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PARABOLAS ´
de JESUS
Matheus Soares
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(22) 99955-8919
Sumário
Introdução 7
Bibliografia 291
Introdução
“P
orque Jesus falava por parábolas?” - Essa talvez seja uma
das perguntas mais repetidas em relação aos ensinos de
Jesus.
Cerca de 1/3 dos ensinos de Jesus foram feitos em parábolas. As
parábolas eram histórias que Jesus contava para explicar verdades
muito maiores. O termo parábola vem do grego “parabolé”, que signi-
fica “colocar ao lado”. Ou seja, ele “colocava uma história ao lado” para
explicar aquilo que, de fato, ele queria ensinar.
Nessas histórias, ele ia criando cenários e inserindo personagens
que iam sendo usados para comparar e ilustrar as principais verdades
do seu Reino.
No entanto, raramente Jesus explicava uma parábola para a
multidão em geral. Os discípulos, porém, sempre o perguntavam em
momentos a sós sobre qual o significado e a explicação das parábolas
que ele havia contado, e era através dessas explicações, que uma nova
mentalidade nos discípulos ia sendo formada.
Porém, um dos textos que mais nos intrigam em relação as pa-
rábolas é Mateus 13.10-14:
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falo por parábolas, porque eles, vendo, não veem; e, ou-
vindo, não ouvem, nem compreendem. E neles se cumpre
a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não
compreendereis e, vendo, vereis, mas não percebereis”.
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O Rico e o Lázaro
| Lc 16.19-31 |
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O Rico e o Lázaro
E
ssa é uma das mais ricas histórias que Jesus contou. Está regis-
trada apenas nos escritos de Lucas. Essa parábola se encontra
logo após a parábola do mordomo infiel, intercalada apenas por
um comentário de Jesus sobre o amor ao dinheiro e um pequeno de-
bate entre Jesus e os fariseus.
Os fariseus haviam zombado de Jesus devido a parábola do mor-
domo infiel e do ensino sobre o relacionamento errado em relação as
riquezas (Lc 16.14), e foi por causa disso, que Jesus contou a parábo-
la do Rico e o Lázaro. Tragicamente, os fariseus possuíam uma vida
de luxo e desperdício, e viviam para amar ao dinheiro se interessando
apenas nos prazeres dessa vida que o dinheiro pode comprar.
Alguns versículos antes dessa parábola, Jesus estava ensinan-
do sobre Deus e Mamom (Lc 16.9-13). Este ensino pode ser entendido
também como uma introdução a essa parábola. Nele Jesus fala sobre
o perigo de servir a dois senhores e amar mais ao dinheiro do que
a Deus. Tendo Lucas 16.9-13 em mente como contexto, o leitor des-
se Evangelho é presenteado com a parábola do Rico e do Lázaro. Era
como se Jesus estivesse dizendo: “Agora vou lhes contar uma história
de duas pessoas, uma servia a Deus e a outra a Mamom”.
Essa parábola é a terceira de uma trilogia do Evangelho escrito
por Lucas. Na primeira, um pródigo desperdiça os bens de seu pai (Lc
15.11-32). Na segunda, o mordomo infiel desperdiça os bens de seu se-
nhor (Lc 16.1-8). Na terceira, um homem rico desperdiça seus próprios
bens (por viver regaladamente e por não o investir no campo da eter-
nidade).
Um aspecto interessante sobre essa parábola é que apenas nela
Jesus deu nome aos personagens. Ao mendigo ela chama Lázaro, e
ao outro ele identifica como “certo homem rico”. Isso tem feito muitos
pensarem que não se tratava de uma parábola, mas sim, de um relato
sobre pessoas que, de fato, haviam existido. A tradição diz que o ho-
mem rico se chamava Dives – que é a tradução da palavra “rico” em la-
tim. Por isso, a Vulgata Latina chama-o de Dives. No entanto, há os que
defendem que o nome do rico era Níneve, e que Dives seja somente
uma tradução da palavra rico. O certo é que é uma longa e interminá-
vel discussão a existência ou não desses personagens na vida real.
Outro aspecto interessante está no fato de que o único nome
que Jesus citou foi o do mendigo e não o do rico. Essa foi uma atitude
consciente para mostrar que a ordem espiritual das coisas é inversa da
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vida”. Ele era um conhecedor das iguarias finas, e cada refeição em sua
mesa era uma verdadeira festa da gastronomia. Não se pode chamá-lo
de inescrupuloso, pois a forma que obteve a sua fortuna não é contada.
Ele não era avarento, pois nenhum avarento vive “regaladamente” fa-
zendo festas todos os dias. Não se diz que ele cometeu qualquer outro
“pecado grave”, o problema deste homem eram os pecados comuns
e quase imperceptíveis que acabaram o tirando do céu. Como disse C.
S. Lewis: “O caminho mais confortável para o inferno é gradual: possui
um declive suave, é macio debaixo dos pés, não tem curvas fechadas e
não possui marcos, nem placas”.
Precisamos entender também que a situação desagradável do
rico não se devia às suas riquezas (afinal de contas, o “Pai Abraão” da
história também tinha sido rico), mas, sim, à sua negligência com a
prática dos ensinos das escrituras. Repare que não é a negligência do
conteúdo das escrituras, mas sim, da prática delas. O rico – como filho
de Abraão – sabia o que as escrituras diziam, mas não as vivia. Ele sabia
que deveria amar a Deus acima de todas as coisas, mas não amava; Ele
sabia que deveria amar ao próximo como a ele mesmo, mas não amou
a Lázaro. O problema dele não foi a ignorância das escrituras, mas foi
a negligência delas. Ser rico não era o seu crime – era a sua oportuni-
dade. Seu crime foi o amor próprio mundano e uma profunda falta de
espiritualidade que fazia secar nele a cada dia a fonte de humanidade
e compaixão que deveria existir. Em outras palavras, o rico não foi salvo
não “pelo que ele fez”, mas sim, “pelo que ele não fez”.
Francis Nichol observa algo interessante sobre a postura do rico:
“É verdade que o rico não maltratou a Lázaro. Seu relacionamento com
Lázaro não envolveu atos de maldade, mas sim, a omissão de atos de
misericórdia”. A atitude do rico foi semelhante à de Caim, quando dis-
se: “acaso, sou eu tutor (responsável) de meu irmão?” (Gn 4.9). Infeliz-
mente, a nossa omissão ao bem nos torna – ainda que indiretamente
– praticantes do mal.
Leon Morris escreve que a essência do “pecado” do rico estava
na decisão de viver exclusivamente só para si. Myer Pearlman ensina
que o rico representa a pessoa que não soube empregar seu dinheiro
em Deus e nas pessoas, e ao passar para a eternidade, viu-se pobre,
sem amigos e abandonado. Todos os recursos que ele tanto agarrara
durante sua vida física haviam sido lhe tirados.
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O Rico e o Lázaro
O Senhor ainda nos informa que entre essas duas esferas ha-
via um grande abismo, e esse abismo era um abismo permanente. A
palavra grega traduzida como “abismo” aqui é chasma, que significa
um abismo profundo e largo. Ele é proposital para evitar contato e co-
municação dos que estavam no seio de Abraão com os que estavam
no Hades. Era este abismo que impedia o trânsito entre o lugar de
descanso eterno e o lugar de tormentos eternos.
Charles Spurgeon faz um comentário interessante sobre esse
abismo: “A engenharia humana ao longo dos anos, muito tem feito
para tentar superar grandes abismos. Há no mundo rios e precipícios
tão largos que a sua extensão de margem a margem não pode ser
superada, assim como torrentes tão furiosas que nada consegue do-
miná-las. Mesmo assim, o homem consegue estender uma bela e fir-
me ponte que os consegue transpor. Há, no entanto, um abismo que
nenhuma habilidade ou engenharia humana jamais conseguirá trans-
por; uma imensa brecha que nenhuma asa jamais conseguirá cruzar:
é o abismo entre os salvos e os condenados. Não existe passagem en-
tre o céu e o inferno!”.
Quem havia criado esse abismo entre os dois? A resposta é cla-
ra: o rico! O abismo que havia entre os dois na eternidade era apenas
consequência do abismo que o rico havia criado entre ele e Lázaro na
terra. É o abismo que o havia separado, em sua abundancia, de Lá-
zaro, em sua miséria. A única coisa que o rico não havia considerado,
era que Deus estava do mesmo lado do abismo que Lázaro. Ao fechar
Lázaro do lado de fora de sua casa, ele estava fazendo o mesmo com
Deus.
Um dos principais conceitos ensinados por Jesus nessa pará-
bola é a imortalidade da alma. Jesus nos conta que o rico ao sair do
seu corpo mortal, viu-se ainda consciente. Teria de viver para sempre
com essa realidade. O rico teve de descobrir que depois de deixar o
seu corpo, sua alma ainda existia fora do corpo. Tendo vivido na terra
por longos anos, a vida física lhe parecia ser o único tipo de vida. Na
eternidade ele percebeu, entretanto, que havia uma vida após a morte
e não havia mais nenhuma possibilidade de voltar à terra. Jesus está
ensinando aqui que os que já partiram não estão dormindo, mas ple-
namente acordados. Alguns estão salvos e outros estão sofrendo.
Enquanto vivia, o rico teria considerado uma vergonha “rebaixar-
-se” para falar a um elemento tão desprezível quanto era Lázaro. Agora,
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paradoxalmente, ele tinha que erguer os olhos para ver a Lázaro. As in-
versões que acontecem quando se passa para a eternidade são assusta-
doras. Não lhe sobrara absolutamente nada de que se pudesse orgulhar.
Quando o rico percebeu que lhe fora dado o privilégio de falar
com Abraão, que estava do outro lado do abismo – no paraíso – e ven-
do Lázaro com ele, aproveitou a oportunidade de fazer seu pedido! E o
que ele pede? Implora para ter uma oportunidade de entrar no paraí-
so? Não! Ele reconhece que isso não é mais possível. Pede uma opor-
tunidade para escapar do Hades? Também não. Embora ele mesmo
reconheça que lá é um lugar de tormentos, ele já havia percebido que
era impossível também sair de lá. Curiosamente, ele pede por um pou-
co de água e pela salvação dos seus entes queridos. O inferno havia
gerado nele um sentimento que ele nunca havia sentido: preocupa-
ção com a salvação de sua família.
Há aqueles que negam que os mortos estão conscientes. Se essa
história enfatiza alguma verdade, certamente é esta: os homens estão
conscientes depois da morte. E este não é um texto isolado. Muitos
outros textos da Bíblia ensinam sobre essa verdade (Mt 10.28; Lc 23.43;
Lc 20.38; Fp 1.23-24; 2 Co 5.6-8; 2 Co 12.1-4; 1 Pe 3.18-20; Ap 6.9-11).
O homem não somente tem um corpo físico, ele possui um es-
pírito e uma alma. Após a morte a tricotomia de desmonta. O espírito
volta para Deus (Ec 12.7), o corpo volta para o pó (Ec 12.7) e a alma se-
gue para o juízo (Hb 9.27 – é a alma que segue para o Hades ou o “seio
de Abraão” – At 2.27,31).
Jesus estava ensinando aqui, que assim como o corpo humano
possui cinco sentidos, a alma também possui sentidos corresponden-
tes. O rico estava bem consciente no Hades:
• Conseguia ver: “No inferno (Hades) estando em tormentos,
levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu
seio” (Lc 16.23).
• Conseguia ouviu: Ouvia o que Abraão falava (vv. 25-31).
• Conseguia falar: Rogou a Abraão que deixasse Lázaro ir até
ele (v. 24).
• Possuía o paladar: Queria um pouco de água para aplicar em
sua língua (v. 24).
• Podia sentir as coisas: Estava em tormentos (v. 23).
• Tinha memória: Lembrou de seus irmãos e queria avisá-los
(v. 28).
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Sobre o Autor
Matheus Soares é formado em Teo-
logia, é pastor, escritor e conferencista.
Comentarista da série de documentários
histórico-cristãos “Pelos Caminhos da Bí-
blia e da História”, gravada em 15 países.
Já tendo pregado em mais de 25 nações,
tem realizado conferências em todo o
mundo. É casado com Mara, e pai de Ben-
jamin e Luigi.