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ESTUDOS DE LÓGICA SIMBÓLICA


INTRODUÇÃO AO CÁLCULO PROPOSICIONAL
(Donato de Oliveira)

I – Três características da Lógica Simbólica

 A Lógica Simbólica analisa os argumentos construídos por meio de proposições


hipotéticas, compostas, para se chegar à demonstração das formas dedutivas válidas, a
partir de seus valores lógicos.
 A Lógica Simbólica desenvolve-se a partir da análise inter-proposicional, das relações
proposicionais estabelecidas na construção dos argumentos, tendo como base as
proposições compostas, daí o nome “cálculo proposicional”.
 A Lógica Simbólica desenvolve uma meta-linguagem formal, de validade geral.

O lógico parte do pressuposto de que o discurso argumentativo possui formas


invariáveis de procedimento. As proposições são organizadas a partir de modelos que se
repetem em inumeráveis exemplos. Para descobrirmos tais modelos temos somente de
inventar procedimentos que nos permitam descrevê-los. O trabalho dos lógicos consiste
em inventar tais procedimentos. A partir dos exemplos seguintes podemos seguir os
passos das descobertas lógicas.

EXEMPLIFICAÇÃO I

1) Se Vidigal é o prefeito da Serra, então, é o responsável pelos atos administrativos da


prefeitura. Ora, Vidigal é o prefeito da Serra. Logo, Vidigal é o responsável pelos atos
administrativos da prefeitura.
2) Se a vítima expressou alguma atitude contra o criminoso, então, devia estar
consciente. Ora, a vítima expressou atitude contra o criminoso. Logo, a vítima devia
estar consciente.
3) Se estudo, então, tiro boas notas. Ora, estudo. Logo, tiro boas notas.

Esses exemplos têm a mesma forma de raciocínio. Quer ver? Basta utilizarmos algum
símbolo para substituir os enunciados mantendo a mesma forma lógica da dedução.
Trata-se de uma forma de dedução com o uso de proposição composta CONDICIONAL,
ou seja, aquela que é formulada pelo operador lógico “SE...,ENTÃO...”.
Esses exemplos de argumentos têm em comum a seguinte forma lógica:

(1) Se P, então, Q.
(2) Ora, P.
[C] Logo, Q.

Essa forma de argumento é denominada MODUS PONENS, em Lógica.


EXEMPLIFICAÇÃO II

1) Se o sistema prisional reeduca o detento, então, as cadeias são instituições


educacionais. Ora, as cadeias não são instituições educacionais. Logo, o sistema
prisional não reeduca o detento.
2) Se a Educação é prioridade nacional, então, os investimentos em educação superior
aumentaram ano passado. Ora, os investimentos em educação superior não
aumentaram ano passado. Logo, a Educação não é prioridade nacional.
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3) Se o Estado é um poder social, então, o Estado deveria ser socialmente controlado. Ora,
o Estado não é socialmente controlado. Logo, o Estado não é um poder social.

Também esses três exemplos possuem em comum a mesma forma lógica. Tem como
base a proposição CONDICIONAL e a proposição de NEGAÇÃO, que é formulada pelo
operador lógico de negação “NÃO”. É denominado MODUS TOLLENS, em Lógica.
Utilizando símbolos gerais, podemos representá-la da seguinte forma:
(1) Se P, então, Q.
(2) Não é o caso de Q (não-Q).
[C] Não é o caso de P (não-P).
EXEMPLIFICAÇÃO III

1) Se me alimento bem, então, tenho saúde. Ora, se tenho saúde, então, vivo a vida com
mais prazer. Logo, se me alimento bem, então, vivo a vida com mais prazer.
2) Se as leis são justas, então, os cidadãos governam-se pelo Estado. Ora, se os cidadãos
governam-se pelo Estado, então, o bem comum é respeitado. Logo, se as leis são justas,
então, o bem comum é respeitado.
3) Se o tempo é eterno, então, não há sucessão de momentos. Ora, se não há sucessão
de momentos, então, não há mortalidade. Logo, se o tempo é eterno, então, não há
mortalidade.

Também esses exemplos têm como base a proposição CONDICIONAL. Sua forma comum
pode ser assim representada:

(1) Se P, então, Q.
(2) Se Q, então, R.
[C] Se P, então, R.
Em Lógica, essa forma é denominada SILOGISMO HIPOTÉTICO.

EXEMPLIFICAÇÃO IV

1) FHC é um presidente honesto, ou está acobertando corrupção no governo. Ora


FHC não está acobertando corrupção no governo. Logo, FHC é um presidente
honesto.
2) ACM está se promovendo na mídia, ou tem provas contra o governo. Ora, ACM
não tem provas contra o governo. Logo, ACM está se promovendo na mídia.
3) Ou a economia está crescendo, ou a inflação está voltando. Ora, a inflação não
está voltando. Logo, a economia está crescendo.

A forma comum a esses três exemplos pode ser escrita assim:

(1) P ou Q.
(2) Não se dá Q (não Q).
[C]  P.
Essa forma lógica é denominada SILOGISMO DISJUNTIVO. Tem como base o uso
do operador lógico de DISJUNÇÃO “OU” e de NEGAÇÃO “NÃO”.

EXEMPLIFICAÇÃO V
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1)Se trabalho honestamente, então, ganho pouco e, se roubo, então, poderia ficar
rico. Ora, ou trabalho honestamente ou roubo. Logo, ou ganho pouco ou poderia ficar rico.
2) Se o professor desconhece muitas coisas, então, é um ignorante e, se o professor
sabe poucas coisas, então, tem uma formação deficiente. Ora, ou o professor desconhece
muitas coisas, ou sabe poucas coisas. Logo, ou o professor é um ignorante, ou tem uma
formação deficiente.
3) Se os homens são bons, então, não há necessidade de leis para impedir
malfeitorias e, se os homens são maus, então, as leis não conseguirão impedir que cometam
malfeitorias. Ora, ou os homens são bons ou são maus. Logo, não há necessidade de leis
para impedir malfeitorias ou, as leis não conseguirão impedir que cometam malfeitorias.

Esses exemplos tem uma forma de raciocínio denominada DILEMA CONSTRUTIVO.


É construída através da CONJUNÇÃO (expressa pelo operador lógico “E”) de duas
proposições CONDICIONAIS e pelas DISJUNÇÕES ( “OU” ) de seus componentes. Sua
forma comum pode ser representada assim:

(1) Se P, então, Q e, se R, então, S.


(2) Ou P, ou R.
[C] Ou Q, ou S

EXEMPLIFICAÇÃO VI

1) Ou o prefeito é honesto e é democrático, ou é corrupto e é autoritário. Ora, o prefeito não


é honesto e democrático. Logo, o prefeito é corrupto e autoritário.
2) Ou o aluno copia dos colegas e engana o professor, ou é autodidata e estudioso. Ora,
não se dá que o aluno copia dos colegas e engana o professor. Logo, o aluno é
autodidata e estudioso.
3) Ou o juiz marca as faltas violentas e dá cartões amarelos ou, o juiz se acovarda e deixa
o jogo ficar violento. Ora, o juiz não marca as faltas violentas e dá cartões amarelos.
Logo, o juiz se acovarda e deixa o jogo ficar violento.

Esses exemplos repetem o modelo de raciocínio anteriormente descrito como


SILOGISMO DISJUNTIVO, mas com um detalhe a mais, qual seja, os elementos da
DISJUNÇÃO são formados por duas CONJUNÇÕES proposicionais. No momento, esses
exemplos apenas nos servem para demonstrar o uso de CONJUNÇÕES proposicionais
pelo raciocínio. Para demonstrar essa forma, basta apenas utilizarmos de PONTUAÇÃO
(usando PARÊNTESES, COLCHETES, ouCHAVES) para expressarmos o sentido lógico
dos enunciados. Podemos, então, escrevê-la, assim:

(1) (P e Q) ou (R e S).
(2) Não é o caso de (P e Q).
[C] (R e S).

A construção de discursos argumentativos utiliza-se de todas essas formas de


raciocínio. Ajuntam-se várias formas de raciocínio num mesmo processo discursivo. Faz-
se um encadeamento argumentativo. Observe os seguintes exemplos:

1) Vou à praia ou vou à piscina; se vou à praia, deverei ir com os amigos; se vou à piscina,
irei com minha família. Ora, não sairei com minha família. Logo, irei à praia.
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2) Se os pertences da vítima ficaram intactos, então o roubo não foi o motivo do crime. Mas
o motivo do crime foi o roubo ou a vingança. Portanto, o motivo do crime deve Ter sido a
vingança.
3) Se tiver um terno novo e se tiver dinheiro, levarei minha namorada ao baile. Mas se não
a levar ao baile, certamente, ela ficará chateada comigo. Ora, se eu não pagar ao
alfaiate, não terei o terno novo e, se pagar, ficarei sem dinheiro. Ou pago ao alfaiate ou
não lhe pago. Logo, certamente minha namorada ficará chateada comigo.

Já sabemos que o objetivo principal da Lógica é estabelecer as formas válidas


de argumentos, diferenciando-as das formas inválidas. Mas, como analisar aos exemplos
de argumentos acima expostos? Como determinar sua validade? A teoria silogística pode
ajudar-nos? Não. A teoria silogística não é apropriada para a análise dessas formas de
argumentos. Por que? Porque eles exigem uma teoria que analise a lógica das
proposições compostas, considerando formas de argumentação hipotéticas. Essa Lógica
foi denomina em fins do sec. XIX, pelo nome de LÓGICA SIMBÓLICA, ou LÓGICA
MATEMÁTICA. L. Wittgenstein e B. Russell deram à Lógica Simbólica moderna a
linguagem mais utilizada. Elaboraram dois campos de estudos lógicos, relacionados e
independentes, denominando um de CÁLCULO PROPOSICIONAL e ao outro de
CÁLCULOS DE PREDICADOS, ou LÓGICA DAS RELAÇÕES. Nosso estudo aqui
apresentado detém-se apenas no CÁLCULO PROPOSICIONAL.

A Proposição

A Lógica considera que a unidade menor da linguagem é a sentença, o enunciado,


ou simplesmente, a PROPOSIÇÃO, da qual se pode afirmar que seja VERDADEIRA, ou
FALSA, a partir dos mais variados critérios e propósitos. Só enquanto formam uma
proposição é que as palavras têm sentido. As palavras, isoladamente, são vazias de
interesse. Uma definição comum, em Lógica, considera que

Proposição é uma sentença declarativa afirmativa (declara que é) ou negativa (declara que
não é) e que tem a propriedade de poder ser verdadeira ou falsa.

O principal uso que fazemos da língua é o uso proposicional, tanto nos usos do falar
cotidiano, quanto nos usos discursivos das ciências, ou da filosofia. Sentença, enunciado,
ou proposição ocorrem nas formas de usos de qualquer língua. Uma proposição pode ser
uma simples “frase” ou oração declarativa de uma língua qualquer, mas pode também ser
composta de mais partes, formando uma sequência maior. A proposição é uma sequência
de signos da língua que tem valor de verdade, que é o poder ser julgada como uma verdade,
ou uma falsidade. Verdade ou falsidade são valores elementares de proposições,
acompanham as proposições. Veja os exemplos a seguir e procure classificar os diferentes
tipos de proposições que aí ocorrem.

1. É fácil ser aprovado em Lógica.


2. Alguns estudantes são filósofos.
3. As CPI´s são arranjos políticos.
4. O começo de tudo está no infinito.
5. A greve acabou porque o governo mostrou-se intransigente.
6. Se você vier, ficarei feliz.
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7. As CPI´s só servem para encobrir escândalos e enganar o povo.


8. Ou o povo exige punição, ou as CPI´s continuarão protegendo os maus políticos.
9. Haverá aulas, só se o professor não estiver doente.
10. Não iremos à praia, hoje.
11. Todos estamos felizes, não.
12. É necessário que Maria viaje.
13. Não é necessário que Maria viaje.
14. É possível que algum aluno fique reprovado.
15. Não é possível que algum aluno fique reprovado.

Cada exemplo dado acima é exemplo de uma proposição. Como se vê nos


exemplos acima, a análise lógica pode expor os modos elementares (as formas básicas = a
ordem básica = modelos de uso ) de construção proposicional. Podemos classificar esses
modelos elementares? Sim. A Lógica classifica as proposições em proposições simples,
que são aquelas formadas por um enunciado apenas ( 1 a 4, dos exemplos); proposições
compostas, que são aquelas formadas por dois ou mais enunciados ( 5 a 11 dos exemplos
); e proposições modais (12 a 15 dos exemplos), que são aquelas em que se indica os
modos de sua consideração (necessidade, possibilidade, contingência).
As Proposições Simples, ou categóricas, são aquelas formadas de três partes, o
sujeito, o verbo e o predicado e tem a forma geral: S – é/não é P – que exprime uma
condições lógica elementar: a afirmação e a negação.
As Proposições Compostas, ou hipotéticas são as seguintes:
1) A NEGAÇÃO, que diz que não é o caso que, não convém que, não se dá que,
não ocorre que, etc. e seu símbolo lógico-linguístico é o “NÃO”.
2) A CONJUNÇÃO, que vincula necessariamente, em sua condição de verdade,
duas proposições ou mais. Seu símbolo lógico-linguístico é o “E”.
3) A DISJUNÇÃO, que vincula duas proposições de modo hipotético delimitando
o valor de verdade de ao menos uma delas, como verdadeiro, e não admitindo
a falsidade de ambas. Seu símbolo lógico-linguístico é o “OU”.
4) A CONDICIONAL, que vincula duas proposições numa relação de
condicionante e condicionada, antecedente e consequente, de tal modo que o
valor de verdade do conseqüente, é uma conseqüência necessária do valor
de verdade do antecedente. Seu símbolo lógico-linguístico é o “SE...,
ENTÃO...”.
5) A BI-CONDICONAL, que vincula duas proposições numa relação que implica
em dupla condicional, ou seja, o caso em que o conseqüente também implica
o conseqüente, necessariamente. Seu símbolo lógico-linguístico é o “...SE E
SOMENTE SE...”.

Compreender bem as classes de proposições é condição essencial para análise dos


argumentos. Argumento é a expressão lingüística de um modo de raciocinar, e expressa
uma inferência proposicional.
Existem também outros tipos de sentenças: a) imperativas, que ordenam: p. ex.: não
saiam da sala! b) exortativas: p. ex.: sejam fiéis! c) exclamativas: p. ex.: viva! O Vasco
venceu! c ) interrogativas: p. ex.: vamos estudar lógica, hoje? Esse tipo de sentença não
interessa aos estudos de lógica. Também as sentenças na forma de versos, poemas, ficção
literária, ou de caráter religioso não são objetos da análise lógica. Esse tipo de sentença está
fora do campo da lógica binária. Servem a outros propósitos e não a propósitos
argumentativos.
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II – AS PROPOSIÇÕES COMPOSTAS. As proposições podem ser classificadas em


proposições simples e em proposições compostas.

Uma proposição simples é uma sequência linguística declarativa, da qual se pode


afirmar o verdadeiro ou o falso; p. ex., “ Marx é filósofo”.

Uma proposição composta é aquele que contém outro enunciado como sua parte
componente, dependendo dos valores de seus componentes, para a determinação do seu
valor de verdadeira ou falsa. P. ex., “Marx é filósofo e Marx é economista”.

Deve-se observar que os componentes de proposições compostas podem ser eles


próprios formados por outras proposições compostas.

As proposições definem-se por seus valores lógicos. Define-se como valor lógico de
uma proposição A VERDADE (V) se a proposição é verdadeira e a FALSIDADE (F) se a
proposição é falsa.
Assim é que, na análise proposicional a lógica estabelece dois princípios elementares de
decisão:

1) PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: segundo esse princípio, uma proposição não


pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo e sob as mesmas condições.
2) PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: segundo esse princípio, toda proposição ou
é verdadeira, ou é falsa e não se dá um terceiro valor.

A observância destes princípios define a Lógica Simbólica como uma lógica bivalente,
ou seja, que interpreta qualquer proposição como definida por apenas um dos valores entre
V, ou F.

O cálculo formal dos valores de verdade (de ser Verdadeiro ou Falso) das formas de
proposições compostas e dos argumentos se dará através da construção de TABELAS DE
VERDADE. A TABELA DE VERDADE calcula o universo de possibilidades de Verdade e
Falsidade da forma lógica da proposição composta. Qualquer enunciado composto tem seu
valor de verdade completamente determinado pelos valores de verdade de seus
componentes. Por isso, a Lógica Simbólica denomina-o enunciado composto funcional de
verdade. As proposições compostas são formadas pelos seguintes operadores lógicos,
ou conectivos lógicos:
1) de NEGAÇÃO – NÃO, NÃO É O CASO QUE, NÃO SE DÁ QUE, entre outros.
2) De CONJUNÇÃO – E .
3) De DISJUNÇÃO – OU.
4) CONDICIONAL – SE...,ENTÃO.
5) BICONDICIONAL – SE E SOMENTE SE.

II. 1 – A NEGAÇÃO – O operador de negação prefixa um enunciado para formar um novo


enunciado, qual seja, a NEGAÇÃO daquele enunciado. A proposição “não se dá que o Brasil
é independente” é a negação da proposição “o Brasil é independente”. A negação pode
também incidir sobre outra negação como na proposição “não é o caso de o Brasil não ser
independente”. Descrição lógica da negação:

OPERADOR LÓGICO SÍMBOLO


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Não; Não é o caso que ~

EXEMPLO: INSTÂNCIA DA FORMA FORMA LÓGICA

1) Não se dá que o Brasil é independente NÃO-P ~P (usa-se também: -P)

TABELA DE VERDADE:
P ~P
1 V F
2 F V

Podemos exemplificar cada linha da tabela da seguinte forma:


1) P: Brasília é a capital do Brasil = V / ~P: Brasília não é a capital do Brasil = F
2) P: Brasília é a capital dos EUA = F / ~P: Brasília não é a capital dos EUA = V

II.2 – A CONJUNÇÃO – O operador de conjunção “e” compõe duas proposições,


que se combinam de modo a estabelecer uma conexão necessária entre os valores de seus
elementos. Denomina-se conjuntivos às proposições componentes da conjunção. Exemplo:
“o Brasil é independente e um pais soberano”.

OPERADOR LÓGICO: “e”

SÍMBOLO: “.” (outros: ; &)

EXEMPLO: A justiça é imparcial e é universal


INSTÂNCIA DA FORMA: P e Q
FORMA LÓGICA: P.Q

TABELA DE VERDADE:
P Q P.Q
1 V V V
2 V F F
3 F V F
4 F F F
Exemplos:
1) P: A terra é um planeta (V)
Q: 7 + 5 = 12 (V)
_____________________________
(P • Q) : A terra é um planeta e (7+5=12) = V • V = V

2) P: Darcy Ribeiro foi um Antropólogo (V)


Q: Vitória é a capital da Bahia (F)
__________________________________
(P • Q): Darcy Ribeiro foi Antropólogo e Vitória é a capital da Bahia = V • F = F

3) P: O sol é um planeta (F)


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Q: 7 é um número primo (V)


_____________________________
(P • Q): O sol é um planeta e 7 é um número primo = F • V=F

4) P: Hegel era um filósofo norte-americano (F)


Q: 10²= 20 (F)
_______________________________________
(P • Q): Hegel era um filósofo norte-americano e 10²= 20 = F • F = F

II.3 – A DISJUNÇÃO – a proposição composta disjuntiva é formada pelo operador


lógico “ou”. Os dois enunciados componentes são denominados disjuntos. Existem dois
tipos de disjunção a) débil ou inclusiva, p exemplo, quando se afirma “ Sócrates será médico
ou jogador de futebol”, podendo ocorrer os dois casos. E, b) forte, exclusiva, p. exemplo,
quando se afirma: “João chegará nesta sala às 19 ou às 22 horas”. Segundo I. COPI,
“interpretamos a disjunção inclusiva de dois enunciados no sentido de que afirma que,
pelo menos um dos enunciados é verdadeiro; e a disjunção exclusiva como afirmando que,
pelo menos um dos enunciados é verdadeiro, mas não ambos são verdadeiros.” Então, a
disjunção tem um uso comum, que é pressupor o fato de que pelos um dos seus elementos
seja verdadeiro e isto nos basta para definirmos uma forma comum a seus usos distintos.

OPERADOR LÓGICO: “ou”


SÍMBOLO: “v”

EXEMPLO: “ O Brasil é independente ou é mal administrado”


INSTÂNCIA DA FORMA: P ou Q
FORMA LÓGICA: PvQ

TABELA DE VERDADE:
P Q PvQ
V V V
V F V
F V V
F F F

Exemplos:

1) P: Vitória é a capital do Espírito Santo (Br) (V)


Q: 10²= 100 (V)
____________________________________________
(P v Q): Vitória é a capital do Espírito Santo (Br) ou 10²= 100 = V v V = V

2) P: Machado de Assis escreveu o romance Dom Casmurro (V)


Q: ½ é um número inteiro (F)
__________________________________________________
(P v Q): Machado de Assis escreveu o romance Dom Casmurro ou ½ é um número inteiro =
VvV=V
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3) P: Fevereiro é um mês de 21 dias (F)


Q: ½ é um número fracionário (V)
__________________________________________________
(P v Q) Fevereiro é um mês de 21 dias ou ½ é um número inteiro = F v V = V

4) P: O Flamengo nunca foi campeão carioca de futebol (F)


Q: O Vasco da Gama nunca foi campeão brasileiro de futebol (F)
_______________________________________________________
(P v Q): O Flamengo nunca foi campeão carioca de futebol e o Vasco da Gama nunca foi
campeão brasileiro de futebol = F v F = F

Estudos de Lógica Simbólica – Donato de Oliveira

EXERCÍCIOS

I – Simbolize as proposições a seguir e defina seus Valores de Verdade, considerando os


conhecimentos disponíveis sobre a verdade ou falsidade de cada enunciado.

1) Tiradentes foi inconfidente e Frei Caneca foi revolucionário.


2) Não ocorre que Tiradentes foi inconfidente e Frei Caneca foi revolucionário.
3) Tiradentes não foi inconfidente e Frei Caneca não foi revolucionário.
4) Tiradentes foi inconfidente ou Frei Caneca foi revolucionário.
5) Tiradentes foi inconfidente ou Tiradentes não foi inconfidente.
6) Frei Caneca foi revolucionário ou Frei Caneca não foi revolucionário.
7) Ou Frei Caneca foi revolucionário e Tiradentes foi inconfidente ou, Frei Caneca foi
revolucionário e Tiradentes não foi inconfidente.
8) Frei Caneca foi revolucionário ou Che Guevara foi revolucionário e,Tiradentes não foi
inconfidente.
9) Não se dá que, Che Guevara foi revolucionário e Tiradentes foi inconfidente ou, não se
dá que, Frei Caneca foi revolucionário ou Tiradentes foi inconfidente.
10) Jango foi um presidente reformista ou não se dá que Tiradentes foi inconfidente, nem
Che Guevara foi revolucionário.
11) Nem Jango foi presidente reformista, nem Che Guevara foi revolucionário, assim como,
ou Frei Caneca não foi revolucionário ou Tiradentes não foi inconfidente.
12) Ou Jango foi um presidente reformista e Che Guevara foi revolucionário ou, Tiradentes
foi inconfidente e Jango não foi um presidente reformista.
13) Não é verdade que, ou Jango não foi um presidente reformista, nem Che Guevara não
foi revolucionário ou, Tiradentes não foi inconfidente e nem Frei Caneca foi
revolucionário.

II – Considerando os símbolos A, B e C como VERDADEIROS e os símbolos X, Y e Z como


FALSOS, defina os valores de verdade das fórmulas instanciais a seguir:

1) [A . (B v C)] . ~ [(A . B) v (A . C)]


2) ~ [X . (~A v Z)] v [(X . ~A) v (X . Z)]
3) ~{ [ (~A v B) . (~B v A) ] . ~[ (A . B) v (~A . ~B) ] }
4) ~{ [ (~C v Z ) . (~Z v C) ] . ~ [ (C . Z) v ( ~C . ~Z) ] }
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5) [ B v (~X . ~A) ] . ~[ (B v ~X) . (B v ~A)]


6) ~(B v X) . ~(Y v Z)
7) ~(C v B) v ~[ ~(~X . Y)]

II.4 – A CONDICIONAL – a proposição composta condicional é construído pelo


operador lógico “ se..., então...” , também denominado por enunciado implicativo ou uma
implicação hipotética. O componente que é definido pelo “se...” é denominado o
ANTECEDENTE, ou, o condicionante e o componente que é definido pelo “então...” é
denominado o CONSEQUENTE, ou, o condicionado. A nosso modo, seguindo I. COPI e B.
RUSSELL, podemos afirmar que a proposição condicional define-se pela unidade material
dos elementos da implicação “se...,então...”, considerada apenas como matéria linguística
e não como referentes ao mundo extra-linguístico. Essa forma geral da implicação
condicional é conhecida pela denominação implicação material (a proposição enquanto
algo material). Pode-se descrevê-la melhor do seguinte modo:

A - Qualquer enunciado afirmativo ou negativo VERDADEIRO implica qualquer


enunciado afirmativo ou negativo VERDADEIRO, mas NÃO IMPLICA qualquer enunciado
afirmativo ou negativo FALSO. Ou seja, se o Antecedente é VERDADEIRO e o Consequente
é VERDADEIRO, então a IMPLICAÇÃO é VERDADEIRO, mas se o Antecedente é
VERDADEIRO e o Consequente é FALSO, então a IMPLICAÇÃO é FALSA.
B - Qualquer enunciado afirmativo ou negativo FALSO IMPLICA qualquer enunciado
afirmativo ou negativo VERDADEIRO OU FALSO. Ou seja, se o Antecedente é FALSO e o
Consequente é VERDADEIRO, então a IMPLICAÇÃO é VERDADEIRA e, se o Antecedente
é FALSO e o Consequente é FALSO, então a IMPLICAÇÃO é VERDADEIRA.

Por princípio devemos abandonar o caráter referencial ( o descrever um objeto não-


linguístico ) das proposições implicadas na condicional, preservando seu caráter de
implicação hipotética. Os exemplos de uso da condicional podem nos enganar quanto a
definição do seu valor de verdade. Não são os conteúdos proposicionais que definem o valor
da condicional, mas sua forma lógica. Essa forma pode ser definida a partir da caracterização
dada acima. Mas vejamos alguns exemplos possíveis de usos da condicional em diferentes
matérias:
1) Lógico: “ Se todo M é T e todo t é M, então, todo t é T ”.
2) Causal: “ Se a água for aquecida a 100 graus centígrados, então, ela ferve “.
3) Psicológico: “ Se meu amor vier, então, ficarei feliz.
4) Irônico: “ Se Duque Caxias foi pacifista, então, Adolfo Hitler foi um monge budista
“.

Outros modos de utilizar a Condicional em nossa língua são: “Deverá fazer frio, se
chover”; “T é um triângulo, somente se T é um polígono de três lados”; “Se o tempo
estiver bom, sairemos para pescar”; essa alteração da condicional pela linguagem
natural não altera sua ordem lógica.
OPERADOR LÓGICO: “ se..., então...”
SÍMBOLO:  (outro:  ) – simboliza a IMPLICAÇÃO MATERIAL.
EXEMPLO: “ Se conselho valesse alguma coisa, então, não seria dado de graça”
INSTÂNCIA DA FORMA: Se P, então, Q.
FORMA LÓGICA: P  Q ( expressão universal da condicional
segundo a ciência da lógica)

TABELA DE VERDADE
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P Q PQ
1 V V V
2 V F F
3 F V V
4 F F V

EXEMPLOS:
1) P: Tiradentes morreu enforcado (V)
Q: 5 + 7 = 12 (V)
_____________________________________________________
(P  Q): Se Tiradentes morreu enforcado, então, 5 + 7 = 12. =V  V= V

2) P: O mês de janeiro tem 31 dias; (V)


Q: A lua é uma estrela; (F)
__________________________________________
(P  Q): Se o mês de janeiro tem 31 dias, então, a lua é uma estrela. = V  F = F

3) P: O átomo é indivisível; (F)


Q: Camões é o autor de “Os Lusíadas”; (V)
____________________________________________________________
(P  Q): Se o átomo é indivisível, então, Camões é o autor de “Os Lusíadas”. = F  V= V

4) P: Vinícius de Moraes era alemão; ( F )


Q: O ano tem nove meses; (F)
___________________________________________________________________
P  Q: Se Vinícius de Moraes era alemão, então, o ano tem nove meses. = F  F = V

Há ainda outro modo, utilizado pelos lógicos, de demonstrar o sentido lógico dos valores de
verdade da condicional que é o da definição de suas formas equivalentes. Ou seja,
demonstrando-se os valores das formas lógicas equivalentes da condicional fica também
demonstrado seu valor. Assim sendo, por definição, P  Q é equivalente a ~(P . ~Q )
e, por implicação material, P  Q é equivalente a ~P v Q. Vejamos na Tabela de Verdade:

P Q ~Q P . ~Q ~(P . ~Q) ~P v Q PQ


V V F F V V V
V F V V F F F
F V F F V V V
F F V F V V V

Assim sendo, propomos que a forma lógica da condicional seja compreendida


somente a partir de seu caráter linguístico, donde justifica-se seu sentido hipotético que
possibilita-nos estabelecer sua forma lógica geral em uma simbologia adequada.

II.5 – A BICONDICIONAL – Uma proposição composta bicondicional é aquela que


estabelece entre seus elementos uma dupla implicação, onde seus elementos são
ambivalentes. Expressa-se pelo operador lógico “...se e somente se...”, como por exemplo
em:
- “Seremos campeões se e somente se vencermos a partida da final do campeonato.”
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- “T é um triângulo se e somente se T é um polígono de três lados”.


- “O jogador X é o goleiro se e somente ele é o único do time que pode pegar a bola
com as mãos dentro da área de defesa do gol”.
Sabemos que a IMPLICAÇÃO se dá pelo uso do operador lógico “P  Q” que define
a proposição CONDICIONAL. Ora, a BI-CONDICIONAL afirma, então, a conjunção da mútua
implicação dos elementos da condicional, com a seguinte forma,
[(P  Q) e (Q  P)], que é equivalente a “...se e somente se...”

OPERADOR LÓGICO: ...se e somente se...


SÍMBOLO:  (OUTRO:  )
INSTÂNCIA DA FORMA: P se e somente Q

FORMA LÓGICA: P Q

TABELA DE VERDADE

P Q P Q
1 V V V
2 V F F
3 F V F
4 F F V

EXEMPLOS:

1) P: Paris é uma cidade localizada na Europa; ( V)


Q: Paris é a capital da França; (V)
______________________________________________________
(P Q): Paris é uma cidade localizada na Europa se e somente se Paris é a capital da França. = V V = V

2) P: Kant é o autor da “Crítica da Razão Pura”; (V)


Q: Brasília é a capital do Japão; (F)
________________________________________________________
(P Q): Kant é o autor da “Crítica da Razão Pura” se e somente se Brasília é a capital do
Japão. = V F = F

3) P: Barach Obama é o Presidente do Brasil; ( F)


Q: Vitória é capital do Espírito Santo; (V)
__________________________________________________________
(P Q): Barach Obama é o Presidente do Braisl se e somente se Vitória é a capital do
Espírito Santo. = F V = F

4) P: A Terra é plana; (F)


Q: 1/5 é um número inteiro; (F)
________________________________________________________
(P Q): A terra é plana se e somente se 1/5 é um número inteiro. = F F = V
13

O operador ...se e semente se estabelece uma implicação necessária entre dois


enunciados, de tal modo que, a BI-IMPLICAÇÃO é VERDADEIRA se a matéria implicada for
ambas VERDADEIRAS, ou se ambas FALSAS. Caso contrário, é falsa.

A PONTUAÇÃO – O uso de pontuação para definir o sentido em que deve ser lida
uma sequência de símbolos é absolutamente necessário tanto nas gramáticas das línguas,
quanto nas matemáticas. O seguinte exemplo ilustra esse papel da pontuação: “o professor
disse o diretor deverá chegar atrasado”, que pode ser lido em dois sentidos diferentes, como
“o professor disse: o diretor deverá chegar atrasado”, ou como “o professor, disse o diretor,
deverá chegar atrasado”. Em tal caso deve haver a pontuação para definir qual o sentido a
ser lido. Também em matemática a fórmula 5 x 3  1 tanto poder ter como resultado 16,
lendo-se (5 x 3)  1, como pode ser 20, lendo-se 5 x (3  1). Em Lógica Simbólica também
essas ambiguidades acontecem. Qual a leitura para a seguinte fórmula: P. Q v R? Pode ser
(P . Q) v R, como pode ser P . (Q v R). E a seguinte fórmula: ~P. Q? Daí que torna-se
necessária a utilização de sinais de pontuação para definir o sentido das fórmulas utilizadas,
usando-se então, os sinais de parênteses ( ), colchetes [ ] e chaves { } para esse fim.
Está claro que a pontuação fixa o valor de verdade de uma fórmula. De uma fórmula
ambígua pode-se obter tabelas de verdade distintas e, portanto, com resultados diferentes,
o que se pode ver pelo exemplo acima. O seguinte exemplo nos deixaria com maiores
dificuldades caso não recorrêssemos a regras de pontuação.
Dada a fórmula: P v Q  R . S, como defini-la? Tente você mesmo. O resultado dará
diferentes interpretações e diferentes valores.
Disso decorre que devemos saber não só como pontuar uma fórmula, mas também
devemos saber o que pontuar corretamente.
Com o propósito de definir o que pontuar corretamente define-se em Lógica que a
pontuação de funções proposicionais deve seguir, como nas matemáticas, uma regra que
indique esse procedimento. Segundo essa regra, deve-se pontuar, portanto, de acordo com
a seguinte ordem:
1) Pontuação da Negação: a negação “ ~ “ deve aplicar-se à menor parte da fórmula,
em caso de ambiguidade da fórmula. Exemplo: em ~ P v Q, leia-se como está.
2) Pontuação da Disjunção.
3) Pontuação da Conjunção.
4) Pontuação da Condicional.
5) Pontuação da Bicondicional.

Assim sendo, conclui-se que a pontuação define o sentido da fórmula pontuando, DE


VALORES MENORES PARA VALORES MAIORES. Com isso define o que a fórmula
significa, se disjunção, se conjunção, se condicional, se bicondicional. Define-se
assim, sua leitura correta. Seguindo essa regra, a seguinte fórmula:
~P v Q . R  S  T deve ser assim pontuada: {[(~P v Q) . R]  S} T, sendo,
portanto, uma bicondicional.

EXERCÍCIOS

I – Utilizando as letras E para simbolizar “Ernesto foi contratado”, F para simbolizar “Fábio
está de férias” e G para simbolizar “Glória foi demitida”, simbolize os seguintes enunciados,
assinalando também sua pontuação correta.
14

1) Se Ernesto foi contratado, então, Fábio Está de férias e Glória foi demitida.
2) Se Fábio está de férias, Ernesto foi contratado, e Glória foi demitida.
3) Se Ernesto foi contratado, então, se Fábio está de férias, então, Glória foi demitida..
4) Se Ernesto foi contratado, então, ou Fábio está de férias, ou Glória foi demitida.
5) Se Ernesto foi contratado e Fábio está de férias, então, Glória foi demitida.
6) Ernesto foi contratado, ou, se Fábio está de férias, então, Glória não foi demitida.
7) Se Ernesto foi contratado ou Fábio está de férias, então, Glória foi demitida.
8) Se Ernesto não foi contratado, então, Fábio não está de férias e Glória não foi demitida.
9) Se Ernesto não foi contratado, então, ou Fábio não está de férias, ou Glória não foi
demitida.
10) Não é o caso de, se Ernesto foi contratado, então, Fábio está de férias e Glória foi
demitida.

II – Se A, B e C são enunciados VERDADEIROS e X, Y e Z são FALSOS, determine os


valores das seguintes fórmulas:

1) {[A  (B  C)]  ~ X}  {X  [(A . B)  C]}


2) [(A  Z) . (Z  Z)]  ~ [ (A . Z) v (~A v ~Z)]
3) {[X  (Y  Z)]  [(X . Y)  Z ]}  [(X  A)  (B  Y)]
4) {[A  (B  C)]  [(A . B)  C]}  [(A  B)  (C  Z)]
5) {[(A B) . (B  A)]  [(A . B) v (~A . ~B)]}  {[(XY) . (Y  X)]  [(~X . ~Y)  (X . Y)]}
6) [X  (Y  Z)]  [(X  Y)  Z].

EXERCÍCIOS – JOGOS DEDUTIVOS

1 – Quatro pares divertem-se juntos à noite. Os seus nomes são: Isabel, Joana, Maria, Ana,
Henrique, Pedro, Luís e Rogério. A certa altura podemos constatar que:
- A mulher de Henrique não dança com o marido, mas com o de Isabel;
- Ana e Rogério não dançam;
- Pedro toca trompete, acompanhado ao piano por Maria;
- Ana não é a mulher de Pedro.
Para você deduzir: QUAL É A MULHER DE ROGÉRIO?

2 – O que se pode deduzir as seguintes afirmações:


- Alguns matemáticos são filósofos;
- Os imortais ignoram a filosofia;
- Nenhum poeta gosta das matemáticas;
- Todos os imortais são poetas.
Serão elas compatíveis?

3 – Numa aldeia de pesca há quatro pescadores, Antônio, Alberto, Cláudio e Sebastião,


donos dos barcos “Maria da Paz”, “Andorinha”, “Gaivota” e “Luz do Sol”. Infelizmente, esses
pescadores não se conhecem uns aos outros tão bem como pensam.
15

Apenas podemos Ter a certeza de que falam verdade quando se referem, no todo ou
em parte, a cada um dos próprios barcos. Quando isso não acontece, as afirmações são
falsas. Dadas as seguintes afirmações:
- ANTÔNIO: Além do meu barco, só o “Andorinha” e o “Luz do Sol” têm rádio.
- ALBERTO: Cláudio tem a sorte de ser um dos que têm barco com rádio.
- CLÁUDIO: O barco de Antônio é o “Luz do Sol”.
- SEBASTIÃO: Nunca andei no “Maria da Paz”, nem no “Luz do Sol”.

Poder-se-á concluir qual o dono de cada um dos barcos?

4 – Um avião que regressa dos Jogos Olímpicos transporta cinco atletas que ficaram à frente
de uma mesma prova . Puderam ser ouvidas as seguintes afirmações:
- A: Eu não fui o último;
- B: C foi o terceiro;
- C: A ficou atrás de E;
- D: E foi o segundo;
- E: D não foi o primeiro.
Por modéstia ou qualquer outra razão, o primeiro e o segundo classificados mentiram.
Pergunto: Qual foi a classificação real?

NOTA: O uso das proposições hipotéticas é que possibilitará a construção das deduções
necessárias às soluções desses jogos. Construa sua argumentação a partir delas.

III – AS TABELAS DE VERDADE

As tabelas de verdade aplicam-se à análise de formas lógicas de enunciados ou de


argumentos. Entretanto, tanto as formas de enunciados, quanto os argumentos podem ter
quantas variáveis quantos forem os casos. Daí que, dependendo da quantidade de variáveis,
torna-se difícil o trabalho com tabelas de verdade. Como construir tabelas com mais de duas
variáveis? É simples. Basta seguir o princípio do cálculo lógico, isto é, se duas variáveis e
cada uma delas possuindo dois valores, logo, teremos para as variáveis P, Q, os valores de
verdade V ou F, elevados à potência dois, isto é, 22. Se temos três variáveis, teremos, então,
23 . Se temos quatro variáveis, teremos 24 e assim, teremos o número potencial
correspondendo ao número de variáveis presentes. Um jeito fácil de construir a tabela de
verdade contendo mais de duas variáveis é alternar os valores de verdade V ou F segundo
a potência das variáveis restantes. Uma tabela para três variáveis P, Q e R fica, então, assim:

1 2 3
P Q R
1 V V V
2 V V F
3 V F V
4 V F F
5 F V V
6 F V F
7 F F V
8 F F F

Uma tabela para quatro variáveis P, Q, R, S fica, assim:


16

1 2 3 4
P Q R S
1 V V V V
2 V V V F
3 V V F V
4 V V F F
5 V F V V
6 V F V F
7 V F F V
8 V F F F
9 F V V V
10 F V V F
11 F V F V
12 F V F F
13 F F V V
14 F F V F
15 F F F V
16 F F F F

Assim, uma tabela de verdade de uma proposição composta com QUATRO (4)
proposições simples componentes contém 24 = 16 linhas e os grupos de valores V e F se
alternam de 8 em 8 para a 1ª coluna P; de 4 em 4 para a 2ª coluna Q; de 2 em 2 para a 3ª
coluna R; e de 1 em 1 para a 4ª coluna S. A tabela de verdade demonstra o universo de
possível dos valores de verdade destas variáveis relacionadas.

Considerando que essas variáveis podem ser combinadas com os operadores lógicos
proposicionais de negação ( ~ ), de disjunção ( v ), de conjunção ( • ), da condicional ( )
e da bicondicional ( ), resultando em fórmulas proposicionais que mostram as formas das
proposições compostas. Portanto, com o uso de tabelas de verdade podemos construir
operações formais da lógica fundamental do cálculo proposicional e com isso, a tabela de
verdade mostrará exatamente os casos em que a proposição composta será verdadeira (V)
ou falsa (F), visto que seu valor é definido pelos valores dos seus componentes.

EXEMPLOS: construção de tabelas de verdades:

1ª forma de resolução: é a mais tradicional. A tabela é construída a partir da definição dos


valores dos componentes da fórmula. A última coluna é que define os valores da fórmula a
partir dos valores de suas partes mostrados nas colunas anteriores.

1) ~ ( P • ~Q )

1 2 3 4 5
P Q ~Q P . ~Q ~(P . ~Q)
1 V V F F V
2 V F V V F
3 F V F F V
4 F F V F V
17

2ª forma de resolução: tabela simplificada. Formam-se em primeiro lugar as colunas


correspondentes às duas variáveis presentes na fórmula P e Q. Em seguida, à direita,
formam-se as colunas para cada uma dessas proposições e para cada um dos
CONECTIVOS LÓGICOS, ou OPERADORES LÓGICOS presente na fórmula.

1 2 3 4 5 6 7
P Q ~ (P • ~ Q)
1 V V V V F F V
2 V F F V V V F
3 F V V F F F V
4 F F V F F V F

Assim, o valor da fórmula está definido na coluna 3 sombreada.

3ª forma de resolução: tabela simplificada direta da fórmula. Suprime-se a exposição dos


valores das variáveis P e Q e os considera diretamente na fórmula.
1 2 3 4 5
~ (P • ~ Q)
1 V V F F V
2 F V V V F
3 V F F F V
4 V F F V F

EXERCÍCIOS:

I – Construir as TABELAS DE VERDADE das seguintes fórmulas proposicionais:


1 ) (P • Q)  (P v ) 2) (P  Q )  ( P • Q )
3 ) ~P  ( Q  P ) 4) (P  ~Q)  (~P v Q)
5 ) (~P • R)  (Q v ~R) 6) (P  R)  (~Q v ~R)
7 ) [P  (P  ~R)]  (P v R) 8) [(P • Q )  R ) v [~P (Q v ~R)
9 ) [( P • R • S]  ( P  ) 10) (P  ~ S)  [(P v R)  ~ R]

IV – FORMA LÓGICA DE ENUNCIADOS – A CONTINGÊNCIA, A TAUTOLOGIA e A


CONTRADIÇÃO

Ao estabelecermos as formas lógicas dos enunciados a partir de símbolos universais estamos


definindo-os com valores específicos em relação à linguagem natural. Cada forma adquire o valor de
uma forma geral como expressão da capacidade dedutiva do cérebro humano. A linguagem natural,
por sua vez, é contextual e histórica. Daí que quando adotamos os símbolos P, Q, R, S... como símbolos
proposicionais os definimos como variáveis de enunciados, ou variáveis proposicionais , puramente
formais, cujos valores serão substituídos por enunciados da linguagem natural. Ou seja, a forma lógica
é que gera o exemplo e não o contrário. O exemplo é uma atualização da forma, que pode ser repetida
em inúmeros exemplos e por todos os usuários de determinada linguagem natural. Os valores das
formas lógicas são definidos a priori, sem necessidade de recurso a contextos de uso a eventos
18

históricos. É claro que as formas lógicas apresentam valores diferentes umas das outras, conforme
demonstram suas tabelas de verdade.

1 – A CONTINGÊNCIA

Denomina-se “contingente” a forma de enunciado cujos valores de verdade podem conter tanto
a verdade como a falsidade, implicando na ocorrência de enunciados contingentes como seus exemplos
de substituição. Por exemplos, as tabelas de P; Q; ~P; ~Q; P v Q; P . Q; P  Q ; P  Q demonstram
que são formas lógicas contingentes.

2 – A TAUTOLOGIA

Denomina-se “tautologia” a forma de enunciado cujos valores de verdade são em todos os casos
apenas o VERDADEIRO, implicando na ocorrência de exemplos tautológicos de enunciados. Por
exemplo, as tabelas de P v ~P; P ~~P; ~(P v Q)  (~P . ~Q); ~(P . Q) (~P v ~Q) demonstram
que são formas lógicas tautológicas. Essas formas de enunciados têm suas verdades reconhecidas
independente dos acontecimentos. Não há acontecimento capaz de modificar suas verdades. São
verdadeiras somente por suas formas lógicas, ou seja, são FOLMALMENTE VERDADEIRAS,
independente das condições empíricas. Somente as formas lógicas tautológicas são universalmente
verdadeiras, pois implicam em exemplos de substituição também tautologicamente verdadeiros.
Adiante veremos que as formas de argumentos válidas são tautologias.
Construa as tabelas de verdade para os exemplos acima e conclua você mesmo.

3 – A CONTRADIÇÃO

Denomina-se “contradição” a forma de enunciado cujos valores de verdade são em todos os


casos apenas a FALSIDADE, implicando na ocorrência d exemplos de enunciados contraditórios. Por
exemplo, as tabelas de verdade de P . ~P; (P . Q) . (P  ~Q); (P . Q) . (~P . ~Q) demonstram que são
formas lógicas contraditórias.
Construa as tabelas desses exemplos e conclua você mesmo.
Para o nosso propósito, basta essa classificação das formas de enunciados. Porém, deve-se ter
em mente que há formas lógicas que não se enquadram nesse modelo interpretativo, conforme bem
alerta I. COPI em seu manual de Lógica. Não se trata de um defeito lógico, mas de exceções aos
modelos produzidos pela Lógica.

EXERCÍCIOS

I – Definir por tabelas de verdade se as seguintes formas de enunciados são Tautologias, contradições,
ou contingentes.

1) [P(PQ)] Q 9) [P(QR)]  [Q(PR)]


2) P[(PQ) Q] 10) P  [P . (P v Q)]
3) (P . Q) . (P ~Q) 11) [P(QP)] [(QQ)  ~(RR)]
4) P[~P(Q v ~Q)] 12) {[(PQ) . (RS)] . (P v R)} (Q v S)
5) P[P(Q . ~Q)] 13) {[(PQ) . (RS)] . (Q v S)}  (P v R)
19

6) (PP)  (Q . ~Q) 14) P  [P v (P . Q)]


7) [P(PR)] [(PQ) (PR)] 15) (PQ)  [(P v Q)  Q]
8) [P(QP)] [(QQ)  ~(RR)]

V – FORMAS DE ARGUMENTOS

Conforme demonstramos nas “exemplificações” dadas anteriormente os argumentos


podem ser descritos a partir de suas FORMAS. Basta construirmos um método capaz de
expressar simbolicamente essas formas. Utilizando as letras P, Q, R, S... como variáveis
proposicionais indicamos que cada uma dessas letras é substituível por um exemplo de
enunciado. Os argumentos em linguagem natural são, portanto, exemplos de formas de
argumentos. As letras proposicionais, os operadores lógicos e a pontuação formam a base
da linguagem lógica simbólica. Essa linguagem deve permitir-nos expressar a totalidade das
formas de argumentação que possamos utilizar. É claro que nossos estudos dão conta
apenas de parte dessas formas. Seu número hipotético deve ser ilimitado. Além do mais,
verdade é que operamos nossos discursos argumentativos a partir de um número bastante
pequeno de formas de argumentos.
Como reconhecer a validade ou invalidade de uma forma de argumento no cálculo
proposicional? Há dois métodos complementares: o da construção de tabelas de verdade e
o da “prova formal de validade”. O uso de tabelas de verdade permite-nos estabelecer a
validade de um certo número de formas envolvendo também um pequeno número de
variáveis. Para formas de argumentos com um número elevado de variáveis o uso de tabelas
torna-se impraticável, por dificuldade de espaço e dispêndio de tempo na sua construção.
Por isso, a “prova formal de validade” complementa o processo da prova, demonstrando que
o uso repetido de formas válidas de argumento produz uma argumentação mais extensa
também válida. Assim sendo, basta definirmos as formas válidas elementares de
argumentação que então teremos o instrumental necessário à prova formal.

1 – VALIDADE DE FORMA DE ARGUMENTO POR TABELA DE VERDADE

O procedimento para reconhecer a validade de argumentos através de tabelas de


verdade segue o seguinte princípio:
1. Toda forma de argumento VÁLIDO possui entre suas instâncias pelo menos um
exemplo de substituição com premissas verdadeiras e conclusão verdadeira, NÃO
OCORRENDO entre suas instâncias nenhuma linha de exemplo cujas premissas
sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Ou seja, nenhuma forma de argumento
válido possui exemplos cujas premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.
2. Toda forma de argumento inválido possui entre suas instâncias pelo menos um
exemplo de substituição cujas premissas são verdadeiras e a conclusão falsa.

Exemplo:
Se o sistema prisional reeduca o detento, então, as cadeias são instituições
educacionais. Ora, as cadeias não são instituições educacionais. Logo, o sistema
prisional não reeduca o detento.
20

FORMA LÓGICA: (1) PQ


(2) ~Q
[C] ~P
Tabela
1 2 3 4 5
P Q ~P ~Q PQ
1 V V F F V
2 V F F V F
3 F V V F V
4 F F V V V

Portanto, pela análise das linhas desta tabela podemos concluir que essa forma é
VÁLIDA, em atendimento ao princípio 1 acima exposto. Basta ver que as premissas estão
sinalizadas, pela ordem, nas colunas 5 e 4 e a conclusão é indicada pela coluna 3. Assim,
não temos entre suas instâncias possíveis nenhum caso cujas premissas sejam verdadeiras
( 4 e 3 tenham Vs embaixo ) e a conclusão seja falsa ( 2 tenha F embaixo). A linha 4 –
sombreada - informa que o exemplo possui o caso no qual as premissas e a conclusão
possuem Vs embaixo.
Outro exemplo:
Se os jornais noticiaram ao vivo, então, o fato ocorreu verdadeiramente. Ora, os
jornais não noticiaram ao vivo. Logo, o fato não ocorreu verdadeiramente.

FORMA LÓGICA: (1) PQ


(2) ~P
[C] ~Q

1 2 3 4 5
P Q ~P ~Q PQ
1 V V F F V
2 V F F V F
3 F V V F V
4 F F V V V

Portanto, a linha 3 da tabela – sombreada - demonstra que essa forma de argumento


é INVÁLIDA. Nesta linha ocorre o caso de haver Vs embaixo das premissas – colunas 4 e
2, pela ordem – e embaixo da conclusão – coluna 3 – haver F. Ou seja, esse exemplo contém
premissas verdadeiras e conclusão falsa, o que é logicamente, inválido.

2 – VALIDADE DA FORMA DE ARGUMENTO PELA DEFINIÇÃO DA TAUTOLOGIA

Assinalamos atrás que todo argumento válido tem um caráter a TAUTOLÓGICO. Mas
como demonstrar a validade pela definição da tautologia?
Argumentos são formados por premissa (s) e conclusão (ões). Um argumento é válido
quando as premissas implicam a conclusão e é inválido quando as premissas não implicam
a conclusão. Ora, sabemos que a IMPLICAÇÃO é definida pela proposição CONDICIONAL
“ se..., então...”, que tem a forma lógica simbolizada como P  Q . Portanto, um
argumento válido enuncia que se as premissas são verdadeiras, então, a conclusão também
21

é verdadeira. Ou seja, da conjunção (antecedente da condicional) das premissas resulta a


conclusão (consequente da condicional).
Assim sendo, temos que todo argumento tem a forma de uma condicional. Para
demonstrar o caráter tautológico de um argumento devemos analisá-lo segundo sua forma
condicional: as premissas implicam a conclusão.

Por exemplo, a forma do argumento MODUS PONENS:


(1) PQ
(2) P
[c] Q
será expressa como uma condicional do seguinte modo: [(P  Q) . P]  Q. Sua tabela de
verdade será a seguinte.
A) Exemplo de tabela completa:

1 2 3 4 5
P Q P  Q [(P  Q) . P ] [(P Q) . P]  Q
V V V V V
V F F F V
F V V F V
F F V F V

B) Exemplo de tabela simplificada:


1 2 3 4 5 6 7 8 9
P Q [( P  Q) . P]  Q
V V V V V V V V V
V F V F F F V V F
F V F V V F F V V
F F F V F F F V F

As colunas sombreadas das tabelas acima demonstram que todas as instâncias


dessa forma são verdadeiras e, portanto, que trata-se de uma forma tautológica, válida
universalmente. Toda forma de argumento, cuja forma condicional é uma tautologia constitui
uma forma universalmente válida.

EXERCÍCIOS

I – Usar tabelas de verdade para provar a validade ou invalidade das seguintes formas de
argumentos.

1) (1) PQ 2)(1) (P v Q)  ( P . Q)


22

[C] P (P . Q) [C](PQ) . (QP)

3) (1) PQ 4) (1) PQ


(2) ~P (2) ~Q
[C] ~Q [C]~P

4) (1) PQ 6) (1) PQ


(2) PR (2) QR
[C]Q v R [C]RP

7) (1) P(QR) 8) (1) P(Q . R)


(2) PQ (2) (Q v R)  ~P
[C]PR [C]~P

9) (1) P(QR) 10) (1) (PQ) . (RS)


(2) Q(PR) (2) P v R
[C](P v Q) R [C] Q v S

11) (1) (PQ) . (RS) 12) (1)P (QR)


(2) ~Q v ~S (2) Q (RS)
[C]~P v ~R [C]PS

13) (1) P(QR) 14) (1) (PQ) . [( P . Q) R]


(2) (QR) S (2) P(RS)
[C] PS [C] PS

II – Formalize os seguintes exemplos de argumentos e determine sua validade por meio de


tabelas de verdade.
1) Ou o gerente não notou mudança ou, aprovou-a. Ele notou tudo muito bem. Portanto,
deve aprová-la.
2) O oxigênio do tubo ou combinou-se com o filamento para formar um óxido ou evaporou-
se completamente. O oxigênio do tubo não pode Ter-se evaporado totalmente. Portanto,
o oxigênio do tubo combinou-se com o filamento para formar um óxido.
3) Se um estadista compreende que suas opiniões anteriores eram errôneas e não altera
sua política, torna-se culpado de enganar a gente; se altera sua política, expõe-se a que
o acusem de contradizer-se. Ou altera sua política ou não a altera. Portanto, ou é culpado
de enganar a gente, ou expõe-se a que o acusem de contradizer-se.
4) Se o papel de tornassol torna-se vermelho, então, a solução é um ácido. Portanto, se o
papel de tornassol torna-se vermelho, então, ou a solução é um ácido ou alguma coisa
está errada.
5) Ele pode ter muitos amigos, somente se os respeitar como indivíduos. Se os respeita
como indivíduos, então, não pode esperar que todos se comportem da mesma maneira.
Ele tem muitos amigos. Portanto, não espera que todos se comportem da mesma
maneira.
23

6) Se Pinochet usurpou um poder que legitimamente não lhe cabia, deve ser condenado.
Ou Pinochet foi um presidente legítimo ou usurpou um poder que legitimamente não lhe
cabia. Pinochet não foi um presidente legítimo. Portanto, Pinochet deve ser condenado.
7) Se as leis não boas e seu cumprimento é rigoroso, diminuirá a criminalidade. Se o
cumprimento rigoroso da lei faz diminuir a criminalidade, então, nosso problema é de
caráter prático. As leis são boas. Portanto, nosso problema é de caráter prático.
8) Se a cidadania romana tivesse sido uma garantia das liberdades cívicas, os cidadãos
romanos teriam gozado de liberdade religiosa. Se os cidadãos romanos tivessem gozado
de liberdade religiosa, então, os primeiros cristãos não teriam sido perseguidos. Mas, os
primeiros cristãos foram perseguidos. Portanto, a cidadania romana não pode Ter sido
garantia de direitos cívicos.
9) Ou o ladrão entrou pela porta, ou, o crime foi cometido no interior da casa, e um dos
empregados deve estar envolvido. O ladrão só poderia entrar pela porta, se o trinco fosse
aberto por dentro; mas um dos empregados está certamente implicado no crime, se o
trinco foi aberto por dentro. Portanto, um dos empregados está implicado no crime.
10) Se Deus quisesse evitar o mal, mas fosse incapaz de conseguí-lo, seria impotente; se
fosse capaz de evitar o mal, mas quisesse fazê-lo, seria malevolente. O mal só existe, se
Deus não puder ou não quiser impedi-lo. O mal existe. Se Deus existe, não é impotente,
nem malevolente. Portanto, Deus não existe.

IV – PROVA FORMAL DE VALIDADE

Observe o exemplo de argumento abaixo, que pode ser simbolizado com cinco (5)
constantes que formam quatro premissas e uma conclusão:
“se o ministro mentiu(M), então, o presidente é inocente(I); se o presidente é inocente
(I), então, o presidente nada tem a temer perante a justiça(N); se o presidente foi omisso(O),
então, o presidente é culpado pelos erros do governo(C); ora, ou o ministro mentiu(M), ou
o presidente foi omisso(O); Portanto, ou o presidente nada tem a temer perante a justiça(N),
ou o presidente é culpado pelos erros do governo (C).”
Utilizando como constantes as letras indicadas acima, a forma desse exemplo fica
assim:

1. M I:
2. I  N;
3. O C
4. M v O; / N v C

Esse é um argumento válido. Para demonstrar sua validade por tabela de verdade é
algo dispendioso, demanda um certo tempo na construção da tabela para tantas colunas e
tantas linhas. E essa uma limitação da análise de formas de argumentos por meio de tabelas
de verdade. Para superar essa limitação é que os lógicos desenvolveram um outro caminho
para provar a validade de formas de argumentos – a prova formal de validade. Pela prova
formal de validade pode-se provar a validade de uma dedução, demonstrando que sua
conclusão é inferida de suas premissas mediante uma seqüência de formas elementares de
argumentos válidos, já previamente demonstrados por tabelas de verdades, como
tautologias. Ao estabelecer um determinado número de formas elementares de
argumentação válidas o cálculo proposicional possibilita a análise de um número ilimitado
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de argumentos específicos reconhecidos como válidos. Cada forma válida pode conter
inúmeras variáveis e assim, pode expressar inúmeros argumentos específicos. Ou seja, uma
mesma forma pode ocorrer em uma seqüência de diferentes argumentos específicos.

1. M  C ; (se Ministro mentiu , então, o Ministro deve ser cassado );


2. R  M; (se houve corrupção, então, o Ministro mentiu );
3. R; (houve corrupção)
 C (o Ministro deve ser cassado).

Esse argumento contém a sequência de uma mesma forma válida de argumento por
duas vezes – o Modus Ponens ( símbolo abreviado: MP). Fica assim:
1. M  C;
2. R  M;
3. R;
4. M; (MP 2,3)
5. C. (MP 1,4).
E assim fica demonstrada a sua validade.

Como se vê, a prova formal de validade de uma dada fórmula de argumento é um método
de aplicação de formas elementares de argumentos tautologicamente válidos como regras
de inferência. Por estas regras são explicitadas todas as premissas das quais a conclusão
é inferida. No exemplo acima a premissa 4 estava implícita. Mas sem ela a conclusão não
poderia ser inferida. Assim, as premissas implícitas numa determinada fórmula
argumentativa são etapas necessárias de sua prova. A esse procedimento os lógicos
denominam processo de “justificação” do argumento. O recurso às formas elementares é um
método de prova que expõe cada passo da inferência, a justificativa lógica do procedimento.
O modelo de análise acima exposto é um modo didático de proceder a construção da prova.
Os manuais de lógica o apresentam, em geral, desse modo.
As regras de inferência apresentadas a seguir são descobertas da ciência da lógica
a propósito da investigação das formas elementares do raciocínio humano. O conjunto
dessas regras se divide em 1. regras elementares de inferência ( nove regras) e, 2.
equivalências notáveis (dez regras).
As nove regras elementares de inferência são as seguintes:

1. Modus Ponens (MP): 2. Modus Tollens (MT)

1. P  Q 1. P  Q
2. P 2. ~ Q
3. Q 3. ~ P

3. Silogismo Hipotético (SH): 4. Silogismo Disjuntivo (SD)

1. P  Q 1. P v Q
2. Q  R 2. ~ P
3. P  R 3. Q

5. Dilema Construtivo (DC): 6. Absorção (Abs.)


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1. (P  Q) . ( R  S) 1. P  Q
2. P v R 2. P  (P . Q)
3.  Q v S

7. Simplificação (Simp.): 8. Conjunção (Conj.):

1. P . Q 1. P
2.  P 2. Q
3. P . Q

9. Adição (Ad.):

1. P
2. P v Q

Os lógicos concordam que inúmeros argumentos são construídos a partir do uso dessas
nove formas elementares válidas.

EXERCÍCIOS

I - Indique a “justificação”, por meio das regras elementares dadas, dos seguintes exemplos:
(siga o modelo, assinale à direita da linha).

(A)
1. A . B
2. ( A v C)  D
3.  A . D
prova
1. A . B
2. ( A v C)  D
3. A
4. A v C
5. D
6.  A . D

(B)
1. (A v B)  C
2. (C v B)  [ (A  (D  A) ]
3. A.D
4. DE
prova
1. (A v B)  C
2. (C v B)  [ (A  (D  A) ]
3. A.D
4. A
5. AvB
6. C
7. CvB
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8. A  (D  E)
9. D  E
(C)
1. QR
2. ~S  (T U)
3. S v (Q v T)
4. ~S
5.  RvU
Prova
1. QR
2. ~S  (T U)
3. S v (Q v T)
4. ~S
5. T U
6. (Q  R) . (T  U)
7. QvT
8.  RvU

As equivalências notáveis constituem regras complementares para a prova formal


de validade. Há muitos argumentos funcionais de verdade cuja validade só pode ser
demonstrada se um ou mais de seus enunciados forem substituídos por outros de mesmo
valor. Há formas de enunciados que podem ser revertidas em outras de mesmo valor, sem
alterar seu sentido original. Por exemplo, a dupla negação ~~P é equivalente a P; também
~~A~~B é equivalente a AB e assim por diante. Veremos a seguir o conjunto das dez
equivalências notáveis elementares da lógica que complementam as regaras anteriores,
formando um total de dezenove regras de inferências:

10 Teorema de De Morgan (D.M.)


~(P . Q)  (~P v ~Q);
~(P v Q)  (~P . ~Q).

11. Comutação (Com.)


(P v Q)  (Q v P);
(P . Q)  (Q . P).

12. Associação (Ass.)


[P v (Q v R)]  [(P v Q) v R];
[P . (Q . R)]  [(P . Q) . R].

13. Distribuição (Dist.)


[P . (Q v R)]  [(P . Q) v (P . R)];
[P v (Q . R)]  [(P v Q) . (P v R)]

14. Dupla Negação (D.N.)


P  ~~P.

15. Transposição (Trans.)


(P  Q)  (~Q  ~P).
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16. Implicação Material (Impl.)


(P  Q)  (~P v Q).

17. Equivalência Material (Equiv.)


(P  Q)  [(P Q) . (Q  P)];
(P  Q)  [(P . Q) v (~P . ~Q)].

18. Exportação (Exp.)


[(P . Q)  R]  [ P  (Q  R)].

19. Tautologia (Taut.)


P  (P v P);
P  (P . P).

Essas dezenove regras constituem instrumentos suficientes à prova formal da maioria


de nossas formas de raciocínio. Sua função é dar conta das formas elementares da lógica
de nossas operações com signos.

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