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O CÂNON

O Cânon do Novo Testamento consiste dos livros


aceitos pela Igreja primitiva como Escrituras
divinamente inspiradas.

O termo cânon a princípio significava vara de


medir, mas terminou
adquirindo o sentido metafórico de padrão.

No que tange ao Novo Testamento, refere-se àqueles


livros aceitos pela Igreja como o padrão autoritativo
de crença e conduta.
Um dos primeiros foi o cânon de Márciom 144 d. C

Um herege gnóstico, Márciom ensinava a existência de


um severo Deus do Antigo Testamento e de um amoroso
Deus do Novo Testamento, que se oporiam
mutuamente, e também que Jesus Cristo viera como
mensageiro do amoroso Deus do Novo Testamento, que
fora morto por instigação do Deus do Antigo
Testamento, que Jesus confiara o evangelho aos doze
apóstolos, mas estes não tinham evitado a corrupção do
mesmo e que Paulo se tornara o único pregador do
verdadeiro evangelho.
Diversos critérios de canonicidade têm sido sugeridos,
como a consonância com a doutrina oral apostólica do
primeiro século de nossa era, ou como o efeito moral
edificante.

Não obstante, alguns livros capazes de edificar a seus


leitores não conseguiram atingir estado canônico na Igreja.

Outro tanto se pode dizer quanto a alguns livros que


levavam avante a tradição da doutrina apostólica.

O critério mais importante - de fato, crucial - era o da


apostolicidade, isto é, autoria da parte de um apóstolo ou
de um associado de algum dos apóstolos, e, por
conseguinte, também haver sido escrito numa data dentro
do período apostólico.
História Extra-bíblica

A despeito de não terem sido os primeiros documentos


a serem escritos no Novo Testamento (algumas
epístolas foram escritas antes deles), os quatro
evangelhos canônicos - Mateus, Marcos, Lucas e João -
com todo o direito figuram em primeiro lugar como as
principais fontes de estudo sobre a vida de Jesus.
As poucas fontes informativas não-canônicas - o
historiador judeu do primeiro século, Josefo (com
posteriores inserções feitas por copistas cristãos), o
Talmude Babilônico, e os escritores romanos Plínio
o Jovem, Tácito, Suetônio e Luciano - são tão
lacônicas que não se revestem de valor algum na
tentativa de reconstituição da carreira de Jesus.

No entanto, confirmam que Ele realmente viveu,


tornou-se uma figura pública e morreu sob Pôncio
Pilatos, e que no espaço de doze anos após a Sua
morte, a adoração à Sua pessoa já havia chegado a
lugares tão distantes quanto Roma.
Os Ágrafos -"não-escrito".

Existem declarações de Cristo registradas fora dos


quatro evangelhos canônicos.
Paulo, por exemplo, cita afirmação dominical que
desconhecemos em qualquer outra fonte: "Mais bem-
aventurado é dar que receber.“(Atos 20:35.)

Esses ágrafos, conforme são denominados, diferem das


declarações de Jesus nos evangelhos, mas são citados
por escritores cristãos primitivos, e algumas vezes
aparecem à margem de antigos manuscritos do Novo
Testamento
Coletânea de declarações
Outros registros de declarações de Jesus, fora dos
evangelhos canônicos, são os papiros de Oxyrhynchus e
o evangelho de Tomé.

O evangelho de Tomé, descoberto em Nag Hammadi, no


Egito, cerca de 1945, na realidade não é um evangelho,
visto não conter uma narrativa contínua; e o apóstolo
Tomé não foi o seu autor.

Tanto o suposto evangelho de Tomé como os papiros de


Oxyrhynchus apresentam-se como coletâneas de
declarações de Jesus.
Algumas dessas declarações são quase exatamente iguais
àquelas que se acham registradas nos evangelhos canônicos.

Ainda outras diferem totalmente de qualquer coisa que se


possa ler no Novo Testamento.

Logion 54: Jesus disse: Bem-aventurados são os pobres, pois


vosso é o Reino dos Céus.

Logion 466: Mas eu disse que quem quer que entre vós se
torne uma criança reconhecerá o Reino, e tornar-se-á
maior que João.

Logion 82: Jesus disse: Quem quer que esteja perto de mim
está próximo do fogo, e quem quer que esteja distante de mim,
está longe do Reino.
No que diz respeito ao seu relacionamento para com o
Novo Testamento, três possibilidades têm de ser
levadas em conta:
(1) os registros não-canônicos se alicerçam sobre os
evangelhos canônicos;
(2) os registros não-canônicos representam uma
tradição independente acerca de afirmações de Jesus;
(3) ambas essas possibilidades ocorrem misturadas.

Qualquer que seja o relacionamento em pauta, de


modo geral concorda-se em que os papiros de
oxyrhynchus e o evangelho de Tomé refletem uma
tradição quase inteiramente corrupta a respeito das
palavras de Jesus.
Evangelhos Apócrifos
Lucas 1:1 menciona numerosos registros evangélicos,
escritos que antedatam ao terceiro evangelho, mas
nenhum desses, excetuando o de Marcos, e talvez o de
Mateus, conseguiu sobreviver.

Os evangelhos apócrifos pós-apostólicos, entretanto,


não perduraram, e apresentam um quadro misto de
crenças heréticas e imaginações piedosas,
especialmente ao preencherem detalhes da infância de
Jesus e do intervalo entre a Sua morte e a Sua
ressurreição, acerca do que os evangelhos canônicos
fazem silêncio quase total
CRÍTICA DAS FONTES DOS
EVANGELHOS
O Problema sinóptico: a tradição oral
O estudioso da vida de Jesus precisa examinar, antes de
tudo, as fontes primárias, os evangelhos canônicos. De
imediato, tem de defrontar-se com o "problema
sinóptico":
Por que os três primeiros evangelhos são tão parecidos
entre si?
Uma das respostas é a teoria da tradição oral que
diz que as semelhanças se devem a uma rápida
cristalização da tradição acerca de Jesus, em forma
oral mais ou menos fixa, e que posteriormente veio a
assumir forma escrita.
A maior parte dos eruditos modernos duvida de
que a transmissão meramente verbal pudesse ter
retido tantas e tão minuciosas similaridades
verbais como aquelas que existem nos evangelhos
sinópticos, especialmente nas porções que contêm
narrativas, as quais dificilmente refletiriam a
capacidade de memorizar, palavra por palavra, as
afirmações de Jesus.
Prioridade de Marcos
A solução usualmente encontrada é a hipótese
documentária Marcos-Q: Mateus e Lucas
teriam estribado a maior parte de sua narrativa sobre
o evangelho de Marcos, tendo extraído quase todas as
declarações ou ensinamentos de Jesus de um
documento atualmente perdido, designado Q, ao que
eles adicionaram material distintivamente seu.
Com freqüência, parece que Mateus e Lucas
modificaram o fraseado de Marcos, a fim de aclarar o
sentido, Marcos 2:15 / Lucas 5:29, de omitir material
cujo significado poderia ser mal entendido de anular
material desnecessário para seus respectivos
propósitos, Mateus 8:14 e Lucas 4:38 Marcos 1:29, e a
fim de suavizar a deselegância gramatical por mera
questão de estilo, e não de exatidão (Por exemplo,
Marcos 2:7 "Quem pode perdoar pecados exceto um,
Deus?“ torna-se: "Quem pode perdoar pecados senão
Deus?" em Lucas 5:21. Marcos traz um estilo áspero e
vívido - fenômenos esses que indicam, todos eles, que
houve utilização do evangelho de Marcos)
A Hipótese “Q”
Visto que as similaridades nas porções que contêm
narrativas parecem ter-se originado do uso comum do
documento de Marcos, da parte de Mateus e Lucas,
similaridades entre Mateus e Lucas, no material
didático, não contido em Marcos, têm levado alguns
eruditos a postular um segundo documento Q,
imaginado como uma primitiva coletânea de
declarações de Jesus, com um mínimo de arcabouço
histórico.
Esse documento Q seria algo como o evangelho de
Tomé e a coleção achada em Oxyrhynchus sobre
afirmações de Jesus, ou, melhor ainda, algo como os
livros proféticos do Antigo Testamento, que contêm
um relato da chamada do profeta, extensos registros
de sua prédica, algumas vezes vestígios ou breves
trechos históricos, mas nenhuma narração da morte
do próprio profeta.

Assim, Q poderia ser tido como documento que


começa com a história do batismo e da tentação de
Jesus (Sua “chamada”), prosseguindo com Seu
ensinamento, mas sem qualquer menção a Seus
sofrimentos (paixão), morte e ressurreição.
A hipótese do documento Q, entretanto, apresenta alguns
problemas pertinazes. Por exemplo, o grau de
concordância entre Mateus e Lucas, sobre as declarações
tradicionais, varia enormemente.
Muitos eruditos, por isso mesmo, pensam que Mateus e
Lucas se utilizaram de diferentes traduções gregas ou de
um documento Q que originalmente fora escrito em
aramaico.

Ainda outros, duvidando da própria existência de um


documento Q (por que ele não teria sobrevivido até hoje?),
adotam, quanto ao material das declarações de Jesus, a
teoria de muitos documentos breves, ou então a teoria da
tradição oral (mais fácil de crer-se do que a narração
escrita de declarações), ou ainda,
uma combinação de ambas as coisas.
M. L e Proto-Lucas
Propondo a hipótese de quatro documentos, B. H.
Streeter adicionou o documento M, relativo
às declarações de Jesus, distintivas de Mateus, e um
documento L, quanto à maior parte do material
distintivamente lucano.

Ele igualmente propôs a teoria do proto-Lucas: a


primeira edição do evangelho de Lucas consistiria
somente de Q + L, aoque Lucas posteriormente teria
acrescentado um prefácio e as narrativas da natividade,
tudo entremeado com material extraído de Marcos.
Não há concórdia geral quanto às propostas de Strecter.
Proto - Marcos Fonte “Q”

Marcos

Proto - Marcos Proto - Marcos

Fonte Fonte Fonte Fonte


“M” “Q” “L” “Q”

Mateus Lucas
CRÍTICA DA FORMA DOS
EVANGELHOS

Os primitivos cristãos não dispunham de qualquer


dos quatro evangelhos, quanto menos todos os quatro.
Nas primeiras décadas do século XX, pois, a erudição
alemã se encarregou da ambiciosa tarefa de inferir,
mediante análise literária dos evangelhos como seria a
tradição oral concernente a Jesus, antes da mesma
haver assumido forma escrita.
Metodologia - Os críticos da forma procuram determinar
a natureza e o conteúdo da tradição oral, classificando as
unidades individuais do material escrito dos evangelhos,
de conformidade com a forma literária e o uso comum na
Igreja primitiva.
As categorias comuns são:
(1) preceitos, paradigmas ou narrativas de afirmações
(declarações de Jesus).
(2) relatos de milagres, como modelos para as atividades
dos curadores cristãos.
(3) declarações e parábolas que visam à instrução
catequética.
(4) lendas tendentes a magnificar a grandiosidade de
Jesus (talvez
(5) a história da paixão, quando da celebração da Ceia do
Senhor ou da prédica evangelística.
Essa abordagem parte da premissa que os cristãos
primitivos modificaram as informações sobre Jesus,
chegando mesmo a inventar narrativas e declarações para
satisfazer às necessidades que surgiam da pregação
missionária, das instruções catequéticas, dos sermões, da
formação de liturgias, das controvérsias doutrinárias e de
questões de disciplina eclesiástica.
Disso teria resultado que os evangelhos narram-nos mais
sobre modo de viver da Igreja primitiva do que atinente a
Jesus.

A fim de determinar a verdade sobre Jesus, teríamos de


eliminar os acréscimos editoriais, como por exemplo, as
observações geográficas e cronológicas, os lances
miraculosos e os elementos doutrinários que supostamente
datariam de um período posterior ao da vida de Jesus.
O grande mentor da Crítica da Forma é Bultmann, o
grande problema desta crítica é que os críticos da forma
não dão lugar à possibilidade de que a tradição dos
evangelhos foi preservada meramente por expressar a
verdade, e também porque provia excelente material para
o evangelismo, para o ensino e para a liturgia dos cristãos.

A única geração que viveu entre Jesus e o registro escrito


dos evangelhos não cobriu tempo suficiente para que
houvesse extensa proliferação das tradições acerca Dele.

As ideias mitológicas normalmente não se desenvolvem


em menos de meio século. No entanto, os cristãos
primitivos proclamavam a Jesus como o Deus-Salvador
ressurreto e exaltado, e isso quase imediatamente após a
Sua morte.
Os críticos da forma desconsideram fatores
importantes na própria crítica que são as
testemunhas oculares cristãs e anticristãs que
devem ter servido de entrave para a criação e
distorção, em larga escala, de informações.
Numerosas referências, por todo o Novo
Testamento, indicam que os cristãos primitivos
davam alto valor ao elemento de testemunho
ocular, como fator digno de confiança.

Por exemplo, Lucas 1:1-4, João 1:14; 20:30,31; 1


Coríntios 15:5-8 e 1 João 1:1-4.
A ausência de parábolas nas epístolas demonstra que os
primeiros cristãos não se utilizavam de parábolas como um
artifício pedagógico, e, por isso mesmo, que não devem tê-
las criado nos evangelhos.

Contrariamente a isso, o fato que os evangelhos nada dizem


sobre muitas das acirradas questões que se refletem no livro
de Atos e nas epístolas (como a questão se os convertidos
dentre os gentios deveriam ser circuncidados ou não),
demonstra que os cristãos primitivos protegeram os
ensinamentos de Jesus, a fim de não serem eles mesclados
com os seus próprios e posteriores desenvolvimentos
doutrinários.

Paulo separou os seus próprios pronunciamentos sobre o


matrimônio e o divórcio e aqueles que foram ditos pelo
CRÍTICA DA REDAÇÃO
Em reação contra o tratamento dos evangelhos como se estes
fossem meros retalhos, conforme tinham feito os críticos da
forma, alguns eruditos, depois da Segunda Guerra Mundial,
têm analisado os evangelhos como composições unificadas
cuidadosamente editadas (redigidas) por seus autores, a fim
de proteger pontos de vista teológicos distintivos.

Em outras palavras, a "crítica da redação trata os evangelhos


como unidades completas, ao invés de
centralizarem a atenção sobre declarações e relatos isolados.

Talvez o mais bem conhecido e melhor representante dessa


abordagem seja H. Conzelmann, cuja hipótese é que Lucas
reinterpretou o ministério de Jesus como o ponto central
histórico entre a era da Igreja e a Segunda Vinda de Cristo
O TEXTO
Os documentos originais, nenhum dos quais existe até hoje,
têm recebido o nome de
autógrafos. A princípio, quando indivíduos e igrejas
particulares desejavam cópias, um leitor ditava
com base em um exemplar para uma sala repleta de
copistas. Gradualmente, erros de vista e de
sons, omissões e reiterações inadvertidas, notas marginais e
"melhoramentos" teológicos e
gramaticais deliberados foram penetrando no texto. A
preocupação com a pureza do texto provocou
o confronto de manuscritos com manuscritos anteriores,
ocasionalmente por diversas vezes. Apesar
de tudo, o número de equívocos foi aumentando cada vez
mais.
As fontes primárias que nos permitem determinar
qual o texto original do Novo Testamento
são os manuscritos gregos, as antigas
versões (isto é, traduções, mormente em
siríaco e latim), e citações nos escritos
dos primeiros pais da Igreja, ou então
lecionários (textos de leitura, extraídos
do Novo Testamento, para ocasiões
litúrgicas). Mediante a comparação
dessas fontes, usualmente os eruditos
chegam a uma decisão entre textos
variantes, com regular grau de certeza.
As características peculiares dos quatro
evangelhos
Quem compara os quatro evangelhos do
NT percebe logo que os primeiros três
são surpreendentemente semelhantes.
Por isso são chamados de sinópticos.
O quarto evangelho segue o seu próprio
estilo de apresentação.
No esboço: Os sinópticos têm uma estrutura
simples nos seus evangelhos. Após o batismo de
Jesus são relatados os fatos ocorridos na Galiléia.
Depois segue um relato de extensões variadas
sobre a viagem de Jesus a Jerusalém. Na terceira
parte é contado o que se passou em Jerusalém.
Essa mesma estrutura pode ser observada, por
exemplo, nas seguintes passagens de Marcos:
1.14; 8.27; 10.1,32.
Em contraposição a isso, o evangelho de João
descreve várias peregrinações de Jesus da
Galiléia a Jerusalém.
A razão era, na regra, a comemoração das
festividades judaicas de que Jesus participava
com os seus discípulos em Jerusalém. Desses
dados do evangelho de João se consegue calcular
o tempo do ministério público de Jesus. Durou
em torno de três anos.
A movimentação dele entre a Galiléia e
Jerusalém pode ser observada nos seguintes
textos: João 2.1,13; 3.22; 3.2,4-6; 5.1; 6.1; 7.1s,10;
10.40; 11.7,54s; 12.1,12.
Na forma de ordenação do material
Do que foi descrito acima se conclui que os
sinópticos organizaram o seu material do ponto
de vista geográfico, enquanto o evangelho de
João está construído sobre uma estrutura
biográfica.
Ele quer que os seus leitores acompanhem o
ministério de Jesus na seqüência e no período
em que os fatos se desenrolaram.
Na escolha dos temas
Os sinópticos relatam uma quantidade
significativa dos atos de Jesus, entre eles muitos
milagres, principalmente curas.
Em contraposição a isso o evangelho de João só
contém sete relatos sobre atos de Jesus sendo que
nenhuma expulsão de demônios.
Três desses fatos são contados também pelos
sinópticos: a purificação do templo, a cura do
servo de um oficial do rei e a multiplicação dos
pães para os 5.000.
Na apresentação dos adversários de Jesus

Os sinópticos descrevem os adversários de


Jesus com as suas características e tarefas
diferenciadas: fariseus e escribas, saduceus e
sacerdotes.
Na comparação com isso sobressai o fato de
que no evangelho de João os oponentes de
Jesus são denominados judeus.
Se isso quer dizer o povo judeu todo, ou a
liderança ou um grupo específico do povo, só
pode ser descoberto pelo contexto.
Na forma da narrativa
Os evangelhos sinópticos contêm muitos relatos
breves da vida de Jesus que freqüentemente
culminam com uma declaração marcante de Jesus. Os
protagonistas da situação só são apresentados até o
ponto em que contribuem para o objetivo da
declaração do relato.

O leitor não descobre nada mais sobre outros aspectos


das suas vidas. Em contraposição a isso, o evangelho
de João traz relatos detalhados de acontecimentos da
vida de Jesus, como por exemplo o diálogo com a
mulher em Samaria (cap. 4), a cura do cego de
nascença (cap. 9) ou a ressurreição de Lázaro (cap. 11).
Na apresentação dos discursos de Jesus

Os quatro evangelhos contêm discursos de Jesus


mais ou menos abrangentes. Nos sinópticos eles
consistem em frases curtas e fáceis de serem
guardadas. Trata-se na verdade de uma coletânea
de declarações ou citações dos discursos de Jesus
e não de discursos completos.
No evangelho de João isso é diferente. Lá
encontramos discursos que levam à reflexão e
meditação. O leitor consegue se imaginar na
posição do orador. Compare por exemplo Lucas
15.1-7 com João 10.
Nota-se também que nos sinópticos o estilo de
oratória é direto, objetivo e linear, correspondendo
assim ao pensamento grego.

Já nos discursos de Jesus em João o


desenvolvimento das idéias se dá em círculos,
trabalhando com constantes repetições.
Isso não quer dizer que sejam meras repetições.

O que acontece é que um pensamento é repetido


em outro nível para que possa ser melhor
interiorizado. Para entender isso melhor é preciso
pensar em uma espiral.
É assim que se falava no dia-a-dia no oriente.
O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS

O evangelho segundo Marcos retrata o tempo


do ministério público de Jesus. Começa com a
apresentação de João Batista e o batismo de
Jesus por João.

Termina com o sofrimento de Jesus e com os


relatos dos encontros com o Cristo ressurreto. A
ênfase dessa narrativa está nos atos de Jesus.
Eles são apresentados em relatos breves e nos
dão uma visão nítida dos milagres de Jesus, dos
seus efeitos sobre os habitantes da Palestina e
das discussões de Jesus com os líderes dos
judeus.

É evidente que Marcos também relata palavras e


discursos de Jesus, mas, se contrastados com os
seus atos, estão em segundo plano.
Como já foi mencionado, o evangelho segundo
Marcos é o mais breve dos sinópticos.
Desta forma se coloca como base para a pesquisa
bíblica sobre os sinópticos.

Quase todo o seu conteúdo está também em


Mateus e em Lucas. Isso não caracteriza, no
entanto, a dependência literária entre os outros
dois evangelhos sinópticos e Marcos.
As razões desse questionamento já foram citadas
no capítulo anterior
Gênero literário
O evangelho de Marcos é considerado por muitos o
evangelho mais antigo. Isso poderia levar à conclusão
de que em Marcos o leitor está mais próximo dos fatos
da vida de Jesus, o que não é o caso.
O autor fez uma seleção de relatos sobre atos e
discursos de Jesus e os redigiu de forma
aparentemente desconexa. Podemos observar essa
característica na maneira com que ele liga os textos,
ou seja, por meio de conectivos como “e”,
“novamente” ou “de lá”.
Não é possível reconhecer um cronograma exato dos
atos de Jesus nesse evangelho, ao contrário do que
temos em João.
O que vale para a estrutura geral do livro, pode
ser observado também nos textos individuais.
Em vários pontos do evangelho ele interrompe a
sua apresentação com uma inserção, o que deixa
o leitor curioso para ver o fim daquela história.

Ele conta, por exemplo, que os familiares de


Jesus o procuram e querem prendêlo, porque
têm certeza de que ele está louco (3.21). Antes de
Marcos contar o término dessa história (3.3135),
descreve a discussão de Jesus com os escribas,
que afirmam que Jesus expulsa demônios pelo
poder de Belzebu.
Inserções desse tipo podem ser encontradas
nos seguintes trechos: 5.25-34 entre 5.21-24 e
35-43; 6.1429 entre 6.6-13 e 30ss; 11.15-19 entre
11.12-14 e 20-25; 14.3-9 entre 14.1-2 e 10-11.

Essa forma de transmissão dos fatos não pode


ser explicada pela seqüência cronológica dos
acontecimentos.

Aqui um escritor estruturou o seu trabalho de


forma intencional.

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