Você está na página 1de 4

A Autoria do Evangelho de Mateus

por zwinglio · Janeiro 20, 2013




Em PDF
Introdução
O Evangelho de Mateus se mostrou popular já em meados do século II D.C. Esse Evangelho era o preferido da igreja primitiva por causa
de sua organização e em parte devido aos temas abordados por ele. Os escritores do II século citam Mateus mais que qualquer outro
evangelho. Irineu de Lião, por exemplo, em Contra Heresias, nos livros III e IV, cita mais Mateus do que todos os Evangelhos
combinados[1]. No que tange à autoridade, o primeiro Evangelho parece ter sido o primeiro a alinhar-se com o Antigo Testamento nesse
quesito. Especula-se que fora em Antioquia onde sua aceitação se deu primeiramente. A autoria desse Evangelho é atribuída,
tradicionalmente, ao apóstolo Mateus[2], ou Levi, mesmo não havendo nenhuma indicação no próprio texto. A data de escrita, segundo
alguns eruditos conservadores, deve estar entre 60 a 70 A.D. Já outros, apontam para uma data que envolve os anos 80 a 85 A.D.
Muitos eruditos modernos hesitam em atribuir ao apóstolo Mateus a autoria desse Evangelho [adiante destacarei algumas razões para
isso]. Sobre isso, é digno de nota o fato que nenhum escritor dos primeiros séculos atribuiu a qualquer outro a autoria do Evangelho
segundo Mateus. Somando a isso a antiguidade da tradição que aponta o apóstolo Mateus como autor do texto, não podemos
simplesmente afirmar como falsa a autoria do Evangelho por parte de Levi, o cobrador de impostos chamado para integrar o colégio
apostólico. Até a Renascença/Reforma ele fora considerado o autor desse Evangelho.

O quadro a ser montado para discutir a questão da autoria será o seguinte: num primeiro plano destaco evidências que favorecem a
autoria de Mateus, o apóstolo, depois alguns argumentos contrários e, por fim, apresento uma conclusão questionando o que temos feito
com as palavras do Cristo descritas no primeiro Evangelho.
Usarei como referências básicas para a articulação desse artigo, a obra de Craig Blomberg, Jesus e os Evangelhos: uma introdução ao
estudo dos 4 evangelhos, e o Dicionário Teológico do Novo Testamento organizado por Daniel G. Reid.
Evidências em favor da autoria do apóstolo Mateus
1. A tradição antiga
Existe uma tradição uniforme da autoria de Mateus, o apóstolo, partindo do século II (Papias e Irineu), repetida no terceiro século
(Orígenes) e no IV século (Eusébio).
Papias
Viveu em cerca de 130 d.C., foi discípulo do apóstolo João e bispo de Hierápolis, na Frígia. Eusébio[3] traz aquilo que por muitos é
considerada a principal evidência externa da autoria de Mateus, chamado Levi, cobrador de impostos e um dos doze apóstolos. Citando
Papias ele escreveu:
 [...] Papias [...] referente a Mateus, diz o seguinte: “Mateus ordenou as sentenças em língua hebraica, mas cada um as traduziu
como melhor podia.”[4]
Papias é a fonte da maioria das tradições antigas.
Irineu de Lião
Um dos primeiros pais grego, Irineu (130-200) foi bispo de Lião. De igual modo, é citado por Eusébio testemunhando que “Mateus
publicou entre os hebreus, em sua própria língua, um Evangelho também escrito [...]”[5]
Orígenes
Teólogo grego, viveu entre 185 254 d.C. Ele também foi citado por Eusébio como dando testemunho de que o Evangelho de Mateus foi
escrito por Mateus, o apóstolo, conferindo-lhe natureza autoritária.
 Acerca dos quatro Evangelhos, que também são os únicos que não foram discutidos na Igreja de Deus que está sob o céu, por
tradição aprendi que o primeiro a ser escrito foi o Evangelho de Mateus, que foi por algum tempo arrecadador e depois apóstolo de
Jesus Cristo, que o compôs em língua hebraica e o publicou para os fiéis procedentes do judaísmo.[6]
Eusébio
O próprio Eusébio aceitou o testemunho antigo. Ele escreveu:
 Com efeito Mateus, que primeiramente tinha pregado aos hebreus, quando estava a ponto de ir para outros, entregou por escrito
seu Evangelho, em sua língua materna [...][7]
Pesa contra o testemunho de Eusébio a datação de sua época: 340 d.C. Esta é uma data muito tardia. Não há independência no
testemunho do historiador.
McKnight diz que “pode se encontrar apoio para esse entendimento tradicional acerca da origem de Mateus em Cirilo de Jerusalém, em
Epifânio e em Jerônimo.”[8]
Há aqui um testemunho amplo e repetido. Esta confirmação antiga é vigorosa tão quanto a de qualquer outro texto canônico. No entanto,
a dúvida sobre a autoria persiste.
2. Mateus 9:10
 E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus
discípulos.
A “casa” em destaque é a de Mateus. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz assim:
 Mais tarde, enquanto Jesus estava jantando na casa de Mateus muitos cobradores de impostos e outras pessoas de má fama
chegaram e sentaram-se àmesa com Jesus e os seus discípulos.
A passagem paralela de Marcos 2:15 confirma isso:
 Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores
[...].
A Almeida Corrigida e Revisada traduz esta referência desse modo:
 E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos
publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido.
Transliterada, a expressão marcana em negrito fica assim: en tê oikia. Esta expressão idiomática é a mesma de Mateus 9:10. Disso,
conclui-se que de modo alternativo à tradução “em casa deste” de Marcos, pode-se ler “na minha casa” em Mateus. Assim sendo,
teríamos o autor do Evangelho de Mateus dizendo que a casa de Levi era a dele mesmo – Mateus, o apóstolo. Esse arranjo é cogitado por
alguns como uma evidência interna da autoria apostólica do Evangelho de Mateus. No entanto, H. L. Ellison demonstra a fragilidade
desse argumento dizendo: “se o argumento for válido, não prova mais do que o autor usou o material de Mateus.”[9]
3. Questões de dinheiro
A narrativa de Mateus é a que mais parece incluir detalhes relacionados a questões financeiras. Devido a isso e o fato de Levi ser um
coletor de impostos supõe-se termos à frente mais uma evidência interna favorável à autoria apostólica. O Novo Comentário Bíblico do
Novo Testamento diz não ser “surpresa alguma [...] que este Evangelho contenha mais referência ao dinheiro do que todos os
outros.”[10] Mas Blomberg, um defensor da autoria apostólica, diz: “não nos parece possível provar muita coisa a partir disso.”[11]
4. Sinais de humildade
Argumenta-se que a presença do nome de Mateus depois de Tomé em 10:3, diferente de outras listas (Mc 3:18; Lc 6:15), é um sinal de
humildade por parte do escritor apostólico. A referência ao “publicano” também em 10:3 parece indicar mais um tom de humildade visto
que nem Marcos e Lucas, ao citar Mateus na lista de apóstolos, usa a palavra “publicano”. Para Champlin, esses argumentos “quase não
convencem”[12].
5. Um candidato impopular
O argumento que segue pertence a Blomberg:
 Embora Mateus fosse um apóstolo, ele veio de um contexto de má reputação. Nenhuma obra apócrifa lhe é atribuída, como
ocorre com os apóstolos Pedro, Tiago, João, Tomé, André ou Bartolomeu. O que nos sugere que Mateus não seria um candidato
razoável entre os apóstolos para ser escolhido por cristãos tardios a fim dar mais autoridade a um evangelho, se de fato ele não fosse
o autor.[13]
Nos primeiros séculos era comum atribuir apostolicidade a um escrito pelo simples fato dele estar vinculado ao nome de um apóstolo.
São dezenas os livros que levam o nome dos apóstolos e que não foram escritos por eles. Temos à nossa frente o interesse pelo status do
texto escrito. A ausência de uma obra apócrifa atribuída a Mateus foge a essa regra. A razão, talvez, descanse no que disse Blomberg e,
com isso, sua conclusão de que esse costume não está associado ao Evangelho de Mateus, evidencia-se como um raciocínio interessante.
6. O título
O livro inspirado não traz título; ele é anônimo (como os outros Evangelhos). De acordo com William Hendriksen, a atribuição a Mateus
como autor data de “cerca do ano 125 d.C.”[14]. Admitindo que o Evangelho de Mateus tenha sido escrito entre 75 a 85 d.C., seria
bastante improvável que 50 anos (mais ou menos) depois o nome do autor original tenha se perdido dando lugar a um nome fictício.
Quanto a essa data de escrita, alguns estudiosos, negando a autoria por parte do apóstolo Mateus, veem pouca probabilidade de Levi ter
vivido além de 85 d.C. Devo dizer que a data citada não é conservadora. Blomberg, por exemplo, diz ser possível que o Evangelho em
foco pode remontar aos anos sessenta. Caso a data seja posterior, não existem informações de quando ou com que idade Mateus faleceu.
Logo, a objeção dos críticos apontada enfraquece-se.
Além desse tempo tão curto, devemos levar em consideração também as particularidades que fizeram o Evangelho de Mateus obter
ascendência sobre os outros Evangelhos. Champlin alista algumas razões para essa proeminência:
 O arranjo de seu material, por tópicos, e não necessariamente de modo cronológico, tornou-se um manual apropriado para
instrução.
Considerando todos os fatores, contém a mais completa narrativa, tanto das obras, como dos ensinamentos de Jesus.
Reflete o ponto de vista mais universal.
É o mais eclesiástico entre os evangelhos, procurando enfrentar e solucionar problemas da igreja, e não meramente narrar a história da
vida e dos ensinamentos de Jesus.[15]
Ora, perder de vista em tão pouco tempo o escritor de uma obra com tal vigor soa como algo surreal.
Alistados esses argumentos, duas coisas podem ser ditas com certeza: 1ª) O Evangelho que leva o nome de Mateus, originalmente, não
recebeu nenhum título; 2ª) O peso do testemunho da Antiguidade em favor de uma autoria por parte de Levi não pode ser
desconsiderado.
Argumentos contrários à autoria de Mateus
A seguir darei destaque apenas a dois argumentos trabalhados por eruditos que não acreditam ter sido Levi, o apóstolo, o autor do
Evangelho de Mateus. Mas, a parte desses, devo apontar esses outros: a) a incompatibilidade teológica com outras fontes judaico-
cristãs; b) a improbabilidade de Mateus ter vivido além de 85 d.C.; c) A possibilidade de 13:52 ser uma auto-referência do autor como
um “escriba” cristão, não cobrador de impostos.[16]
1. Dependência de Mateus em relação a Marcos.
É consenso universal que Mateus usa Marcos como um esboço histórico. Cerca de noventa por cento do conteúdo de Marcos pode ser
encontrado em Mateus (e Lucas também). F. F. Bruce diz “que a essência de 606 dentre 661 versículos de Marcos aparece em
Mateus.”[17] Essa marcante dependência do texto marcano por parte do mateano levou alguns estudiosos a duvidarem da autoria do
Evangelho segundo Mateus a partir da pena de Levi, o apóstolo.
Esse argumento é apresentado por McKnight: “se o primeiro Evangelho utilizou Marcos como fonte primária, é improvável que um
apóstolo (Mateus) precisasse fazer uso de uma fonte não apostólica como Marcos.”[18] Esse argumento da crítica das fontes dá destaque
ao curioso fato de que Mateus, o apóstolo, se valeu da narrativa marcana para relatar seu próprio chamado (Mt 9:9-13 – Mc 2:13-17).
Isso soa estranho para os críticos. Alega-se também que um apóstolo não iria se utilizar de um autor não-apostólico como Marcos que,
também, não fora uma testemunha ocular, coisa que Mateus teria sido. Para Blomberg, esse argumento “não mostra qualquer
seriedade.”[19] McKnight diz que ele “em última instância não é convincente.”[20] A razão é muito simples: por trás de Marcos subjaz a
autoridade apostólica petrina e isso, outorga, em último caso, um peso apostólico ao texto marcano. Eusébio apresenta a presença dessa
teoria no cristianismo primitivo:
 E o presbítero dizia isto: Marcos, que foi intérprete de Pedro, pôs por escrito, ainda que não com ordem, o quanto recordava do
que o Senhor havia dito e feito. Porque ele não tinha ouvido o Senhor nem o havia seguido, mas, como disse, a Pedro mais tarde, o
qual transmitiu seus ensinamentos segundo as necessidades e não como quem faz uma composição das palavras do Senhor, mas de
tal forma que Marcos em nada se enganou ao escrever algumas coisas tal como as recordava. E pôs toda a sua preocupação em uma
só coisa: não descuidar nada de quanto havia ouvido nem enganar-se nisto o mínimo.[21]
Estudiosos que rejeitam essa objeção levantada pelos críticos não veem nenhum absurdo em Mateus ter desejado conhecer um Evangelho
fundado na pregação de Pedro. Para eles, isso não implica em uma posição tão subordinada assim por parte de Mateus nem tampouco
refletiria isso numa compreensão de que o uso de Marcos por parte do apóstolo Mateus o colocaria em um estado abaixo da dignidade
apostólica.
2. O autor não escreveu um Evangelho em hebraico.
Disso, conclui-se que o autor não pode ter sido Mateus, o apóstolo. Estudos dão conta de que é grande a probabilidade do Evangelho de
Mateus não ser, originariamente, um texto escrito em hebraico e sim em grego. Toda a questão gira em torno de uma revisão do
significado da expressão grega hebraidi dialekto apresentada por Papias em seu testemunho sobre a autoria de Mateus. Leiamos o texto
completo novamente.
 Mateus reuniu [synetaxato] os oráculos [ta logia] na língua hebraica [hebraidi dialekto], e cada um os interpretou
[hermeneusen] da melhor maneira que pôde.[22]
A expressão hebraidi dialekto é traduzida por Eusébio como “na língua hebraica”. No entanto, Robert Gundry, citado por McKnight[23],
não vê indícios de que o Evangelho de Mateus tenha sido traduzido e propõe que hebraidi dialekto seja analisada no contexto da Ásia
Menor. Ele diz que a tradução correta é “em estilo retórico hebraico”. Esse estilo seria o “Midrash”. Isso significa dizer que “Mateus
ornamentou suas fontes (Marcos e Q[24]) com detalhes imaginativos, a-históricos, mas teologicamente edificantes.”[25] Para
fundamentar a tese de “em estilo retórico hebraico”, estudiosos dizem que Papias está comparando o estilo de Mateus (“organizado” e
“num estilo hebraico”) com o de Marcos (“na verdade, não de modo organizado”; História Eclesiástica 3.39.15).[26] Blomberg discorda
de Gundry sugerindo ser o texto mateano escrito na língua hebraica a fonte Q. Esta, juntamente com os elementos de Marcos mais
tradições distintivas (M[27]), foram incorporadas por Mateus ou um escritor cristão de língua grega, dando origem ao texto atual. F. F.
Bruce[28] interpreta as palavras hebraidi dialekto também como sendo “na língua hebraica”.
Tentando defender a tese que Mateus/Levi (ou quem quer que seja) escrevera em hebraico alguns ditos (logia) de Jesus, estudiosos
argumentam: 1 – Deve-se levar em conta o testemunho dos pais pré-nicênicos sobre ter Mateus escrito alguma coisa em hebraico. 2 –
“Um manuscrito hebraico de Mateus, datado do século XIV, apresenta alguma evidências de não ser apenas uma tradução do nosso
texto grego canônico, mas parece refletir certas interpretações independentes, de uma tradição hebraica mais antiga. Não é de todo
impossível que este documento preserve alguns traços do que Mateus escreveu originalmente.”[29] 3 – “Há evidências no grego de que
o material dessa fonte Q foi traduzido do aramaico [hebraico], possivelmente de um documento escrito em aramaico [hebraico], e não
simplesmente de tradição oral.”[30] 4 –Passagens Q em nosso texto atual dão sinais regulares de um minuncioso paralelismo semita. 5
– Como cobrador de impostos e bem contextualizado junto aos gentios, não é improvável que Mateus pudesse confeccionar um texto
grego razoavelmente bom a partir de fontes hebraicas e gregas.
Essa discussão se mostra complexa quando constatamos que outros estudiosos (H. L. Ellison, Donald Guthrie, N. B. Stonehouse,
Comentário Bíblico Moody) de linha conservadora não admitem o Evangelho de Mateus atual como sendo uma tradução hebraica, em
qualquer ponto que seja, para o grego. A origem grega, segundo afirmam alguns especialistas, pode ser aludida pelos jogos de palavras
próprios do idioma grego (e.g., Mt 6:16; 21:41; 24:30) e pela dependência da Septuaginta (Mt 1:23; 11:10;12:21;13:14-15; 21:26).
Outro argumento consiste na dificuldade de retraduzir o texto grego para o hebraico [aramaico].[31] Mais um argumento diz respeito ao
fato de que nenhum fragmento de um Mateus em hebraico [aramaico] foi encontrado. Argumeta-se ainda que a maioria das citações são
da Septuaginta (LXX) e não dos Textos Massoréticos escrito Hebraicos. O último argumento apresentado aqui é articulado por R. T.
France assim:
 O grego do Evangelho de Mateus, da forma como nós o conhecemos, não parece ser “grego de tradução”, e o estreito
relacionamento literário de Mateus com os Evangelhos (gregos) de Marcos e Lucas torna improvável que ele tenha sido escrito
originariamente em qualquer outra língua (ênfase minha).[32]
Disso tudo pode-se ter a seguinte certeza: esse argumento acerca da língua grega não destitui Mateus, o apóstolo, do posto de possível
principal autor do Evangelho que leva seu nome. Como um cobrador de impostos, ele certamente estava familiarizado com diversos
idiomas. Dessa forma, talvez, as seguintes palavras de Broadus David Hale sejam procedentes: “Até essa época, pode ser aceito, com
alguma certeza, que Mateus está por trás de nosso primeiro Evangelho.”[33]
3. Aspectos que sugerem um autor gentílico.
Há eruditos que alegam ser provas de uma autoria não judaica do Evangelho de Mateus o universalismo (Mt 2:1-12; 4:14-16;12:21;
28:19) e a postura hostil, conflitante junto às autoridade judaicas destacadas, por exemplo, pelos “ais” no capítulo 23. McKnight
responde a essa conclusão:
 No primeiro Evangelho, nada existe de ideológico que não se encontre nos escritos dos profetas do AT ou nas cartas de Paulo,
fontes de origem indubitavelmente judaica.[34]
Uma resposta objetiva ao antijudaísmo detectado nesse Evangelho é dada por Blomberg:
 Se muitos estudiosos concordam que um judeu escreveu esse livro numa situação de tensão e polêmica com o judaísmo não-
cristão, em tão Mateus, que já sofrera a rejeição de seus contemporâneos devido à antiga profissão exercida, com certeza poderia ter
se expressado dessa forma.[35]
Junto a esses aspectos considerados não judaicos, outros, encontrados em Mt 5:43; 12:1, 12; 27:5, fundamentam o argumentos dos
críticos. Ora, esses argumentos com aqueles não parecem ser razoáveis frente ao fato de que o Evangelho de Mateus é o mais judaico de
todos os Evangelhos.
Conclusão
De modo unânime, os críticos textuais concordam que a cópia original não traz o nome do autor do primeiro Evangelho. Porém, como foi
demonstrado, há uma confirmação antiga e forte favorável a Mateus/Levi como o escritor desse Evangelho. É inegável que sua base
apostólica é genuína. No entanto, não devemos nos esquivar do fato de ser essa questão da autoria uma questão histórica intrigante, pois,
de modo definitivo, nada pode ser dito a esse respeito. Me posiciono seguindo o testemunho da Antiguidade, conforme já indicado lá na
introdução. Faço isso entendendo que esta ação não se constitui prova de ortodoxia e fé cristã – assim como a crença oposta também não.
Essa discussão sobre a autoria nada tem a ver com a inspiração do texto, graças a Deus. A meu ver, esse debate acadêmico recheado de
incertezas é salutar às nossas faculdades intelectivas. Contudo, para além disso, e demonstrando-se como o problema real, precisamos
identificar que temos feito com as palavras desse livro cuja fonte é Deus. Seus preceitos são praticados por nós? Qual impacto o Sermão
do Monte, por exemplo, que mexeu profundamente com o coração do grande teólogo e gigante da fé Dietrich Bonhoeffer, tem causado
em nosso coração? O labor teológico sem a aplicação prática do conteúdo teológico de nada serve a um cristão que queira imitar a Jesus
Cristo. Quanto da palavra dEle apresentada nesse nosso primeiro Evangelho está infundido em nosso ser?
Por Pr Zwinglio Rodrigues
____________________
[1] CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, vol. 4, 2008, p. 162.
[2] São poucas as informações sobre Mateus. Vemos seu nome aparecendo nas quatro listas de apóstolos; sabemos que sua residência
ficava em Cafarnaum (Mt 9:1-9); era coletor de impostos (Mt 9:9); chamado por Jesus, abandonou seu cargo de cobrador de impostos
(Mt 9:9); ofereceu um banquete a Jesus (Mt 9:10); aparece em Atos 1:13 e depois desaparece das páginas do Novo Testamento. Diz a
tradição que ele evangelizou na Judéia, Egito, Etiópia e Pártia (ibidem).
[3] (263-340). Escreveu a História Eclesiástica, texto que apresenta questões relacionadas aos primórdios da Igreja Cristã.
[4] CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 2002, Livro 3.39.16, p. 75.
[5] ibidem Livro 5.8.2, p. 108.
[6] ibidem Livro 6.25, p. 137.
[7] ibidem Livro 3.24.6, p. 65.
[8] In: REID, Daniel G. Dicionário Teológico do Novo Testamento: compêndio dos mais avançados estudos bíblicos da atualidade.
São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 910.
[9] In: BRUCE, F. F. (edi.). Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamentos. Tradução Valdemar Kroker – 2. Ed. – São Paulo:
Editora Vida, 2012, p. 1081.
[10] RADMACHER, Earl D.; ALLEN, Ronald B.; HOUSE, H. Wayne. O Novo Comentário Bíblico do Novo Testamento. Rio de
janeiro: Central Gospel, 2010, p. 11.
[11] BLOMBERG, Craig L. Jesus e os Evangelhos: uma introdução ao estudo dos quatro evangelhos. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.
181.
[12] CHAMPLIN, R.N. Op. cit., p. 163.
[13] BLOMBERG, Craig L. Op. cit., p. 181-182.
[14] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 138.
[15] CHAMPLIN, R.N. Op. cit., p. 162.
[16] Para ler respostas a esses argumentos consultar BLOMBERG, Craig L. Op. cit., p. 181.
[17] BRUCE, F. F. Merece Confiança o Novo Testamento? Tradução: Waldyr Carvalho Luz – 3ª Ed. Ver. – São Paulo: Vida Nova,
2012, p. 41.
[18] REID, Daniel G. Op. cit., p. 911.
[19] BLOMBERG, Craig L. Op. cit., p. 181.
[20] REID, Daniel G. Op. cit., p. 911.
[21] EUSÉBIO. Op. cit., p. 75.
[22] REID, Daniel G. Op. cit., p. 910.
[23] ibidem, p. 911.
[24] Q é uma abreviatura da palavra quelle que, em língua alemã, significa “fonte”. Esta suposta fonte teria sido usada na redação dos
Evangelhos de Mateus e Lucas. O que há de comum nesses Evangelhos seria proveniente de Q.
[25] BLOMBERG, Craig L. Op. cit., p. 179.
[26] REID, Daniel G. Op. cit., p. 911.
[27] Material que se acha somente em Mateus.
[28] BRUCE, F. F. Op. cit., p. 52.
[29] BLOMBERG, Craig L. Op. cit., p. 180.
[30] BRUCE, F. F. Op. cit., p. 50.
[31] MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Editora Paulus, 1984, p. 588.
[32] In: CARSON, D. A. (et. al.). Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 1361.
[33] HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. Rio de janeiro: Juerp, 1983, p. 66.
[34] REID, Daniel G. Op. cit., p. 912.
[35] BLOMBERG, Craig L. Op. cit., p. 181.

Você também pode gostar