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UNIDADE TEMÁTICA: Racionalidade argumentativa da filosofia e a

dimensão discursiva do trabalho filosófico

Unidade temática: O discurso argumentativo e principais tipos de


argumentos e falácias informais

1. Principais tipos de argumentos não dedutivos

Em qualquer discurso argumentativo são vários os tipos de argumentos que poderemos usar
quando queremos convencer alguém da razoabilidade de uma tese.
Para além dos argumentos dedutivos, podemos usar outro tipo de argumentos – os não
dedutivos: argumentos indutivos (ou induções), argumentos por analogia e argumentos de
autoridade.

A.
Os argumentos não dedutivos são aqueles em que a verdade das premissas apenas sugere
a plausibilidade da conclusão ou a probabilidade de ela ser também verdadeira. Neste tipo
de argumentos, as premissas apenas dão um suporte parcial à conclusão, fornecendo razões a

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seu favor, mas não a tornando necessariamente verdadeira. Por isso, a conclusão é apenas
recomendada.

B.
A validade dos argumentos não dedutivos depende do grau de probabilidade, de razoabilidade ou
ainda de relevância das proposições que compõem o argumento. Assim, tal validade depende de
aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento.

Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas não propriamente


impossível, ter premissas verdadeiras e conclusão falsa.
Se as premissas não fornecem boas razões para apoiar a verdade da conclusão, o argumento é
inválido – também se lhe chama argumento fraco. Se fornecem boas razões, o argumento é
válido – também se lhe chama argumento forte.

Os argumentos indutivos ou induções podem ser de dois tipos: a generalização e a previsão.

A indução por generalização consiste num argumento cuja conclusão é mais geral do que a(s)
premissa(s).

Exemplo 1:
Todos os peixes observados até agora respiram através da absorção do oxigénio presente na
água.
Logo, todos os peixes respiram através da absorção do oxigénio presente na água.

Exemplo 2:

Alguns corvos são pretos.


Logo, todos os corvos são pretos.

Este tipo de argumentos apresenta a seguinte forma lógica, ou outras formas lógicas análogas:

Alguns F são G.
Logo, todos os F são G.

Uma generalização é válida se cumprir os seguintes requisitos:


– se partir de um número relevante de casos observados;
– se não se tiverem encontrado, depois de procurados, quaisquer contraexemplos;
– se os casos observados forem representativos do universo em questão

Ex: Defender que todos os portugueses vão regularmente ao cinema porque os seus amigos vão
regularmente ao cinema viola estas regras: os meus amigos não são representativos dos
portugueses em geral e há portugueses que não vão ao cinema. As regras e procedimentos da
generalização correta são cruciais na ciência e na elaboração de sondagens representativas,

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previsões de resultados eleitorais, etc. Contudo, os argumentos filosóficos raramente são
generalizações.
Uma das falácias decorrentes do não cumprimento destes requisitos é a falácia da generalização
precipitada, que ocorre quando se conclui abusivamente o geral de apenas um ou poucos casos:

Exemplo:
Fiz um teste de Filosofia e foi difícil.
Logo, todos os testes de Filosofia são difíceis.

Outra falácia decorrente do não cumprimento dos requisitos de validade é a falácia da amostra
não representativa, a qual consiste em concluir de um segmento da população para toda a
população, apesar de poder incluir um número significativo de casos.

Exemplo:
Com base em inquéritos realizados ao conjunto dos estudantes portugueses do ensino superior,
constata-se que todos eles valorizam este tipo de ensino.
Logo, todos os portugueses valorizam o ensino superior.

(Apesar de o número de casos da amostra ser significativo, os estudantes portugueses do


ensino superior não representam a população portuguesa.)

A indução por previsão é o argumento quantificável não dedutivo, que baseando-se em casos
passados, antevê casos não observados, presentes ou futuros.

Exemplo 1:
Todos os cavalos observados até hoje nasceram quadrúpedes.
Logo, o próximo cavalo a nascer também nascerá quadrúpede.

Exemplo 2:
Todos os corvos observados até hoje são pretos.
Logo, o corvo do João é preto.

Uma indução por previsão é válida se cumprir os seguintes requisitos:

– se existir uma forte probabilidade de a conclusão corresponder à realidade;


– se não existir informação disponível contrária ao que se afirma no argumento.

Quando estes requisitos não se cumprem, estamos perante a falácia da previsão inadequada.

Exemplo:
A temperatura na Terra nunca apresentou variações significativas no passado.
Logo, ela nunca apresentará variações significativas no futuro.

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(A conclusão é ilegítima porque existe informação disponível que dá conta do aquecimento
global.)
O argumento por analogia consiste em partir de certas semelhanças ou relações entre dois
objetos ou duas realidades e em encontrar novas semelhanças ou relações. Baseia-se, assim, na
comparação que se estabelece entre as realidades, supondo semelhanças novas a partir das já
conhecidas.

Exemplo:
O cantor A canta bastante bem.
O cantor B tem um timbre e uma extensão vocal semelhantes aos do cantor A.
Logo, o cantor B também canta bastante bem.

Um argumento por analogia é válido se cumprir os seguintes requisitos:

– se as semelhanças entre as realidades forem relevantes no que diz respeito à conclusão;


– se as semelhanças relevantes no que diz respeito à conclusão forem em número suficiente;
– se não existirem diferenças relevantes no que diz respeito à conclusão.

O não cumprimento destes requisitos corresponde à falácia da falsa analogia:

Ex. 1:
O carro da marca X é bastante potente.
O carro da marca Y tem a mesma cor e o mesmo tamanho que o carro da marca X.
Logo o carro da marca Y também é bastante potente.

(Neste caso, as semelhanças não são relevantes no que diz respeito à conclusão.)

Ex. 2:
O médico A, que estudou numa Universidade de prestígio, é um profissional excelente.
O médico B estudou na mesma Universidade.
Logo, O médico B também é um profissional excelente.

(Neste caso, as semelhanças relevantes no que diz respeito à conclusão não são em número
suficiente.)

Exemplo 3:
As máquinas não são conscientes de si.
A mente humana é como uma máquina.
Logo, a mente humana não é consciente de si.

(Neste caso, existem diferenças relevantes entre a mente humana e as máquinas, no que diz
respeito àquilo que é afirmado na conclusão.)

O argumento de autoridade pode ser definido como o argumento que se apoia na opinião de um
especialista ou de uma autoridade para fazer valer a sua conclusão.
Ex1:
Galileu afirmou que todos os corpos caem com aceleração constante.
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Logo, todos os corpos caem com aceleração constante.

Para o argumento de autoridade ser válido deve cumprir os seguintes requisitos:


– deve referir-se o nome da autoridade e a fonte em que ela exprimiu essa ideia;
– a autoridade invocada deve ser um efetivo especialista ou perito na área em questão;
– não pode existir controvérsia entre os especialistas da área em questão, ou seja, aquilo que é
afirmado deve ser amplamente consensual entre as autoridades dessa área;
– o especialista invocado não pode ter interesses pessoais ou de classe no âmbito do assunto em
causa;
– o argumento não pode ser mais fraco do que outro argumento contrário.

Quando estes requisitos não são cumpridos, comete-se a falácia do apelo ilegítimo à
autoridade.

Ex. 1:
Estudos indicam que comer um ovo por dia prejudica a saúde.
Logo, comer um ovo por dia prejudica a saúde.

(Será necessário referir quem foram os autores do estudo; existe controvérsia entre os
especialistas relativamente a este assunto; além disso, o argumento talvez seja mais fraco do que
o argumento contrário.)

Ex. 2:
Um membro do governo afirmou que, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos
cidadãos aumentou bastante.
Logo, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos cidadãos aumentou bastante.

(Além de não ser referido o nome da pessoa invocada, talvez também não se trate de uma
autoridade efetiva na área em questão, sendo inclusive alguém com interesses pessoais no
âmbito do assunto em causa; além disso, existe certamente controvérsia entre os especialistas
relativamente a este assunto.)

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2. Falácias informais

As falácias informais são argumentos inválidos, aparentemente válidos, e cuja invalidade não
resulta de uma deficiência formal, antes decorre do conteúdo do argumento, da sua matéria, da
linguagem natural comum usada nesses argumentos.

Uma vez que este tipo de falácias não depende da forma lógica do argumento, pode haver
argumentos com a mesma forma que sejam fortes ou fracos, bons ou maus, válidos ou inválidos.

Algumas falácias informais foram já referidas – as da generalização precipitada, da amostra não


representativa, da previsão inadequada, da falsa analogia e do apelo ilegítimo à autoridade.

Vamos agora ver outras, que são bastante comuns.

A falácia da petição de princípio é a falácia que consiste em assumir como verdadeiro aquilo
que se pretende provar. Neste tipo de argumento falacioso, a conclusão é usada, de uma forma
implícita, como premissa, encontrando-se muitas vezes disfarçada com palavras de significação
idêntica à daquelas que aparecem na conclusão propriamente dita. Também se chama
argumento circular ou falácia da circularidade à petição de princípio.

Ex.1:
Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à saúde.

Ex.2:
O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência.

A falácia do falso dilema é a falácia que consiste em reduzir as opções possíveis a apenas duas,
ignorando-se as restantes alternativas, e em extrair uma conclusão a partir dessa disjunção falsa.
“Falso dilema” é sinónimo de “falsa dicotomia”.

Exemplos de disjunções falsas:

Ex.1
Ou votas no partido x ou será a desgraça do país.
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(Outros partidos são ignorados.)

Ex.2
Ou estás comigo ou estás contra mim.
(Ignora-se a possibilidade de se ser neutro.)

Vejamos agora o exemplo de um argumento baseado neste tipo de premissas:

Ex.3:
Ou votas no partido x, ou será a desgraça do país.
Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.

Embora seja válido em termos dedutivos, este argumento exprime um falso dilema: ignora-se a
possibilidade de todos os outros partidos poderem evitar a desgraça do país.

A falácia da falsa relação causal – conhecida também como “post hoc, ergo propter hoc”, que
significa “depois disto, logo por causa disto” – é a falácia que se comete sempre que se toma
como causa de algo aquilo que é apenas um antecedente ou uma qualquer circunstância
acidental. Trata-se, por isso, de concluir que há uma relação de causa e efeito entre dois
acontecimentos que se verificam em simultâneo ou em que um se verifica após o outro.

Ex.1:
Sempre que eu entro com o pé direito no campo, a minha equipa ganha o jogo.
Logo, a causa das nossas vitórias é o facto de eu entrar com o pé direito no campo.

Ex.2:
Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa.
Logo, a chuva é a causa das classificações negativas dos meus testes.

A falácia ad hominem é a falácia que se comete quando, em vez de se atacar ou refutar a tese
de alguém, se ataca a pessoa ataca-se a pessoa que apresentou um argumento e não o
argumento que foi apresentado. Formas mais habituais: (1) Ataque ao carácter da pessoa ou (2)
referem-se circunstâncias relativas à pessoa ou (3) invoca-se o facto de a pessoa não praticar o
que diz

Ex. 1
É natural que concordes com o congelamento dos salários. Tu és rico...
O que há de errado: O carácter ou outros aspectos respeitantes à pessoa não têm nada a ver com
a verdade ou falsidade do que ela defende.

Ex. 2:
Dizes que eu não devo beber, mas tu andas sempre nos “copos”...

A falácia ad populum é a falácia que se comete quando se apela à opinião da maioria para fazer
valer a verdade de uma conclusão.
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Ex. 1:
A maioria das pessoas considera que a leitura é uma perda de tempo. Logo, a leitura é uma perda
de tempo.

Ex. 2:
A maioria dos contribuintes considera legítimo fugir ao fisco.
Logo, é legítimo fugir ao fisco.

A falácia do apelo à ignorância é a falácia que se comete quando uma proposição é tida como
verdadeira só porque não se provou a sua falsidade ou como falsa só porque não se provou que é
verdadeira.

Ex.1:
Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém provou que eles existem.
Ex.2:
A alma é imortal. Isto porque ninguém provou que a alma morre com o corpo.

A falácia do espantalho ou do boneco de palha é a falácia cometida sempre que alguém, em


vez de refutar o verdadeiro argumento do seu opositor/interlocutor, ataca ou refuta uma versão
simplificada, mais fraca e deturpada desse argumento, a fim de ser mais fácil de rebater a tese
oposta. Trata-se de distorcer as ideias do interlocutor para que elas pareçam falsas.

Ex.1:
António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de industrialização os
tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis.
Manuel refuta António dizendo: “António quer que apenas comamos alface!“

(Note-se que em momento algum António defende que não devemos comer qualquer tipo de
carne, sugerindo que sejamos vegetarianos – “comer alface” –, mas apenas aquele tipo de carne
sujeito às condições descritas. O argumento é assim deturpado e simplificado.)

A falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio” é a falácia cometida


sempre que alguém, para refutar uma tese ou para defender a sua, apresenta, pelo menos, uma
premissa falsa ou duvidosa e uma série de consequências progressivamente inaceitáveis. A partir
da primeira premissa, outras vão surgindo, até se mostrar que um determinado resultado
indesejável inevitavelmente se seguirá.

Ex1:
Se jogares a dinheiro, vais viciar-te no jogo. Se te viciares no jogo, perderás tudo o que tens. Se
perderes tudo o que tens, terás de mendigar. Se tiveres de mendigar, ninguém te dará nada. Se
ninguém te der nada, morrerás à fome. Logo, se jogares a dinheiro, morrerás à fome.

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Consolidação da aprendizagem

I
Compare e avalie os dois argumentos de autoridade a seguir apresentados, recorrendo aos critérios que
explicitamos.

A.
Se os filmes de violência que a televisã o transmite afetam psicologicamente as pessoas, deveriam ser censurados.
Todavia, estudos levados a cabo por psicó logos especialistas no tema mostraram que nã o há correlaçã o
significativa entre o visionamento desses filmes e comportamentos violentos das pessoas que a eles assistam. De
modo que nã o é preciso exercer censura sobre esse tipo de filmes.

B.
«No livro didá tico X, as personagens que praticam boas açõ es sã o sempre ilustradas como loiras de olhos azuis,
enquanto as má s sã o sempre morenas ou negras. Podemos dizer que o livro X é racista, pois, segundo o
antropó logo Kabengele Munanga, do Museu de Antropologia da USP, ilustraçõ es que associam traços positivos
apenas a determinados tipos raciais sã o racistas.»1

II
Analise o seguinte argumento:

Nã o devíamos censurar os media pela deterioraçã o dos padrõ es morais. Os jornalistas tanto da imprensa escrita
como das televisõ es sã o como os elementos que noticiam o boletim meteoroló gico e que nó s nã o censuramos por
preverem o mau tempo.

1. Identifique, justificando, o tipo de argumento a que se está a recorrer.


2. Mostre que se está perante um argumento falacioso.

III
Cada um dos seguintes argumentos informais é válido. Identifica-o.

1) O Instituto Português de Oncologia divulgou dados do ano transato e neles é dado conhecimento que as
mortes ligadas a problemas cancerígenos diminuíram em Portugal, no ano passado, 3,1%, comparativamente
com o ano anterior. Logo, as mortes ligadas a problemas cancerígenos diminuíram em Portugal, no ano passado,
3,1%, comparativamente com o ano anterior.

1 In Jill LeBlanc, Thinking Clearly, 1998.


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2) Os testes do Sinupax começaram por ser realizados em ratinhos, depois disso foram cuidadosamente
monitorizados em seres humanos, tendo-se seguido em todo o processo de experimentaçã o as mais importantes
recomendaçõ es internacionais. Concluído que está esse processo, nã o restam dú vidas: efeitos secundá rios,
profundamente lesivos para a saú de humana, nã o existem.

3) Quando conheci a Joana, dei por mim a pensar nela a toda a hora, a nã o conseguir imaginar a minha vida sem
ela, a concentrar-me somente no que ela tinha de bom e a praticamente ignorar o que nela menos gostava. Por
outras palavras, descobri-me apaixonado por ela. Se é isto o que realmente sentes relativamente a alguém, entã o
está s apaixonado(a)

IV

Identifica as falácias informais presentes em cada um dos seguintes argumentos, e justifica a sua
invalidade.

1) Os homens afegã os dizem que, no Afeganistã o, há igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Logo,
no Afeganistã o há igualdade de oportunidades para homens e mulheres.

2) Os cã es ladram. Uma vez que os gatos sã o animais, sã o como os cã es. Logo, os gatos ladram.

3)Quando a Seleçã o Nacional ganhou o europeu de futebol, comi batatas fritas enquanto estava a ver todos os
jogos. Este ano também vou comer batatas fritas durante todos os jogos. Tenho a certeza que se o fizer, vamos
ser outra vez campeõ es.

4)Quando os políticos que defendem os direitos dos animais nos falam desses direitos, vem-me de imediato à
mente a imagem da urgência de um hospital em que tigres, rinocerontes e papagaios circulam entre nó s nos
corredores, nos perguntam onde fica o WC, sã o encaminhados por enfermeiros para salas onde se leva injeçõ es, e
se sentam ao nosso lado com um penso numa pata, com a outra a pressionar o curativo para a ferida cicatrizar.

5) Se a mú sica dita “pimba” é a que mais vende, é porque é objetivamente a melhor.

6) Aceitando hoje que se implemente o controlo de armas, mais tarde ou mais cedo os nossos militares nem vã o
ter com que se defender.

7) Dado que ninguém conseguiu provar a veracidade de muitas afirmaçõ es de

Einstein, entã o essas afirmaçõ es sã o falsas.

8) A Madonna afirmou que a feijoada à transmontana é altamente prejudicial à saú de. Logo, a feijoada à
transmontana é altamente prejudicial à saú de.

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9) Diz-me um vendedor de automó veis: “ou compra este carro, ou vai fazer uma má compra”.

10) De nada valem as conclusõ es de um cientista acerca do desenvolvimento infantil que diz nã o gostar de
crianças.

FIM

Bom Trabalho

Consolidação da aprendizagem

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Sugestões de resposta:

Exemplos de falacias informais


A – boneco de palha; B – falso dilema; C – derrapagem; D – ad hominem; E – petiçã o de princípio; F – amostra nã o
representativa; G – ad populum; H – apelo à ignorâ ncia ou ad ignrantia; I – falsa relaçã o causal; J – generalizaçã o
apressada; K – falsa analogia; L – apelo à autoridade.

I
O argumento B constitui um bom exemplo de um argumento de autoridade. Para o caso é invocado um
especialista na matéria, um antropó logo da Universidade de Sã o Paulo. Por outro lado, tanto quanto podemos
perceber, a opiniã o expressa é consensual, até porque se analisarmos a situaçã o numa base de razoabilidade
facilmente aderimos também à conclusã o suportada por esta autoridade.

Já o argumento A constitui um mau exemplo de um argumento de autoridade pois as autoridades aqui


invocadas, além de nã o serem devidamente creditadas, pronunciam-se sobre uma questã o que está longe de
obter uma resposta consensual; portanto requerer-se-iam mais opiniõ es e estudos, antes de se chegar a uma
conclusã o e a uma decisã o tã o importantes para a vida social.

II
1. Constitui um exemplo de um argumento por analogia. Trata-se de um argumento por analogia, já que se
comparam duas situaçõ es/objetos que têm algumas semelhanças entre si, embora também tenham
diferenças. Com base nessas semelhanças, considera-se que a conclusã o que convém a um também convém
ao outro. No caso, convém que nã o culpemos os meteorologistas pelo mau tempo que preveem e, portanto,
também convém que nã o culpemos os media pela deterioraçã o dos padrõ es morais da sociedade.

2. Este argumento assume contornos de um argumento falacioso – falsa analogia – porque os objetos que
estã o a ser comparados têm entre si diferenças muito significativas que nã o autorizam a conclusã o. A
meteorologia é uma disciplina científica que fornece previsõ es com base em factos, especificamente
estabelecidos para o efeito. Os media selecionam os factos de que nos vã o informar – nem tudo é notícia –,
escolhem uns e omitem outros, interpretam-nos e tanto pelo que omitem como pelo que reportam dã o-nos a
ver nã o a realidade mas a construçã o que eles pró prios fazem da realidade. Portanto, a sua responsabilidade
enquanto «fazedores de opiniã o pú blica», transmissores de valores e modeladores de comportamentos nada
tem a ver com a que podemos atribuir aos meteorologistas.

III
1) Argumento de autoridade;

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2) Generalização;

3) Analogia.

IV
1) Falácia da amostra não representativa. Os inquiridos (homens) nã o sã o representativos do universo
em aná lise (homens e mulheres, e respetivos direitos, supostamente iguais).

2) Falácia da falsa analogia. As diferenças entre o cã o e o gato sã o muito mais relevantes do que a
semelhança invocada, nã o permitindo que se conclua que os gatos ladram.

3) Falácia da falsa relação causal. O facto de a ingestã o de batatas fritas por parte de um espectador da
seleçã o nacional de futebol coincidir com a conquista do título europeu, nã o passa de uma simples
coincidência, nã o sendo, portanto, a causa do desejado efeito, que foi a conquista da respetiva Taça.

4) Falácia do boneco de palha. É ridicularizado o ponto de vista de quem perspetiva de modo diferente os
direitos dos animais, para mais facilmente obter a concordâ ncia de quem ouve, e assim refutar esse ponto de
vista contrá rio.

5) Falácia ad populum. Recorre-se à opiniã o da maioria, muitas vezes nã o fundamentada, para impor como
sendo uma verdade objetiva o que nã o passa de uma opiniã o subjetiva. Se a mú sica “pimba” é a que mais
vende, isso nã o faz dela necessariamente o melhor dos estilos musicais.

6) Falácia da derrapagem. Pode ser-se a favor do controlo de armas, sem considerar, no entanto, que isso
corresponde a uma interdiçã o absoluta, incluindo, portanto, aqueles, os militares, que fazem delas, entre
outros dispositivos, ferramentas de trabalho. Assim, nã o é porque se decide hoje pelo controlo de armas, que
vamos ser conduzidos, como se numa bola de neve incontroladamente deslizá ssemos, a interditar qualquer
posse ou uso de armas.

7) Falácia do apelo à ignorância. Muitas das afirmaçõ es de Einstein ainda hoje, tal como Eddington provou
enquanto Einstein ainda estava vivo, sã o verdadeiras, apesar de Einstein nã o o ter podido empiricamente
provar.

8) Falácia do apelo ilegítimo à autoridade. A Madonna nã o é uma especialista em nutricionismo,


nã o obstante todas as dietas que já possa ter realizado durante a sua vida.

9) Falácia do falso dilema. É possível comprar um outro carro, porventura de uma outra marca e um outro
modelo, que nã o aquele que o vendedor de automó veis nos quer vender, e ainda assim fazer uma boa
compra.

10) Falácia ad hominem. Ignora-se a validade do raciocínio de um cientista, com base em observaçõ es
(gostos) pessoais do mesmo. Watson, por exemplo, foi um conhecido psicó logo que, de facto, afirmava nã o
gostar de crianças, nã o obstante ter efetuado descobertas importantes na sua á rea científica de investigaçã o,
que incluía o comportamento de crianças.

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