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sofia, tinha que descobrir e trilhar o caminho coerente da Lógica.


Lógica moderna
Os sofistas, elementos perturbadores da coerência lógica

Conceito atual de lógica Os sofistas foram pensadores do século V a.C. Iam de cidade em cidade,
ensinando a troco de dinheiro. Para atrair a atenção sobre seus ensinamentos, já
que a Grécia era composta na sua maioria de cidades democráticas, tratavam
Todos nós, mais cedo ou mais tarde, somos forçados em suas aulas de como se defender, como atacar os adversários em juízo e
a tomar lugar num banquete de consequências. como sair vencedor nas discussões. Nesta tarefa, porém, não se preocupavam
Robert Louis Stevenson com qualquer norma lógica. A única regra era sair vitorioso.

Incoerência do raciocínio

Antônio Xavier Teles O ideal máximo da Lógica é a coerência. É coerente aquilo que está de
acordo com as regras ou condições do sistema. Assim, algo pode parecer inco-
erente, absurdo, num sistema e ser coerente em outro. É o caso do problema de
Zenão, conhecido pelo nome de “Aquiles e a tartaruga”. No nosso sistema de
Na vida prática e profissional, temos necessidade de um melhor conheci- linguagem vulgar é um absurdo, é a própria incoerência, mas dentro do sistema
mento das regras e do proceder lógico, tanto para nossa defesa, como para ou dos termos em que ele colocou a questão, apresenta-se coerente e lógico.
atingirmos com mais precisão nossos objetivos. Para provar que o movimento é impossível, Zenão propôs, em resumo, os
seguintes argumentos:
Um pouco de história 1º) Aquiles numa corrida com a tartaruga — se esta tiver uma pequena
dianteira, Aquiles jamais a alcançará.
A Lógica foi sistematizada por Aristóteles (384-322 a.C.) e se constituiu 2º) Uma flecha em voo, na verdade está em repouso.
durante toda a Idade Média como matéria principal ao lado da Teologia e da Tais argumentos, depois de refutados por Aristóteles, serviram de base para
Filosofia. um renascimento matemático, quando professores alemães, que talvez nunca
Na Idade Moderna, sua influência não é pequena. Está intimamente ligada sonhassem haver uma ligação entre eles e Zenão, criaram a teoria do infinita-
ao método e à Ciência matemática. mente grande em Matemática. Weierstrass, Dedekind e Cantor eliminaram da
Aristóteles, deparando-se com todo o acervo de pensamento anterior a ele, Matemática o problema do infinitamente pequeno. De acordo com a concep-
viu-se embaraçado com uma série de contradições, algumas aparentes e outras ção do infinitesimal ou do infinitamente pequeno, em termos lógicos e matemá-
reais. Essas contradições tomaram vulto a partir dos sofistas. Diante disso, o ticos, é sempre possível colocar (mentalmente ou por suposição), entre um ponto
filósofo reagiu elaborando o primeiro sistema lógico que, por sinal, mostrou-se qualquer e o seguinte, um novo ponto.
útil até hoje. Sentiu que, antes de prosseguir nas especulações racionais da Filo- A Lógica é uma Ciência abstraía. Abstraio significa desligado do real, aquilo
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que é puramente mental.
1, 2, 3, 4, 5, — infinito.
2, 4, 6, 8, 10 — infinito.
Passagem do concreto para o abstrato
Uma parte igual ao todo. Há tantos números na série inferior como na
Se possuo um pedaço de madeira, primeiramente posso cortá-lo em duas superior e, neste caso, pode-se concluir que uma parte é igual ao todo, porque
partes, em seguida, cortar estas em outras duas e assim sucessivamente. Os a série de números pares é uma parte da série dos números naturais. Este para-
pedaços se tornariam cada vez menores e. . . (fazendo uma abstração) de tama- doxo é logicamente certo, porque é um elemento da definição de “séries infini-
nhos infinitamente pequenos. Não há nenhuma lei lógica ou mental que nos pro- tas”. Afirmar que “uma parte é igual ao todo” torna-se falso, é claro, quando se
íba continuar dividindo mentalmente aquele pedaço de madeira. Isto, no campo trata de série finita.
abstrato, é sempre possível. Por menores que sejam, ainda podemos cortá-los, Por que, afinal de contas, Zenão afirmava que Aquiles não poderia alcançar
dividi-los, reduzi-los, entenda-se, no nosso pensamento. Desta forma, nunca a tartaruga?
poderíamos chegar a um pedaço indivisível, desde que o problema passou a ser 1º) Aquiles e a tartaruga iniciam a corrida, ao mesmo tempo, levando a tar-
mental. taruga, como ele achou justo, certa vantagem.
Costumava-se pensar que uma trajetória a ser percorrida estivesse dividida 2º) Dada a partida, Aquiles parte do ponto A e a tartaruga do ponto A’. No
numa série de pequenos intervalos ou pontos. Esta suposição levou Zenão ao momento seguinte, Aquiles está emA’ a tartaruga em A”, e assim sucessivamen-
problema que segue: é melhor considerar que, quando um corpo se desloca, te:
ora está num lugar, em determinado momento considerado, ora está em outro Em cada momento Aquiles está num ponto e a tartaruga no outro seguinte e
lugar, em outro momento. Com isto, eliminamos a ideia de que o corpo passaria assim por diante.
por uma série de pontos intermediários até atingir sua meta. Baseado nesta 3º) Como se pode considerar uma série infinita de pontos na trajetória que
suposição de que o corpo passa por uma série de pontos, é que Zenão fez sua os dois devem percorrer, chega-se à conclusão que, de acordo com o raciocí-
argumentação. Estes são paradoxos, isto é, apresentam-se como falsos, mas, nio empregado, Aquiles e a tartaruga nunca se encontrarão, pois, devendo cada
dentro das condições do contexto em que surgem, são verdadeiros. O movi- um deles percorrer, sucessivamente, uma série infinita de pontos, não só nunca
mento consiste apenas no fato de os corpos estarem ora num lugar, ora noutro, chegarão ao ponto final (que é um ponto infinito), como nunca Aquiles encon-
em tempos diferentes e estarem em lugares intermediários em momentos inter- trará a tartaruga, por causa da dianteira inicial.
mediários. Não consiste em terem de passar por uma série infinita de pontos
intermediários. Desta última suposição surgiram os problemas lógicos de Zenão, Definição de Lógica
como dissemos.
Para chegarmos à compreensão de seu problema lógico, suscitado por estes Poderíamos definir Lógica como a Ciência ou o estudo das inferências
exemplos, é preciso ter certa noção de infinito, entendendo-se por infinito uma correias do ponto de vista de sua validade.
coleção de entidades que contêm como partes outras coleções, que possuem A Lógica tanto se refere a um estudo como a um sistema feito de inferências
tantas entidades como a primeira. Por exemplo: existem tantos números pares corretas. A Lógica se preocupa mais com a validade destas inferências que com
quantos números naturais. Isto pode ser mostrado escrevendo-se números pa- sua verdade exterior. Seu ideal é a coerência entre os elementos do sistema.
res e ímpares da seguinte maneira: Pelo estado atual desta Ciência somos obrigados a dividi-la em Lógica clás-
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sica e Lógica formal moderna. O critério desta divisão está baseado no méto-
do que cada matéria adota em seu estudo.
1. Lógica clássica. Não adota axiomatização no seu tratamento, isto é, não
foi reduzida a uma linguagem simbólica como a da Matemática. O silogismo,
por exemplo, obedece a regras que são expressas na linguagem comum. É uma
lógica mais intuitiva. A natureza da lógica
2. Lógica formal moderna. É estritamente axiomatizada. Adota o método
matemático. Por isto mesmo se apresenta bastante distinta de sua coirmã. É
quase Matemática. Existe um mundo de coisas perceptíveis pelos sentidos
e um mundo de leis inferidas pelo pensamento.
Spinoza

Para entendermos melhor o que é Lógica, vamos abrir um livro de Ciência e


um de Lógica. Se for um livro de Química, podemos nos deter na descrição e na
experiência do “movimento browniano”. Se misturarmos um pouco de goma
num líquido e olharmos para o mesmo a seguir, tudo parecerá tranquilo, nada
parecerá alterado, nem sequer a cor. Posto sob a lente de um microscópio,
veremos que as minúsculas partículas sólidas da goma descrevem continuamen-
te percursos variados e caprichosos. Esse fato foi observado pela primeira vez
pelo botânico Brown, daí levar seu nome. Brown observou que os movimentos
das partículas são provocados tanto pelo choque das moléculas do líquido,
quanto pelo choque com outras partículas de goma em suspensão.
Um texto científico como este nos dá vários conhecimentos novos sobre o
fenômeno estudado. Fala na atividade das moléculas de que se compõe o líqui-
do, em choque de partículas, em seus movimentos ao acaso etc.
Estes conhecimentos, porém, são apresentados através de elementos da co-
municação que não pertencem à Ciência. Estes elementos se compõem de ideias
ou conceitos, de proposições, afirmações, negações, raciocínios, inferências e
outras operações mentais que, se não forem exatas, invalidam a experiência
científica.
O estudo das proposições do raciocínio e o da coerência lógica são temas
e objeto central da Lógica como a Ciência ou o estudo das inferências cor-
reias do ponto de vista de sua validade.
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Quando uma inferência é válida? Em geral, podemos dizer que uma para que o cachorro começasse a salivar, na expectativa de sua refeição. Pode-
inferência é válida quando está de acordo com as regras do seu sistema. mos dizer que: de A (campainha) concluía B (refeição do cachorro), ou que: ao
Quando uma jogada é válida (permitida)? Quando está de acordo com as servir A, esperava-se B. Este fato biológico é conhecido pelo nome de reflexo
regras do jogo. Válido é, de certa maneira, sinônimo de correto. Uma inferência, condicionado e se constitui como fundamento básico das inferências da vida
na linguagem comum, é válida se estiver de acordo com as evidências dos fatos. diária. Foi mediante o mecanismo de inferências que o homem conseguiu sobre-
Quando o camponês infere de nuvens negras chuva próxima, o critério, a regra viver.
pela qual o faz é a evidência. Evidência, em geral, é a clara manifestação dos Inferências não-demonstrativas. Tanto o homem comum, na vida diária,
fatos. Esta evidência do exemplo acima é secundada pela experiência pessoal como o cientista, em sua pesquisa, estão quase sempre fazendo inferências. Isto
de ter visto dezenas e dezenas de vezes associados aqueles dois fatos — as é, de determinados antecedentes concluem certo ou certos consequentes. Estas
nuvens negras e a chuva. inferências da vida diária não são muito estudadas pela Lógica. Bertrand Russell
chama-as por isto de não-demonstrativas. As inferências podem ser demons-
Inferência trativas (ou lógicas) e não-demonstrativas. Estas não são lógicas, porque o
motivo pelo qual as fazemos é extralógico. Nas inferências não-demonstrativas
É o ato pelo qual de um antecedente qualquer concluímos um consequente ocorre o seguinte:
necessariamente ligado a ele. De p concluo q ou, em linguagem mais lógica: se 1. As premissas, os antecedentes são verdadeiros.
p, então q. 2. O raciocínio empregado é correto.
A Lógica se interessa pelo modo como se pode chegar a conclusões corre- 3. A conclusão é apenas provável, por isto, seu mecanismo não é rigorosa-
tas ou válidas, partindo de determinadas sentenças antecedentes. mente lógico.
Vamos imaginar um sistema lógico que tivesse apenas dois símbolos, p e q, e Uma conclusão lógica tem de ser necessária e não apenas provável, o que
uma regra, “p precede sempre q”. Que se poderia concluir validamente deste não acontece quando concluo de nuvens negras, chuva próxima. Outro fenô-
sistema em miniatura? Vejamos: meno meteorológico pode interferir, impedindo que a chuva caia.
Sejam: p e q Vejamos alguns exemplos: amanhece o dia e ouço lá fora a sinfonia do canto
p precede sempre a q dos pássaros. Infiro daí a existência de muitas aves neste bairro. Esta conclu-
Logo: pq são, apesar de nos parecer necessariamente certa, não o é. É apenas possivel-
Aí temos um exemplo de sistema lógico-dedutivo o mais simples possível. mente certa. Logo, não é do tipo lógico. O canto das aves poderia sair de um
Seus elementos e sua única regra só permitem uma única conclusão. disco, digamos, o disco do canto das aves do Brasil. Poderia ser uma alucina-
Inferências primitivas. Como vimos, inferir é o ato de tirar conclusões. De ção passageira de minha mente. A conclusão, por isto, é apenas provável com
p concluo q através de regras estabelecidas ou através da evidência natural, um grau maior ou menor de probabilidade, tendo a certeza como seu limite. A
como no caso de haver nuvens negras, concluir chuva próxima. A inferência tem este respeito recomendo: Meu Pensamento Filosófico, de Bertrand Russell
o seu fundamento biológico num fato comum a homens e animais. Se quando o (Ed. Civilização Brasileira, p. 168-84).
fato A ocorre, vem sempre junto com B, aparecendo A, conclui-se B, ou me-
lhor, espera-se B. Inferências lógicas
Nos experimentos de Pavlov, tocava-se uma campainha e dava-se comida
ao cachorro. Ora, depois de algumas repetições, bastava tocar a campainha A inferência lógica é necessária e nunca, como a anterior, provável. Em Ló-
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gica só se pode inferir um enunciado de outro ou de outros, quando está impli- Indução
cado ou incluído nos seus antecedentes (premissas). Esta inferência apenas
explicita o que estava oculto. Se concluo que o carneiro tem quatro estômagos É um modo, ou uma forma, de pensamento pelo qual, de alguns casos parti-
partindo da sentença: “todos os ruminantes têm quatro estômagos”, estou fa- culares, se conclui um proceder geral. É a operação criadora da Ciência, por
zendo uma inferência logicamente certa, desde que não me baseio na realidade excelência.
mas sim no valor lógico da frase ou sentença. O mundo da Lógica é o mundo Ligado à indução está o hábito mental de generalizar. A indução parece se
formal ou abstrato. basear no mecanismo dos reflexos condicionados. Quando se vê que vem A
Simbolizemos: sempre seguido de B, basta aparecer A para se esperar B.
Ruminantes ....................................... (M) Aristóteles distinguia dois tipos de indução: a amplificante e a incompleta.
Carneiros .......................................... (S) Chama-se amplificante quando se tem conhecimento de todos os casos particu-
Possui quatro estômagos ................... (P) lares. Nesta modalidade, não é uma marcha do conhecido para o desconheci-
do. Depois de sentir calor de segunda a domingo, eu afirmo: esta semana foi
Teríamos: |—MéP quente. É uma indução amplificante.
SéM No entanto, a verdadeira indução da Ciência é a incompleta. Baseados no
Logo: SéP exame de alguns casos particulares, concluímos para todos os elementos da
classe. Digamos: “Conheço vários A que são B. Há vários A que não conheço,
O símbolo | — significa: estabeleço, afirmo. Para a conclusão, basta simpli- mas deles afirmo que são também B, baseando-me na crença de que a natureza
ficar o M em cima e embaixo. age sempre da mesma maneira”.
Simples inferências. Na vida diária, fazemos muitas inferências. Nem todas Uma lei natural é geralmente redutível à forma: “todo A é B, ou melhor, se A
as inferências são simples assim. Pelo contrário, há longos e complicados siste- então B”. Esta última formulação recebe a designação de condicional
mas dedutivos. Empregamos: contrafato.
Inferência: quando o ato concluído é imediato ou curto. A lei da gravitação de Newton pode ser assim enunciada: “Se tivermos uma
Dedução: quando o ato concluído envolve operações complexas ou mais porção de matéria em face de outra, então teremos uma atração entre ambas,
longas. na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias”.
Nos sistemas dedutivos temos o seguinte: um conjunto de axiomas, regras A indução:
de proceder estabelecidas de antemão e, finalmente, uma série de conclusões 1) é uma generalização;
tiradas dos axiomas de acordo com as regras. 2) baseia-se no princípio de que a natureza age sempre da mesma manei-
ra;
A — axiomas 3) prende-se, de certa maneira, aos nossos hábitos de pensamento.
Até o século XIX, por força da indução, se dizia: “todos os gansos são
A T — símbolo de implicação brancos”. Dever-se-ia dizer: “em 90% dos casos, ou em X% dos casos, os
T — todos os teoremas dedutíveis de A gansos são brancos”. Na Austrália, descobriram-se gansos inteiramente negros.
A indução é uma inferência cuja verdade é sempre provável. A probabilida-
de desta verdade tende para a certeza como a um limite e muitas vezes se
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identifica com ela. Assim, a probabilidade de uma generalização aumenta com n
exemplos que a confirmem e desaparece totalmente quando surge um único
exemplo que a contradiga.

Signos e ideias

Cada pessoa é apenas o portador (neste mundo)


de uma mensagem (desconhecida). Todos nós so-
mos não mais que um símbolo para significar algo
que nós mesmos não sabemos o que seja.
Guimarães Rosa

Os homens, para se comunicar, precisam usar signos. Linguagem é um con-


junto de signos. As palavras, como signos, servem para indicar, para se referir
às ideias.
O signo é alguma coisa que representa alguma coisa.
O filósofo americano Charles Peirce o define como “algo que, sob certo
aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém... O signo
representa alguma coisa, seu objeto”. Para Peirce, o signo poderia ser icônico
(de ícone), indicial (de índice) ou simbólico (de símbolo).
Signo icônico é o que reproduz o objeto segundo sua “imagem e semelhan-
ça”. A fotografia, a escultura, o retrato são signos icônicos. A televisão é o
veículo de comunicação que mais usa os signos icônicos porque é formada
basicamente da produção e transmissão de imagens. Aliás, a criancinha, por
não entender de ícone, pensa que dentro da televisão há gente. Índice (ou indi-
cador) será o signo “que se refere ao objeto que denota em razão de ver-se
realmente afetado por aquele objeto”, ou seja, um signo que tem relação direta-
com seu objeto. Exemplo: uma área molhada significa que choveu.
Símbolo é um signo que se refere ao objeto de maneira arbitrária. Exemplo:
as palavras do dicionário de uma língua qualquer.
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noel que aquela criança criou mentalmente é um produto do seu pensamento. E
Ideias e imagens um conceito ou ideia universal. Cada papai-noel que ele via em cada loja do
centro de São Paulo tinha a mesma significação e os mesmos caracteres
Conceito ou ideia é definido pela Lógica clássica como a representação comuns. Sua significação é o “espírito de Natal”. Assim, podemos dizer que o
intelectual de alguma coisa. A imagem, por sua vez, seria a representação “espírito de Natal” é um universal.
sensível de alguma coisa. A lembrança de uma casa é uma imagem, ao passo Resumamos:
que a palavra casa se refere a um conceito ou ideia. Assim, temos a palavra — Uma palavra (realidade física qualquer) tem uma significação.
que se refere a uma ideia e uma descrição que se refere a uma imagem, coisa, — Uma obra de Arte tem uma significação.
situação ou pessoa particular. — Um ato religioso tem uma significação.
— Uma ação tem (um valor) uma significação. São, por isso, universais.
Palavra  ideia  coisa Esta significação é, até certo ponto, a intenção de apontar, indicar algo.
O inteligente garoto da entrevista reconheceu que aquele universal ou aquela
Descrição imagem coisa, fato, pessoa particular significação estava, apenas, em sua mente e como tal não se achava em nenhum
lugar. Daí, num segundo momento, afirmar que Papai-Noel não existia, depois
de descrevê-lo.
Do Singular ao Universal Como se formam as ideias? No processo de formação das ideias, há o
fenômeno da categorização. Categorização é o ato mental pelo qual despreza-
Por ocasião do Natal, uma repórter de televisão, procurando ver como a mos as particularidades dos objetos para guardar, apenas, aqueles elementos
criança percebe “Papai-Noel”, símbolo desta festividade, perguntou a um me- que são comuns a todos. Se desprezarmos as características particulares da
nino de oito anos: traíra, da tainha, da garoupa e da sardinha, chegaremos a algumas característi-
— Como é Papai-Noel? cas comuns que passarão a ser designadas pela palavra “peixe”, isto é, esta
O menino respondeu que é alto, tem botas, usa roupas vermelhas, tem um palavra passará a se referir a um “constructo” mental, existente na mente, que é
gorro e leva um saco. a ideia.
— Estes que estão aí nas lojas são o Papai-Noel?
— Não são.
— Então, onde está Papai-Noel?
O menino pensou um pouco, concentrou-se e respondeu:
— Não existe.
No mundo, encontramos sempre o particular: coisas, acontecimentos, pes-
soas, isto é, João, Pedro, Maria etc. O particular é percebido pelos sentidos.
Está fora, no mundo: os papais-noéis, cada um em sua loja, as coisas e as
pessoas, nos seus lugares. Mas, cada uma destas coisas e pessoas particulares
tem uma significação comum e esta determina caracteres também comuns.
Esta significação é um produto do pensamento (conceito, ideia). O papai-
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negação (onde existe um juízo).
2. Com respeito ao juízo é legítimo colocar o problema da verdade ou
Proposições ou sentenças falsidade.
3. Nem toda enunciação contém um juízo (ato mental de afirmação ou
negação). A interrogação e a súplica, por exemplo, têm significado, po-
Por trás de cada fato há sempre uma ideia e, apoi- rém não são nem verdadeiras (V), nem falsas (F), e por isto não são
ando todo pensamento, há sempre uma lógica. juízos.
Projetamos no mundo nossas representações men- 4. Provavelmente podemos dizer que um juízo é verdadeiro quando se
tais. Cada elemento dessas representações deveria associa nele o que está associado na realidade ou quando se separa nele
corresponder a um elemento do mundo. As cone- o que está separado na realidade.
xões dos elementos da linguagem deveriam
corresponder também às conexões existentes no O juízo é falso quando une mentalmente o que está separado na realidade ou
mundo. quando separa mentalmente o que está unido.
Resumindo: Juízo é um ato mental. Está, portanto, mais ligado à Psicologia
do que à Lógica. Proposição é a expressão deste ato mental e consta de:
a. Um enunciado gráfico ou fônico. Este varia em cada língua.
b. Um valor lógico: falso (F) ou verdadeiro (V), geralmente.
A Lógica clássica define juízo como o ato de afirmar um predicado de um c. Um significado, isto é, uma referência a um fato, ocorrência ou coi-
sujeito. Juízo seria o ato de pôr ou estabelecer uma relação ou afirmação sa. Por exemplo, se digo “João foi à aula” há, evidentemente, um ato
entre dois ou mais termos. A expressão vocal ou gráfica deste ato é a propo- mental de afirmação — um juízo.
sição ou sentença. Como nem todas as proposições têm sujeito, é melhor defi- Há igualmente:
nir proposição ou sentença como: a. Um enunciado gráfico.
b. Um valor lógico: é falso ou verdadeiro. Ele foi ou não foi à aula.
Um enunciado suscetível de verdade ou de falsidade. c. Um significado: existe uma referência a um fato externo concreto. O
significado consiste nesta referência.
Se considerarmos as ideias isoladas, como que flutuantes, sem ligação entre Em Lógica formal prescindimos geralmente do significado e ficamos apenas
si, tais como colégio, bom, ouro, maleável, equilátero, triângulo, não teremos, com:
ainda, pensamento estruturado. O pensamento começa quando, no mínimo, se (A) — Um enunciado ou expressão gráfica pura; por exemplo: se p  q,
associam duas ideias pela afirmação, negação ou através de uma relação qual- que se lê: p, então q. Se dermos significado a p e a q, o enunciado se transforma
quer. Por exemplo: o colégio é bom, o ouro é maleável, o triângulo é equilátero. em sentença ou proposição: se fizer bom tempo (p), então irei ao cinema (q).
Em última análise, o juízo é a expressão de um “comportamento das coisas”. E uma proposição por ser suscetível de verdade ou de falsidade.
Foi Aristóteles quem criou a teoria do juízo. Ela pode ser resumida nos se- A sentença ou proposição é uma expressão gráfica dotada de significado e
guintes princípios: valor lógico verdadeiro ou falso (V, F).
1. A verdade (V) ou falsidade (F) só se dá onde existe uma afirmação ou
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Estruturas das proposições nem uma inerência. E uma relação.

Para a Lógica clássica, a estrutura sentencial resumia na forma: O estudo tradicional das proposições

S — sujeito De acordo com a quantidade, as proposições podem ser universais ou par-


S éP é — verbo ticulares. Universais quando se referem a toda uma classe. Exem­plo: Todos
P — predicado os homens são mortais.
Uma proposição é particular quando seu sujeito é afirmado somente de
Para Aristóteles, qualquer verbo seria redutível ao verbo ser. uma parte da extensão do sujeito. Exemplo: Alguns homens são brasileiros.
Exemplo: O sol brilha. Todos e nenhum junto a sujeitos ou substantivos são sinais de universalida-
O Sol é brilhante. de. Alguns é sinal de particularidade.
De acordo com esta forma, todas as proposições teriam apenas a função de Quando a proposição tem um único sujeito, como “Pedro é estudioso”, é
negar ou afirmar a inerência de um atributo em uma substância. Exemplos: A uma proposição singular, podendo ser tomada como um caso especial da pro-
moça é bonita; Guilherme ê inteligente. posição singular.
Contudo, este esquema, que orientou os linguistas na criação das gramáti-
cas, é falho. Quando digo: “Pedro é maior do que Paulo”, maior do que Paulo
não é um atributo inerente a Pedro, porque não está em Pedro. A função desta
expressão maior do que consiste em estabelecer uma relação entre dois termos
ou sujeitos: Pedro e Paulo. A análise sintática desta expressão apresenta-se
quase sempre artificial. Isto pelo fato de esta estrutura sentencional não se con-
formar ao esquema anterior. O símbolo >, maior do que (A > B), exprime com
mais propriedade esta estrutura. A forma lógica ou a estrutura desta proposição
é:

x Ry R — representa uma relação binária entre


os dois termos.
Exemplo: “A moça é bonita”, isto é, está inerente (presa) à moça esta quali-
dade. Há, porém, inúmeras proposições que não se enquadram nestas duas
categorias. Exemplos: Pedro ama Maria, João está na frente de Pedro, Mário
prefere Dirce etc. Nestas sentenças afirmamos uma relação entre dois termos.
Entre Pedro e Maria estabelece-se uma relação afetiva de amor, unívoca, se for
só de Pedro para com Maria, ou biunívoca, se também de Maria para com
Pedro. A estrutura lógica destas proposições não é: S é P, nem é uma inclusão
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i . j: “O Brasil construiu a Transamazônica e não gastou dinheiro” é falsa.
I — Conjunção. As proposições estão ligadas pelo conectivo e. Esta ope-
ração se assemelha, de certo modo, à multiplicação. Exemplifiquemos: Associ-
emos através da conjunção e as seguintes sentenças: “O Brasil construiu a
Cálculo sentencial Transamazônica” e “O Brasil não gastou dinheiro na construção da
Transamazônica”.
Simbolizemos:
“O Brasil construiu a Transamazônica”, por p,
Uma proposição e sua negação não são nunca “e”
verdadeiras ao mesmo tempo. De uma proposi- “O Brasil não gastou dinheiro na construção da Transamazônica”, por q.
ção e de sua negação podemos dizer que uma A sentença resultante: “O Brasil construiu a Transamazônica e não gastou
delas pelo menos é verdadeira. dinheiro” é uma proposição composta. Quando é verdadeira e quando é falsa?
Façamos uma tabela e coloquemos de um lado as quatro combinações dos
valores F (falso), V (verdadeiro) e no outro, apelando para o significado verda-
deiro ou falso da sentença composta, procuremos o valor final da resultante:
Nosso objetivo, neste capítulo, é mostrar que a Lógica formal moderna pode
tratar a linguagem como objeto de cálculo. Vamos, contudo, apenas introduzir- Tabela I — Conjunção
nos neste assunto. Para um estudo mais profundo, será necessário procurar
textos de Lógica especializados. Vejamos um cálculo sentencial básico. Antes p q p .q
de mais nada, simbolizemos. V V V
Conectivos lógicos:
e (•); ou (v); se . . ., então (x); não (~). F V F
O conectivo e serve de elemento de conjunção das sentenças. V F F
Exemplo: Chamemos de i a proposição simples:
i: “Pedro estuda Filosofia”. F F F
j: “Pedro joga xadrez”.
i . j: “Pedro estuda Filosofia e joga xadrez”.
Para estabelecermos se uma proposição composta é verdadeira, devemos Na operação Conjunção, a resultante só é verdadeira quando as duas sen-
observar se as proposições simples são ambas verdadeiras. Se por acaso uma tenças elementares que a compõem são ambas verdadeiras. As quatro combi-
delas for falsa, então a proposição composta será falsa. nações possíveis dão apenas uma única resultante verdadeira.
Exemplo:
i: “O Brasil construiu a Transamazônica”. II — Alternação. Nesta operação, o conectivo lógico que liga as sentenças
j: “O Brasil não gastou dinheiro na construção da Transamazônica”. é ou, tomado no sentido inclusivo, como na frase abaixo. Suponhamos que
A proposição i é verdadeira. A proposição j é falsa. alguém tenha dúvida de em que países do continente americano se fala francês
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e, ao sair da hesitação, diga: “Em duas regiões se fala francês: no Canadá ou no resolver o problema, eu engulo o guarda-chuva”, quando é que esta resultante é
Haiti”. Se alguém perguntasse por dois produtores de aço na América Latina, a falsa? Examine o caso de a primeira ser verdadeira (V) e a segunda ser falsa
resposta poderia ser: “Deve ser o Brasil ou o México”. Nestes casos o ou (F). Se digo: Se fulano resolver este problema, então engulo o guarda-chu-
aparece no seu sentido inclusivo, isto é, um elemento não exclui o outro. Empre- va. Supondo F para as duas elementares, como será a resultante?
guemos, aqui, os dois exemplos anteriores. Simbolizemos ou por v. Recorren-
do ao sentido intuitivo das duas sentenças, podemos construir a: Tabela III — Implicação
Tenho as sentenças p e q associadas na condicional. Se p, então q: Repre-
Tabela II — Alternação sentamos “se . . . , então” por ()

p q pvq p q pq
V V V V V V
V F V V F F
F V V F V V
F F F F F V

A resultante só é falsa no caso de a antecedente ser verdadeira (V) e a


A alternação ou tem dois sentidos: no sentido inclusivo o significado de ou é: consequente ser falsa (F).
ou p ou q ou ambos. Exemplo: “Ou João ou Pedro têm dinheiro”. Isto é, João Por estes exemplos vemos que a verdade de uma sentença complexa
pode ter dinheiro e Pedro não. Pedro pode ter dinheiro e João não ou ambos (molecular ou resultante) é função da verdade das sentenças elementares (atô-
podem ter dinheiro. micas) que a compõem.
No sentido exclusivo significa de duas uma: ou p ou q; de outro modo: p ou
q, nunca os dois. IV — A negação. A negação, evidentemente, tem íntima relação com o valor
lógico da sentença. Opera, contudo, com uma única sentença. Representemos
III — Implicação. Estudemos agora o que se entende por implicação, isto a negação por um ~:
é, uma proposição composta cujo elemento de ligação é o condicional; “se p,
então q”. A indicação de uma implicação se faz da seguinte forma: Tabela IV
“p  q” — significando que uma decorre da outra.
p: “Paulo foi ao jogo”. p ~p
q: “Paulo foi ao Maracanã”.
p  q: Se “Paulo foi ao jogo” então “Paulo foi ao Maracanã”. Portanto: V F
Paulo foi ao jogo implica Paulo foi ao Maracanã. V V
Esta operação lógica se faz em função de: Se ..., então. Se associo: “Se ele
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Se p é igual a “a terra é imóvel”, esta expressão ~ (a terra é imóvel) pode ser O princípio do terceiro excluído é uma sentença logicamente verdadeira,
lida como: é falso que “a terra é imóvel”, pode-se ler também à maneira tradici- porque, quaisquer que sejam os valores dos seus componentes, a resultante é
onal: “a terra não é imóvel”. A expressão ~ p pode ser lida, pois, como: sempre verdadeira.
a) é falso que p Equivalência, princípio de identidade. Chamamos de equivalência a con-
b) não p dicional que se indica da seguinte forma: i  j.
Pela representação de equivalência, constatamos imediatamente a existên-
Princípios lógicos cia de uma dupla implicação. Se i indica j, então j indica i.
a) Principio de contradição. Comumente enuncia-se este princípio da se- Exemplo: “Se Pedro é o único que tem duas canetas, o único que tem duas
guinte maneira: canetas é Pedro”.
— Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Por exemplo: O i: “Pedro tem duas canetas”.
objeto A não poderia ser ao mesmo tempo B e não-B. Poderíamos expres- j: “As duas canetas pertencem a Pedro”.
sar as duas sentenças simples do princípio como p e ~p. De acordo com a i  j: “Pedro tem duas canetas” indica “As duas canetas pertencem a Pedro”.
tabela anterior, seria: j  i: “As duas canetas pertencem a Pedro” indica “Pedro tem duas cane-
tas”. Como Pedro é o único que tem duas canetas, então: i j.
p ~p p . ~p Uma equivalência é dita verdadeira quando o condicional se i, então j é
V F F verdadeiro e o condicional se j, então i também é verdadeiro; caso contrário,
diremos que a equivalência é falsa.
F V F A equivalência pode ser chamada de Princípio da Identidade. Exprime a
Assim, teríamos: p • ~p = 0, lendo-se “p e não p igual a nada”, isto é, uma impossibilidade em que se acha o espírito humano de pensar uma noção e seus
coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista, caracteres íntimos ou constitutivos como opostos e dessemelhantes. Uma coisa
digamos, branca e preta. é o conjunto de seus caracteres. Uma coisa é ela própria: “O que é, é”. Em
Como vemos, este princípio é uma sentença logicamente falsa porque, notação, a  a, onde lemos a é equivalente a a.
quaisquer que sejam os valores dos seus componentes, a resultante é sempre Conclusão: Estes três princípios são chamados, também, de leis gerais do
falsa. pensamento. Em todos os nossos juízos estamos sempre utilizando-os incons-
b) Princípio do terceiro excluído. Este princípio quer afirmar a impossibili- cientemente. Quando afirmo: “Isto é um colégio”, estou empregando os três
dade de um meio-termo entre a afirmação e a negação. “Qualquer coisa é ou princípios:
não é.” Seja a qualidade B e sua contraditória não-B. Uma coisa qualquer A é 1) Afirmo a identidade do colégio com ele mesmo, ao fazer a assertiva.
necessariamente B ou não-B. Sua simbolização seria de acordo com a tabela da 2) Excluo a sua contraditória de que ele não seja colégio (princípio do tercei-
alternação: ro excluído).
3) Excluo a possibilidade de ele ser qualquer outra coisa, a não ser um colé-
p ~p pv ~p gio, isto é, excluo a possibilidade de ele ser um colégio e uma boite ao
mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.
V F V
F V V
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Quantificadores

Uma função proposicional torna-se uma proposição quando substituímos


sua variável por um elemento determinado ou por um quantificador. Vejamos, Sistema dedutivo
quando afirmo: “A liberdade é um dom precioso”, a palavra liberdade tem tan-
tos significados, que significa “X é um dom precioso”. Esta é uma função Aristóteles apresenta seu silogismo em letras
proposicional ou uma sentença aberta. Torna-se uma proposição quando X é (stoiquéia) a fim de mostrar que chegamos à con-
substituído por um elemento determinado. Outro exemplo, a expressão X + 4 clusão não por força da matéria das premissas e
= 5 é uma função proposicional por causa de sua variável e, como vimos ante- sim por consequência de sua forma e combina-
riormente, esta expressão somente poderá ser definida como uma proposição ção.
simples se definirmos um valor qualquer para X. Há duas maneiras de se trans- Alexandre (antigo lógico grego)
formar estas sentenças abertas em proposições simples:
1. Atribuindo-se um valor à variável.
2. Fazendo-se uso de elementos chamados quantificadores.
Os quantificadores determinam valores em termos de universalidade ou em
termos de existência. Vejamos a função proposicional: “X estuda”. Torna-se
uma proposição quando afirmo:
1. Pedro estuda.
2. Para todo X, X estuda, ou para todo X, X significando uma pessoa (Pedro), Deduzir consiste em tirar uma consequência de antecedentes mediante re-
X estuda. Este é o quantificador universal e é representado pelo símbolo V. gras ou mediante a evidência. A primeira estrutura dedutiva cabalmente estuda-
A
Portanto, a proposição acima será representada por  X, X estuda. da foi o silogismo. O silogismo é um argumento dedutivo que consiste em inferir
O segundo tipo de quantificador é o existencial, cujo símbolo é: E e significa B de A e C. É um argumento mínimo ou miniatura dedutiva.
existe. Aristóteles, o criador da teoria silogística, dá o seguinte exemplo de silogismo:
Por exemplo: E X | X + 3 = 4, e lê-se: “existe um valor de X, tal que X + 3 =
4”, ou então, “existe pelo menos um valor de X, tal que X + 3 = 4”.
Há ainda um quantificador chamado quantificador existencial particular.
É representado pelo símbolo E | e significa “existe unicamente”, “existe somente
um”.
Por exemplo: E | X | X + 3= 5, significando portanto: “existe um único valor C B A Se
e
A é predicado de todo B
B é predicado de todo C
de X, tal que X + 3 = 5”.
Logo: A é predicado de todo C
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Isto pode ser simbolizado graficamente por três círculos inscritos de acordo Como se vê, todo silogismo deve ter três termos: o maior, o menor e o
com a inclusão de cada termo no seguinte. Qualquer silogismo, em essência, se médio.
reduz a este esquema da figura anterior. a) Termo maior é aquele que na conclusão exerce unicamente as funções de
No silogismo, queremos saber qual a relação entre A e C. Como caminho de predicado, tendo, por sua vez, maior extensão.
solução, valemo-nos do termo intermediário B, no qual A e C estão, de certa b) Termo menor é o sujeito da conclusão e o que tem menor extensão.
maneira, incluídos. c) Termo médio é o que nunca está na conclusão.
Estes três termos se agrupam em três proposições. As duas primeiras deno-
A é B minam-se premissas e a terceira, conclusão.
B é  C Vejamos outro exemplo:
Fernanda é bisavó de Sônia,
Logo: A é C Flávio é irmão de Sônia,
Logo: Flávio é bisneto de Fernanda.
Pense um pouquinho e logo verá que, neste tipo de silogismo, existe o que
B é o termo médio e a chave da questão. podemos chamar de estrutura interna. É por força dessa estrutura interna que
Se A = a classe dos brasileiros; se chega, de modo absolutamente certo, à conclusão. Esta se acha oculta nas
B = a classe dos homens; premissas, mas quando vem à tona, surge como certeza absoluta, desde que as
C = a classe dos mortais, teríamos o seguinte silogismo: proposições, de que se deriva, sejam perfeitamente certas.
Todos os brasileiros são homens.
Todos os homens são mortais. A forma ou estrutura silogística
Logo: Todos os brasileiros são mortais.
Conforme podemos ver na figura acima, basta simplificar o B em cima e Se retirarmos de um silogismo as palavras que se referem a coisas ou fatos,
embaixo, isto é, nas suas premissas, para termos a conclusão correta. Isto se isto é, sua matéria, ficamos apenas com a ossatura lógica (forma). Quais são os
deve ao fato de que A e C se identificam em B. Tudo se passa de acordo com a elementos desta forma? Vejamos:
lei lógica de que duas quantidades idênticas a uma terceira são idênticas entre si. Partamos do seguinte silogismo:
É o termo médio que identifica os dois conceitos que se quer confrontar. Todos os homens são mortais. (1)
Sócrates é homem.
Mecânica do silogismo Logo: .................. é .....................
Retirando os termos concretos, temos:
Suponhamos que se queira saber se o mercúrio conduz eletricidade. Bas- Todos ................. são ................
taria descobrir um termo que incluísse os outros dois. No caso, este só pode ser .............................. é ................... (2)
metal. Assim, teríamos: Logo: .................... é ...................
Todos os metais são bons condutores de eletricidade. Todo, logo são expressões auxiliares da forma. Fazem, de certa maneira,
O mercúrio é um metal. parte da mesma.
Logo: O mercúrio é bom condutor de eletricidade. O termo logicamente fundamental é o verbo predicativo é. Pode ser substi-
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tuído por “está incluído em”, “é predicado de”, “relaciona-se”. Podemos gia. Por ser indução está sujeita a erros: A talidomida foi liberada depois de
simbolizá-lo por R. Assim teríamos: exames analógicos desta natureza. Tempos depois de franqueada sua produção
e liberada ao comércio, um médico europeu lançou um brado de alarma, uma
vez que o índice de nascimentos teratológicos estava subindo paralelamente ao
do consumo da talidomida, no mesmo grupo de idade. A talidomida voltou ao
crivo da pesquisa. O que se passara? A talidomida, apesar de sua semelhança
com outros tranquilizantes de muitos bons resultados na prática clínica, veio a
revelar o seu papel teratogênico só quando o uso mais largo permitiu maior
ou usando somente letras maiúsculas: soma de informações.
Aliás, no exemplo acima trata-se de uma indução, apesar de aparecer em
A R B forma silogística. A certeza da indução nunca é total, absoluta. É, apenas, pro-
vável.
B R C (4)
A R C

Se representarmos em (4) as duas premissas por p, o ato dedutivo pelo símbolo


, que se lê: “Se . . . , então”, a conclusão por q, teremos:

S P se p, então q (5)

Há uma forma silogística da indução que presta muitos e bons serviços à


Ciência, como a Medicina, a Sociologia, a Economia. Vejamos este exemplo:
Premissa maior: “As substâncias A, B e C possuem uma propriedade idên-
tica (por exemplo, matam micróbios)”.
Premissa menor: “Uma substância X, desconhecida, verifica-se ser seme-
lhante a A, B e C, por exemplo, na cor, ou pelo fato de ser produzida por certo
cogumelo”.
Conclusão: “X tem a propriedade de A, B e C”.
Este segundo tipo de dedução aplica-se frequentemente na pes-quisa
farmacológica, química, e em outros campos. Com esta indução chega-se a
uma conclusão nova, não implícita na premissa maior, por meio de uma analo-
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formas lógicas. Eis o esquema das estruturas ou formas lógicas dos dois primei-
ros exemplos:
1. ------------------ é ------------------
2. ------------------ > ------------------
Estruturas lógicas
Os lugares vazios podem ser preenchidos por qualquer matéria. Em 1.,
tenho uma estrutura ou forma lógica predicativa, onde afirmo uma qualidade de
“É pelo fato de a Lógica se interessar apenas um sujeito. Em 2., tenho uma estrutura de relação, onde ponho os dois termos
pela forma, que a denominamos formal.” João e Pedro numa relação de grandeza (maior do que).
Em 3., se retirarmos a matéria (palavras que designam objetos ou fatos do
mundo exterior) do silogismo, teremos:

A interpretação do mundo cria determinadas estruturas mentais: estruturas


de relação entre as coisas, de propriedades: de pertence a; relação de
quantificação: todos, alguns, nenhum; relação de igualdade: maior, menor.
Assim, uma parte do mundo é composta de coisas (objetiva), outra de rela- Nem todos os silogismos se apresentam de acordo com a forma regular que
ções entre as coisas (subjetiva). conhecemos — três proposições bem definidas: duas premissas e uma conclu-
Que é, pois, estrutura ou formal Quer nas nossas sentenças, quer nos são.
nossos raciocínios, podemos sempre distinguir a forma do conteúdo objetivo. Os tipos que vamos estudar, se bem que diversos, guardam certa analogia
Vejamos um exemplo. Qual seria a forma lógica de: com o silogismo regular.
1. Pedro é estudioso.
2. Pedro é maior do que João.
Todos os homens são mortais. Silogismo hipotético
3.
{ Sócrates é homem.
Logo: Sócrates é mortal. Também conhecido pelo nome de modus ponens. É constituído de duas
premissas ligadas entre si pelas constantes se . . ., então . . . Este silogismo vale
Nenhuma palavra que denote coisa ou fato da experiência faz parte da estru- por uma regra dedutiva.
tura lógica. Se p, então q.
Não lhe pertence também o significado semântico das palavras. Nos dois Dá-se p.
primeiros exemplos, as palavras Pedro, estudioso, João, como denotam coi- Logo q.
sas, pessoas, propriedades do mundo exterior, não fazem parte, pois, da Lógi- Exemplificando:
ca. Se Pitágoras inventou o teorema que tem o seu nome, então foi um bom
Que resta, então, das sentenças dadas? Restam apenas suas estruturas ou matemático.
33 34
É certo que ele inventou. Logo: Foi um bom matemático. agora, a sociedade não poderia subsistir, não devo fazer aos outros o que não
O modus ponens é um silogismo hipotético positivo ou condicional. Quan- quero que façam a mim”.
do aparece em forma negativa chama-se modus tollens.
Se p, então q. Dilema
Não se dá p.
Logo: Não se dá q. Neste silogismo, enuncia-se uma alternativa e mostra-se depois que, quais-
Ex.: quer que sejam os termos de uma ou de outra das alternativas, a conclusão será
Se a riqueza fosse uma condição para a felicidade, então os homens viveriam sempre a mesma, como no exemplo citado de Protá­goras e seu discípulo.
tanto mais felizes quanto mais ricos fossem. O dilema é um argumento válido e tem esta forma ou estrutura:
É falso que os homens sejam tanto mais felizes quanto mais ricos.
Logo: É falso que a riqueza seja a condição essencial à felicidade. Ou p ou q.
O modus ponens se constitui numa regra geral de demonstração matemáti- Se p, então r.
ca. Se q, então s.
Logo: ou r ou s.
Entimema
O dilema é um tipo de argumento muito eficaz porque fornece duas saídas ao
(Deriva-se do grego: en timo ménei, “fica na alma”.) Neste silogismo falta problema e, em ambas, o efeito da ação é o mesmo. Assim, r ou s se equivalem.
uma premissa ou até mesmo as duas. Analise este dilema clássico, cuja estrutura seria a seguinte:
Ex.: “Penso, logo existo”.
(Falta: Todo o que pensa existe.) Ou p ou não p.
Se p, então r.
Podemos reduzir nossas conclusões morais a entimemas. Quando algum de Se não-p, então r.
nós chega à conclusão: “Não devo fazer isto”; “Tenho que fazer aquilo” etc, esta Logo r?
decisão moral é apenas uma conclusão silogística cujas premissas ficam ocultas.
As premissas poderiam ser: “Se fizer isto ficarei mal visto; ora, não quero ser Um velho professor de argumentação realiza um acordo com um de seus
mal visto; logo, não devo fazer isto”. Kant chamava as premissas morais de alunos. O aluno estaria desobrigado de pagar as lições no caso de perder a sua
imperativos categóricos, podendo pertencer a várias categorias morais. Os primeira causa. Findo o curso, o estudante não aceitou nenhuma causa. A fim de
mais válidos seriam os mais universais. Por exemplo: “Se todos praticassem cobrá-lo, o mestre processou-o. O jovem defendeu-se com este argumento:
isto, a espécie humana não poderia sobreviver. Ora, eu quero que todos vivam
e sobrevivam em paz; logo, não devo fazer isto”. Ou ganho a causa, ou perco.
Há outros imperativos chamados por ele de heterônomos: “Se fizer isto, Se ganhar, não precisarei pagar as lições (porque o professor terá perdido a
papai briga ou irei para o inferno” etc. A força de decisão lógico-moral está fora ação de cobrança).
da pessoa. Os outros imperativos baseados em princípios pessoais individuais Se perder, também não precisarei pagar as lições (em vista do acordo feito
chamam-se autônomos. Por exemplo: “Se todos fizessem como eu quero fazer com o professor).
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Não precisarei pagar as lições.
O professor, no entanto, redarguiu deste modo:
Ou ganho a causa, ou perco.
Se ganhar, o aluno precisará pagar-me (porque terei ganho a ação de co-
brança).
Se perder, o aluno também precisará pagar-me (porque terá vencido a pri-
meira causa).
 O aluno deverá pagar-me.
Não se conta de que maneira terminou o processo. O dilema duplo, no
entanto, revela que o contrato original entre o aluno e o mestre envolvia uma
contradição.

TELES, Antônio Xavier. Introdução ao estudo de filosofia. 25 ed.. São Pau-


lo: Ática, 1988, p. 153-186.

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