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FILOSOFIA

LÓGICA

ARGUMENTAÇÃO

Argumentar consiste em formular um discurso em que se organiza um conjunto de


proposições para demonstrar que da verdade ou falsidade de certas afirmações podemos
inferir outras afirmações verdadeiras ou falsas. A partir de certas afirmações podemos
também afirmar outras coisas, ou seja, de certas coisas que sabemos como certas
tiramos conclusões sobre coisas incertas, apenas prováveis, ou discutíveis.

“Minha gente, eu acabei com os marajás do meu estado quando fui governador: sou
um homem rico que não precisa do dinheiro público, fui preparado desde criança para
ser presidente, portanto, sou melhor candidato do que um ex-operário que nunca
governou nada.”

“A vida de estudante no IFES é divertida, uma vez que os colegas de sala são animados
e os professores não pegam no pé dos alunos.”

Um argumento é um conjunto de enunciados que estão de tal modo relacionados que


formam um todo no qual uma certa proposição ou várias dependem de outras para
serem aceitas como verdadeiras. Esta relação constitui uma implicação, no sentido de
que, quem propõe, pretende demonstrar uma verdade através da formulação desse
conjunto de proposições.

Segue um outro argumento:

“A conservação da saúde depende mais das condições espirituais da pessoa do que das
condições corporais, porque uma pessoa triste, preocupada, excessivamente tensa,
saudosista, descuida facilmente de sua alimentação, da higiene e torna-se vulnerável às
doenças.”

O que caracteriza um argumento é a presença de um processo de raciocínio. Isto é, a


elaboração de uma justificação para a afirmação conclusiva. Há nele a presença de uma
proposição problemática (a conclusão), dubitável, de cuja verdade pode-se duvidar, essa
proposição exige, então, ser justificada para que o interlocutor seja convencido a aceitá-
la.

Podemos descobrir e diferenciar, portanto, as formas válidas de argumentação das


formas inválidas, permitindo assim, o conhecimento das formas de argumentação
corretas.

PROPOSIÇÃO

A lógica considera que a unidade menor da linguagem é a sentença, enunciado, ou


simplesmente, proposição, da qual se pode afirmar ser Verdadeira ou Falsa, a partir
de vários critérios. Sua definição é
Proposição é uma forma de uso dos signos lingüísticos para orientar nossas
relações diante das coisas e situações da vida.

Não se deve confundir proposição com oração, pois uma proposição pode ser formada
de uma ou mais orações, exemplos;
a) É difícil ser feliz num mundo de violência

b) É fácil ser honesto

c) As promessas dos políticos são apenas para ganhar votos e tornar o povo refém de
paternalistas

A Lógica classifica as proposições em simples ou compostas. Nos exemplos acima (a) e


(b) são simples, e (c) é composta. Pode ocorrer o uso de proposições. Mas uma
proposição composta, isoladamente, não constitui um argumento, como por exemplo, o
tipo, “Se... então...”.

PREMISSAS E CONCLUSÕES

As proposições que formam os argumentos são denominadas em Lógica pelos termos


Premissa e Conclusão: aquelas cujas verdades precisam ser demonstradas são as
conclusões e aquelas que fornecem essa demonstração são as Premissas. As Conclusões
estão baseadas nas Premissas. Estas fornecem as razões pelas quais se devem afirmar as
Conclusões. Exemplo:

As provas de lógica devem ser mais difíceis neste semestre, pois a intenção do
atual professor é forçar os alunos a estudar mais e prepará-los para as futuras provas
do ENEM que são complexas.

A premissa (ou premissas) constitui o ANTECEDENTE (A) de um argumento, isto é,


aquilo que é afirmado como princípio de inferência. A conclusão constitui o
CONSEQUENTE (C) do argumento, isto é, aquilo que é afirmado como “extraído” do
antecedente, que decorre da afirmação deste. A relação entre (A) e (C) apresentada pelo
argumento é identificada como uma RELAÇÃO DE CONSEQÜÊNCIA (cs) entre as
proposições, de “implicação produtora”, pelo qual o (A) produz, o (C).

A análise lógica revela que pode existir ou não existir a (cs) entre as proposições de um
argumento.

ORDEM LÓGICA

A ordem lógica da relação das proposições é sempre a de que a Conclusão decorre das
Premissas; o valor das Premissas deve ser pensado em primeiro lugar e o da Conclusão
por última. Daí tem:

A = premissas ( )
( )
________________
C = conclusão [ ]
Por isso, do ponto de vista lógica, convém reestruturar o argumento e colocá-lo segundo
sua ordem lógica, como descrito acima, uma vez que a conclusão pode ser enunciado
primeiro ou entre as premissas. Para ordenar os argumentos, a lógica convenciona a
utilização das letras entre parênteses (p), (q), (r), (s) ... para indicar as Premissas e o
símbolo [C] para indicar a conclusão

Tomando o exemplo anterior, em que a conclusão é enunciada em primeiro lugar, a


ordem lógica seria:

(p) pois a intenção do atual professor é forçar os alunos a estudar mais


(q) prepará-los para as futuras provas do ENEM que são complexas
[C] As provas de lógica devem ser mais difíceis neste semestre

Outro exemplo:

Se não há consumo, o comércio não vende nem a indústria produz e, decrescendo as


vendas e a produção, também a oferta de empregos no comércio e na indústria diminui.
Por isso, a oferta de empregos na indústria e no comércio depende da política
financeira do governo, pois ninguém está comprando à vista com pouco salário e, caso
o governo aumente os juros bancários, ninguém comprará no crediário.

Na ordem lógica

(p) ninguém está comprando à vista com pouco salário


(q) caso o governo aumente os juros bancários, ninguém comprará no crediário
(r) Se não há consumo ... produz
(s) decrescendo ... diminui
[C] a oferta de empregos ... do governo

QUANTIDADES DE ARGUMENTOS

Geralmente os discursos são formulados com base em mais de um argumento. Dado às


interconexões temáticas, pode-se recorrer a inúmeros campos do conhecimento para
argumentar em torno de um assunto. O ocorre então o que em Lógica é denominado por
Argumentos Convergentes.

Exemplos:

Como um indivíduo abandonado a si próprio não pode realizar todas as boas


coisas que poderia de outro modo obter, tem de viver e trabalhar com outros. Mas a
sociedades não é possível sem simpatia e amor, portanto, a virtude primordial que é
dever de todos e de cada um desenvolver é o amor à humanidade.

1º ARG.

(p) Como um indivíduo abandonado a si próprio não pode realizar todas as boas coisas
que poderia de outro modo obter
[C] - o indivíduo - tem de viver e trabalhar com outros
2º ARG

((q)) a sociedades não é possível sem simpatia e amor


[[C]] a virtude primordial que é dever de todos e de cada um desenvolver é o amor à
humanidade

Outro exemplo

Não tem havido estudos sistemáticos e em grande escala do sono, comparando


diferentes profissionais, assim, ignoramos se os intelectuais precisam de menos sono
que os atletas, e se o esforço físico, em contraste com o esforço mental, influi na
importância do sono de uma pessoa. Os episódios pessoais não podem decidir essa
questão. Mesmo quando não são deliberadamente falsificados, são inidôneos, porque
as pessoas não têm certeza na descrição de seus hábitos de sono.

1º ARG

(p) Não tem havido estudos sistemáticos e em grande escala do sono, comparando
diferentes profissionais.
[C] ignoramos se os intelectuais precisam de menos sono que os atletas, e se o esforço
físico, em contraste com o esforço mental, influi na importância do sono de uma
pessoa.

2º ARG

((q)) as pessoas não têm certeza na descrição de seus hábitos de sono


[[C]] (Os episódios) Mesmo quando não são deliberadamente falsificados, são
inidôneos.

3º ARG

(((r))) (Os episódios) Mesmo quando não são deliberadamente falsificados, são
inidôneos.
[[[C]]] Os episódios pessoais não podem decidir essa questão (a saber, se os
intelectuais precisam de menos sono que os atletas)

Observe que neste último exemplo de argumento uma proposição foi tomada como
conclusão no 2º ARG e como premissa no 3º ARG, isso demonstra a relatividade dos
termos Premissa e Conclusão.

INDICADORES DE ARGUMENTO

Indicadores de Premissas: pois, porque, desde que, como, uma vez que, dado que, tanto
mais que, pela razão de que, tendo em vista que, recordando que, ressaltando que, visto
que, assumindo que, à medida que, sabendo-se que, supondo que, pelo fato de que ...

A proposição seguinte a um desses termos constitui a premissa do argumento


Indicadores de Conclusão: logo, portanto, por isso, assim senso, resulta que, então,
conseqüentemente, assim, segue-se que, decorre daí que, podemos inferir, podemos
concluir, por conseguinte, deflui daí, tem-se que, de modo que, concluímos que ...

A proposição seguinte a um desses termos constitui a premissa do argumento


OBS: em muitos casos, não basta observar somente os termos indicadores de
argumento. Às vezes um termo pode não indicar argumento, como nos exemplos abaixo
e como tal não deve ser analisado.

1) A energia acabou, porque desligaram os transformadores (o “porque” dá aqui apenas


uma explicação)
2) O trabalho dignifica o homem. Logo, trabalhemos com alegria! (o “logo” aqui indica
uma exclamação, exortação)
3) Desde que se mudaram para este lugar, eles tornaram-se mais felizes. (o “desde que”
aqui indica tempo)
4) Não se sabe o que sejam o bem ou o mal em si. Portanto, façam o que vocês julgarem
melhor (o “portanto” aqui indica uma ordem)

VERDADE E VALIDADE

A análise lógica pressupõe os valores-de-verdade das proposições numa argumentação;


não lhe interessa discuti-los, nem é de sua competência; ao lógico interessa somente o
estudo das formas como o raciocínio se processa numa argumentação.

É a partir da forma como o raciocínio é elaborado que podemos julgar se é correto ou


incorreto. O que importa é a forma como coisas verdadeiras são afirmadas num
discurso.

Em lógica, o caráter de Verdadeiro ou Falso pertence somente às afirmações proferidas


e não as relações que com elas estabelecemos. Verdade é um atributo somente de
proposição e não de argumento. Só os significados das proposições podem ser
verdadeiros ou falsos. O argumento por ser constituído pela existência de uma
RELAÇÃO DE CONSEQÜÊNCIA entre Premissa e Conclusão somente pode ser
julgado como Correto ou Incorreto, Válido ou Inválido.

NÃO-ARGUMENTO

Nem todos os discursos por nós proferidos são argumentos. Há discursos


que visam apenas explicar um ou vários acontecimentos: outros visam apenas à
exposição de fatos; outros ainda que visam à descrição de objetos; Outros ainda que
são apenas comentários, opiniões valorativas sobre fatos, relações, acontecimentos. O
julgamento destas formas de discurso é extra-lógico, depende mais de critérios
experimentais e emocionais. Também as interrogações, as ordens e as exclamações não
constituem objetos de Análise lógica. As interrogações são para serem respondidas; as
ordens, para serem cumpridas; as exclamações para serem proferidas. Também as
parábolas, a poesia, não podem ser sujeitas à Análise Lógica:

Comentário: em geral, compõe-se de proposições que expressam o gosto ou a opinião


de alguém.
Descrição: proposições que descrevem objetos, situações, lugares, etc.

Explicação: exposição dos motivos que produzira um determinado acontecimento.


Aquilo que já é dado efetivo da realidade não precisa ser justificado, mas pode apenas
ser explicado.

Parábola: tipo de discurso poético que usa de comparações alegóricas e metáforas

Ordem: são proposições que visão desencadear um comportamento desejado na outra


pessoa, manda, é imperativo

Exortação: proposições que solicitam determinada atitude ao modo de um conselho,


sem tom impositivo.

OS ARGUMENTOS SOFÍSTICOS

Geralmente, os lógicos utilizam os termos "sofisma" e "falácia" para designar qualquer


discurso logicamente incorreto, ou seja, aquele onde há erro de raciocínio ou de
argumentação. A invalidade da argumentação falaciosa provém de sua referência a
fatores extra-lógicos (geralmente psicológicos: emoções, sensações, circunstâncias
transitórias, etc.) como justificadores da Conclusão. Tal "argumentação" engana com
facilidade o interlocutor desatento à lógica do raciocínio. Ao recorrer ao psicológico e
ao uso ambíguo dos termos da linguagem natural, o discurso falacioso procura impedir
sua análise lógica.
Torna-se mais persuasivo e "convincente", embora seja incorreto. O termo
"falácia" tem como raiz etimológica as palavras "sfalo" (do grego) e "fàllere" (do latim)
Nesse capitulo, estudaremos os tipos de Falácias mais comumente utilizadas. São as
chamadas "Falácias de Relevância" e as "Falácias Gramaticais".

FALÁCIAS DE RELEVÂNCIA

1. Falácia ad hominem ofensiva (contra o homem): em alguns exemplos, trata-se


de um contra-discurso que, ao invés de discutir sobre a verdade do discurso proferido
por alguém, procura, ao contrário, discutir sobre a pessoa do proponente, expondo sua
conduta moral, suas atitudes, convicções pessoais, vícios, etc. Noutros exemplos, o
discurso é proferido no sentido de desacreditar capacidades intelectuais e competência
prática a uma pessoa baseado na sua condição social ou física. Exemplos:

1a. Estevão defende a adição de Flúor na água potável para o abastecimento da


cidade. Ora, Estevão é uma pessoa que já usou drogas e nem sequer participa de
política. Logo, não devemos adicionar Flúor à água potável para o abastecimento da
cidade.
1b. Fernando é candidato a Presidente da República. Ora, Fernando é um operário
analfabeto, separado da mulher e que vive em companhia de pessoas que já tiveram
problemas com a polícia. Logo, Fernando não é um bom candidato a Presidente.

Refutação: os lógicos consideram que a verdade de uma proposição ou a


correção de um raciocínio não podem ser julgadas em função do comportamento ou do
caráter de quem os profere. O que as pessoas são ou o que elas fazem não servem como
critérios para o julgamento de seus discursos.

2. Falácia ad hominem circunstancial: nessa forma de Falácia, o discurso, tal


como o anterior, ao invés de discutir sobre a verdade do que alguém diz, procura fazer
uma relação entre as convicções expressas por essa pessoa e as circunstâncias vividas
por ela.
Geralmente, situa-se em dois níveis de relações: em um, o discurso procura obrigar a
pessoa a aceitar certas conclusões por causa da circunstância em que ela se encontra: em
outro, o discurso procura acusar a pessoa de defender certas conclusões por causa da
circunstancia em que ela se encontra. Exemplos:

2b. Brice apresenta um Projeto para a construção de casas populares com verbas
do FGTS. Ora, ela defende esse projeto porque é dona de uma firma de construção civil
e quer tirar vantagens econômicas disso. Logo, não devemos apoiar esse projeto da
Deputada.
2e. A formulação da doutrina do Socialismo por Karl Marx dependeu de sua
situação pessoal, porque não conseguiu vencer na vida e era um revoltado contra tudo.
2g. Nietzsche defende uma filosofia ateia, porque havia estudado num colégio de
Padres onde foi muito castigado.

Refutação: ligar aquilo que as pessoas pensam às circunstâncias institucionais


ou aos compromissos sociais a que está vinculado num dado momento de sua vida é
exterior a lógica própria do conhecimento e das verdades por ele estabelecidas. A
validade de um discurso e a verdade de conclusões proferidas não podem ser negadas ou
afirmadas com base na circunstância existencial vivida pelo argumentador ou pelo
interlocutor, porque ela é exterior ao discurso argumentativo e não é, em geral, condição
determinante da elaboração do mesmo.

3. Falácia por recurso à força (ad baculum): Consiste numa forma de


“argumentação", cujas Premissas fazem menção ao uso da força ou da violência ou
simplesmente declaram a existência de um poder de força, para convencer à aceitação
de determinada Conclusão. É comumente chamado de "argumento de força". Supõe
que o uso da violência é racional e que o aforismo "a força gera o direito" e verdadeiro.
Exemplos:

3a Marcos, você deve ir à escola, porque senão leva uma surra.


3c. Os EUA é a mais importante nação do mundo, porque possuem os maiores
arsenais nucleares do Planeta.
3d. Nosso trabalho deve ter uma jornada de 30 h/s. Senão fazemos greve por
tempo indeterminado.

Refutação: essa falácia abandona o campo argumentativo racional e recorre à


ameaça ou à violência física ou psicológica. Trata-se de uma coação tísica e impositiva
e não discursiva.

4. Falácia por apelo à ignorância (ad ignorantiam): essa "argumentação"


consiste em defender que certa proposição é verdadeira porque não foi provado o
contrário do que afirma ou defender que seja falsa, porque ninguém provou sua
veracidade. Nesse raciocínio tiram-se conclusões afirmativas de premissas negativas. Os
lógicos admitem apenas um lugar onde pode ser utilizado esse argumento de modo
válido nos Tribunais de Justiça. O Direito parte do princípio básico de que "uma pessoa
é inocente até que seja demonstrada sua culpabilidade". As ignorâncias das provas
cabíveis testemunham à inocência do réu. Entretanto esse uso jurídico constitui apenas
uma exceção para o caso, pois em geral o "apelo à ignorância" é utilizado de modo
falacioso. Exemplos:

4a. Ninguém provou que Deus existe. Portanto, Deus não existe.
4b. Ninguém ainda provou que Deus não existe Portanto, Deus existe.
4d. Os cientistas não provaram que seres extraterrestres não existem. Logo,
existem seres extraterrestres.

Refutação: não se podem tirar conclusões sobre aquilo que não podemos
conhecer ou explicar. A nossa ignorância sobre a verdade ou falsidade de lima
determinada proposição não nos permite tirar nenhuma conclusão sobre a mesma. Nada
podemos concluir quando nos faltam meios para provar determinada proposição.
Conclusões tiradas sem demonstração racional (baseadas na nossa ignorância) passam
para o campo das nossas crenças.

5. Falácia por apelo à piedade (ad misericordiam): Trata-se de uma falácia


comumente conhecida como "chantagem emocional"; quando certo discurso é
formulado procurando justificar-se com base num apelo à compaixão, ao sentimento
de piedade, de caridade do interlocutor. Visa convencer sobre certa conclusão
relacionando-a a sentimentos provocadores de forte reação emocional. Exemplos:

5a. Tenho o direito de fazer outra prova A que não fiz foi por motivo de estar
muito sobrecarregado ultimamente com trabalhos, devido ao fato de que fiquei sozinho
em minha seção e tive que desempenhar todas as tarefas, o que me deixou com uma
tremenda dor de cabeça. Nesta circunstância, todo mundo sabe, é difícil uma pessoa
estudar!
5b. Ver as criancinhas abandonadas nas ruas é um quadro triste. Geralmente
estão sujas, mal arrumadas, com os dentes estragados e não tem onde dormir. As
autoridades brasileiras deviam fazer um programa de proteção às crianças. Na rua,
muitas vezes, elas não encontram nem sequer o que comer! Pobrezinhas, vivem como
se fossem bichos!

Refutação: as nossas impressões sensíveis e os nossos sentimentos são muitos


variáveis e inconstantes para servirem de premissas a nossos julgamentos. O raciocínio
deve seguir regras próprias, impendeste das situações emocionais que por ventura
podem estar envolvidas, só assim pode ser válido geralmente.

6. Falácia por apelo ao povo (ld populum): esse tipo de falácia pode ser
caracterizado, em geral, pelo aforismo corrente de que "a voz do povo é a voz de Deus".
Recorre aos sentimentos do povo, aos seus hábitos e costumes, para provocar a
concordância com determinada conclusão. Aproveita-se de uma crença generalizada
(algo que "todo mundo" sabe), de uma prática comum (usos e atitudes) ou dos ídolos
populares para convencer à aceitação de uma ideia como verdadeira, de um produto
como bom, ou uma novidade "renovadora". É também um discurso emocional que
explora os ídolos populares, os ideais de beleza física ou de inteligência, sentimentos de
inferioridade ou, ora os desejos de mudança, ora os desejos de conservação. Explora os
sentimentos psicológicos próprios a cada idade do ser humano. É muito usada por
propagandistas, políticos demagogos e em campanhas publicitárias. Exemplos:

6a. Todas as donas de casa inteligentes usam bom-bril. Logo, devo usar bom-bril.
6d. Pelé usa vitasay; logo, vitassay é um bom remédio.

Refutação: não é a vulgarização de uma teoria ou de uma prática que a torna


válida do ponto de vista racional. Podem-se vulgarizar coisas inúteis e teorias
irracionais, porque o povo pode aceitá-las por critérios estritamente não-lógicos. A
aceitação popular de uma teoria não constitui critério para o julgamento de sua validade
ou invalidade.

7. Falácia por apelo à autoridade (ad verecundiam): ocorre quando um


discurso é defendido como verdadeiro simplesmente porque é atribuído a uma
autoridade. O reconhecimento da existência de pessoas consideradas autoridades em
certos assuntos por sua competência, nível de especialização, domínio de
conhecimentos, tempo de dedicação a certos estudos, etc., pode ser admitido como
elemento distintivo dessas pessoas, como referências obrigatórias em certos assuntos;
entretanto, não se pode superestimar a "autoridade" enquanto simples "autoridade",
mas prestigiá-la pela qualidade de sua competência. Neste sentido, é correto seu uso na
praxe jurídica. Entretanto, constitui "argumento" falacioso recorrer à citação de uma
autoridade como justificativa de conclusão em áreas fora de sua competência. Essa
falácia acontece, ás vezes, também quando se usa o chamado "critério do mais velho",
quando se reivindica que o mais velho é mais competente simplesmente por "ser o
mais velho". Exemplos:

7c. Sou contra o sexo antes do casamento, porque o Papa falou para os cristãos
serem contra.
7d. É verdadeiro que Tiradentes era barbudo e morreu enforcado, porque foi o
meu professor de História que falou.

Refutação: não é o "status" de autoridade conquistada por alguém ao especializar-se em


certo campo do conhecimento que confere àquilo que diz um caráter de validade, mas a
sua competência de pesquisador, a lógica dos argumentos que formula. Além do mais, o
princípio de que "quem é autoridade sobre uma coisa é autoridade sobre tudo" é
claramente falso, ainda mais nos dias atuais quando os campos do conhecimento são
altamente especializados.

8. Falácia em acidente (exceção à regra): comete-se essa falácia quando se


atribui um caráter dogmático a certas conclusões aplicando-as a quaisquer circunstancia
independente de suas características especificas. Usa-se de certas conclusões como se
fossem válidas irrestritamente. Ao utilizarmos certas afirmações como regras gerais
para a interpretação ou justificação de um caso particular que envolve elementos casuais
e imprevisíveis, ao qual, portanto, essas regras não se aplicam, cometemos esse tipo de
falácia. Exemplos:
8b. Não parei para prestar socorro, porque era proibido parar naquela rodovia.
8c. Todo aluno que perde a prova final é reprovado. Portanto, não fiquem
doentes.

Refutação: essa falácia confunde "generalidade" com "universalidade". Uma


proposição pode ser "geralmente" verdadeira por estar de acordo com o estado do
conhecimento alcançado, mas não pode ser dita "universalmente" válida para quaisquer
circunstâncias, tempo e lugar, porque podem ocorrer acontecimentos que alterem a
realidade e o conhecimento que dela formulamos. Uma regra geral pressupõe a
ocorrência de uma circunstância também geral e, portanto, não deve ser aplicada a uma
circunstância que foge (é exceção) à generalidade pressuposta.

9. Falácia por acidente convertido (generalização apressada): Consiste no


inverso do anterior: em tirarmos conclusões a partir de casos "acidentais", aplicando-as
de um modo geral. Aqui, aquilo que é afirmado em circunstâncias excessivas, atípicas,
passa a ser afirmado como regra geral. Também ocorre quando a observação dos
fenômenos é mal feita e insuficiente ou incompleta, daí uma conclusão apressada,
falaciosa. Exemplos

9a. As drogas fazem mal à juventude; logo, devemos extinguir o uso de todas as
drogas em nosso meio.
9b. Assim como foi bom o uso de quebra-molas em algumas ruas da cidade.
Também será bom seu uso em todas as ruas.

Refutação: não se pode precipitar em atribuir efeitos observados na ocorrência


de fenômenos (acontecimentos) particulares a todos os fenômenos da mesma espécie
indistintamente, sem levar em consideração suas causas especificas As mesmas causas
podem não valer genericamente.

10. Falácia por falsa causa: há duas formas de ocorrência desta falácia. A
primeira foi denominada pelos latinos por "non causa pro causa", ou seja, tomar por
causa aquilo que na realidade não é causa. Apresenta uma causalidade arbitrária presa
aos dados imediatos. Pode ser fonte de superstições e fetiches. A segunda foi
denominada "post hoc ergo propter hoc" (depois disso, portanto, por causa disso), ou
seja, tomar por causa aquilo que temporalmente aconteceu em primeiro lugar;
simplesmente por ter ocorrido em primeiro lugar. Exemplos:

10a. Flávio morreu, porque caiu no rio em lugar profundo.


10c. Ele passou mal após o almoço. Logo, o almoço deve ter feito mal a ele.

Refutação: a primeira forma dessa falácia erra por não distinguir "causa
necessária" - aquela em cuja ausência o fenômeno não ocorre - de "causa acidental" -
aquela em cuja presença o fenômeno não ocorre. A segunda forma erra por observar a
sucessão temporal externa de acontecimentos e não sua causalidade interna.

11. Falácia por petição de princípio (petitio principii): consiste em


formularmos um discurso "repetindo" a proposição a ser justificada como sua própria
justificativa. Quando alguém quer demonstrar a conclusão de que "existem pessoas
vivendo na pobreza, porque são pessoas analfabetas" e for perguntado "por que são
analfabetas" e a resposta dada for, "porque são pobres" trata-se de uma Petição de
Princípio. É o caso em que a mesma proposição ocupa o lugar de Premissa e Conclusão
no raciocínio. Às vezes essa falácia engana facilmente as mentes descuidadas pelo fato
de utilizar termos sinônimos para modificar a forma da proposição sem modificar seu
significado. Exemplos:

11 a. A nudez em público é ofensiva, porque ofende o público.


11 c. A obra de Marx é um verdadeiro exemplo de rigor científico, porque ele
trata com rigor tudo o que escreve, sendo preocupado com seu caráter científico de tal
modo a não escrever coisas que não sejam rigorosamente dentro dos padrões da ciência.

Refutação: Basta demonstrar que a premissa exige a mesma prova necessária à


conclusão, ou seja, que os mesmos elementos indemonstrados da conclusão estão
também indemonstrados na premissa.

12. Falácia por pergunta complexa: essa falácia é formulada na forma de uma
interrogação ambígua, que pode expressar-se em três variedades: aquela cuja
formulação interrogativa oculta uma afirmação anterior à pergunta e já admitida como
verdadeira. Outra, aquela, cuja formulação interrogativa traz implicitamente uma ou
mais interrogações, às quais se pretende sejam respondidas com um simples "sim" ou
"não". Uma terceira, aquela interrogação formulada na forma de uma conjunção de
perguntas sobre temas explicitamente diferentes, às quais pede uma única resposta.
Exemplos:

12a. Você parou de surrar a sua esposa?


12c. Vocês não poderiam demonstrar amor pela universidade e ajudar na limpeza das
salas?

Refutação: Em geral, não se deve responder "sim" ou "não" à Pergunta


Complexa como se fosse uma simples pergunta. Deve-se analisá-la em suas partes,
decompondo-a segundo cada assunto específico e as respostas requeridas, cada qual por
sua vez. Deve-se explicitar as interrogações implícitas e ou separar os assuntos
conjugados.

13. Falácia por conclusão irrelevante: a ocorrência dessa falácia resulta, em


geral, de um desvio na consideração da natureza própria do assunto proposto,
contundindo suas dimensões. Daí que o argumentador procura inferir a conclusão de
um "argumento" a partir de premissas que indicam para outras conclusões ou até
mesmo uma conclusão contrária à inferida. Exemplos:

13b. A discussão comunitária sobre o Orçamento Municipal é importante.


Logo, todos os membros da comunidade devem fazer os cálculos de suas necessidades
familiares para serem apresentados à Prefeitura.
13d. O assassinato de Daniela Perez foi um crime bárbaro, sangrento, praticado
com sadismo contra uma vítima indefesa. Portanto, o acusado, Guilherme é o culpado
por esse crime vil.
Refutação: basta demonstrar que as premissas conduzem a outra conclusão que não a
inferida pelo argumentador. Pode-se também rejeitar que as premissas sejam suficientes
para justificar a conclusão proposta.

TIPOS DE RACIOCÍNIO
DEDUÇÃO E INDUÇÃO, por Irving Copy

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