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AS PARÁBOLAS DE JESUS E SEU ENSINO

SOBRE O REINO DE DEUS

Claiton André Kunz


Copyright © 2021 Claiton André Kunz

Dados Internacionais de Catalogação de Publicações (CIP)

KUNZ, Claiton André.


As parábolas de Jesus e seu ensino sobre o Reino de Deus.
Ijuí: Faculdade Batista Pioneira, 2021. Ebook

ISBN: 978-65-993398-4-4

1. Parábolas. 2. Evangelhos. 3. Novo Testamento.


4. Bíblia. 5. Jesus. 6. Reino de Deus.

Capa: Delize Gabriela Grando Balaniuk


Imagem de Capa: www.freebibleimages.org

Primeira edição impressa em português: 2014


Primeira edição digital em português: 2021
Primeira edição digital em espanhol: 2021

E-mail do autor: claiton@batistapioneira.edu.br

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APRESENTAÇÃO
As parábolas constituem um dos mais belos e atrativos estilos de
literatura que as Escrituras apresentam. Esta obra tem por objetivo investigar
o conteúdo das parábolas, bem como a relação que há entre elas. Para este
estudo, as parábolas foram tomadas dentre o seu contexto cronológico,
fundamentado em diferentes autores da Harmonia dos Evangelhos. Foi
desenvolvido também a partir do sistema de paralelismos da poética hebraica,
especialmente de quiasmos.
Num primeiro momento, demonstra-se que as parábolas constituem não
apenas simples comparações feitas pelo Senhor Jesus, mas revelações de
verdades a respeito do reino de Deus. Estas revelações têm por alvo uma
resposta decisiva de arrependimento e fé, por parte dos ouvintes/leitores das
parábolas. Devem ser interpretadas observando-se o contexto, o fundo
cultural, estilo literário, símbolos, entre outros aspectos, especialmente
confrontando-as com a teologia bíblica das Escrituras como um todo. O
Reino de Deus constitui-se no assunto principal de todas as parábolas. Entre
as diversas interpretações a respeito do reino, constata-se que o “Reino de
Deus em processo de realização” é a interpretação que mais se harmoniza
com uma exegese coerente das parábolas. Considerando-se este pressuposto,
as parábolas foram analisadas sob três diferentes aspectos.
Primeiramente foram agrupadas as parábolas que tratam da inauguração
do Reino de Deus neste mundo e seu processo de implantação. Como o Reino
suplanta o antigo regime da Lei, sua influência sobre as pessoas e sobre o
mundo e como efetivamente foi inaugurado e manifestado no mundo, são
alguns dos aspectos revelados neste grupo inicial de parábolas. Um segundo
grupo trata especialmente da maneira pela qual o Reino de Deus cresce em
suas dimensões, não qualitativas, mas quantitativas, ao serem as pessoas
acrescidas ao mesmo. Pessoas, estas, que precisam ser buscadas e admitidas
pelo Reino, pois não podem salvar-se a si mesmas. Entretanto, ao serem
buscadas pelo Reino precisam corresponder positivamente ao convite. De
acordo com esta resposta é que o Reino classifica as que são dignas de
fazerem parte do mesmo. O terceiro e último grupo trata das parábolas
concernentes à consumação deste Reino. Uma vez inaugurado, torna-se
evidente que chegará a sua plenitude no momento em que o Rei deste Reino
voltar. Neste momento haverá um juízo simultâneo sobre todos os seres
humanos, que serão julgados de acordo com a sua resposta ao convite feito
pelo Reino. Como consequência deste juízo, o Rei do Reino dará o veredicto
final e contas serão ajustadas com cada indivíduo.
Além da contribuição teológica, fazendo uma análise das parábolas em
seu conjunto e propondo uma teologia das parábolas, a presente obra também
pretende contribuir com seus aspectos hermenêuticos e exegéticos, servindo
assim como subsídio para estudos bíblicos, pregações, devocionais e também
para aulas em instituições teológicas.
Desejo a todos uma ótima leitura!
Claiton André Kunz
SUMÁRIO

SUMÁRIO

Apresentação

introdução

1. O MIstério do reino
1.1 Conceito de Parábola
1.2 Uso das Parábolas
1.3 Propósito das Parábolas
1.4 Características das Parábolas
1.5 Classificação das Parábolas
1.6 Contexto das Parábolas
1.7 Interpretação das Parábolas
1.7.1 História da Interpretação
1.7.2 Regras de Interpretação
1.7.3 Jesus e Sua Interpretação
1.8 Conceito de Reino de Deus

2. a inauguração do reino
A - A Irrupção do Reino
01 - O noivo e o jejum (Mt 9.14-15; Mc 2.18-20; Lc 5.33-34)
B - O Valor do Reino
02 - Remendo novo em vestes velhas (Mt 9.16; Mc 2.21; Lc 5.36)
03 - Vinho novo em odres velhos (Mt 9.17; Mc 2.22; Lc 5.37-38)
C - A Influência do Reino
04 - Os dois fundamentos (Mt 7.24-27; Lc 6.46-49)
05 - Os dois devedores (Lc 7.36-50)
D - A Semeadura do Reino
06 - O Semeador (Mt 13.3-23; Mc 4.3-20; Lc 8.5-15)
E - A Manifestação do Reino
07 - A Candeia (Mc 4.21-23; Lc 8.16-17)
08 - A Semente (Mc 4.26-29)
D’ - A Semeadura do Reino
09 - A Parábola do Joio (Mt 13.24-30,36-43)
C’ - A Influência do Reino
10 - A Semente de Mostarda (Mt 13.31-32; Mc 4.30-32)
11 - O Fermento (Mt 13.33)
B’ - O Valor do Reino
12 - O tesouro escondido (Mt 13.44)
13 - A Pérola de Grande Preço (Mt 13.45-46)
A’ - A Plenitude do Reino
14 - A Rede (Mt 13.47-50)

3. A dimensão do reino
A - O Reino que Admite
01 - O credor incompassivo (Mt 18.23-35)
02 - O bom samaritano (Lc 10.30-37)
B - O Reino que Classifica
03 - O amigo à meia-noite (Lc 11.5-8)
04 - O rico insensato (Lc 12.16-21)
05 - A figueira estéril (Lc 13.6-9)
06 - A grande ceia (Lc 14.16-24)
C - O Reino que Busca
07 - A ovelha perdida (Lc 15.3-7)
08 - A dracma perdida (Lc 15.8-10)
B’ - O Reino que Classifica
09 - Os filhos perdidos (Lc 15.11-32)
10 - O administrador infiel (Lc 16.1-9)
11 - O rico e Lázaro (Lc 16.19-31)
12 - O juiz iníquo (A viúva penitente) (Lc 18.1-8)
A’ - O Reino que Admite
13 - O fariseu e o publicano (Lc 18.9-14)
14 - O camelo e a agulha (Mt 19.23-26; Mc 10.23-27; Lc 18.24-27)

4. a consumação do reino
A - O Acerto de Contas na Consumação do Reino
01 - Os trabalhadores da vinha (Mt 20.1-16)
02 - As dez minas (Lc 19.11-27)
B - O Juízo Simultâneo na Consumação do Reino
03 - Os dois filhos (Mt 21.28-32)
04 - Os lavradores maus (Mt 21.33-41; Mc 12.1-9; Lc 20.9-16)
05 - A festa de bodas (Mt 22.1-10)
06 - O homem sem veste (Mt 22.11-14)
C - O Tempo Relativo à Consumação do Reino
07 - A figueira (Mt 24.32-35; Mc 13.28-31; Lc 21.29-33)
08 - O dilúvio (Mt 24.37-39)
B’ - O Juízo Simultâneo na Consumação do Reino
09 - O porteiro (Mc 13.34-37)
10 - O pai de família (Mt 24.43-44)
11 - O servo prudente (Mt 24.45-51)
12 - As dez virgens (Mt 25.1-13)
A’ - O Acerto de Contas na Consumação do Reino
13 - Os talentos (Mt 25.14-30)
14 - As ovelhas e os cabritos (Mt 25.31-46)

conclusão

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO

Muitas parábolas foram proferidas pelo Senhor Jesus Cristo. Estas são
suficientemente conhecidas pela beleza e profundidade que apresentam. Por
um lado, o estilo simples e os assuntos do cotidiano as tornam atrativas a
qualquer leitor sedento das Escrituras. Por outro, a profundidade e os
mistérios que elas trazem inerentes em si mesmas constituem um desafio sem
igual a qualquer estudioso da Palavra de Deus. Uma breve leitura das mesmas
é suficiente para se perceber que todas elas, sem exceção, tratam de algum
aspecto relativo ao Reino de Deus.
Portanto, uma pergunta pode ser feita: As parábolas foram proferidas
pelo Senhor Jesus, simplesmente para satisfazer uma necessidade
momentânea de seu ensino? Ou foram elas proferidas com um propósito
maior, contendo, em seu conjunto, uma sequência lógica, constituindo em si
uma teologia a partir das parábolas? Se assim for, que teologia pode ser
identificada estudando-as de forma sistemática, cronológica e progressiva?
A presente dissertação procura responder estas questões. Na primeira
parte, pretende-se esclarecer alguns assuntos importantes, necessários à
compreensão das parábolas. Entre eles, um conceito correto de parábola, seu
uso, propósito, características, classificação, contexto e, especialmente, a
questão da interpretação das parábolas. Também se faz necessário um breve
estudo do conceito que as Escrituras trazem a respeito do Reino de Deus,
tendo em vista ser este o assunto principal das parábolas proferidas pelo
Senhor Jesus.
As três partes seguintes constituem a proposta de uma teologia das
parábolas. Estas foram ordenadas cronologicamente, de acordo com vários
autores de “Harmonia dos Evangelhos”. Quarenta e duas parábolas, entre elas
alguns ditos parabólicos, foram selecionadas, sendo distribuídas em três
grupos de quatorze parábolas. Dentro de cada grupo, serão dispostas em
forma de paralelismo invertido – quiasmos –, após serem devidamente
estudadas em seus detalhes.
O recurso de quiasmos foi muito utilizado no Antigo Testamento, entre
as diversas formas da poética hebraica. Na verdade, a forma de um oriental se
expressar, especialmente o hebreu, é riquíssima. Na época de Jesus, embora o
Novo Testamento tenha sido escrito em grego, a forma de pensamento ainda
era hebraica. Neste sentido, Jesus, com certeza, usou muitos destes recursos.
O quiasmo, ou paralelismo quiástico, é um esquema de dois ou mais
membros, no qual os últimos são invertidos, de tal sorte que o primeiro se
torne último, o segundo penúltimo, etc.[1] Cássio Dias Murilo da Silva afirma
que o quiasmo acontece quando uma sequência de palavras, frases ou ideias
reaparece em forma invertida, como por exemplo em Isaías 6.10. Neste texto,
pode-se ver claramente uma estrutura quiástica:

Neste exemplo dá para perceber claramente a relação das linhas A e A’


(coração), B e B’ (ouvidos) e C e C’ (olhos). Outras vezes, no centro do
quiasmo, encontra-se um elemento isolado, sem outro correspondente. A
técnica do quiasmo pode servir para evidenciar a importância dos elementos
que estão no centro ou, então, pode ser usado também para assinalar a
reversão da situação inicial. Neste caso, o que realmente importa não é o que
está no centro, mas a mudança ocorrida. O elemento central, neste caso, é
apenas o fator que provoca ou explica tal processo.[2]
Bailey, em seu livro “As parábolas de Lucas”, reconhece muitas vezes
esta forma quiástica, que as vezes chama de ‘paralelismo invertido’. Muitas
das parábolas, por ele analisadas, apresentam este tipo de estrutura.[3] Silva,
já citado, afirma que perícopes mais longas de textos podem estar agrupadas
em forma quiástica (citando como exemplo 2 Sm 21-24).[4] Bailey, por sua
vez, faz uma análise quiástica da ‘Narrativa da Viagem’ (Lucas 9.51 – 19.48).
[5]
Na presente pesquisa propõe-se uma estrutura, utilizando-se deste
recurso quiástico. Os três grupos de parábolas, sob os temas Inauguração do
Reino, Dimensão do Reino e Consumação do Reino, serão analisados sob a
forma quiástica. Como as parábolas são retiradas de três evangelhos, não
poderão ser considerados como quiasmos literários. Pretende-se, portanto,
analisar todo o ensino de Jesus através de parábolas, organizando-o desta
forma.
Nesta obra foi utilizada a versão bíblica Revista e Atualizada de
Almeida, como base para citações, recorrendo-se sempre que necessário ao
texto original. As abreviaturas dos livros bíblicos são as mesmas utilizadas
nesta versão de Almeida.
1. O MISTÉRIO DO REINO

Jesus usou parábolas. Estima-se que um terço do seu ensino se encontre


nesta forma literária.[6] Marcos relata, em relação ao povo, que “sem
parábolas nada lhes falava” (Mc 4.34). No mesmo contexto, o evangelista
afirma que “com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra” e que
o fazia “conforme permitia a capacidade dos ouvintes” (v. 33). Jesus afirma
também que aos discípulos, através das parábolas, é “dado o mistério do
Reino de Deus” (Mc 4.11).
Camargo chega a afirmar que as parábolas são tão importantes que, se os
Evangelhos desaparecessem, e fossem elas apenas preservadas, todo o ensino
de Jesus seria reconstituído.[7] Talvez a afirmação seja um pouco exagerada,
mas justamente nisto constitui-se o presente desafio: compreender a teologia
que está por trás das parábolas. Para isto, é necessário conceituar e
compreender o uso de parábolas, bem como entender como se deve
interpretá-las.
1.1 Conceito de Parábola

Definir o termo grego παραβολή é parte integrante para uma boa


hermenêutica das mesmas. Thayer dá um sentido amplo de parábola. Ele
descreve o termo grego como “parábola, comparação, alegoria; provérbio,
aforismo, figura. Uma narrativa, fictícia mas concorde com as leis e costumes
da vida, na qual ou os deveres humanos ou as coisas de Deus, especialmente
a natureza e história do Reino de Deus, estão figuradas”.[8] Neste sentido, é a
explicação de algo desconhecido através de figuras conhecidas.[9] Mediante
a comparação entre o conhecido e o desconhecido, na qual o próprio ouvinte
deve descobrir a semelhança (geralmente não mencionada, a fim de colocar
em ação os processos mentais do ouvinte, de compreender, comparar e
considerar), chega-se ao ponto essencial da analogia.[10] Segundo Martinez,
parábola é uma narração, mais ou menos extensa, de um acontecimento imaginário do qual,
por comparação, se deduz uma lição moral ou religiosa. Etimologicamente, o nome parabolê
corresponde ao verbo paraballô, que literalmente significa pôr ao lado, comparar. Em efeito, a
parábola se caracteriza porque implica na comparação de objetos, situações ou atos bem
conhecidos - tomados da natureza ou da experiência - com objetos ou atos análogos de tipo
moral desconhecidos. Daqueles (a imagem) se deduzem estes (a realidade que se pretende
ensinar). Imagem e realidade se encontram no tertium comparationis – o ponto de comparação,
comum a ambas.[11]
Zuck complementa, afirmando que a parábola é um tipo de linguagem
figurada em que se fazem comparações; mas, em vez de usar uma só palavra
ou expressão para a comparação ou analogia, como ocorre num símile, numa
metáfora ou numa hipocatástase, a parábola faz uma ampla analogia em
forma de história. Apesar de ter base plausível, ela pode não ter realmente
ocorrido com todos os detalhes como foi apresentada. Os acontecimentos
históricos podem servir de ilustrações, mas as parábolas são histórias
especiais, não necessariamente fatos históricos, contadas para ensinar certa
verdade.[12] Trench faz uma importante diferenciação da parábola em relação
a outras figuras de linguagem:
A parábola difere da fábula ao mover-se no mundo espiritual nunca transgredindo a ordem
existente das coisas naturais; difere do mito, pois neste existe uma mescla inconsciente entre o
profundo significado e o símbolo; difere do provérbio porque se estende mais e é figurativa não
somente por acidente mas por necessidade; difere da alegoria porque compara uma coisa com
outra sem transferir as propriedades de uma a outra, como faz a alegoria.[13]
Konings afirma que parábolas “são faíscas de um pensamento vivo e
concreto, que iluminam por um momento o conhecimento e dão uma intuição
momentânea, que não precisa de explicação”.[14] Dodd declara que são a
expressão natural de uma mentalidade que vê a verdade em imagens
concretas em vez de concebê-la por meios abstratos. Declara ainda que, em
sua forma mais simples, a parábola é uma comparação tomada da natureza ou
da vida diária, que atrai o ouvinte por seu brilho e singularidade e deixa a
mente com certa dúvida sobre sua aplicação exata, de modo que a estimula a
uma reflexão ativa.[15]
Kenneth Bailey vai um pouco além e afirma que as parábolas não são
apenas ilustrações. Ele se baseia nas declarações de Manson que declara que
“as mentes treinadas segundo o padrão ocidental de pensamento” estão
acostumadas a argumentos teológicos expressos em abstrações; e, então, para
ajudar a “popularizar essas conclusões”, elas podem ser ilustradas com temas
da vida comum. Manson continua: “A verdadeira parábola não é uma
ilustração para ajudar a esclarecer uma discussão teológica; pelo contrário, é
uma forma de experiência religiosa”.[16] Bailey faz um exercício para a
compreensão desta teoria:
Em Lucas 9.57-58 o texto diz: “Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: ‘Seguir-te-ei
para onde quer que fores’”. Se Jesus fosse ocidental, pode ser que responderia mais ou menos
assim: «É fácil fazer declarações ousadas, mas você precisa considerar seriamente o que lhe
custará me seguir. Parece evidente que até agora você não o fez. Preciso dizer-lhe claramente
que não lhe posso oferecer salário nem segurança alguma. Se as minhas palavras ainda não estão
claras, talvez uma ilustração ajude: por exemplo, eu nem possuo cama para dormir». Mas Jesus
responde: “As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o filho do homem não tem
onde reclinar a cabeça”.
Ao invés da declaração abstrata seguida de uma ilustração elucidadora, temos uma
confrontação dramática, expressa com brevidade em termos inesquecíveis. Uma afirmação
sublime a respeito da pessoa de Jesus permeia a resposta parabólica. Um impacto é causado no
ouvinte/leitor que demanda uma reação. As implicações teológicas obrigam a mente a sair deste
centro compacto, em inúmeras direções. Não foi registrada a resposta do discípulo original. O
leitor precisa responder agora. Tudo isto acontece a uma só vez, em uma confrontação intensa e
dramática. Uma parábola foi proferida! Presumir que podemos capturar tudo o que acontece em
uma parábola em uma definição abstrata é entender mal a sua natureza. Entretanto, precisamos
tentar. As parábolas de Jesus são uma forma concreta e dramática de linguagem teológica que
força o ouvinte a reagir”.[17]
Dodd também afirma que a parábola tem este caráter argumentativo e
que convida o ouvinte a julgar sobre a situação descrita, desafiando-o,
diretamente ou de forma implícita, a aplicar esse juízo à matéria em questão.
Dodd comprova seu conceito lançando mão de uma parábola do Antigo
Testamento, quando Natã conta a Davi a parábola da ovelha de um homem
pobre que foi roubada por um homem rico. Quando Davi pronuncia a
sentença de que “o homem que fez isso deve ser morto”, Natã apenas replica:
“Tu és o homem” (2 Sm 12.7).[18]
Fee concorda com esta ideia, quando usa palavras de Marshall
McLuhan, dizendo que “a própria parábola é a mensagem”.[19] Assim, é
contada para dirigir-se aos ouvintes e cativá-los, a fim de fazê-los parar e
pensar acerca das suas próprias ações, ou de levá-los a dar alguma resposta a
Jesus e ao Seu ministério.[20]
1.2 Uso das Parábolas

Aristóteles usava parábolas como meio de persuasão e Platão as usava para


ensinar os princípios de uma vida justa. Entretanto, as parábolas tiveram mais
largo emprego no mundo hebreu do que no grego. Uma das razões é que a
linguagem hebraica não se prestava tanto para a expressão de ideias abstratas,
como a mentalidade grega e ocidental, que é mais lógica. Daí, o ensino
comum através de discursos, no Ocidente, e através de linguagem simbólica,
no Oriente.[21] Jesus, embora usasse o sistema de sermões e discursos,
encontrou um ambiente propício para o uso de parábolas, que muito se
prestavam para a instrução oral. Porém, é óbvio que Jesus não foi o criador
das parábolas. Elas já existiam no Antigo Testamento e também na tradição
rabínica.
Na LXX, parabolê sempre é equivalente do substantivo mâshâl ou do
verbo mâshal. Como substantivo, significa um “ditado” (que contém uma
comparação), um “dito sábio” ou a forma parabólica. O verbo em
correspondência com isto significa “dizer ou contar um mâshâl”.[22] Os
rabinos também usavam este método de ensino. Suas parábolas eram
comumente apresentadas com uma pergunta: “Uma parábola: A que se
assemelha?”. Kistemaker dá um exemplo:
Uma parábola: a que se assemelha? A um homem que estava viajando pela estrada, quando
encontrou um lobo. Conseguiu escapar dele e seguiu adiante, relatando aos outros seu encontro
com o lobo. Então, ele encontrou um leão e escapou dele; e seguiu adiante, contando a todos o
encontro com o leão. A seguir, ele encontrou uma cobra e escapou dela. Após esse
acontecimento, ele se esqueceu dos dois anteriores e prosseguiu contando o caso da cobra. Assim
também é Israel: as últimas dificuldades o fazem esquecer as primeiras.[23]
Porém, a semelhança entre as parábolas de Jesus e as dos rabinos está
apenas na forma. As parábolas dos rabinos normalmente são apresentadas
para explicar ou elucidar a Lei, versículos das Escrituras ou uma doutrina.
Elas não são usadas para ensinar novas verdades, como acontece com as
parábolas de Jesus. Kistemaker diz que “em Suas parábolas, Jesus revela
novas verdades, pois ele foi comissionado por Deus para tornar conhecida a
vontade e a palavra de Deus. As parábolas de Jesus, portanto, são a revelação
de Deus”.[24] Jesus não inventou as parábolas como gênero literário, mas as
aperfeiçoou.[25] Camargo, citando Trench, afirma o seguinte a respeito de
Jesus:
Pela sua simpatia e interesse para com o visível e compreensão do invisível, dois aspectos
do universo, tinha Ele, o Homem-Deus, nesse gênero literário, a chave para tirar as leis
espirituais do mundo objetivo. Compreendendo o significado das duas esferas, terrena e celestial,
sentindo o eterno no transitório, suas parábolas não eram apenas ilustrações, mas argumentos,
provas.[26]
Mesters apresenta uma interessante ilustração sobre a questão do uso de
parábolas por Jesus:
Um menino que estudava na escola rural nunca conheceu seu pai. Nem sabia o que era pai.
Ouvindo e vivendo, foi se formando uma ideia sobre pai como sendo alguém muito ruim,
violento e briguento, que só sabia castigar e repreender, que nunca tinha uma palavra sequer de
carinho. Certo dia, na escola, ele ouve a professora dizer o seguinte: ‘O pai é para o filho como o
navio que carrega o viajante rio acima, navio seguro e acolhedor’. O menino percebeu que a
professora queria ensinar algo de muito bom sobre a função do pai na vida do filho. Mas ele, por
causa daquela ideia de pai que se formou na sua cabeça, não era capaz de entender aquilo que a
professora queria ensinar por meio do exemplo. O erro, porém, não estava no exemplo que a
professora usou. O exemplo era bom e adaptado à ‘compreensão dos ouvintes’. O erro estava
dentro do rapaz. Lá dentro havia uma barreira que não deixava o ensinamento entrar. Ou seja, o
erro estava na ideia errada que o rapaz tinha dentro de si sobre o pai. Nesta ideia não cabia aquilo
que a professora queria ensinar sobre o pai.[27]
No tempo em que Jesus exerceu seu ministério neste mundo, o povo
tinha um determinado conceito sobre o Reino de Deus, que fora formado
lentamente ao longo dos séculos. Entretanto, o conceito de Jesus sobre Reino
de Deus era bem diferente. O povo, por mais que entendesse perfeitamente as
coisas da vida, apontadas por Jesus nas parábolas, não chegava a entender o
sentido do Reino. O erro, porém, não estava nos exemplos que Jesus usava,
mas na mente das pessoas, na qual havia uma barreira que não permitia ao
ensinamento de Jesus penetrar. No conceito que o povo tinha, não cabia o que
Jesus queria comunicar sobre o Reino. Era como o menino que não sabia
combinar a imagem de um navio seguro e acolhedor com a ideia que tinha de
pai.[28] Pode-se perguntar, então, qual o propósito de Jesus ao usar parábolas?
1.3 Propósito das Parábolas

Antoniazzi afirma que a parábola é uma espécie de espelho. Serve para que
os ouvintes enxerguem, através dela, o que sem ela não poderiam ver: seu
próprio rosto, sua própria realidade. Declara, ainda, que algumas pessoas,
insatisfeitas, preferem às vezes quebrar o espelho, em vez de tentar mudar o
seu rosto. Assim são duas as reações fundamentais às parábolas de Jesus: uns
rejeitam Jesus e querem matá-lo (cf. Mc 3.6; 12.12); outros percebem que
podem mudar de vida e seguir Jesus.[29]
A pergunta decorrente é: Que finalidade guiava Jesus no uso das
parábolas? Tinham elas uma intenção positiva ou negativa? Eram um veículo
de revelação ou de ocultação? Aclaravam ou obscureciam os ensinos que
Jesus queria comunicar? A dificuldade surge dos textos básicos de Mateus
13.10-17, Marcos 4.10-12 e Lucas 8.8-10.
Logo após Jesus ter proferido algumas parábolas, estando ele com os
doze e mais alguns (Mc 4.10), foi-lhe interrogado a respeito das mesmas.[30]
“A vós outros vos é dado o mistério do Reino de Deus”, é a resposta de Jesus
(v.11a). Para Bornkamm, há um mistério oculto nas parábolas que não é outra
coisa senão o oculto desabrochar do próprio Reino de Deus, no meio de um
mundo, que aos olhos dos homens, nada disso revela.[31] Na verdade, o
mistério transmitido aos discípulos não foi o reinado de Deus em si, mas uma
parte dele, ou seja, o ponto de sua concretização, que é a pessoa e ação do
próprio Jesus.[32] Rienecker diz que este mistério (μυστήριον) é aquilo que o
homem não pode conhecer à parte da revelação divina.[33]
Mas Jesus afirma também que “aos de fora, tudo se ensina por meio de
parábolas,[34] para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e
não entendam, para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles”
(Mc 4.12). Esta palavra, que faz alusão a Isaías 6.9-10, é o ápice da resposta
de Jesus e requer toda a atenção. Assim como o insucesso da pregação de
Isaías não fora um acidente, assim também seria com Jesus. Muitos não iriam
crer. Mas Ele também sabia que, como em Is 6.13, um novo povo de Deus se
formaria como centro da nova raça humana.
Esta palavra naturalmente é dura. Mas de forma alguma ensina que uma
parte dos ouvintes da pregação está condenada aleatoriamente, sem motivo.
Isaías estava pregando a um povo que preferia ser destruído do que voltar a
Deus (Is 1.5-6). Por isso, Deus lhes envia o seu oficial de justiça. Assim,
Deus fez, através de Isaías, que estas pessoas fossem o que eram, culpadas.
Elas precisavam ver que estavam perdidas em si mesmas. Este processo não
podia e não devia ser atalhado por uma conversão barata. Nesta fase, o
próprio Deus bloqueou o retorno. Quando Isaías perguntou por quanto tempo
teria aquela tarefa, a resposta foi que seria até o pleno êxito, ou seja, até que a
árvore velha caísse, o toco ficasse descoberto, dando lugar a um broto novo
(Is 1.11-13). Assim, a Palavra de Deus mata para vivificar. Um dia, os surdos
haveriam de ouvir e os cegos de ver (Is 42.20; 43.8).[35]
Vista de perto, a pregação de Isaías foi um último chamado ao
arrependimento. Assim aconteceu com Jesus. Ele iluminou a profundidade do
conflito que se abria.[36] Isto não significa que Jesus, que foi enviado por
Deus para proclamar a redenção dos homens caídos e pecadores, escondeu
esta mensagem através de parábolas incompreensíveis. É necessário entender
o contexto um pouco mais amplo no qual se encontram esses versículos. No
capítulo anterior, Marcos relata que Jesus encontrara descrença, blasfêmia e
oposição direta. Foi acusado de estar possuído por Belzebu e de expelir
demônios pelo príncipe dos demônios (Mc 3.22). O contraste que Jesus
apresenta é entre os seguidores e oponentes, entre os que aceitavam e os que
rejeitavam a revelação de Deus. Os que fazem a vontade de Deus recebem a
mensagem das parábolas porque pertencem à família de Jesus (Mc 3.35). Os
que tentam destruir Jesus (Mc 3.6) não conhecem a salvação, por causa da
dureza de seus corações.[37]
Zuck afirma que “a resposta a este dilema está no caráter dos ouvintes”.
[38] Como os doutores da lei (3.22) já haviam expressado sua incredulidade e
rejeitado a Jesus, eles revelaram o endurecimento de seus corações. Assim,
não tinham condições de compreender o significado das parábolas de Jesus.
Jesus não estava primordialmente interessado no estímulo intelectual de seus
ouvintes, mas numa resposta destes logo ao ouvir a parábola. O uso que Jesus
fez das parábolas não estava motivado pelo desejo de levar seus ouvintes à
percepção de alguma verdade profunda e mística, mas a uma resposta
decisiva de arrependimento, fé, esperança e amor.[39]
1.4 Características das Parábolas

As parábolas contêm algumas características próprias. Entre elas, pode-se


relacionar:
a) Cotidiano. Jesus aproveitava a natureza (semente de mostarda,
semeador, etc.), costumes familiares da vida diária (fermento, ovelha perdida,
etc.), acontecimentos bem conhecidos de história recente (Lc 19.14),
acontecimentos ocasionais ou contingências não improváveis (filho pródigo,
trabalhadores na vinha, etc.).[40]
b) Suspense. As parábolas de Jesus continham sempre um pouco de
suspense. O ouvinte/leitor fica imaginando: O que acontecerá aos
arrendatários que mataram os servos e o filho do fazendeiro? Que fará o rei
ao convidado não devidamente trajado para as bodas? Se o sacerdote e o
levita se negaram a ajudar o ferido, caído à beira da estrada, que fará o
terceiro transeunte?[41]
c) Contraste. Há uma abundância de contrastes nas parábolas do
Senhor, os quais despertam o interesse dos ouvintes e dos leitores. Assim, há:
uma casa edificada sobre a rocha e outra na areia, peixes bons e peixes ruins,
cinco virgens néscias e cinco prudentes, um servo fiel e um servo mau, o
vinho novo e os odres velhos, etc.[42]
d) Conflito. Existem inúmeros conflitos nessas parábolas, como, por
exemplo: os homens que trabalham uma hora e os que trabalham o dia inteiro
(Mt 20.1-16), a viúva persistente e o juiz (Lc 18.5-8), as virgens prudentes
que se negaram a fornecer azeite às néscias (Mt 25.1-13), etc.[43]
e) Tríades. Outro detalhe interessante das parábolas, é que muitas delas
são compostas por três personagens ou elementos principais. Por exemplo: a
parábola do filho pródigo (o pai, o filho mais moço e o filho mais velho), a
parábola das dez virgens (o noivo, as cinco virgens prudentes e as cinco
virgens néscias), a parábola do credor incompassivo (o rei, o devedor maior e
o devedor menor), a parábola dos dois filhos (o pai, o filho obediente e o
filho desobediente), etc.[44] Entretanto, Scholz afirma que já se notou que, nas
parábolas, aplica-se a lei dos dois atores no palco, pois numa mesma cena
geralmente aparecem apenas dois atores.[45]
f) Inversão. Verifica-se, frequentemente, que a parábola começa por
conceder vantagem ao ponto de vista que será finalmente desfavorecido.
Assim, Jesus vai ao encontro do seu interlocutor; entra em sua maneira de
ver. Sentindo-se compreendido, o interlocutor se deixa levar sem dificuldade.
Então, o aspecto das coisas se modifica; uma nova maneira de ver se
apresenta, melhor do que a primeira. O interlocutor, que assim deve convir,
acha-se, desse modo, apanhado numa nova perspectiva.[46]
g) Ênfase final. Nas parábolas de Jesus, não é o começo que diz o que é
importante, porém o seu final. A importância recai sobre a última pessoa
mencionada, o último feito ou a última declaração. O “efeito final” da
parábola é deliberadamente elaborado em sua composição. Foi o samaritano
que aliviou a dor do homem ferido, não o sacerdote ou o levita.[47] Na
parábola do semeador, o solo fértil também é mencionado por último.
h) Discurso direto. Em suas parábolas, Jesus falava o que as
personagens realmente diziam. Isto incrementa a qualidade de história das
parábolas. Associado a isto, está o discurso chamado solilóquio, em que a
personagem fala consigo mesma, assim revelando aos ouvintes e leitores seus
pensamentos, planos e preocupações. Talvez o monólogo mais famoso das
parábolas seja o do filho pródigo, que disse: “Quantos trabalhadores de meu
pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” (Lc 15.17-19).[48]
i) Perguntas retóricas. Estas estimulam os ouvintes/leitores a
responderem mentalmente aos desafios propostos por Jesus. Por exemplo, o
Senhor perguntou: “A que, pois, compararei os homens da presente geração,
e a que são eles semelhantes?” (Lc 7.31); “... Contudo quando vier o Filho do
homem, achará porventura fé na terra?” (Lc 18.8); três, das cinco frases da
parábola que Jesus contou sobre a recompensa do servo, são perguntas
retóricas (Lc 17.7-10).[49]
j) Evocação de resposta. As parábolas funcionam como um meio para
evocar respostas por parte do ouvinte. São contadas para dirigir-se aos
ouvintes e cativá-los, a fim de fazê-los parar e pensar acerca das suas próprias
ações, ou de levá-los a dar alguma resposta a Jesus e ao Seu ministério.[50]
l) Extraordinário. Muitas parábolas parecem histórias simples e claras,
mas sempre acontece algo fora-do-comum, que leva a certas perguntas. Este
extraordinário ajuda a achar a verdade central da parábola. Quem deixaria 99
ovelhas para procurar uma perdida? Quem ficaria semeando, enquanto três
quartos das sementes se perdem? Qual pai aguardaria, com tanta paciência,
um filho que botou toda a herança a perder? Realmente, Deus age de maneira
diferente.[51]
m) Exagero. Apesar de serem estórias que retratam o cotidiano,
algumas parábolas podem conter um exagero deliberado, a fim de ressaltar
algum aspecto da parábola (e.g., dez mil talentos, segundo qualquer cálculo, é
uma soma astronômica de dinheiro, cf. Mt 18.24).[52]
n) Detalhes irrelevantes. Por vezes, pergunta-se por que são deixados
de lado vários detalhes que deveriam fazer parte da história de uma parábola.
Por exemplo, na parábola das dez virgens é apresentado o noivo, mas se
ignora totalmente a noiva. Pormenores como este não são relevantes na
composição geral das parábolas.[53] Surge daí o princípio de que nunca se
deve questionar aquilo que a parábola não responde, para não se incorrer em
erros.
Todos estes aspectos literários das parábolas demonstram o impacto
incomum que as histórias de Jesus provocavam naqueles que as ouviam e que
ainda provocam naqueles que as leem.
1.5 Classificação das Parábolas

As parábolas de Jesus podem ser agrupadas e classificadas de várias formas.


Vários autores notáveis têm proposto classificações de parábolas, das quais
algumas serão consideradas.
John Drane classifica as parábolas sob quatro temas, a saber: 1) A
sociedade e o soberano (parábolas que revelam o caráter de Deus); 2) A
sociedade e o indivíduo (parábolas que destacam que tipo de resposta se
exige do homem para “entrar no Reino” e como viver de acordo com a lei de
Deus); 3) A sociedade e a comunidade (parábolas concernentes à relação do
povo de Deus com o mundo em geral e às relações dos seus membros entre
si); e 4) A sociedade e o futuro (parábolas que se referem ao advento do
Reino futuro).[54]
Godet divide-as em três grupos: 1) seis, manifestando a preparação do
Reino sob a dispensação judaica; 2) seis, a realização do Reino na forma de
uma igreja; 3) dezoito, a realização do Reino na vida dos membros
individuais, com a seguinte subdivisão: nove referentes aos que estão
entrando no Reino, e nove relativas aos que já se tornaram membros.[55]
Lange adota uma classificação em três ciclos: Primeiro ciclo - o Reino
de Deus no seu desenvolvimento. Segundo ciclo - realização ou cumprimento
do Reino por atos de misericórdia. Terceiro ciclo - realização do Reino por
atos de julgamento.[56]
Colin Brown, no Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento, sugere uma classificação a partir da distribuição dos ministérios
de Jesus, sendo assim classificadas: 1) Parábolas no Sermão da Montanha; 2)
Parábolas do ministério na Galileia; 3) Parábolas no caminho a Jerusalém; 4)
Parábolas do ministério na Judéia; e 5) Parábolas do ministério final em
Jerusalém.[57]
Roy Zuck faz outra classificação das parábolas em relação ao Reino: 1)
O progresso do Reino; 2) O conflito entre a concepção de Jesus e a dos
fariseus a respeito do Reino; 3) A graça e os pecadores no Reino; 4) As
características dos cidadãos do Reino; 5) A rejeição do Rei e de seu Reino; 6)
O julgamento dos que rejeitaram o Rei e/ou recompensa para os que o
aceitam; e 7) A vigilância e a prontidão para a vinda do Rei.[58]
Mackay sugere a seguinte classificação: 1) Parábolas teóricas:
descrevem o caráter especial do Reino de Deus, nome que Jesus dava à
realização da vida humana debaixo da soberania divina - encerram o que se
chama a metafísica do Reino; 2) Parábolas evangélicas: descrevem, sob
vários aspectos, a lei do amor e da graça e que expressam a natureza mais
íntima de Deus, cujo caráter foi levado por Jesus à norma da humana
perfeição; 3) Parábolas jurídicas: anunciam o princípio pelo qual Deus
aquilata o caráter e proceder dos homens, concedendo a cada um o que a
atitude diante da vida merece.[59]
Na presente pesquisa propõe-se uma classificação, a partir de uma
organização cronológica das parábolas, dispondo-as em três grupos: 1)
Inauguração do Reino: 14 parábolas que tratam de como o Reino de Deus foi
implantado neste mundo; 2) Dimensão do Reino: outro grupo de 14 parábolas
que tratam de como o ser humano pode entrar no Reino de Deus; 3)
Consumação do Reino: mais 14 parábolas que tratam das coisas a respeito do
Reino de Deus que ainda estão por vir. É esta estrutura que será apresentada
nos capítulos finais desta obra.
1.6 Contexto das Parábolas

O estudo do contexto é uma das principais regras de interpretação das


parábolas e será vista novamente no próximo subponto, que trata da
hermenêutica deste gênero literário. Porém, dada a sua relevância, dar-se-á
atenção especial para o estudo do mesmo. Stadelmann afirma que o “contexto
da parábola dá para o intérprete, via de regra, a chave para a compreensão do
significado intencionado; pois nele se representa a situação, à qual Jesus
responde com sua parábola”.[60]
Gilhuis afirma que a atitude das pessoas para com Jesus é outra chave
para entender as parábolas.[61] Assim, é de suma importância identificar o
auditório, porque o significado da parábola tem a ver com como foi
originalmente ouvida.[62] Zuck relaciona uma lista de possibilidades de
situações que geraram parábolas[63]:
a) Parábolas em resposta a perguntas (Mt 9.14; 18.21; Lc 10.25);
b) Parábolas em resposta a pedidos (Lc 11.1,5-8; 12.13-21);
c) Parábolas em resposta a críticas (Lc 7.39,41-43; 15.1-32);
d) Parábolas contadas com propósito definido (Lc 18.1ss; 18.9ss; 19.11ss);
e) Parábolas sobre o Reino contadas porque Israel rejeitara Jesus como Messias (Mt 12 e
13);
f) Parábolas subsequentes a uma exortação ou a um princípio (Mc 13.33-37; Mt 18.10-14);
g) Parábolas seguidas de exortação ou princípio (Lc 11.5-10; 14.28-33; Mt 20.1-16);
h) Parábolas que ilustram uma situação (Mt 7.24-27; Lc 7.29-35);
i) Parábolas de finalidade implícita (Mt 25.14-30; Mc 4.26-29).
Em todos os tipos de parábolas, essas situações funcionam como parte
essencial de uma unidade literária maior. Em cada caso, é a unidade que
precisa ser examinada para se determinar acerca do que, afinal de contas, a
parábola fala. Dupont faz referência a três contextos que merecem ser
observados:
1. O contexto literário: no qual uma parábola nos foi transmitida como simples parte de
uma unidade literária que a ultrapassa. (...) é o sentido que lhe atribui o evangelista que no-la
relata. 2. O contexto original: a situação de vida em que a parábola surgiu e em função da qual
foi imaginada. Assim, parece possível encontrar a significação primeira da parábola: em função
do elo que a unia à situação de vida na qual foi antes pronunciada. 3. O contexto atual: o do
cristão que hoje relê uma parábola. Não só as ideias de seu tempo e de seu meio influenciam essa
leitura, como é graças a elas que a parábola permanece significante para ele hoje, oferecendo-lhe
uma mensagem que vai ao encontro, nas situações concretas de sua vida.[64]
Drane, porém, expressa sua preocupação de que nem sempre se sabe a
exata “situação na vida” (Sitz im Leben) das parábolas. As parábolas nem
sempre foram registradas como parte de uma biografia de Jesus, dispostas
cronologicamente, mas como uma mensagem explicativa da doutrina de
Jesus e de sua permanente relevância para as necessidades do mundo e da
igreja. Algumas parábolas surgem em contextos diferentes nos vários
evangelhos, o que dificulta ainda mais a compreensão das mesmas.[65]
Porém, crê-se terminantemente na inspiração das Escrituras assim como elas
se encontram, ou seja, os textos estão dispostos da maneira como Deus,
aquele que é Onisciente, o quis. Isto dá segurança ao hermeneuta ao
interpretar uma parábola, ao estar compreendendo-a dentro do contexto em
que está inserida.

Antoniazzi menciona ainda que, para a compreensão do contexto, deve-


se ter em mente a presença de três grupos: por um lado, as multidões, que são
a massa ainda indiferenciada de pessoas que Jesus procura ou atrai; esta
multidão é cega, mas tem o desejo de ver. Desta multidão se destacam dois
grupos bem definidos. Há os que se tornam discípulos de Jesus e os que se
firmam como seus adversários. Os discípulos são os que começam a ver,
embora demorem a compreender realmente quem é Jesus e qual o segredo do
Reino. Os adversários são os que se afastam de Jesus e trabalham para afastar
dele as multidões; não apenas são cegos, mas também nem desejam sair da
cegueira.[66] Todo este contexto o intérprete precisa ter em mente, quando
fizer o trabalho de exegese e interpretação de uma parábola.[67]
1.7 Interpretação das Parábolas

A interpretação é um dos aspectos mais difíceis neste assunto. Como regra


geral, deve-se sempre perguntar o que Cristo quis dizer aos seus ouvintes
com determinada parábola, e não o que o intérprete quer que a parábola diga.
[68] Far-se-á, primeiramente, uma análise de como as parábolas foram
interpretadas no decorrer da história.

1.7.1 História da Interpretação

A interpretação das parábolas, no decurso da história da Igreja, tem


recebido uma série de abordagens diferentes e, até mesmo, contraditórias,
particularmente no século XX.[69] A partir de Orígenes, a abordagem mais
comum era a da alegorização dos detalhes da narrativa, ficando a parábola
sujeita à imaginação do intérprete. Um dos exemplos mais clássicos de
alegorização de parábolas talvez tenha sido a interpretação que alguns
atribuem a Agostinho, o grande pensador do século IV:
O homem que desceu de Jerusalém a Jericó era Adão. Jerusalém representava a celestial
cidade da paz da qual ele caiu, e Jericó era a mortalidade humana que ele herdara em
consequência de sua queda. Os ladrões eram o demônio e seus anjos, que o despojaram de sua
imortalidade. O sacerdote e o levita que passaram por ali do outro lado eram o sacerdócio e o
ministério do Antigo Testamento, que não podiam salvá-lo. O bom samaritano foi o próprio
Cristo, e seu ato de pensar e enfaixar as feridas foi a repressão do pecado. O azeite e o vinho que
ele verteu nas feridas foi o conforto da esperança e o encorajamento para trabalhar com afinco. A
montaria foi a carne em que Cristo veio à terra; a hospedaria foi a igreja e o estalajadeiro o
apóstolo Paulo. As duas moedas que recebeu em paga são os mandamentos de amar a Deus e ao
próximo.[70]
É evidente que a parábola proferida por Jesus não admite semelhante
interpretação, apesar de ser um relato engenhoso da história da salvação. Isso
pode ser afirmado, com certeza, porque a própria pergunta do ouvinte de
Jesus fica sem resposta nesta versão agostiniana. Anglada, entretanto,
argumenta que esta versão de Agostinho não seja originariamente dele, mas
que é decorrente da interpretação feita antes dele já por Orígenes.[71]
Entretanto, nem todos os intérpretes das parábolas tomaram o caminho
da alegoria. Por ocasião da Reforma, Martinho Lutero preferiu um método de
exegese bíblica que levava em consideração a localização histórica e a
estrutura gramatical da parábola. João Calvino foi ainda mais direto. Evitou
totalmente as interpretações alegóricas das parábolas e procurou estabelecer o
ponto principal de seu ensinamento. Quando constatava o significado de uma
parábola, não se preocupava com os pormenores.[72]
Durante a segunda metade do século XIX, C. E. van Koetsveld, um
estudioso alemão, deu novo impulso ao modo de abordar o assunto, iniciado
pelos reformadores. Mostrou que as extravagantes interpretações alegóricas
das parábolas obscureciam, mais que esclareciam, o ensino de Jesus. Para ele,
o exegeta precisa apenas aprender o seu significado básico e distinguir o que
é, ou não, essencial. Van Koetsveld foi seguido, em sua maneira de abordar
as parábolas, pelo teólogo alemão A. Jülicher.[73] Este teve o mérito de
desmascarar a abordagem errônea na interpretação das parábolas, que
dominava o cenário hermenêutico até então. No entanto, Jülicher não
ofereceu uma alternativa totalmente satisfatória. Há quatro grandes fraquezas
na posição delineada por Jülicher:
Uma rejeição de todos os elementos alegóricos; a aceitação de categorias aristotelianas
como modelo para entender as parábolas; a redução das parábolas a princípios morais genéricos;
e a estrita insistência na ideia de que há somente um ponto de comparação em cada parábola.[74]
Mantendo Jülicher sua reação contra toda forma de alegorização, caiu no
extremo de negar a validade da interpretação dada por Jesus mesmo a
algumas de suas parábolas (o semeador, o trigo e o joio, a rede), atribuindo-
lhe uma alegorização levada a efeito posteriormente pela comunidade
apostólica. Ainda que este ponto de vista seja sustentado por prestigiosos
autores, como C. H. Dodd e J. Jeremias, não passa de mera conjetura.[75]
No século XX, o estudo das parábolas recebeu um enorme impulso,
como resultado da obra de Jülicher. Bugge, Fiebig, Strack e Billerbeck
demonstraram a importância do pano-de-fundo judaico para a compreensão
das parábolas. A partir do trabalho de Cadoux, Dodd procurou abordar as
parábolas dentro do contexto da pregação do Reino por Jesus, e examinou as
parábolas sob dois diferentes níveis: a situação original delas no ministério de
Jesus e a situação eclesiástica que moldou as parábolas nas formas atuais dos
Evangelhos.[76]
Nesta época, iniciou-se a interpretação das parábolas a partir da
concepção escatológica da vinda do Reino. Dodd partiu de seus próprios
pressupostos de uma escatologia realizada, na qual o Reino já veio.
Schweitzer, por outro lado, vê nas parábolas o modo como o Reino virá
(escatologia futurista).[77] Uma visão mais ajustada, sem dúvida, incluiria
tanto o aspecto presente do Reino como o futuro, ou seja, o Reino sob o
aspecto da escatologia em processo de realização.
J. Jeremias trabalhou a partir de Dodd, tentando corrigir os erros de sua
abordagem (ênfase exagerada na escatologia realizada) e concluiu que o
contexto original, o Sitz Im Leben, das parábolas era o conflito entre Jesus e
os judeus, sendo a maioria delas apologia do evangelho. J. Jeremias deu
grande ênfase ao background das parábolas. Como fruto deste esforço, surgiu
um dos mais influentes estudos sobre as parábolas no século XX.[78]
Mais recentemente, representantes de nova corrente da hermenêutica
têm, de maneira crescente, deslocado as parábolas de seu assentamento
histórico para uma ênfase literária claramente baseada numa estrutura
existencial. Esses estudiosos tratam as parábolas como literatura existencial,
as removem de suas amarras históricas e substituem sua significação original
por uma mensagem contemporânea, negando que o sentido da parábola tenha
sua origem na vida e ministério de Jesus.[79] Estão ligados a esta linha
teológica G. Ebeling, E. Fuchs, E. Linnemann e Dan O. Via Jr.
Finalmente, é necessário registrar a abordagem “literária oriental” de
Kenneth E. Bailey, em Poet and Peasant, 1976.[80] A sua proposta é de uma
exegese culturalmente orientada. Segundo Bailey, o aspecto histórico deve
ser reexaminado à luz da evidência adicional do ambiente cultural das
parábolas. Além disso, o aspecto estético deve ser visto à luz das formas
literárias orientais. Esta é a sua tarefa no livro em questão. Para este autor, a
exegese oriental é um método de estudar um texto culturalmente
condicionado. O método requer o uso das ferramentas padrões da erudição
ocidental em combinação com insights culturais adquiridos da literatura
antiga, camponeses contemporâneos e versões orientais.[81] A opinião de
Zabatiero é de que, até o presente momento, este parece ser o mais fecundo
trabalho sobre a interpretação das parábolas, pela sua combinação do
histórico com o literário, do uso da hermenêutica e das ciências da cultura.[82]
Pode-se dizer, então, que as parábolas têm sido interpretadas
basicamente sob três aspectos: 1) Há os que procuram e esperam apenas
traçar uma correspondência muito geral entre o sinal e a coisa significada; 2)
Outros descem aos mínimos detalhes, na sua compreensão; e 3) Outros,
ainda, tomam uma posição média e conciliadora.[83]
1.7.2 Regras de Interpretação

Diante dos vários pontos de vista relacionados, convém estabelecer


algumas regras gerais que, aliadas ao bom senso do leitor e intérprete, ao tato,
à experiência individual e reverência pela Palavra de Deus, muito auxiliarão,
para uma boa, sã e útil interpretação dos elementos parabólicos no ensino de
Jesus.[84] Algumas destas regras podem ser:
a) Respeito (busca) à verdade. Neal começa suas regras de
interpretação afirmando que o intérprete deve ter um profundo respeito pela
verdade. O ato de ser um cristão sincero não é suficiente, pois não tira o
perigo de ser levado por falsos caminhos. É necessário evitar que
preconceitos o levem a interpretações errôneas.[85] Desta forma, é de suma
importância a orientação divina na interpretação das mesmas.
b) Contexto. O subponto 1.6 já abordou a importância do contexto de
uma parábola. Sobre este aspecto, Bailey complementa, abordando sobre a
questão da “peça dentro da peça”:
A peça está tendo lugar entre Jesus e seu auditório. Muitas vezes o seu auditório é composto
de seus inimigos teológicos, e desta forma um conflito intenso é a tônica da representação. A
parábola frequentemente ocorre como ‘a peça dentro da peça’.[86]
Um exemplo muito prático é a parábola dos dois devedores, contada por
Jesus quando estava na casa de Simão (Lc 7.36-50): uma peça dentro de uma
peça. Neste sentido, o intérprete sempre deve fazer um estudo da conjuntura
histórica da parábola, incluindo uma análise pormenorizada das
circunstâncias religiosas, sociais, políticas e geográficas reveladas na
parábola.[87]
c) Fundo Cultural. Para captar objetivamente o significado de uma
parábola, o intérprete deve situar-se no plano cultural daqueles que ouviram a
parábola de Jesus.[88] Bailey alerta sobre o fato de que dois mil anos já se
passaram e que culturalmente se pensa como ocidentais e não como orientais.
Em suma, as parábolas são estórias a respeito de pessoas que viveram em um
determinado tempo e lugar.[89] O mesmo autor fala de perguntas que devem
ser feitas em relação ao texto:
Estas são as perguntas de reação, julgamento de valores, relacionamento, expectativa e
atitude. Como se espera que um pai reaja quando o seu filho mais novo pede a sua herança
quando o pai ainda está vivo? Qual é o relacionamento entre um senhor e um escravo? Que
julgamento de valores faz o auditório quando algum convidado deixa de ir a um banquete? Qual
a atitude dos habitantes do Oriente Médio para com os governantes imperialistas? Que espécie
de herói o auditório espera na parábola do Bom Samaritano? Por vezes, fazemos estas perguntas
a respeito das próprias personagens da estória. Em outras ocasiões as fazemos para ou a respeito
do auditório. Ambas as séries de perguntas são importantíssimas.[90]
d) Exegese. Não se pode ignorar o texto original. Na verdade, é do texto
original que devem surgir as afirmações a respeito do texto. Jeremias lembra,
entretanto, que Jesus falou o aramaico da Galileia, e no processo de tradução
para o grego (ou de elaboração dos textos em grego), era inevitável que não
só o vocabulário e as declarações de Jesus, mas também o fundo palestino
encarnado neles, deveria ser traduzido em condições do ambiente helenístico.
[91] O exegeta deve ter tal conceito em mente ao fazer a sua exegese.
e) Tipo de Literatura. O intérprete deve atentar também para a
estrutura literária e gramatical da parábola. Entram neste processo a exegese
(tempos e modos verbais, declinações de substantivos, etc.)[92] e a crítica
retórica (introduções, conclusões e paralelismos: sinônimo, antitético,
sintético, invertido ou em degrau).[93]
f) Verdade Central. Este é um dos aspectos mais discutidos a respeito
da interpretação das parábolas. Zuck afirma que, quando Jesus proferia uma
parábola, “quase sempre afirmava uma única verdade espiritual”. Para ele,
sair à caça de significados para cada detalhe de uma parábola equivale a
transformá-la numa alegoria. Neste caso, seria acrescentar ao texto o que não
está lá – um caso de eisegese.[94]
Gilhuis é da mesma opinião, mas esclarece algo a mais a respeito dos
detalhes da parábola. Para ele, a parábola é contada com um só objetivo:
elucidar uma verdade central. Porém, os detalhes corroboram para o
entendimento da verdade central. Faz então um gráfico da diferença entre a
alegoria e a interpretação correta dos detalhes de parábolas.[95]

Almeida também é da opinião de que todos os detalhes devem ser


interpretados. Cita Trench, o qual tem dois argumentos contra a escola que só
interpreta as parábolas em termos gerais:
O primeiro é que nos falta um critério seguro para determinar o que é essencial e
significativo em qualquer parábola, e o que não é; e o segundo é o exemplo de Cristo na
interpretação minuciosa das parábolas do semeador e do joio.[96]
Camargo também afirma que a preocupação do intérprete deve ser
descobrir a unidade do todo, isto é, determinar o ponto central, a doutrina
principal, em plena luz, e então a proporção reta e significação de todas as
circunstâncias particulares se tornarão claras.[97]
Trench concorda com esta concepção, afirmando que se tem de olhar a
partir do ponto central. Exemplifica sua ideia com a descoberta das leis da
natureza. Pode ser necessária muita investigação, mas, uma vez descoberta, a
própria lei lança luz sobre si mesma, explicando todos os fenômenos
envolvidos. Assim também ocorre com a interpretação das parábolas. Quando
se encontra o ponto central, nenhum dos detalhes ficará sem uma explicação.
[98]
Konings, porém, deixa no ar uma pergunta: “quem pode saber se Jesus
queria dar às suas parábolas um só sentido bem fixo?”[99] Bailey, então, é da
opinião de que as parábolas têm em si mais do que um único tema, e que
esses podem ser entendidos sem se destruir a unidade das parábolas, nem
voltar às alegorias do passado. Esse conglomerado de temas teológicos
conjuntamente levam o ouvinte a tomar uma única decisão/reação.[100]
g) Significados de Símbolos. Quanto ao significado dos símbolos,
Almeida é da opinião de que um símbolo bíblico, usado em outros lugares, já
tem determinada a sua significação. Cita então um exemplo quanto ao
significado do fermento, o qual já havia sido aplicado para o mundanismo
político de Herodes, o formalismo religioso dos fariseus, o racionalismo
incrédulo dos saduceus ou a jactância pecaminosa dos coríntios; portanto,
para Almeida, o fermento sempre será símbolo do mal em atividade. O
mesmo autor afirma, ainda, que os termos explicados em uma parábola não
podem ter sentido oposto em outra.[101]
Konings, porém, pensa diferentemente, quando diz que o mesmo
elemento não tem sempre o mesmo sentido na comparação. Depende do
contexto, e muitas vezes não tem sentido comparativo algum, mas serve
apenas para que a história se possa contar de forma pitoresca. Cita o exemplo
da semente, que tem sentido diferente nas parábolas de Mc 4.1ss, 4.26ss, e
4.30ss. Na primeira, boa parte da semente fica infecunda, na segunda fala-se
da semente apenas porque ela cresce por si, e na terceira considera-se apenas
a desproporção entre o tamanho da semente e da árvore que dela cresce.[102]
Concorda-se com Konings, tendo em vista que em toda a Bíblia são
usados símbolos de acordo com o contexto em que o autor os inseriu. Neste
sentido, poder-se-ia questionar ao primeiro autor: Qual o significado de leão
na Bíblia? É o leão da tribo de Judá (Ap 5.5) ou o leão que ruge em derredor
(1 Pe 5.8)? Qual o significado de serpente nas Escrituras? É a serpente do
Éden (Gn 3) ou a serpente que Moisés levantou no deserto (tipo de Cristo -
Nm 21; Jo 3.14)? Ou seja, os símbolos podem ter não apenas significados
diferentes em diferentes textos, como podem até ter significados contrários ao
que apresentam em outro lugar.
Bailey afirma ainda que “os símbolos que devem ser procurados são
aqueles que o narrador original da história coloca nesta com o objetivo de
comunicar-se com o auditório original”.[103]
h) Teologia Bíblica. Alguns autores afirmam que nenhuma parábola
tem autoridade para revelar alguma nova verdade e que as mesmas servem
apenas para ilustrar verdades já reveladas. Camargo afirma que:
As parábolas não são fontes primárias de doutrina. Podem confirmar ou ilustrar, mas não a
estabelecem. A ordem de interpretação tem sido do literal ao figurado, do mais claro ao mais
obscuro, mas é uma regra que tem sido contrariada.[104]
Almeida não é tão rigoroso, mas afirma que se deve interpretar as
parábolas de acordo com a analogia da fé. É princípio geral de interpretação
que a nenhum texto se pode dar um sentido contrário ao ensinamento geral e
claro das Escrituras sobre o mesmo assunto.[105] Martínez também concorda
com este princípio[106], e Kistemaker diz que:
O ponto principal de uma parábola deve ser comparado teologicamente com os
ensinamentos de Jesus e com o resto das Escrituras. Quando o ensino básico de uma parábola foi
completamente explorado e está corretamente entendido, a unidade das Escrituras se manifestará
e o sentido apropriado da passagem poderá ser visto em toda a sua simplicidade e limpidez.[107]
i) Atualização. Karl Gutbrod afirma que as parábolas de Jesus “tornam
possível a mudança do destinatário”.[108] Para isso, o intérprete da parábola
deve traduzir seu significado em termos apropriados às necessidades de hoje.
Sua tarefa é aplicar o ensinamento central da parábola à situação de vida da
pessoa que está ouvindo sua interpretação.[109] Fee também demonstra esta
preocupação. Ele lembra que as parábolas estão num contexto escrito e,
através de um processo exegético, deve-se descobrir seu significado, sua
lição, com alto grau de exatidão. O que precisa ser feito, então, é traduzir essa
mesma lição para o contexto atual, de tal forma que os ouvintes de hoje
possam sentir a ira, ou a alegria, que os ouvintes originais experimentaram.
[110]

1.7.3 Jesus e Sua Interpretação

Jesus mesmo deu, em dois casos, o modelo de interpretação. Isto fez ele
quando proferiu as parábolas do semeador e do joio. Em sua explicação, não
se limitou a dar uma ideia do conjunto, mas interpretou também os detalhes
das estórias.[111] No caso da parábola do semeador, ele interpretou:
- A semente: a palavra de Deus;
- As aves: Satanás, tirando do coração a palavra semeada;
- A pedra coberta de pouca terra, que ocasionou o rápido nascimento da
semente e também a repentina morte da planta nova: o recebimento da
doutrina sem afetar profundamente o coração;
- O ardor do sol: provação e tribulação;
- Os espinhos, dos quais deu quatro interpretações: os cuidados deste
mundo, o engano das riquezas, os prazeres desta vida e a ambição de outras
coisas.
- O êxito da semente em boa terra: o receber, entender e conservar a
verdade em um coração honesto e bom.
Konings, porém, argumenta contrariamente a estas interpretações dadas
por Jesus:
As explicações de parábolas, como a que encontramos em Mc 4.13ss, têm poucas chances
de ser autênticas de Jesus mesmo. São antes “aplicações” do que “explicações”. Mc 4.13ss, não
quer dar uma exegese científica do que Jesus queria dizer aos seus ouvintes da Galileia, e sim
aplicar uma imagem de Jesus para esclarecer o que acontece ao missionário cristão na sua
pregação do Reino. É a incomparável liberdade da Igreja primitiva, de dar sentidos novos à
matéria tradicional...[112]
Alguns críticos chegam a afirmar que os referidos versículos são um
exemplo da tendência “editorializadora” de Marcos, manifesta nas suas
explicações das palavras de Jesus. Outros afirmam que Marcos não conseguiu
captar a natureza da parábola e que alegorizou em forma desesperante a
parábola original de Jesus. Porém, Wallace argumenta contra estas ideias,
afirmando que “é possível que Jesus não se encontrava limitado pelas
distinções literárias modernas e pôde, de fato, alegorizar a sua própria
parábola, como parece haver sucedido”.[113]
Crê-se não ser necessário dizer que a parábola do semeador e a parábola
do joio tenham sido alegorizadas, mas, que apenas foram interpretadas com
detalhes que corroboram para a compreensão da verdade intencionada por
Jesus. O que, porém, é saliente, nesta declaração de Wallace, é que Jesus de
forma alguma está preso às regras estabelecidas pelos hermeneutas do século
XX.[114]
1.8 Conceito de Reino de Deus

A declaração que a maioria dos autores faz é de que o assunto principal das
parábolas é o Reino de Deus. Gilhuis afirma que “o Rei e seu Reino são o
assunto principal das parábolas”.[115] Zuck concorda, declarando que “todas
ensinam algo sobre Jesus, sobre seu Reino ou sobre seus seguidores. (...)
todas se referem de alguma forma ao Reino de Deus”.[116] Martínez diz que:
O conteúdo das parábolas proferidas por Jesus corresponde aos grandes temas de sua
pregação relativos a Deus, a Sua soberania, ao homem, ao sentido de sua vida, a sua
responsabilidade e destino, à oração, ao serviço cristão, etc., todos eles sob um tema central: o
Reino de Deus. Em muitas das parábolas, a alusão ao Reino é clara. Em algumas, a relação não é
explícita, mas sua mensagem forma parte do conjunto de ensinos que, como vimos, gira
essencialmente em torno do Reino.[117]
Diante desta certeza, faz-se necessário verificar qual o conceito de Reino
de Deus vigente nas Escrituras, especialmente no Novo Testamento.
Primeiramente, torna-se necessário definir o termo “Reino” e posteriormente
“Reino de Deus”. Reino é tradução do termo grego “βασιλεία” (basileia).
Stoll comenta a origem desta palavra:
O significado original do termo grego basileia é o fato de ser rei, a posição ou poder do rei,
e se traduz melhor como “ofício de rei”, “soberania real”. Além deste significado, há um
segundo significado que ressalta o aspecto geográfico de basileia, pois a categoria do rei é
demonstrada pelo tamanho da área sobre a qual reina. Basileia, portanto, assume o significado de
«Reino», no sentido da nação ou da área sobre a qual o rei domina”.[118]
Ladd comenta também o conceito de Reino no Antigo Testamento:
A palavra hebraica malekût, como basileia, leva primariamente o sentido abstrato mais do
que o sentido concreto. O reinado de um rei é frequentemente datado pela frase “no ... ano desse
malekût”, i.e., do seu reinado (1 Cr 26.31; Dn 1.1). O recebimento do malekût de Saul por parte
de Davi (1 Cr 12.23) é a autoridade de dominar como rei. A ideia abstrata fica evidente quando a
palavra é colocada em paralelismo com conceitos abstratos tais como o poder, a força, a glória e
o domínio (Dn 2.37; 4.34; 7.14). Quando malekût é usado com referência a Deus, sempre indica
a Sua autoridade ou o Seu governo como o Rei celestial. (Veja-se Sl 22.28; 103.19; 145.11,13;
Ob 21; Dn 6.26).[119]
No Antigo Testamento, pode-se ver o conceito de “Reino de Javé” em
Israel, em vários momentos da história. Começando com o chamado de
Abraão, com a promessa de se tornar uma grande nação, da qual Javé seria
rei por direito de eleição e criação. Após a libertação do Egito, Javé é
reconhecido como rei de Israel por direito de redenção (Ex 15.18). No monte
Sinai, Deus revelou sua lei ao povo, o povo obedeceria às palavras do Grande
Rei, e eles seriam a “propriedade exclusiva” de Javé (Ex 19.5-6). A base
desta aliança era a hesed de Javé (Dt 7.7-11). No deserto, durante 40 anos e
depois na conquista da terra prometida (Js 12), mostrando Sua soberania
sobre Seu povo, as nações e seus reis. Levantando juízes que libertaram Israel
de seus opressores e reconheceram a sua submissão a Deus como Soberano.
Os líderes de Israel pediram a Samuel que nomeasse um rei para governar a
nação (1 Sm 8). Estavam rejeitando a soberania de Deus. Saul é escolhido e
confirmado como o primeiro rei de Israel. É sucedido por Davi, e depois
Salomão. O Reino de Javé não terminou com a instituição da monarquia; ele
reinava por intermédio do soberano humano (2 Cr 20.6).
Nos Salmos, também há muitas referências a respeito da soberania de
Deus.[120] Infelizmente, o pecado e a transgressão dos reis de Israel
provocaram a destruição do Reino israelita. Alguns profetas tiveram de
anunciar o fim deste Reino (Am 9.8; Os 1.4; Mq 3.12; Is 6.9,11), e Deus usou
outros reis para executar juízo sobre Israel. Mas Deus não se esquecera das
“fiéis misericórdias prometidas a Davi” (Is 55.3). Haveria um remanescente
de Jacó (Is 4; Mq 4,5), o Reino seria restabelecido e não faltaria um filho de
Davi para assentar-se no seu trono (Jr 30.9; 33.17). Assim, os profetas
anunciaram tanto o juízo de Deus sobre Israel, como uma palavra de
esperança e salvação. Muitas são as promessas messiânicas que reivindicam o
Reino de Deus estabelecido em Jerusalém.[121] Entretanto, antes de reinar
pela força e poder, Ele ainda quer reinar por meio da redenção e da salvação.
O seu Servo tem de sofrer para possibilitar essas boas novas (Is 52.13-53.12).
[122]
Finalmente, interpreta-se a realeza de Javé em sentido escatológico, pois
um dia reinará sobre a terra inteira. Daniel mostra esta escatologia no
conceito do Filho do Homem (7.13-14). A transferência do poder ao Filho do
Homem ocorre em âmbito celestial (7.13), de modo que os impérios terrestres
são substituídos pelo Reino transcendental dos santos do Altíssimo,
representados pelo Filho do Homem.[123]
Em todo o Novo Testamento, há no total 144 ocorrências do termo
basileia[124], com referência ao Reino de Deus, e mais 13 ocorrências
relativas ao reino do mundo, ao reino de Satanás e ao reino da besta.[125]
Zabatiero resume da seguinte forma a sua longa discussão sobre o conceito
de Reino de Deus nos sinópticos, em relação ao tempo:
Basileia tou theou é um conceito escatológico, que tem a ver com a concretização do
propósito de Deus para a humanidade. Na sua qualidade escatológica, o Reino de Deus já veio a
Terra, em e através de Jesus Cristo, e nela está operante até hoje, e continuará até a “consumação
dos séculos”, quando será plenamente realizado; produzindo o fim desta era e iniciando a
existência da nova era isoladamente da presente. Nesse sentido, o termo “escatológico”, aplicado
ao Reino de Deus, inclui as noções de “apocalíptico” e “presente”, ou, na linguagem de Ladd,
significa “cumprimento sem consumação”; ou, ainda, uma “escatologia em processo de
realização” (J. Jeremias).[126]
Desta forma, quanto ao tempo, o Reino pode ser compreendido como:
a) O Reino Escatológico: a estrutura básica do pensamento de Jesus é
encontrada no dualismo escatológico das duas eras. É a vinda do Reino de
Deus (Mt 6.10) ou seu aparecimento (Lc 19.11) que assinalará o fim da era
presente e inaugurará a Era Vindoura. Esta vinda também significará a
destruição total do diabo e seus anjos (Mt 25.41) e a comunhão perfeita com
Deus no banquete messiânico (Lc 13.28-29).
b) O Reino Presente: Jesus considerou o seu ministério como um
cumprimento da promessa do Velho Testamento na história, próxima da
consumação apocalíptica. O Reino de Deus, nos ensinos de Jesus, tem uma
dupla manifestação: ao fim dos tempos, destruir a Satanás; e, na missão de
Jesus, aprisionar a Satanás. O que se fez presente não foi o eschaton, mas o
poder real de Deus atacando o domínio de Satanás, e libertando os homens do
poder do mal.
c) O Reino em Processo de Realização: o Reino de Deus já esteve
ativo nos dias do Velho Testamento. Deus estava agindo com seu poder real
para livrar e julgar o seu povo. Entretanto, em um sentido bem real, o Reino
de Deus veio ou entrou para a história na pessoa e missão de Jesus. Assim, a
Era Vindoura invadiu a Era presente, e a igreja vive entre estas duas eras
sobrepostas. Ladd sugere um gráfico para uma melhor compreensão deste
sistema[127]:

Importante notar também que o Reino é o Reino de Deus, não do


homem: basileia tou theou. A ênfase recai sobre a terceira palavra, não na
primeira; trata-se do Reino de Deus. Este Deus é um Deus que busca[128], um
Deus que convida[129], um Deus paternal[130], um Deus que julga[131].
Conclui-se que o Reino de Deus é o domínio redentor de Deus, ativo
dinamicamente, visando estabelecer seu governo entre os homens, e que este
Reino, que aparecerá como um ato apocalíptico na consumação dos tempos,
já entrou para a história humana na pessoa e missão de Jesus com a finalidade
de sobrepujar o mal, de libertar os seres humanos do seu poder e propiciar-
lhes a participação das bênçãos da soberania de Deus sobre suas vidas. O
Reino de Deus envolve dois grandes momentos: cumprimento no cenário da
história humana e consumação ao fim da história.[132]
2. A INAUGURAÇÃO DO REINO

Como visto no capítulo anterior, o Reino de Deus já esteve ativo nos dias do
Antigo Testamento. Deus agia com seu poder real para livrar e julgar o seu
povo. Mas, em um sentido bem real, o Reino de Deus precisava ainda ser
inaugurado sobre a terra. Assim, veio ou entrou para a história na pessoa e
missão de Jesus Cristo. Ainda antes de iniciar os seus ensinos através de
parábolas, Jesus fala do motivo pelo qual veio a este mundo, inaugurando
assim o Reino de Deus: “Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes.
Não vim chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento” (Lc 5.31-32;
cf. Mt 9.12.13; Mc 2.17). Assim, o Rei do Reino afirmava estar no mundo,
com um propósito bem específico – levar o homem a fazer parte do Reino.
Mas este processo não é tão simples quanto se possa pensar. Portanto, a
revelação a respeito do Reino precisava ser em etapas – um ensino
progressivo a respeito do Reino. Jesus começaria, então, a falar sobre o
processo do Reino.[133]
A - A Irrupção do Reino

Num primeiro momento, precisava ficar claro aos ouvintes de Jesus que o
Reino eterno invadiu a história humana, na pessoa e obra de Jesus Cristo. A
era vindoura irrompeu a era presente. Isto é claramente demonstrado na
primeira parábola que ele proferiu.
2.1 - O noivo e o jejum (Mt 9.14-15; Mc
2.18-20; Lc 5.33-34)

A primeira parábola relatada por Jesus foi proferida em função de críticas


que estava recebendo de algumas pessoas. Estas pessoas não criticavam
diretamente a Jesus, mas aos seus discípulos, que estavam comendo e não
jejuavam, como os discípulos de João e os fariseus. Para confrontá-las, Jesus
profere a parábola do noivo e do jejum. Os autores da Harmonia dos
Evangelhos colocam esta como a primeira parábola de Jesus, logo após
alguns milagres e o chamado de Levi. É na casa deste que se desenvolve o
diálogo com os seus críticos.[134]
O jejum tinha um lugar de honra no judaísmo do século I.[135] Era
obrigatório no dia da expiação, conforme o Antigo Testamento (Lv 16.29).
[136] As pessoas mais devotas criam dar prova de piedade especial ao jejuar
duas vezes por semana (Lv 18.12): nas segundas e nas quintas-feiras, das seis
da manhã às seis da tarde.[137] Mas, geralmente, o jejum chegava apenas a ser
um mero ritual. Jesus também jejuou em algumas ocasiões (Lc 4.2). Porém, o
Seu jejum não estava governado por um calendário e nunca jejuou com o
interesse de impressionar outras pessoas ou a Deus. Também não o esperava
de seus discípulos se não fosse uma abstenção espontânea, que refletisse um
desejo sincero.[138]
Uma pergunta fora feita.[139] Porém, os autores da mesma não se
arriscaram a achar falta diretamente em Jesus. Desta forma, questionaram:
“Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus
discípulos não jejuam?” (Mt 9.14; Mc 2.18; Lc 5.33). A resposta de Jesus é
feita através da parábola: “Podem, porventura, jejuar os convidados para o
casamento, enquanto o noivo está com eles?” Broadus observa que “a
palavra traduzida ‘podem’ é assim colocada para ser enfática. Podem segundo
a natureza das coisas? E o grego tem uma partícula própria, que indica que
uma resposta negativa deve ser esperada”.[140] Quanto à tradição judaica do
jejum, o mesmo autor complementa:
O Talmud declara que o noivo, seus amigos pessoais, e os filhos da câmara nupcial,
estavam isentos da obrigação de morar em cabanas durante a festa dos Tabernáculos, por não
serem estes adequados aos seus festejos; e não se esperava que eles assistissem às reuniões
regulares.[141]
Era, portanto, desnecessário participarem de qualquer jejum os
convidados para o casamento. Aqui Jesus se identifica com o noivo.[142] Já
nas profecias, o Messias era mencionado como o noivo (Sl 45, etc); e João
Batista empregou uma figura tirada das festas nupciais, para exprimir a sua
própria relação com Jesus (amigo do Noivo – Jo 3.29). Assim, esta figura
usada por Jesus era a mais apropriada para satisfazer seus ouvintes.
Trenchard comenta que João e seus discípulos jejuavam em sinal de
protesto contra a complacência de uma sociedade religiosa, porém
corrompida. Entretanto, a vinda do Senhor, depois da preparação de João, fez
tudo isso desnecessário. Este incidente, a respeito do jejum, deu lugar a que
Jesus ensinasse que Ele não havia vindo para melhorar o judaísmo, superando
suas obras religiosas, senão para fazer algo completamente novo, tanto na
forma externa como no conteúdo interno. Este ensino Jesus ilustra mediante a
parábola citada e as imediatamente posteriores.[143]
Nesta convicção, Jesus afirma que, enquanto o noivo está presente os
convidados não podem jejuar, mas diz que “dias virão em que lhes será
tirado o noivo, e nesse tempo jejuarão” (Mt 9.15b; Mc 2.20; Lc 5.35). Talvez
esta seja a primeira referência do evangelho à consciência que Jesus tinha de
que, mais cedo ou mais tarde, sofreria morte violenta, e de que, por certo
período, os seus discípulos mergulhariam num sofrimento que
inevitavelmente os faria abster-se de alimento.[144] Mas o ponto central está
no fato de que o noivo está presente. Schniewind, numa pequena mas
importante afirmação, diz que “o presente do tempo messiânico é o próprio
Jesus (Lc 12.8ss; Mt 11.5ss); assim nossa palavra não fala de casamento em
si, mas do noivo”.[145]
Também a expressão “υἱούς τοῦ νυμφῶνος” (hyious tou nymphonos),
traduzida por convidados do casamento, ou amigos do noivo,[146] é uma
“expressão hebraica que designa a presença do noivo”.[147] É neste sentido
que se entende o significado da parábola. O Noivo (Jesus) está presente, para
a irrupção do Reino; a inauguração do Reino de Deus está acontecendo, pois
o Rei deste Reino está presente entre eles.
B - O Valor do Reino

Num segundo momento, fala-se a respeito do valor desta nova concepção


em relação àquilo que as pessoas da época criam sobre Deus. Não significa
que tudo o que fora revelado até então não tinha valor, apenas que Jesus deu
uma nova e correta interpretação concernente ao reinado de Deus. Esta
verdade é desenvolvida e reforçada por duas parábolas.
2.2 - Remendo novo em vestes velhas
(Mt 9.16; Mc 2.21; Lc 5.36)

O contexto desta parábola é o mesmo da anterior.[148] Agora, Jesus


acrescenta uma parábola para salientar sua atitude a respeito dos rituais e
cerimônias nas quais os fariseus se condescendiam tanto. Afirmou que não
havia vindo para regulamentar os jejuns e as festas e nem para ratificar o
ritual judeu. Isto teria sido como remendar um vestido velho. Esta religião
cerimonial havia cumprido seu propósito. Porém, Jesus havia vindo como
algo novo e melhor. A vida de liberdade não “cabia” dentro dos formalismos
estreitos e dos ritos do judaísmo.[149]
A resposta de Jesus foi muito clara e direta. Ele não viera para salientar
as formas externas da velha ordem, ou da antiga dispensação, e sim para
inaugurar uma nova ordem que cumpriria aquilo de que a antiga era
simplesmente sombra e símbolo.[150] Tasker afirma que:
As duas ilustrações com que esta passagem termina indicam a percepção de Jesus, cada vez
mais definida, de que havia incompatibilidade entre o velho Israel, paralisado pela justiça própria
e sobrecarregado de vãs regulamentações, e o novo Israel humilhado pela consciência do pecado
e voltado com fé para Jesus, o Messias, para obter o perdão. A velha vestimenta não aguentaria a
veste nova.[151]
O termo grego “ἄγναφος”, traduzido simplesmente por (pano) novo, tem
um significado mais completo quando traduzido por “sem encolher, sem
branquear”.[152] Broadus comenta:
Uma parte do processo de preparar o pano para uso, consiste em contraí-lo; e um pedaço de
pano, não devidamente contraído, encolherá da primeira vez que se molhe, e como a fazenda
mais velha em torno dele teria que esticar para acompanhar o seu encolhimento, o resultado seria
uma rotura maior no vestido.[153]
Jesus sabia que nenhuma pessoa seria sábia se costurasse pano novo em
vestido velho. Os dois se separariam quando se molhassem. Jesus estava
dizendo que Ele tinha algo novo para dar ao mundo, o qual não podia ser
simplesmente absorvido pelo judaísmo. O novo que Ele trouxe transformava,
enchia e excedia ao judaísmo.[154] As palavras de Cristo são espírito e vida,
enquanto que a doutrina do judaísmo é forma e letra morta. O novo ensino do
cristianismo não pode ser ajustado ao vestido velho do judaísmo. O regime
das cerimônias legais já havia cumprido a sua missão, e iria terminar, e não
podia haver mistura entre o velho regime da lei e o novo regime do
evangelho (Hb 8.8-13).[155] “Estão em jogo conteúdo e forma. Ou seja, as
formas antigas não são capazes de conter Jesus!”[156]
2.3 - Vinho novo em odres velhos (Mt
9.17; Mc 2.22; Lc 5.37-38)

Jesus acrescenta mais uma parábola para reforçar a verdade anterior.[157]


Broadus explica a respeito do pano de fundo desta parábola ao explicar o
termo “ἀσκός”, traduzido por odre:
A palavra grega significa própria e exclusivamente peles para conterem líquidos, como os
orientais antigos e modernos usavam e usam. A pele é usualmente de cabra ou cabrito, que é
forte e flexível. Depois de cortados a cabeça e os pés do animal, é ele esfolado; a pele é
submetida a um curtume especial, para evitar todo o mau odor, depois é costurada, deixando uma
abertura em uma das pernas ou no pescoço. O lado peludo fica naturalmente para fora. Estas
peles ou, melhor, odres, são comumente usadas para o transporte de líquidos tais como vinho,
água, leite, azeite e são admiravelmente adaptados a tal fim. (...) Embora duráveis, as peles de
que eram feitos os odres estavam sujeitas a endurecimento e rompimento, se cheias de vinho
novo, que passaria pelo processo de fermentação (Comp. Sl 119.83; Jó 32.19).[158]
O vinho novo não se pode pôr em odres velhos. O cristianismo não cabe
em nenhum sistema de ritos e cerimônias. Não se deve interpretá-lo como um
conjunto de normas e exigências; não se deve confundi-lo com ritual algum.
O cristianismo governa os homens, não com regras, mas com motivos.[159] O
ensino de Jesus acerca do Reino de Deus requer ajustes radicais na maneira
de pensar de uma pessoa, imaginação criativa e visões novas do futuro. Algo
novo estava presente em Jesus. O ensino de Jesus compreende uma expressão
de vida, não a restrição dela.[160] Especificamente, Jesus quis dizer que não
imporia coisas como jejum, leis sobre os alimentos e a observação do sábado,
sobre seus discípulos. Seu propósito era dar vida em abundância e não
diminuí-la.[161]
Se o mosto em estado de fermentação for colocado em odres velhos e
fracos, estes se rebentarão. A força do vinho novo exige odres novos e
resistentes. A lição é paralela à anterior (do remendo novo em vestes velhas),
mas aqui se acrescenta o poder interno e espiritual da nova ordem que Cristo
havia vindo a estabelecer.[162] Broadus afirma que há, aqui, uma ilustração
viva da verdade geral, de que a combinação da Velha e Nova Dispensações
seria não apenas inconveniente, mas também prejudicial.[163] Dodd concorda
que as duas parábolas têm em comum o fato de que é em vão esforçar-se para
adaptar o velho e o novo. O ministério de Jesus não pode ser visto como uma
intenção de reformar o judaísmo; aponta algo completamente novo, que não
pode acomodar-se ao sistema tradicional. Afirmando-se de forma diferente:
“a lei e os profetas foram até João; desde este tempo é proclamado o Reino de
Deus”.[164] Pohl acrescenta:
Querer unir as duas coisas não tem sentido e não vai dar certo. A primeira ilustração nos
lembra, assim como a inclusão do “remendo em veste velha”, que coisas diferentes não ficam
juntas. A segunda mostra, como o acréscimo “vinho novo em odres novos!” enfatiza que coisas
iguais devem ficar juntas. Assim, a mesma ideia é gravada uma vez do lado positivo e outra vez
do negativo. Não é recomendável destrinchar as ilustrações como um mecânico de precisão, para
tentar descobrir as diversas especialidades. A duplicação serve unicamente para sublinhar a
mesma coisa.[165]
Há que se compreender que Jesus não desprezou o velho regime. Pelo
contrário, reconheceu-lhe o valor de tudo quanto é, em essência, necessário e
bom no velho regime. Apenas que o novo é novo; e o velho é velho. E não
deve ser misturado. A diferença que há entre o espírito do antigo sistema e o
espírito do novo é: o velho era forma e símbolo; o novo é espírito e real. Isso,
de modo algum, invalida o valor espiritual e a finalidade para que o velho
sistema foi dado. Jesus, no Sermão do Monte, demonstra, clara e
conclusivamente, a diferença que há entre o velho sistema e o novo. No novo,
a interpretação da lei é espiritual: não na letra, que mata, mas no espírito, que
vivifica. Portanto, a antiga dispensação já foi aplicada para a finalidade
proposta por Deus, de modo que a lei, sacrifícios e profetas duraram até João.
Daí em diante, vigora o evangelho da graça de Deus.[166] Rienecker comenta:
O Senhor Jesus não quer reformar o judaísmo como tal. Tampouco pensa em forçar a nova
vida para dentro das formas judaicas de jejum, de leis, ou do sacerdócio clerical. Não. Ele quer
criar e provocar algo inteiramente novo. Pois as formas velhas acabariam se rompendo sob o
novo modo de ser espiritual.[167]
Segundo o relato de Lucas, Jesus acrescentou uma frase muito peculiar,
indicadora de sua terna compaixão: “E ninguém que bebe do velho, quer logo
o novo; porque diz: o velho é melhor”. Os que por longo tempo se têm
acostumado a uma religião de formalismo, acham difícil contentar-se com a
religião de fé. Deve-se ter paciência com eles. Não lhes é fácil renunciar às
práticas aprendidas na infância e lhes leva tempo aprender o gozo e a
liberdade da maturidade espiritual que Jesus oferece a seus seguidores.[168]
Precisam experimentar o vinho novo, oferecido por Jesus, como aquele em
Caná da Galileia (Jo 2.1-12).[169]
C - A Influência do Reino

O passo seguinte constitui-se de como este Reino iria influenciar a vida dos
indivíduos que dele fizessem parte. Os efeitos do Reino, em termos de poder
transformador sobre aquele que se tornar membro do mesmo, passam a ser
esclarecidos nesta parte. Mais duas parábolas são apresentadas.
2.4 - Os dois fundamentos (Mt 7.24-27;
Lc 6.46-49)

Após um ensino sistemático a respeito do Reino, Jesus conclui com esta


parábola dos dois fundamentos. Imediatamente anterior à parábola, encontra-
se, tanto em Mateus quanto em Lucas, a exortação de Jesus àqueles que lhe
chamam “Senhor, Senhor”, mas que não fazem o que lhes manda[170] (Lc
6.46). Mateus ainda acrescenta que só entrará no Reino do Céu aquele que
colocar em prática a vontade do Pai, e que muitos, mesmo tendo profetizado,
expulsado demônios e feito milagres, não entrarão porque não terão sido
conhecidos por Jesus, ao não praticarem a Sua Palavra (Mt 7.21-23).[171]
Para que haja uma melhor compreensão deste conceito é que Jesus relata a
parábola dos dois fundamentos, com a qual ele conclui seu ensino ético a
respeito do Reino.[172] Broadus comenta:
Em uma região de pedra calcária como a Galileia, basta só cavar-se um pouco para se achar
uma camada de rocha sólida. É muito comum ali mesmo agora, abrirem-se alicerces até a rocha e
neles assentar os fundamentos das casas a construir. Seria ocioso dizer que aqui a rocha significa
Cristo, porque em outros lugares assim ele é figurado. (...) O pensamento aqui é, evidentemente,
o de uma pessoa que assenta a sua salvação sobre o bom fundamento da obediência, e não sobre
a mera profissão; não por ouvir apenas os ensinos do Salvador, mas por agir segundo eles (...)
Caindo a chuva (como consequência) formaram-se rios (torrentes montanhosas rolando pelas
encostas e se avolumando em torno da casa)[173], e estes, levando a terra, deixaram os alicerces
da casa a descoberto; então os ventos sacudiram a casa, mas esta não caiu, porque estava assente
sobre a rocha. (...) A areia refere-se à superfície móvel do terreno, ou talvez, à areia acumulada
em alguma parte da encosta da montanha, que dá a aparência de firmeza, mas que está sujeita a
ser arrastada por uma próxima enxurrada. Arrastados os alicerces da casa, ela cairá certamente
com grande fragor, ficando reduzida a escombros.[174]
O prudente foi prevenido e construiu sua casa sobre solo firme. A rocha
é o próprio Cristo e seus ensinos. O sermão está dirigido àqueles que têm
crido nEle. A conduta obediente inclui tanto o dizer como o fazer. Já o
homem insensato, edificou sobre solo arenoso. Era um homem descuidado e
imprevisto. Vieram ventos, chuvas, tempestade e a casa caiu. Caiu porque
estava fundada sobre seus próprios esforços. O construtor mesmo teve a
culpa, já que, havendo ouvido a palavra de Jesus, não quis tomá-la em conta e
não a obedeceu nem a praticou; portanto, sua ruína foi completa. Rienecker
conclui:
Tudo depende de pôr em prática o que Jesus disse. Somente é sensato aquele que transpõe a
palavra do Senhor para a prática. Quem apenas ouve e não age, é tolo. Ouvir apenas proporciona
uma posse aparente, que se quebra justamente quando deve ser comprovada. Porém, para aquele
ouvinte que realiza o que ouviu, a palavra de Jesus se torna um poder e uma força bendita. Esse
realizar transforma-se num bem interior e numa riqueza interior que se iguala a uma casa
fundamentada sobre uma rocha e que superará as provações, mesmo nas mais fortes tempestades
e torrentes de angústias e tribulações.[175]
Se as palavras sem ação já haviam sido condenadas (Mt 7.21-23; Lc
6.46), agora é condenado também o ouvir sem ação. As duas maneiras de
preservação e destruição são vividamente descritas. Esta combinação de
exortação e admoestação é uma conclusão adequada para o sermão.[176] A
parábola e seu contexto ilustram adequadamente a advertência de Jesus:
“Profissão de fé sem a consequente mudança no modo de viver é vazia. As
meras obras, todavia, por si só não salvam; é necessário ter um
relacionamento genuíno com Jesus”.[177]
Kistemaker afirma que a “parábola chama a atenção, indiretamente, ao
julgamento de Deus, que todos, quer prudentes ou insensatos, terão de
enfrentar. O prudente que construiu sua fé, baseado em Jesus, está apto a
resistir às tempestades da vida”.[178] Descreve, na verdade, o contraste entre a
perdição eterna do falso e a estabilidade e triunfo do verdadeiro.[179]
Broadus lembra que a expressão “estas minhas palavras”, tem referência
direta e imediata ao Sermão do Monte, mas de fato abrange todos os Seus
ensinos.[180] Dodd afirma que não se trata de um simples contraste entre ouvir
e fazer. Os ouvintes imediatos das palavras de Jesus seriam, ao não tomá-las
em conta, tão insensatos como um construtor que escolheu um terreno
arenoso, sem base sólida.[181] A nova dispensação inaugurada por Cristo não
é uma nova filosofia, teórica como todas as demais. É antes uma
demonstração de vida, de ação e obediência aos ensinamentos do Rei do
Reino.
2.5 - Os dois devedores (Lc 7.36-50)

O episódio no qual é narrada a parábola dos dois devedores segue


imediatamente à ocasião em que Jesus é acusado de ser glutão e bebedor, e
amigo de publicanos e pecadores (Lc 7.34).[182] Observando-se o contexto
imediato da parábola (v.36-50), vê-se que a primeira parte do texto contém a
razão porque Jesus relatou a parábola. A parte posterior contém o ensino que
Jesus quis dar por meio dela. Jeremias sugere que é possível que Jesus tivesse
pregado naquela manhã, antes de ter lugar o episódio que a história relata.
Provavelmente esta pregação tenha impressionado o anfitrião, os hóspedes e
um hóspede não convidado – uma mulher.[183]
Robertson lembra que esta mulher não pode ser confundida com Maria
Madalena nem com Maria de Betânia. Maria Madalena aparece apenas em Lc
8.2 e Lucas não teria nenhum motivo para ocultar o seu nome aqui. Também,
a vida de uma cortesã era incompatível com uma mulher possessa de sete
demônios. Em relação a Maria de Betânia também não se pode fazer
equívocos, pois aqui é o fariseu Simão que convida Jesus para a sua casa,
enquanto o outro episódio acontece na própria casa de Maria, em Betânia (Jo
12.1-2).[184]
Bailey pressupõe que, após Jesus pregar naquela manhã, Ele é
convidado para um banquete com os “teólogos locais”.[185] Espera-se que
haja discussão acesa acerca de algum tema teológico de interesse mútuo.
Todavia, ninguém poderia ter previsto as dramáticas surpresas que lhes
estavam reservadas.[186] Kistemaker observa a cena:
O anfitrião, porém, foi negligente, esquecendo-se das regras comuns de cortesia, não
beijando Jesus, nem lavando seus pés ou ungindo com óleo perfumado a cabeça. Chegou-se
Jesus a mesa e, como os outros convidados, tirou as sandálias. À maneira típica da época, os
convidados se reclinavam em divãs ao redor da mesa, apoiando-se sobre o braço esquerdo e
mantendo livre a mão direita para se servir da comida e da bebida, e seus pés ficavam
estendidos, afastados da mesa. (...) Durante a refeição, chegou uma mulher, que morava naquela
cidade e que era conhecida pela sua moral duvidosa. Ela caminhou rapidamente para perto de
Jesus, pretendendo lhe oferecer um vaso de alabastro, cheio de unguento perfumado.[187]
Camargo, por sua vez, descreve a atitude da mulher pecadora:
O ato expressivo da mulher é “um canto sem palavras”, no regar os pés com lágrimas, no
enxugá-los com os cabelos, no beijar e ungi-los com unguento. Tudo aquilo que antes era
profanação na sua conduta ilícita se transforma em ato de consagração e adoração. Dos olhos
impuros pela cobiça, saem lágrimas de contrição e arrependimento; dos cabelos que antes eram
ornato para a sedução, faz uma toalha para nobre serviço; dos lábios de beijos impudicos, desata
o ósculo santo de sua devoção sincera; do unguento usado no seu toucado profano desprende o
incenso de sua gratidão, a oferta de sua afeição pura. Tudo foi estranho para o fariseu que,
encastelado na sua justiça própria, não podia imaginar o efeito da regeneração numa alma
pecadora.[188]
Kistemaker lembra que do ponto de vista de Simão, aquele era um
incidente muito embaraçoso. Se a mulher tivesse comprado o perfume tão
caro com o dinheiro ganho na prostituição, o presente seria impuro. Além
disso, a mulher desatara seu cabelo, estando na companhia de homens;
agindo assim, mostrara que espécie de mulher era, pois “era contra os bons
costumes que uma mulher soltasse seus cabelos em público”.[189]
Diante desta cena, o hospedeiro teve uma pequena conversa de
desaprovação consigo mesmo. A forma de frase condicional que empregou
(“se este fora profeta...”[190]) dá a entender, em grego, que Jesus não era
profeta e que não sabia quem e qual era a mulher que lhe tocou. Jesus passou
a corrigir estes conceitos falsos. O fariseu não falara em voz alta, mas Jesus
respondeu aos pensamentos dele. Mostrou quem e que tipo de homem Simão
era. Começou avisando que tinha uma coisa a dizer. Assim, recebeu a
atenção de Simão.[191]
Jesus contou então a pequena história de um agiota que tinha dois
devedores. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. Jesus
conhecia exatamente o que se passava na mente de Simão e que iria associar
a mulher àquele que devia quinhentos denários. Simão, com certeza, achava
que ela era dez vezes mais pecadora que ele. Talvez admitisse ser pecador,
mas não tanto quanto a mulher.[192]
Nenhum dos dois devedores, na história de Jesus, tinha fundos para
pagar ao agiota. Aconteceu, então, o inesperado. O credor cancelou a dívida
de ambos. “Qual deles, portanto, o amará mais?” – Jesus perguntou a Simão.
Simão, meio relutante, respondeu: “Suponho que aquele a quem mais
perdoou”.[193] De repente, percebeu que a parábola o envolvia também. Ele
sabia que Jesus não tinha terminado a história. A aplicação, inevitavelmente,
se seguiria para explicar a presença da mulher, a atitude de Jesus em relação a
ela, e o papel de Simão como anfitrião.
“Vês esta mulher?” – perguntou Jesus. Naturalmente que Simão via a
mulher, mas Jesus queria que ele a visse em uma dimensão espiritual. Os
olhos de Simão estavam cegos, pois, enquanto a olhava como pecadora,
deixava de vê-la como alguém de quem os pecados haviam sido perdoados.
Sua auto justificação bloqueava sua visão. Em sua opinião, a mulher era
apenas uma pecadora.[194] Morris, citando Morgan, diz que “Simão não
conseguiu ver aquela mulher conforme então era, porque olhava-a conforme
tinha sido”.[195] Simão recusou-se a aceitar o arrependimento dela, e decidiu-
se a continuar rejeitando por ser pecadora. Ibn al-Tayyib faz a seguinte
consideração:
E os dois devedores referem-se a dois tipos de pecadores, um é um grande pecador como a
mulher, e o outro é um pequeno pecador como o fariseu. Com a frase “um pequeno pecador” Ele
dá a entender o pecado propriamente dito, ou refere-se ao conceito que ele (Simão) tem da sua
própria perfeição. Este conceito lhe rouba a virtude e a percepção de que aquele a quem mais é
perdoado, ama mais. De fato, Ele lhe contou (a Simão) esta parábola com o objetivo de reprovar
o fariseu pelos sentimentos que ele abrigara no peito contra qualquer contato com pecadores, e
demonstrar-lhe que o amor daquela mulher por Ele é maior do que o amor dele, por causa do
transbordamento da Sua graça para com ela.[196]
Simão não soube expressar a gratidão, porque não teve, no seu
farisaísmo, a compreensão verdadeira de seu estado espiritual; não
reconheceu o valor do perdão, porque não sentiu a grandeza da sua culpa.[197]
Godet assim se expressou: “O que falta no melhor de nós a fim de amar
muito não é o pecado, mas o conhecimento dele”.[198] A convicção de que os
pecados foram perdoados é a fonte principal donde nasce o amor a Cristo.[199]
Só quem se aproxima de Cristo, e reconhece a grandeza de sua bondade e
misericórdia, é que pode ter a consciência de seu pecado e de sua
indignidade. Tal é a influência que o Reino exerce sobre a vida de um
indivíduo.
D - A Semeadura do Reino

Após esclarecer sobre a irrupção, o valor e a influência do Reino, Jesus


ensina como efetivamente o Reino seria fundado sobre a terra, em termos da
entrada do homem no mesmo. Este processo é descrito como uma semeadura.
2.6 - O Semeador (Mt 13.3-23; Mc 4.3-
20; Lc 8.5-15)

Segundo o evangelho de Mateus, esta parábola e as seguintes foram


proferidas junto ao mar de Genesaré ou da Galileia, perto de Cafarnaum,
tendo diante de si a planície de Genesaré.[200] Faziam parte daquela planície
diferentes qualidades de terreno ou solo, por onde se estendia a multidão ali
reunida como num anfiteatro natural, vinda das partes circunvizinhas. O
barco servia a Jesus como uma tribuna sacra, de onde proferia seus ensinos
sobre o Reino de Deus.[201]
Cultivar a terra era relativamente fácil nos dias de Jesus. Embora a
parábola não conte nada a respeito de métodos de cultivo, sabe-se, a partir do
Antigo Testamento (Is 28.24,25; Jr 4.3 e Os 10.11-12) e dos escritos dos
rabinos que, no final de um longo e quente verão, o fazendeiro ia para o
campo semear trigo e cevada sobre o solo endurecido. Então, ele arava a terra
para cobrir a semente e esperava que a chuva do inverno viesse fazer
germinar os grãos.[202] Kistemaker afirma:
Na parábola de Jesus, o lavrador partiu para o campo levando seu suprimento de grãos
numa bolsa que trazia a tiracolo. Com passos ritmados lançava a semente em faixas, pelo campo.
Não se preocupava com os poucos grãos que caíam à beira do caminho, nem com aqueles que
eram lançados em terra pouco profunda, onde as rochas despontavam. Também não se
preocupava com o trigo caído entre os espinheiros que cresceriam na primavera, abafando as
sementes.[203]
Há que se notar que os grãos são igualmente bons em todos os casos e o
labor do semeador também é igual. O que produz a variação no resultado é a
condição do solo.[204] Cada solo possuía uma característica especial. Quanto
à semente que caiu à beira do caminho, sabe-se que, na Galileia, não havia
lavouras amplas. Como lençóis estreitos, elas volteavam pelas encostas e
tinham de ser contornadas pelos transeuntes, que deixavam suas trilhas aqui e
acolá. Esses lençóis o agricultor, de forma alguma, podia considerar ao lançar
a semente, também não ao virá-la em seguida. Essas sementes eram pisadas
quando os caminhos se formavam de novo, ou descobertas com mais
facilidade pelas gralhas, no curto intervalo entre a semeadura e a viração[205].
E assim, as aves vieram e comeram.[206]
A segunda parte das sementes caiu em solo rochoso. Nesta região da
Galileia havia numerosos lajeados de calcário, que muitas vezes eram
cobertos somente por uma camada fina de solo arável. Este tipo de solo
estava umedecido, pela manhã, pelo orvalho forte e oferecia ao grão da
semente, apesar da noite fresca, uma condição favorável à germinação, pois o
subsolo pedregoso ainda refletia o calor do sol do dia anterior. Assim, a
semente logo nasceu; mas, porque o solo não era profundo, logo secou
devido ao calor do sol. Faltava, agora, a proteção contra o calor e as reservas
de umidade que o solo mais profundo fornece.[207]
Os espinhos, da terceira parte de sementes, representam ervas daninhas
espinhosas em geral. Algumas dessas ervas possuem raízes de até 30
centímetros de profundidade, difíceis de serem arrancadas. Normalmente, o
agricultor só as queimava por cima no outono, de forma que, em pouco
tempo, brotavam novamente, com vantagem diante da semeadura de cereal.
Às vezes, estas ervas formavam uma espécie de cerca viva fechada, no meio
da qual alguns pés de cereal até conseguiam crescer, mas ficavam medíocres
e não carregavam a espiga. Assim, os espinhos cresceram e a sufocaram, e
não deu fruto.[208]
No último caso descrito na parábola, pode-se contemplar o processo
normal de crescimento, impedido nos outros casos, até a sua colheita em
abundância, produzindo a trinta, sessenta e cem por um.[209] Quanto a esta
colheita, Kistemaker esclarece:
Um lucro médio, naqueles dias, podia ser menos que dez por um. Se tivesse um retorno de
trinta por um, ou uma colheita mais favorável que rendesse sessenta por um, seria um
acontecimento excepcional. Muito raramente ele conseguiria colher a cem por um (Gn 26.12).
Certamente o semeador não estava interessado nos grãos que perdia enquanto semeava. Sua
esperança estava no futuro, na colheita, que ele esperava com ansiedade.[210]
Nesta parábola há a vantagem de que Jesus mesmo faz a interpretação,
como resposta a um pedido dos seus discípulos.[211] Esta é a interpretação
que Jesus dá à parábola do semeador:
- A semente é a palavra de Deus (Lc 8.11);
- Os da beira do caminho são aqueles que ouvem a palavra, mas não a
compreendem (Mt 13.19), vem Satanás[212] e arrebata-lhes o que foi semeado
no coração, para não suceder que, crendo, sejam salvos (Lc 8.12);
- Os do solo rochoso são aqueles que ouvem a palavra e a recebem com
alegria[213]; mas, por não terem raiz em si mesmos, são de pouca duração
(creem somente por algum tempo - Lc 8.13). Quando chega a angústia e a
perseguição (provação - Lc) por causa da palavra, logo se escandalizam[214]
(se desviam - Lc);
- Os do solo espinhoso são aqueles que ouvem a palavra; mas os
cuidados do mundo, a fascinação das riquezas, as ambições (Mc 4.19) e os
deleites da vida (Lc 8.14), sufocaram a palavra, ficando infrutífera (seus
frutos não chegaram a amadurecer - Lc);
- Os da boa terra[215] são os que ouvem a palavra e a compreendem (Mt),
recebem (Mc), e retêm de bom e reto coração (Lc); estes frutificam com
perseverança (Lc), e produzem a trinta, sessenta e cem por um[216].
Erdman lembra que, para que a verdade produza efeito, depende do
estado espiritual dos ouvintes. A parábola às vezes é chamada de parábola
dos terrenos, porque ilustra os diversos estados de coração que se encontram
entre os homens a quem chega a mensagem do evangelho.[217] Para Martínez,
a parábola do semeador foi contada para mostrar a origem e o
desenvolvimento (progressão) do Reino pela ação da Palavra, apesar de todos
os obstáculos.[218] Tasker conclui seu comentário a respeito desta parábola da
seguinte maneira:
A inauguração do Reino por Jesus, o Messias, já se deu, mas os sinais externos da sua
presença ainda são escassos. Ele está aqui, mas não com poder irresistível. Os homens podem
rejeitá-Lo, e de fato O rejeitam. Na verdade, só o podem aceitar aqueles cujos corações foram
preparados para recebê-Lo, exatamente como as sementes podem resultar em boa colheita
somente quando semeadas em terreno preparado para a sua fertilização. Este é o ponto essencial
da parábola do semeador.[219]
Ladd confirma esta ideia, ao afirmar que a mensagem central da
parábola é que “o Reino de Deus veio ao mundo para ser recebido por alguns,
mas rejeitado por outros. O Reino na época presente terá um sucesso apenas
parcial, e este sucesso é dependente de uma resposta humana”.[220]
Ladd continua:
O Sitz im Leben da parábola é a proclamação de Jesus de que o Reino de Deus havia se
manifestado entre os homens. Os judeus pensaram que a vinda do Reino significaria o exercício
do extraordinário poder de Deus perante o qual nenhum indivíduo poderia permanecer. (... Mas)
ele agora não é manifestado por uma demonstração de poder apocalíptico irresistível. Pelo
contrário, o Reino, em sua atuação presente, é como um fazendeiro lançando as sementes. (...) O
Reino está operando quieta e secretamente entre os homens. Ele não se impõe pela força sobre
eles; deve ser recebido volitivamente. Mas onde quer que seja recebida, a palavra do Reino, que
é praticamente idêntica ao próprio Reino, produz muito fruto. Não há ênfase sobre a colheita,
quer na parábola, quer na sua interpretação. A única ênfase é sobre a natureza da semeadura; a
ação presente do Reino de Deus.[221]
E - A Manifestação do Reino

Uma vez inaugurado o Reino, ele estará influenciando as pessoas que dele
se tornam membros, ao receberem a palavra (a semente). É neste processo
que o Reino de Deus começa a se manifestar no mundo. Esta verdade é
ilustrada com duas parábolas – a parábola da candeia e a da semente.
2.7 - A Candeia (Mc 4.21-23; Lc 8.16-
17)

Em ambos os evangelhos (Mc e Lc), a parábola da candeia aparece logo


após a explicação da parábola do semeador.[222] Nesta, Jesus começou
afirmando que “a vós outros é dado conhecer o mistério do Reino de Deus”
(Mc 4.11; Lc 8.10). Agora, na parábola da candeia, Jesus diz que “nada está
oculto, senão para ser manifesto”, mostrando que há uma relação entre estes
textos.
O objeto em questão é uma lâmpada simples de barro, que usava óleo
como combustível e não podia faltar em nenhuma casa. Era colocada sobre
um pedestal de metal ou de madeira, para fornecer um pouco de luz para toda
a casa de um só cômodo. Alqueire pode significar “medida”, “utensílio para
medir”, mas, neste caso, é uma palavra antiga para “recipiente”. A palavra
cama, por sua vez, significa no máximo uma esteira primitiva, pois deve-se
pensar em condições de vida simples.[223]
Aqueles que ouviram a parábola do semeador poderiam muito bem
perguntar em seus corações: “Se muitos não irão dar ouvidos ao testemunho
acerca das coisas de Deus, por que se dar ao trabalho de testemunhar estas
coisas?”[224] Brown diz que Jesus usa esta cena comum para falar acerca da
presente ocultação do Reino de Deus. Jesus quis dizer que o Reino de Deus
parecia insignificante até aquele momento.[225] Mas interessante observar, em
Marcos, o fato de o evangelista afirmar que a lâmpada “vem” (4.21). Esta
vinda misteriosa da lâmpada é como se fosse uma pessoa. Pohl tenta
esclarecer este detalhe:
“Vir” muitas vezes é um termo com nuances messiânicas: Deus vem, seu reinado vem, o
Messias vem (cf 1.7,24,38; 2.17; 9.1; 10.45; 11.10; 14.62). Este sentido é muito provável aqui já
que se fala da vinda da candeia, difícil de separar do simbolismo da luz. (...) Ela vem na pessoa
do Servo de Deus, que Deus tornou em “luz para os gentios” (Is 42.6; 49.6). Especialmente João
anuncia o cumprimento em linguagem de luz. Segundo Jo 12.46 (cf 3.19), Jesus une luz com “vir
para o mundo”: “Eu vim como luz para o mundo”.[226]
A candeia “vem” para dentro do quarto escuro, naturalmente não para
ser colocada sob um alqueire, pois apaga-se uma luz encobrindo-a com um
alqueire ou até debaixo da cama. A candeia tem que ir para o velador.[227]
Importante, na pergunta de Jesus, é o destaque da intenção com para,
repetido na segunda metade da pergunta dupla e mais duas vezes, na
explicação subsequente. Se uma pessoa normal já não leva uma lâmpada para
o escuro com a intenção de ocultar seu brilho e manter a escuridão, quanto
menos Deus, que é luz e só luz.[228]
O reinado de Deus proclamado por ele é realmente reinado de Deus e,
por isso, alcançará toda a criação. Assim, como a água cobre o fundo do mar
sem deixar de fora um único trecho, a realidade de Deus preencherá o
universo (Is 11.9; 1 Co 15.28). O que parecia ser assunto interiorano, caseiro,
torna-se questão universal. O tempo no solo escuro é essencial ao grão, se
quiser um dia balançar à luz do sol a espiga carregada.[229] O Reino de Deus
começa realmente a se manifestar.
2.8 - A Semente (Mc 4.26-29)

Tem-se aqui uma parábola peculiar a Marcos, omitida pelos demais


evangelistas, e que, segundo Ladd, “ilustra o caráter sobrenatural do Reino de
Deus”.[230] Segundo a Harmonia dos Evangelhos, a parábola da semente
está inserida imediatamente após a parábola da candeia, supramencionada, e
vem reforçar a mesma verdade.[231] A identidade do semeador e do ceifeiro
não deve se constituir em problema, pois a mensagem da parábola tem a ver
com a atividade do Reino, e não com a identidade do semeador.[232] Pohl
apoia esta ideia, ao afirmar que “a parábola fala do semeador sem demonstrar
qualquer interesse em sua identidade: ‘um homem’ lançou as sementes na
terra. Não é possível ser mais geral e descorado. (...) É evidente que a
parábola não tem seu cerne nesta pessoa”.[233]
O fato de um homem semear a semente não significa outra coisa a não
ser que a semente é lançada. O sono e o despertar do semeador[234] quer dizer
que o homem não pode contribuir para a vida e o crescimento da semente.
[235] Seria errado pensar que aqui se está diante de um exemplo de “agricultor
preguiçoso”, indiferente com a semeadura. Acontece exatamente o contrário:
ele é indiferente com a semente. Aquilo de que ela precisa, agora, que é o
crescimento, é Deus quem dá. A semente germina e cresce, não sem Deus,
mas sem o agricultor; não só sem sua ajuda, mas até sem seu conhecimento:
“não sabendo ele como” (v.27).
O mistério do crescimento segue deixando perplexos agricultores e
cientistas, mesmo com todo o moderno conhecimento. Porém, os secretos
processos da natureza não deixam de funcionar pelo fato da ignorância do
mecanismo. Este crescimento secreto e misterioso do Reino no coração e na
vida é o ponto central desta parábola dada somente por Marcos. “Quando o
homem faz a sua parte, o processo de crescimento em marcha está além do
seu alcance ou compreensão”.[236]
Pohl é da opinião de que a parábola tem seu ponto central até o v.27, e
que o v.28 não avança mais, mas só explana o tema atingido no v.27, que é o
fruto que o grão deu.[237] Concorda-se com a opinião deste autor, no sentido
de o ponto central estar no v.27, discordando um pouco da essência do
mesmo; o versículo fala em germinação e crescimento, ou seja, o Reino até
então oculto se manifesta. Para Ladd, a expressão “por si mesma” denota que
a semente tem, inerente à sua natureza, poderes que o homem não colocou ali
e que transcendem completamente qualquer coisa que ele possa fazer. O
homem pode semear a semente, mas o Reino em si é ato de Deus.[238] Neste
sentido, conclui-se que o ponto central desta parábola é a manifestação do
Reino de Deus. Pohl afirma ainda que a expressão “por si mesma” do
versículo 27, que exclui a atividade e a responsabilidade humanas, destaca a
intervenção direta de Deus. Nem a terra, nem a semente dispõem de vida
própria. A semente só cresce “por si mesma” no tocante à independência do
ser humano, mas ela é acionada por Deus. A expressão conscientiza do poder
incrível de Deus.[239] Da mesma forma, a irrupção e consequente
manifestação do Reino de Deus só pode ser ação do próprio Deus.
D’ - A Semeadura do Reino

Após o auge atingido na “manifestação do Reino”, o ensino de Jesus retoma


os mesmos aspectos abordados anteriormente (subponto D), desta vez em
ordem inversa. Fala-se, portanto, novamente da semeadura do Reino. Agora,
é acrescido um novo detalhe do processo da semeadura, ou seja, de que,
enquanto o Reino de Deus está ativamente sendo fundado sobre a terra, o
inimigo está paralelamente trabalhando também, tentando perturbar a ação e
obra do Reino.
2.9 - A Parábola do Joio (Mt 13.24-
30,36-43)

Esta é uma parábola peculiar a Mateus. Camargo afirma que é ainda do


barco, que lhe servia de púlpito, e com o mesmo auditório de uma imensa
multidão, que Jesus propõe esta parábola do trigo e do joio, e dá em separado,
a seus discípulos, a pedido destes, a sua interpretação autêntica.[240] Nela,
Jesus relata a história de um homem que semeou boa semente no seu campo.
Assim que ele acaba de semear o trigo de inverno, veio seu inimigo e semeou
o joio por sobre o trigo.[241] Ninguém poderia saber, até a chegada da
primavera, que o joio estava crescendo entre o trigo. Era comum, no Oriente,
maldades como esta, de semear inço no campo de um vizinho. Até o direito
romano contém determinações contra tais ocorrências.[242] Rienecker,
citando Dalmann, dá um exemplo real parecido ao desta parábola:
Um agricultor pobre, que havia levado para pastar o seu gado numa terra alheia, foi
denunciado por um terceiro ao proprietário da terra. O denunciado relata pessoalmente como se
vingou do denunciante: “No fim do verão desci ao vale, no qual há juncos da altura de uma
pessoa e com vagens de sementes semelhantes ao grão de capim africano. Colhi as vagens até
encher a capa, passei as suas pontas pelas aberturas dos braços (da capa sem mangas), debulhei e
soprei as sementes, e fui até a lavoura de Abu Jasin, que recém fora lavrada, e semeei nela as
sementes do junco. Antes do ano seguinte, a lavoura estava bem cheia de juncos. Daquele dia até
hoje passaram-se vinte anos sem que o proprietário pudesse rasgar um sulco sequer naquela
terra, por causa da quantidade de juncos. As oliveiras (que havia ali) secaram, e ele as cortou”.
[243]
Nesta hora, no entanto, é impossível tentar resolver o problema. Na
parábola, os empregados do fazendeiro o alertaram sobre o problema e até
mesmo mostraram vontade de fazer algo a respeito. O fazendeiro lhes explica
que um inimigo tinha feito aquilo e que deveriam deixar tudo como estava até
à ceifa. Então, os ceifeiros receberiam instruções para colher o joio e atá-lo
em feixes, e para recolher o trigo no celeiro.[244] Aqui, tem-se outra parábola
com interpretação natural, dada pelo próprio Senhor Jesus. Alguns autores,
como no caso da parábola do semeador, contestam a sua interpretação,
afirmando não ser autêntica, mas uma alegorização por parte de Mateus ou,
ainda, da Igreja Primitiva. Sabendo-se, porém, que Cristo não esteve preso a
regras de hermenêutica do século XX, e pôde, portanto, interpretá-la
conforme quis ensinar, não há razão para rejeitá-la. Assim, a interpretação da
mesma já está feita. Transcrevendo literalmente, sua interpretação foi:
O que semeia a boa semente é o Filho do homem; o campo é o mundo; a boa semente são
os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a
consumação do século; e os ceifeiros são os anjos. Pois, assim como o joio é colhido e lançado
ao fogo, assim será na consumação do século. Mandará o Filho do homem os seus anjos que
ajuntarão do seu Reino todos os escândalos, e os que praticam a iniquidade, e os lançarão na
fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol,
no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça. (Mt 13.37-43).[245]
Fuente afirma que não se deve lançar fora da igreja os falsos cristãos,
pois é fácil cometer equívocos. Poder-se-ia lançar fora alguns que realmente
são filhos de Deus ou outros que talvez viriam a ser mais tarde[246]. Mas, por
outro lado, a igreja deve cuidar-se muito quando recebe novos membros.
Deve-se estar seguro de que sejam crentes verdadeiros.[247] É verdade que a
igreja contém pessoas boas e más, e que o Reino existe no mundo através da
Igreja. Entretanto, a parábola diz que o campo é o mundo, e não a igreja.[248]
Portanto, a parábola não está tratando do tema ‘disciplina na igreja’ como
muitos a interpretam. Para isso, outros textos tratam o assunto claramente,
como por exemplo Mateus 18.15-18.
Assim, Ladd comenta a parábola em termos do mistério do Reino:
O mistério do Reino: sua atuação presente, mas secreta, no mundo. O Reino veio para a
história, mas de tal modo que a sociedade não foi dividida. Os filhos do Reino têm aceito o seu
poder e partilham de suas bênçãos. Contudo, eles devem continuar a viver, nesta era, misturados
com os ímpios, numa sociedade de composição mista. A separação ocorrerá somente na
consumação escatológica do Reino. Neste fato está com efeito a revelação de uma nova verdade:
que o Reino de Deus realmente já veio ao mundo, criando filhos que desfrutam as suas bênçãos,
sem que tenha efetuado por hora o julgamento escatológico. Entretanto, a vinda desta separação
é certa. O Reino que está presente, mas oculto no mundo, ainda será manifestado em glória.
Então esta sociedade de composição mista terá o seu fim. Os ímpios serão reunidos fora do
Reino e os justos resplandecerão como o sol no Reino escatológico.[249]
Kistemaker comenta ainda que o campo pertence ao fazendeiro – Jesus.
Nesse campo, crescem o trigo e o joio. Não importa onde o homem viva na
terra: onde quer que viva estará em propriedade que pertence a Jesus. Ele é,
ou trigo, ou joio. Um ou outro. Ele é filho do Reino ou filho do maligno.
Tanto o trigo quanto o joio estarão maduros quando o dono das terras enviar
os ceifeiros para o campo.[250]
C’ - A Influência do Reino

Outro aspecto retomado por Jesus, dentro do processo de inauguração do


Reino de Deus, é a influência do mesmo. Neste segundo momento, num
paralelo ao item C, reforça-se a questão do poder transformador do Reino,
especialmente sobre a sociedade como um todo. É claro que esta influência é
consequência do efeito sobre a vida de cada indivíduo que compõe o Reino.
Estes indivíduos, membros do Reino, irão influenciar o mundo como um
todo. Duas parábolas são aqui mencionadas.
2.10 - A Semente de Mostarda (Mt
13.31-32; Mc 4.30-32)

Enquanto a ênfase da parábola do semeador estava no processo de


semeadura, e a da parábola da semente no crescimento da mesma, esta
parábola do grão de mostarda enfatiza o seu resultado final. Quanto ao
semeador do versículo 3, que empalideceu para “um homem” no versículo
26, desaparece completamente nesta última parábola da semente de mostarda.
Também o crescimento, que nas duas primeiras parábolas é desenvolvido em
todos os seus estágios, aqui o texto grego o resume simplesmente pela
palavra “cresceu”.[251]
Jesus prossegue[252] para exortar seus ouvintes no sentido de não
perderem o ânimo diante de poucos ou pequenos resultados, nem diante do
crescimento vagaroso do Reino de Deus no coração humano. Seu próprio
ministério terrenal teve um começo relativamente insignificante e apagado,
mas que viria tempo em que Suas palavras seriam valorizadas e estimadas, e
o Seu nome seria adorado e o Seu toque vivificante seria sentido em todo o
mundo.[253]
Jesus não diz nada a respeito da qualidade da mostarda, pois poderia ter
mencionado seu uso na comida e nos remédios, sua cor e seu gosto, mas este
não era o propósito da parábola. Ao contrário, a ênfase que Jesus dá, nesta
parábola, é a diferença entre o pequenino grão e a grande árvore.[254]
Neal lembra que, para aquele tempo, a semente de mostarda era
considerada pelos judeus como a semente mais pequena entre todos os grãos,
sendo inclusive usada pelos rabinos como um provérbio para expressar a
pequenez e a insignificância de alguma coisa.[255] Não se sabe exatamente
qual planta se tem em mente, mas a maioria dos autores concorda com a
sinapis nigra. Ela não é realmente uma árvore, conforme o relato de Lucas
(Lc 13.18-19), mas, em condições favoráveis, pode atingir uma altura de até
4 metros. A planta é tão grande que até as aves fazem ninhos em seus ramos.
[256]
A ênfase parecer ser, portanto, o resultado final e não o seu crescimento,
que é esclarecido em outras parábolas. Muitos ainda querem considerar esta
parábola como uma previsão do crescimento da igreja, ao ponto de se tornar
uma grande instituição. Esta interpretação baseia-se na identificação do Reino
com a Igreja. Porém, Stagg afirma que “o Reino de Deus é o seu governo
real. O Reino não é a igreja, mesmo em seu aspecto universal. A igreja é a
comunidade formada debaixo do Reino ou governo de Deus. Assim, a igreja
e o Reino se relacionam, mas não são idênticos”.[257]
Ladd também desenvolve um extenso estudo para estabelecer a
diferença entre o Reino e a Igreja. Ele afirma, categoricamente, que a Igreja
não é o Reino, pois o Reino é o reinado dinâmico ou o domínio soberano de
Deus. Desta forma, é o Reino que cria a Igreja. Esta, por sua vez, dá
testemunho do Reino, é a agência do Reino e é a guardadora do Reino.[258]
Faz parte do Reino, mas não é o Reino. O Reino é muito mais que a Igreja.
Quanto às aves que se alojam nos ramos desta “árvore”, Camargo afirma
serem “as sementes do mal, os agentes de Satanás, a fazerem ninhos, para
prejudicarem a vitalidade da árvore”.[259] O mesmo autor dá, como evidência
da sua afirmação, o fato de, na parábola do semeador, as aves representarem
o Maligno e, ainda, a história do padeiro-mor, cujos três cestos de pães eram
devorados pelas aves do céu, conforme sonho interpretado por José.
Entretanto, o mesmo autor afirma, em seu estudo sobre a parábola do
fermento, que a “linguagem bíblica não é estereotipada”,[260] não sendo
necessária a interpretação da mesma figura sempre com o mesmo sentido.
Já Brown diz que as aves dos céus representam os gentios. Mesmo que
Jesus nunca tenha falado diretamente dos gentios, sem dúvida quis incluí-los
na família de Deus.[261] Tasker também admite que a expressão aves do céu
pode ser mais que um pormenor corroborativo; desta forma, pode ser uma
alusão ao caráter compreensivo do Reino (inclusão dos gentios bem como os
judeus).[262] Gióia, porém, é da opinião de que “as aves que fazem seus
ninhos no grande arbusto são mero incidente, para fazer sobressair a verdade
de que o Reino de Deus crescerá admiravelmente”.[263] Concorda-se com esta
acepção, pois os gentios, ao entrarem no Reino, passam a fazer parte integral
do mesmo, e não permanecem como parte externa ou estranha ao arbusto.
Quanto ao sentido final da parábola, Rienecker é da opinião de que não
se deve interpretá-la em termos de desenvolvimento do Reino, assim como os
poderes e reinos terrenos se desenvolvem. Mas, ao contrário, é preciso ver a
construção do Reino de Deus a partir do alvo escatológico, do alvo eterno. O
alvo eterno, no “fim dos tempos”, será incomparavelmente glorioso.[264]
2.11 - O Fermento (Mt 13.33)

Contada imediatamente após a parábola do grão de mostarda,[265] a


parábola do fermento soma-se e reforça a ideia anteriormente exposta. Jesus
conta a estória de uma mulher fazendo pão. Esta apanha três medidas de
farinha, esconde dentro delas o fermento[266] e espera tudo ficar levedado. A
tarefa de fazer pão em casa era muito comum na época de Jesus. Alguns
autores se preocuparam em calcular a quantidade de farinha, chegando alguns
a 20 Kg (Kistemaker e Rienecker) ou 25 Kg (Morris). Porém, Edersheim,
após mostrar várias possibilidades de se entender esta quantidade de farinha,
dependendo do local em que era usada, afirma que era comum misturar três
medidas de farinha nos tempos bíblicos e também posteriores. Não se aplica,
pois, aqui, nada mais que um processo comum da vida diária.[267]
Muitos já interpretaram esta parábola em termos especulativos.[268]
Como exemplo, cita-se Norbert Lieth, que declara que o fermento é algo
negativo; ele não representa a vida positiva ou a influência abençoada do
cristianismo e a divulgação e o crescimento do Evangelho, mas exatamente o
contrário. Afirma, então, que “em toda a Sagrada Escritura, o fermento
sempre é uma representação do pecado”. Mais à frente, Lieth identifica a
mulher como um símbolo negativo, um exemplo de engano - a grande
meretriz do apocalipse. Declara, então, que a parábola trata de “uma
representação simbólica da prostituição espiritual do império anticristão
final”.[269]
Apesar de engenhosa, esta ideia não é aceita por outros autores. Neal
afirma que em Mateus 16.6, Jesus mesmo usa o fermento como símbolo do
mal, quando diz: “Vede, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e
saduceus”. Mas que de forma alguma o poderia ser nesta parábola, pois, desta
forma, Jesus estaria dizendo que “o Reino dos céus é semelhante ao mal e à
malícia”, e isto seria ridículo e subversivo.[270]
Robertson afirma que a semelhança está no poder penetrante. Lembra
que alguns negam que Jesus assemelha aqui o poder expansivo do Reino dos
Céus ao fermento, porque dizem que o fermento é símbolo da corrupção.
Porém, na sua opinião, a linguagem de Jesus não deve ser distorcida com este
tipo de malabarismos.[271]
Embora alguns autores defendam esta negatividade do significado do
fermento, Rienecker afirma que, mesmo nos outros textos do NT, o fermento
não é usado em sentido negativo, sendo que em todas elas trata-se da grande
força de fermentação. O próprio fermento deve ser visto como neutro. É o
seu incrível poder de penetração que ocupa o campo de visão da parábola e
também das demais passagens do Novo Testamento.[272]
Ladd informa que, no pensamento hebreu e judaico, o fermento não era
considerado um símbolo do mal. O pão fermentado era oferecido na Festa das
Semanas (Lv 23.17) que, em outras partes, é chamada de Festa da Colheita e
dos Primeiros Frutos (Ex 23.16), porque representava o alimento diário que
Deus provê para o sustento humano.[273] Camargo também argumenta neste
sentido. Para ele, há liberdade de se usar a figura em outro sentido:
A linguagem bíblica não é estereotipada. A mesma figura representa, às vezes, realidades
opostas: o demônio é comparado ao leão rugidor (1 Pe 5.8), e Cristo é representado como o leão
da tribo de Judá (Ap 5.5). A pomba, sem entendimento em Oséias 7.11, e em Mateus 10.16
representa a simplicidade, e da mesma forma a figura da serpente.[274]
Neste sentido, a maioria dos autores concorda que o fermento não possui
aqui um sentido negativo, mas, sim, positivo. Kistemaker destaca o fato de o
fermento, uma vez adicionado à farinha, permear toda a porção de massa, até
que cada partícula seja atingida. O fermento fica invisível, mas todos podem
ver o seu efeito. É assim que o Reino de Deus demonstra seu poder e sua
presença no mundo de hoje.[275] Stagg concorda:
A parábola do fermento provavelmente ilustra a natureza poderosa e invencível do Reino.
Este vem em Cristo Jesus como uma presença pessoal e transformadora. Opera como o fermento,
interior e silenciosamente, com poder transformador.[276]
Ladd afirma que a vinda do Reino significaria uma completa mudança
na ordem das coisas, onde a presente ordem má do mundo e da sociedade
seria completamente deposta pelo Reino de Deus. O problema é que o
ministério de Jesus não tem evidências de ter iniciado tal transformação. Ele
pregou a presença do Reino de Deus, mas o mundo continuou como antes,
sem alteração. Como, então, a sua mensagem poderia ter inaugurado o
Reino? Ladd continua:
A resposta de Jesus é que, quando uma quantidade de fermento é colocada numa quantidade
de massa, nada parece acontecer. De fato, o fermento parece ser quase todo engolido pela massa.
Eventualmente, então, algo acontece, tendo como resultado a completa transformação da massa
de farinha. Nenhuma ênfase deve ser dada ao processo pelo qual a transformação é realizada. A
ideia do Reino de Deus conquistando o mundo por uma permeação gradual e uma transformação
interior era completamente estranha ao pensamento judaico. Se foi isto o que Jesus quis dizer,
com certeza ele deve ter reiterado essa verdade diversas vezes, da mesma forma que fizera com a
verdade sobre a morte necessária do Filho do Homem, ainda que esta não tenha sido levada em
conta na ocasião em que foi proferida.[277]
B’ - O Valor do Reino

O Reino influencia o indivíduo, e a consequência natural é a sua influência


sobre o mundo. Este novo conceito aumenta imensamente o valor do Reino.
Jesus ensina novamente esta verdade com mais duas parábolas – o tesouro
escondido e a pérola de grande preço – que enfatizam a busca pelo Reino,
acima de qualquer outra coisa.[278] Se ele custar ao indivíduo tudo quanto
ele tem, ainda assim se constitui num pequeno preço, comparado à
“aquisição” do Reino.
2.12 - O tesouro escondido (Mt 13.44)

Após proferir algumas parábolas, de um barco que lhe serviu de púlpito,


para uma multidão na praia, expondo o Reino de Deus, mais no seu caráter
geral, no seu aspecto universal e exterior, Jesus profere agora uma nova série
de parábolas para um auditório mais reduzido – seus discípulos (13.36).[279]
Além da explicação da parábola do joio, apresenta o Reino em suas relações
particulares, em que o indivíduo dele se beneficia por uma apropriação
pessoal.[280]
Os discípulos agora tinham conhecimento a respeito dos mistérios do Reino. Porém este
Reino não era questão de compreensão somente, mas de apreensão pessoal. Isto implica o
descobrimento de seu valor, aquisição individual do mesmo e entrega de tudo para sua
possessão. E este mistério do Reino foi transmitido aos discípulos nas parábolas dirigidas
especialmente a eles e adequadas só para eles.[281]
Camargo também afirma:
Para que o cristianismo não fosse malbaratado e depreciado pelos espíritos críticos e
superficiais que não entenderiam as figuras anteriormente usadas, Jesus passa dos objetos de
pequeno valor, como os diferentes solos, as sementes do trigo e joio, a de mostarda, e fermento,
para os de subido valor, como o tesouro escondido e pérolas, para despertar o desejo de realizar
o fim supremo da vida, pela escolha de um padrão de valor absoluto.[282]
Jesus, então, conta a história de um homem que achou um tesouro
escondido num campo. Rapidamente, tornou a enterrá-lo e voltou alegre para
casa, a fim de vender tudo o que possuía, para comprar o campo. Camargo
explica que a descoberta de tesouros por acaso ocorria frequentemente no
Oriente, devido às constantes mudanças de dinastias, revoluções e invasões
de exércitos estrangeiros. Assim, os ricos dividiam sua fortuna em três partes:
a primeira era empregada no comércio e manutenção própria; a segunda, em
joias, para facilitar a fuga, e a terceira era enterrada ou escondida.[283]
Jeremias confirma esta informação:
Jesus terá pensado num vaso de barro contendo moedas de prata ou pedras preciosas. As
inúmeras guerras, que no decorrer dos séculos devastavam a Palestina por causa de sua situação
entre a Mesopotâmia e o Egito, levavam muitas vezes a enterrar-se, em ocasiões de ameaça e
perigo, o que era de valor.[284]
Kistemaker esclarece que, se o proprietário de um campo morresse
numa guerra, por exemplo, levaria para o túmulo o seu segredo, e ninguém,
jamais, poderia saber onde enterrara o tesouro. O homem da parábola, que
encontrou tal tesouro, podia ser um empregado ou mesmo um arrendatário
daquele campo. Ao encontrar o tesouro, do qual fala a parábola, este homem
o enterra novamente, sabendo que tudo poderia ser seu, se comprasse o
campo. Assim, vende tudo o que tem e, com o dinheiro, compra aquele
campo e tem o tesouro para si.[285]
Jeremias afirma que o enterrar novamente tinha dois fins: o tesouro deve
permanecer parte constitutiva do campo e deve de imediato assegurar-se que
o segredo fique guardado. Também ele não toma simplesmente para si o
achado, cujo proprietário é desaparecido, mas age corretamente sob o ponto
de vista jurídico formal, comprando antes o campo.[286]
Muitas são as interpretações que já foram feitas a respeito da parábola
do tesouro escondido. Entre elas pode-se citar: 1) Para uns o campo é a
Escritura Sagrada e o tesouro é a pessoa de Cristo que nela se descobre de
princípio a fim; 2) Outros entendem que o campo representa a Igreja, visível,
externa, e o tesouro, a Igreja interna, invisível e espiritual. Assim a Igreja
aparece não como instituição humana, mas divina e distribuidora dos dons
celestes, diferentes de todas as sociedades terrenas ou organizações humanas,
com as quais, muitas vezes, ela se confunde.[287]
Ladd, entretanto, afirma que “na pessoa e obra de Jesus, o próprio Reino
de Deus se fez presente. Consequentemente, é um tesouro mais valioso que
todas as outras posses”.[288] Tasker comenta a respeito deste versículo:
Finalmente, porque o Reino dos céus é a única realidade duradoura, e o seu valor é
incalculavelmente precioso, a pessoa realmente ávida por obter seus benefícios, uma vez
confrontada com ele, prontamente e cheia de alegria fará o sacrifício que for necessário, seja a
perda de bens, amigos, ou até mesmo a perda da própria vida.[289]
Rienecker também concorda com esta ideia, ao afirmar que o tesouro
pôde ser encontrado sem que tivesse sido procurado. Deus se doa e se revela
por primeiro, depois surge, dessa realidade, por livre decisão da pessoa, a fé.
Sempre e em todos os casos, a propriedade celestial tem um valor tão grande
que todas as outras coisas podem ser largadas em troca dele.[290]
2.13 - A Pérola de Grande Preço (Mt
13.45-46)

Em poucas palavras, Mateus relata a parábola da pérola de grande preço,


contada por Jesus.[291] Um mercador está à procura de pérolas e encontra
uma de excepcional valor. Vai, vende tudo o que possui, e compra aquela
pérola única.
Jeremias informa que as pérolas eram, na antiguidade, artigo muito
cobiçado. Eram pescadas sobretudo no Mar Morto, no Golfo Pérsico e no
Oceano Índico. Ouviu-se de pérolas que valiam milhões. César presenteou a
mãe do seu futuro assassino, Brutus, com uma pérola de seis milhões de
sestércios (1,2 milhões de dólares); Cleópatra deve ter possuído uma pérola
de cem milhões de sestércios (20 milhões de dólares).[292]
Kistemaker afirma que esta parábola é muito parecida com a do homem
que encontrou o tesouro. A mesma dedicação é encontrada em ambas as
parábolas. Cada um dos homens quer ter o objeto de seu desejo, mesmo que
isso lhe custe o que ajuntou em toda a sua vida. Os dois, literalmente, vendem
tudo o que têm para conseguir o tesouro e a pérola.[293] O negociante desta
parábola procurava boas pérolas. Não queria adquirir artigo inferior, ou
pérola que tivesse algum defeito. Procurava muitas e achou uma. Uma só é
essencial e satisfaz plenamente. Camargo lembra que:
Marta se afadigou com muitas coisas, mas Maria com uma só, e necessária, porque
essencial. A unidade no coração se estabelece pela subordinação dos valores inferiores ao valor
supremo. O artista realiza uma verdadeira obra de arte, quando na sua tela subordina todos os
detalhes a um propósito unificado e central que tem em sua mente.[294]
Também para esta parábola, várias interpretações são sugeridas. Fuente
cita algumas interpretações errôneas a respeito dela. A primeira delas é que,
para alguns intérpretes, o homem que buscava boas pérolas é Jesus. Para
estes, a pérola que encontrou é a Igreja. Porém, até aquele momento, Jesus
nada havia falado a respeito da Igreja para os discípulos, e assim nada
entenderiam sobre o significado da parábola. Outros intérpretes dizem que
esta parábola e a anterior falam a respeito dos judeus e dos gentios. Os judeus
são os que buscavam sempre o melhor e, por fim, encontraram a Cristo; os
gentios são os que não buscavam nada, porém de repente ouviram o
evangelho e sentiram grande alegria por haver encontrado a Cristo. Mesmo
sendo interessante esse pensamento, sabe-se que a história não apoia esta
ideia. Tanto entre os judeus, como entre os gentios, sempre há pessoas como
os homens das duas parábolas.[295]
Talvez a chave para a interpretação correta resida na concordância das
duas parábolas, visto serem correlatas. Rienecker é da opinião de que esta
concordância está em que as duas pessoas que encontraram vão, vendem tudo
e adquirem o bem.[296] E, em ambos os casos, trata-se de algo muito precioso.
O valor é tão alto que tudo o mais pode e deve ser empenhado.[297]
Deve-se tomar cuidado com a expressão compra e venda para que não
haja confusão. Estas expressões foram usadas unicamente para mostrar o
grande valor dos bens. Porque, se um homem tivesse todo o dinheiro do
mundo, todas as joias das joalherias do mundo e todos os bens de todos os
homens do mundo, ainda não teria o suficiente para comprar o reino de Deus.
[298]
Kistemaker, baseando-se nos Pais da Igreja como Irineu e Agostinho, é
da opinião de que o tesouro e a pérola devem ser identificados com Cristo.
Para ele, o recém-convertido diz exatamente a mesma coisa: “Achei o
Cristo”.[299] Gióia afirma serem, este tesouro e a pérola, o Reino de Deus,
Jesus Cristo e a salvação que nele há.[300]
Para Ladd, a pérola e o tesouro significam o Reino de Deus:
O único pensamento presente em ambas as parábolas é que o Reino de Deus é de valor
inestimável e deve ser procurado acima de todas as outras coisas. Se ele custar ao indivíduo tudo
quanto ele tem, ainda assim isto se constitui num pequeno preço comparado à aquisição do
Reino.[301]
Edersheim também concorda ser esta pérola o Reino de Deus e conclui
dizendo que aquele que buscava pérolas, ao encontrá-la, com grande
sabedoria suspende a busca e, renunciando a tudo[302], adquire-a.[303]
Obviamente, este não é um processo em que o homem permanece passivo. O
preço da compra é o deixar tudo para ir a Cristo.[304]
A’ - A Plenitude do Reino

Finalmente, o processo apresentado por Jesus, para a inauguração do Reino


de Deus, já prevê que este mesmo terá uma consumação. Este fato Jesus
ensina pela parábola da rede. De forma alguma poder-se-ia compreender em
termos de uma conclusão do Reino, pois é neste momento em que ele passará
a ser exercido plenamente. Neste sentido, é apropriado considerar-se este
momento como o fim do começo - a plenitude do Reino.
2.14 - A Rede (Mt 13.47-50)

Na última das parábolas desta série,[305] Jesus se apoiou em algo muito


conhecido dos seus discípulos. Vários dentre o grupo exerceram a profissão
de pescadores e, desse modo, através da parábola proferida pelo Senhor
Jesus, foram lembrados de sua antiga profissão.[306] Pescadores
experimentados procuravam localizar um bom cardume antes de começar a
pescar. Mas, uma vez lançada a rede,[307] os homens puxavam todos os
peixes apanhados por ela. Obviamente, os peixes estavam misturados, pois
não podiam selecioná-los, enquanto pescavam. A rede apanhava os peixes
próprios e impróprios para o consumo – os bons e os maus. Muitas espécies
eram consideradas impuras, de acordo com as normas de alimentação dos
judeus. Peixes sem barbatanas e sem escamas não podiam ser comidos, e
tinham de ser lançados de volta à água. Os peixes pequenos, também, eram
abandonados. A classificação dos peixes, enfim, determinava o valor da
pesca.[308]
Algumas interpretações errôneas foram feitas a respeito desta parábola.
Alguns acham que ela é uma profecia a respeito da Igreja. Assim, o Reino-
Igreja deve consistir de uma mistura de pessoas boas e más que devem ser
separadas no dia do julgamento. Outros acham que o próprio Reino de Deus
como uma sociedade de pessoas que incluem os bons e os maus.[309] Também
é desnecessário procurar fazer com que a rede, o mar ou a margem do mar
representem alguma coisa nesta parábola, ou fazer analogia de qualquer outra
parte, porque seu ensino é muito simples. É uma descrição do juízo final,
enquanto a reunião de todos os homens, e depois, a separação deles conforme
sua qualidade.[310]
Na função da rede, pode-se ver que Deus não faz acepção de pessoas,
porque a rede colhe todas as pessoas, sejam grandes, sejam pequenas, sejam
pobres ou sejam ricas; todas têm que aparecer diante do trono de Deus (Ap
20.11,12).[311] O próprio Jesus faz uma breve interpretação da parábola:
“Assim será na consumação do século: Sairão os anjos e separarão os maus
dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger
de dentes”[312] (Mt 13.49-50). Esta interpretação, segundo Kistemaker, omite
todos os pormenores descritivos a respeito dos pescadores lançando a rede e
trazendo para a praia o produto da pesca; apenas a separação dos peixes bons,
daqueles sem valor, é explicada.[313] Rienecker acrescenta ainda que “a graça
de Deus busca a todos e é oferecida a todos. Por isso todas as pessoas cabem
na rede. A decisão sobre quem será salvo e quem será condenado é
prerrogativa de Deus”.[314]
O mesmo autor é da opinião de que o fato de que os maus serão
lançados na fornalha de fogo acesa significa perdição eterna. Em Mateus
25.41, é sentenciado: “Retirai-vos para longe de mim, malditos, para o fogo
eterno que foi preparado para o Diabo e seus anjos” (cf Mt 5.22,29s; 10.28;
18.9; 23.15,33).[315] Conclui-se, portanto, que a parábola tem seu ápice no
fato de que um dia haverá uma consumação do Reino. Neste primeiro grupo
de parábolas que Jesus apresenta, a respeito da inauguração do Reino, torna-
se importante salientar que haverá também uma consumação. Isto é
maravilhosamente representado pela parábola da rede.
O Reino de Deus é revelado por Jesus Cristo de forma progressiva.
Neste primeiro grupo de parábolas, o Mestre ensinou como seria o processo
pelo qual o Reino estava sendo inaugurado no mundo, através da sua obra e
pessoa. Na primeira parábola, deixa claro que ele está presente. O Rei do
Reino está presente, e a inauguração já começou. Este Reino que está sendo
inaugurado é de muito maior valor do qualquer antigo regime. Precisa,
portanto, uma nova estrutura. Este Reino irá também influenciar os
indivíduos que dele se tornam membros. Tornar-se membro, é possível pelo
processo da semeadura do Reino que iniciou com Jesus Cristo. A partir do
momento em que indivíduos passam a fazer parte do Reino e são
influenciado pelo seu poder, o Reino começa a se manifestar no mundo. É
claro que, enquanto o Reino se manifesta e a semeadura está em andamento,
o inimigo tenta perturbar a obra do Reino de Deus. Não obstante, ele continua
influenciando o indivíduo e, consequentemente, o mundo também. Um poder
desta natureza é de inestimável valor. Tudo deve ser deixado, em troca da
busca pelo mesmo. Finalmente, este processo chegará a um ponto de
culminância. A plenitude do Reino completará o processo que Jesus está
ensinando aos homens.
Este primeiro grupo de parábolas pode, portanto, ser disposto da
seguinte maneira:
3. A DIMENSÃO DO REINO

No primeiro grupo de parábolas, Jesus apresentou o processo pelo qual o


Reino de Deus estava sendo inaugurado. Depois destas parábolas e também
de uma série de milagres operados por Jesus, o apóstolo Pedro faz uma
declaração digna de ser considerada a esta altura. Em Mateus 16.16, como
resposta à pergunta do Mestre sobre quem os discípulos achavam ser Jesus,
Pedro declara: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Havia sido
compreendida a primeira parte ensinada por Jesus. O Rei do Reino estava ali
entre eles, e Pedro o reconheceu como tal. O Reino de fato estava sendo
inaugurado. Jesus se lança, então, ao segundo passo – revelar como o ser
humano pode entrar no Reino. Isto ele ensina com mais um grupo de
quatorze parábolas.
A - O Reino que Admite

A pergunta norteadora deste primeiro ponto é “quem pode ser salvo?” ou,
então, “quem pode entrar no Reino de Deus?” Talvez, olhando-se a questão
da perspectiva correta, a pergunta poderia ser formulada em termos de “quem
o Reino admite?” Duas parábolas são propostas para esclarecer estas
perguntas.
3.1 - O credor incompassivo (Mt 18.23-
35)

Do texto imediatamente anterior (vs.15-20),[316] vê-se que Jesus acabara de


indicar o meio próprio de agir, quando um irmão “pecar” com referência a
ofensas pessoais. Primeiro deve-se conversar com ele, depois levar uma ou
duas pessoas como testemunhas, ou ainda levá-lo à igreja, para que seja
resolvida a questão. Isto sugere para Pedro, uma pergunta prática: “Quantas
vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?”
(v.21) Weingärtner fala que ao observar esta pergunta, pode-se descobrir
...até um pouco de orgulho espiritual escondido entre as palavras. Um homem que perdoou
sete vezes! Não são todos que fazem isso! Jesus só poderia confirmar o que Pedro achava:
“Pedro, você já fez mais do que devia. Deixe este seu irmão se virar sozinho. Não ligue mais. Ele
não merece outra coisa.[317]
Sete vezes? Sete é um número bem sugestivo. Sete é considerado como
um número perfeito, completo. Seria este o limite da paciência para com
alguém? O Antigo Testamento sugere que se tenha paciência até três vezes.
As tradições judaicas[318] também diziam isto. Pedro, então, aumenta para
sete vezes.[319] Mas a resposta de Jesus é totalmente diferente: “Não te digo
que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (v.22).
Jesus recusa a aparente bondade e pureza de coração para perdoar sete
vezes, por ser humanamente fechado e limitado. Com uma palavra poderosa
ele rompe esta medida humana. “Não somente sete vezes, mas setenta vezes
sete”. Isso significa: A medida do perdão não tem limites.[320]
Pedro era conhecedor da Lei do Antigo Testamento, e certamente
lembrou daquela história de Gênesis 4, onde Lameque, um descendente de
Caim, diz: “Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém,
setenta vezes sete” (Gn 4.24). Pedro se vê diante de dois caminhos: a) O
caminho de Caim: o caminho da vingança, do pagar mal com mal, com juros
e correção monetária. 7 por 1 não chega, mas 70 vezes 7. De acordo com o
código penal: olho por olho, e dente por dente. b) O caminho de Jesus: o
caminho do perdão, onde deixa-se de fazer cálculos, de contar os erros, de
lançar débitos, daquilo que os outros fazem ou deixam de fazer.[321]
Jesus torna esta verdade do perdão um pouco mais clara para Pedro
através da parábola do credor incompassivo. Um rei reuniu os seus servos, no
dia marcado para o acerto de contas. Um deles lhe devia a astronômica soma
de dez mil talentos. Esta expressão “dez mil talentos” traz implícita o
significado de algo que não se pode numerar ou contar, algo infinito. O
talento era, naqueles dias, o mais alto valor monetário do sistema financeiro.
[322] Não é relatado o que ele havia feito com o dinheiro; este fato não tem
importância. Ele devia dez mil talentos, e tinha que pagar. Quando ficou
diante de seu senhor, ouviu o veredito: “Ele, sua mulher, seus filhos e tudo o
que possuía seriam vendidos para o pagamento da dívida”.[323]
O rei deu curso livre à justiça. Mas, nessa hora, aquele homem faz algo
que não estava no “programa”. O verso 26 diz: “Então o servo, prostrando-se
reverente, rogou: Sê paciente comigo e tudo te pagarei”. Ao menos ele
reconhece a dívida; porém, faz uma promessa totalmente irreal: seria
impossível ele arranjar o dinheiro para pagar aquela dívida enorme. Mas o
interessante é que o rei também teve uma atitude fora do programa. O verso
27 diz: “E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e
perdoou-lhe a dívida”. A dívida foi perdoada. Não adiada. Perdoada![324]
Este foi apenas o primeiro ato do drama. Descendo as escadas do palácio
real, este servo, absolvido, encontrou um conservo seu, que lhe devia cem
denários. Realmente, era muito pouco – alguns dias de trabalho e a soma
seria conseguida. Mas o servo “agarrando-o, o sufocava, dizendo: «Paga-me
o que me deves»”. O conservo atirou-se aos pés do servo do rei, e pediu: “Se
paciente comigo e te pagarei”. Mas o servo recusou e lançou-o na prisão, até
que a dívida fosse paga.[325]
Interessante que as mesmas palavras que produziram compaixão no
primeiro caso, são usadas aqui. “Mas este miserável cruel que ainda aquecia-
se no sol da misericórdia real, não soube tratar com misericórdia o seu
conservo”.[326]
Weingärtner sugere uma possibilidade. Se este servo, o devedor maior,
encontrasse o seu conservo na ida, não quando estava voltando do palácio do
rei, então sua atitude seria lógica. Aqueles cem denários não iriam pertencer a
ele, mas ao rei, porque faziam parte da sua dívida maior. Faziam parte,
conforme a linguagem jurídica, da massa falida. Ele nem poderia perdoar.
Porque o que o conservo lhe devia, ele devia ao rei. Mas na volta do palácio
as coisa mudaram. Essa massa falida fora contabilizada como “perdão” nos
livros do rei. A grande nota promissória fora rasgada. O ato do rei foi tão
grande, que todas as continhas pequenas perderam sua importância. Mas
aquele servo não conseguiu transferir o grande presente em troco miúdo.
Com isso, justiça seja feita![327]
Um terceiro ato apresenta as testemunhas do segundo ato, juntamente
com o rei e o servo. Estas testemunhas, que viram o que se havia passado,
entristeceram-se e foram relatar ao seu senhor tudo o que havia acontecido
(v.31). O rei, então, chama o servo e lhe diz: “Servo malvado, perdoei-te
aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu igualmente
compadecer-te do teu conservo como também eu me compadeci de ti?” (v.32-
33). Com isso, entregou-o aos carcereiros para que o torturassem até que a
dívida fosse paga.
Jesus usa esta parábola para dizer a Pedro algo a respeito da grandeza do
amor misericordioso de Deus para com o homem pecador. O pecado do
homem é tão grande que Deus tem que perdoá-lo infinitamente mais que a
conta de setenta vezes sete. A misericórdia de Deus não pode ser medida.
Pode-se calculá-la apenas vaga e aproximadamente, ao contar a história do
servidor público que devia a seu senhor uma soma que beirava milhões.
Embora a palavra justiça não seja encontrada na parábola, os conceitos
expressos são os de misericórdia e justiça.[328] Jesus conclui a parábola com
uma afirmação um tanto forte: “Assim também meu Pai celeste vos fará, se
do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão” (v.35).[329] Jeremias afirma:
Então tudo estará em jogo, pois neste caso Deus vai retirar o perdão de suas culpas e fazê-lo
experimentar todo o horror do seu julgamento. (...) A questão decisiva é: quando Deus usa no
juízo final a medida da misericórdia e quando usa a medida do julgamento? A resposta de Jesus
diz: lá onde o perdão de Deus opera real disponibilidade a perdoar, lá a misericórdia de Deus dá
sentença favorável; aquele, porém, que abusa do dom de Deus é atingido pela inteira dureza do
julgamento, de tal modo como se nunca ele tivesse recebido o perdão (Mt 6.14ss).[330]
A parábola é clara. Ninguém consegue pagar sua dívida diante de Deus.
A misericórdia e o perdão compassivo de Deus são a única alternativa
possível ao homem. Entretanto, exige-se a mesma atitude daquele que foi
perdoado, em relação ao seu próximo, pois “a sociedade dos perdoados fica
sem sentido, se os que são perdoados não perdoam”.[331] Isto é muito mais
sério do que às vezes se pensa. Thomas Watson diz que “a pessoa pode ir
para o inferno por não perdoar, tanto quanto por não crer”. Jesus apresenta a
consequência dessa falta de compaixão e de disposição para reconciliar-se:
quem não se torna misericordioso com a misericórdia de Deus e não aprende
a perdoar a partir do perdão de Deus, desperdiçou a graça de Deus. Graça
desperdiçada, por sua vez, provoca condenação. A graça de Deus transforma-
se na ira de Deus.[332]
3.2 - O bom samaritano (Lc 10.30-37)

A parábola do bom samaritano é a primeira parábola contida numa série de


relatos denominada de “Narrativa da Viagem para Jerusalém”, relatada
especialmente pelo evangelista Lucas.[333] A parábola em questão foi
exposta a um intérprete da lei que, confiando em seu conhecimento do Antigo
Testamento e nas sutis interpretações que dela davam os rabinos, abordou a
Jesus com a esperança de incitá-lo a discutir e derrotá-lo. Formulou uma
pergunta a Jesus: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (v.25). Sem
dúvida, pensava que Jesus lhe indicaria alguns ritos ou cerimônias novos, o
que de alguma forma desacreditaria a Lei. Foi surpreendido, pois a resposta
de Jesus foi: “Que está escrito na Lei? Como interpretas?” (v.26). Deste
modo, viu-se privado de sua própria arma. No entanto, deu uma resposta
hábil ao afirmar que a Lei se resumia no mandato de amar a Deus e aos
homens.[334] Jesus tomou outra vez a palavra: “Respondeste corretamente;
faze isto e viverás” (v.28).[335]
De fato, este homem tem a teologia certa, mas a questão é: Está disposto
a agir de acordo com ela? O seu estado intelectual é excelente; o seu
desempenho ainda está em dúvida. Bailey observa ainda que o verbo faze é
presente do imperativo, significando “continua fazendo”. O doutor da lei
havia pedido a definição de um requisito limitado e específico: “o que, tendo
feito, herdarei...” A resposta é dada na forma de uma ordem para um estilo de
vida sem fim, que requer amor ilimitado e irrestrito a Deus e ao próximo.[336]
Alguns veem aqui uma recomendação formal do caminho das obras. É
talvez mais provável que seja um repúdio às obras. Não é aquilo que se faz,
considerado como uma obra meritória, que importa, mas a atitude. Se
realmente se ama a Deus segundo a maneira da qual Jesus fala, é porque se
confia nEle, e não em si mesmo. Jesus não está recomendando um novo
sistema de legalismo um pouco diferente do antigo, mas está apontando para
o fim de todo o legalismo. O intérprete da lei queria uma regra ou coletânea
de regras que pudesse observar e assim merecer a vida eterna. Jesus o
informa que a vida eterna não é questão de observar regras, de modo algum.
Viver no amor é viver a vida do Reino de Deus. A atitude para com Deus
determina o resto. Se alguém ama a Deus, amará também o seu próximo (1 Jo
4.20).[337]
O intérprete, porém, não quis deixar a questão parar ali. Queria
justificar-se. Pergunta, então, “Quem é o meu próximo?” (v.29). A contra
pergunta, sobre o que se entende por próximo, era justificada porque a
resposta era discutível. De fato reinava acordo de que significava o membro
do povo de Israel incluindo o prosélito pleno, mas não havia acordo sobre as
exceções: os fariseus se inclinavam a excluir os não-fariseus; os essênios
exigiam que se odiasse “todos os filhos das trevas”; etc.[338]
O judeu vivia num círculo: o centro era ele mesmo, cercado por seus
parentes mais próximos, então pelos outros parentes, e finalmente, pelo
círculo daqueles que proclamavam descendência judaica e que se tinham
convertido ao judaísmo. A palavra próximo tinha um sentido de
reciprocidade: “ele é meu irmão e eu sou irmão dele”. Assim se fecha o
círculo de egoísmo e etnocentrismo.[339]
A resposta de Jesus à pergunta do intérprete da lei, em forma de
parábola, não terá apenas dado uma definição do conceito de próximo, mas
deve ter dito por onde dentro da comunidade do povo passa a fronteira
limitante do dever do amor. “Até onde vai a minha obrigação?” É este o
sentido da pergunta.[340]
Bailey, citando Manson, argumenta no sentido de que “a pergunta é
irrespondível, e não devia ter sido feita; porque o amor não começa definindo
os seus objetos: ele os descobre”. Ele complementa: “a pergunta
irrespondível permanece sem resposta; pelo contrário, ela se transforma, na
resposta que Jesus dá”.[341]
Jesus não respondeu a pergunta diretamente, mas contou uma história.
Certo homem descia a estrada de Jericó. Não é dito se era rico ou pobre. Ele
caiu em mãos de salteadores, os quais depois de tudo lhe roubarem e lhe
causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto (v.30).[342]
Aconteceu que um sacerdote passou por lá enquanto o homem ainda jazia ali.
Visto o homem estar “semimorto”, o sacerdote provavelmente não poderia ter
a certeza se estava morto ou não, sem tocá-lo. Mas se o tocasse, e o homem
realmente fosse morto, então teria incorrido a contaminação cerimonial que a
Lei proibia (Lv 21.1ss). Poderia ter a certeza de conservar sua pureza
cerimonial somente por meio de deixar o homem como estava. Poderia ter
certeza de que não omitia ajudar um necessitado somente por meio de ir até
ele. Neste conflito, a pureza cerimonial ganhou a batalha. Não somente
deixou de ajudar, mas, vendo-o, passou de largo.[343]
Bailey comenta que os ouvintes da parábola devem ter aplaudido o fato
do sacerdote ter negligenciado o homem ferido e que os fariseus o julgariam
justificado por não ter parado, como tendo o direito de passar longe.[344] Mas,
Camargo descreve poeticamente a negligência do sacerdote:
Movido por uma força centrífuga, descreve em sua passagem um arco de círculo em torno
do ferido, centro de gemidos e sangue, e deixa atrás de si a sombra de sua indiferença criminosa.
[345]
Aconteceu também que um levita[346] passou por lá. Ele também era um
personagem religioso de que se poderia esperar que se interessasse em ajudar
um homem na sua necessidade. Mas também este era um homem interessado
em questões de pureza cerimonial. Achou melhor não envolver-se, e vendo-o,
também passou de largo.[347]
Bailey argumenta no sentido de que o levita estava ciente de que o
sacerdote havia passado antes dele naquele lugar e que este nada havia feito.
E é o exemplo de seu superior, que o detém. Ele pode dizer: “Se o sacerdote
que está à minha frente nada fez, porque eu, um mero levita, devo me
preocupar?”. Poderia também pensar que o ato de ele agora se atirar a essa
tarefa seria uma espécie de afronta ao seu superior, uma acusação implícita
contra ele, de desumanidade e dureza de coração.[348]
Os ouvintes decerto esperariam que um sacerdote e levita fossem
seguidos por um israelita leigo, aguardando uma história com um enredo
anticlerical. Destarte, o efeito de Jesus ao introduzir o samaritano foi
devastador.[349] Jesus poderia ter contado uma história de um judeu nobre
ajudando um odiado samaritano. Uma estória assim teria sido absorvida mais
facilmente pelas emoções do auditório. Pelo contrário, um odiado samaritano
é o herói da história. Jesus atinge um dos sentimentos de ódio mais profundos
do auditório, e dolorosamente o expõe.[350]
Kistemaker informa que os samaritanos não eram um povo muito
simpático. Seu ódio pelos judeus explodia por diversas maneiras. Por
exemplo, entre 9 e 6 a.C., tinham profanado a área do templo para evitar que
os judeus celebrassem a Páscoa. Fizeram isso espalhando ossos humanos
pelos pátios do templo. Por outro lado, aos olhos dos judeus, os samaritanos
eram mestiços. Nos cultos, nas sinagogas judaicas, os samaritanos eram
amaldiçoados. Os judeus oravam a Deus para que os excluísse da vida futura.
[351] Bailey informa que a Mishná declara que “aquele que come o pão dos
samaritanos é como aquele que come a carne de suínos”.[352]
Os samaritanos adoravam a Deus no monte Gerizim, onde construíram
seu próprio templo e sacrificavam animais. Em 128 a.C., João Hircano
destruiu o templo do Monte Gerizim. Desse ponto em diante, judeus e
samaritanos verdadeiramente não se davam (cf. João 4.9).[353]
Porém, os samaritanos não são gentios. Obedecem à mesma Torá, que
também lhes diz que o seu próximo é o seu compatriota e consanguíneo. Ele
está viajando na Judeia, e lhe é menos provável que o ferido anônimo seja
um próximo, do que para o sacerdote ou o levita. A despeito disto, ele é quem
age.[354] É ele quem se compadece do sofredor. Dá-lhe um atendimento de
emergência, com óleo e vinho, e, depois, em seu próprio animal o conduz
para uma hospedaria, onde tratou dele.
Bailey faz algumas observações interessantes a esta altura. Em primeiro
lugar, informa que “óleo e vinho” não eram necessariamente usados como
remédios para prestar primeiros socorros. Eram, isto sim, “elementos
sacrificiais na adoração do templo” (citando Derrett). Semelhantemente, o
verbo “derramar” provém da linguagem litúrgica. Durante séculos, soou o
clamor para o povo ir além dos rituais. Oseias (6.6) e Miqueias (6.7-8)
pediram amor inabalável e não sacrifícios. Assim, o sacerdote e o levita
haviam falhado miseravelmente diante da oportunidade de fazer o “sacrifício
vivo”. É o odiado samaritano que derrama a libação sobre o altar das feridas
desse homem. É ele quem derrama a verdadeira oferta aceitável a Deus.
Em segundo lugar, Bailey observa o perigo pelo qual o samaritano
passou ao transportar o ferido até a hospedaria. Uma das características cruéis
da lex talionis é que se o homicida em pessoa não pode ser encontrado, os
vingadores do sangue têm o direito de matar qualquer outro membro da
família, e depois qualquer conhecido não importa quão remoto seja, e
finalmente qualquer membro da tribo ou nação. Aqui, o pressuposto natural
da história é que o samaritano levou o homem, descendo para Jericó. O
samaritano, permitindo sua identificação, corre o grave risco de deixar que a
família do ferido o procure para vingar-se dele. Afinal de contas, quem mais
poderia ser encontrado? A mente grupal do camponês do Oriente Médio faz
um julgamento totalmente ilógico neste ponto. A atitude de bondade do
samaritano, nesta altura, não faria muita diferença. Aqui é verificada a sua
verdadeira valentia. O problema não é sua coragem, mas o preço que ele está
disposto a pagar para completar o seu ato de compaixão.[355]
Ao se retirar, o samaritano ainda deixou com o hospedeiro dois denários
por conta e mandou que o homem fosse cuidado. E isto não era tudo, pois
qualquer coisa que o hospedeiro gastasse a mais, o samaritano obrigou-se a
indenizar no caminho de volta. É um quadro muito atraente de um homem
que fez mais do que o mínimo. Viu um homem numa emergência e fez tudo o
quanto lhe era possível.[356]
Ao concluir a parábola, Jesus pergunta ao intérprete da lei: “Qual destes
três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos
salteadores?” (v.36). Enquanto o intérprete da Lei, no v.29, perguntara pelo
objeto do amor (a quem devo eu tratar como próximo?), Jesus pergunta pelo
sujeito do amor (quem agiu como próximo?). O intérprete pensa a partir de si
quando pergunta: “Onde está o limite do meu dever (v.29)?” Jesus lhe diz:
“Pensa a partir daquele que sofre a necessidade, coloca-te na sua situação,
reflete contigo mesmo: «quem espera ajuda de mim (v.36)?»”[357] A pergunta
sempre deve ser feita desta maneira. Não é questão de distância entre as
pessoas, mas de necessidade de uma e amor da outra.[358] Morris conclui
nestes mesmos termos:
O homem perguntara “Quem é o meu próximo?” Jesus o confrontou com a pergunta “De
quem estou sendo próximo?” Era um perito na Lei. Agora deve ficar pensando se o sacerdote e o
levita, que escrupulosamente retinham a pureza moral requerida pela Lei, realmente guardavam a
Lei, que também ordena o amor ao próximo.[359]
A parábola torna claro que qualquer tentativa de auto justificação está
fadada ao fracasso. O padrão é elevado demais. A vida eterna não pode ser
adquirida pelo esforço próprio. No entanto, a parábola estabelece um padrão
ético pelo qual se deve lutar, embora ele não possa ser alcançado totalmente.
À semelhança da ordem de “ser perfeito”, o padrão permanece, mesmo que,
em sua expressão mais plena, ele seja impossível de atingir.[360]
B - O Reino que Classifica

Por um lado, o homem não pode salvar-se. Precisa ser perdoado de sua
dívida. Por outro lado, há a necessidade de uma resposta do ser humano à
iniciativa divina em perdoar o homem. De acordo com esta resposta ao
Reino, é que o indivíduo é qualificado ou desqualificado para tornar-se
membro do mesmo. Quatro parábolas ajudam na compreensão desta
classificação feita pelo Reino.
3.3 - O amigo à meia-noite (Lc 11.5-8)

A parábola do amigo à meia-noite (ou amigo importuno) aparece somente


no Evangelho de Lucas, e vem imediatamente após o momento em que os
discípulos pedem a Jesus para ensiná-los a orar.[361] A resposta de Jesus é
em termos de um resumo do Pai Nosso, que se encontra em forma mais
completa no Evangelho de Mateus (Mt 6.9-13). A parábola relatada, então,
por Jesus ensina que Deus é um Deus de honra, e que o homem pode ter
certeza absoluta de que suas orações serão ouvidas.[362]
O cenário desta parábola está colocado numa pequena aldeia do Oriente,
onde não há padarias. Cada lar assaria seus próprios pães todas as manhãs.
Jesus retrata um lar que já usou todo o seu suprimento, que recebe uma visita
inesperada de um amigo que está viajando. O homem deve alimentar o
amigo, pois a hospitalidade era um dever sagrado. Sendo assim, vai para um
vizinho amigo, pedindo três pães. Mas este segundo chefe de família já
travara sua porta e fora para a cama com seus filhos. Um homem em
semelhante situação não poderia levantar-se sem perturbar a família inteira.
Não levanta problemas quanto ao dar o pão, mas a perturbação de levantar-se
é questão bem diferente. É muito mais fácil ficar onde está.[363]
As casas em Israel, especialmente nas áreas rurais, eram pequenas,
consistindo de apenas um cômodo, usado como sala de jantar e dormitório. A
casa tinha uma porta que permanecia aberta durante todo o dia. Mas, ao
anoitecer, quando o sol se punha, o chefe de família fechava a porta e fazia
correr uma tranca de maneira que se prendia nas laterais da porta, mantendo-a
fechada para evitar os intrusos. Esteiras eram espalhadas e usadas como
camas, nas quais a família toda dormia. Em tais circunstâncias, era muito
difícil levantar no escuro e procurar algo.[364]
Entretanto, a responsabilidade oriental pelo hóspede é legendária. O
leitor/ouvinte oriental não pode imaginar desculpas esfarrapadas a respeito de
uma porta fechada ou filhos que dormem, quando a hospedagem adequada de
um hóspede está em jogo. A comunidade toda é responsável em hospedar o
visitante. Assim, ao dirigir-se ao vizinho, o hospedeiro está lhe pedindo que
cumpra o seu dever com o hospedeiro da aldeia. Embora o pedido seja
bastante modesto, nem se pensa em deixar de atendê-lo.[365]
O pedido feito é do elemento mais humilde de toda a refeição, a saber, o
pão que será molhado no prato comum. Pão não é a refeição. Pão é a faca, o
garfo e a colher com que a refeição é comida. Cada pessoa tem diante de si o
seu pedaço de pão, do qual corta um pedaço e molha-o num prato comum.
Neste prato comum, há o tempero para a refeição. O hospedeiro da parábola
pede pão. Mas todo mundo sabe que ele precisa também pedir emprestada a
refeição propriamente dita, que será comida com o pão. Isto se torna claro na
última linha da parábola. Sa’id, citado por Bailey, comenta sobre a confiança
que o hospedeiro tinha de que o seu pedido será atendido: 1. Ele é um
hospedeiro, e não está pedindo para si. 2. Ele se dirige a um amigo a fim de
honrar outro amigo. 3. Ele está pedindo o alimento de subsistência básica.
[366]
Os versículos 5 a 7 são, em conjunto, uma extensa interrogação, que
espera uma resposta negativa enfática. Jesus está dizendo:
“Vocês podem imaginar que têm um amigo, e quando se dirigem a ele com o pedido
sagrado para que lhes ajude a receber um hóspede, ele dá desculpas esfarrapadas a respeito de
crianças que dormem e da porta fechada?” O ouvinte/leitor oriental conhece a responsabilidade
comunitária pelo hóspede, e responde: “Não, não podemos imaginar isto”.[367]
A parábola termina com a nota de que “se ele não se levantar para dar-
lhos, por ser seu amigo, todavia o fará por causa da importunação, e lhe dará
tudo o de que tiver necessidade” (v.8). A palavra grega ἀναίδειαν (anaideian),
aqui traduzida como “importunação”, conforme a maioria das traduções em
português, precisa ser um pouco melhor compreendida.[368] A palavra ocorre
somente neste lugar, em todo o Novo Testamento. Algumas versões a
traduzem como insistência, colocando-a como palavra-chave na conclusão da
parábola. Ela retrata, assim, a atitude de um homem que se vê obrigado a
mostrar hospitalidade a um amigo que o procurou. No contexto de sua
cultura, ele sai de seus hábitos para providenciar alimento para suprir as
necessidades de seu amigo. Está disposto a sacrificar a amizade com seu
vizinho, a fim de se mostrar um bom hospedeiro. Ele insiste, dessa forma, até
ser atendido.[369]
Bailey diz que essa linha de pensamento traduz o termo anaideia por
“persistência desavergonhada”, ou ainda, suavizando o sentido, “falta de
vergonha” para “ousadia”, transformando-a numa qualidade positiva.
Entende-se, assim, que se deve dirigir a Deus ousadamente em oração.
Bailey, porém, argumenta que esta solução encontra várias dificuldades.
Argumenta convincentemente de que anaideia, durante o século I, não
significa persistência, e não há referência a qualquer persistência na história.
Este autor pergunta, ainda, que se fosse esta a intenção do texto, por que
então não fora utilizado o termo παρρησία (confiança, ousadia, franqueza,
etc.)?[370] Propõe, então, uma solução alternativa para a compreensão do
termo. Em primeiro lugar, mostra que o termo anaideia, vem do grego

Em segundo lugar, Bailey atribui esta qualidade, não mais ao


hospedeiro, mas ao vizinho a quem se pediu os pães emprestados. Conclui,
então, que essa possibilidade se enquadra admiravelmente no padrão cultural
da estória. O vizinho sabe que o hospedeiro precisa reunir as coisas essenciais
para o banquete, juntando-as na casa dos vizinhos. Se ele se recusar a
emprestar algo tão insignificante como um pão, o hospedeiro seguirá o seu
caminho amaldiçoando a avareza do dorminhoco, que não quis levantar-se
nem para atender aquele pedido tão pequeno. Ao amanhecer, toda a aldeia
estaria sabendo do acontecido. Por onde quer que fosse, seria saudado com
gritos de “vergonha”. Por desejar “escapar à vergonha”, “evitar a vergonha”,
ele se levantará e dará tudo o que o hospedeiro desejar.[371]
Esse detalhe geralmente negligenciado, no fim da parábola, propicia
evidências bastante conclusivas contra a atribuição de qualquer “persistência”
ou “falta de vergonha” ao hospedeiro. Se o hospedeiro fosse desavergonhado
em seu pedido, ou se ele continuasse batendo ou chamando até que
finalmente o vizinho tivesse que levantar-se contra a vontade e atender o
pedido para livrar-se do hospedeiro, então certamente o vizinho teria dado os
três pães, e nada mais. Se o pedido fosse atendido com ira e irritação, não lhe
seria dado “tudo de que tiver necessidade”. O fato de que o hospedeiro
recebeu muito mais do que o pão é evidência de que toda a transação foi
completada em um espírito de boa vontade.[372] Jeremias afirma que
Quem está no centro da narrativa não é o pedinte (assim o contexto lucânico), mas o amigo
que é importunado no sono. A parábola trata, não da perseverança na oração, mas da certeza de
atendimento na oração. Mas então é claro que a parábola quer argumentar “a minore ad
maiorem”, levando à mesma conclusão que a parábola do juiz iníquo.[373]
De outra forma se poderia perguntar: “Deus precisa ser importunado
para responder a uma oração?” Toda a teologia bíblica afirma que não.
Esta parábola contém, dessa forma, dois itens principais: o primeiro trata
da natureza de Deus. A parábola deixa claro que, se alguém se dirigir a um
vizinho como este, tudo lhe será contrário: é de noite, o vizinho está
dormindo, está deitado, a porta está fechada e os seus filhos estão dormindo.
Não obstante, receberá mais do que pedir. Isto acontece porque o vizinho é
um homem íntegro, e não violará essa qualidade. O Deus a quem se ora
também possui uma integridade que não violará; e, além disto, ele ama os que
a Ele se achegam. Em segundo lugar, a parábola fala da certeza para o
homem. Esta parábola está no âmbito de a minore ad maius. Se se tem
confiança de que as necessidades serão supridas quando se dirige a um
vizinho como esse à noite, quanto mais se pode ficar descansado, com a
certeza de ser atendido, quando se clama por misericórdia a um Pai amoroso?
[374]
3.4 - O rico insensato (Lc 12.16-21)

Um dos ouvintes de Jesus estava tendo problemas com seu irmão acerca da
divisão apropriada de uma herança. Não pede que Jesus decida entre os
méritos de duas reivindicações: pede uma decisão a seu próprio favor. Parece
que está agindo unilateralmente. Nada indica que o irmão tinha concordado
em deixar Jesus decidir a causa. O homem simplesmente conclamou Jesus
para intervir em prol dele.
Bailey observa que este requerente não está pedindo arbitrariamente,
mas ordenando ao juiz que execute os seus desejos. Ele já decidiu o que quer,
e tenta usar Jesus. Uma coisa é dizer: “Rabi, meu irmão e eu estamos
discutindo a respeito da nossa herança; o senhor pode ser nosso mediador?”
Ordenar a Jesus que implemente o seu plano é outra coisa. Não é de se
admirar que a resposta de Jesus tenha um tom de aspereza.[375]
Da forma como este homem abordou Jesus, ele o está tomando por um
rabino típico, pois os rabinos costumeiramente pronunciavam decisões sobre
pontos disputados da lei. Jesus, no entanto, recusou-se a ter qualquer coisa a
ver com isto. Sua forma de trato, Homem, está longe de ser cordial. Ele viera
trazer os homens a Deus, e não trazer bens materiais aos homens. Jesus
preocupa-se, então, com as atitudes das pessoas envolvidas, e não com quem
recebeu o que.[376]
Jesus profere, então, a parábola[377] de um fazendeiro muito rico, que
teve um verão excepcional, porque, por ocasião da ceifa, tivera uma colheita
abundante. O fazendeiro arrazoava[378] consigo mesmo o que fazer com a
colheita e onde guardá-la. Ele resolveu: “Farei isto: Destruirei os meus
celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos
os meus bens”.[379] Falando consigo mesmo e usando os pronomes eu e meu
repetidamente, ele revela seu extremo egoísmo.[380] Não pensava em Deus e
nem no próximo. Ignorava o resumo da Lei de Deus, de amar a Deus e ao
próximo. Deus e o próximo não existiam para ele. Pensava somente em si
mesmo. Também não se sentia seguro dependendo de Deus.[381]
“Então direi à minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos
anos: descansa, come e bebe, e regala-te”[382] (v.19). Esta expressão mostra
que este homem deixou de agradecer a Deus pelas riquezas recebidas, e que
foi negligente no cuidado ao próximo necessitado. Sem Deus e sem o
próximo, sua existência estava centrada nele mesmo. Só, sem relação com
Deus, queria garantir seu futuro.[383] “Mas Deus lhe disse: Louco[384], esta
noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”
(v.20). O verbo grego ἀπαιτοῦσιν (apaitousin - “te será requerida”) é um
termo comumente usado para o retorno de um empréstimo. A sua alma lhe
fora dada por empréstimo, e agora o proprietário (Deus) quer que o
empréstimo seja devolvido. No começo da parábola, nota-se que os seus bens
eram uma dádiva. Agora, torna-se claro que a sua vida também não lhe
pertencia.[385] Todavia, o aguilhão das palavras usadas encontra-se, não no
anúncio de que este homem precisa morrer, mas na pergunta que se segue e
que mostra claramente a verdadeira pobreza da sua vida. Ele está só e sem
amigos em meio à sua riqueza.[386]
A vida de um homem é uma coisa incerta, na melhor das hipóteses, e
ninguém tem a certeza de que viverá o número de anos que gostaria. A coisa
realmente tola era a confiança fácil daquele rico de que o futuro estava no
controle dele. Jesus completa este ensino com um contraste entre armazenar
tesouros para si mesmo e ser rico para com Deus. É este último aspecto que
importa. Os homens são tolos se aceitam uma condição inferior a esta.[387]
Jesus não disse que o homem devia se privar de riquezas terrenas, prazer e
bem-estar, mas deve compreender que Deus é dono de Sua grande criação, e
que colocou o homem como despenseiro do mundo que criou. Como
despenseiro, o homem deve periodicamente prestar contas a Deus. Quando
deixa de fazê-lo e age como se fosse proprietário de seus bens, transgride a
lei de Deus e se condena como louco. Sempre que vive para si mesmo, ele
está espiritualmente morto.[388]
É preciso retornar a pergunta que gerou esta resposta em forma de
parábola. A voz da multidão clama por justiça na divisão da herança. A
resposta de Jesus é em termos de que seja dada uma nova perspectiva ao
problema propriamente dito. Ele não investiga quem está certo e quem está
errado, e depois coloca o Seu peso do lado da justiça (embora essa ação possa
ser correta em muitas circunstâncias). Pelo contrário, ele introduz uma nova
perspectiva, de fato, uma perspectiva teológica, mediante a qual considera o
problema e depois deixa sem resposta o problema propriamente dito. Aqui o
clamor egoísta pedindo justiça é entendido por Jesus como sintoma de uma
enfermidade. Ele se recusa a respondê-lo, mas pelo contrário, dedica-se à
cura da doença que produzira o pedido.[389] Agora, o interlocutor e a
multidão tinham de dar uma resposta. De acordo com esta resposta é que
seriam classificados pelo Reino.
3.5 - A figueira estéril (Lc 13.6-9)

Parece que a triste notícia levada a Jesus, de dois incidentes trágicos[390],


foi com a intenção hostil de conseguir dele, não só o seu pronunciamento
sobre o proceder de Pilatos, como também sua ideia sobre o problema da
relação do pecado com a punição. Havia a noção errônea de que a morte
violenta estava ligada a um grande pecado.[391]
Este acontecimento deu a alguns deles a oportunidade de tentar nosso Senhor. Eles
mandaram dar o relatório a ele, para ver o que ele iria responder. Pois se ele dissesse: “Este
assassinato é um caso claro de injustiça e opressão”, eles iriam difamá-lo perante o governador
romano, dizendo que ele estava ultrapassando a lei e que os seus ensinamentos violavam a
própria Lei Romana. Mas o Glorificado respondeu às suas insinuações com uma conclamação ao
arrependimento, e comparou esse terrível acontecimento à queda de uma torre em Siloé.[392]
Se Jesus respondesse com uma observação de apoio, essa poderia ser
usada contra ele. Não obstante, a sua resposta não é sem denúncia a Roma,
nem de silêncio. Mas, sua resposta é para aqueles que o estão ouvindo. Pode-
se imaginar uma resposta nestes termos: “Vocês querem que eu condene o
mal em Pilatos. Eu não estou falando com Pilatos. Ele não está aqui. Estou
falando com vocês. As forças do mal estão operando no movimento de vocês,
e os destruirão, independentemente da existência de Pilatos. Vocês devem se
arrepender, senão todos serão destruídos por essas forças”.[393]
Jesus relata então a parábola[394] de certo homem que tinha uma figueira
em sua vinha.[395] Depois dela ter sido plantada, ele teve que esperar três anos
até que a árvore começasse a produzir. Então, de acordo com a Lei de Moisés
(Lv 19.23), teria que esperar outros três anos até que os frutos fossem
considerados puros. Passados os primeiros três anos, o proprietário foi
procurar frutos na árvore. Ano após ano, procurou e não encontrou fruto
algum. A árvore era estéril.[396]
Assim, o dono dá a ordem: “pode cortá-la” (v. 7). Bailey lembra que, no
Ocidente, os lenhadores cortam árvores. No Oriente Médio, a árvore é
“arrancada”. A árvore, juntamente com seu tronco e a maior parte da sua raiz,
é considerada como um bloco e é removida. Assim, o verbo em 13.7
(katargeo) significa literalmente “arrancar” e não “cortar”. Desta forma, a
cena agrícola palestina apresenta um quadro vivo de uma eliminação radical
desta árvore infrutífera.[397]
Além de não dar frutos, estava ocupando terreno que de outra forma
poderia ser produtivo. Neste ponto da parábola, acontece uma dramática
mudança. O vinhateiro aconselha paciência. Talvez um tratamento do solo e a
aplicação de estrume por mais um ano traga resultados. Dará à árvore uma
última chance para produzir. Mas o vinhateiro reconhece os fatos. Se a árvore
continuar sem frutos, acabou-se o assunto. Mesmo assim, não diz: “Eu a
cortarei”, mas, sim: “mandarás cortá-la”.[398] Neste ponto, Bailey esclarece:
O vinhateiro tem sido frequentemente identificado com Jesus, que está, desta forma,
discutindo com o Pai, Deus. Esta identificação dificilmente teria sido imaginada pelo auditório
original, nem seria pretendida por Jesus. (...Assim,) Deus, o Pai, é considerado como duro e
condenador, e Jesus aparece como gracioso e amoroso. Desta forma, causa-se uma divisão na
Trindade. (...) Aqui, duas pessoas debatem a sorte da vinha. É muito mais apropriado entender o
debate como sendo entre a misericórdia e o juízo.[399]
Esta abordagem está de acordo com passagens rabínicas em que
atributos de Deus discutem. Neste caso, o atributo de justiça com o atributo
de misericórdia. Se Deus tratasse Israel estritamente com justiça, Israel
pereceria. Mas Ele não faz isso. Ele dá outra oportunidade. Esta parábola
apresenta uma ênfase notável na misericórdia, que é geralmente
menosprezada à luz do tema do juízo.[400] Edersheim afirma que a parábola
se refere claramente à nação de Israel, a qual Deus chamou e plantou num
lugar escolhido – como uma figueira na vinha de seu próprio Reino. Veio
buscar o seu fruto, como tinha direito de fazê-lo. E não o encontrou.[401]
Bailey, por outro lado, argumenta no sentido de que a figueira representa
apenas os líderes de Israel. Na sua concepção, o dono da vinha é o Senhor, e
a vinha propriamente dita é a casa de Israel (cf Is 5.7). A parábola de Jesus se
concentra em uma planta na vinha, que é uma figueira, e não uma videira.
Assim sendo, o problema discutido nesta parábola é a crise de uma liderança
infrutífera no contexto da nação e não um julgamento da nação de Israel
propriamente dita. Bailey conclui, então, seu estudo desta parábola,
afirmando que “quando líderes são infrutíferos, não falham apenas em sua
obediência como indivíduos, mas também esterilizam a comunidade que está
ao seu redor. Deus tem muito cuidado com a comunidade e não tolerará
indefinidamente esta situação”.[402]
O ensino da parábola é que, quando o tempo designado para que o
homem se arrependa tiver esgotado, o juízo de Deus estará concluído. O
tempo permitido por Deus é um período de graça, e reflete sua misericórdia
para com o homem. Deus não caminha apenas a segunda milha. Anda a
terceira e, se necessário, a quarta, a fim de salvar um pecador. Mas quando
sua paciência se exaure e o chamado de Deus para que o homem se arrependa
continua negligenciado, então o julgamento é inevitável.[403]
3.6 - A grande ceia (Lc 14.16-24)

A referência feita por Jesus à ressurreição (v.14) deu vazão a uma


exclamação piedosa de um dos hóspedes: “Bem-aventurado aquele que
comer pão[404] no Reino de Deus!”. Este não tinha dúvida de que estaria ali,
seja qual for o destino dos demais. A parábola de Jesus sobre a Grande
Ceia[405] é um desafio à sua sinceridade. Quando chegasse o momento
crítico, ele realmente aceitaria o convite de Deus? Ou estaria por demais
ocupado nalguma atividade que afetasse seus interesses mais imediatos?[406]
A história fala de um certo homem que preparou cuidadosamente uma
grande ceia, para muitos convidados. Quando tudo estava preparado, mandou
chamar seus convidados. No contexto do Oriente Médio, o hospedeiro manda
convites e recebe a confirmação de quantos o aceitaram. Com base nos
convites aceitos, ele prepara então a festa. Uma vez começada a contagem
regressiva, ela não pode parar. Os convidados que aceitam o convite têm a
obrigação de comparecer. O hospedeiro completa os seus preparativos e,
então, na “hora do banquete”, um servo[407] é enviado para avisar que tudo
está preparado.[408] Os hóspedes em perspectiva, no entanto, começam a
desculpar-se. Jesus dá uma amostra do tipo de coisa que disseram: um campo
comprado para ser visto, juntas de bois para serem experimentadas e um
recém-casado que não poderia ir. Todas as desculpas são transparentemente
falsas.
Ninguém compraria um campo sem inspeção prévia cuidadosa. E se,
porventura, alguém tivesse feito assim, não haveria pressa, pois o campo
estaria ali ainda no dia seguinte. Também ninguém compraria bois sem
primeiro assegurar-se de que fariam o serviço. E, se já tivesse feito a compra,
não haveria mais pressa para o teste; também os bois ficariam ali para o dia
seguinte. A desculpa do terceiro é um pouco mais original. Até a lei estipula
que o homem fique em casa durante o primeiro ano da vida conjugal (Dt
24.5). Mas este é um regulamento que visa livrá-lo do serviço militar, e não
isolá-lo dos contatos sociais. Não passa de uma desculpa como as demais.[409]
Depois de ter falado com todos os convidados, o servo voltou ao
anfitrião e transmitiu-lhe todas as desculpas e “lembranças” enviadas. O dono
da casa não se sentiu satisfeito, ficando muito zangado. Não podia perder
toda a comida preparada. Não tinha outra escolha senão encher sua casa com
outros convidados. Ordenou ao servo que fosse às ruas e becos da cidade e
trouxesse para a ceia mendigos, aleijados, cegos e coxos,[410] que
encontrasse. Cumprida esta ordem, ainda sobravam lugares. O Senhor
enviou-o novamente, para que buscasse todos os marginalizados pela
sociedade que encontrasse pelos caminhos e atalhos da cidade. O anfitrião
queria que todos os lugares do banquete estivessem ocupados, de modo que,
se algum daqueles que convidara antes chegasse atrasado, não poderia entrar,
pois não haveria mais lugar.[411]
Jeremias afirma que não se pode passar por cima do tom de alegria que
se expressa na exclamação: “Tudo já está pronto!” (v.17). Deus cumpre sua
promessa e sai do seu escondimento. Mas se os “filhos do Reino”, os
teólogos e os círculos dos piedosos atiram às favas o chamado de Deus,
entrarão então no seu lugar os “desprezados e os longe de Deus”, e, aos
primeiros, soará o “tarde demais” por detrás da porta fechada da sala de festa.
[412] Jesus está enviando seus servos com a mensagem da vinda do Reino de
Deus. Os que ouvem a mensagem são convidados a fazer parte desse Reino.
Não devem apresentar desculpas e se demorar, porque Jesus não reservará
um lugar para eles. Ele preencherá os lugares de seu Reino com outros, que
virão daqui e dali. Ele quer que sua casa fique repleta.[413]
Aqui Jesus não ensina uma predestinação que opera mecanicamente, que determina desde a
eternidade quem será e quem não será levado ao Reino. E também não proclama que a entrada
do homem no Reino é problema exclusivamente dele. Os dois pontos essenciais dos Seus
ensinamentos são de que nenhum homem entra no Reino sem ser convidado por Deus, e que
nenhum homem pode permanecer do lado de fora, a não ser por sua escolha deliberada. O
homem não pode salvar-se a si mesmo; mas pode condenar-se a si mesmo... Ele (Jesus)
considera a mais terrível tragédia da vida humana, não as muitas coisas erradas e insensatas que
os homens fazem, ou as muitas coisas boas e sábias que não conseguem fazer, mas a sua rejeição
da maior dádiva de Deus.[414]
Esta história de um banquete enfatiza a verdade de que os homens são
salvos, não pelos seus próprios esforços, mas ao aceitar o convite; se forem
perdidos, no entanto, é por sua própria culpa. É tragicamente possível rejeitar
o gracioso convite.[415]
C - O Reino que Busca

A resposta humana é de suma importância para a integração do homem no


Reino. Porém, para que fique claro de que nenhuma atitude humana, por si
só, pode merecer a entrada no Reino, Jesus reforça, através de duas
parábolas, de que é o Reino que toma a iniciativa de buscar o ser humano
perdido.
3.7 - A ovelha perdida (Lc 15.3-7)

O capítulo 15 de Lucas registra três parábolas.[416] A introdução do


capítulo mostra que o fato de Jesus juntar-se aos publicanos e pecadores, era,
aos olhos dos judeus, uma circunstância de grave delito. A acusação, até aqui,
era verdadeira. Em contradição aos princípios e práticas do rabinismo, Jesus
“recebia aos pecadores” como tais, e tinha tratos com eles. Ainda mais, não
somente os recebia quando eles o buscavam, senão que Ele os buscava para
achegá-los a seu lado.[417] Isto era motivo de murmuração aos escribas e
fariseus (Lc 15.1-2). Jeremias concorda que esta introdução é historicamente
exata, mostrando assim, a Sitz im Leben desta série de parábolas.[418]
Estas três parábolas são comumente chamadas de: a ovelha perdida, a
moeda perdida e o filho pródigo. Estes títulos passam por alto a Jesus. Elas
são realmente as parábolas do bom pastor, da mulher diligente e do pai
amoroso. Em cada história, a ênfase cai sobre o gozo de recobrar o que se
havia perdido. A terceira é culminante: deve ter contestado plenamente a
murmuração dos fariseus contra Jesus.[419]
Na primeira parábola, Jesus apela ao costume da época. Se uma ovelha
se desgarrasse, qualquer pastor deixaria as noventa e nove e procuraria a que
faltava. As noventa e nove não estão passando qualquer perigo; já foram
achadas.[420] Mas a posse das noventa e nove não substitui a perda de uma.
Assim, o pastor continua procurando até encontrá-la. Ele faz mais do que
uma busca simbólica. Quer sua ovelha. Procura até achá-la.[421] Quando ele a
encontra, coloca-a nos ombros e a reconduz de volta ao rebanho.[422]
Este poderia ter sido o final da história, mas não foi. A história cresce
em emoção no seu clímax com a alegria que toma conta do pastor. A alegria
de achar a ovelha perdida sobrepuja qualquer outra coisa. Na sua felicidade
transbordante, reúne outros para compartilhar da alegria.[423] O relato termina
com uma declaração enfática de Jesus: “Assim haverá maior júbilo no céu
por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos[424] que
não precisam de arrependimento” (v.7). Montefiore comenta:
Deus ativamente procura os pecadores e os traz para casa. Os rabinos concordavam que
Deus daria boas-vindas para o pecador arrependido. Mas é uma ideia nova que Deus é um Deus
que busca, um Deus que toma a iniciativa.[425]
Deus está genuinamente interessado na salvação do pecador. Como um
pastor, ele vai à procura do homem que é incapaz de fazer qualquer coisa por
si mesmo. Deus vai em busca do homem, não o homem em busca de Deus.
Neste ponto, o cristianismo difere das outras religiões do mundo. Deus
encontra o homem que está perdido em pecado. Quando o pecador é
encontrado, há júbilo no céu. Naturalmente, há alegria por aquele que faz a
vontade de Deus, mas, quando um pecador volta para Deus, em
arrependimento[426] e fé, é chegado o tempo da celebração. Um filho de
Deus, que estava perdido, foi achado.[427]
3.8 - A dracma perdida (Lc 15.8-10)

Parece que Cristo já havia metido o bisturi de cirurgião bastante fundo na


ferida dos fariseus, por causa de seu egoísmo e justiça própria. Porém, na
segunda parábola, mete-o ainda mais fundo porque apresenta um caso em que
demonstra que os publicanos e pecadores estavam perdidos por falta de
devido cuidado deles e de outros mestres. Foi como se Cristo lhes houvera
dito que eles eram responsáveis pela perdição dos pecadores e publicanos, e
que deviam buscá-los em vez de murmurar e criticar Sua atitude para com
eles.[428]
Jesus relata, então, a parábola de uma mulher que tinha dez dracmas e
perdeu uma.[429] Então ela acende uma candeia e varre a casa até encontrar a
dracma perdida.[430] As casas mais pobres eram construídas sem janelas.
Junto ao teto, às vezes faltavam algumas pedras na parede para permitir a
ventilação. Mas, essa abertura, além da entrada, não fornecia luz suficiente
para o interior da casa. Era escuro, dentro da casa, mesmo durante o dia. A
mulher teria que acender uma candeia para poder procurar a moeda no chão
de pedra. O chão, geralmente, era desnivelado, feito de grandes pedaços de
basalto com consideráveis fendas entre eles.[431]
Essa mulher sabia que não seria possível que alguém a houvesse
roubado. A liberdade de movimento das mulheres nas aldeias era
extremamente limitada.[432] É claro que ela sabia que a moeda estava na casa.
Ela não havia estado fora. A sua diligência foi motivada pela certeza de que a
moeda poderia ser achada, se ela continuasse varrendo.[433] A mulher,
portanto, procurou a moeda com determinação. Ela varre e procura, até
encontrá-la. “Tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-
vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido” (v.9). Jesus
conclui então “que, de igual modo, haverá júbilo diante dos anjos de Deus
por um pecador que se arrepende” (v.10). A lição aqui é paralela à da
história anterior: o valor de alguém, a busca do perdido e o gozo da
recuperação.[434]
Os escribas e fariseus e outros mestres, ao invés de criticarem o Mestre,
deveriam usar sua inteligência em buscar os pecadores perdidos e trazê-los a
Deus com grande regozijo. Mas isto eles não faziam, por causa da sua
pretensa santidade. Entretanto, Jesus busca o pecador diligentemente e salva-
o, causando alegria e regozijo, não somente ao próprio pecador, mas a todos,
na terra e no céu. E esta é a vontade de Deus.[435] Edersheim argumenta que o
interesse desta parábola se centra na busca, e a perda é causada, não por
tendência natural, mas pelas circunstâncias acidentais, que cobrem a moeda, a
escondem e dão, por resultado, como se o dono não a tivera.[436]
Dois aspectos da parábola da ovelha são intensificados nesta da dracma.
Primeiro, o valor relativo da coisa perdida é intensificado. Agora é uma entre
dez, e não uma entre cem. Segundo, o lugar onde se procurou a coisa perdida
é mais limitado. Agora é dentro dos limites de uma casa, e não no deserto
aberto. Assim, a certeza de que a coisa perdida pode ser achada intensifica-se.
[437]
Em comparação com a parábola da ovelha perdida, tendo-se ainda em
mente o contexto descrito nos versículos 1 e 2, pode-se observar que
enquanto a parábola anterior tratava dos perdidos fora de casa, esta parábola
da moeda trata dos perdidos dentro da própria casa. Ou seja, aquela falava
dos publicanos e pecadores, perdidos fora de casa. Esta trata dos fariseus e
escribas, que estavam quase todos os dias no templo (a casa de Deus) e
mesmo assim perdidos, embora estivessem dentro da casa.
B’ - O Reino que Classifica

Após chegar ao ponto central e de maior importância quanto à entrada do


homem no Reino, que é a iniciativa do próprio Reino em buscar o ser
humano, Jesus retoma a necessidade de uma atitude de resposta, por parte do
ser humano a este convite. Mais quatro parábolas ensinam sobre esta verdade.
3.9 - Os filhos perdidos (Lc 15.11-32)

O contexto desta parábola é o mesmo das duas anteriores, descrito nos


versículos 1 e 2, do capítulo 15.[438] Jesus estava ensinando aos publicanos e
àqueles considerados marginais. Ensinava-lhes verdades espirituais que
diziam respeito ao Reino de Deus, quando os líderes religiosos daqueles dias
manifestaram seu desagrado, murmurando contra Jesus: “Este recebe
pecadores e come com eles”. Aos olhos dos escribas e fariseus, os publicanos
(porque se tinham vendido ao governo romano) e as prostitutas (pelo seu
pecado moral), estavam banidos da comunidade religiosa de Israel e estavam,
espiritualmente, mortos. Embora procurassem ganhar convertidos, os
doutores da Lei e os fariseus não tinham interesse em receber tais convertidos
para um relacionamento mais expressivo com Deus (Mt 23.15). Não podiam
nem queriam entender que Deus deseja o arrependimento que, quando
demonstrado, causa imenso júbilo nos céus.[439] O auditório constitui-se,
portanto, de “publicanos e pecadores” e de “fariseus e escribas”. Para ambos
os grupos, a parábola tem algo a dizer.[440]
A primeira cena prepara o palco para tudo o que segue. Fala de um
homem que tinha dois filhos. Perceba que o filho mais velho já está na
história desde o início, detalhe que não pode ser esquecido. Os dois filhos
trabalhavam com o pai na fazenda da família. Um dia, o filho mais moço
pede ao pai a parte dos bens que lhe cabiam. Bailey informa que, em todo o
Antigo Testamento, atos como o deste filho são desconhecidos. Diz, também,
que não havia, entre as leis e costumes dos judeus ou árabes, o direito de o
filho receber uma parte da riqueza do pai, enquanto este ainda estivesse vivo.
No máximo, o que ele pode esperar é ganhar a passagem e um pouco de
dinheiro para as primeiras despesas. [441] Jeremias informa sobre a situação
jurídica da época:
Havia duas formas de transmissão de posse de pai para filho: por testamento e por doação
entre vivos. No último caso, valia a seguinte regra: o interessado recebia imediatamente o
capital, e só depois da morte do pai é que recebia o gozo do uso. Significa que o filho recebia o
direito de posse (o pai não podia, por exemplo, vender os campos em causa), mas não o direito
de dispor (se o filho vendesse, só depois da morte do pai é que o comprador tomaria posse), nem
o gozo do uso (este ficava com o pai sem limite até a sua morte). Esta situação jurídica
corresponde então exatamente, quando o irmão mais velho é designado como o único possuidor
(v.31), ainda que o pai exerça o total gozo de uso (v.22ss,29).[442]
Entretanto, o pedido do filho mais novo ainda é duplo. Ele requer não
somente a divisão dos bens, mas também a posse imediata dos mesmos.
Assim, pede a sua parte dos bens, e trata o pai como se este já estivesse
morto. Revela, assim, que está, de fato, perdido.[443]
Parece ser incompreensível a atitude do filho. Não obstante, a atitude do
pai é ainda mais estranha. No ambiente do Oriente Médio, esperar-se-ia que o
pai explodisse e disciplinasse o rapaz por causa das cruéis implicações do seu
pedido. É difícil imaginar uma ilustração mais dramática da qualidade desse
amor, que dá liberdade até para rejeitar a pessoa que ama, do que a
apresentada nesta cena inicial.[444] Weingärtner afirma que, embora se custe a
compreender, a atitude do pai é expressão de seu amor. O filho já estava
perdido antes de pedir a herança. A vida vergonhosa, que ia levando depois,
foi apenas o pus que ia saindo da ferida do desamor e da revolta interna. É
por isso que o pai deixou o filho partir. A ferida precisava amadurecer. O
mesmo autor argumenta que o pai não deixou de amar o filho, nem sequer
por um minuto. Enquanto o filho ia levando a sua vida dissolutamente, havia
uma realidade que nem sequer era tocada pelo que ele ia fazendo. Era a parte
da herança que não dá para dividir, pois é indivisível, íntegra e eterna – o
amor do pai.[445]
A história continua dizendo que o filho ajuntou tudo e partiu para uma
terra distante. Lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.
Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele
começou a passar necessidade. Então, ele foi e se agregou[446] a um dos
cidadãos daquela terra e este o mandou para os seus campos a guardar
porcos. Morris afirma que, para um judeu, nenhuma ocupação poderia ter
sido mais desagradável. “Maldito o homem que cria porcos” diz o ditado
rabínico.[447] Ele havia chegado à degradação mais profunda. Era empregado
de um gentio, cuidava de animais imundos (Lv 11.7) e teve de abandonar a
religião de seus pais espirituais. Seu empregador o fazia sentir que aqueles
porcos tinham mais valor para ele que um simples empregado. Nem sequer
alimentar-se devidamente ele conseguia.[448] Alguns autores explicam as
alfarrobas em termos de “vagens de alfarrobeira”. Um alimento doce,
utilizado em épocas de grande escassez. Bailey, entretanto, afirma que a
parábola retrata
Um cuidador de porcos tentando desesperadamente conseguir nutrição suficiente para
permanecer vivo, comendo bagas pretas e amargas que os porcos arrancam de arbustos baixos.
Esse arbusto não é a ceratonia siliqua, mas uma alfarrobeira selvagem que cresce nas pastagens
do Oriente Médio.[449]
Bailey informa, então, que esta alfarrobeira selvagem tem espinhos e é
usada como madeira para queimar. Cresce até cerca de um côvado de altura,
tem ramos e produz bagas de pouco peso e infladas; mas essas bagas são
duras e não comestíveis, exceto em períodos de emergência. Podem,
portanto, ser comidas pelos seres humanos, mas são amargas e não têm valor
nutritivo. Não importava quanto o filho pródigo comesse, elas não o
alimentariam suficientemente. Desta forma, o texto complementa: “e
ninguém lhe dava nada”.[450]
Quando o filho pródigo se encontra na fase mais profunda da sua
perdição, ao cair em si, ao enfrentar a criatura imunda que veio a ser, ele vê
diante de si a casa do pai: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com
fartura e eu aqui morro de fome”. É a lembrança da casa paterna que lhe dá
coragem de tomar uma atitude.
Kistemaker informa que quando a ideia de retornar lhe veio à mente, o
filho pródigo deve ter feito algumas análises lógicas. Primeiro, que os servos
e os contratados dificilmente esconderiam seu escárnio. Segundo, seu irmão
mais velho de modo algum o receberia bem se voltasse para casa, para uma
propriedade a que não mais tinha direito. E, finalmente, seu pai o veria
descalço e vestido como um pastor. Certamente, seria visto como a figura
abjeta de um pastor.[451]
Ele faz então o seu plano: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe
direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado
teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores” (v. 18-19).[452] Porém, a
esta altura ele ainda não havia compreendido verdadeiramente o amor de seu
pai.
Aqui Bailey apresenta uma interessante interpretação, daquilo que o
filho mais moço planejou como retorno à casa paterna. Primeiramente, a
expressão “caiu em si” não precisa necessariamente ser interpretada como um
arrependimento, pois não é utilizado aqui o termo μετανοέω (metanoeo) ou
sinônimos. Para Bailey, não é o remorso pelos pecados que cometeu, mas a
constatação de que chegou ao fim de seus recursos, que leva o filho a voltar.
O pródigo pensa que, se não tivesse perdido o dinheiro, não teria pecado.
Outro aspecto importante é que ele falhou por não ter permanecido de
prontidão para tomar conta de seu pai na velhice. É por isto que confessa:
“pequei contra o céu e diante de ti”.
Ele precisa, então, elaborar um plano para salvar a sua aparência. Esse
plano é desenvolvido em termos de um servo assalariado. O termo μίσθιοι
(misthioi) denota exclusivamente um trabalhador assalariado.[453] O termo
compreende um estranho, que não pertencia à propriedade e que não tinha
interesses pessoais nos negócios do seu senhor temporário. Era meramente
um trabalhador ocasional, empregado quando necessário. Era um homem
livre e não era considerado socialmente inferior a seu empregador. Assim, se
o pródigo se tornar um μίσθιοι (trabalhador assalariado, dormindo fora da
propriedade), poderá ser capaz de pagar o que perdera. Ao perder o dinheiro,
falhara nas suas responsabilidades. Agora ele recuperará o que havia perdido.
Em suma, ele se salvará. Ele não deseja graça.[454]
Quando o pródigo planeja dizer ao pai “faz de mim um trabalhador
(assalariado)”,[455] está dando ordens ao pai. Ele tem um plano que acha ser
digno de execução. Ele pretende ordenar ao seu pai que o execute. Esse plano
lhe dará independência em relação ao seu pai, e propiciará uma oportunidade
para fazer compensação pelos erros que cometera. Com o orgulho intacto,
pretende mandar que o seu pai faça dele um servo assalariado. Essas são as
implicações de seu relacionamento para com o pai. Porém, mais dois aspectos
precisam ser analisados: o relacionamento com o irmão mais velho e com a
comunidade da aldeia.
Se o pródigo for trabalhar como servo assalariado, ele não estará
comendo do pão do seu irmão. Ele sabe que tudo o que foi deixado na
propriedade foi transferido legalmente ao seu irmão. O pai pode alimentar a
quem bem entender, com o produto da fazenda. Mas, o que não for
consumido, pelo pai ou pelos amigos deste, é em seguida acrescentado ao
capital que o filho mais velho, com o tempo, herdará. Desta forma, o filho
mais velho provavelmente se ressentirá com a presença do pródigo. Vivendo
em casa, isso resultaria em reconciliação com o seu irmão e aparentemente
esta perspectiva é rejeitada. De qualquer forma, seu plano torna desnecessária
uma reconciliação com o filho mais velho.
O problema final do pródigo é seu relacionamento com a aldeia. Sua
volta à aldeia é grandemente complicada pela maneira como a deixou. Foi
embora tendo ofendido toda a aldeia, tomando posse e vendendo a sua
herança enquanto o seu pai ainda estava vivo. Agora ele perdera o seu
dinheiro para os gentios. Assim, ele pode esperar tranquilamente que os seus
parentes e amigos o cortem da comunhão da aldeia. Sua entrada será
humilhante e cruel. Para esse problema, ele aparentemente não tem solução.
A aldeia simplesmente precisa ser enfrentada.[456]
No outro extremo da história, encontra-se o pai. Este tinha o controle da
situação e não o filho. Olhava na direção de onde esperava que seu filho
viesse.[457] Bailey complementa, afirmando que o pai espera que o seu filho
fracasse. Se voltar, será como um mendigo. O pai também sabe como a aldeia
tratará o rapaz por ocasião da sua chegada, pois provavelmente os habitantes
da aldeia devem ter dito ao pai que não devia ter liberado a herança. O filho,
provavelmente, será escarnecido por uma multidão que se reunirá
espontaneamente quando a notícia correr a aldeia, falando da sua volta. Para
Bailey, o que o pai faz nesta cena de volta ao lar pode ser entendido melhor
como uma série de atos dramáticos, calculados para proteger o rapaz da
hostilidade da aldeia e para restaurá-lo à comunhão da comunidade.[458]
Esses atos começam quando o pai sai correndo estrada fora. Jeremias
afirma que isto é, para um oriental idoso, totalmente incomum e abaixo da
sua dignidade, mesmo quando tem muita pressa.[459] Bailey concorda,
afirmando que, na cultura oriental, “o andar do homem dá a conhecer o que
ele é”. Um nobre oriental com roupas esvoaçantes nunca corre para parte
alguma. Fazê-lo é humilhante. Não obstante, aquela punição que o rapaz teria
de enfrentar, ao voltar para a aldeia, o pai a sofre por ele, ao correr através da
aldeia, assumindo uma postura humilhante enquanto o faz. Uma atitude
dessas depressa atrairia uma multidão para o local.[460]
O pai quer que a reconciliação se torne pública, na entrada da aldeia.
Dessa forma, o filho entrará na aldeia sob o cuidado protetor da aceitação do
pai. O rapaz, tendo enrijecido os nervos para enfrentar aquele vitupério,
agora, espantado, vê o seu pai correndo em sua direção.[461] Nessa hora, não
há nenhuma acusação. Nada de reprimendas morais. O coração paterno se
move de compaixão. Ele atira os braços ao redor do pescoço do filho e o
beija[462]. Nada diz e diz tudo. Não deixa nenhuma dúvida no coração do
filho. É nesse momento que o filho compreende o que é o amor do pai. Antes
ele não tinha sabido.[463] As boas vindas do pai são, claramente, um
derramamento de graça.
O arrependimento, finalmente, tornou-se a capacidade de abrir mão do
orgulho e aceitar a graça. Agora, ele percebe que o problema não é o dinheiro
perdido, mas o relacionamento interrompido que ele não consegue curar.
Presumir que ele possa compensar o seu pai com o seu trabalho é um insulto.
“Sou indigno” é agora a única reação apropriada.[464]
Então ele confessa tudo. Aqui, uma pergunta é apropriada: “o que terá
dado ao pródigo coragem de confessar e expor sua miséria em público, sendo
que o pai já lhe perdoara, antes que lhe pedisse perdão?” Weingärtner
responde: “foi o amor do pai, nada mais”. Se não há nada no mundo capaz de
arrancar a confissão de seus erros e de sua vida falhada, o amor de Deus o
consegue.[465]
O longo período de espera chegara ao fim. O pai tinha o seu filho de
volta. Portanto, era hora de comemorar. O pai ordenou aos servos que lhe
trouxessem as melhores roupas. Os servos estão ali na estrada, com a
multidão. Recebem ordens específicas de vestir o filho, como os servos
fazem com um rei.[466] Esta ordem de vestir o pródigo assegura um respeito
apropriado da parte dos servos, que, naturalmente, estão esperando
ansiosamente algum indício da parte do pai, que lhes diga como tratar o filho.
[467]
A parábola também informa que “puseram-lhe um anel no dedo”. O anel
é, como mostram as escavações, um anel-sinete. Sua entrega significa entrega
de plenos poderes.[468]
Depois também lhe calçaram “sandálias nos pés”. As sandálias são sinal
de que ele é um homem livre na casa e não um servo. Os servos do pai lhe
colocaram as sandálias, como sinal de que o aceitam como senhor deles.
Nenhuma outra ordem poderia ter expressado esse fato de maneira mais
conclusiva.[469] Andar sem sandálias significava indício de pobreza.[470]
Finalmente, o pai ordena que se mate o “bezerro cevado”. O novilho
cevado era um animal cuidadosamente tratado, em prontidão para uma
ocasião especial. Seu uso nesta ocasião demonstrava que o pai pensava que
dificilmente poderia haver uma ocasião mais especial do que esta.[471]
Então, o júbilo transbordante do pai acha expressão no seu contraste
memorável entre morto e reviveu, perdido e achado.
Esta cena de volta ao lar apresenta o quadro de um servo que planeja
confessar e compensar. O pai, então, demonstra amor inesperado em
humilhação. O servo é vencido pela graça e se torna um filho. A cena
propicia uma nova maneira de entender o arrependimento, como aceitação da
graça e confissão de indignidade.[472] Concluindo, esta primeira parte da
parábola apresenta uma interessante estrutura em forma de paralelismo
invertido, sugerida por Bailey, para as cenas que envolvem o filho mais
moço[473]:
A parábola do filho pródigo poderia se encerrar com estas palavras: “E
começaram a regozijar-se”. Mas, então, a sentença introdutória: “certo
homem tinha dois filhos” seria de pouco ou nenhum significado. A história
estaria incompleta sem outras referências ao filho mais velho.[474] Este
aparece agora em cena nos campos. Está fora de casa. Quando retorna, ao
aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Jeremias informa que, ao
banquete, segue-se música (canto em voz alta e bater palmas) e dança dos
homens.[475] Bailey, por sua vez, é da opinião de que isto pressupõe mais
ordem do que é costumeiro na vida desestruturada da aldeia oriental. Para
este autor, não há início formal e oficial para a festa. O povo vem, canta,
dança, bebe vinho, conversa, come, sai, volta e assim por diante. Tudo está
em movimento. A música não começa depois da refeição, mas antes dela.[476]
Ao ouvir o ritmo das músicas, o filho mais velho percebe imediatamente
que é uma ocasião especial. Os ritmos das aldeias são específicos e
conhecidos. O filho mais velho não corre como se era de esperar, mas
manifesta suspeita. Ele pede informações a um “rapaz”. Normalmente,
interpreta-se em termos de um servo. Porém, Bailey argumenta
convincentemente de que se trata de um menino e não de um servo.[477]
Embora os meninos não estejam oficialmente participando da festa, eles são
parte inevitável de qualquer celebração na aldeia. Eles se congregam em
grande número e ficam à frente da casa, cantam e dançam de acordo com a
música, unindo-se ao entusiasmo da festa. A este menino é que o filho mais
velho perguntou que era aquilo.[478]
O filho mais velho decide não entrar na casa. O costume da época requer
a sua presença. Num banquete desses, o filho mais velho tem uma
responsabilidade semioficial. Espera-se que ele passeie entre os convivas,
cumprimentando, assegurando-se de que todos têm o suficiente para comer,
dando ordens aos servos, sendo uma espécie de mordomo da festa. Agora, se
ele entrar na casa, pelo menos se verá que ele se uniu à família para honrar o
pródigo. Nega-se, portanto, a entrar na casa.[479] O pai precisou sair de casa
para ir ao encontro de um filho; sai agora para encontrar o outro. Weingärtner
afirma, ainda, que mais uma vez é necessário indicar o coração do pai. Há
boas novas para os filhos perdidos que não saíram da casa paterna, mas que
mesmo assim nunca chegaram a compreender o amor do pai.[480]
O filho mais velho lança no rosto do pai toda a sua ira: “Há tantos anos
que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um
cabrito sequer para alegrar-me com meus amigos; vindo, porém, este teu
filho[481], que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar
para ele o novilho cevado” (v.29-30).
O título desta parábola fora posto como “Os dois filhos perdidos”. Aqui,
o próprio filho mais velho o diz. É uma confissão de sua revolta interna, que
ele vai expondo ao pai. Bailey argumenta, neste ponto, de que o filho mais
velho se dirige ao pai sem usar títulos. Assim ele acaba de insultar seu pai
publicamente, e não obstante é capaz de dizer: “Nunca desobedeci a ordens
tuas”. O filho mais velho também mostra qual é o seu conceito de alegria.
Para ele, uma boa refeição com os seus colegas é uma ocasião apropriada
para alegrar-se. A recuperação de um irmão, como se voltasse de entre os
mortos, não o é.[482]
Em resumo, vê-se um filho cujas atitudes e relacionamento são
tristemente pervertidos e cuja única característica redentora é que ele obedece
a ordens. O seu discurso é um quadro marcado pelo contraste entre as queixas
de como ele é tratado e como o seu irmão está sendo tratado.[483]
A pergunta decorrente é: “Como reagirá o pai a esse ataque à sua
integridade?” A expectativa do ouvinte de Jesus é de que o pai ficasse
furioso. Mas, pelo contrário, acontece um derramamento de amor. Como diz
Weingärtner, há evangelho também nesta parte da parábola. O pai também
ama este filho. Ama-o tanto quanto o outro.[484] Porém, se simplesmente
ordenar ao filho que entre na casa e cumpra os seus deveres como membro da
família, ele certamente obedecerá. Mas o que se ganharia com isto? O Pai
quer um “filho” e não um servo. O pai passa por alto a omissão do título, a
amargura, a arrogância, o insulto, a distorção dos fatos e as acusações
injustas. Não há condenação, nem crítica, nem rejeição, mas tão somente um
derramamento de amor.[485]
Então o pai responde ao filho: “Meu filho[486], tu sempre estás comigo;
tudo o que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos
alegrássemos porque este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e
foi achado” (v.31-32). Esta declaração do pai tem algumas implicações: 1) É
um apelo para que o filho se regozije com a volta de seu irmão; 2) Assegura
ao filho mais velho que os seus direitos estão plenamente protegidos, embora
graça pura tenha sido estendida ao pródigo; 3) Aponta sutilmente ao seu filho
mais velho que a categoria de servo é inadequada para o seu relacionamento;
e 4) Não é nem uma apologia do banquete, nem uma repreensão direta contra
o filho mais velho, mas primordialmente um clamor do coração para que ele
entenda a graça manifesta. O apelo visível e sonoro de amor constitui a única
esperança do pai, que não quer servos, mas filhos. O filho mais jovem estava
morto e está vivo. O filho mais velho semelhantemente está morto. Poderá
ele voltar à vida?[487] Kistemaker afirma:
Jesus não disse o que aconteceu depois. Parou ali, propositalmente. Se tivesse mostrado a
recusa do filho mais velho de entrar em casa, teria fechado a porta. Deixando inacabada a
história, indicava que a porta permanecia aberta. O pai convidou o filho a participar das festas; o
filho tinha que se decidir. Cabia a ele a decisão.[488]
Bailey concorda, afirmando que falta a conclusão. A cortina fechou-se
sobre o drama estando o filho mais velho ainda de fora. Será que o pai
conseguiu convencê-lo? Ou o filho mais velho continuou do lado de fora, até
o fim? Os fariseus precisavam dar a sua resposta a esta pergunta. O capítulo
começa com o assunto de alimentação. Termina com um convite aberto para
que os queixosos participem do banquete.[489] Bailey complementa:
A semelhança dos discursos, a semelhança das ações do pai, a semelhança dos insultos
contra o pai, tudo torna claro que os dois filhos são apresentados na história como sendo
essencialmente o mesmo. Eles diferem apenas em sua reação ao amor inesperado.[490]
Essa parábola ilustra a natureza do amor de Deus, oferecido
gratuitamente. É um amor que procura e sofre a fim de salvar. Jeremias
afirma que, na parábola, Jesus justifica o seu comportamento que causa
escândalos, dizendo que o amor de Deus para o pecador, que precisa achar o
caminho de volta à casa, é sem limites. Ele age assim como corresponde ao
ser e querer de Deus. Jesus pretende, portanto, atualizar o amor de Deus para
com o pecador que se dispõe à conversão.[491] Assim, a parábola, que não
contém aparentemente alusões a Jesus Cristo, mostra-se como velada de
plenos poderes. É em Jesus Cristo que o pai, Deus, corre ao encontro do filho
perdido.
Mais uma observação sobre o conjunto de parábolas de Lucas 15 ainda
precisa ser feita. Quando se observa o contexto das mesmas, nos versos 1 e 2
do capítulo, percebe-se que o auditório é formado por dois grupos: os fariseus
e escribas de um lado e os publicanos e pecadores de outro. Jesus tem uma
mensagem especial para ambos os grupos. Primeiro Ele trata dos pecadores,
daqueles que estão perdidos e longe de Deus. Para estes, Jesus dirige-se com
a parábola da ovelha que se perdeu fora, no campo. Logo depois, Jesus
dirige-se ao outro grupo – os fariseus e escribas. Para estes, Ele relata a
parábola da moeda que foi perdida dentro da própria casa. Este grupo estava
sempre no templo e nos espaços sagrados e, mesmo assim, estavam tão
perdidos quanto os outros do grupo anterior.
A terceira parábola é arrematadora e provocativa, quando Jesus inclui
ambos os grupos numa só história: o filho mais novo retrata aqueles que se
perderam e foram para longe – os pecadores e publicanos; o filho mais velho
retrata aqueles que se achavam perdidos mesmo estando dentro da própria
casa – os fariseus e escribas. Infelizmente muitos pregadores encerram sua
mensagem quando o filho mais novo retorna para casa e perdem, por isto,
justamente a parte principal da parábola. Ela não foi relatada por causa do
filho mais novo, pois aqueles representados por ele já estavam aos pés de
Jesus, ouvindo seus ensinos. Ela foi relatada pensando principalmente
naqueles representados pelo filho mais velho, pois estes ainda estavam
murmurando a respeito de Jesus e recusando-se a aceitá-lo.
É interessante que a parábola termina sem relatar a conclusão: o filho
mais velho entrou para celebrar ou ficou lá fora? Quem deveria dar a resposta
eram os próprios escribas e fariseus, pois era a eles que se dirigia a parábola.
O mais fascinante de tudo é a ironia que Jesus utiliza nesta história. Os
fariseus e escribas murmuravam porque Jesus “comia” com publicanos e
pecadores, por julgarem que estes estavam perdidos (v. 1-2). Agora, ao final
da terceira parábola, Jesus retrata um pai, do lado de fora da casa, convidando
o filho mais velho, que representava os fariseus e escribas, igualmente
perdidos, para entrarem na casa e participar da festa. Parece que Jesus se
dirige a eles com a seguinte expressão: “Vocês murmuram por eu estar
“comendo” com pecadores? Vocês também são! Querem entrar e “comer”
conosco também?”
3.10 - O administrador infiel (Lc 16.1-9)

De todas as parábolas ensinadas por Jesus, a parábola do administrador


infiel[492] é uma das mais enigmáticas. Por essa razão, numerosas
interpretações têm sido dadas. Cada uma delas tentando explicar o
ensinamento da parábola à luz de suas implicações éticas.[493] O problema
que jaz à raiz é o elogio ao administrador, que é claramente desonesto (v.8).
O modo usual de explicar isto é que o administrador é recomendado, não pela
sua desonestidade, mas por atuar de modo resoluto numa crise. A vinda de
Jesus forçava os homens a uma decisão. Quando até mesmo pessoas
mundanas desonestas sabem como e quando atuar de modo decisivo, muito
mais devem saber os que seguem a Jesus. É a astúcia do mordomo que é
recomendada, e não suas práticas comerciais.[494]
A interpretação mais usual está baseada em um pressuposto cultural da
época. Os judeus eram proibidos de tomar juros dos seus patrícios quando
lhes emprestavam dinheiro (Ex 22.25; Lv 25.36; Dt 23.19). Aqueles que
queriam ganhar dinheiro com empréstimos evadiam a lei ao raciocinar que
esta foi feita para proibir a exploração dos pobres. Seja qual for a quantia
emprestada, ela recebia um determinado valor em azeite ou trigo (por
exemplo, oitenta medidas de trigo), os juros eram acrescidos (por exemplo,
vinte medidas), e a promissória era emitida para o pagamento do total em
termos de trigo ou azeite (neste caso, cem medidas de trigo). A transação era
usurária, mas a promissória não dava indicação disso. Comumente, essas
transações eram realizadas pelos administradores, ostensivamente, sem o
conhecimento dos donos.[495]
Bailey, porém, apresenta uma alternativa a essa interpretação usual.
Primeiramente, expõe três perguntas que precisam ser respondidas. 1) O
senhor é um homem honrado ou um comparsa de seu mordomo? 2) O
mordomo havia obrigado os devedores a assinar contas de quantias mais
elevadas do que os débitos reais, e, portanto, a redução dos débitos era
meramente uma admissão de que dera uma “facada” desonesta? 3) O
mordomo é um gerente imobiliário, lidando com aluguel de terras, ou é um
agente autorizado de um agiota? Com as respostas a essas perguntas, Bailey
estabelece os pressupostos para a interpretação da parábola:
Em suma, é claro que o contexto cultural mais provável para esta parábola é o de uma
propriedade rural com um administrador que tinha autoridade para executar os negócios da
propriedade. Os devedores provavelmente eram arrendatários, hakirin, que haviam concordado
em pagar uma quantidade fixa de produtos pelo seu aluguel anual. O mordomo, sem dúvida,
estava recebendo dinheiro extra “por baixo do pano”, mas essas quantias não apareciam nas
contas assinadas. Ele era um oficial assalariado que, além disso, recebia uma comissão específica
do proprietário, por cada contrato feito. O senhor era um homem de nobre caráter, respeitado na
comunidade, que se interessava suficientemente pela sua riqueza, a ponto de despedir um
administrador esbanjador.[496]
Jeremias concorda com essa interpretação ao afirmar que
“provavelmente se pressupõem circunstâncias galilaicas; o rico é pensado
presumivelmente como um proprietário dum grande domínio, que no local
mantém um administrador”.[497] Ploeg afirma:
Havia um homem rico que tinha um administrador de seus bens e que devia receber o
montante do arrendamento de suas propriedades. (...) Era costume que o arrendatário pagasse sua
taxa in natura; devia ao proprietário uma parte da colheita, muitas vezes uma parte considerável.
[498]
Na parábola, o administrador é chamado e ouve a primeira pergunta:
“Que é isto que ouço a teu respeito?” (v.2).[499] O servo não sabe o quanto o
senhor sabe e pode ter medo de divulgar informações que o senhor não tenha.
O mordomo, como homem inteligente, fica em silêncio. Esse fato não pode
ser considerado insignificante. E então o senhor quebra o silêncio com o
ultimato: ἀπόδος τὸν λὸγον τῆς οἰκονομίας σου (preste contas da tua
administração). Aqui, uma pergunta precisa ser feita. O mordomo é
despedido agora ou mais tarde? Bailey argumenta que o mordomo é
despedido imediatamente, e a sua autoridade termina imediatamente.
Enquanto ele está indo prestar contas, faz o seu discurso (um solilóquio). Ele
sai sem defesa alguma. Este silêncio é significativo, pois afirma com isto: “O
senhor sabe a verdade; ele sabe que sou culpado. Este senhor espera
obediência; desobediência leva a juízo. Não posso recuperar meu emprego
dando uma série de desculpas”.[500]
As leis vigentes na época presumem que o agente pagasse por qualquer
prejuízo pelos quais fosse responsável. O mordomo poderia ser julgado e
preso. Mas, pelo contrário, ele nem é vituperado. O senhor, dadas as
circunstâncias, foi incomumente misericordioso para com ele. Assim, em
uma cena apenas, este servo experimentou dois aspectos da natureza do seu
senhor. Ele é um senhor que espera obediência e age em juízo contra o servo
desobediente. Ele também é um senhor que demonstra misericórdia e
generosidade incomuns, mesmo para com um mordomo desonesto.[501]
Sua preocupação imediata em arranjar outro emprego fica evidenciada
pelo fato de ele pensar em cavar ou mendigar. Porém, visto que fora
despedido por ter desperdiçado a propriedade de seu senhor, quem lhe daria
emprego? Ele precisa, então, criar uma situação que mude esta devastadora
imagem pública. Nasce um plano. Segundo a maneira de Bailey argumentar,
o plano do mordomo é arriscar tudo na qualidade de misericórdia que ele já
experimentara em seu senhor. Se ele fracassar, certamente irá para a cadeia.
Se tiver êxito, será um herói na comunidade. A chave para a situação é que
ninguém sabe ainda que ele foi mandado embora. Logo todos o saberão e, por
isso, ele precisa agir depressa. Em primeiro lugar, ele “chama” os devedores.
[502]
Com esta chamada, naturalmente subentenderiam que o mordomo teria
uma mensagem importante para transmitir-lhes, da parte de seu senhor. É
exatamente isso que o mordomo quer que eles pressuponham. Não é época de
colheita. Os totais das contas são fixos, determinados e grandes, mas ainda
não vencidos. Os diálogos do administrador denotam que ele está com muita
pressa. Ele precisa terminar tudo antes que o senhor descubra o que ele está
fazendo, pois estava legalmente impotente desde o momento em que foi
notificado de que estava despedido. Enquanto os arrendatários não
soubessem do que aconteceu, poderiam cooperar e certamente cooperariam.
Se soubessem e depois cooperassem, estariam também sendo infiéis ao
senhor de forma muito séria e o senhor não lhes alugaria mais terras. Este é
um dos fatores culturais mais significativos, ignorado por quase todos os
comentaristas.[503]
Na parábola, não há críticas em relação aos arrendatários. Subentende-se
que sejam cidadãos honrados da comunidade local, que são levados a crer
que o mordomo ainda tem autoridade.[504] Um outro pressuposto é de que o
senhor autorizou a redução de contas e que o mordomo o convencera a fazê-
lo. Este é o único pressuposto que se encaixa na história. O mordomo pede
aos devedores que façam as modificações com a sua própria caligrafia. Eles
concordam em fazê-lo. Se houvesse qualquer dúvida por parte dos
arrendatários, eles não cooperariam. Finalmente, o mordomo é naturalmente
considerado responsável por ter conseguido as reduções.[505] Jeremias
informa que os “cem cados de azeite” correspondem à produção de 146
oliveiras e uma dívida de 1000 denários. Os “cem coros de trigo” equivalem
à produção de 42 hectares e uma dívida de 2500 denários. Trata-se, portanto,
de dívidas muito altas. A redução é igual em ambos os casos, perfazendo um
valor monetário de 500 denários.[506]
O mordomo termina o seu ousado plano reunindo as contas recém-
modificadas, entregando-as ao seu senhor. O senhor as examina e reflete
acerca das alternativas que tem. Ele sabe muito bem que, na aldeia local, já
começou uma grande festa de celebração em seu louvor, como o mais nobre e
generoso dos homens que jamais arrendou terras naquela região. Ele tem
duas alternativas: ou pode chamar os devedores e explicar que tudo havia
sido engano, pois o mordomo fora demitido e seus atos eram nulos, sendo a
alegria dos aldeões transformada em ira e ele amaldiçoado por sua avareza;
ou pode ficar em silêncio, aceitar o louvor que agora mesmo está sendo
proclamado a ele, e permitir que o astuto mordomo se eleve na crista da onda
do entusiasmo popular.[507]
Este senhor é um homem generoso. Ele não mandou prender o
mordomo, antes. Ser generoso é uma qualidade primordial de um nobre no
Oriente. Ele reflete um momento, e depois volta-se para o mordomo e diz:
“Você é um indivíduo muito sábio”.[508] O mordomo sabia que o senhor era
generoso e misericordioso. Ele arriscou tudo neste aspecto da personalidade
de seu senhor. E ganhou. Pelo fato de ser realmente generoso e
misericordioso, o senhor preferiu pagar o preço todo para a salvação do seu
mordomo.[509]
Jesus está usando o princípio rabínico “do leve para o pesado”, que
significa geralmente “quanto mais...”. Se este mordomo desonesto resolveu o
seu problema confiando na misericórdia do seu senhor para solucionar a sua
crise, quanto mais Deus ajudará o homem em sua crise, quando este confiar
em Sua misericórdia? Em resumo, o mordomo é louvado pela sua sabedoria.
Isso significa sua perícia na auto preservação. Ele é sensível diante da sua
situação irremediável. Ele conhece a única fonte de salvação, a saber, a
generosidade de seu senhor.[510]
Jeremias afirma que todo homem está na mesma direção deste
administrador que viu a faca no pescoço e a ameaça de ruína à sua existência
– só que a crise que ameaça o homem é incomparavelmente mais terrível.
Este administrador foi “atinado”, isto é, ele percebeu bem a situação crítica.
Não deixou as coisas correrem, agiu no último minuto, antes de cair sobre ele
o julgamento ameaçador.[511] Deus é um Deus de juízo e misericórdia. Por
causa do mal que pratica, o homem é envolvido pela crise do Reino vindouro.
Desculpas não valerão nada ao mordomo. A única opção do homem é confiar
tudo à misericórdia infalível do seu generoso senhor que, seguramente,
aceitará pagar o preço da salvação do homem. Esse esperto velhaco foi
suficientemente sábio para ter confiança total na qualidade de misericórdia
experimentada no início da história. Essa confiança demonstrou ser válida.
[512]
Os ouvintes de Jesus, compreendendo a gravidade da situação, deveriam
agora refletir e descobrir um meio para sair do seu apuro. Eles são
convidados a admitir que este homem, apesar de ser um canalha, teve o
mérito de afrontar a crise com realismo e espírito prático. Agora, os próprios
ouvintes se encontravam numa crise decisiva.[513] Jesus relatou a parábola
para alertar seus ouvintes para agirem de forma enérgica e decisiva diante do
tempo da crise – a crise suprema então iminente sobre Israel.[514]
3.11 - O rico e Lázaro (Lc 16.19-31)

Quando Jesus relata esta história,[515] está falando especificamente a


fariseus. Estes diziam ser obedientes à lei de Moisés. Mas, na realidade,
violavam-na de várias maneiras. Eram amadores do dinheiro, ainda que não
viviam com luxo. Seus corações não estavam realmente com Deus, mas com
o mundo.[516] A parábola marca o contraste com a atitude inculcada na
parábola do administrador infiel. Talvez se possa ir mais para trás e dizer que
o capítulo desafia o filho mais velho da parábola anterior, e, juntamente com
ele, todos os respeitáveis, a agir no Espírito do administrador infiel.[517] A
parábola do rico e Lázaro se encontra logo após a parábola do administrador
infiel, intercalada apenas por um pequeno debate com fariseus, para os quais
Jesus se dirige com esta parábola.[518]
A parábola pode ser vista como um drama em dois atos, seguidos de
uma conclusão. A primeira cena apresenta a vida e a morte na terra; a
segunda retrata o céu e o inferno.[519] A primeira cena mostra o contraste
assinalado na condição exterior de dois homens: um rico e, outro, o mendigo
Lázaro; um reconhecido, mas conservado no anonimato e, outro, conhecido
publicamente, mas esquecido.[520]
O rico vestia-se de púrpura (ornamento de reis) e com linho finíssimo,
vindo do Egito. Dia após dia, gastava seu tempo em banquetes. Apesar de
toda sua riqueza, seu nome não é conhecido. Tudo o que se sabe é que tinha
cinco irmãos que, como ele mesmo, mostravam habitual menosprezo pela
Palavra de Deus revelada.[521] A segunda pessoa apresentada na história
achava-se no extremo oposto do espectro econômico. Vivia em pobreza
abjeta. Não podia nem mesmo andar. Tinha seu corpo coberto de chagas e
jazia à porta[522] do rico, onde desejava alimentar-se das migalhas que caíam
da mesa deste. Esse miserável ser humano só tinha a companhia dos cães que
vinham lhe lamber as chagas.[523]
A morte veio e pôs fim ao sofrimento de Lázaro. Seu funeral nem ao
menos é mencionado. Mas os anjos de Deus o levaram a um lugar de honra
nos céus – ao seio de Abraão.[524] O rico também morreu. Sua vida, de
comodidade, luxo, conforto, prazer e pompa, subitamente terminou. Seu
funeral, com certeza, foi bem cuidado. Vivera com pompa; certamente, com
pompa fora enterrado. Mas todos os que vieram pranteá-lo não podiam ver
além do túmulo. Enquanto Lázaro foi levado pelos anjos para o seio de
Abraão, o rico, despojado de seus bens terrenos, foi para o inferno.[525]
A situação após a morte, descrita pela parábola, denota um estado
consciente[526] e irreversível para ambos. Porém, enquanto Lázaro está
descansando no seio de Abraão, o rico está separado de Deus e em
sofrimento constante. O rico clama, então: “Pai Abraão, tem misericórdia de
mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque
a língua, porque estou atormentado nesta chama” (v.24). Abraão recusa o
pedido[527], dando razões. Seu trato, Filho, é de ternura.[528] Mas, agora,
Abraão indica que uma outra escala de valores está operando. O equilíbrio é
corrigido. A justiça é feita. E ainda há outro fator: está posto um grande
abismo em um e outro, que não pode ser transposto. Então, pela primeira vez
na história, o rico demonstra algum interesse em outras pessoas (embora
sejam ainda os seus familiares). Pede que seus cinco irmãos sejam advertidos
quanto àquilo que os aguarda. Dá até a entender que não fora tratado com
justiça. Se realmente tivesse recebido todas as informações das quais
precisava, teria agido diferentemente.[529] Entretanto, o rico não merecia os
tormentos do inferno por causa do que tinha feito na terra[530], mas, antes,
pelo que deixara de fazer.[531] Tinha negligenciado o amor a Deus e ao
próximo. Menosprezara Deus e sua Palavra.[532]
Seus cinco irmãos precisam ser avisados. Abraão, porém, indica as
Escrituras.[533] Estas dão, aos irmãos do rico, tudo quanto precisam. O rico,
porém, insiste que, se alguém dentre os mortos fosse ter com seus irmãos,
eles iriam se arrepender. A parábola termina com a afirmação solene de
Abraão, de que o aparecimento de alguém ressuscitado dentre os mortos não
traria convicção alguma àqueles que recusam a Escritura.[534] Exigir sinais é
fuga e expressão da não disponibilidade à conversão. Por isso, fica de pé: “A
esta geração não será dado nenhum sinal” (Mc 8.12),[535] “senão o de Jonas”
(Mt 16.4). Mesmo assim, não se arrependeram e nem creram nEle. Um sinal
ajuda a crer, somente aos que estão dispostos a crer na Palavra.[536] E estes
não precisam de sinal algum.
Na parábola, soa uma nota de urgência para o homem que sábia e
obedientemente atenta para a Palavra de Deus. Ela o chama ao
arrependimento e à fé; diz-lhe que ele está vivendo no período da graça;
instrui-o a deixar de lado a auto justificação; e fá-lo lembrar que o destino do
homem é irrevogavelmente selado no momento da morte. Resumindo, a
parábola reitera as palavras do salmista: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz! Não
endureçais o vosso coração” (Sl 95.7-8).[537]
3.12 - O juiz iníquo (A viúva penitente)
(Lc 18.1-8)

Esta parábola é conhecida também como a parábola da mulher persistente e


é companheira daquela do amigo à meia-noite (Lc 11.5-8). Ambas são
apresentadas somente por Lucas.[538]
No capítulo anterior, Jesus fala a seus discípulos sobre a certeza de Sua
segunda vinda, e sobre a surpresa e ruína de muitos por não estarem alerta e
preparados.[539] Daí surge o tema da presente parábola: o dever de orar
sempre e nunca esmorecer diante da possível vinda do Filho do homem (Lc
18.1,8).[540]
Jesus conta aos seus discípulos sobre uma viúva de certa cidade, que não
tinha ninguém para apoiá-la contra seu adversário, a não ser um juiz iníquo.
[541] Faltam detalhes sobre a viúva, sua idade, se era rica ou pobre, e porque
procurou um juiz que “não temia a Deus nem respeitava homem algum”.[542]
A tradição judaica requer que, segundo Isaías 1.17, “a causa de um órfão seja
sempre ouvida em primeiro lugar; depois, a da viúva...”. Assim sendo, essa
mulher tinha direitos legais que estavam sendo violados. A respeito dela,
Bruce observa: “fraca demais para exigir, pobre demais para comprar a
justiça”, e Plummer concorda: “ela não tinha um protetor para coagir, nem
dinheiro para corromper”.[543] Estava armada apenas com o direito que estava
do lado dela (não pedia vingança, mas justiça) e com sua própria persistência.
[544]
Apesar da reputação do juiz, de não temer a Deus e não respeitar homem
algum, a viúva pediu-lhe ajuda. Coerente com a própria fama,[545] o juiz se
recusou a agir. A única arma que a mulher dispunha era procurar o juiz, dia
após dia, com o mesmo pedido: “Julga a minha causa contra o meu
adversário”. Fazia, no entanto, bom uso daquilo que tinha. Sua persistência
finalmente esgotou o juiz, que, no fim, fez conforme ela pedia, por nenhum
motivo mais nobre do que se ver livre dela. Ele não queria que ela viesse a
molestá-lo.[546] Cede, investiga o caso e aplica a justiça.
Morris lembra que Jesus não está assemelhando Deus a um juiz injusto.
A parábola é da variedade do “Quanto mais...”. Se um homem ímpio às vezes
faz o bem, mesmo por motivos maus, quanto mais Deus fará o bem![547]
Jesus, então, complementa a sua parábola: “Considerai no que diz este juiz
iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e
noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que depressa lhes
fará justiça” (v.7-8). Bailey apresenta a seguinte explicação para esta
construção um tanto difícil[548]:

Segundo Bailey, as duas primeiras linhas constituem a interrogação, e as


outras duas propiciam a resposta. Os tempos dos verbos reforçam o
paralelismo com uma sequência segundo o padrão ABBA. A primeira linha
pergunta: “Não fará (futuro) Deus justiça aos seus escolhidos?” Isto é
respondido na quarta linha, que lhe é correspondente: “Digo-vos que
depressa lhes fará (futuro) justiça”. Na segunda linha, encontra-se que eles
“clamam (presente) dia e noite”. Este clamor é respondido na terceira linha,
em que “Deus é (presente) demorado em defendê-los (irar-se com eles)”.[549]
Jesus termina com uma pergunta que, à primeira vista, parece não ter
relação com o que a precedeu: “Contudo, quando vier o Filho do homem,
achará porventura fé na terra?” (v.8b). Ao referir-se à sua segunda vinda,
Jesus liga o conceito de justiça ao dia do juízo, quando ele será o Juiz dos
vivos e dos mortos (At 10.42). Jesus lembra a seus seguidores o dia de sua
volta, e a pergunta é: haverá fé perseverante, quando ele voltar? A
semelhança entre o amigo à meia-noite, que tirou seu vizinho da cama, e a
viúva, que continuou insistindo com o juiz, é clara. Nenhum dos dois tinha
para onde ir. Os dois sabiam que, se clamassem por misericórdia, acabariam
sendo atendidos.[550]
A’ - O Reino que Admite

Finalmente, Jesus retoma o mesmo tema do início deste grupo de parábolas.


“Quem pode entrar no Reino?” ou então, “a quem o Reino admite?” As duas
últimas parábolas deste grupo pretendem concluir esta questão.
3.13 - O fariseu e o publicano (Lc 18.9-
14)

Esta parábola geralmente se presta para ensinar a respeito de como as


pessoas devem orar. Mas, por outro lado, ela constitui-se num repúdio
enfático a qualquer sugestão de que um homem pode ser salvo por meio de
adquirir mérito. Aquilo que o fariseu dizia acerca de si mesmo era verdadeiro.
Seu problema não era que não tinha progredido suficientemente ao longo da
estrada, era que estava na estrada totalmente errada.[551] Deus está pronto
para admitir alguém em Seu Reino; mas a pergunta é: Como alguém entra no
Reino? A resposta certamente tem a ver com a atitude.[552]
O versículo introdutório desta parábola é propositalmente amplo e não
especifica um grupo determinado.[553] Não obstante, existe a tentação real de
destacar os fariseus dos demais. Reconhecidamente, muitos deles exibiam
uma atitude de confiança na própria justificação e olhavam com desprezo
seus semelhantes.[554] Cristo percebera que algumas das pessoas que se
aglomeravam ao seu redor confiavam, para a sua salvação, na sua própria
justiça, e não na misericórdia de Deus. Assim, o tema da justiça e de como
ela é alcançada é indicado, pelo versículo 9, como ideia central da parábola.
[555]
A parábola conta que “dois homens subiram ao templo com o propósito
de orar: um fariseu e o outro publicano” (v.10). Aquele é o observador
estrito da lei, e este é um infrator da lei e traidor da nação. Estando os atores
no palco, a peça tem início.[556] O fariseu escolhe, no templo, o lugar mais
saliente, para nele se postar em pé, com os braços e olhos elevados para o
alto, para ser visto pelos homens e receber os seus aplausos.[557] A primeira
saraivada do ataque do fariseu, contra os seus companheiros de adoração,[558]
revela mais a respeito de si mesmo[559] do que ele talvez pretendesse. A
oração judaica incluía adoração a Deus e petições referentes às necessidades
do adorador. Este fariseu não faz nenhuma delas. Não agradece a Deus pelas
suas dádivas, mas apenas se vangloria de sua justiça alcançada por seus
próprios esforços, e também não tem pedidos a fazer. Suas palavras, portanto,
não chegam a ser uma oração; apenas uma autopropaganda.
O que o fariseu dizia acerca de si mesmo era rigorosamente verdadeiro,
mas o espírito da sua oração era totalmente errado. Não há nenhuma
consciência de pecado, necessidade de perdão ou humilde dependência de
Deus. O fariseu só não chegou a parabenizar a Deus por ter um servo tão
excelente, mas faltava pouco para isso. Olha de relance para Deus, mas fica
contemplando a si mesmo.[560] Ele confessa os pecados dos outros, mas não
os seus.[561] Enumera também dois feitos extraordinários que praticava, além
e acima daquilo que a Lei exigia: jejuar duas vezes por semana e dar dízimo
de tudo quanto ganhava.[562]
Do outro lado, estava o publicano, ou cobrador de impostos. Naquela
época, os impostos (sobre pessoas e territorial) eram coletados por
funcionários do Estado, mas as taxas de uma circunscrição eram alugadas
(provavelmente pela maior oferta). O publicano, portanto, coleta para o bolso
próprio. Havia, de fato, tarifas estatais, mas os publicanos achavam jeito
bastante eficaz para enganar o público. Em julgamentos públicos, situavam-
se ao nível dos ladrões, não tinham direito civil de honra e eram evitados por
todas as pessoas de projeção.[563] Os publicanos eram odiados e desprezados
pelos judeus, não só pela extorsão, como também porque o contato com os
gentios os tornava impuros cerimonialmente.[564]
Entretanto, o publicano da parábola relatada por Jesus estava claramente
sob grande convicção de pecado. Erguer os olhos ao céu ao orar era normal,
mas seu senso de indignidade não o deixava fazer assim. Batia no peito como
sinal de tristeza.[565] Sua oração é simples: “Óh Deus, sê propício a mim,
pecador”. Este pecador chega diante de Deus de mãos vazias. Não apresenta
méritos, nem faz exigências. Não usou desculpas ou explicações. Comparar-
se a outros estava fora de cogitação. Ele sabia que era um pecador
implorando misericórdia. Seu grito: “Óh Deus, sê propício a mim” era um
pedido para que Deus perdoasse seus pecados e afastasse dele a Sua ira. Ele
pedia misericórdia, e era tudo o que se atrevia a pedir. Orou e esperou a
resposta de Deus.[566]
Dois haviam subido ao templo à mesma hora, indo o fariseu à frente.
Agora, os mesmos dois descem novamente. O culto acabou. O coletor de
impostos agora é mencionado em primeiro lugar. Ele é quem foi justificado
na presença de Deus. Durante séculos, a Igreja debateu o problema de se os
sacramentos têm efeito automático sobre o crente, sem se considerar o seu
estado espiritual. Aqui, nesta simples parábola, já há uma resposta, e ela é
não! O fariseu estava perdendo o seu tempo. Aquele que tem justiça própria
volta para casa sem ser justificado. O falso orgulho do fariseu intensificou a
sua condição de culpa e aumentou o seu pecado.[567]
O homem que se chamou de “pecador” confiou inteiramente na
misericórdia de Deus. Sua atitude em relação a Deus foi correta e, por isso,
foi aceito como filho de Deus, no Reino dos céus. Confiou simplesmente em
seu Deus, que não desapontou sua fé. Diante de Deus, o publicano estava
absolvido. O fariseu, não. Um voltou santificado; o outro, como pecador.[568]
O melhor dos homens não recebeu o perdão de seus pecados porque cria merecê-lo. Cria
que o havia ganho servindo a Deus. Mas o pior dos homens, sim, recebeu o perdão porque
esperava pela misericórdia de Deus. Cria na bondade de Deus por meio do sacrifício no altar.
[569]
O auditório, cheio de justiça própria, é levado a reconsiderar como se
alcança justiça. Jesus proclama que a justiça é uma dádiva que Deus tornou
possível por meio do sacrifício expiatório, que é recebido por aqueles que,
humildemente, se aproximam dEle como pecadores, confiando na graça de
Deus e não em sua própria justiça. A parábola mostra que a doutrina paulina
de justificação tem suas raízes nos ensinamentos de Jesus.[570]
3.14 - O camelo e a agulha (Mt 19.23-26;
Mc 10.23-27; Lc 18.24-27)

Nos três evangelhos sinópticos, a parábola do camelo e da agulha se segue


ao relato do jovem rico, que procurou Jesus com a seguinte pergunta: “Bom
Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Lc 18.18). Quando Jesus o
desafia a deixar tudo e segui-Lo, fica muito triste, porque, conforme o texto,
era riquíssimo (Lc 18.23). O jovem rico se recusa a enfrentar o desafio. Jesus
indica, então, que é muito difícil entrar no Reino aqueles que têm muitas
riquezas. Estes sempre são tentados a depender das coisas da terra e não
acham fácil lançar-se sobre a misericórdia de Deus.[571]
O mesmo é verdadeiro, naturalmente, no que diz respeito àqueles cujas
riquezas não são materiais: os intelectualmente destacados, os ricos em
realizações morais e artísticas, e pessoas semelhantes. Tais pessoas sempre
acham difícil depender de Deus mais do que dos seus próprios esforços.
Neste ponto, Jesus lança a parábola, que se encontra cronologicamente após a
parábola do fariseu e do publicano.[572]
“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que
entrar um rico no Reino de Deus” (Mt 19.24; Mc 10.25; Lc 18.25). Muitas
tentativas foram feitas para explicar essa parábola em termos de que, mesmo
sendo muito difícil, é possível “passar um camelo pelo fundo da agulha”.[573]
Duas teorias são geralmente propostas. Uma delas afirma que alguns
copistas transformaram kamelos (camelo) em kamilos (corda). Assim, se
houvesse uma agulha suficientemente grande, mesmo sendo difícil, seria
possível passar a corda no fundo da agulha. No entanto, aqui se compara
intencionalmente o maior animal que existia na Palestina com a menor
abertura conhecida, para evocar a impressão do impossível.
Uma segunda alternativa vem da vida diária do Oriente Médio. Nas
aldeias há portões de pelo menos três metros de altura por três metros e meio
de largura, para a entrada de camelos. Estes portões, por serem difíceis de
serem abertos, possuem recortado em si mesmos uma pequena portinhola,
para o movimento comum de pessoas, a qual se abre com facilidade. Alguns
comentaristas tentaram explicar que esta portinhola era o “fundo de uma
agulha” mencionado na parábola. Bailey, porém, argumenta suficientemente
de que não há a menor sombra de evidência em favor desta identificação.
“Esta porta, em idioma algum, jamais foi chamada de fundo de agulha”.[574]
Robertson afirma, ainda, que, em Mateus e Marcos, aparece a palavra
rhaphidos para agulha. Entretanto, Lucas usa a palavra belonês, que
originalmente significava a ponta de uma lança, e depois passou a designar a
agulha cirúrgica.[575]
Assim, a maioria dos autores concorda em que os termos “camelo” e
“agulha” devem ser tomados literalmente.[576] Como compreender, então, a
parábola de Jesus? Deve-se lembrar que, no conceito judaico, possuir bens
era uma comprovação da bênção de Deus, de modo que justamente as
pessoas religiosas se apegavam às riquezas.[577]
Jesus não diz que é impossível um rico entrar no Reino de Deus; de
Zaqueu[578] em diante, é grande a fila de homens ricos que têm dedicado a
sua riqueza ao serviço de Deus e dos seus semelhantes. Sendo assim,
perguntaram os discípulos, quem pode ser salvo? Jesus olha-os diretamente
nos olhos e lhes deu a única resposta possível: “Sem o poder de Deus,
ninguém”.[579] O que o homem não pode fazer, Deus pode. A salvação, para
os ricos e para os pobres, sempre é um milagre da graça divina. Sempre é
dádiva de Deus.[580] A salvação é proclamada como ato de Deus. Ninguém,
sem ajuda, entra no Reino. Ninguém consegue grandes coisas e herda a vida
eterna. Uma herança é uma dádiva e não um direito adquirido. Ninguém tem
direitos no Reino, nem mesmo os ricos com todo o seu potencial de realizar
obras. A salvação está além do alcance humano; é possível apenas para Deus.
[581]
“Para os homens é impossível”. Era necessário levar os discípulos até
este ponto. A afirmação principal é: “contudo, não para Deus, porque para
Deus tudo é possível”. A salvação e a vida eterna são totalmente uma questão
de desespero humano. Mas ele é limitado pelo próprio Deus. Seguir a Cristo
significa estar pronto para ter experiências de limites. O chamado é: “Você
não precisa saber fazer algo, mas você precisa vir!”[582]

Este grupo de quatorze parábolas esclarece, de forma enfática, a


dimensão do Reino. Todas as parábolas giram em torno da mesma questão.
Pode-se, portanto, ordená-las da seguinte maneira:

Em primeiro lugar, é importante notar que o Reino é o agente em todos


os casos. É o Reino que admite, que classifica e que busca. Interessante
observar, também, alguns paralelismos perfeitos neste grupo de parábolas.
Jesus começa afirmando (subgrupo A) de que o homem não pode salvar-se a
si mesmo (precisa ser perdoado), mas que é necessária uma resposta humana
(amor a Deus e ao próximo). Termina (subgrupo A’) afirmando que é
necessária uma resposta humana (como a do publicano), mas que o homem
não pode salvar-se a si mesmo (tão impossível como passar um camelo pelo
fundo de uma agulha).
Os subgrupos B e B’, esclarecem sobre como o Reino classifica aqueles
que querem entrar no Reino. A primeira parábola (amigo à meia-noite) fala
daquele que clama por misericórdia, assim como a última destas parábolas (o
juiz iníquo, ou a viúva penitente). Por outro lado, há aqueles que clamam
pelas suas próprias forças, como na parábola do rico insensato e na parábola
do rico e Lázaro. A parábola da figueira estéril fala daqueles que tiveram
oportunidade para corresponder ao Reino, mas não o fizeram; enquanto a
parábola do administrador fala daquele que soube aproveitar a única
oportunidade que teve. Ainda outras duas parábolas, a da grande ceia e a dos
filhos perdidos, fala de ambos os casos, de “uns e outros”, mostrando, assim,
que o convite e a oportunidade são os mesmos para todos, porém é
determinante a resposta dada ao convite que fora feito.
Finalmente, o auge deste grupo (subgrupo C) mostra que a iniciativa é
divina. É o Reino que vem ao encontro do ser humano. É ele que procura a
ovelha e a dracma perdida. É ele que oferece a admissão gratuita ao ser
humano.
4. A CONSUMAÇÃO DO REINO

Todo o segundo grupo de parábolas enfatizou a dimensão do Reino,


demonstrando como o ser humano pode fazer parte dele. Após a última
parábola deste grupo (o camelo e a agulha), o apóstolo Pedro faz outra
importante declaração, que demonstra que haviam compreendido o ensino de
Jesus. Em Mateus 19.27, que cronologicamente encontra-se depois da última
parábola do segundo grupo e antes da primeira parábola deste novo grupo, lê-
se a afirmação de Pedro: “Eis que nós tudo deixamos e te seguimos”. Estava
compreendida a admissão ao Reino. Porém, a declaração do apóstolo estava
acompanhada de uma pergunta: “Que será pois, de nós?” Parece que os
discípulos haviam compreendido o que deveriam fazer para poderem entrar
no Reino, e a pergunta decorrente era “o que iria acontecer depois de tudo
isto?”[583] Jesus inicia então um novo grupo de quatorze parábolas, com as
quais pretende revelar como o Reino de Deus será consumado sobre a terra.
A - O Acerto de Contas na Consumação
do Reino

A consumação do Reino é certa, pois, desde o primeiro grupo de parábolas,


Jesus já afirmou isso. Depois da declaração e da pergunta de Pedro, acima
descritas, Jesus afirmou aos discípulos que, quando Ele iria se assentar no
trono de Sua glória, aqueles que O seguiram iriam também se assentar em
doze tronos para julgar as doze tribos de Israel (Mt 19.28). Mas o mestre quer
deixar bem claro como será a recompensa no dia da consumação do Reino,
para que não haja nenhuma má interpretação ou conceito de que aquele
pequeno grupo de discípulos esteja em uma posição de proeminência. Para
isso profere, primeiramente, duas parábolas.
4.1 - Os trabalhadores da vinha (Mt 20.1-
16)

O contexto da parábola dos trabalhadores da vinha diz respeito à pergunta


de Pedro e à resposta de Jesus, acima descritas (Mt 19.27-30).[584] Jesus
ilustra, então, o significado da última sentença – “muitos primeiros serão os
últimos; e os últimos, primeiros” – através da parábola dos trabalhadores da
vinha.[585] Fuente chega a afirmar que a passagem de Mateus 19.27-30 faz
parte da parábola dos trabalhadores da vinha. Para ele, Pedro – ao pensar
sobre o grande sacrifício e na obra que os discípulos haviam feito para o
Reino de Deus – queria saber qual seria seu prêmio. Jesus deixou claro que a
recompensa seria muito grande. Isto, porém, constituía-se em um grande
perigo aos discípulos, pois poderiam sentir-se orgulhosos e menosprezar
outros que não haviam feito tanto como eles. Jesus propõe-se, então, a
corrigir este pensamento, contando para isso uma parábola.[586]
A parábola não fala da época específica em que os trabalhadores foram
requisitados, mas pode-se presumir que seja na época da colheita,
provavelmente no mês de setembro. Assim, o dono foi até à praça da
cidade[587], ao romper da aurora, para contratar trabalhadores desempregados
dispostos a trabalhar por dia, pela soma razoável de um denário. O
proprietário falou com os homens, mencionou o pagamento diário de um
denário – com o qual concordaram – e levou-os para a jornada de trabalho
daquele dia. É claro que esses homens precisavam muito mais do empregador
do que este precisava deles.[588]
Enquanto os primeiros já estavam trabalhando na vinha, o proprietário
volta à praça e consegue encontrar mais alguns trabalhadores, aos quais
promete um salário justo, não especificando a quantia, e os manda para a
vinha. Mais idas à praça se repetem em intervalos regulares[589], nas quais
procede do mesmo modo. Ao final do dia, o proprietário volta à praça mais
uma vez, perguntando, aos que ali estavam, por que estavam ali até aquela
hora do dia. Eles responderam que ninguém os havia contratado. Então, o
empregador diz: “Ide também vós para a vinha” e não faz nenhuma menção
quanto ao pagamento.[590]
O pagamento tinha de ser feito, de acordo com a lei judaica, ao pôr-do-
sol, isto é, às 18 horas, no fim do dia.[591] O dono da vinha chama o
administrador e ordena-lhe que pague aos trabalhadores o seu salário, dos
últimos aos primeiros.[592] Morris diz que este fato carece de particular
significação. Era necessário à história que os chamados primeiro
testemunhassem o pagamento feito aos chamados por último.[593] Começa,
então, o pagamento. Aqueles que começaram na undécima hora receberam
um denário. Experimentaram, assim, não somente a fidelidade e
confiabilidade do senhor, mas também a sua generosidade. Depois,
sucessivamente, todos foram recompensados conforme o contrato feito com o
empregador.
Aqueles trabalhadores contratados ao amanhecer, entretanto, haviam
suportado o calor do dia, esperavam receber mais do que um denário cada
um.[594] Estes também desejavam experimentar a generosidade do
empregador. Mas seu desejo não se cumpre. Recebem um denário, como
haviam combinado antes de começar o trabalho. Inconformados, deixam
claro seu descontentamento, murmurando contra o dono da vinha[595]: “Estes
últimos trabalharam apenas uma hora; contudo os igualaste a nós que
suportamos a fadiga e o calor do dia”.[596]
O empregador não se mostra ofendido. Dirige-se a um dos trabalhadores
e o chama de “amigo”.[597] A conotação é de reprovação, mas o tom é
amigável. Ao responder ao queixoso, o dono da vinha se mostra senhor da
situação. O trabalhador insatisfeito pode recorrer à justiça, mas não terá êxito,
pois o que havia sido combinado estava sendo cumprido. A sua acusação de
injustiça não passa de um disfarce para a inveja e a avareza. Assim, o
empregador não discute, não se explica nem se justifica.[598] Simplesmente
lhe diz: “não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu, e vai-te...
Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu?”
Camargo afirma que a ideia fundamental da parábola é a livre
recompensa no Reino dos céus, não ditada por motivos subalternos e
inferiores, mas dependente da disposição interna e espontânea do coração
renovado, em oposição à recompensa comum e legal na prática de obras.[599]
Fuente complementa:
A parábola não ensina que se pode demorar para servir ao Senhor. Nem que será suficiente
servi-Lo somente nos últimos dias de vida. Há aqueles que assim pensam e assim agem. Mas o
ensino é outro: nunca é tarde demais para servir ao Senhor. Se alguém recebe tudo o que Ele
oferece, e se reconhece a sua infinita bondade, Ele lhe dará o que é justo.[600]
Ao ensinar a parábola, Jesus mostrou que não trata os homens de acordo
com o princípio do mérito, da justiça ou da economia. Deus não está
interessado em lucros. Deus não trata o homem na base do “toma lá, dá cá”,
ou “uma boa ação merece recompensa”. A graça de Deus não pode,
simplesmente, ser dividida em quantidades proporcionais ao mérito
acumulado pelo homem.[601] Rienecker, citando Schniewind, resume o
conteúdo da parábola na afirmação de que ela fala da bondade e da graça de
Deus, diante das quais fracassam todos os critérios humanos. Entretanto, diz
ele, não se deduz dela uma total igualdade das pessoas no mundo futuro. A
pergunta de Pedro: “que será de nós?” é genuinamente humana. E a resposta
é genuinamente divina. Ela anuncia: Tudo é graça. É graça que se possa
trabalhar. E a recompensa também é graça. Jesus foi o único a compreender
isto: pois é, ao mesmo tempo, divino e humano.[602]
4.2 - As dez minas (Lc 19.11-27)

Há semelhanças entre esta história da parábola das dez minas e a parábola


dos talentos em Mateus 25, que será estudada posteriormente. Alguns vêem
estas histórias como variantes de uma só original, mas as diferenças fazem
com que essa ideia seja arriscada. É mais provável que Jesus tenha feito mais
de um uso da ideia básica. Morris mostra algumas destas diferenças:
“Mateus está interessado em homens de capacidades diferentes aos quais são atribuídas
tarefas de acordo com suas capacidades. As somas são grandes e representam o desempenho de
tarefas sérias e importantes. Aqui, as somas são pequenas e o mesmo montante é dado para
todos. Os servos estão sendo testados para ver se são dignos de tarefas maiores. A parábola em
Mateus nos lembra que todos temos dons diferentes; a em Lucas, que todos nós temos uma só
tarefa básica, a de viver nossa fé na prática...”.[603]
Conforme o relato de Lucas, ainda na casa de Zaqueu, ou antes de sua
partida de Jericó, diante da oposição que se manifestava, ante o espírito de
murmuração, que irrompia contra a sua atividade evangelizadora (v.7) e ainda
diante da atitude de expectação geral de que o Reino de Deus se havia de
manifestar imediatamente (18.34; 19.11), Jesus propôs, então, esta parábola.
[604] Realmente, algo muito extraordinário iria acontecer em Jerusalém, mas
seria muito diferente daquilo que as pessoas imaginavam. A parábola das dez
minas iria ajudar a corrigi-las.
Jesus provavelmente utilizou-se de um incidente social e político da
época para servir de veículo de instrução a respeito de seu Reino. Kistemaker
afirma que o povo de Israel lembrava-se com nitidez das calamidades
infligidas aos judeus durante os festejos da Páscoa do ano 4 a.C., no pátio do
templo de Jerusalém. Herodes, o Grande, morrera pouco antes da festa da
Páscoa e em seu testamento determinara que Arquelau fosse o rei. No
entanto, César precisava aprovar esta decisão. Antes de Arquelau ir a Roma
para ser coroado, um incidente no pátio do templo resultou na morte de três
mil judeus e na suspensão da festa de páscoa. Enquanto Arquelau foi a Roma,
seus oficiais ficaram no comando. Cinquenta deputados judeus procuraram o
imperador romano pleiteando a autonomia de Israel e acusando Arquelau do
incidente ocorrido. Depois de alguns dias de deliberação, César indicou
Arquelau como etnarca da Idumeia, Judeia e Samaria, e prometeu fazê-lo rei
se provasse ser capaz. Quando Arquelau voltou para tomar posse de sua
etnarquia, aplicou punição exemplar, sendo rude não só com os judeus, mas
também com os samaritanos. Arquelau foi um dos mais odiados governantes
e, por isso, o povo tinha vivas recordações de seu reinado.[605]
Em Sua parábola, um homem nobre partiu para uma terra distante, com
o fim de tomar posse de um Reino. Este chama dez de seus servos e confia a
cada um deles uma mina.[606] Os servos receberam a ordem de negociar,
tendo para isto bastante liberdade, sabendo que, no devido tempo, teriam de
prestar contas da sua atuação.[607]
Quando o rei retornou e convocou os seus servos, alegrou-se com a
fidelidade daquele que ganhara outras dez minas. Elogiou-o pela sua
diligência e sabedoria; chamou-o de “bom” e o recompensou fazendo-o
responsável por dez cidades. O segundo servo, após mostrar suas cinco minas
adicionais, recebeu proporcionalmente a mesma recompensa, sendo colocado
como responsável por cinco cidades. Porém, o terceiro servo, ao devolver
apenas a única mina que tinha recebido, foi condenado.[608]
O rei, no entanto, não ficou nem um pouco satisfeito com a insolência
do servo. Ele age agora como juiz e julga o servo com base nas suas próprias
palavras. Se o servo sabia que seu senhor era um homem exigente, deveria ter
tido a confiança na capacidade do rei, de exigir dos banqueiros o seu dinheiro
com os juros devidos. No entanto, o servo nem considerou a possibilidade de
depositar o dinheiro no banco[609]. Prontamente, o rei chamou-o de mau,
querendo dizer que o servo era incompetente, incapaz e inútil.[610]
O dinheiro confiado aos servos foi-lhes entregue como um teste. O rei
queria experimentar sua lealdade e recompensá-los adequadamente. Fez isso
colocando um servo responsável por dez cidades e o outro com
responsabilidades sobre cinco. Como recompensa à sua lealdade ao rei, o
primeiro servo recebeu o dinheiro do terceiro. Agindo assim, o rei deixou
claro que seu relacionamento com o terceiro servo estava definitivamente
acabado. Mostrou, por outro lado, que punha total confiança no primeiro
servo, investindo-o da responsabilidade retirada do outro. O total do dinheiro
deve ser visto em termos de responsabilidade.[611]
A história termina numa nota de severidade amedrontadora. Aqueles que
rejeitaram o homem nobre e enviaram após ele uma embaixada (v.14) não
são esquecidos. Seguramente instalado no seu Reino e com as contas com
seus servos negociantes prestadas, o homem nobre ordena a destruição
daqueles que chama com clareza “esses meus inimigos”. Colocaram-se em
oposição a ele. Devem arcar com as consequências.[612]
Talvez fiquemos horrorizados com a ferocidade da conclusão; mas, por detrás da linguagem
figurada severa, há um fato igualmente grave: a vinda de Jesus ao mundo submete cada homem
ao teste, compele cada homem a tomar uma decisão. E essa decisão não é coisa leviana. É uma
questão de vida ou morte.[613]
O Reino de Deus existe no presente, mas é, também, um estado de
expectativa a ser cumprido. Ele é, portanto, agora, mas, ao mesmo tempo,
ainda não. Jesus, embora eternamente rei, trará seu Reino à realização plena
somente após a sua volta. Durante a sua ausência, dará ampla oportunidade
para o serviço, bem como para a rebeldia.[614] Erdman afirma que “a parte
principal do quadro, sem dúvida, trata do retorno do homem nobre e da
recompensa de seus servos. Esta recompensa foi proporcional à fidelidade
tida durante o tempo de sua ausência”.[615]
Segundo a parábola, todos têm recebido a mesma moeda, ou seja, têm o
mesmo evangelho, a mesma Bíblia e o mesmo Espírito Santo. Também têm
dons e capacidades espirituais. Com todos esses elementos têm que trabalhar
e, segundo a fidelidade e diligência com que cada um trabalha, será
recompensado.[616] Ninguém pode dizer que, por não ter a habilidade de um
teólogo treinado ou a eloquência de um orador talentoso, não pode servir ao
Senhor. A parábola ensina que todos os servos receberam uma mina e cada
um respondeu pelo dinheiro a ele confiado. De cada um é esperado que faça o
melhor possível. Logo, o tempo concedido por Deus, em Sua Providência,
estará findo e, então, virá o juízo.[617]
B - O Juízo Simultâneo na Consumação
do Reino

Jesus respondeu a pergunta de Pedro, quanto às recompensas que teriam


aqueles que o seguissem. Entretanto, as recompensas são um fator
secundário. Primeiramente, é necessário esclarecer sobre o juízo que ocorrerá
simultaneamente na consumação do Reino. Simultâneo porque alcançará
tanto uns como outros. Quatro parábolas falam sobre este aspecto, em um
primeiro momento.
4.3 - Os dois filhos (Mt 21.28-32)

A parábola dos dois filhos é encontrada somente no Evangelho de Mateus.


[618] É muito simples, e parece estar traduzida na Epístola de Tiago, nas
seguintes palavras: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22).[619]
Da defensiva em que Jesus estava, respondendo inteligentemente as
perguntas de seus adversários, que queriam apanhá-Lo, passa para a ofensiva
e sua primeira pergunta foi esmagadora: “Donde era o batismo de João? Do
céu ou dos homens?” (21.25). Seus adversários tiveram de declarar pela força
reconhecida do dilema: “Não sabemos”. Mas, ao mesmo tempo, numa
espécie de arguição socrática, em que Ele mesmo responde, pela parábola que
segue, confunde seus opositores, não só dando explicação cabal sobre a
natureza do batismo de João Batista, mas retratando a situação deles mesmos,
na sua atitude para com Ele, para com a verdade e para com o Reino. Assim,
a parábola dos dois filhos é como um espelho, que faz seus inimigos e
acusadores se contemplarem.[620]
Jesus dá, então, curso ao seu pensamento, narrando a história de um pai
e seus dois filhos. O pai possuía uma vinha. Dirigiu-se, então, ao primeiro e
disse-lhe para ir trabalhar na vinha. É irrelevante pensar em época ou tipo de
trabalho a ser feito na vinha; essenciais são o pedido e o atendimento dado ao
mesmo. “Filho, vai hoje trabalhar na vinha”. Este respondeu: “Sim, senhor”;
porém, não foi. O pai dirige-se, então, ao segundo filho e lhe diz a mesma
coisa. Ele responde: “Não quero”; mas, depois, arrependido, foi.[621]
Nesta parábola, (...) o primeiro filho que, tão logo recebe a ordem para trabalhar na vinha
do pai promete com muito entusiasmo que vai, mas que afinal não o faz nunca, iguala-se aos
religiosos professos, cuja justiça própria os impede de responder bem a qualquer chamada ao
arrependimento. Inconscientes da sua necessidade de perdão, estão entre aqueles que alhures
Jesus satirizou como os “noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc
15.7). O segundo filho, que se nega a ir e depois muda de ideia e vai, corresponde aos publicanos
e pecadores que, embora de início estivessem longe de ser justos, depois se arrependeram como
resultado da pregação de João Batista.[622]
Assim, a parábola apresenta as duas classes de homens em que se divide
a humanidade, sob a imagem de dois filhos, com os quais Cristo vem em
contato através de seu ministério. De um lado, está o exclusivismo ortodoxo,
obediente à lei, apenas na aparência, buscando a sua própria justiça, porém
vazio na sua vida religiosa, que se evapora num formalismo inútil. De outro
lado, o publicano, a meretriz, o pecador mais grosseiro e carnal, separados
como a escória da ralé social, os heterodoxos da época. Para agravar a
situação dos ortodoxos frios, é apresentado e proposto o heterodoxo
revolucionário e recalcitrante como modelo no Reino dos céus.[623]
Jesus colocou, para os que o ouviam, a inevitável questão: “Qual dos
dois fez a vontade do pai?” Os principais sacerdotes e anciãos do povo não
podiam mais se esconder atrás de uma ignorância fingida. Foram forçados a
responder que os marginalizados pela moral e pela sociedade é que faziam a
vontade do Pai.[624]
Este texto é inquietante aos cristãos. Seria cômodo acalmar-se com a
ideia: os outros é que estão na mira, o mundo mau é que está sendo criticado
e condenado. Porém, sempre de novo, o juízo começa na casa de Deus e deve
inquietar a cada cristão, pois é típico do ser cristão, dizer o sim e praticar o
não. É arrasador ter que constatar que se conhece os mandamentos, mas não
se os cumpre. Pode-se ter reconhecimentos teológicos muito bons, mas
carecer de sua mais simples ativação. Pode-se ser frequentador regular de
cultos, mas retornar cada vez como a mesma pessoa, por ser mestre em
relacionar a mensagem sempre com os outros e não consigo mesmo.[625]
Diz a história: “Os publicanos e as prostitutas poderão entrar antes no
Reino dos céus”. Não porque são publicanos e prostitutas, mas porque pode
acontecer que, no meio da perdição do mundo,[626] de repente se pratique a
vontade de Deus. Não existe nada que pudesse acordar mais o cristianismo do
que esta possibilidade, de que se pode ser desmascarado pela falta de
substância de sua fé. O mundo descrente levanta-se contra os cristãos e Deus
está do lado dele. Os ímpios são justificados e os piedosos condenados. Os
descrentes podem ser piedosos em sua incredulidade e os piedosos podem ser
incrédulos em sua religiosidade.[627] Por fim, o julgamento apanhará ambos
os grupos igualmente e dará a sentença a cada um.
4.4 - Os lavradores maus (Mt 21.33-41;
Mc 12.1-9; Lc 20.9-16)

De acordo com os três evangelhos sinópticos, Jesus contou a parábola dos


lavradores maus, durante a última semana de sua vida em Jerusalém.[628]
Pode haver pequenas variações entre um e outro evangelista, mas todos
transmitem, com fidelidade, o ensino de Jesus. A parábola reproduz a história
‘eclesiástica’ de Israel. Os fariseus, os principais sacerdotes e os mestres da
lei sabiam que essa parábola era endereçada a eles.[629] Sistematicamente, os
líderes religiosos dos judeus rejeitaram os mensageiros de Deus (Nm 9.26; Jr
7.25-26; Mt 23.34; At 7.52). Agora, o clímax está para chegar. Não é um
profeta que está no meio deles, mas o Filho de Deus. Estão enfrentando a
decisão mais crítica das suas vidas.[630]
A parábola fala de um dono de terras que decidiu transformá-las numa
vinha. Cercou-as, construiu um lagar, edificou uma torre e depois,
arrendando-as a uns lavradores, ausentou-se do país (Mc 12.1).
Na Palestina, havia três modalidades de arrendamento: ou se fixava uma
determinada parte da colheita, ou uma quantia fixa de produtos, independente
da respectiva colheita, ou uma quantia em dinheiro. A parábola deixa claro
que os arrendatários são pessoas que contrataram a vinha pelo pagamento de
um determinado percentual da colheita.[631]
No tempo[632] da colheita,[633] enviou um servo aos lavradores para que
recebesse deles o fruto da vinha. O servo, porém, foi agarrado, espancado e
mandado de volta ao seu senhor. Isto serviu de aviso ao proprietário de que
os arrendatários não tinham a intenção de pagar o lucro exigido, proveniente
da colheita das uvas. O proprietário mandou, então, outro servo aos
arrendatários, com o mesmo pedido. Mas eles o receberam do mesmo modo
como tinham recebido seu predecessor. O proprietário mostrou elogiável
tolerância. Depois de algum tempo, enviou um terceiro servo. Outra vez, os
lavradores se recusaram a ceder ao pedido do proprietário; foram violentos,
ferindo e matando o servo.[634] Afirmavam, com isso, que a vinha permanecia
em suas mãos.[635]
O proprietário entendeu que os arrendatários estavam agindo como
donos legítimos da sua propriedade. Na vida real, o dono decerto tomaria
medidas severas. Tinha a lei a seu lado e teria tratado com dureza os
transgressores. Jesus, porém, está retratando um Deus que ama além da
medida e é compassivo quando tem todo o direito de ser severo. Fala,
portanto, do dono meditando sobre o caso e resolvendo enviar o seu filho
amado.[636] A história, desta forma, dificilmente aconteceria na vida real,
onde nenhum dono de vinha se portaria desta maneira. Justamente o caráter
de impossibilidade da parábola aponta para o absurdo do comportamento dos
fariseus e sumo sacerdotes. Jesus mostra-lhes, assim, a irracionalidade de sua
atitude de desobediência e pecado.[637]
Desta forma, como última tentativa, enviou o seu próprio filho, dizendo
a si mesmo que os lavradores reconheceriam sua autoridade, quando se
confrontassem com seu filho.[638] Os arrendatários, no entanto, não estavam
dispostos a abrir mão da vinha. Quando viram o filho do proprietário, que
seria o herdeiro da vinha[639], decidiram matá-lo,[640] pensando, com isso,
tomar para si a herança.[641] A paciência do dono da vinha se esgotou.
Medidas foram tomadas para arrancá-los da terra e levá-los à justiça, e o
proprietário, reclamando plena posse da propriedade, escolheu outros
lavradores para tomar conta da vinha.[642]
Ao terminar, Jesus pergunta: “Que fará, pois, o dono da vinha?” O fato
de não se ouvir resposta pode indicar mais uma vez o endurecimento dos
ouvintes. Os endereçados não atendem ao apelo de conversão que
entenderam muito bem, mas insistem em marchar em frente em seu caminho.
Então, Jesus responde por eles: “Virá, exterminará aqueles lavradores e
passará a vinha a outros”. Pela norma de que o “peso deve estar atrás no
barco”, o mais importante vem no fim: Jesus renova sua sentença contra a
liderança judaica.[643] Stagg complementa:
Quando os homens rejeitam aos profetas ou ao Filho de Deus, eles desafiam a autoridade de
Deus; e devem responder a ele. Rejeitar a Cristo Jesus é rejeitar a pedra angular na casa que
Deus edifica. A cegueira voluntária não apaga a luz, mas tira a visão. Pretender respeitar a
vontade de Deus, e, no entanto, rejeitá-la por vir a nós em seu Filho Jesus Cristo, é ser esmagado
pelas consequências de semelhante obstinada resistência. Tropeçar sobre a pedra é
suficientemente mau, mas persistir em desobediência obstinada é deixar que a pedra caia com
força pulverizadora sobre ele mesmo.[644]
A compreensão desta parábola é facilitada pelo fato de Jesus utilizar
figuras que ocorrem sempre de novo. Essas figuras constantes são a vinha (o
povo de Deus), os servos de Deus (seus profetas), o Filho de Deus (o
Messias) e a colheita (tempo final, juízo).[645] A colheita final revelará o grau
de obediência de cada ser humano e o juízo de Deus será de acordo com o
mesmo.
4.5 - A festa de bodas (Mt 22.1-10)

Esta parábola também se dirige, com agudeza máxima, contra a camada


dirigente do povo, com a qual Jesus se confrontou nas controvérsias. Ela
apresenta o auge das acusações que Jesus tem a levantar contra os mais
proeminentes líderes de seu povo. Enquanto a parábola dos dois filhos e a
parábola dos lavradores maus tinham repreendido os líderes porque estavam
se “esquivando” da exigência de Deus, a presente parábola levanta a acusação
muito mais grave de que os líderes do povo estão recusando o convite de
Deus.[646]
Desde a discussão sobre a autoridade de Jesus e do batismo de João (Mt
21.23-27), Jesus vem debatendo com os líderes dos judeus, aos quais propôs
as duas parábolas anteriores, diante das quais estes intentaram prendê-lo. Ele
prossegue com mais uma parábola de acusação contra estes líderes.[647] Jesus
continua com seu pensamento sobre a natureza da sua mensagem, o perigo da
sua rejeição e o princípio já firmado anteriormente: “Muitos serão chamados,
mas poucos escolhidos” (Mt 22.14).[648]
A parábola fala da história de um rei que preparou um banquete para
festejar as bodas de seu filho. O rei – e ninguém outro – fez os preparativos.
Para esta ocasião feliz do casamento, planejou cuidadosamente a festa. Todos
os importantes dignitários de seu Reino deveriam estar presentes. Mandou,
então, que fossem anunciadas as bodas.[649]
Era costume, naqueles dias, os convites serem entregues em mãos e os
convidados serem lembrados do acontecimento, no dia da festa.[650] Mas, ao
entregar os convites,[651] os servos do rei não foram bem recebidos. Os
dignitários fizeram saber aos servos que não estavam absolutamente
interessados na festa.[652] Não obstante, o rei continuou seus preparativos e,
quando chegou o dia da festa, enviou novamente os servos para fazer lembrar
aos dignitários de todo o reino de que eram convidados ao banquete.[653]
No primeiro convite, não quiseram vir. E, no segundo aviso, os
convidados não se importaram (v.5).[654] Não tinham razões plausíveis para a
recusa do convite, ao qual reagiram com indiferença e certo cinismo. Foram-
se, um para o campo, outro para o seu negócio e os outros, agarrando os
servos, os maltrataram[655] e mataram (v.5-6).[656] O rei, justamente irado,
enviou seus soldados para punir os assassinos e queimar a sua cidade.[657]
Desabafou, assim, a sua ira, mas ainda queria que pessoas viessem e
celebrassem com ele as bodas de seu filho, por isso ordenou aos servos que
fossem às esquinas das ruas e convidassem qualquer um que quisesse vir à
festa.[658] Tanto pessoas boas como más vieram em grande número, de modo
que a sala do banquete se encheu de convidados.[659]
Enquanto os líderes dos judeus preparavam suas armadilhas para
apanhar Jesus, Ele dirigiu-lhes esta parábola claramente contra eles. Na
introdução, a parábola ressoa com nota de alegria e felicidade, mediante o
preparo da festa e convite para as bodas. Os que haviam sido convidados pelo
rei recusam-se a ir. Jesus[660] está contando a história de Israel, e seus
ouvintes entendem que ele se refere a eles, que rejeitaram o convite. Estes
sabem que a paciência de Deus não dura para sempre, e, quando sua
misericórdia não encontra arrependimento, o resultado é o juízo. Deus
estende, então, o convite a todos aqueles que quisessem entrar para os salões
festivos do banquete nupcial.[661] A parábola mostra, portanto, um juízo
simultâneo, onde a recusa dos judeus em aceitar o convite divino é condenada
por Deus e, ao mesmo tempo, é aberto o convite para aqueles que quiserem
fazer parte do Reino.
4.6 - O homem sem veste (Mt 22.11-14)

A parábola do homem sem veste é, na maioria das vezes, estudada


juntamente com a parábola das bodas. Porém, os autores concordam que há
aqui uma ênfase diferente daquela parábola.[662] Jeremias concorda que
Mateus juntou as duas parábolas e que, portanto, podem ser estudadas
separadamente. O mesmo autor sugere que ela se encontra juntamente à
outra,[663] para que não haja mal-entendido, que poderia surgir pelo convite
indiscriminado dos não-convidados, ou seja, que a conduta dos chamados não
tivesse nenhuma importância.[664]
A parábola conta que, entre os convidados à festa, foi observado um
homem que não trazia a veste nupcial.[665] Por causa da sua roupa, ele ficou
muito em evidência. Quando o rei entrou no salão do banquete,
imediatamente notou a presença daquele que não estava com a veste
apropriada. O rei perguntou-lhe, então: “Amigo[666], como entraste aqui sem
veste nupcial?” (v.12). Este ficou calado. O rei ordenou, então, aos seus
servos, que o amarrassem e lançassem fora nas trevas,[667] onde há choro e
ranger de dentes.
A figura desta veste nupcial está enraizada no Antigo Testamento. O
conjunto de palavras de Jesus faz alusão ao capítulo 61 de Isaías, o qual é
especialmente importante para Ele: “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a
minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação,
e me envolveu com o manto de justiça” (v.10). Para Rienecker, este traje
significa um novo ser (Mt 9.16; Ap 3.4; 4.4; 16.15; 19.13). Assim, a veste
nupcial seria a existência que faz parte do Reino de Deus, a vida nova doada
por Jesus. Portanto, o convidado seria uma pessoa que, apesar de pertencer à
comunidade, se fecha a esse novo ser, persistindo “na maneira própria de
viver, ou seja, na religiosidade própria”.[668]
O convidado que não estava usando a veste nupcial, no banquete real,
sem dúvida representa o pecador que se auto justifica e é como aquele que
não precisa da morte sacrificial e do sangue expiatório de Cristo, para entrar
no céu. Ele não ouve as palavras de Jesus: “Ninguém vem ao Pai senão por
mim” (Jo 14.6) e, por isso, quando chega diante de Deus, é lançado fora. É
absolutamente impossível chegar diante de Deus sem a veste oferecida por
Jesus.[669] Rienecker afirma que, nesta parábola, Jesus se dirige à comunidade
dos que crêem nele. Pertencer à comunidade ainda não é a decisão de tudo,
pois também essa comunidade pode ter elementos impuros. Pertencer à
comunidade não constitui uma garantia total e jamais pode ser uma almofada
de repouso sobre a qual a fé pode descansar, mas que a última decisão será
tomada somente sob o olhar de Deus.[670]
C - O Tempo Relativo à Consumação do
Reino

Após uma palavra de juízo contra os fariseus (Mateus 23), segue agora o
anúncio de juízo sobre Jerusalém, o mundo e a comunidade. Essas palavras
de juízo, Jesus dirige aos discípulos, motivo pelo qual foram ditas em
confiança, num círculo de amigos.[671] Assentado no monte das Oliveiras,
seus discípulos, em particular, lhe perguntam: “Dize-nos quando sucederão
estas cousas, e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século” (Mt
24.3). Sem referir-se a alguma data, Jesus apresenta alguns sinais que
haveriam de acompanhar a Sua segunda vinda e, em meio a este Seu discurso
profético, Ele profere duas parábolas: a da figueira e do dilúvio.
4.7 - A figueira (Mt 24.32-35; Mc 13.28-
31; Lc 21.29-33)

A figueira é um indicador ideal das estações. Em contraste com as árvores


que não perdem as folhas, a renovação primaveril pode ser vista claramente
em seus galhos nus. Como a primavera é muito curta na Palestina, o calor
forte do sol não tarda a chegar.[672] Esta conclusão familiar tirada da árvore
que brota para a mudança da estação é usada por Jesus, para fazer alusão à
pergunta dos discípulos.[673] “Aprendei,[674] pois, a parábola da figueira:
quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está
próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas estas cousas, sabei
que está próximo, às portas”.
Quanto à expressão “está próximo”, Mateus e Marcos não apresentam
sujeito, no original. Tasker prefere a interpretação cujo sujeito é “isto”,
fazendo referência à queda de Jerusalém.[675] Observa-se, ainda, o fato de
Jesus afirmar que “não passará esta geração sem que estas coisas
aconteçam”. Erdman concilia estas informações, afirmando que se referem à
destruição de Jerusalém como tipo e símbolo para o retorno de Cristo. Estes
dois acontecimentos estariam estritamente vinculados neste discurso
profético e o cumprimento literal do primeiro garante aos cristãos a
seguridade de que o último ocorrerá com certeza. “Passará o céu e a terra,
porém as minhas palavras não passarão”. A esperança da vinda do Senhor
Jesus Cristo não se fundamenta em conjeturas humanas, mas em Suas
promessas infalíveis. Todo o material e temporal pode deixar de existir, mas
Suas promessas são eternas.[676]
Já em Lucas, o sujeito da expressão “está próximo”, é o Reino de Deus.
Jeremias pergunta, então: “quem está às portas?” O Messias! – é a sua
resposta. A consumação final está para irromper-se, o Messias bate à porta
(Ap 3.20).[677] Assim como o homem vê os sinais do verão, no renovo dos
ramos da figueira, pode-se perceber a iminência da volta de Jesus, muito
embora não se possa saber adiantadamente o momento exato da aparição do
Senhor. O dever do cristão, portanto, é vigiar e orar, para estar pronto quando
o Senhor vier.[678] Em poucas palavras, a parábola significa o seguinte: ainda
que não se saiba a data, nem a hora da Sua vinda, ela é certa e se dará quando
se cumpram os sinais que Ele mesmo deu, dos quais o principal é que o
evangelho será pregado em todas as nações.[679]
4.8 - O dilúvio (Mt 24.37-39)

Jesus usa, ainda, outra comparação em relação ao tempo da Sua volta. Ele
instrui seus seguidores a que estejam atentos para o imprevisto de seu
retorno. Assim, compara o tempo da Sua vinda aos dias de Noé:
Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do homem. Porquanto,
assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em
casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam senão quando veio o
dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem (Mt 24.37-39).[680]
Jesus deixa claro que não há meios precisos de predizer quando se dará a
Sua segunda vinda. Os homens e as mulheres estarão envolvidos em suas
ocupações habituais, cultivando campos, moendo cereal nos moinhos, fruindo
o convívio da companhia humana, casando e dando os seus filhos em
casamento, quando, num momento em que Ele é menos esperado, o Filho do
homem virá.[681] Os que estão na expectativa do Senhor e vivem de acordo
com a elevada vocação estarão abrigados no seu Senhor – à semelhança dos
justos que, na época de Noé, encontraram abrigo na arca. Enquanto os
verdadeiros fiéis anseiam com ardor cada vez maior pelo seu Senhor,
apodera-se da humanidade uma segurança carnal cada vez mais completa. É
um tempo semelhante aos que antecederam todas as grandes épocas de
decisão na história. Todos os afazeres da vida terrena transcorrem
normalmente. Todos pensam que tudo continuará assim.[682]
Rienecker afirma ainda que Jesus não condena em si as atitudes de
comer e beber.[683] Porém, o pensamento é de que, no tempo de Noé, em
meio à atividade diária, realizada toda ela sem Deus, irrompeu sem ser
esperado ou anunciado, e de modo súbito e inescapável, o juízo da ira de
Deus. Isso se repetirá na volta de Cristo.[684] As pessoas estarão realizando
seu trabalho diário sem Deus e Jesus os surpreenderá nos seus afazeres. Ele
quer encontrá-los na sua vida cotidiana e por isso não anunciará de modo
especial a Sua vinda.[685] Este anúncio também não será dado aos fiéis, pois
esses não precisam saber o dia e nem abster-se do seu trabalho. Ele os achará
dormindo, ou trabalhando, porque seu coração estava e está junto dEle.[686] É
neste sentido que Jesus diz que “Então dois estarão no campo, um será
tomado, e deixado o outro; duas estarão trabalhando num moinho, uma será
tomada, e deixada a outra” (Mt 24.40-41). Dodd afirma que
A vinda do Filho do Homem em seu aspecto de juízo se realiza nas catástrofes que Jesus
anunciou como iminentes: sua própria perseguição e a de seus discípulos, a destruição do templo
e da nação judia. Jesus considerou estas catástrofes como uma consequência iminente da
situação presente. Assim, a gente despreocupada que comia e bebia por prazer, como os
antediluvianos, são os homens e as mulheres que Jesus tinha diante de si, nesciamente
inconscientes de que os juízos de Deus estavam na terra e envolvidos a qualquer momento em
um desastre. (...) Deste modo, a parábola é análoga à dos servos vigilantes.[687]
Quando se crê que a redenção se aproxima, e que em breve toda essa
glória que excede a compreensão humana se tornará realidade, então a grande
pergunta é se a vida de fé de cada indivíduo é condizente com a luz da volta
de Cristo.[688] Com isto em mente, Jesus retoma a questão do juízo
simultâneo na consumação do Reino.
B’ - O Juízo Simultâneo na Consumação
do Reino

Depois de falar a respeito do tempo da consumação do Reino, Jesus passa


novamente a exortar a respeito da necessidade de vigilância quanto a esta
possibilidade iminente da Sua volta e devido preparo em relação à mesma. O
juízo, na consumação do Reino, é certo. Convém reforçar a necessidade de
estar pronto diante do mesmo.
4.9 - O porteiro (Mc 13.34-37)

Marcos relata, a esta altura, a parábola do porteiro.[689] É evidente que


Jesus dá estas predições sobre a consumação do século com uma finalidade
prática e não para satisfazer uma curiosidade mal-intencionada. O triste e
caótico prelúdio da consumação deve dar lugar à alegria, ao invés do
desespero, visto estar próxima a redenção completa.[690]
A parábola fala de “um homem que, ausentando-se do país, deixa a sua
casa, dá autoridade aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao
porteiro[691] ordena que vigie” (v.34). Cada um, responsável em relação às
ordens, fazia suas tarefas. Somente agora segue, como objetivo principal, o
caso específico do porteiro. Tudo o que foi dito até aqui são detalhes, sem
interesse para a comparação.[692] O porteiro, então, deveria vigiar a entrada
da propriedade.[693] Dele se esperava que estivesse atento à noite e que
descansasse durante o dia. Dormir em serviço era falta grave, que contrariava
as instruções explícitas dadas pelo dono da casa.[694]
Um detalhe importante é que este servo não tinha autoridade sobre os
conservos, como em Mateus 24.45, de modo que também não simboliza a
posição de apóstolo ou líder na igreja. Jesus também não menciona, como
tarefa do porteiro, advertir os conservos em caso de perigo. Aqui só uma
coisa está em vista, a relação entre servo e senhor. Por isso, o porteiro não
representa um certo grupo de pessoas dentro da igreja, mas o ser discípulo em
si.[695] A advertência para a vigilância contém dois aspectos ao mesmo
tempo: a esperança distante e a esperança imediata. O dono da casa pode
voltar a qualquer uma das quatro vigílias da noite (à tarde, à meia-noite, ao
cantar do galo, pela manhã[696]); ele virá de repente.[697]
O dever é vigiar e orar (v.33), para estar pronto quando o Senhor vier
(v.37). Mas deve-se fazer mais do que isto: deve-se estar incessantemente
ocupado na obra que Deus pôs nas mãos de cada ser humano (v.34), a obra de
pregar o Evangelho a homens e mulheres de cada nação.[698] Servos
vigilantes não são aqueles que calculam o tempo da Sua vinda, mas são
aqueles que vivem à luz desta certeza. A esperança do futuro é uma
inspiração para o presente.[699] Jesus termina, então, sua parábola, com a
seguinte exortação: “O que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai!” (v.37).
[700]
4.10 - O pai de família (Mt 24.43-44)

Ainda tendo em mente o conceito quanto ao tempo da Sua vinda, do qual


ninguém sabe a hora exata, Jesus conta a parábola do pai de família:[701]
“Considerai isto: Se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão,
vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso ficai vós
apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá”.
Essa declaração em forma de parábola se baseia em fatos da vida real,
pois muitos assaltos ocorriam frequentemente, especialmente em tempos de
crise econômica. Muitas vezes, os ladrões escavavam um buraco na parede,
arrombavam a casa, e roubavam todos os bens do proprietário.[702] Se este
soubesse a que horas viriam os ladrões, vigiaria para impedir o roubo.[703]
Ploeg afirma:
Jesus não contou esta parábola para exortar seus ouvintes a tomar medidas de segurança em
suas pequenas casas rurais. Ele quis exortá-los a serem sempre vigilantes, isto é, a viver de tal
maneira que possam esperar com confiança a vinda do Filho do Homem e o julgamento que ele
fará.[704]
Em muitos lugares do Novo Testamento, a vinda de Cristo é comparada
com a vinda de um ladrão durante a noite.[705] De forma alguma, Cristo se
compara com um ladrão. Mas o inesperado de Sua vinda é como o de um
ladrão. Porém, sua vinda inesperada é somente para os que não O esperam.
Estes, sim, serão surpreendidos. Aqueles que entendem e esperam a vinda de
Cristo não serão surpreendidos, pois o estarão esperando.[706]
Jesus deixa claro que seus discípulos precisam estar preparados para o
inesperado; não devem ser como o pai de família roubado que deixou que a
sua casa fosse assaltada, porque não se dera conta de que os ladrões não
avisam de antemão a hora da sua chegada.[707] É com ênfase que Jesus expõe
que não será enviada uma mensagem especial, nem mesmo para os fiéis. Ao
contrário, ele virá numa hora em que não pensais. Está dito: Como um ladrão
na noite.[708] Por isso ficai vós apercebidos (v.44).
4.11 - O servo prudente (Mt 24.45-51)

A parábola do servo prudente, ou fiel, é mais uma para enfatizar a


necessidade de vigilância ante a iminente volta do Senhor e também para
reforçar a característica da fidelidade.[709] A parábola resume-se em um
servo[710], que recebe a responsabilidade de administrar a casa na ausência
de seu senhor. Se ele provar ser fiel e prudente, o senhor o recompensará
generosamente ao retornar. Mas, se for preguiçoso, indigno e descuidado,
voltando o senhor quando não estiver sendo esperado, lhe infligirá severa
punição.[711]
A parábola começa com uma pergunta: “Quem é o servo fiel e
prudente?” A palavra grega para fiel é pistós, e significa confiável, fiel. O
termo grego para prudente origina-se de phronein. É um verbo que
inicialmente significa “pensar”, e depois “ter algo em consideração”. O
escravo, portanto, que o Senhor apresenta na parábola, é uma pessoa
confiável, alguém em quem se pode fiar sob qualquer circunstância. O
escravo, por sua vez, é alguém que considera incessantemente o que convém
ao seu Senhor. O servo precisa ser confiável e responsável. Feliz do servo
que o Senhor, ao retornar, encontrar com essas qualidades.[712]
Mas se este servo for mau, na ausência do seu senhor, dirá “Meu senhor
demora-se”. E com a delonga de seu retorno, preencherá o seu coração com
maus desejos. Esses maus desejos se exteriorizam, por um lado, em
banquetear-se e gozar, ou seja, numa vida conscientemente voltada para si
própria, mas, por outro lado, também numa vida cheia de desamor e falta de
escrúpulos perante os conservos que lhe são subordinados. O que o seu
senhor fará com ele é descrito com as palavras: “castigá-lo-á[713], lançando-
lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes” (v.51).
[714]
Tasker afirma que esta parábola trata daqueles que foram colocados pelo
Senhor em posições de responsabilidade especial, líderes e mestres da igreja
cristã, os quais devem estar tão constante e fielmente ocupados com o seu
trabalho que, quando Ele voltar, os ache prestando serviço a seu Senhor,
“alimentando” os membros da sua família.[715] Já Kistemaker é de opinião de
que a responsabilidade é de todos os seguidores de Jesus. Alguns desses
seguidores recebem privilégios maiores que outros, mas são investidos de
responsabilidades também maiores. Cada um tem o seu próprio dever no
serviço do Senhor; ninguém está excluído ou isento.[716] Ploeg afirma sobre o
sentido da parábola, que
O próprio Jesus é o Senhor, que por ocasião de sua segunda vinda recompensará àqueles
que na sua vida cumpriram seu dever na fé, esperança e caridade, “esperando a aparição da
glória de nosso grande Deus e Salvador, o Cristo Jesus” (Tt 2.13).[717]
Kistemaker concorda, afirmando que, nesta parábola, Jesus é
representado pelo senhor da casa. Ele parte, com a promessa de seu retorno.
Na ausência de Jesus, seus seguidores recebem privilégios e
responsabilidades. Se o crente for fiel e prudente no desempenho de seus
deveres, Jesus o recompensará abundantemente, em sua volta. Mas se for
infiel e agir irresponsavelmente, a volta de Jesus será para ele um
acontecimento inesperado, do qual resultará sua completa separação do povo
de Deus e consequente punição.[718]
4.12 - As dez virgens (Mt 25.1-13)

Apenas Mateus registrou a parábola das dez virgens. Esta encontra-se


imediatamente após o sermão profético de Jesus, sobre o final dos tempos.
[719] Na última parte deste sermão, Jesus fala da divisão entre aqueles que
estarão atentos e preparados, e aqueles que não estarão.[720] A presente
parábola continua a enfatizar a necessidade de preparo ante o juízo
simultâneo, no dia da consumação do Reino.
No Oriente, por causa do calor, festeja-se o casamento normalmente à
noite. A noiva espera, na casa de seus pais, pelo noivo, que a buscará para o
seu lar. Junto da noiva, suas damas de companhia[721] esperam pela chegada
do noivo. Logo que se anuncia que o noivo está se aproximando, as moças
têm a tarefa de ir ao seu encontro. Como esta marcha somente se realiza à
noite, elas precisam levar consigo lâmpadas. Essas lâmpadas são próprias
para o ar livre[722], diferentes daquelas usadas em casa (Mt 5.15). Como são
muito pequenas, às vezes é preciso completar o óleo delas. Por isso, as moças
também precisam levar vasilhas com óleo para reporem as lâmpadas.[723]
Na parábola de Jesus[724], as dez damas de honra, de acordo com o
costume do local, preparavam-se para aguardar a chegada do noivo.[725]
Sabendo que o noivo chegaria à noite, levaram suas lâmpadas. Cinco delas,
que eram prudentes, levaram consigo azeite nas vasilhas para o caso de
necessitarem repor nas lâmpadas. As outras cinco, as néscias, levaram
somente as lâmpadas cheias de azeite, porém sem azeite de reserva. Criam
não ser necessário levar mais.[726] Então, por volta da meia-noite,[727] ouve-se
o anúncio: “Eis o noivo! Saí ao seu encontro” (v.6). O noivo e seus
acompanhantes se aproximavam da casa da noiva. Dentro, as damas de honra
acordaram e puseram em ordem as suas lâmpadas. Todas tinham as suas
lâmpadas brilhando, mas perceberam que, sem óleo extra, suas lâmpadas
estariam completamente apagadas antes que o cortejo começasse.[728]
Então “as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite,
porque as nossas lâmpadas estão-se apagando” (v.8).[729] O bom senso das
cinco néscias lhes dizia que o óleo que traziam consigo seria suficiente para
cinco tochas e não para dez. Delicadamente se recusaram a repartir o óleo e
aconselharam as néscias a irem aos que o vendiam, para comprá-lo. Estas
tinham, agora, de correr até um vendedor, acordá-lo e comprar o óleo
necessário. Nesse intervalo, o noivo chegou e o cortejo começou. Todos
foram à casa do noivo participar da festa. A entrada do salão das bodas foi
fechada e ninguém mais, que não tivesse feito parte do cortejo, tinha
permissão para entrar.[730]
Broadus afirma que outros convidados, que não tivessem ido à casa da
noiva, podiam unir-se à comitiva em qualquer ponto do caminho, entrar com
ela na casa do noivo e tomar parte nas festividades. Mas, sem uma lâmpada
ou tocha, não podiam marchar na procissão, nem entrar na casa. A fim de se
juntarem convenientemente à dita procissão, tais pessoas podiam reunir-se de
antemão em diferentes pontos ao longo do trajeto da mesma, e esperar que o
noivo se aproximasse.[731]
Depois, quando as néscias encontraram azeite, chegaram à festa e
bateram à porta.[732] A festa já estava em andamento e o noivo não quis abrir
a porta, dizendo: “Em verdade vos digo que não vos conheço” (v.12).
Percebe-se que foi demasiadamente tarde a preocupação destas cinco virgens
em preparar-se. Este fato mostra algumas verdades: se as virgens não
houvessem sido descuidadas, haviam tido a devida preparação; se houvessem
se preparado devidamente, nenhum mal haveria em descansar e dormir; e é
impossível depender de outros para a salvação, seja agora ou no dia da vinda
de Cristo.[733]
A conclusão de Jesus à parábola é simples e direta: “Vigiai, pois, porque
não sabeis o dia nem a hora” (v.13). Evidentemente, Ele se refere a si mesmo
e ao seu retorno. Ele é o noivo, aquele que vem. O ensinamento óbvio é que
Jesus exclui do Reino dos Céus todo aquele que deixa de fazer a vontade de
Deus, o Pai. No dia da volta de Jesus, eles podem chamá-lo pelo nome e
mostrar suas obras religiosas (como em Mt 7.21-23), mas, porque não
fizeram a vontade do Pai, não terão parte no Reino.[734] Kistemaker afirma,
ainda:
Nada na parábola indica que se esperava que as dez moças permanecessem acordadas. As
prudentes, assim como as tolas, caíram no sono enquanto esperavam. A vigilância não é,
portanto, a característica marcante ensinada nesta parábola. Antes, o que é predominante é a
disposição de estar preparado.[735]
Jesus quer ilustrar e tornar evidente o fato de ser imprescindível estar
pronto diante da Sua volta. É por isto que as cinco virgens foram chamadas
de prudentes. Embora também houvessem adormecido, estavam preparadas
quando foi preciso para a chegada do noivo.[736]
A’ - O Acerto de Contas na Consumação
do Reino

Estando claro que há um tempo em que o Reino será consumado, e que cada
indivíduo precisa estar preparado diante do juízo que a consumação trará,
Jesus passa novamente a falar sobre o acerto de contas que haverá naquele
momento.
4.13 - Os talentos (Mt 25.14-30)

De acordo com Mateus, Jesus dirigiu-se aos seus discípulos, ao falar sobre o
final dos tempos (cap. 24), e prosseguiu com algumas parábolas relacionadas
a Sua volta. Tudo isso aconteceu dois ou três dias antes da celebração da
Páscoa, segundo Mateus (26.2).[737] Para esta parábola,[738] Jesus tomou
acontecimentos do sistema financeiro e bancário.[739] O judeu bem podia
compreender o ensino de Jesus, pois é conhecida a sua habilidade como
economista, em achar o melhor meio de rendimento do capital. Assim, o
senhor da parábola chamou três servos e confiou-lhes cinco, dois e um
talentos,[740] respectivamente, de acordo com a capacidade de cada um. Os
dois primeiros saíram imediatamente a negociar.[741] O terceiro saiu e cavou
um buraco enterrando seu talento. Jeremias afirma que “enterrar” é tido pelo
direito rabínico como o meio mais seguro de proteção contra ladrões: quem
enterrou, logo depois de receber uma penhora ou um depósito, estava livre de
responsabilidade.[742]
O senhor da parábola fica ausente por longo tempo. Faz com que
esperem por ele.[743] Não sabem quando ele retornará. Com ênfase especial é
dito: “Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou
contas com eles” (v.19).[744] Então, o senhor julgou o trabalho deles. O
primeiro servo duplicou os seus talentos, o segundo da mesma forma. O
terceiro servo nada perdeu, mas tampouco conquistou algo. Logo, não
trabalhou. Para os dois servos que trabalharam, a sentença do senhor é a
mesma. Eles entram para a alegria do senhor. A sentença do senhor sobre o
terceiro servo é arrasadora.[745]
A cautela exagerada deste terceiro servo é tratada como uma quebra de
confiança, pois ele não estava lidando com dinheiro dele, mas com dinheiro
alheio; e a soma a ele confiada é transferida agora para o homem que provou
que era mais empreendedor e de maior sucesso.[746] Kistemaker diz que este
servo temeu investir seu talento, pois sabia que seu senhor o exigiria ao
voltar. O receio, portanto, sobrepujou o amor, a confiança e a fé. O medo é o
oposto da confiança.[747]
Do servo mau, foi ordenado que lhe retirassem o talento e dado ao que
tem dez. Uma vez retirado o talento, ficou sem nada que o habilitasse a
entrar no gozo do seu Senhor. Foi-lhe negada a bem-aventurança do Reino. É
um servo inútil, destinado a ficar de fora, nas trevas, em lugar onde haverá
choro e ranger de dentes, ao invés de desfrutar a luz da presença de Deus, que
é fonte de alegria.[748]
Dodd afirma, ainda, que a parábola dos talentos refere-se claramente à
segunda vinda de Cristo e tem o propósito de advertir seus seguidores de que,
quando ele vier, pedirá contas sobre a maneira como cumpriram as suas
responsabilidades.[749] Rienecker faz uma aplicação desta parábola:
Não é suficiente esperar pela volta do Senhor e pelo juízo. Pelo contrário, o cristão precisa
aproveitar o tempo da vida na terra para trabalhar e agir com as dádivas que lhe foram
presenteadas. O Senhor espera fidelidade de cada um (...), até que ele venha.[750]
Os servos com capacidades diferentes têm sido comparados a vasos
diferentes, mas todos cheios. No transbordar de todos, não há motivo algum
para queixa ou inveja. A parábola apresenta o valor da expressão proverbial
comprovada em muitos sentidos e sobretudo no mundo financeiro: os talentos
aumentam pelo seu uso e diminuem pela inação ou desuso. “Poços usados
não secam”. Por outro lado, a recompensa está ao alcance de todo aquele que
é fiel, porque é baseada não tanto sobre o êxito que alcança, mas sobre a
fidelidade que não esmorece.[751]
4.14 - As ovelhas e os cabritos (Mt
25.31-46)

Alguns autores são da opinião de que este texto não é uma parábola no
sentido convencional, mas uma descrição poética da vinda do Filho do
homem como um juiz. Alguns dizem que este trecho ilustra a profecia de
Mateus 16.27: “Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com
os seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme as suas obras”. Aqui o
Filho do homem é retratado entronizado na glória como Rei, exercendo a sua
prerrogativa divina como Juiz de todas as nações (v.32).[752]
Estritamente falando, esta passagem é muito mais uma profecia do que
uma parábola. Apenas a parte que fala das ovelhas e dos cabritos pode ser
considerada uma parábola. E essa breve comparação serve perfeitamente ao
propósito de Jesus, quando ensina a seus discípulos a doutrina do último
julgamento.[753] Numa linguagem sublime, é descrito um quadro pitoresco da
vida pastoril.[754] É claro que, ao mesmo tempo, o Filho do homem aparecerá
como Pastor[755], Rei[756] e Juiz[757], para cumprir a vontade do Pai. Ele é a
figura central e diante dele todas as nações da terra, cristãos ou não, bons e
maus, benditos e malditos, todos comparecerão como um só rebanho, para a
discriminação final, por Aquele que tudo conhece.[758]
Jesus refere-se a uma cena comum em sua época, ao falar da separação
dos cabritos e das ovelhas. Os cabritos e as ovelhas geralmente ficam no
mesmo rebanho, mas nem os cabritos nem as ovelhas se misturam. Ao
entardecer, as ovelhas atendem ao chamado do pastor, mas os cabritos,
muitas vezes, o ignoram.[759] O pastor põe, então, as ovelhas à direita e os
cabritos à esquerda. As ovelhas valem mais que os cabritos e por isso ficam
do lado direito, que geralmente significa o lado bom, enquanto o lado
esquerdo pode se referir a algo sinistro, sombrio, mau ou vil.[760]
A separação é criteriosa, não entre ricos e pobres, sábios e ignorantes,
mas entre bons e maus. Os piedosos, cheios de simpatia para com os
necessitados, são como as ovelhas dóceis, pacientes e úteis; e os perversos,
sem coração, como os cabritos de mais baixa espécie. Os bons, representados
pelas ovelhas, ficarão admirados, por verificarem que haviam feito a vontade
de Cristo, sem terem se apercebido.[761] Tasker observa que os salvos
asseguram sua posição “não por dizerem constantemente, ‘Senhor, Senhor’,
nem por repetidas expressões verbais da sua fé, mas por numerosos atos de
serviço em auto sacrifício, prestado discretamente aos seus semelhantes”.[762]
Interessante que o juízo das nações tem, como elemento principal, a
recompensa das ações amorosas a favor dos necessitados. Não são ações para
ganhar o Reino, mas consequências lógicas de pertencer ao mesmo.[763] Ali
se encontram os que têm transcendido a barreira do egoísmo e dedicaram
tempo a pensar nas necessidades dos demais.[764]
Por outro lado, os maus, figurados como cabritos, elementos
recalcitrantes que fogem do pastor, confiados em si mesmos, orgulhosos,
julgando que haviam sido cumpridores da vontade do Senhor, serão
separados para o lado esquerdo.[765] Em completo contraste, longe de serem
bem-vindos ao Reino divino, são banidos da presença do Rei. São
denominados malditos[766], pois não têm lugar na família de Deus, não
possuindo nenhuma das características dos seus filhos; e são designados para
a conflagelação preparada para o diabo e seus anjos.
A parábola das ovelhas e dos cabritos é uma introdução à descrição do
juízo do último dia. Como o pastor separa suas ovelhas dos cabritos, assim
também Jesus separa os justos dos ímpios no dia do juízo. Naquele dia, todas
as nações do mundo permanecerão diante do Filho do Homem e serão
julgadas com base na aceitação ou rejeição mostradas a ele, quando seus
mensageiros proclamaram o seu chamado. A descrição da cena do
julgamento acaba com uma referência ao destino permanente que terão
ambos os grupos. “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a
vida eterna” (v.46). A conclusão indica que o veredicto, para ambas as
partes, é final e irrevogável. Os justos gozarão para sempre a plenitude da
vida, e os ímpios receberão a maldição da punição eterna.[767]

O último grupo de quatorze parábolas tratou, de forma clara e


abrangente, a questão da consumação do Reino de Deus. O esquema proposto
pode ser assim apresentado:
O auge deste grupo claramente é identificado pelas parábolas que falam
do tempo relativo à consumação do Reino. Há um tempo certo para que a
consumação ocorra; sinais do mesmo podem ser vistos. Entretanto, o
momento certo ninguém sabe. A certeza de que a consumação acontecerá traz
consigo a responsabilidade de cada indivíduo estar preparado para o juízo que
ocorrerá. Simultaneamente, os incrédulos serão julgados e os crentes, salvos
definitivamente. Este julgamento traz consigo o acerto de contas final:
recompensas ou o sofrimento eterno.
CONCLUSÃO

As parábolas são realmente um conjunto de verdades profundas e


desafiantes. Não são, entretanto, simples ilustrações de uma verdade. São a
própria mensagem. Uma forma de argumentação utilizada pelo Senhor Jesus
e, como tal, instrumentos de revelação de verdades. Devem ser interpretadas
com base na busca de uma verdade central, explorando todos os detalhes
corroborativos possíveis, sem, no entanto, entrar em alegorizações.
As parábolas sugerem uma sequência lógica e progressiva, analisadas do
ponto de vista cronológico em que foram proferidas. Uma boa Harmonia dos
Evangelhos pode apresentá-las dentro do contexto mais provável em que
foram relatadas. O sistema de quiasmos foi sugerido como método utilizado
por Jesus, tendo em vista ter Ele utilizado esse método muitas vezes dentro
das próprias parábolas. Este sistema era muito conhecido e difundido no
pensamento judaico da época. Tem a vantagem de desenvolver um assunto
até um clímax e retornar com os mesmos assuntos, reforçando suas verdades.
Neste sentido, é um excelente recurso mnemônico. Poder-se-ia
perguntar se uma estrutura quiástica se presta para algo não-literário, assim
como utilizada nesta pesquisa, pois dificilmente os ouvintes teriam
conseguido identificar esta estrutura, sem tê-la por escrito. Entretanto, é
preciso lembrar que ainda na época de Jesus, a oralidade exercia um papel
fundamental e poucas pessoas tinham acesso à escrita. É preciso lembrar
ainda que ao se usar um recurso didático ou mnemônico, o que se pretende
que o ouvinte identifique, não é necessariamente o recurso, mas, sim, a
verdade proferida. Nestes termos, Jesus pode ter utilizado conscientemente
este tipo de estrutura, ensinando e reforçando seu ensino sobre o Reino
através de parábolas, sem que seus ouvintes imediatamente identificassem a
estrutura.
Assim, as parábolas foram abordadas, nesta pesquisa, sob o tema do
Reino de Deus, divididas em três grupos. O primeiro deles fala sobre a
inauguração do Reino de Deus. A vinda de Cristo ao mundo fez com que o
Reino irrompesse a história humana. Seu valor em muito excede o sistema
judaico, baseado na lei. Como tal, influencia profundamente a vida de cada
indivíduo que passa a fazer parte do mesmo, a partir da semeadura do Reino.
O clímax de todo este processo é que todas estas pessoas transformadas pelo
Reino fazem com que este se manifeste efetivamente no mundo. O retorno
dos assuntos traz novamente a semeadura, acrescida do aspecto de que,
enquanto o Reino está ativo, o inimigo também está trabalhando ativamente.
Não obstante, a influência do Reino não é somente sobre o indivíduo, mas
também sobre o próprio mundo. Assim sendo, nada se iguala ao inestimável
valor do Reino. Mas este processo não tem um fim, apenas um fim do
começo – a plenitude do Reino.
Este Reino cresce em suas dimensões. Não em termos qualitativos, por
já ser completo e perfeito. Porém, em termos quantitativos, ao serem os
homens acrescidos ao Reino. Este Reino admite indivíduos. Indivíduos que
não podem salvar-se a si mesmos; precisam ser redimidos. Entretanto, a
resposta humana é necessária. De acordo com ela, o Reino classifica os que
são dignos de fazerem parte. Alguns clamam pelas suas próprias forças;
outros clamam e confiam na misericórdia de Deus. Assim, há os que aceitam
e há os que rejeitam. Entretanto, somente a resposta humana em si também
não é suficiente. O Reino precisa buscar o ser humano perdido. Este é o
clímax deste grupo de parábolas.
Finalmente, o Reino chegará a um ponto áureo em que será consumado.
Esta consumação é certa, não se sabendo, entretanto, quando será. Urge a
cada ser humano, estar preparado para este momento, pois contas serão
pedidas de todos. Isto porque haverá um juízo simultâneo nesta consumação.
Existirão aqueles que corresponderam adequadamente ao convite do Reino.
Existirão aqueles que negligenciaram este convite. Tudo será decidido no
tempo certo, relativo à consumação. Muitos sinais testificam da certeza deste
momento. É preciso, portanto, estar preparado, pois o juízo simultâneo
também é certo. Consequentemente, no acerto de contas, o Rei do Reino,
dará o veredicto final. Uns serão colocados à Sua direita, e gozarão da vida
eterna. Outros serão postos à Sua esquerda, para a maldição eterna.
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[1] BALLARINI; REALI, 1985, p. 26.


[2] SILVA, 2000, p. 75.
[3] BAILEY, 1995.
[4] SILVA, 2000, p. 75.
[5] BAILEY, 1995, p. 29-36. Goulder também apresenta uma estrutura quiástica deste mesmo
texto (GOULDER, 1963, p. 195-202).
[6] SCHOLZ, 1999, p. 81.
[7] CAMARGO, 1970, p. 12.
[8] THAYER, 1974, p. 479.
[9] HOOVER, 1988, p. 34. Hunter afirma também que a parábola “consiste em comparar o
desconhecido com o conhecido, o estranho com o familiar” (HUNTER, 1960b, p. 8).
[10] PEISKER, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1567.
[11] MARTÍNEZ, 1984, p. 451.
[12] ZUCK, 1994, p. 225. Manson faz a seguinte definição: “A parábola é um quadro em
palavras de algum trecho da experiência humana, concreto ou imaginado. Mas, além disso, o
quadro retrata ou um tipo ético para a nossa admiração ou reprovação, ou algum princípio da
maneira de Deus dirigir o mundo, ou ainda ambas as coisas. A parábola espelha a
compreensão e a experiência religiosa do seu criador... Na sua operação real, pois, toda
verdadeira parábola é um apelo a uma vida melhor e a uma confiança mais profunda em
Deus, cujos pormenores não são senão o lado divino e o lado humano da verdadeira religião,
o verso e o reverso da mesma medalha” (Citado por ZABATIERO, In: BROWN; COENEN,
2000, p. 1570).
[13] TRENCH, 1987, p. 9.
[14] KONINGS, 1977, p. 30.
[15] DODD, 1974, p. 25.
[16] MANSON, In: BAILEY, 1995, p. 13.
[17] BAILEY, 1995, p. 13-14.
[18] DODD, 1974, p. 31.
[19] FEE; STUART, 1984, p. 125.
[20] Interessante notar que o vocábulo português “palavra”, provém deste mesmo termo grego
parabolê. Nascentes afirma que, como tal, “palavra” é uma comparação sob a qual se oculta
uma verdade importante. (NASCENTES, 1955, p. 374).
[21] CAMARGO, 1970, p. 11.
[22] PEISKER, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1567-1568. Segundo Champlin, os eruditos
alistam 11 parábolas no Antigo Testamento: Os moabitas e os israelitas (Nm 23.24); As
árvores que escolheram um Rei (Jz 9.7-15); A ovelha e o pobre (2 Sm 12.1-5); O conflito
entre irmãos (2 Sm 14.9); O prisioneiro que escapou (1 Rs 20.25-49); O espinheiro e o cedro
(2 Rs 14.9); A videira que deu uvas bravas (Is 5.1-7); As águias e a vinha (Ez 17.3-10); Os
filhotes de leão (Ez 19.2-9); O caldeirão fervente (Ez 24.3-5); Israel como vinha perto da água
(Ez 24.10-14). (CHAMPLN; BENTES, 1995, Vol. 5, p. 63).
[23] KISTEMAKER, 1992, p. 18.
[24] KISTEMAKER, 1992, p. 19.
[25] Hunter, ao escrever sobre a quantidade de parábolas proferidas por Jesus, afirma que Trench
alistou 30, Bruce 33 e mais 8 ditos parabólicos, Jülicher alistou 53 e Smith encontrou 62.
Hunter sugere cerca de 60 parábolas (HUNTER, 1960b, p. 9). No presente trabalho, serão
abordadas 42 parábolas.
[26] CAMARGO, 1970, p. 12.
[27] MESTERS, 1976, p. 26.
[28] MESTERS, 1976, p. 27.
[29] ANTONIAZZI, 1989, p. 39. Antoniazzi continua, afirmando que a parábola: “1) desvenda
algo do futuro (o Reino!) que ainda não percebíamos; 2) a partir daí, obriga-nos a rever o
passado, a romper com os velhos esquemas; 3) a parábola, enfim, leva a uma decisão no
presente: acolher Jesus e sua Palavra, ou recusá-lo e persegui-lo” (p. 40).
[30] Pohl afirma que não se trata de pessoas presentes aleatoriamente, mas de um círculo íntimo
de seus seguidores. A pergunta dos discípulos não se refere especificamente à parábola do
semeador, mas a toda uma série de “comparações”, na verdade à maneira em si da pregação
de Jesus. (POHL, 1998, p. 153-155).
[31] BORNKAMM, 1976, p. 66.
[32] POHL, 1998, p. 157.
[33] RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 72. Corrobora também o verbo δέδοται, que está no
tempo perfeito e na voz passiva, sendo corretamente traduzido por “vos é dado” o mistério.
Pohl afirma, ainda, que apesar disto, eles precisam continuar recebendo (v.25); a entrega total
já está prevista, mas ainda não realizada (POHL, 1998, p. 157.)
[34] Pohl descreve “os de fora” da seguinte maneira: “São como pessoas que contemplam os
vitrais maravilhosos de uma igreja apenas da rua e, por isso mesmo, não os acham
interessantes, porque não veem a luz passando por eles. Assim é a incompreensão da multidão
aqui. Ela acolheu os preconceitos dos seus líderes em vez de passar a seguir a Jesus. Agora
era testemunha ocular e auricular de Jesus, como os discípulos, mas só de fora e, por isso,
cega e surda” (POHL, 1998, p. 157).
[35] POHL, 1998, p. 158.
[36] Um paralelo em Ap 22.11 pode esclarecer esta atitude. Encontra-se ali uma exortação de
continuar fazendo injustiça e sendo imundo. Mas o sentido é: Se alguém está disposto a não
se deixar advertir, então continue em frente! Torne-se totalmente o que é e assuste-se consigo
mesmo, para sua salvação (POHL, 1998, p. 158).
[37] Isto está de acordo com João 3.3, que diz: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus”.
[38] ZUCK, 1994, p. 229.
[39] WALLACE, In: TURNBULL, 1976, p. 25.
[40] TASKER, In: DOUGLAS, 1995, p. 1201. A parábola nem sempre lança mão de histórias
verídicas, mas admite a probabilidade, ensinando mediante ocorrências imaginárias, mas que
jamais fogem à realidade das coisas (CHAMPLIN; BENTES, 1995, Vol. 5, p. 57).
[41] ZUCK, 1994, p. 231.
[42] ZUCK, 1994, p. 231-232.
[43] ZUCK, 1994, p. 233.
[44] KISTEMAKER, 1992, p. 18. Funk faz um extensa descrição dos tipos de relação que pode
haver entre os elementos da tríade, num capítulo intitulado “Participant and plot in the
narrative parables of Jesus” (FUNK, 1982, p. 35-54).
[45] SCHOLZ, 1999, p. 83.
[46] DUPONT, 1980, p. 39.
[47] KISTEMAKER, 1992, p. 18.
[48] ZUCK, 1994, p. 234-235. Outros exemplos podem ser: Lc 12.17-19; 16.3-4; 18.5; etc.
[49] ZUCK, 1994, p. 235.
[50] FEE; STUART, 1984, p. 127.
[51] GILHUIS, 1980, p. 260,261.
[52] KISTEMAKER, In: ELWELL, 1990, Vol. 3, p. 96.
[53] KISTEMAKER, 1992, p. 17.
[54] DRANE, 1982, p. 119-124.
[55] Apud CAMARGO, 1970, p. 25.
[56] CAMARGO, 1970, p. 25.
[57] BROWN, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1574-1575.
[58] ZUCK, 1994, p. 243.
[59] Apud CAMARGO, 1970, p. 27. Bruce faz uma classificação semelhante ao alistá-las sob os
títulos: 1) Parábolas Teóricas; 2) Parábolas da Graça; 3) Parábolas de Julgamento (BRUCE,
1908, p. vii-x). Ver mais informações sobre classificação das parábolas em: CAMARGO (p.
24-28), KISTEMAKER (p. 25-27) e ZUCK (p. 239-244).
[60] STADELMANN, 1991, p. 127-128.
[61] GILHUIS, 1980, p. 252.
[62] FEE; STUART, 1984, p. 127.
[63] ZUCK, 1994, p. 242-248.
[64] DUPONT, 1980, p. 8-9.
[65] DRANE, 1982, p. 125.
[66] ANTONIAZZI, 1989, p. 38. O mesmo autor ilustra o seu conceito na figura do cego de
Betsaida (Mc 8.22-26). No início, é o cego que suplica para obter o dom da vista (v.22). Após
o contato com Jesus, é como um discípulo que começa a enxergar confusamente [“olho os
homens e os vejo como árvores que andam” (v.24)]. Finalmente, ele é alguém que vê tudo
claramente (v. 25).
[67] Sobre o contexto das parábolas, pode-se consultar também o capítulo “The Backround of the
Parables”, de SMITH, B. T. D. The parables of the sinoptic Gospels: a critical study, p. 61-
73.
[68] STADELMANN, 1991, p. 127.
[69] Além das obras referenciadas acima, podem ser consultados os seguintes textos: PEREZ-
COTAPOS, 1992, p. 165-178; LEVORATTI, 1997, p. 45-61; ERLEMANN, 1999, p. 11ss.
[70] Apud DRANE, 1982, p. 116.
[71] ANGLADA, 2006, p. 31.
[72] KISTEMAKER, 1992, p. 22.
[73] Jülicher observou que, embora o termo parábola seja usado frequentemente pelos
evangelistas, a palavra alegoria jamais é encontrada nos relatos dos evangelhos
(KISTEMAKER, 1992, p. 22)
[74] ZABATIERO, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1571. Zabatiero faz uso do material de K.
E. Bailey.
[75] MARTÍNEZ, 1984, p. 456.
[76] ZABATIERO, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1571-1572.
[77] MARTÍNEZ, 1984, p. 456.
[78] ZABATIERO, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1572.
[79] KISTEMAKER, 1992, p. 23.
[80] Este livro está editado em português: BAILEY, Kenneth. As parábolas de Lucas. São
Paulo: Vida Nova, 1995.
[81] ZABATIERO, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1572-1573.
[82] ZABATIERO, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 1573.
[83] CAMARGO, 1970, p. 18.
[84] CAMARGO, 1970, p. 19.
[85] NEAL, 1972, p. 10.
[86] BAILEY, 1995, p. 16.
[87] KISTEMAKER, 1992, p. 24.
[88] MARTÍNEZ, 1984, p. 458.
[89] BAILEY, 1995, p. 17,19.
[90] BAILEY, 1995, p. 20.
[91] JEREMIAS, 1966, p. 17-18.
[92] KISTEMAKER, 1992, p. 25.
[93] BAILEY, 1995, p. 21.
[94] ZUCK, 1994, p. 248.
[95] GILHUIS, 1980, p. 254.
[96] ALMEIDA, 1979, p. 76.
[97] Cita então Lisco, que sugere a seguinte ilustração: “A parábola é comparada a um círculo,
do qual o centro é a verdade espiritual que se pretende ensinar e dele saem os raios que são as
várias circunstâncias da narrativa. Enquanto o intérprete não se coloca no verdadeiro lugar, no
centro, nem o círculo aparece na sua forma perfeita, nem a bela unidade e harmonia perfeita
com que os raios convergem para um só ponto serão percebidas”. (CAMARGO, 1970, p. 20)
[98] TRENCH, 1987, p. 17.
[99] KONINGS, 1977, p. 31.
[100] BAILEY, 1995, p. 25-26.
[101] ALMEIDA, 1979, p. 76.
[102] KONINGS, 1977, p. 30.
[103] BAILEY, 1995, p. 26.
[104] CAMARGO, 1970, p. 21.
[105] ALMEIDA, 1979, p. 76.
[106] MARTÍNEZ, 1984, p. 461.
[107] KISTEMAKER, 1992, p. 25.
[108] GUTBROD, 1967, p. 29.
[109] KISTEMAKER, 1992, p. 25.
[110] FEE; STUART, 1984, p. 133.
[111] ALMEIDA, 1979, p. 74.
[112] KONINGS, 1977, p. 30-31.
[113] WALLACE, In: TURNBULL, 1976, p. 22.
[114] Trench dá algumas ilustrações de como os detalhes são importantes para a interpretação
das parábolas: “A faca, que não é toda fio cortante, frisando, porém, que a parte que não
corta, como, por exemplo, o cabo é de primeira necessidade; ou com a harpa, que se não é
toda corda, entretanto, o que não é destinado a produzir som é parte imprescindível, nesse
instrumento musical; ou, ainda, muitas circunstâncias há na parábola, que são como as penas
que voam com as setas atiradas pelo arco, - embora elas não penetrem com a ponta da flecha
atirada, pois são leves, e de outro material, são necessárias, para a flecha penetrar e atingir o
alvo” (Apud CAMARGO, 1970, p. 18).
[115] GILHUIS, 1980, p. 250.
[116] ZUCK, 1994, p. 236.
[117] MARTÍNEZ, 1984, p. 453.
[118] STOLL Jr, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 2025.
[119] LADD, In: ELWELL, 1990, Vol. 3, p. 263.
[120] Javé é ao mesmo tempo Rei de Israel e o Rei das Nações. Assim, Ele é “o grande Rei
sobre a terra” (47.3), tornou-se “soberano sobre as nações” (47.9), e Ele é o “Senhor que
reina para sempre; o teu Deus, ó Sião, reina de geração em geração” (146.10). Ver ainda: Sl
95.3-7; 96.5; 98.1-3; 99; 103.19; 145.11-15; 147.
[121] Ver: Is 2.2-4; 11.1-2; 32.1-8; Mq 4.1-8; 5.2-5; Os 1.10-11; 14.4-7; Jr 23.5-8,31,33; Ez
34.11-31; 36.1-38; etc.
[122] STOLL Jr, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 2028-2029.
[123] KLAP.ERT, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 2029-2030.
[124] O termo é usado 52 vezes em Mateus, 16 em Marcos, 43 em Lucas, 5 em João (evangelho)
e 2 no Apocalipse. Ainda 19 vezes na literatura paulina e mais 7 vezes nos demais escritos.
Muitas vezes, o termo basileia aparece isolado e noutras com acréscimo de “tou theou” (de
Deus) ou “ton ouranon” (dos céus).
[125] ZABATIERO, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 2035. A erudição moderna revela quase
que uma unanimidade ao afirmar que o Reino de Deus constitui-se na mensagem central de
Jesus (Mc 1.14-15; Mt 4.23; Lc 4.21). As interpretações a respeito do reino de Deus têm
assumido uma variedade de formas distintas umas das outras, atingindo quase uma variedade
infinita em detalhes. Ladd sugere algumas destas interpretações: Perspectiva Liberal: o Reino
de Deus é apresentado como sendo pura religião profética ensinada por Jesus. J. Weiss: o
Reino será um ato totalmente sobrenatural de Deus, e quando ele acontecer, Jesus será o Filho
do Homem celestial. Albert Schweitzer: o Reino não chegou e Jesus morreu em desespero e
desilusão. Dodd: falou da escatologia realizada, no sentido de que o ensino de Jesus foi a
presença do Reino. Admite que o Reino ainda aguarda consumação “além da história”. J.
Jeremias: sugere uma “escatologia em processo de realização” (LADD, 1997, p. 55-57).
[126] ZABATIERO, In: BROWN; COENEN, 2000, p. 2045. Quanto à natureza do reino, o
mesmo autor afirma que o Reino de Deus é: Dinâmico/Teocêntrico: a ação real de Deus, Seu
exercício da soberania sobre os homens; Salvífico/Gracioso: a atividade real de Deus é uma
atividade de salvação e de graça (charis); e Discipulado/Sofrimento: a basileia exige
discipulado e esse discipulado implica em sofrimento (p. 2049-2053).
[127] LADD, 1997, p. 66.
[128] Em Jesus, Deus tomou a iniciativa de procurar o pecador, a fim de trazê-lo para a bênção
de seu reino.
[129] Jesus conclamou os homens ao arrependimento, mas a intimação foi também um convite.
[130] Deus busca pecadores, convidando-os a que se submetam ao seu domínio para que possa
ser seu Pai.
[131] Enquanto Deus busca o pecador e oferece-lhe a dádiva do Reino, permanece um Deus de
justiça retributiva àqueles que rejeitam sua oferta graciosa. Quando confrontado pela pessoa
de Jesus, o indivíduo confronta-se com o juízo de Deus e precisa tomar uma decisão. O
resultado será ou a salvação do Reino ou o julgamento (Mt 3.12).
[132] O autor desenvolve um estudo mais extenso sobre o conceito de Reino, sob a perspectiva
da “escatologia em processo de realização”, no artigo: KUNZ, Claiton André. Uma
introdução ao conceito de Reino no Evangelho de Mateus. In: Via Teológica, n° 7, jun/2003,
p. 99-129. Neste artigo, o autor desenvolve a mesma estrutura apresentada nesta proposta de
uma teologia das parábolas, verificando sua sustentabilidade em todo um evangelho. Neste
caso, foi escolhido o Evangelho de Mateus, por ser considerado o Evangelho do Rei e do Seu
Reino. No estudo, demonstra-se que tanto através de parábolas, como de pregações e
milagres, Jesus proclama o Seu Reino em termos de uma Inauguração, Dimensão e
Consumação.
[133] O primeiro grupo a ser estudado compreende 14 parábolas. Estas tratam especialmente da
Inauguração do Reino de Deus neste mundo. Este grupo se encontra no início do ministério de
Jesus, após o chamado dos primeiros discípulos.
[134] WATSON; ALLEN, 1953, p. 36-37. Concordam também: HEIM, p. 36; BURTON &
GOODSPEEDS, p. 35; SAVAGE, p. 39-45; BROADUS, p. 41; STEVENS & BURTON, §
43; TISCHENDORF, p. 37; ROBERTSON, p. 35; ALAND, p. 64; THOMAS, p. 23; entre
outros. Discordam apenas KAISER (p. 35) e PEISKER (p. 41), que colocam todo o Sermão
do Monte anterior a esta passagem.
[135] Pohl afirma que por trás do costume do jejum há o sentido de estar de luto. O jejum é
originalmente o jejum de luto, como em casos de falecimento e outras perdas. Em seguida, os
gestos de luto trazem traços de auto humilhação e diminuição. Torna-se, então, um lamento
diante de Deus pela condição de perdição pessoal, e um ritual proeminente de conversão
(POHL, 1998, p. 115-116).
[136] A lei prescrevia jejuar uma vez por ano, o dia das Expiações (yôm kip.ur, Lv 16.29-31). O
jejum começava à tarde, ao pôr-do-sol, e durava 24 horas. A razão primitiva era de humilhar-
se diante de Deus, reduzindo-se a um miserável, para que Deus tivesse piedade deles
(PLOEG, 1999, p. 43-44).
[137] BROWN, 1978, p. 35. Isto estava de acordo com a tradição de que Moisés foi ao monte
Sinai numa segunda e regressou numa quinta (STAGG, 1970, p. 53). Os fariseus criticavam a
qualquer judeu que não observasse estes dias de jejum. Robertson sugere que é provável que
esta ocasião se tenha dado num destes dias semanais de jejum, o que reforça o choque entre os
pontos de vista (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 282).
[138] STAGG, 1970, p. 53.
[139] Lucas representa os fariseus, aos quais Jesus tinha estado falando antes, como fazendo a
pergunta; Mateus dá os discípulos de João; e Marcos (2.18) diz que uns e outros, vieram e
perguntaram.
[140] BROADUS, 1966, p. 279. Robertson indica que os três evangelistas utilizam a partícula
μή, que tem a expectativa de uma resposta negativa (ROBERTSON, 1988, vol. II, p. 95).
Rienecker concorda com esta construção (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 20).
[141] BROADUS, 1966, p. 279.
[142] Ploeg afirma que, aqui, Jesus se denomina de noivo, como faz em outras parábolas.
Declara também que achar-se na presença de Jesus é uma festa, que não se deve estragar com
sinais de penitência e de luto (PLOEG, 1999, p. 45). Rienecker afirma que ao identificar-se
com o noivo, Jesus se coloca acima dos demais enviados e profetas de Deus, pois, como
noivo, não pode haver outros ao seu lado – ele é o único (RIENECKER, 1998, p. 156).
[143] TRENCHARD, 1971, p. 39.
[144] TASKER, 1991, p. 78.
[145] SCHNIEWIND, 1989, p. 51.
[146] Rienecker afirma que as festas de casamento chegavam a durar sete dias. Cada dia
apareciam novos convidados para a festa. Somente os “filhos da câmara nupcial”, os amigos
do noivo, é que precisavam permanecer a semana toda junto do noivo (RIENECKER, 1998,
p. 155).
[147] RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 113.
[148] Todos os autores são unânimes em colocá-la imediatamente após a parábola do noivo e do
jejum (ROBERTSON, 1995, p. 35). Lockyer lembra que as parábolas do remendo novo em
vestes velhas e do vinho novo em odres velhos estão intimamente relacionadas com a
parábola anterior, pois ambas aludem a elementos da festa nupcial – as vestes nupciais e o
vinho da festa (LOCKYER, 2001, p. 181).
[149] ERDMAN, 1974, p. 82.
[150] PETERSON, 1962, p. 53.
[151] TASKER, 1991, p. 78
[152] RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 20.
[153] BROADUS, 1966, p. 280. Deve-se lembrar de que os vestuários dos judeus daquele tempo
eram geralmente todos de lã, e, se não preparados, encolheriam quase tanto como a flanela.
Pohl recorda que as roupas eram usadas por muito tempo, às vezes por gerações, e
remendadas sempre de novo. Entretanto, o pano do remendo não deve ser tirado direto do
tear, para não encolher desproporcionalmente ao se molhar e aumentar o rasgo. Ele precisa ser
de pano forte já usado, que combina com o material em volta (POHL, 1998, p. 118).
[154] BROWN, 1978, p. 36.
[155] GIOIA, 1969, p. 101.
[156] RIENECKER, 1998, p. 157.
[157] A parábola do vinho novo em odres velhos vem logo após a parábola do remendo novo em
vestes velhas. Concordam com isto todos os autores de Harmonia dos Evangelhos (ALAND,
1988, p. 64).
[158] BROADUS, 1966, p. 280.
[159] ERDMAN, 1974, p. 82. Aproveitando o contexto, poder-se-ia dizer que o seu símbolo não
é um jejum, mas um banquete, dado o seu caráter de alegria.
[160] BROWN, 1978, p. 36.
[161] STAGG, 1970, p. 54.
[162] TRENCHARD, 1971, p. 40.
[163] BROADUS, 1966, p. 281. Ryle faz uma aplicação prática desta verdade: “Que aconteceu à
Igreja da Galácia? Essa igreja contava com membros que queriam conciliar o judaísmo com o
cristianismo e entendiam que se devia circuncidar e batizar ao mesmo tempo. Procuravam
manter em vigor a lei das cerimônias e ordenações, e fazê-la funcionar conjuntamente com o
evangelho de Cristo. De fato queriam deitar «vinho novo em odres velhos». Procedendo desta
maneira, porém, erravam gravemente” (RYLE, 1958, p. 22)
[164] DODD, 1974, p. 115. “As figuras da roupa nova e do vinho novo ilustram o efeito
‘revolucionário’ da nova ação de Deus em Jesus. O que os líderes judeus temiam se
concretizava: Jesus estava rompendo com as antigas categorias do judaísmo” (DOCKERY,
2001, p. 610).
[165] POHL, 1998, p. 118.
[166] GIOIA, 1969, p. 101.
[167] RIENECKER, 1998, p. 157-158.
[168] ERDMAN, 1974, p. 82-83.
[169] Bausch lembra que quem contou as parábolas e que operou o milagre em Caná da Galileia,
é o mesmo que pode fazer novas todas as coisas (BAUSCH, In: KUHN, 1973, p 141).
[170] “É a ação e não a retórica que provê a entrada no reino dos céus” (MOUNCE, 1996, p. 78).
[171] PLOEG, 1999, p. 41.
[172] Entre as três primeiras parábolas e a parábola dos dois fundamentos acontecem alguns
milagres e algumas controvérsias a respeito do sábado. Neste ponto, Jesus dá um novo passo:
funda uma nova organização, fazendo a escolha definitiva dos doze discípulos, e proclama um
código de ética. Na conclusão deste código de ética é que Jesus proclama esta parábola
(THOMAS, 2003, p. 24. Concordam com esta posição: WATSON & ALLEN, p. 49;
TISCHENDORF, p. 41ss; HEIM, p. 49; ROBERTSON, p. 48; BURTON & GOODSPEEDS,
p. 58; SAVAGE, p. 52; BROADUS, p. 60; STEVENS & BURTON, § 49; ALAND, p. 99;
entre outros).
[173] Ploeg afirma que, exceto o rio Jordão e alguns córregos afluentes, existem poucas
correntes de água na Palestina. O próprio Cedron, denominado de torrente (Jo 18.1), está
quase sempre seco. Não obstante, pode acontecer que trombas d’água formidáveis caiam e
abram caminho, não somente pelos wadis (vales, cursos de água secos), mas por todo lugar
onde não encontrem resistência. No deserto, após uma chuva repentina e muito forte, pode-se
ouvir um barulho que se aproxima. É o seil (torrente), que os contemporâneos de Jesus
conheciam muito bem (PLOEG, 1999, p. 46).
[174] BROADUS, 1966, p. 244-245.
[175] RIENECKER, 1998, p. 123.
[176] NIXON, In: NUEVO Comentario Bíblico, p. 620. Stott concorda: “Enquanto, no
parágrafo anterior, o contraste era entre o ‘dizer’ e o ‘fazer’, o contraste agora é entre o
‘ouvir’ e o ‘fazer’” (STOTT, 2001, p. 220). Robertson arremata: “ouvir sermões é uma prática
perigosa se não se os põe em prática” (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 76).
[177] DOCKERY, 2001, p.585.
[178] KISTEMAKER, 1992, p. 33.
[179] Comparar com as duas casas, da sabedoria e da tolice, de Provérbios 9.
[180] BROADUS, 1966, p. 243.
[181] DODD, 1974, p. 115.
[182] Entre o Sermão da Ética do Reino (Mt 5-7; Lc 6), no qual é relatada a parábola dos dois
fundamentos e esta parábola acontecem a cura do criado do centurião (Mt 8.5-13; Lc 7.1-11),
a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17), a pergunta de João Batista e
consequente resposta de Jesus (Mt 11.2-19; Lc 7.18-35) e as admoestações de Jesus em
relação às cidades impenitentes (Mt 11.20-30). (ROBERTSON, 1995, p. 52).
[183] JEREMIAS, 1970, p. 127.
[184] ROBERTSON, 1988, vol. II, p. 126.
[185] Lockyer afirma que o fariseu tinha convidado Jesus para comer em sua casa, porém, não
com qualquer desejo de ouvi-lo ensinar, pois já estava satisfeito com o seu conhecimento
sobre a lei. Também não tinha qualquer desejo em particular de honrá-lo, como se o estimasse
profundamente (LOCKYER, 2001, p. 293).
[186] BAILEY, 1995, p. 39-40. Robertson afirma que Lucas é o Evangelho da Hospitalidade, no
qual é retratado um Jesus que estava disposto a comer com fariseus e publicanos
(ROBERTSON, 1988, vol. II, p. 125).
[187] KISTEMAKER, 1992, p. 183.
[188] CAMARGO, 1970, p. 100 (Grifo próprio).
[189] KISTEMAKER, 1992, p. 183.
[190] Os sentimentos do fariseu em relação a Jesus, de que este poderia ser um profeta -
possivelmente, o profeta - estavam sendo contraditos pela aparente ignorância de Jesus do
verdadeiro caráter da mulher (MARSHALL, In: NUEVO Comentario Bíblico, 1985, p. 674).
[191] MORRIS, 1996, p. 140. A resposta do fariseu: “Dize-a, Mestre”, é cortês mas não
encorajadora.
[192] LOCKYER, 2001, p. 295.
[193] “Ninguém é capaz de perceber em profundidade o quão verdadeiramente precioso é Cristo
e a glória do Evangelho, salvo aqueles que são quebrantados de coração. Ainda que o sintam,
estes não podem expressar de modo suficiente o aborrecimento que sentem pelo pecado, nem
a admiração por sua misericórdia, mas o auto suficiente se desgostará porque o Evangelho dá
ânimo aos pecadores arrependidos” (HENRY, 2002, p. 825).
[194] KISTEMAKER, 1992, p. 184-185. Jesus, no entanto, não o repreendeu, nem o censurou,
mas, de maneira magistral, ofereceu-lhe uma perspectiva espiritual do acontecido.
[195] MORRIS, 1996, p. 140.
[196] Apud BAILEY, 1995, p. 57. Schottroff afirma que a parábola interpreta especialmente o
contraste do fariseu com a situação da mulher. Paradoxalmente, ele é mais pobre do que ela:
ele deve menos, Deus precisará perdoá-lo menos, ele ama menos (v. 47.b). Portanto, apesar de
ser menos pecador, ele é mais pobre – tanto em perdão quanto em amor recebidos
(SCHOTTROFF, 1995, p. 116).
[197] Nesta parábola, há dois tipos de pecado e dois tipos de pecadores, a saber: Simão e a
mulher. Simão peca dentro da lei, e a mulher fora da lei. Os pecadores, como a mulher, muitas
vezes sabem que são pecadores; os pecadores, como Simão, muitas vezes não o sabem. Desta
forma, o arrependimento é mais difícil para o “justo” (BAILEY, 1995, p. 60).
[198] Apud, CAMARGO, 1970, p. 101.
[199] Alguns comentaristas equivocadamente afirmam que o amor da mulher foi a causa do seu
perdão. Pelo contexto, deve assumir-se que a mulher havia ouvido e recebido o evangelho de
Jesus e que o amor demonstrado foi resultado do perdão que estava sentindo (MARSHALL,
In: NUEVO Comentario Bíblico, 1985, p. 674). Assim, o amor é a prova do seu perdão e não
a razão dele.
[200] Esta parábola (e também o grupo como um todo) é separada da anterior apenas pelo relato
da jornada de Jesus pela Galileia (Lc 8.1-3), pela discussão sobre a blasfêmia contra o
Espírito Santo (Mc 3.20-30; Mt 12.22-37), pela exigência de um sinal por parte de fariseus e
escribas (Mt 12.38-45) e pela apresentação da família espiritual de Jesus (Mt 12.46-50; Mc
3.31-35; Lc 8.19-21). Com isto concordam todos os autores da Harmonia (HUCK, 1906, p.
67. Ver também: KAYSER, p. 52; ROBERTSON, p. 56; BRUCE, p. 11; LIETZMANN, p.
71; TISCHENDORF, p. 49; STEVENS & BURTON, § 57; BROADUS, p. 71; SAVAGE, p.
69; HEIM, p. 58; THROCKMORTON, p. 65; SWANSON, p. 71; PEISKER, p. 62; ALAND,
p.174; THOMAS, p. 25; WATSON & ALLEN, p. 56-57).
[201] CAMARGO, 1970, p. 29. Norbert Lieth faz uma conjectura profética a respeito do
contexto desta parábola, quando, no versículo 1 do capítulo 13 de Mateus, lê-se o seguinte:
“Naquele dia, saindo Jesus de casa, assentou-se à beira-mar”. Para este autor, a casa em solo
firme é uma representação de Israel e seu tempo, enquanto o mar representa as nações. A
partir deste ponto, Jesus deixa a casa de Israel e vai até o mar das nações, porque os judeus
não o aceitaram e porque isso era necessário do ponto de vista do plano da salvação. (LIETH,
199-, p. 15) Não se observou em nenhum outro autor essa ideia; porém, também nada há de
contrário a esta posição.
[202] KISTEMAKER, 1992, p. 41.
[203] KISTEMAKER, 1992, p. 41.
[204] TRENCHARD, 1971, p. 52-53. Hunter afirma que nesta parábola pode-se ouvir a Jesus
como se pensasse em voz alta sobre o resultado de sua obra na Galileia, como uma mistura de
êxito e fracasso (HUNTER, 1960a, p. 63).
[205] Sobre a viração, Coleman esclarece que, depois de espalhar as sementes pelo campo, o
agricultor voltava a passar o arado no campo ou então passava um galho de árvore por todo
ele. Isso era necessário para que as sementes fossem recobertas com a terra e para protegê-las
de pássaros ou de ventos fortes (COLEMAN, 1991, p. 182).
[206] POHL, 1998, p. 152.
[207] POHL, 1998, p. 152.
[208] POHL, 1998, p. 152.
[209] POHL, 1998, p. 152.
[210] KISTEMAKER, 1992, p. 41.
[211] Alguns intérpretes supõem que esta interpretação não seja originalmente de Jesus, mas que
tenha sido acrescida posteriormente. [Ver observações sobre a interpretação de parábolas
(“1.7”), especialmente sobre a interpretação que Jesus fez de suas parábolas (“1.7.3”)].
[212] Satanás não quer que o reinado de Deus lhe roube seus cativos (Mc 3.22-27). Por isso é
preciso tirar a palavra, que significa libertação. É importante notar que Jesus não menciona
obstáculos humanos, apesar de saber recriminar a dureza dos corações em outras
oportunidades (Mc 10.5; 16.14), mas a luta de Satanás contra o semeador e sua obra (POHL,
1998, p. 161).
[213] Alegria aqui não deve ser depreciada como entusiasmo barato de conversão, que acaba em
si mesmo. No NT, o termo nenhuma vez denota um entusiasmo puramente humano, mas a
atuação do Espírito (Mt 28.8; Lc 10.17; 24.52; At 8.8; 16.34; 1 Ts 1.6). (POHL, 1998, p. 161).
[214] No grego, há aqui o vocábulo “skandalon” e isso significa algo que “leva à queda”
(SCHNIEWIND, 1989, p. 72). “Caem imediatamente na armadilha porque sua fé é tão fraca
(Taylor)” (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 72)
[215] Mackay afirma que esta é uma admirável descrição do verdadeiro discípulo de Cristo, pois
este dá atenção à palavra, recebe-a (meditando na sua importância) e a retém no coração
honrado e bom (MACKAY, 1962, p. 270).
[216] Assim em Marcos; ou cem, sessenta e trinta por um, em Mateus.
[217] ERDMAN, 1974, p. 108-109. Schniewind argumenta que “todos os traços individuais da
parábola podem ser comprovados também a partir da experiência dos primeiros cristãos:
Satanás impede o curso da palavra (1 Ts 2.18; 3.5; 2 Co 11.3); a palavra é «recebida», isto é,
recebida no coração (1 Ts 1.6; 2.13; 2 Co 11.4); isso significa alegria (1 Ts 1.6; Fp 1.7; Fm
13; 2 Tm 1.8; 2.9-11); perseguição surge justamente por causa da palavra (1 Ts 1.6; Fp 1.7; 2
Tm 1.8; 2.9). A perseguição pode levar «à queda»...” (SCHNIEWIND, 1989, p. 72).
[218] MARTÍNEZ, 1984, p. 457.
[219] TASKER, 1991, p. 110.
[220] LADD, 1997, p. 90.
[221] LADD, 1997, p. 90-91. Leon-Dufour afirma que Jesus ensina com a parábola que os
tempos escatológicos já estão aí. Deus tem espalhado a sua semente, e cabe agora ao povo ser
uma boa terra e abrir-se para a semente, para que dê bom fruto (LEON-DUFOUR, 1982, p.
272).
[222] A parábola da candeia é relatada por Marcos e Lucas, e vem, em ordem cronológica,
imediatamente posterior a parábola do semeador (ALAND, 1988, p. 179. Concordam os
demais autores de harmonias). De acordo com Mateus, as explicações das parábolas parecem
ser dadas no mesmo momento (Mt 13.10), mas, de acordo com Marcos, as explicações se dão
no momento em que Jesus se encontra com um grupo menor de pessoas (Mc 4.10), o que
parece ser mais óbvio. O que acontece aqui é uma inserção literária. Na verdade, Jesus deixa
as multidões somente após relatar a parábola da candeia, da semente, do joio, da semente de
mostarda e do fermento (Mt 13.36).
[223] POHL, 1998, p. 163.
[224] PETERSON, 1962, p. 58.
[225] BROWN, 1978, p. 57.
[226] POHL, 1998, p. 164-165.
[227] SCHNIEWIND, 1989, p. 73.
[228] POHL, 1998, p. 165.
[229] POHL, 1998, p. 165.
[230] LADD, 1997, p. 96.
[231] Com exceção de Heim (1947, p. 60), que a coloca após a parábola do joio, todos os demais
autores a inserem imediatamente após a parábola da candeia (ROBERTSON, 1995, p. 58. Ver
também: HUCK, p. 70; LIETZMANN, p. 74; THROCKMORTON, p. 68; TISCHENDORF,
p. 50; STEVENS & BURTON, § 57; BROADUS, p. 73; SAVAGE, p. 72; KAYSER, p. 53;
PEISKER, p. 65; ALAND, p.180; THOMAS, p. 25; WATSON & ALLEN, p. 60-61).
[232] LADD, 1997, p. 96.
[233] POHL, 1998, p. 167.
[234] Pohl lembra que a noite é mencionada primeiro, não porque, para o agricultor, dormir
fosse prioridade, mas porque, para os judeus da época de Jesus, o dia começava com o
anoitecer (POHL, 1998, p. 166).
[235] LADD, 1997, p. 96.
[236] ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 297.
[237] POHL, 1998, p. 167.
[238] LADD, 1997, p. 98. Ladd acrescenta ainda: “O caráter sobrenatural do Reino presente é
confirmado pelas palavras encontradas em associação com o mesmo. Um número de verbos é
usado, tendo o próprio Reino como seu sujeito. O Reino pode aproximar-se dos homens (Mt
3:2; 4.17; Mc 1.15; etc); pode vir (Mt 6.10; Lc 17.20; etc), chegar (Mt 12.28), aparecer (Lc
19.11), ser ativo (Mt 11.12)”. (p. 98)
[239] POHL, 1998, p. 167. O segredo do crescimento está na semente, não na terra, nem no
clima e nem no cultivo. Todas estas coisas servem de ajuda, mas a semente funciona
espontaneamente, conforme a sua natureza. A palavra automatê provém de autos (si próprio)
e memaa, desejar ansiosamente. (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 298).
[240] CAMARGO, 1970, p. 32. Esta parábola é relatada imediatamente após a parábola da
semente (HUCK, 1906, p. 71. Os demais autores concordam, com exceção de Heim (p. 60),
que a coloca antes da parábola da semente).
[241] Quanto ao joio, Jeremias informa que “ζιζάνιον” (zizanion) é uma espécie de “erva
venenosa parecida com o trigo e que, nas primeiras etapas de crescimento, é difícil de
distinguir deste” (RIENEKER; ROGERS, 1988, p. 29).
[242] RIENECKER, 1998, p. 226.
[243] Apud RIENECKER, 1998, p. 226-227.
[244] KISTEMAKER, 1992, p. 58-59.
[245] Ladd afirma que existem detalhes na parábola que não são portadores de qualquer
significado em sua interpretação. A identificação dos servos é totalmente irrelevante. O fato
de que o inimigo vai embora depois da semeadura não é importante. Os feixes nos quais os
ramos são ajuntados constituem-se em colorido meramente local. Semelhantemente, o sono
dos servos não sugere negligência. Significa apenas o tipo de coisa que um trabalhador faz
após um duro dia de trabalho. Da mesma maneira, nada se deve deduzir do fato de que as
ervas daninhas sejam ajuntadas antes da colheita do trigo (LADD, 1997, p. 91).
[246] Interessante é a impaciência natural do ser humano. Tiago e João queriam que descesse
fogo do céu para consumir os que rejeitaram a Cristo. Jesus porém os repreendeu, dizendo
que “o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (Lc
9.51-56). A lição de Jesus na oração sacerdotal também é oportuna: “não peço que os tires do
mundo; e, sim, que os guardes do mal” (Jo 17.15). A colheita antecipada seria um perigo para
o trigo (CAMARGO, 1970, p. 35).
[247] FUENTE, 1978, p. 13.
[248] LADD, 1997, p. 91.
[249] LADD, 1997, p. 92.
[250] KISTEMAKER, 1992, p. 62.
[251] POHL, 1998, p. 170.
[252] A parábola da semente de mostarda aparece imediatamente após a parábola do joio, e
também é relatada para a grande multidão de pessoas que seguiam a Jesus (WATSON;
ALLEN, 1953, p. 62. E demais autores. Discorda apenas Heim (p. 62), para o qual esta
parábola virá após a parábola da semente).
[253] PETERSON, 1962, p. 59.
[254] KISTEMAKER, 1992, p. 66.
[255] NEAL, 1972, p. 36.
[256] MORRIS, 1996, p. 211.
[257] STAGG, 1970, p. 97.
[258] LADD, 1997, p. 99-112.
[259] CAMARGO, 1970, p. 39.
[260] CAMARGO, 1970, p. 43.
[261] BROWN, 1978, p. 59.
[262] TASKER, 1991, p. 111.
[263] GIOIA, 1969, p. 153.
[264] RIENECKER, 1998, p. 228-229.
[265] ALAND, 1988, p. 182. Concordam todos os demais autores de harmonia dos evangelhos.
[266] Mounce esclarece que o fermento (do grego zyme, levedura, fermento) era um pedacinho
da massa fermentada de uma fornada anterior, que era juntada à nova massa e muito bem
sovada, fazendo-a crescer (MOUNCE, 1996, p. 148).
[267] EDERSHEIM, 1988, p. 650. Camargo também afirma que todas as conjeturas são
interessantes, mas que parece mais razoável aceitar a explicação mais natural que as três
medidas de farinha referem-se à quantidade comum para uma fornada completa, significando
a massa toda da humanidade e, em certo sentido, o indivíduo todo (CAMARGO, 1970, p. 44).
[268] Assim, Jerônimo identificou a mulher com a igreja. Outros têm identificado as três
medidas de farinha como sendo os três ramos da raça humana (descendentes de Cão, Sem e
Jafé); os gregos, judeus e samaritanos; ou, ainda, o coração, a alma e a mente (Apud,
KISTEMAKER, 1992, p. 70).
[269] LIETH, 199-, p. 73,77,83-85.
[270] NEAL, 1972, p. 52-53.
[271] ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 121.
[272] RIENECKER, 1998, p. 229. Lurker concorda, afirmando que a ação do fermento, que
consiste em penetrar e amaciar a massa da farinha fresca, veio a se tornar figura para
expressar influência penetrante. Afirma também que esta ação penetrante e irreprimível
recebe conotação positiva nas parábolas de Jesus (LURKER, 1993, p. 99-100).
[273] LADD, 1997, p. 94.
[274] CAMARGO, 1970, p. 43.
[275] KISTEMAKER, 1992, p. 71.
[276] STAGG, 1970, p. 97-98.
[277] LADD, 1997, p. 94.
[278] Ambas as parábolas “salientam o mesmo ponto básico, de que o reino dos céus tem tão
grande importância e valor, que tudo mais deve ser sacrificado a fim de podermos entrar nele”
(MOUNCE, 1996, p. 144).
[279] WATSON; ALLEN, 1953, p. 63. Nenhum autor discorda desta sequência.
[280] CAMARGO, 1970, p. 45. Lockyer declara que “Jesus, após falar aos ‘homens de visão’,
agora se dirige aos ‘homens de fé’. Aos homens de visão dentre a multidão, ele fala de
aspectos diferentes, patentes e evidentes no curso dos tempos. Agora ele se volta aos homens
de fé, aos seus discípulos que O receberam como Cristo, e os instrui nas verdades divinas”
(LOCKYER, 2001, p. 220).
[281] EDERSHEIM, 1988, p. 652.
[282] CAMARGO, 1970, p. 45.
[283] CAMARGO, 1970, p. 46.
[284] JEREMIAS, 1970, p. 198.
[285] KISTEMAKER, 1992, p. 75.
[286] JEREMIAS, 1970, p. 199.
[287] CAMARGO, 1970, p. 45-46.
[288] LADD, 1997, p. 95.
[289] TASKER, 1991, p. 110. Robertson afirma que, se a prática foi astuta, não é esta a essência
da parábola. A essência é que a enorme riqueza do Reino é tal que vale qualquer sacrifício,
tudo o que alguém tem, para consegui-la (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 123).
[290] RIENECKER, 1998, p. 236. Este tesouro de grande valor pode estar bem perto de cada
pessoa sem que ela perceba. Neal cita alguns personagens bíblicos que ilustram a verdade
contida nesta parábola: a mulher samaritana, Saulo a caminho de Damasco e o carcereiro de
Filipos (NEAL, 1972, p. 52-53). Rienecker lembra, aqui, o texto de Romanos 10.20, no qual o
Senhor afirma: “Eu fui achado por aqueles que não me procuravam, e me revelei aos que não
me pediam nada” (RIENECKER, 1998, p. 236).
[291] A parábola vem imediatamente após a do tesouro escondido (HUCK, 1906, p. 72. Os
demais autores concordam com o mesmo contexto).
[292] JEREMIAS, 1970, p.199.
[293] KISTEMAKER, 1992, p. 75.
[294] CAMARGO, 1970, p. 49.
[295] FUENTE, 1978, p. 23-25.
[296] Os tempos verbais no grego descrevem de forma dramática e com grande vivacidade os
atos do mercador (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 123).
[297] RIENECKER, 1998, p. 236.
[298] NEAL, 1972, p. 31.
[299] KISTEMAKER, 1992, p. 77.
[300] GIOIA, 1969, p. 155. Este mesmo autor ilustra a verdade destas parábolas com a atitude de
Paulo, quando diz: “O que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.
Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de
Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo,
para ganhar a Cristo...” (Fp 3.7-8).
[301] LADD, 1997, p. 95.
[302] “Tudo expressa bem a forma neutra do grego, que deixa claro que o homem vendeu todos
os seus bens, e não apenas ‘todas’ as suas outras pérolas, pois a palavra grega para pérolas é
masculina” (TASKER, 1991, p. 111).
[303] EDERSHEIM, 1988, p. 652-653.
[304] RIENECKER, 1998, p. 237-238.
[305] A última parábola deste primeiro grupo é a parábola da rede lançada ao mar. Mateus a
relata após a parábola da pérola de grande preço e nenhum autor a desloca deste contexto
literário ou histórico (ROBERTSON, 1995, p. 60).
[306] Neal esclarece algo sobre o instrumento de trabalho de um pescador: “A rede é uma malha
um tanto aberta, feita de cordões fortes. Geralmente estas são compridas e na parte de baixo
têm pedaços de metal, postos para que a rede se afunde e fique junto a terra e cortiças
flutuantes na parte de cima. Quando a rede está estendida na água é levada até a margem,
gradualmente os extremos se fecham e assim se apanham os peixes” (NEAL, 1972, p. 31)
[307] Rienecker afirma de que se trata de uma rede de lançar, de arrastão. Mantêm-se abertas
para incluir uma extensão grande do mar, e depois puxadas até se fecharem, prendendo tudo
quanto está dentro delas (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 30-31).
[308] KISTEMAKER, 1992, p. 81.
[309] Apud LADD, 1997, p. 95-96.
[310] NEAL, 1972, p. 32.
[311] NEAL, 1972, p. 32.
[312] Ploeg afirma que a expressão “chorar e ranger os dentes” se repete várias vezes no
primeiro Evangelho (8.12; 13.42,50; 22.13; 24.51; 25.30). Esta ação é representada em toda
parte como uma reação dos pecadores contra sua condenação eterna (PLOEG, 1999, p. 69).
[313] KISTEMAKER, 1992, p. 81.
[314] RIENECKER, 1998, p. 239.
[315] RIENECKER, 1998, p. 239.
[316] Os autores são unânimes em colocar esta parábola depois da última parábola do primeiro
grupo mencionado, com um longo período de pregações e milagres intercalados (HUCK,
1906, p. 107. Ver também: KAYSER, p. 71; ROBERTSON, p. 92; LIETZMANN, p. 111;
TISCHENDORF, p. 76; STEVENS & BURTON, § 81; BROADUS, p. 115; SAVAGE, p.
118; HEIM, p. 98; THROCKMORTON, p. 100; SWANSON, p. 112; PEISKER, p. 89;
BURTON & GOODSPEED, p. 133; ALAND, p. 254; THOMAS, p. 27; WATSON &
ALLEN, p. 104-105).
[317] WEINGÄRTNER, 1990, p. 79.
[318] Como, por exemplo, nesta citação: “Se um homem pecar, a primeira vez eles o perdoam; a
segunda vez eles o perdoam; a terceira vez eles o perdoam; mas a quarta vez não o perdoam
de acordo com Amós 2.6 e Jó 33.29” (T. Bab. Yoma, fol. 86:2. Mainon. Hilch. Teshuba, c. 3.
Sect. 5. In: CHAMPLIN, 1992, vol. 1, p. 472).
[319] MORGAN, 1953, p. 92.
[320] RIENECKER, 1998, p. 320.
[321] WEINGÄRTNER, 1990, p. 79-80.
[322] Rienecker informa que dez mil talentos são aproximadamente 174 toneladas de ouro. Uma
dívida de fato impagável. Para ilustrar a magnitude da dívida, pode-se compará-la com a
informação de que o salário anual de Herodes Antipas perfazia cerca de 200 talentos
(RIENECKER, 1998, p. 320).
[323] A sua dívida era imensa e não poderia ser resgatada. De acordo com as leis vigentes no
tempo, romana e mosaica, era autorizada a venda da própria família, mulher e filhos, que não
passavam de simples objetos, dos quais se podia dispor livremente (Ex 22.3; Lv 25.39; 2 Rs
4.1). (CAMARGO, 1970, p.56). Jeremias afirma que, mesmo assim, o produto da venda da
família está longe de contribuir para a soma gigantesca da dívida. (JEREMIAS, 1970, p. 209).
[324] WEINGÄRTNER, 1990, p. 81. “A bondade do senhor supera de longe o pedido do servo –
que pedira adiar o pagamento da dívida” (M. Doerne). (Apud, JEREMIAS, 1970, p. 209).
[325] KISTEMAKER, 1992, p. 88.
[326] TASKER, 1991, p. 142.
[327] WEINGÄRTNER, 1990, p. 82.
[328] KISTEMAKER, 1992, p. 89. O mesmo autor afirma que, muitas vezes, tem-se enfatizado
a misericórdia, em detrimento da justiça. A preocupação exageradamente escrupulosa para
com os “direitos” do criminoso tem alcançado extensão tal que os direitos do ofendido
acabam por ser completamente ignorados. As Escrituras não ensinam que a misericórdia
anula a justiça; nem ensinam que a justiça elimina a misericórdia. As duas normas são
igualmente válidas (p. 90).
[329] Tiago parece reafirmar esta verdade, quando diz: “Porque o juízo é sem misericórdia para
com aquele que não usou de misericórdia” (Tg 2.13).
[330] JEREMIAS, 1970, p. 211.
[331] TASKER, 1991, p. 138.
[332] RIENECKER, 1998, p. 321. É a inversão da oração do Pai Nosso: “Perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Agora, a formulação é:
“Tu nos perdoaste a nossa culpa, por isso também queremos perdoar àqueles que se tornaram
culpados em relação a nós”.
[333] Entre esta parábola e a parábola do credor incompassivo, acontece a Festa dos
Tabernáculos em Jerusalém, na qual Jesus profere vários ensinamentos, relatados basicamente
por João (Jo 7.11 – 8.59), e também o envio e retorno dos setenta, relatado por Lucas (Lc
10.1-24). (ALAND, 1988, p. 266. Ver também: HUCK, p. 112; ROBERTSON, p. 102;
LIETZMANN, p. 116; WATSON & ALLEN, p. 114; TISCHENDORF, p. 87; STEVENS &
BURTON, § 88; BROADUS, p. 129; SAVAGE, p. 121; HEIM, p. 108; THROCKMORTON,
p. 105; KAYSER, p. 75; PEISKER, p. 93; BURTON & GOODSPEED, p. 142; THOMAS, p.
28).
[334] As quatro faculdades com as quais o homem deve amar a Deus, podem ser entendidas em
termos de vontade (coração), sentimentos (alma), corpo (forças) e intelecto (entendimento).
Morris argumenta no sentido de que estes aspectos mostram a totalidade da natureza do ser
humano, que deve ser incluída neste amor a Deus (MORRIS, 1996, p. 177).
[335] ERDMAN, 1974, p. 142-143.
[336] BAILEY, 1995, p. 80-81.
[337] MORRIS, 1996, p. 177-178.
[338] JEREMIAS, 1970, p. 202.
[339] KISTEMAKER, 1992, p. 189.
[340] JEREMIAS, 1970, p. 202.
[341] Apud BAILEY, 1995, p. 84.
[342] A estrada de Jerusalém para Jericó passa por um declive íngreme através de terras desertas.
A distância é de cerca de 28 Km, e a estrada desce cerca de 1000 metros em termos de
altitude. É o tipo de paisagem selvagem, em que os salteadores habitualmente agem
(MORRIS, 1996, p. 178). Veja-se diagrama da geografia da palestina em: DOWLEY, T.
Atlas Vida Nova, p. 8.
[343] MORRIS, 1996, p. 178-179.
[344] BAILEY, 1995, p. 89.
[345] CAMARGO, 1970, p. 105.
[346] Os levitas são os descendentes de Levi, filho de Jacó, que foram separados para exercer as
funções sagradas. Eles foram tomados por Deus, em lugar dos primogênitos de Israel (Nm
3.12). Têm um lugar especial entre o povo: não são recenseados com as outras tribos (Nm
1.47-49), não têm parte em Israel (Dt 18.1) e não receberam nenhum território em Israel, pois
“o Senhor é a sua herança” (Js 13.14,33). Estão previstos, entretanto, para eles contribuições,
os dízimos (Nm 18.21-24) e bens de raiz nas diferentes tribos, as cidades levíticas (Nm 35.1-
8). Assim, os membros do sacerdócio são chamados corretamente de filhos de Levi ou os
levitas (VAUX, 2003, p. 398).
[347] MORRIS, 1996, p. 179.
[348] BAILEY, 1995, p. 91.
[349] MORRIS, 1996, p. 179.
[350] BAILEY, 1995, p. 92-93.
[351] KISTEMAKER, 1992, p. 192-193.
[352] BAILEY, 1995, p. 92.
[353] TENNEY; PACKER; WHITE, 1996, p. 98.
[354] BAILEY, 1995, p. 93.
[355] BAILEY, 1995, p. 95-98.
[356] MORRIS, 1996, p. 179-180.
[357] JEREMIAS, 1970, p. 203-204.
[358] FUENTE, 1978, p. 84.
[359] MORRIS, 1996, p. 180.
[360] BAILEY, 1995, p. 101. Tem-se assinalado que três conceitos aparecem ilustrados nesta
história. O ladrão disse: “O que é teu é meu, e o tomarei”. O sacerdote e o levita disseram: “O
que é meu é meu, e o guardarei”. O samaritano disse: “O que é meu é teu, e te o darei”. A
vida verdadeira pertence àquele que encontra o centro de seu interesse fora de si mesmo
(STAGG, 1970, p. 82).
[361] Entre esta parábola e a anterior, encontra-se apenas a visita de Jesus à casa de Marta e
Maria em Betânia (ROBERTSON, 1995, p. 103). Os demais autores concordam.
[362] BAILEY, 1995, p. 103.
[363] MORRIS, 1996, p. 184.
[364] KISTEMAKER, 1992, p. 198.
[365] BAILEY, 1995, p. 105-106.
[366] BAILEY, 1995, p. 106-107.
[367] BAILEY, 1995, p. 107.
[368] Muitos autores encontram dificuldade com o termo. Alguns procuram dar um significado
menos pejorativo. Trench afirma que seria melhor traduzir por “desvergonha”, e com isso se
suaviza um pouco por não estar pedindo para si mesmo, mas para não faltar com
hospitalidade com o outro (TRENCH, 1987, p. 118).
[369] KISTEMAKER, 1992, p. 199-200.
[370] BAILEY, 1995, p. 112.
[371] BAILEY, 1995, p. 115.
[372] BAILEY, 1995, p. 116.
[373] JEREMIAS, 1970, p. 161.
[374] BAILEY, 1995, p. 116.
[375] BAILEY, 1995, p. 128.
[376] MORRIS, 1996, p. 200.
[377] Após a parábola anterior, Jesus tem alguns confrontos e debates com fariseus (Lc11.14-
36), alguns deles, inclusive, estando à mesa na casa de um fariseu (Lc 11.37-54). Depois
disto, faz algumas advertências aos seus discípulos em relação à hipocrisia, avareza e riquezas
(Lc 12.1-59). É neste contexto que Jesus relata a parábola do rico insensato (LIETZMANN,
1970, p. 124). Não há discordância neste ponto.
[378] O grego usa o termo διελογίζετο, em tempo perfeito, voz média, expressando seus
contínuos pensamentos acerca da sua perplexidade (ROBERTSON, 1988, vol. II, p.197).
[379] Teofilácio observa a respeito da expressão ‘meu produto e meus bens’: “suas riquezas
foram obtidas honestamente. Com isso, o exemplo se ajusta magnificamente à presente
ocasião. O mundo não veria nada para condenar em sua atitude” (Apud TRENCH, 1987, p.
120).
[380] Manson afirma que é verdade que um certo mínimo de bens materiais é necessário para a
vida; mas não é verdade que a maior abundância de bens significa maior abundância de vida
(Apud BAILEY, 1995, p. 132-133).
[381] KISTEMAKER, 1992, p. 203-204. Eclesiastes 5.10 revela que “quem ama o dinheiro,
jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é
vaidade”.
[382] Note-se a diferença entre os tempos verbais: ἀναπαύου (segue descansando – presente),
φάγε (come de uma vez – aoristo), πίε (bebe tua medida – aoristo) e εὐφραίνου (segue
divertindo-te – presente) (ROBERTSON, 1995, vol. II, p.197).
[383] KISTEMAKER, 1992, p. 204. Tiago, em sua Epístola, se dirige àquelas pessoas que
dizem: “Hoje ou amanhã iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano e negociaremos e
teremos lucros”. A estes, afirma: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa
vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.13-14).
[384] Rienecker afirma que a palavra ἄφρων significa “sem razão, insensato, estulto, que
expressa uma disposição mental de não levar nada em conta nem considerar” (RIENECKER;
ROGERS, 1988, p. 132).
[385] BAILEY, 1995, p. 138.
[386] MANSON, In: BAILEY, 1995, p. 138.
[387] MORRIS, 1996, p. 200-201. É interessante observar o contraste expressivo do solilóquio
do rico avarento, com o plano de Deus a seu respeito: 1) Julgava-se muito precavido,
previdente e prudente, no entanto foi julgado por Deus como um louco. 2) Pensava ter em
depósito muitos bens, para muitos anos, mas, de acordo com a sentença divina, esta noite,
apenas, e os seus bens para que seriam? 3) O rico arrogante julgava ter, à sua disposição, a
sua alma, “direi à minha alma”, porém “esta noite te pedirão”, numa restituição, para a qual
não está preparado (CAMARGO, 1970, p. 119-120).
[388] KISTEMAKER, 1992, p. 205.
[389] BAILEY, 1995, p. 142-143.
[390] Edersheim, citado por Bailey, faz a sugestão de que os dezoito mortos pela queda da torre
de Siloé podiam estar trabalhando no aqueduto construído por Pilatos. Pilatos havia tirado
dinheiro do tesouro do templo para a construção do aqueduto, com o que a população local
ficou horrorizada. Assim, se parte da construção caísse sobre os trabalhadores, todo o país
naturalmente chegaria à conclusão de que era um julgamento de Deus, por estarem
colaborando em um projeto daqueles. A sugestão é ainda mais intrigante porque relaciona as
duas ilustrações com Pilatos. Mesmo não sendo desta forma, o texto afirma claramente que,
em ambos os casos, na opinião de Jesus, o sofrimento das pessoas envolvidas não pode ser
atribuído aos seus pecados (BAILEY, 1995, p. 150).
[391] CAMARGO, 1970, p. 121.
[392] Apud BAILEY, 1995, p. 148.
[393] BAILEY, 1995, p. 149-152.
[394] Imediatamente posterior a um diálogo de advertência aos discípulos, Jesus relata a
parábola da figueira estéril. Para isso, aproveita dois acontecimentos contemporâneos (Lc
13.1 e Lc 13.4), ensinando que, se não derem fruto, acontecerá o mesmo, perecendo todos de
igual modo (Lc 13.3,5). Logo após relata a parábola em questão (TISCHENDORF, 1891, p.
96). Aqui também não há discordância dos autores de Harmonia dos Evangelhos.
[395] Na Palestina, no meio das vinhas, planta-se também árvores, que constituem pomares
(JEREMIAS, 1970, p. 173). A figueira numa vinha denota que está em solo fértil (MORRIS,
1996, p. 209).
[396] KISTEMAKER, 1992, p. 207-208. Bailey sugere que o dono da vinha não viria procurar o
fruto impuro do quarto ao sexto ano da vida da árvore. Por conseguinte, durante três anos ele
procurou as primícias e três vezes ficara desapontado. Agora, nove anos se passaram desde
que a árvore fora plantada. A situação parece irremediável. Tempo suficiente já se passou. O
senhor da vinha esperou pacientemente, muito mais que o tempo suficiente para dar fruto
(BAILEY, 1995, p. 156-157).
[397] BAILEY, 1995, p. 157.
[398] MORRIS, 1996, p. 209.
[399] BAILEY, 1995, p. 159.
[400] Isto pode ser observado pelo cuidado do vinhateiro que vai cavar ao redor da figueira e
acrescenta-lhe o esterco (BAILEY, 1995, p. 158-159). Jeremias concorda quando afirma:
“duma declaração de julgamento fez-se um apelo à conversão. A misericórdia de Deus chega
ao ponto de suspender a decisão de castigar, que já fora tomada” (JEREMIAS, 1970, p. 173).
[401] EDERSHEIM, 1988, p. 191.
[402] BAILEY, 1995, p. 155-162. Rienecker, contrariamente, é da opinião de que “a parábola
tem sua aplicação a Israel como nação, que precisa de arrependimento” (RIENECKER;
ROGERS, 1988, p. 134).
[403] KISTEMAKER, 1992, p. 209. A parábola pode ser vista como simbolicamente cumprida
na maldição da figueira (Mt 21.18-19; Mc 11.12-14). Chama a atenção que apenas Lucas
tenha registrado a parábola da figueira estéril e que, dos sinóticos, seja o único a não registrar
a maldição da figueira.
[404] Bailey lembra que “comer pão” é uma expressão idiomática clássica no Oriente Médio,
que significa “comer uma refeição”. Assim, um dos hóspedes que se reclina com Jesus
introduz o assunto de comer no reino. Aqui, como em outras passagens, o banquete é símbolo
da salvação (BAILEY, 1995, p. 164).
[405] Lucas relata uma cura feita por Jesus, num sábado, o que gera críticas por parte do oficial
da sinagoga (Lc 13.10-21). Nesta parte, alguns autores da harmonia introduzem um trecho do
evangelista João (Jo 10) e retornam com o texto de Lucas, no qual Jesus desenvolve seu
ministério na Pereia. Jesus é, então, avisado da ameaça de Herodes Antipas e lhe responde à
altura (Lc 13.31-35). Cura um homem hidrópico na casa de um dos chefes dos fariseus, num
sábado (Lc 14.1-6), e profere a parábola da grande ceia, ao notar como os convidados
escolhiam os primeiros lugares (Lc 14.7). (WATSON; ALLEN, 1953, p. 122).
[406] MORRIS, 1996, p. 219-220. Nesta parábola, há semelhanças com aquela das bodas (Mt
22.1-14) e alguns veem esta como uma forma variante da mesma história. Mas as diferenças
são tão notáveis como as semelhanças e é melhor considerar as duas como sendo distintas
(ROBERTSON, 1988, vol. II, p.200).
[407] O verbo usado para expressar a missão do servo é ἀποστέλλω, que denota que foi enviado
como representante oficial e autorizado (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 137). Edersheim,
entretanto, lembra que o servo não representa ninguém em particular – como João, o Batista –
senão que se refere a todo aquele a quem Ele emprega em Seu serviço, para este propósito
(EDERSHEIM, 1988, p. 194).
[408] BAILEY, 1995, p. 171. Vê-se o convite duplo no Antigo Testamento (Et 5.8; 6.14).
Recusar-se a atender o segundo convite constituía um insulto ao dono da casa – em tal grau
que, entre as tribos árabes, equivalia a uma declaração de guerra (KISTEMAKER, 1992, p.
218.)
[409] MORRIS, 1996, p. 220. Bailey sintetiza as desculpas dos convidados em três pequenas
frases: “Fiz isto...”, “Preciso fazer isto...” e “Desculpa-me” (BAILEY, 1995, p. 172-175).
Camargo lembra que os três obstáculos encontrados pelos convidados, posse, ambição de
riquezas e prazeres, são os mesmos daquela semente que caiu entre os espinhos e estes a
sufocaram, na interpretação da parábola do semeador (CAMARGO, 1970, p. 129).
[410] Morris afirma que são exatamente as mesmas classes mencionadas no v. 13 (MORRIS,
1996, p. 221). Rienecker lembra que os fisicamente defeituosos também eram barrados da
plena participação no culto judaico (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 137).
[411] KISTEMAKER, 1992, p. 217.
[412] JEREMIAS, 1970, p. 181.
[413] KISTEMAKER, 1992, p. 221-222.
[414] MANSON, In: BAILEY, 1995, p. 189.
[415] MORRIS, 1996, p. 219.
[416] Após a parábola da grande ceia, Jesus ensina a multidão sobre o custo de ser seu discípulo
(Lc 14. 25-35). Lucas, então, relata as parábolas de Jesus que tratam da busca de Deus e do
Reino em relação ao ser humano perdido (ALAND, 1988, p. 304. Ver também: HUCK, p.
130; KAYSER, p. 87; ROBERTSON, p. 112; LIETZMANN, p. 135; WATSON & ALLEN,
p. 123; TISCHENDORF, p. 104; STEVENS & BURTON, § 102; PEISKER, p. 109;
BROADUS, p. 142; SAVAGE, p. 147; HEIM, p. 117; THROCKMORTON, p. 121;
BURTON & GOODSPEED, p. 170; THOMAS, p. 29).
[417] EDERSHEIM, 1988, p. 198. Os fariseus até aceitariam os pecadores de volta, depois da
penitência, mas não os procurariam como Jesus. Eles alegavam religião, mas tratava-se de
uma religião de exclusivismo rígido em lugar de amor (ASH, 1980, p. 237).
[418] JEREMIAS, 1970, p. 36. Para Chiminelli, as três parábolas deste capítulo são três raios da
mesma luz. Três estrofes da mesma canção. Na primeira, é o amor que procura o amado,
compadecendo-se de sua miséria; na segunda, é o mesmo amor que procura o amado,
reconhecendo o seu imenso valor; e, na terceira, é o amor que recebe o amado em seu
regresso (Apud CAMARGO, 1970, p. 133).
[419] STAGG, 1970, p. 106.
[420] Embora a parábola diga apenas que o pastor deixou as noventa e nove ovelhas, não
menciona que as deixou desprotegidas. Além do mais, o objetivo da parábola não são as
noventa e nove, e, sim, aquela que se perdeu (KISTEMAKER, 1992, p. 228).
[421] MORRIS, 1996, p. 224.
[422] As ovelhas são animais gregários; vivem juntas em grupo. Quando uma ovelha se separa
do rebanho, fica desnorteada. Deita no chão, imóvel, esperando pelo pastor (KISTEMAKER,
1992, p. 228). Não há nada mais impotente que uma ovelha perdida, exceto um pecador
perdido. A ovelha se perdeu por sua própria ignorância e insensatez (ROBERTSON, 1988,
vol. II, p. 228).
[423] MORRIS, 1996, p. 224. Quanto às notas de júbilo e alegria, Plummer afirma que não há
lugar para recriminação ou censura à ovelha perdida (ROBERTSON, 1988, vol. II, p. 229).
[424] A expressão: “os noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” talvez
deva ser entendida como ironia. Para Jesus, todos são ovelhas perdidas que necessitam de um
pastor que as guie. Todos os homens precisam arrepender-se (BAILEY, 1995, p. 205).
[425] MONTEFIORE, In: MORRIS, 1996, p. 224.
[426] Para o judaísmo do primeiro século, o arrependimento era uma forma de entrar no Reino.
Na pregação de Jesus, o arrependimento era uma reação, uma resposta positiva ao Reino que
já era chegado (BAILEY, 1995, p. 205).
[427] KISTEMAKER, 1992, p. 230.
[428] NEAL, 1972, p. 102.
[429] Os autores são unânimes em colocá-la no mesmo contexto, imediatamente após a parábola
da ovelha perdida (ROBERTSON, 1995, p. 112.).
[430] Jeremias lembra que a dracma poderia fazer parte do dote de casamento daquela mulher.
Na Palestina, as mulheres usam um enfeite de cabeça contendo as moedas de seu dote.
Geralmente, as moedas do dote são de ouro. Neste caso, sendo dracmas, poderia indicar um
enfeite muito modesto, o que acentua o sentimento diante da perda de uma moeda
(JEREMIAS, 1970, p. 137). Rienecker afirma que a dracma era uma moeda grega de prata e
equivalia ao preço de uma ovelha (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 138). Se esta última
informação for correta, Jesus parece mostrar, com isto, que ambos os grupos estavam na
mesma situação.
[431] KISTEMAKER, 1992, p. 232.
[432] A mulher passa despercebida perante a vida pública, praticamente reclusa em seu lar. Nas
famílias mais tradicionais, e entre as mais notáveis da cidade, a jovem praticamente não sai de
seu lar, permanecendo nos recintos reservados exclusivamente às mulheres (LADISLAO,
1995, p. 17).
[433] BAILEY, 1995, p. 207. No mundo cultural da Palestina do Século I, o próprio uso de uma
mulher em uma ilustração requeria ousadia moral. Jesus, mais uma vez, está rejeitando as
atitudes farisaicas para com grupos minoritários na sociedade.
[434] STAGG, 1970, p. 106.
[435] GIOIA, 1969, p. 251-252.
[436] EDERSHEIM, 1988, p. 201-202.
[437] BAILEY, 1995, p. 207.
[438] KAYSER, 1986, p. 88.
[439] KISTEMAKER, 1992, p. 237.
[440] MORRIS, 1996, p. 226.
[441] BAILEY, 1995, p. 212-215.
[442] JEREMIAS, 1970, p. 130.
[443] BAILEY, 1995, p. 212-215.
[444] BAILEY, 1995, p. 215. O mesmo autor explica que nenhum pai teria concordado com um
pedido desses, sem a devida reserva de que o filho ainda permanecia responsável
financeiramente pelo pai, se e quando o pai, em sua velhice, precisasse de ajuda. Porém, o pai
desta história de fato cede ao filho a posse e a disposição dos bens.
[445] WEINGÄRTNER, 1990, p. 121.
[446] Bailey diz que o filho mais moço se “gruda” ao cidadão daquela terra. Rienecker afirma
que o termo ἐκολλήθη (ekollethe) significa “colar junto”, “reunir-se a”, e denota que forçou
sua presença junto a um cidadão do país (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 139).
[447] MORRIS, 1996, p. 227. Bailey lembra que o rapaz era conhecido na comunidade por ter
chegado com dinheiro e, desta forma, esperava-se que tivesse um resto de respeito próprio. A
maneira polida pela qual o habitante do Oriente Médio se livra de importunos indesejáveis é
atribuir-lhes uma tarefa que ele sabe que recusarão. Entretanto, a tentativa do cidadão de se
livrar do filho mais jovem termina em fracasso. Ele aceita o trabalho de cuidador de porcos
(BAILEY, 1995, p. 220).
[448] KISTEMAKER, 1992, p. 239.
[449] BAILEY, 1995, p. 222.
[450] BAILEY, 1995, p. 221-222.
[451] KISTEMAKER, 1992, p. 240).
[452] Stagg argumenta que possivelmente é a recordação de um pai amoroso que fez o filho
voltar ao seu lar. Antes, não estava disposto a ser chamado filho; agora, sentia-se indigno de
ser chamado assim. Antes, havia exigido seus direitos; agora, submete-se aos direitos e
cuidados do pai. (STAGG, 1970, p. 107).
[453] Em contraste com δούλος no verso 22.
[454] BAILEY, 1995, p. 222-226.
[455] Jeremias informa que nas parábolas de Jesus aparecem, por diversas vezes, os escravos
(Mt 13.27-30; Lc 17.22; etc.), mas, sobretudo, os diaristas (Mt 9.37-38; Lc 15.17-19; etc.).
(JEREMIAS, 1983, p. 455). Preisker afirma que o termo é usado somente no sentido de
trabalhador diário assalariado (PREISKER, In: KITTEL, 1967, vol. IV, p. 701). O termo
deriva de misqo/j, que significa salário, pagamento, recompensa (BÖTTGER, In: BROWN;
COENEN, 2000, p. 1935).
[456] BAILEY, 1995, p. 226-227.
[457] KISTEMAKER, 1992, p. 242.
[458] BAILEY, 1995, p. 229.
[459] JEREMIAS, 1970, p. 131.
[460] BAILEY, 1995, p. 230.
[461] BAILEY, 1995, p. 230.
[462] Jeremias argumenta de que o beijo é sinal de perdão (JEREMIAS, 1970, p. 131). Bailey
concorda. Beijo é sinal de reconciliação e perdão.
[463] WEINGÄRTNER, 1990, p. 123. Sa’id afirma que “Cristo relata as palavras do filho a seu
pai, mas não diz nada acerca de um discurso do pai a seu filho; porque, em verdade, o pai
«substitui palavras por beijos, substitui afirmação por expressão e os olhos falam pela
língua»” (Apud, BAILEY, 1995, p. 230).
[464] BAILEY, 1995, p. 230.
[465] WEINGÄRTNER, 1990, p. 123.
[466] Para Jeremias, colocar uma nova veste é figura do tempo da salvação (JEREMIAS, 1995,
p. 132).
[467] BAILEY, 1995, p. 230.
[468] JEREMIAS, 1970, p. 132.
[469] BAILEY, 1995, p. 233.
[470] TENNEY; PACKER; WHITE, 2001, p. 123.
[471] MORRIS, 1996, p. 228-229.
[472] BAILEY, 1995, p. 234.
[473] BAILEY, 1995, p. 210.
[474] KISTEMAKER, 1992, p. 243.
[475] JEREMIAS, 1970, p. 132.
[476] BAILEY, 1995, p. 239-240.
[477] A expressão ἕνα τῶν παίδων pode significar filho, servo ou menino. Todas as versões
orientais traduzem por “menino”. Na parábola, o filho mais velho encontra aquele que lhe
forneceria as respostas, antes de chegar em sua casa. Além disto, todos os servos estão
ocupados com o banquete dentro da casa. Um outro detalhe, mais conclusivo, é que esta
pessoa chama o pai de “teu pai”. Nenhum servo falaria desta forma. Se fosse um servo, ele
deveria dizer: “Meu senhor fez isto e aquilo” (BAILEY, 1995, p. 240.)
[478] O imperfeito denota que “ele ficou perguntando”, dando a entender uma série de
perguntas. O filho mais velho precisa descobrir como e em que condições seu irmão voltou
(BAILEY, 1995, p. 240-241.)
[479] BAILEY, 1995, p. 241.
[480] WEINGÄRTNER, 1990, p. 123.
[481] “Este teu filho!” Ele não diz “este meu irmão!” É como se dissesse “Qual pai, tal filho”.
Acusa o pai, enquanto acusa o irmão. Coloca para fora todo o seu protesto
(WEINGÄRTNER, 1990, p. 124).
[482] BAILEY, 1995, p. 243.
[483] BAILEY, 1995, p. 241. Bailey argumenta ainda de que vários aspectos devem ser notados,
decorrentes da atitude do filho. 1) Se dirige ao pai sem usar títulos; 2) Demonstra a atitude e o
espírito de um escravo e não de um filho; 3) Insulta o pai publicamente; 4) Acusa seu pai de
favoritismo (...para mim, nunca me deste...); 5) Se exclui da família (...este teu filho...); 6)
Não sente nenhuma alegria pelo retorno do irmão; 7) Ataca a seu irmão mais jovem e o acusa
(p. 243-245).
[484] WEINGÄRTNER, 1990, p. 124.
[485] BAILEY, 1995, p. 245.
[486] Em flagrante contraste com o filho mais velho, o pai começa com um título, um título bem
afetuoso. Ao invés de υἱός (huios) agora ele usa te/knon (teknon). A palavra conciliadora
τέκνον é ainda mais notável à luz da agonia do amor rejeitado, que o pai precisa suportar
(BAILEY, 1995, p. 245). Jeremias afirma que “meu filho” é equivalente a “meu querido”
(JEREMIAS, 1970, p. 134).
[487] BAILEY, 1995, p. 246-248.
[488] KISTEMAKER, 1992, p. 245.
[489] BAILEY, 1995, p. 248. Este autor argumenta, ainda, de que os dois filhos não precisam ser
necessariamente interpretados em termos de fariseus e publicanos. Para ele, Jesus está
discutindo dois tipos básicos de homens. Um é ilegal sem a lei, e outro ilegal dentro da lei.
Ambos são rebeldes. Ambos partem o coração do pai. Ambos acabam em um país distante:
um fisicamente, o outro espiritualmente. O mesmo amor inesperado é demonstrado em
humilhação, a ambos. Para ambos este amor é essencial, para que os servos se tornem filhos
(p. 248).
[490] BAILEY, 1995, p. 250.
[491] JEREMIAS, 1970, p. 134.
[492] Logo após a parábola dos dois filhos perdidos, Jesus relata aos seus discípulos a parábola
do mordomo (administrador) infiel. Nada há de textos que possam ser intercalados e nenhum
autor discorda desta posição para a parábola (HUCK, 1906, p. 132).
[493] KISTEMAKER, 1992, p. 250.
[494] MORRIS, 1996, p. 231. Camargo afirma que “o exemplo de um homem bom e honesto
não impressionaria tanto como este, pela emulação que desperta” (CAMARGO, 1970, p.
151.)
[495] MORRIS, 1996, p. 231.
[496] BAILEY, 1995, p. 264-265. Primeiramente, tudo indica que o senhor é um homem justo.
O mordomo é chamado frontalmente de “injusto”; todavia, nenhum traço de crítica se faz
contra o senhor. Se o senhor fosse ignóbil, teria agido de maneira bem diferente. O mordomo
é mandado embora, mas não vituperado, punido ou encarcerado. Em segundo lugar, de acordo
com a lei judaica, se um agente compra por menos ou vende por mais do que o preço
especificado pelo proprietário, o lucro pertence ao proprietário e não ao agente. E em terceiro
lugar, o indivíduo se trata de um “administrador de fazenda”. Era o que um ouvinte/leitor de
um ambiente agrícola iria presumir. Se assim não fosse (sendo por exemplo um banqueiro),
então o auditório precisaria ser informado (BAILEY, 1995, p. 258-263).
[497] JEREMIAS, 1970, p. 182. Rienecker confirma também que o termo usado significa
“exercer a responsabilidade de administrar uma fazenda” (RIENECKER; ROGERS, 1988, p.
140).
[498] PLOEG, 1999, p. 172-173.
[499] O verbo da frase indica que já faz tempo que o senhor está ouvindo isso, e ainda continua
ouvindo.
[500] BAILEY, 1995, p. 266-268. Friedel afirma: “Se o mordomo tivesse algo a dizer em sua
defesa, iria dizê-lo naquela hora, mas ele confessa a sua culpa da forma mais resumida
possível, não dizendo nada” (Apud BAILEY, 1995, p. 268).
[501] BAILEY, 1995, p. 268.
[502] Somente se ainda estivesse em posição de autoridade, ele teria o direito de mandar servos
subalternos chamar os devedores de seu senhor (BAILEY, 1995, p. 268-269).
[503] BAILEY, 1995, p. 269.
[504] Quando o mordomo diz “Quanto deves a meu senhor?”, ele afirma diretamente que ainda
está empregado.
[505] Essas repentinas reduções vêm, por assim dizer, “a calhar”. O abono propriamente dito
vinha dos proprietários. Mas o mordomo é louvado por ter convencido o proprietário a
concedê-lo. Outro pressuposto necessário: o mordomo não executaria um plano que não
refletisse de maneira significativa em seu crédito. Não haveria por que fazê-lo (BAILEY,
1995, p. 270).
[506] JEREMIAS, 1970, p. 182-183.
[507] BAILEY, 1995, p. 271.
[508] Uma das definições vetero-testamentárias de “sabedoria” é o instinto de autopreservação.
[509] BAILEY, 1995, p. 271. Muitos comentaristas ficam preocupados pensando como Jesus
podia usar um homem desonesto como exemplo. Isto não precisa causar inquietação. O
camponês do Oriente Médio acha esta parábola a coisa mais formidável. As parábolas de
Jesus têm uma lista surpreendente de personagens de mau gosto. Além deste mordomo, há o
juiz injusto, o vizinho que não quer ser perturbado de noite e o homem que embolsa o tesouro
de outrem comprando o seu campo (BAILEY, 1995, p. 272.)
[510] BAILEY, 1995, p. 275.
[511] JEREMIAS, 1970, p. 184.
[512] BAILEY, 1995, p. 276.
[513] DODD, 1974, p. 38.
[514] HUNTER, 1971, p. 99.
[515] Ryle afirma que, desde os tempos mais antigos, tem sido considerada parábola por uns e,
por outros, história real. Entre os extremos deve estar a verdade. Não se crê que haja razões
para deixar de considerá-la como histórica; todavia é de se supor que se trata de uma história
empregada para exemplificar uma doutrina (RYLE, 1955, p. 250).
[516] FUENTE, 1978, p. 119.
[517] MORRIS, 1996, p. 237.
[518] ALAND, 1988, p. 310. Os demais autores concordam com esta posição.
[519] KISTEMAKER, 1992, p. 259.
[520] CAMARGO, 1970, p. 162. Lázaro é o único nome mencionado por Jesus em parábolas,
provavelmente porque ‘Lázaro’ é uma abreviação da expressão hebraica “aquele que Deus
ajuda”, justamente a ideia enfatizada nesta parábola (GARDNER, 2000, p. 406).
[521] Morris afirma que “não se diz que cometeu qualquer pecado grave, mas vivia
exclusivamente para si. Nisto se achava sua condenação” (MORRIS, 1996, p. 237).
[522] Robertson informa que não significa necessariamente a porta da casa, mas diante do
grande pórtico. Em Mateus 26.71, a mesma palavra πυλών é traduzida por pórtico, alpendre
ou entrada (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 245).
[523] KISTEMAKER, 1992, p. 259.
[524] Jeremias afirma que “seio de Abraão” é a designação do lugar de honra no banquete, à
direita (cf. Jo 13.23) do pai-de-família Abraão; este lugar de honra, a mais alta meta da
esperança, significa que Lázaro está no ponto mais elevado na escala dos justos (JEREMIAS,
1970, p. 185).
[525] KISTEMAKER, 1992, p. 260. Inferno é o destino final dos ímpios. É a tradução da
palavra grega Gehenna, derivada do nome hebraico para o vale do Hinom, fora de Jerusalém.
Esse vale é o lugar em que, nos tempos veterotestamentários, ofereciam-se sacrifícios de
crianças a Moloque (2 Cr 28.3) e depois tornou-se local para queima de lixo. No Novo
Testamento, é descrito como um lugar de fogo inextinguível e de verme que não morre (Mc
4.43), e de trevas, com choro e ranger de dentes (Mt 8.12). (WILLIAMS, 2000, p. 165-166).
[526] “Lembra-te!” Note-se esta expressão. A lembrança do passado será, no inferno, um dos
piores tormentos (RYLE, 1955, p. 250).
[527] Terrível a ironia do destino. Aquele que foi indiferente ao mendigo, que desejava
alimentar-se com as migalhas de sua mesa, deixa agora de receber, não pela limitação do
oceano da graça divina, mas pela restrição imposta pela própria dureza e insensibilidade de
seu coração, a gota de água para refrescar a sua língua (CAMARGO, 1970, p. 166).
[528] Jeremias diz que se reconhece a filiação abraâmica (“filho”), mas não o seu valor salvífico
(JEREMIAS, 1970, p. 186).
[529] MORRIS, 1996, p. 238-239.
[530] Ou por suas riquezas, afinal de contas, Abraão também havia sido rico. (MORRIS, 1996,
p. 239).
[531] Não soube fazer de suas riquezas, de origem iníqua, um amigo que o pudesse receber nos
tabernáculos eternos, testemunhando de sua bondade (CAMARGO, 1970, p. 161).
[532] KISTEMAKER, 1992, p. 261.
[533] A combinação de “Moisés” e os “profetas” indica a totalidade das Escrituras (MORRIS,
1996, p. 239).
[534] “Se um homem (diz Jesus) não pode ser humano com o Antigo Testamento na sua mão e
com Lázaro nos degraus da sua porta, nem um visitante do outro mundo, nem uma revelação
dos horrores do inferno, o ensinarão de modo diferente” (HUNTER, In: MORRIS, 1996, p.
239).
[535] JEREMIAS, 1970, p. 188.
[536] FUENTE, 1978, p. 122.
[537] KISTEMAKER, 1992, p. 266.
[538] KISTEMAKER, 1992, p. 272.
[539] CAMARGO, 1970, p. 175.
[540] Lucas relata, também, a parábola do juiz iníquo, ou a parábola da viúva penitente. Os
autores não são unânimes quanto ao material que deve ser intercalado entre esta parábola e a
anterior. Alguns colocam antes desta parábola a ressurreição de Lázaro e todo o capítulo 11
de João (por exemplo, WATSON & ALLEN, p. 127-128). Outros discordam desta posição
(por exemplo, ALAND, p. 346-349). Mas todos os autores concordam de que a parábola deve
vir após a parábola do rico e Lázaro, vista anteriormente (ROBERTSON, 1995, p. 118. Ver
também: HUCK, p. 137; LIETZMANN, p. 142; TISCHENDORF, p. 112; PEISKER, p. 117;
ALAND, p. 319; STEVENS & BURTON, § 108; BROADUS, p. 149; HEIM, p. 121;
THROCKMORTON, p. 127; BURTON & GOODSPEED, p. 178; THOMAS, p. 30;
WATSON & ALLEN, p. 130; KAYSER, p. 93).
[541] Apenas duas pessoas representam os papéis principais: a viúva e o juiz. O adversário da
viúva é apenas mencionado.
[542] KISTEMAKER, 1992, p. 272-273. Quanto às viúvas, parece que, na época, passavam por
grandes dificuldades. As numerosas leis protetoras indicam que eram oprimidas e passavam
privações. O tema das mesmas é muitas vezes mencionado nas Escrituras (Dt 10.18; 27.19;
Nm 30.9; Sl 68.5; Is 1.23; Ml 3.5). (KISTEMAKER, 1992, p. 272). Eisenberg afirma que a
Bíblia menciona quase exclusivamente as viúvas – mais de 60 vezes no AT e algumas raras
vezes no NT – enquanto o termo viúvo jamais aparece (EISENBERG, 1997, p. 163).
[543] Apud BAILEY, 1995, p. 313.
[544] MORRIS, 1996, p. 247.
[545] Interessante observar que o juiz confessa a exatidão do julgamento feito a respeito do seu
caráter. Ele sabe que não teme a Deus e que ninguém pode exigir que ele preste contas,
levando-o a ficar envergonhado (compare v.2 com v.4). (BAILEY, 1995, p. 316).
[546] MORRIS, 1996, p. 247.
[547] MORRIS, 1996, p. 246.
[548] BAILEY, 1995, p. 318.
[549] BAILEY, 1995, p. 321. Robertson concorda que a terceira linha, que faz parte da pergunta,
é positiva e não interrogativa. Deus toma tempo em empreender vingança, não por
indiferença, mas por paciente longanimidade (ROBERTSON, 1988, vol. II, p. 258).
[550] KISTEMAKER, 1992, p. 276. Por meio destas duas parábolas, Jesus exorta seus
seguidores a permanecerem fiéis, mesmo que sua volta exija espera paciente. As almas dos
que morreram por causa da Palavra de Deus podem gritar: “Até quando, ó Soberano Senhor,
santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
(Ap 6.10). A resposta que recebem é que esperem um pouco mais até que se complete o
número dos seus conservos e irmãos.
[551] MORRIS, 1996, p. 248.
[552] STAGG, 1970, p. 114.
[553] A parábola do fariseu e do publicano aparece imediatamente após a parábola do juiz iníquo
(ALAND, 1988, p. 320. Nenhum autor discorda desta posição).
[554] KISTEMAKER, 1992, p. 278.
[555] BAILEY, 1995, p. 326-327.
[556] BAILEY, 1995, p. 330.
[557] CAMARGO, 1970, p. 181-182. É exatamente esta atitude de exibição que é condenada por
Jesus como hipocrisia (Mt 6.5).
[558] Bailey argumenta satisfatoriamente que a situação em que ambos os personagens se
encontram não é de mera devoção pessoal, mas uma adoração congregacional, que incluía
também a oração (BAILEY, 1995, p. 326-330).
[559] As palavras “roubadores, injustos e adúlteros” não revelam nada a respeito dos outros ou
do coletor de impostos, mas apenas a respeito dos pensamentos do orador. Assim, vê-se um
homem rasgando a máscara da sua própria espiritualidade (BAILEY, 1995, p. 333-334).
[560] MORRIS, 1996, p. 249. Rienecker afirma que era costume começar uma oração com uma
nota de ações de graças. Neste caso, acabou sendo uma expressão de auto admiração
(RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 145).
[561] STAGG, 1970, p. 114.
[562] A Lei prescrevia um dia de jejum por ano, no Iom Kipur (= o Dia do Perdão; Lv 16.29-31;
Nm 29.7; Jr 36.6). Quanto ao dízimo sobre o produto comprado, que já havia sido entregue
pelo produtor, o fariseu tornava a pagar, ele mesmo, o dízimo sobre tudo o que se tornava seu
(KISTEMAKER, 1992, p. 279).
[563] JEREMIAS, 1970, p. 143.
[564] WILLIAMS, 2000, p. 305.
[565] MORRIS, 1996, p. 249. A postura aceita para a oração era cruzar as mãos sobre o peito.
Mas os braços cruzados deste homem não permanecem imóveis. Pelo contrário, ele bate no
peito (BAILEY, 1995, p. 337). O tempo verbal denota uma ação contínua.
[566] KISTEMAKER, 1992, p. 281.
[567] BAILEY, 1995, p. 339.
[568] KISTEMAKER, 1992, p. 282.
[569] FUENTE, 1978, p. 135
[570] BAILEY, 1995, p. 340.
[571] MORRIS, 1996, p. 251-252.
[572] WATSON; ALLEN, 1953, p. 132-134. Ver também: HUCK, p. 140; KAYSER, p. 95;
ROBERTSON, p. 120; LIETZMANN, p. 145; TISCHENDORF, p. 115; STEVENS &
BURTON, § 111; PEISKER, p. 119; BROADUS, p. 152; SAVAGE, p. 151-153; HEIM, p.
124; THROCKMORTON, p. 130; BURTON & GOODSPEED, p. 185; THOMAS, p. 30.
Aqui ALAND introduz os capítulos 7 a 10 de João, embora mantenha a ordem cronológica
das parábolas (1988, p. 321-341).
[573] POHL, 1998, p. 300.
[574] BAILEY, 1995, p. 352-353.
[575] ROBERTSON, 1988, vol. II, p. 262.
[576] TRENCHARD, 1971, p. 129; BAILEY, 1995, p. 353; MORRIS, 1996, p. 252; TASKER,
1991, p. 150; SCHNIEWIND, 1989, p. 149,150; BROWN, 1978, p. 109; POHL, 1998, p.
305; RIENECKER, 1998, p. 328; etc.
[577] RIENECKER, 1998, p. 330.
[578] Interessante o fato de, pouco tempo após o relato dessa parábola, Jesus encontrar-se com
Zaqueu, e, nessa circunstância, mostrar aos seus discípulos como é possível um rico entrar no
reino de Deus (Lc 19.1-10). Brown afirma que deixar riquezas não é tanto uma pré-condição
para a salvação, mas um resultado da mesma (BROWN, 1978, p. 109).
[579] TASKER, 1991, p. 150.
[580] MORRIS, 1996, p. 252.
[581] BAILEY, 1995, p. 354-357.
[582] POHL, 1998, p. 305.
[583] O sentido talvez seja: “e o que nós ganhamos com isso?”
[584] Os autores concordam unanimemente com a colocação desta parábola após a última do
grupo anterior e após o diálogo entre Jesus e Pedro (ALAND, 1988, p. 343. Ver também:
HUCK, p. 141; KAYSER, p. 96; ROBERTSON, p. 122; LIETZMANN, p. 148; WATSON &
ALLEN, p. 134-135; TISCHENDORF, p. 115; STEVENS & BURTON, § 112; PEISKER, p.
121; BROADUS, p. 154; SAVAGE, p. 153; HEIM, p. 126; THROCKMORTON, p. 132;
BURTON & GOODSPEED, p. 187; THOMAS, p. 30).
[585] Observe-se que a parábola termina com as mesmas palavras, embora em ordem inversa:
“Os últimos serão primeiros, e os primeiros serão os últimos” (KISTEMAKER, 1992, p. 101).
[586] FUENTE, 1978, p. 39.
[587] Geralmente, desde cedo homens dispostos a trabalhar permaneciam neste lugar à espera de
algum empregador, que lhes oferecesse trabalho.
[588] KISTEMAKER, 1992, p. 95.
[589] Morris informa que as horas terceira, sexta, nona e undécima correspondem a 9 horas,
meio-dia, 15 horas e uma hora antes do ocaso, respectivamente (MORRIS, 1996, p. 152).
[590] KISTEMAKER, 1992, p. 96.
[591] Levíticos 19.13, diz: “A paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã”.
[592] Ploeg afirma que os primeiros pensaram que, sem dúvida, se os últimos tinham recebido
um denário, eles teriam direito a um salário proporcional às horas de seu trabalho (PLOEG,
1999, p. 90).
[593] MORRIS, 1996, p. 152.
[594] Rienecker lembra que os escribas defendiam a tese: “Conforme o esforço, virá a
recompensa” (RIENECKER, 1998, p. 335).
[595] KISTEMAKER, 1992, p. 98.
[596] O espírito de murmuração que se denuncia na parábola é próprio daqueles que desejam
não apenas ter muito, mas mais do que os outros. Os que querem ser privilegiados podem ser
os últimos, e os que parecem os últimos, pelo seu espírito de humildade e serviço, podem ser
reconhecidos como os primeiros. Assim é no reino de Deus (CAMARGO, 1970, p. 62.)
[597] A palavra hetaire (amigo) aparece três vezes no Novo Testamento: 1) na parábola da vinha
(Mt 20.13); 2) na parábola das bodas, quando o rei se dirige ao convidado que não se
apresenta vestido para as bodas (Mt 22.12); 3) no relato da prisão de Jesus no Getsêmani,
quando Jesus diz: “amigo, para que vieste?” (Mt 26.50). O termo sempre denota uma relação
de obrigação mútua entre aquele que fala e o que ouve, a qual foi desprezada e escarnecida
pelo ouvinte (KISTEMAKER, 1992, p. 99).
[598] KISTEMAKER, 1992, p. 99.
[599] CAMARGO, 1970, p. 59.
[600] FUENTE, 1978, p. 41. Neal aponta mais algumas verdades contidas nesta parábola: o dono
da vinha é Deus, soberano e que pode fazer o que quer com o que é Seu; o Reino de Deus
necessita de “trabalhadores”: pode-se dizer que Deus chama a todos para entrar no Reino, mas
poucos são os que se engajam no trabalho; há também duas classes de trabalhadores: aqueles
que querem saber quanto vão receber, e estes receberão somente aquilo que lhes foi
prometido, e aqueles que entram no trabalho confiando na justiça do Senhor, abertos à sua
misericórdia. A parábola ensina ainda que não se deve levar em conta a aparência e os atos
exteriores (quantidade de trabalho), mas o motivo e o espírito com que se faz a obra (NEAL,
1972, p. 64-67).
[601] KISTEMAKER, 1992, p. 100.
[602] RIENECKER, 1998, p. 336-337.
[603] MORRIS, 1996, p. 257.
[604] CAMARGO, 1970, p. 186. Os autores são unânimes em colocar a parábola das dez minas
após a parábola dos trabalhadores na vinha (WATSON; ALLEN, 1953, p. 140-141. Ver
também: SAVAGE, p. 157; HUCK, p. 147; KAYSER, p. 98; ROBERTSON, p. 125;
BROADUS, p. 159; LIETZMANN, p. 152; TISCHENDORF, p. 120; THROCKMORTON, p.
135; STEVENS & BURTON, § 117; PEISKER, p. 124; HEIM, p. 129; BURTON &
GOODSPEED, p. 194; THOMAS, p. 30. Aqui ALAND introduz os capítulos 10 e 11 de João,
mas concorda com a posição das parábolas [ALAND, 1988, p. 344-358]).
[605] KISTEMAKER, 1992, p. 285-286. Josefo relata outras situações em que um governador
tinha de ir a Roma para tomar posse, entre elas de Herodes, o Grande (JOSEFO, 1990, p.
342).
[606] Morris informa que a mina é “uma moeda grega com o valor de cem dracmas. A dracma
era o salário de um trabalhador por um dia de serviço (MORRIS, 1996, p. 258). Portanto, não
é um valor muito grande.
[607] A ordem deve ser vista e entendida no contexto da cultura oriental da época, quando o
comércio e a barganha faziam parte do dia-a-dia. O tema do rei reaparece no versículo 14.
Alguns súditos do homem não gostavam dele, de modo que fizeram o possível para evitar que
obtivesse a autoridade de rei. Morris diz que não se pode alegorizar este fato, pois Jesus é Rei
perfeito e nada pode intervir na Sua soberania. Mas não se pode deixar de perceber que há
muitos homens que se rebelam contra tudo o que Ele representa (MORRIS, 1996, p. 258).
[608] Os três servos da parábola podem ser considerados como pertencendo a três grupos. O
primeiro representa aqueles que obtêm imensos lucros; o segundo, aqueles cujo lucro é
considerável; e o terceiro, aqueles que não obtêm lucro algum. Este pode ser considerado um
servo inútil (KISTEMAKER, 1992, p. 287)
[609] Não podemos aqui imaginar o moderno sistema bancário. Robertson explica que a
expressão grega epi trapezan, significa literalmente “sobre uma mesa”. Esta palavra antiga
vem de tetrapeza (tetra – quatro; pous – pés). Significa, assim, qualquer mesa (Mc 7.28),
mesa dos cambistas (Jo 2.15; Mc 11.15; Mt 21.12), ou banco, como aqui (ROBERTSON,
1988, vol. II, p. 269).
[610] KISTEMAKER, 1992, p. 288.
[611] KISTEMAKER, 1992, p. 288-289.
[612] MORRIS, 1996, p. 259.
[613] MANSON, In: MORRIS, 1996, p. 259.
[614] KISTEMAKER, 1992, p. 290.
[615] ERDMAN, 1974, p. 224.
[616] FUENTE, 1978, p. 140-141.
[617] KISTEMAKER, 1992, p. 290-291.
[618] Os autores são unânimes em colocar em parábola após a parábola das dez minas
(ROBERTSON, 1995, p. 134).
[619] KISTEMAKER, 1992, p.105.
[620] CAMARGO, 1970, p. 65.
[621] Há três variações referentes a este texto: a) No Códice Sinaítico e outros, o primeiro filho
disse não, mas se arrependeu; o segundo disse sim, mas não foi. b) No Códice Vaticano e
outros, o primeiro filho diz sim, mas não vai; o segundo diz não, mas se arrepende. Quem faz
a vontade do pai? O “último”, o “segundo”. c) O texto Ocidental, segue o Códice Sinaítico,
com exceção da resposta à questão: “Qual dos dois fez a vontade do pai? O último”. Isso
significa que o filho que disse sim, mas não foi, cumpriu o pedido do pai. Absurdo. A escolha
fica entre “a” e “b”. Porém, a ordem não afeta o sentido da parábola. (KISTEMAKER, 1992,
p. 106.) A versão da Sociedade Bíblica Unida (4ª edição) segue a opção “a”; a versão Nestle-
Aland (25ª edição) segue a opção “b”. Já a 26ª edição de Nestle-Aland concorda com a
Sociedade Bíblica Unida. Rienecker, entretanto, defende a opção “b”, pois, de outra maneira,
não se justifica suficientemente o pedido ao segundo filho. Outra razão bastante aceitável
pode ser: “Quem é o que disse sim e quem é o que disse não? Os que dizem sim são os líderes
do povo (v.23), com os quais Jesus está discutindo e os que dizem não são os publicanos e
pecadores. Aos representantes oficiais da religião, que por princípio deram seu sim às
exigências de Deus, são contrapostos os que dizem não, que se haviam distanciado da vontade
de Deus e que, fundamentalmente, dizem não. Entretanto, acontece que Jesus se voltou
primeiro aos grupos dirigentes do povo e, quando o rejeitaram, voltou-se aos excluídos do seu
povo, que lhe deram ouvidos. Portanto, nessa sequência se retrairia simplesmente a realidade
daquilo que aconteceu (RIENECKER, 1998, p. 356).
[622] TASKER, 1991, p. 161-162.
[623] CAMARGO, 1970, p. 65-66. Camargo afirma, ainda, que esta parábola conforta os
pecadores e, ao mesmo tempo, apela para os que se iludem a si mesmos com falsas
esperanças. Mostra, ainda, duas tendências: 1) dos que têm um fim melhor do que o começo e
outros que têm um começo melhor do que o fim; 2) dos que fazem mais do que prometem e
outros que prometem mais do que fazem (p. 68).
[624] KISTEMAKER, 1970, p. 107.
[625] DEHN, In: RIENECKER, 1998, p. 357.
[626] Novamente é apropriada a pergunta de Jesus, ante a sua iminente volta: “Contudo, quando
vier o Filho do Homem, achará porventura fé na terra?” (Lc 18.8).
[627] DEHN, In: RIENECKER, 1998, p. 357.
[628] Imediatamente após a parábola dos dois filhos, Jesus relata, também, a parábola dos
lavradores maus, ainda confrontando os principais sacerdotes. Nenhum dos autores de
Harmonia dos Evangelhos contesta esta posição para a parábola e nem introduzem algum
outro trecho entre esta e a parábola anterior (HUCK, 1906, p. 154).
[629] KISTEMAKER, 1992, p. 111.
[630] MORRIS, 1996, p. 267.
[631] RIENECKER, 1998, p. 358.
[632] Aqui é utilizado o termo καιρός (kairos) ao invés de χρόνος (chronos), que denota o tempo
certo, exato, definido, o tempo de crise, os últimos tempos.
[633] Uma vinha demorava em torno de 4 a 5 anos até que as videiras começassem a produzir.
Portanto, uma nova vinha não tinha um retorno imediato. Mas era a promessa de resultados
permanentes que beneficiariam sucessivas gerações (KISTEMAKER, 1992, p. 112).
[634] Os evangelistas variam um pouco em relação ao número de servos enviados. Mateus diz
que, em cada vez, vários servos eram enviados e espancados ou mortos. Marcos relata que,
após ter enviado sucessivamente três servos, o proprietário ainda enviou outros.
(KISTEMAKER, 1992, p. 112-113). Derrett entende que o segundo servo procurou os
arrendatários no final da segunda ceifa, e o terceiro, na safra seguinte. Assim, por três anos
consecutivos, os lavradores teriam guardado para si o lucro da vinha (Apud KISTEMAKER,
1992, p. 113).
[635] Esta passagem faz lembrar Hebreus 11.35-38, onde fala dos profetas que foram torturados,
açoitados, apedrejados, provados, cerrados ao meio, mortos ao fio da espada, etc.
[636] MORRIS, 1996, p. 268.
[637] RIENECKER, 1998, p. 360.
[638] Desta maneira Jesus respondeu à pergunta sobre a Sua autoridade (Mc 11.28). A esperança
de Deus: “Meu filho respeitarão”, é apropriada e a única admissível. Ela é sensata em todos
os sentidos. Quem não iria voltar-se para este Jesus e amá-Lo? Tudo o mais só é imaginável
como “possibilidade impossível”. Todavia, é exatamente esta outra alternativa que acontece
(POHL, 1998, p. 339).
[639] O assassinato, portanto, não é cometido porque não o conhecem, mas porque o
identificaram. Pohl questiona: “Como isto é possível: reconhecê-Lo e matá-Lo?” (POHL,
1998, p. 340).
[640] Schniewind fala que a ideia de que o Filho de Deus seria servo já era conhecida pelo
judaísmo. Mas que o Messias, Filho de Deus, seria assassinado pelo seu próprio povo, era
inadmissível aos mesmos. Seus adversários, percebendo que estavam sendo visados,
procuram, então, definitivamente, dar fim à vida de Jesus (SCHNIEWIND, 1989, p. 170).
[641] Morris informa que talvez os arrendatários pensassem que o proprietário morrera e que o
filho viera tomar posse. Ou o aparecimento do filho lhes dera a ideia de que o pai transferira
ao filho o título da vinha. Conheciam-se casos em que os inquilinos reivindicavam a posse de
terras que tinham lavrado para proprietários ausentes. Numa época em que a posse era às
vezes incerta, qualquer pessoa que estivera usando um trecho de terra durante três anos era
presumivelmente o dono dela, na ausência de uma reivindicação alternativa (MORRIS, 1996,
p. 268).
[642] KISTEMAKER, 1992, p. 114.
[643] POHL, 1998, p. 340.
[644] STAGG, 1970, p. 121-122. Ploeg afirma que Jesus mesmo deu a interpretação da parábola.
O filho único do proprietário é ele e os que matam são seus adversários judeus. Estes
compreenderam tão bem que quiseram apoderar-se dele (Mt 21.46; Mc 12.12; Lc 20.19), mas
não ousaram ainda, porque temiam o povo, que o tinha como profeta. A interpretação da
parábola nos mostra o Mestre em conflito com os chefes e os representantes do povo judeu
(PLOEG, 1999, p. 99).
[645] A riqueza dessas figuras constantes e sua interpretação poderiam induzir a entender essa
parábola como alegoria. Porém, não é necessário fazê-lo aqui (RIENECKER, 1998, p. 359).
Pohl mostra como Bengel alegorizou esta parábola: a vinha é o povo judeu, a cerca sua
diferença com os povos pagãos, o lagar o sacerdócio judaico e a torre a monarquia judaica.
Assim, porém, não se chega a lugar nenhum (POHL, 1998, p. 336).
[646] RIENECKER, 1998, p. 361.
[647] A parábola da festa de bodas é separada da anterior apenas pela aplicação desta e da
questão da pedra que foi rejeitada pelos construtores (Mt 21.42-46; Mc 11.10-12; Lc 20.17-
19). Os autores também são unânimes quanto a esta posição (TISCHENDORF, 1891, p. 129).
[648] CAMARGO, 1970, p. 73.
[649] KISTEMAKER, 1992, p. 122. Os judeus sempre gostaram muito de festas, festejos e
comemorações bem elaborados. O casamento era motivo para festejos alegres, cheios de
animação, que poderiam durar até uma semana ou mais. Bois e novilhos cevados eram
abatidos, pois geralmente se esperava que todos os convidados comparecessem. No caso desta
parábola, eles não apareceram e o rei ficou grandemente encolerizado (COLEMAN, 1991, p.
107-108).
[650] Camargo lembra que o convite duplo para as bodas, um de modo geral, e outro, para o
início da festa, ou da nova economia inaugurada pelo Evangelho, vem agravar a culpa de seus
opositores, na sua atitude de obstinação, recusa e hostilidade (CAMARGO, 1970, p. 74).
[651] A expressão “chamar os convidados” (καλέσαι τύος κεκλημένους) é um jogo de palavras,
que se perde na tradução. Uma boa tradução seria “chamar os chamados” (ROBERTSON,
1988, vol. 1, p. 183).
[652] Mesmo sabendo que o convite real era equivalente a uma ordem real, recusaram-se a tomar
conhecimento do comunicado do rei.
[653] KISTEMAKER, 1992, p. 122-123.
[654] Ploeg lembra que a recusa equivalia a uma denúncia da fidelidade ao rei, a uma revolução.
O rei, querendo prevenir o pior, mandou que seus mensageiros repetissem o convite (PLOEG,
1999, p. 101).
[655] Rienecker afirma que o termo ύβρισαν significa “tratar de maneira arrogante ou
desrespeitosa, maltratar, insultar. Tratamento que visa ultrajar publicamente e humilhar
abertamente a pessoa que sofre” (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 48).
[656] Camargo faz aqui uma análise destas três atitudes: a) Não quiseram vir (v.3): foi a
principal causa da ruína de Israel. “Quantas vezes quis eu... e tu não o quiseste!” (cf. Jo 5.40);
b) Não se importaram (v.5): e se foram para seu campo ou negócio. As preocupações deste
mundo levam, muitas vezes, os homens a recusarem o convite divino; c) Os outros agarrando
os servos (v.6): aqui culmina a maldade humana. Profunda e incrível ingratidão do coração
perverso que se não abre para o conhecimento da verdade salvadora. Muitos foram os
mártires do passado que sofreram devido a esta atitude absurda e monstruosa (CAMARGO,
1970, p. 75).
[657] A consequência não é apenas exclusão do reino, depois da qual ainda se poderia existir ao
lado dele, mas a morte. “Não degustar o banquete” é equivalente ao extermínio dos
convidados renitentes (RIENECKER, 1998, p. 362).
[658] Camargo afirma que esta é a missão da Igreja: convidar a todos sem exceção, sem
preferência (CAMARGO, 1970, p. 76).
[659] KISTEMAKER, 1992, p. 123.
[660] Rienecker é da opinião de que Jesus não precisa necessariamente ser identificado como o
filho do rei, na história. Para este autor, Jesus está por trás da história. É que, por meio dele, é
emitido o último chamado decisivo a seu povo. Aqui acontece, na prática, o que é elemento
integrante na parábola dos lavradores maus, onde o dono envia o seu próprio filho amado
como última tentativa. Desse modo, a parábola e o acontecimento real e atual se confundem
(RIENECKER, 1998, p. 362).
[661] KISTEMAKER, 1992, p. 123-126.
[662] Os versos 1-10 profetizam a destruição como resposta à rejeição de Jesus pelos judeus,
enquanto os versos 11-14 ameaçam de condenação todos os futuros cristãos que se
recusassem a vir a Cristo sob suas condições (DOCKERY, 2001, p. 598).
[663] Os autores de harmonia a colocam, sem exceção, imediatamente posterior à parábola da
festa de bodas (ALAND, 1988, p. 380).
[664] JEREMIAS, 1970, p. 66-67. É interessante observar também, que o capítulo 22 inicia com
a frase: “De novo entrou Jesus a falar por parábolas”. Isto pode ser uma alusão ao fato de
serem duas as parábolas que aparecem juntamente, já que não aparecem outras neste capítulo,
mas somente no 24. Ploeg concorda que os versos 11 a 14 não fazem parte da parábola
principal e podem ser analisados separadamente, sem que a parábola da festa das bodas sofra
alterações (PLOEG, 1999, p. 103).
[665] Kistemaker informa que quando os convidados chegam à festa, recebem vestes feitas
especialmente para a ocasião. O rei convida o povo e espera que estes usem as vestes que
providenciou (KISTEMAKER, 1992, p. 126). Tenney, Packer e White Jr. confirmam que, nas
grandes ocasiões, o hospedeiro dava vestes especiais a seus convidados. Nos casamentos
judeus, o hospedeiro fornecia vestes nupciais a todos os convidados (TENNEY; PACKER;
WHITE, 2001, p. 124). Ver também as seguintes referências bíblicas: 2 Rs 10.22; Is 61.10;
Ap 19.7-8.
[666] Ver análise sobre a palavra “amigo”, na parábola dos trabalhadores da vinha. Tasker,
sugere que talvez Jesus tivesse a Judas diretamente em mira como o discípulo que estava no
Reino de Deus com falsos pretextos. Em todo o caso, é significativo que Jesus se dirige a
Judas no Getsêmani empregando a mesma palavra (26.50). (TASKER, 1991, p. 166).
[667] Robertson afirma que as trevas de fora são tanto mais escuras desde a perspectiva do salão
do banquete tão brilhantemente iluminado (ROBERTSON, 1988, vol. 1, p. 185).
[668] RIENECKER, 1998, p. 363. Von Allmen afirma que as vestes não tinham por finalidade
exclusiva proteger e cobrir o homem. Ela também o descobre e revela. Essa revelação
permite, em primeiro lugar, reconhecer, pelo hábito que leva, seu portador. O fato de as vestes
serem reveladoras daquele que traz é marcado pela mudança de roupa (paralela à mudança de
nome): aquele que recebe uma roupa nova torna-se um novo homem (Zc 3.3; Gn 41.42; Lc
8.35). As vestes não são apenas reveladoras do que se é; revelam, outrossim, o que se faz ou o
estado de espírito em que alguém se encontra. Há, assim, uma unidade entre a vestimenta e a
pessoa que a usa, que se manifesta, ainda, pelo fato, tão frequentemente atestado, que, para
purificar-se inteiramente, é preciso também lavar as vestes (Lv 11.25; 15.8; Ap 7.14-22; etc.).
(ALLMEN, 2001, p. 601-602).
[669] KISTEMAKER, 1992, p. 127.
[670] RIENECKER, 1998, p. 363.
[671] RIENECKER, 1998, p. 389.
[672] POHL, 1998, p. 379.
[673] Após as parábolas analisadas anteriormente, Jesus tem alguns diálogos com fasiseus e
herodianos (22.15-22), com saduceus (Mt 22.23-33) e com um escriba fariseu (Mt 22.34-40).
Depois disso, faz uma pergunta sobre Si mesmo (Mt 22.41-46) e, então, profere sete
condenações contra os escribas e fariseus (Mt 23.1-39). Passa, então, para o Sermão
Profético, no qual faz profecias sobre o Templo e sobre a Sua volta (Mt 24-25). Dentro deste
sermão profético fala de sinais sobre a proximidade da Sua segunda vinda. Em meio a estes
sinais relata a parábola da figueira (PEISKER, 1984, p. 140. Ver também: WATSON &
ALLEN, p. 168; SAVAGE, p. 182; HUCK, p. 170; KAYSER, p. 111; ROBERTSON, p. 150;
BROADUS, p. 183; LIETZMANN, p. 176; TISCHENDORF, p. 139; THROCKMORTON, p.
157; STEVENS & BURTON, § 131; HEIM, p. 152; BURTON & GOODSPEED, p. 226;
THOMAS, p. 32; ALAND, p. 405).
[674] O texto inicia com uma exortação: “Aprendei!” Poder-se-ia perguntar, então: Como
enfrentar a questão das aflições no mundo? Não enfrentar, de modo a continuar vivendo sem
se impressionar? Todo o sofrimento circunstante é em vão, e se é incapaz de aprender?
(POHL, 1998, p. 379).
[675] TASKER, 1991, p. 183.
[676] ERDMAN, 1974, p. 253.
[677] JEREMIAS, 1970, p. 120-121. Quanto ao termo “geração” (v.33), Morris, citando Ellis,
informa que o uso incomum do termo geração concentra-se no tipo de pessoa que persistiria
até o fim. Para ele, a expressão significa somente a última fase na história da redenção. A
revelação pública e final do Reino está ali pertinho, mas sua data pelo calendário é deixada
indeterminada” (Apud MORRIS, 1996, p. 282).
[678] PETERSON, 1962, p. 132.
[679] FUENTE, 1978. p. 58. Alguns interpretam esta parábola em termos de restauração
espiritual de Israel. Estes pensam que quando Jesus falava da figueira, queria dizer Israel.
Assim, quando Israel se voltar e suas folhas brotarem, será o tempo da vinda de Cristo. Em
outras palavras, quando Israel começar a arrepender-se e voltar a ter vida espiritual, o tempo
terá chegado. Israel é o sinal e servirá de marco para a vinda de Cristo. Para Pohl, porém, a
figueira não representa Israel. Segundo este autor, a expressão geração, nos versículos
seguintes, e o Velho Testamento não apontam para esta direção (POHL, 1998, p. 378). No
relato de Lucas, Jesus não se limita apenas à figueira, mas a ‘todas as árvores’ (21.29).
Robertson afirma que este fenômeno acontece a todas elas, porém a figueira é mais comum na
Palestina (ROBERTSON, 1988, vol. II, p. 288).
[680] Esta parábola vem imediatamente após a parábola da figueira, dentro do sermão profético
de Jesus (ROBERTSON, 1995, p. 150).
[681] TASKER, 1991, p. 180-181.
[682] RIENECKER, 1998, p. 398. Meyer, comentando os particípios “casando” e “dando-se em
casamento”, diz que os mesmos descrevem um modo de vida despreocupado e sem qualquer
prenúncio da catástrofe iminente (Apud RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 53).
[683] Sobre o comer e beber, Mounce informa que os que viviam nos dias de Noé não são
retratados como sendo especialmente perversos. Seu problema era que estavam absorvidos
demais na rotina diária do viver e, assim, foram apanhados desprevenidos pelo dilúvio
(MOUNCE, 1996, p. 241).
[684] Ryle escreve que, no dia do dilúvio, todos foram varridos, de uma vez e para sempre, sem
perdão, não-convertidos, despreparados para o encontro com Deus. E nosso Senhor diz que
“assim será também a vinda do Filho do Homem” (RYLE, 2002, p. 212).
[685] Olhando para todo o sermão escatológico (Mt 24), pode-se ver três palavras do próprio
Jesus a respeito da sua vinda. Num momento, ele afirma que o fim de todas as coisas já está
próximo. Por outro lado, ele diz que muitos sinais deveriam ainda acontecer para que tudo se
cumprisse, dando a entender uma certa demora. Mas, no versículo 36, Ele declara que “a
respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho senão somente
o Pai”. Rienecker nota, aqui, que Jesus preserva em seu discurso escatológico a subordinação
voluntária à decisão do Pai. Também neste aspecto transparece a verdadeira humanidade de
Jesus (RIENECKER, 1998, p. 397). Resumindo, Jesus disse: “venho logo, vai demorar, não
sei”. Conclusão: “Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt
24.42).
[686] RIENECKER, 1998, p. 398.
[687] DODD, 1974, p. 162. Robertson é da opinião de que, na época de Noé, havia abundância
de advertência, porém havia também uma total falta de preparação. A maior parte das pessoas
são bem indiferentes com respeito à segunda vinda, ou têm seus sistemas e programas acerca
da mesma. São poucos os que estão verdadeiramente ansiosos ou em expectativa, deixando a
Deus o tempo e os planos (ROBERTSON, 1988, vol. 1, p. 204).
[688] RIENECKER, 1998, p. 397.
[689] WATSON; ALLEN, 1953, p. 168.
[690] TRENCHARD, 1971, p. 172-173.
[691] Rienecker informa que o θυρωρός é o porteiro, aquele que montava guarda na entrada de
um pátio comum a várias casas (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 94).
[692] Pohl informa que, antes da ordem dada ao porteiro, todas as frases são formadas com
particípios; estes servem para preparar a ação em si. Assim, o caso especial do porteiro passa
para o centro da cena (POHL, 1998, p. 380-381).
[693] As casas, em Israel, eram muitas vezes separadas das estradas ou ruas por um muro alto
que as cercava. A casa, propriamente dita, juntamente com outras construções, ficava afastada
do portão. Perto da entrada, ficava a pequena casa do porteiro.
[694] KISTEMAKER, 1992, p. 137.
[695] POHL, 1998, p. 382.
[696] Estas quatro palavras denotam as quatro vigílias da noite, das 18 horas até às 6 horas do
dia seguinte (RIENECKER; ROGERS, 1988, p. 94).
[697] SCHNIEWIND, 1989, p. 200.
[698] PETERSON, 1962, p. 132.
[699] BROWN, 1978, p. 126.
[700] A ignorância quanto ao tempo do retorno do Mestre não é argumento em apoio à
indiferença ou ao fanatismo, mas para se estar alerta, com uma ansiosa expectativa da sua
vinda (ROBERTSON, 1988, vol. 1, p. 388).
[701] A parábola do pai de família segue a ênfase sobre a necessidade da vigilância dos homens
em relação à volta de Cristo. Ela é paralela à parábola do porteiro e vem praticamente
simultânea a esta (ALAND, K. 1988, p. 409. Ver também; THROCKMORTON, p. 159;
SAVAGE, p. 183; HUCK, p. 172; KAYSER, p. 112; ROBERTSON, p. 151; LIETZMANN,
p. 178; STEVENS & BURTON, § 131; THOMAS, p. 32; PEISKER, p. 142; HEIM, p. 153;
WATSON & ALLEN, p.168).
[702] A maioria das casas da Galileia era feitas de barro seco (adobe). Às vezes tinham duas
partes, situadas uma atrás da outra, sem divisão. A última, a mais alta, era destinada aos
homens e a alguns móveis, a primeira aos animais e ferramentas da agricultura. Tinham
somente uma porta, sem janelas. Depois de chuvas fortes, quase sempre tinham de reparar
essas casas. Era possível furar buraco na parede e a parábola indica que os bandidos o faziam
facilmente (PLOEG, 1999, p. 112).
[703] KISTEMAKER, 1992, p. 142.
[704] PLOEG, 1999, p. 112.
[705] Veja-se: 1 Ts 5.2; 2 Pe 3.10; Ap 3.3; Ap 16.15; etc.
[706] FUENTE, 1978, p. 59.
[707] TASKER, 1991, p. 181.
[708] RIENECKER, 1998, p. 399.
[709] Imediatamente após a parábola do pai de família, Mateus relata a parábola do servo
prudente (ROBERTSON, 1995, p. 152. Concordam os demais autores).
[710] A parábola fala de apenas um servo, que pode ser encontrado em duas atitudes diferentes,
de acordo com as quais será julgado; embora muitos comentaristas preferem mencionar dois
servos: um bom e um mau.
[711] KISTEMAKER, 1992, p. 146.
[712] RIENECKER, 1998, p. 399. Aqui provavelmente significa prudente e judicioso, nos meios
e métodos de servir fielmente ao seu senhor; ou, possivelmente, prudente em subordinar os
próprios interesses à fidelidade ao seu senhor. Quando se fala de casa, a palavra grega designa
o conjunto dos domésticos. O servo em questão designa o mordomo, encarregado de prover a
alimentação de todos os servos da casa; ao par disso, exercia a administração da casa; às
vezes com direito de punir, conforme a expressão ‘o porá sobre todos’ (BROADUS, 1966,
vol. II, p. 247).
[713] Rienecker afirma que διχοτομήσει significa “cortar em dois”. O mesmo termo é utilizado
em Ex 29.17, no sentido de dividir a vítima do sacrifício em pedaços (RIENECKER;
ROGERS, 1988, p. 54). Ploeg concorda com esta ideia, afirmando que o cortar em dois
significa punição eterna (PLOEG, 1999, p. 114).
[714] RIENECKER, 1998, p. 400.
[715] TASKER, 1991, p. 181.
[716] KISTEMAKER, 1992, p. 149.
[717] PLOEG, 1999, p. 113.
[718] KISTEMAKER, 1992, p. 149.
[719] Todos os autores de Harmonia dos Evangelhos são unânimes em colocá-la imediatamente
após a parábola do servo prudente (KAYSER, 1986, p. 112).
[720] KISTEMAKER, 1992, p. 152.
[721] As damas de honra cercavam a noiva, toda de branco, e eram, usualmente, dez (DANIEL-
ROPS, 1983, p. 86).
[722] As lâmpadas do cortejo das bodas eram tochas. Consistiam de uma longa vara com trapos
encharcados de óleo no topo. Quando acesos, esses archotes queimavam com grande brilho,
iluminando o cortejo festivo, em sua caminhada até a casa do noivo. Por causa da brilhante
chama ardente, a vasilha que continha o óleo logo se esvaziava (KISTEMAKER, 1992, p.
153).
[723] RIENECKER, 1998, p. 400.
[724] Normalmente, havia três estágios no processo matrimonial. Primeiro vinha o compromisso,
quando era feito um contrato formal entre os respectivos pais da noiva e do noivo. A este
seguia-se o noivado, cerimônia feita na casa dos pais da noiva, quando promessas mútuas
eram feitas pelas partes contratantes diante de testemunhas. (O cancelamento de um noivado
não era permitido; se ocorresse era considerado divórcio. Se o noivo morresse nesse período,
a noiva era considerada viúva). Finalmente, depois do transcurso de cerca de um ano havia o
casamento, quando o noivo, acompanhado de amigos, ia buscar a noiva na casa do pai dela e
a levava em cortejo para sua casa, onde se fazia a festa de casamento (TASKER, 1991, p.
184).
[725] Interessante notar que a parábola não menciona a noiva. Ela focaliza as damas de honra, as
quais deviam estar preparadas para acompanhar a noiva à casa do noivo, ou de seus pais, onde
aconteceria o casamento (KISTEMAKER, 1992, p. 152-153).
[726] FUENTE, 1978, p. 65.
[727] A afirmação do v.5 de que todas as jovens “tomadas de sono, adormeceram” não é feita a
modo de recriminação, mas para pôr em relevo a verdade de que, quando elas eventualmente
se levantassem, não teriam tempo para nada, exceto para reabastecer as suas lâmpadas
(TASKER, 1991, p. 185).
[728] KISTEMAKER, 1992, p. 154.
[729] Deve-se compreender que há algo de coincidente no fato de que as lâmpadas se apagaram
justo no momento da chegada do Noivo. A religião meramente externa resulta sem poder
iluminador, diante daquele que é a Luz do Mundo.
[730] KISTEMAKER, 1992, p. 154-155.
[731] BROADUS, 1966, vol. II, p. 249.
[732] As néscias encontram a porta fechada para elas. Apelam, então, para o esposo, que é agora
a autoridade (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 209). A verdade é clara: não adianta ter sido
amigo da noiva. É preciso ser conhecido do Noivo e estar aguardando a Sua chegada.
[733] NEAL, 1972, p. 130.
[734] KISTEMAKER, 1992, p. 155.
[735] KISTEMAKER, 1992, p. 156.
[736] RIENECKER, 1998, p. 401. Dodd afirma que todos os detalhes dramáticos da parábola
servem unicamente para pôr de relevo a nescidade de não se preparar e a prudência da
preparação (DODD, 1974, p. 164).
[737] Esta parábola assemelha-se com a parábola imediatamente anterior (as dez virgens), na
qual se enfatiza a vigilância e prontidão diante da volta do noivo. Agora, dá-se conotação a
essas verdades, acrescentando-se o fato de um acerto de contas, referente aos serviços
delegados (KISTEMAKER, 1992, p. 160-161).
[738] A parábola é muito semelhante à parábola das dez minas. Veja-se, naquela, a diferença
entre ambas. Isto faz necessário um estudo particular desta parábola. Para Robertson, mesmo
sendo similar à parábola das minas, a parábola dos talentos não é uma variação da mesma
história. Na sua opinião, os autores atribuem muito pouca versatilidade a Jesus, ao pensarem
ser a mesma história (ROBERTSON, 1988, vol. I, p. 209). Quanto ao contexto, a parábola dos
talentos segue a parábola das dez virgens e não há material intercalado entre ambas (ALAND,
1988, p. 413). Todos os autores concordam.
[739] Mesmo que seus ouvintes não possuíssem pessoalmente tamanhas somas de dinheiro, eles
tinham conhecimento do sistema bancário e que, tendo-se uma boa soma de dinheiro,
rapidamente podia-se ganhar muito mais através de hábeis especulações (RIENECKER, 1998,
p. 404).
[740] Tasker informa que o talento, de que fala a parábola, não era uma moeda, mas certa
medida ou peso de dinheiro que às vezes era pago em moedas cunhadas e às vezes em barras
de ouro ou de prata. Para esse autor, não é necessário tentar determinar o valor exato do
talento na circulação da moeda moderna, para compreender-se a história. O ponto é
simplesmente que diferentes somas de dinheiro foram confiadas aos três servos (TASKER,
1991, p. 186).
[741] CAMARGO, 1970, p. 84-85.
[742] JEREMIAS, 1970, p. 61.
[743] Camargo lembra que há um tempo determinado, um prazo fixo e certo para a vocação, que
deve ser aproveitado (CAMARGO, 1970, p. 86).
[744] Jeremias afirma que a renda do trabalho do escravo pertencia totalmente a seu amo
(JEREMIAS, 1983, p. 418).
[745] RIENECKER, 1998, p. 405. Palavras como: “entra no gozo do teu senhor” e “o servo
inútil lançai-o fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes”, não são apenas do
senhor da história, mas também palavras do próprio Senhor Jesus referindo-se ao dia do juízo
(KISTEMAKER, 1992, p. 165).
[746] TASKER, 1991, p. 187.
[747] KISTEMAKER, 1992, p. 166.
[748] TASKER, 1991, p. 187.
[749] DODD, 1974, p. 141.
[750] RIENECKER, 1998, p. 405.
[751] CAMARGO, 1970, p. 86.
[752] TASKER, 1991, p. 188.
[753] KISTEMAKER, 1992, p. 170. A parábola das ovelhas e dos cabritos vem imediatamente
após a parábola dos talentos, sem nenhum material intercalado (WATSON; ALLEN, 1953, p.
171. Ver também: SAVAGE, p. 186; HUCK, p. 176; KAYSER, p. 113; ROBERTSON, p.
153-154; BROADUS, p. 191; LIETZMANN, p. 181; TISCHENDORF, p. 141;
THROCKMORTON, p. 162; STEVENS & BURTON, § 131; PEISKER, p. 144; HEIM, p.
158; BURTON & GOODSPEED, p. 234; THOMAS, p. 32; ALAND, p. 416).
[754] Jeremias afirma que ajuntar é expressão técnica da linguagem pastoril; o passivo descreve
em circunlocução agir de Deus, que aqui acontece através dos anjos. O ajuntamento do
rebanho disperso é sinal característico do tempo da salvação. “Separar”: também é uma
expressão técnica da linguagem pastoril. Aqui o redentor é o pastor (JEREMIAS, 1970, p.
204-205).
[755] A metáfora do Juiz como Pastor, pode vir de Ezequiel 34.17: “Quanto a vós outras, ó
ovelhas minhas, assim diz o Senhor Deus: Eis que julgarei entre ovelhas e ovelhas, entre
carneiros e bodes” (TASKER, 1991, p. 190).
[756] Embora Jesus se refira a Si mesmo como Filho do homem, este é o único lugar dos
evangelhos em que fala do Filho do homem como o Rei. Não recusou o título quando Pilatos
Lhe perguntou se Ele era o Rei dos judeus, mas durante a sua vida encarnada havia sempre a
possibilidade de que fosse aceito como um rei terreno e convencional e Ele ainda não tinha
entrado plenamente no seu verdadeiro reino (TASKER, 1991, p. 190).
[757] Ele, que foi julgado pelas pessoas, julgará as pessoas; o condenado, condenará. Seus juízes
serão acusados e ele, o acusado, julgará. (RIENECKER, 1998, p. 408).
[758] CAMARGO, 1970, p. 89-90.
[759] A ovelha é um animal muito passivo e, por isso, torna-se presa fácil de predadores, ladrões
e de acidentes naturais. Por serem extremamente vulneráveis, dependem muito das atenções
do pastor (COLEMAN, 1991, p. 202).
[760] KISTEMAKER, 1992, p. 171. Lurker explica que a mão direita é a correta e a preferida,
da qual o homem pode esperar sucesso e felicidade. A mão esquerda é desajeitada e pode
trazer desgraça (LURKER, 1993, p. 80-81).
[761] CAMARGO, 1970, p. 91.
[762] TASKER, 1991, p. 189.
[763] Rienecker introduz, aqui, uma pergunta: “Porventura essa história do julgamento dos
povos não está demonstrando que o Senhor reconhece unilateralmente apenas a obra, que,
portanto, alcançamos a salvação somente pelas obras e não pela fé?” Ele responde: “É bem
verdade que o Senhor reconhece a obra. Contudo, faz uma grande diferença se nós elogiamos
nossa obra ou se Ele o faz. Quem ama de verdade deixa que o Senhor elogie a sua obra. Pois
esperamos o reino dos céus da Sua graça, e não da nossa obra. Existem apenas dois caminhos:
ou fazemos a vontade de Deus, ou realizamos a nossa própria” (RIENECKER, 1998, p. 410).
[764] MARTÍNEZ, 1992, p. 207.
[765] CAMARGO, 1992, p. 91.
[766] É interessante como estes, para escusar-se por terem deixado de prestar serviço ao Senhor,
baseados em que não tiveram oportunidade para isso, fazem, num tom de ofendida inocência,
a mesma pergunta que os justos fizeram com inocente surpresa quando reconhecidos pelos
seus serviços. Assim também a resposta do juiz é virtualmente a mesma, exceto quanto ao
acréscimo da vital e determinativa palavra não (TASKER, 1991, p. 189).
[767] KISTEMAKER, 1992, p. 176-179.
About The Author
Claiton André Kunz

O autor é graduado em Teologia e Filosofia. É mestre em Novo Testamento,


mestre e doutor em Teologia (com ênfase em Bíblia). É professor e diretor da
Faculdade Batista Pioneira, professor do Mestrado Profissional em Teologia
da FABAPAR e professor assistente do Master of Arts in Ministry da
Carolina University (EUA). É casado com Marivete Zanoni Kunz e pai de
Hannah Zanoni Kunz
Praise For Author

Se muitas obras importantes e boas sobre este mesmo tema já foram


escritas, qual a razão de mais uma? A razão é que esta é diferente das
demais em sua essência. Ainda que tenha muito de outros autores que já
trabalharam o assunto, pois é uma pesquisa profunda, o livro tem
características inéditas na forma como trata o material bíblico.

- Dr. Antônio Renato Gusso


(Professor e Doutor em Teologia e Ciências da Religião)

Simples e ao mesmo tempo profundas; conhecidas e sempre de novo


estudadas; estas são as parábolas de Jesus. Elas desafiam os leitores de
todos os tempos com o convite: Leia-me outra vez! É o que faz Claiton André
Kunz nesta obra sobre As Parábolas de Jesus e seu Ensino sobre o Reino de
Deus. Num estudo ao mesmo tempo claro e profundo, Kunz apresenta 42
parábolas de Jesus em sua relação com o Reino de Deus. Além de propor
uma sequência cronológica, o autor traz como novidade a organização dos
textos num arranjo quiástico. Uma obra fundamental para o estudo das
parábolas de Jesus!

- Dr. Vilson Scholz


(Teólogo e Consultor de Traduções da Sociedade Bíblica do Brasil)

Nas últimas décadas as pesquisas bíblicas deram muita atenção aos


estudos literários das Escrituras. Estruturas literárias foram avaliadas
cuidadosamente para permitir a devida compreensão e interpretação
adequada do texto bíblico. A obra de Claiton André Kunz é um excelente
material que se aprofunda na influência da estrutura quiástica no Novo
Testamento. Aqui são abordadas as Parábolas dos Evangelhos e seu ensino
fundamental, o Reino de Deus. É uma obra essencial e importante para todo
estudioso sério do Novo Testamento.

- Ms. Luiz Sayão


(Teólogo, Biblista e Linguista)

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