.14) e como uma prioridade (6.33). O próprio Evangelho
é a boa nova do Reino (4.23). O Senhor Jesus nos convida para tomarmos parte de seu Reino
como quem convida para um baquete ou uma festa (8.11; 22.1-14) (ZUCK, 2010, p. 36). A
entrada no Reino de Deus se dá por meio do arrependimento (4.17). Isso implica em uma vida
que deve ser marcada por uma nova ética (conforme vimos acima) que Jesus Cristo veio
ensinar, baseada na nossa condição de sal da terra e luz do mundo (5.13-14). Desse modo, a
nossa justiça deve exceder a dos escribas e fariseus (5.20). Um dia prestaremos conta de
nossas atitudes e pensamentos, quando do juízo eterno (12.36). Portanto, Jesus exige a
renúncia total a todo o tipo de apego aos valores seculares (16.24) (CHAVES, 2002, p. 40, 41).
3.3.3. ESCATOLOGIA Estudante, perceba que Mateus destaca a vinda de Cristo como Filho do
Homem na função de juiz universal e glorioso, que dará a cada um segundo as suas obras
(16.27). Este é o único evangelista que utiliza a expressão parousia (parousi,a - 24.3,27,37,39)
para falar da vinda do Filho do Homem (ZUCK, 2010, p. 63). Também é Mateus quem dá mais
destaque ao juízo futuro, com um anúncio de juízo mais ou menos claro. O homem pode seguir
o caminho largo que leva à perdição ou o estreito que conduz à vida (7.13-14), pode edificar
sua casa sobre rocha, de modo que possa resistir sempre, ou sobre a areia, que acaba logo em
ruínas (7.24-27). O discurso do capítulo 13 termina com a parábola da rede, que é tipicamente
de juízo, sobre a separação dos peixes bons e dos maus (13.47-50; cf. 13.36- 43)
(MONASTERIO; CARMONA, 1991, p. 329, 330). Em Mateus o juízo será precedido pela
ressurreição dos mortos. A segunda vinda de Jesus será o evento escatológico marcante. O
termo preferido por Mateus para descrevê-lo, como vimos acima, é parousia, que significa
presença. O sermão do monte das Oliveiras concentra o maior conteúdo dos ensinos de Jesus a
esse respeito. Aqui, fica evidente que a segunda vinda de Cristo será iminente (24.24),
repentina (24.27) e visível em poder e grande glória (24.30). A incerteza do tempo em que
acontecerá é comparada com a chegada do ladrão da noite (24.43) e com os tempos de Noé
(24.37-39) (CHAVES, 2002, p. 45). Quantas informações novas você aprendeu até aqui.
Permaneça firme em seus estudos! Nesse capítulo você aprendeu sobre o Evangelho Segundo
Mateus, vimos a data de composição, o lugar em que este Evangelho foi escrito, e qual o
propósito dele. Também aprendemos sobre as questões literárias e para finalizar estudamos as
questões teológicas e dividimos o pensamento mateano em três dimensões: a dimensão
eclesiológica, a dimensão cristológica e a dimensão ética e mor

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