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Alunos
Waldenilton Cunha Pereira1
Daniel Martins Licá2
Francisco Victor Maciel Miranda Calvet3
Orientador
Antônio Augusto Lopes Ferro4
Resumo: O presente artigo tem como objetivo expor uma breve análise de Mateus
13, que narra as principais parábolas acerca do Reino dos Céus. A centralidade do
tema deste capítulo está na ação do Reino dos Céus e sua relação com o tempo
apocalíptico. O capítulo também traz o contexto de uma comunidade cristã que nasce
sendo constituída principalmente por judeus que guardavam para si a Palavra de
Deus, com uma linguagem peculiar do seu autor. Tais características tornam o
capítulo 13 detentor do discurso central de Jesus neste Evangelho, no qual se
encontra o precioso tesouro do Reino de Deus. Logo, um estudo dele favorece a
transmissão da pregação de Jesus e o discipulado para os cristãos da atualidade.
Abstract: This article aims to expose a brief analysis of Matthew 13, which tells the
main parables about the Kingdom of Heaven. The centrality of the theme of this chapter
is in the action of the Kingdom of Heaven and its relation with the apocalyptic time. The
chapter also brings the context of a Christian community that was born consisting
mainly of Jews who kept the Word of God to themselves, with a peculiar language of
its author. Such characteristics make chapter 13 the holder of the central discourse of
Jesus in this Gospel, in which the precious treasure of the Kingdom of God is found.
Therefore, a study of him favors the transmission of Jesus' preaching and discipleship
for Christians today.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduando em Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Bet-Hakam
2
Graduando em Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Bet-Hakam
3
Graduando em Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Bet-Hakam
4
Bacharel em Teologia pelo SPRBC e História Licenciatura pela UEMA; Professor de Teologia do
Centro de Estudos Bet-Hakan
2
escrito são pontos imprescindíveis que ajudam captar a mensagem que Mateus
estava querendo transmitir e a concepção religiosa que pretendia formar nos seus
leitores.
Primeiramente, o que chama a atenção do livro de Mateus é que ele ocupa o
primeiro lugar dentre os Evangelhos, embora não tenha sido escrito primeiro no que
diz respeito à datação. Percebe-se que recebeu uma preferência e isso se deu
especialmente por causa da popularidade e grande aceitação dos escritos por parte
da comunidade cristã da época.
O Evangelho de Mateus foi escrito, segundo o senso comum, primordialmente
em grego e detém mais discursos de Jesus do que o Evangelho de Marcos, por
exemplo. Além disso, acomoda em sua estrutura, majoritariamente, as ações de Jesus
narradas. Possui textos similares a Marcos e Lucas, e também passagens que não
estão presentes em nenhum dos outros dois Evangelhos, sendo definidas como
patrimônio específico do apóstolo Mateus.
O nome “Mateus” é mencionado apenas no primeiro Evangelho, em
contrapartida, o chamado de Levi, o publicano, está presente nos livros de Mateus,
Marcos e Lucas. Por esta razão, levanta-se a dúvida se o apóstolo Mateus citado nos
Evangelhos seria o mesmo autor do primeiro sinótico. O fato dos outros Evangelhos
não o citarem de forma clara, gera certa estranheza e faz com que alguns
pesquisadores concluam que o próprio autor tenha corrigido seu nome.
Muito provavelmente Mateus era um judeu rabino convertido ao cristianismo,
que se tornou um pastor de pessoas bem preparado tecnicamente e dedicado a
ensinar aos irmãos os ensinamentos de Jesus. Isto em razão de sua capacidade de
escrever dominando as Escritas antigas e em conformidade com sua intenção de
evangelização.
Entende-se que o maior objetivo de Mateus era apresentar Cristo como o pleno
cumprimento da Lei de Moisés. Ligado a isso, os estudiosos concordam que em Mt
13:52 onde diz: “Todo escriba que se tornou discípulo do Reino dos Céus é
semelhante ao proprietário que do seu tesouro tira coisas novas e velhas”, Mateus
estava evidenciando sua autoria.
O Evangelho de Mateus foi escrito para uma comunidade de judeus cristãos e
isso é comprovado por vários fatores apontados no próprio livro. Dentre eles, o fato
de o autor demonstrar zelo pelas tradições judaicas e pela Lei. Ainda, o livro possui
expressões de caráter tipicamente nacionalistas como o termo “gentios”, que era
3
habitualmente utilizado pelos judeus para se referirem àqueles que não faziam parte
da mesma fé dos judeus.
Ademais, a passagem de Mt 10:5-6 deixa claro que a missão dos discípulos é
intermediada pelos israelitas. O erudito Brown (2012, p. 311), analisando a identidade
dos destinatários do evangelho mateano, elenca que “a interpretação mais plausível
é a de que evangelho de Mateus foi endereçado a uma Igreja, no início, fortemente
judaico-cristã, cuja composição se tornou progressivamente gentia. Acerca disso, o
teólogo neotestamentário Blomberg, também comenta que:
As evidências externas nos ajudam a confirmar nossa suspeita de que
Mateus escreveu em particular para os cristãos judeus. Mas a maioria dos
testemunhos afirma apenas que Mateus escreveu “aos hebreus”, embora
seja ocasionalmente sugerido um lugar na Palestina (ver Ireneu, Contra
Heresias 3.1.1; Eusébio, História Eclesiástica 3.24.5-6; Jerônimo, Homens
Ilustres 3). (BLOMBERG, 2009, p. 176).
Existe o consenso de que este Evangelho tenha sido escrito depois dos anos
70 d.C., uma vez que menciona a destruição do templo e o incêndio da cidade em Mt
4
22:7, fato que aconteceu também em 70. Porém, ainda não havia acontecido a
expulsão dos cristãos da sinagoga como descrito em Jo 9:22, resultado do conflito da
comunidade com o judaísmo rabínico. Logo, sugere-se uma data anterior ao ano 90,
concluindo, assim, que possa ter sido escrito por volta dos anos 80.
Comentando sobre a provável datação do evangelho mateano, o teólogo
neotestamentário Brown postula que:
Tais descrições seriam inadequadas se Mateus tivesse sido escrito somente
duas ou três décadas depois de 30/33 d.C. Provavelmente, melhor argumento
para uma data pós-70 seja a dependência de Mateus em relação a Marcos,
um evangelho comumente datado do período entre 68 e 73. Tudo isso faz de
80-90 d.C. a datação mais plausível; os argumentos, porém, não são exatos,
de modo que, pelo menos uma década em cada direção deve ser consentida.
(BROWN, 2012, p. 317).
Assim como Moisés, Jesus tem uma infância cercada de milagres; causa
confusão entre os governantes da terra; sobrevive, enquanto crianças de sua
idade são massacradas e refaz a viagem do Êxodo, indo para o Egito e
retornando (c. 1—2). Ele permanece no deserto quarenta dias e quarenta
noites em sua preparação para o ministério e então apresenta o seu ensino
programático no alto de um monte (c. 4—5). (BROWN, 2012, p. 317).
Notamos que o evangelho mateano nos apresenta cinco grandes discursos que
servem de transição para as narrativas de milagres. Temos, então, o sermão da Lei
(Mt 5-7), o sermão missiológico (Mt 10), o sermão do Reino (Mt 13), o sermão
eclesiástico (Mt 18) e o sermão apocalíptico (Mt 24-25). Quanto a estrutura literária
dos sermões mateano, o teólogo neotestamentário Blomberg postula que:
A intenção de Mateus de que esses cinco principais sermões de Jesus
fossem vistos como discursos unificados, intercalados em sua narrativa
histórica, fica clara pela repetição do refrão com que termina cada um dos
sermões: “Havendo Jesus concluído essas palavras...” (7.28; 11.1; 13.53;
19.1 e 26.1 — este último versículo acrescenta “todas” antes de “essas
coisas”). (BLOMBERG, 2009, p. 167).
mestre de Israel, comparando-o com Moises. Ele, então, não veio para revogá-la e
sim para cumpri-la e lhe dá um novo significado.
A partir daí, então, vemos que o evangelho mateano tem o intuito de mostrar à
sua comunidade de judeus cristãos, qual deve ser a verdadeira relação deles agora
com a lei mosaica e como ela ganha verdadeiro sentido em Jesus. Portanto, o Sermão
da Montanha visa apresentar a Jesus como o “novo Moisés”, mas também, mostrar o
que é a essência da lei como gravada nos corações dos salvos.
Comentando sobre o significado teológico do sermão da montanha e como o
Jesus mateano é apresentando nesse bloco literário do evangelho mateano, o teólogo
neotestamentário Brown afirma que:
Mais do que qualquer outro mestre de moralidade, o Jesus mateano ensina
com exousia, isto é, com poder e autoridade divinos, e, mediante esse
revestimento de poder, torna possível urna nova existência. Existem paralelos
entre Moisés e o Jesus de Mateus (c. 4—5) [...] O ensinamento ético do novo
legislador (Mt 5,17-48) constitui uma admirável seção, não somente pelo
modo segundo qual Mateus elabora a compreensão cristã dos valores de
Jesus, mas também por sua cristologia implícita. O Jesus mateano apresenta
a exigência de Deus não descartando a Lei,15, mas pedindo uma
observância mais profunda que alcança a razão pela qual aquela foi
formulada, ou seja, “ser perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt
5,48). (BROWN, 2012, p. 269-270).
Portanto, Jesus quer comunicar que o poder das trevas guerreia contra o Reino
de Deus para desvirtuar os homens da vontade divina e que a comunidade deve
combater esse mal para que o Reino seja estabelecido. Outro elemento importante da
parábola é que não pertence à comunidade a função de realizar o juízo escatológico
para os considerados infiéis, mas somente a Deus e aos anjos.
A colheita no Antigo Testamento é símbolo de juízo final, segundo os textos
veterotestamentários dos profetas Isaías 9:2-3 e Oseias 6:11. Quanto a relação
12
Fica nítida a mensagem por trás da história, o Reino dos Céus é o tesouro mais
precioso do que qualquer outro. Aqui, todos os estudiosos concordam que o sentido
está em que o Reino possui valor incomparável, ao ponto que o homem que o
encontra torna-se capaz de vender tudo o que tem para adquiri-lo. Comentando sobre
isso, o comentarista bíblico Hendriksen nos diz que:
A essência da parábola consiste em que o reino do céu, alegre
reconhecimento do governo de Deus no coração e na vida, inclusive a
salvação para o presente e para o futuro, para a alma e finalmente também
para o corpo, o grande privilégio de assim ser transformado em benção para
outros para a gloria de Deus, tudo isso é um tesouro tão inestimavelmente
precioso que aquele que o obtém se predispõe a entregar por ele tudo quanto
possa interferir em sua obtenção. É o tesouro supremo, porque satisfaz
plenamente as necessidades do coração. Ele produz paz e satisfação interior.
(HENDRIKSEN, 2001, p. 104-105).
Assim, até mesmo a pérola sendo o bem mais caro do mundo antigo, o
vendedor de pérolas precisou vender todas as que tinha para comprar esta única. O
tesouro e a pérola são o Reino dos Céus revelado em Jesus, através de sua pessoa
e suas obras. O objetivo é fazer o ouvinte refletir se desejará adquirir este tesouro ou
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não. Acerca desse fluxo de argumento sobre o significado teológico das parábolas do
Tesouro e da Pérola, o comentarista neotestamentário Mounce comenta que:
As duas próximas parábolas ocorrem somente em Mateus (vv. 44-46). Ambas
salientam o mesmo ponto básico, de que o reino dos céus tem tão grande
importância e valor, que tudo mais deve ser sacrificado a fim de podermos
entrar nele. [...] O reino dos céus tem valor supremo. Quando nós o
encontramos (“e dele nos apossamos integralmente”), abrimos mão com
máxima alegria de tudo aquilo que faz concorrência ao reino, em nossa vida,
e desse reino fazemos nossa maior possessão. (MOUNCE, 1991, p. 144-
145).
Portanto, notamos que esta parábola tem afinidade com a parábola do joio, pois
seus sentidos são semelhantes. As duas tratam da existência de bons e maus no
mundo e da separação que haverá no escathon entre eles. Por meio dessa
mensagem, a comunidade deve ter a convicção de que o juízo escatológico
acontecerá e que somente Deus e os seus anjos o realiza.
O que, porém, a diferencia da parábola do joio é que não há uma explicação
do destino dos bons como na parábola anterior, apenas a recompensa dos maus: a
fornalha. E também não há o pedido à paciência, apenas a garantia da separação que
ocorre após a pesca. O comentarista neotestamentário Hendriksen, comentando
sobre isso, nos afirma que:
Assim também, o evangelho da salvação fornecido por Deus por meio da fé
em Cristo está constantemente “pescando” os homens (Lc 5.10). Entretanto,
nem todos aqueles que entram no reino, em sua manifestação visível – para
todos os propósitos práticos, poderíamos dizer: nem todos os que entram na
igreja visível – são verdadeiramente salvos. Isto se fará evidente no grande
dia do juízo, quando os anjos haverão de separar os perversos dos justos.
(HENDRIKSEN, 2001, p. 108).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBAGLIO, Giuseppe & FABRIS, Rinaldo. Evangelhos I. São Paulo: Loyola, 1990.
BLOMBERG, Craig L. Introdução aos Evangelhos. São Paulo: Vida Nova, 2007.
CARSON, D.A; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento.
São Paulo: Vida Nova, 1997.
TASKER, R.V.G. Mateus: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986.