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Você não precisa decorar essas regras.

O importante é que as aplique nos exemplos e perceba que


realmente funcionam. simule com outras proposições, substituindo S e P por outros termos. Com a
prática, essas relações ficarão bem mais claras.

Análise e entendimento
5. Como aristóteles entendia o papel da lógica no I. toda criança necessita de seus pais.
contexto da busca de conhecimento? II. alguns indivíduos não experimentam a piedade
6. Em que consiste a diferença entre um argumento compassiva.
válido e um argumento correto?
III. Nenhuma criança precisa dos pais.
7. Crie uma proposição de tipo A, usando os termos
IV. todo ser humano tem compaixão.
“cidadão” e “protegido pela Constituição”. Depois
transforme essa proposição em E, I e O. V. Os genitores não são necessários para alguns
de seus filhos.
8. Encontre as proposições que podem ser relaciona-
das logicamente entre si, identificando as relações VI. a compaixão encontra-se em algumas pessoas.
que se estabelecem entre cada par (contrária,
contraditória etc.):

ConveRsA filosófiCA
2. Contradição ou complementaridade? aceitar como complementares essas duas verdades
Há experiências da existência humana que as dis- que, no entanto, deveriam logicamente se excluir
tinções lógicas não conseguem abarcar. Nelas, os uma à outra. Tenho, ao mesmo tempo, o sentimento
limites entre contrários e contraditórios não são da irredutibilidade da contradição e o sentimento
nítidos. É nesse domínio que a linguagem artística da complementaridade dos contrários. (Meus demô-
tem mais a dizer. Como testemunha o pensador nios. Disponível em: <http://uff.br/pos_educacao/
francês Edgar Morin: joomla/images/stories/Teses/mariaclaudia.pdf>.
Acesso em: 20 out. 2015.)
Nunca deixei de estar submetido à pressão simul-
tânea de duas ideias contrárias e que me parecem Elabore uma dissertação sobre o texto, relacio-
ambas verdadeiras, o que me leva ora a ir de uma nando-o, se possível, com sua experiência pessoal.
a outra, segundo as condições que acentuam ou Depois, apresente-a a um grupo de colegas e de-
diminuem a força de atração de cada uma, ora a bata com eles sobre esse tema.

argumEntaçãO
As distintas formas de raciocinar
Depois dessa exploração sobre os termos e as proposições, retornemos ao estudo dos argumentos para
aprofundar nossa investigação. Dissemos antes que, quando raciocinamos, escolhemos e “manipulamos”
certas informações em um processo que nos leva a outra informação (a conclusão).
também vimos que, dependendo da maneira
DIDa saMPaIO/EstaDãO CONtEúDO

como relacionamos essas informações (a for-


ma lógica), nossa argumentação será válida ou
inválida. se for válida e as premissas forem
verdadeiras, temos uma prova conclusiva do que
foi afirmado (a conclusão).

Ministro do supremo tribunal federal (stf) expõe


os argumentos que justificam seu voto sobre o
reconhecimento da união homoafetiva (entre pessoas do
mesmo sexo) em sessão plenária de 5 de maio de 2011
na sede do stf, em brasília. Como sempre ocorre, os
demais escutam e refletem sobre as razões do colega,
sua validade e correção, podendo rejeitá-las ou apoiá-las,
e até mesmo mudar de opinião e de voto.

Cap’tulo 5 O argumento 107


Essa característica, no entanto, não se aplica a tivo é aquele que vai do maior ao menor, ou do
todo tipo de argumentação. Há outros modos de geral ao particular ou singular, de tal modo que
raciocinar que não têm a mesma força demons- sua conclusão constitui algo que já estava contido,
trativa, mas são usados com frequência e têm mesmo que implicitamente, nas premissas.
bastante utilidade. Por isso tradicionalmente se Isso pode ficar mais claro para você se retor-
distinguem dois tipos de argumentação: um é co- narmos à historieta do início do capítulo, de onde
nhecido como dedução, e o outro, como indução. é possível extrair o seguinte argumento dedutivo
A diferenciação entre eles é fundamental na hora como exemplo:
de avaliar as possibilidades e os limites de uma
demonstração. Vejamos, então, cada um deles.
Exemplo 8 (E8)
Todos os suspeitos são (ou devem ser) pessoas
Dedução que estavam no prédio entre 12 e 14 horas. → P1
A maioria dos exemplos de argumento que vi- Lana não é uma pessoa que estava no prédio
mos até agora são dedutivos. Trabalhamos pri- entre 12 e 14 horas. → P2
meiramente com eles porque, desde Aristóteles, o Logo, Lana não é (ou deve ser)
ideal da lógica tem sido encontrar as condições suspeita. → conclusão
necessárias para que, de proposições verdadeiras,
se obtenham conclusões verdadeiras. E é apenas
o método dedutivo que oferece essa possibilidade Observe que o argumento parte da proposição
e garantia. universal P1 (iniciada por todos) e conclui com
Como vimos, a dedução é um modo de racio- uma proposição singular, referente a apenas um
cinar, argumentar e demonstrar em que a con- único indivíduo (Lana). Sua forma lógica é “Todo A
clusão é uma consequência lógica das premis- é B. c não é B. Logo, c não é A” (forma válida). Esse
sas (ou pelo menos a pessoa que o utiliza pensa tipo de raciocínio é comum na aplicação das leis
ser). Isso quer dizer que, stricto sensu, dedução científicas – que são enunciados gerais – a situa-
e argumento válido se identificam, pois têm a ções específicas (como, por exemplo, quando você
mesma definição – ou seja, toda dedução é um resolve um problema de física).
argumento válido e vice-versa. Mas, se pensar- Note também que o conteúdo da conclusão não
mos na dedução em sentido amplo, também é excede os limites das informações contidas nas pre-
possível dizer que as pessoas podem “deduzir” missas – ele é extraído delas. Por isso, costuma-se
erroneamente sempre que usarem esse método dizer que os argumentos dedutivos, embora forne-
com uma forma inválida, o que de fato fazem com çam provas conclusivas de uma proposição, não são
muita frequência. ampliativos, tendo em vista que nada acrescentam
Há, porém, outra maneira de caracterizar a ao que já se sabia, ou seja, ao que estava implícito
dedução que a diferencia nitidamente da indução nas premissas. O trabalho do argumento dedutivo
(conforme veremos adiante): o argumento dedu- seria “apenas” o de explicitar essa informação.
CuLTurA/yELLOwdOg/gETTy IMAgES

As demonstrações
matemáticas,
como a realizada
na lousa pelo
professor da foto
ao lado, são todas
baseadas no
raciocínio dedutivo.

108 Unidade 1 Filosofar e viver


indução
a indução, por sua vez, costuma ser caracte-
rizada como um modo de raciocinar que vai do Exemplo 10 (E10)
menor ao maior, ou do singular ou particular ao 60% dos entrevistados pelo instituto de pesquisa
geral, de tal maneira que sua conclusão vai além apoiam a nova lei. → P
do que enunciam suas premissas. logo, estima-se que 60% da população apoia a
Nós raciocinamos dessa forma com muita fre- nova lei. → conclusão
quência: temos uma experiência, fazemos um juízo
sobre ela e o generalizamos. Em nossa historieta,
por exemplo, podemos identificar, de forma implí- Observe que, no argumento acima, mesmo se a
cita, o seguinte argumento indutivo: premissa for verdadeira, sua conclusão não será
necessariamente verdadeira, mas terá alta proba-
bilidade de ser verdadeira se, e somente se, a pes-
Exemplo 9 (E9) quisa de opinião foi feita corretamente, seguindo a
um dia meu joelho doeu e depois choveu. → P1 metodologia científica.
Repetidas vezes meu joelho doeu e Portanto, vemos que há diferentes tipos de ra-
depois choveu. → P2 ciocínio indutivo e que alguns podem ser mais ve-
logo, sempre que meu joelho doer rossímeis ou prováveis que outros. No entanto, os
vai chover. → conclusão lógicos têm tido dificuldades em caracterizar um
argumento indutivamente forte, razão pela qual até
nossos dias a lógica indutiva não se desenvolveu
Deixando de lado o toque de humor contido nesse
tanto quanto a lógica dedutiva. Mas alguns estudio-
argumento, observe que ele parte de proposições que
sos assinalam que isso pode estar se modificando,
enunciam uma observação individual relativa a um
pois, com o grande desenvolvimento da inteligência
ou mais momentos (P1 e P2) e, por analogia (relação
artificial nas últimas décadas, é cada vez maior o
de semelhança), a generaliza (aplica-a a momentos
interesse por sistemas de inferência não dedutivos.
similares ainda não experimentados). Note também
que a conclusão não é uma consequência lógica das

NED M. sEIDlER/NatIONal GEOGRaPH/GEtty IMaGEs


premissas, extrapolando as informações disponíveis
nelas, ou seja, a conclusão estende a afirmação con-
tida nas premissas além dos seus limites (para todas
as situações futuras).
a indução tem um lugar de destaque na ciên-
cia, onde costuma ser aplicada de maneira cri-
teriosa e controlada. um cientista, por exemplo,
observa o momento em que a água entra em
ebulição sob determinadas condições e vê que o
termômetro marca certa temperatura; depois
ele realiza a experiência reiteradas vezes sob as
mesmas condições, comprovando que o resul-
tado é sempre o mesmo. Desse modo, ele induz
(conclui por indução) que a água sempre entra
em ebulição a 100 ºC ao nível do mar. Mas essa
conclusão não foi obtida por dedução lógica, e
sim por observação (ou seja, indução).
Por isso, costuma-se dizer que o raciocínio
indutivo é ampliativo, tendo em vista que sua
conclusão vai além do enunciado nas premissas.
Essa é sua riqueza, mas também sua debilidade,
porque a conclusão indutiva será sempre prová- O monge e botânico austríaco Gregor Johann Mendel
vel (provavelmente verdadeira), mas não garantida (1822-1884), retratado por Ned seidler, realizou múltiplas
ou necessária, no sentido estritamente lógico- experiências sobre a hibridação (cruzamento entre variedades
de uma planta), especialmente com ervilhas. suas observações
-dedutivo. Isso fica bem nítido nos estudos estatís- o levaram à elaboração das primeiras leis da genética (as
ticos, como as pesquisas de opinião: chamadas leis de Mendel). Que tipo de raciocínio ele utilizou?

Cap’tulo 5 O argumento 109

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