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10º - Filosofia

Teste 3 - Argumentos não dedutivos; falácias informais

1. Argumentos não dedutivos vs dedutivos

Os argumentos não dedutivos têm uma natureza diferente dos dedutivos, em vários
sentidos:

- Avaliação:
Os argumentos dedutivos são válidos ou inválidos, dependendo da sua forma lógica.
Os argumentos não dedutivos são fortes ou fracos, dependendo do seu conteúdo.
- Conclusão:
Num argumento dedutivo válido, a verdade das premissas garante a verdade da
conclusão.
Num argumento não dedutivo forte, a verdade das premissas torna provável a
verdade da conclusão.

São os argumentos que usamos no nosso quotidiano, e apesar de terem uma forma “mais
livre”, ainda estão sujeitos à aplicação de certos critérios que determinam a sua força.

2. Principais argumentos não dedutivos

Argumento indutivo por generalização:

▪︎︎Faz parte do grupo dos argumentos indutivos. Consiste em partir de um número finito de
casos particulares observados, de modo a formar uma conclusão geral.

Ex.: Os patos observados na Terra têm bico. Logo, todos os patos na Terra têm bico.

Forma: Os X observados têm Y. Logo, todos os X têm Y.

Argumento indutivo por previsão:


▪︎︎Faz parte do grupo dos argumentos indutivos. Consiste em partir de um número finito de
situações passadas consistentes, de modo a concluir que se repetirão no futuro.

Ex.: Desde o início do ano letivo, o professor nunca faltou às suas aulas. Logo, amanhã ele
vai dar as suas aulas.

Forma: Os X observados foram Y. Logo, o próximo X será Y.

Argumento por analogia:

▪︎︎Trata-se de um argumento que consiste na comparação de duas coisas semelhantes em


certos aspetos, afirmando que serão semelhantes também noutros aspetos.

Ex.: Pilotar um avião é uma profissão que requer alta especialização devido ao seu alto risco.
Logo, como o manuseamento de substâncias químicas perigosas impõe também alto
risco a quem trabalha com eles, os que o fazem também necessitam de alta especialização.

Forma: X é como Y em A. X é B. Logo, Y também é B.

Argumento de autoridade:

▪︎︎É um argumento que se baseia nos conhecimentos e afirmações de alguém qualificado


para as fazer, em falta de conhecimento próprio.

Ex.: De acordo com um estudo realizado pela Administração Oceânica e Atmosférica


Nacional, os níveis de CO2 da atmosfera na ilha Terceira têm vindo a aumentar a um ritmo
mais ou menos constante desde 1980.
Logo, é seguro afirmar que se verifica um aumento dos níveis de CO2 na atmosfera.

Forma: X (entidade qualificada) diz A. Logo A é verdade.

✫・゜・。.
3. Falácias informais relacionadas com os tipos de
argumentos não dedutivos

De uma forma semelhante aos argumentos dedutivos, os não dedutivos possuem também
falácias correspondentes à sua utilização incorreta.

Falácia da generalização precipitada: (arg. ind. por generalização)

▪︎︎Verifica-se quando a conclusão se baseia numa amostra reduzida de casos particulares,


ou quando existem contraexemplos que refutam a conclusão.

Ex.: Vi dois gatos com o pelo às riscas. Logo, todos os gatos na Terra têm o pelo às riscas.

É um argumento fraco, porque para além de se basear numa amostra de apenas duas
entidades, há inúmeros contraexemplos de gatos com várias cores e padrões no seu pelo.

Falácia da amostra não representativa: (arg. ind. por previsão / generalização)

▪︎︎Verifica-se quando se baseia uma conclusão em amostras não representativas ou


irrelacionadas.

Ex.: Para ter uma ideia das crenças religiosas dos cidadãos dos EUA, fomos entrevistar
cidadãos do estado do Texas. A maioria apresentou uma crença no cristianismo.
Logo, os cidadãos dos EUA têm uma tendência para seguir a doutrina cristã.

O argumento é fraco, pois retirou a sua conclusão a partir de uma amostra específica (1
estado de 50), que não representa o país inteiro.

Falácia da falsa analogia: (arg. por analogia)

▪︎︎Trata-se de tirar uma conclusão baseada numa comparação entre duas coisas muito
distintas em vários aspetos, ou quando as semelhanças entre elas são pouco ou nada
relevantes para a construção do argumento.
Ex.: Empregados numa empresa são como pregos numa casa de madeira, pois trabalham
em conjunto para assegurar o funcionamento de um todo.
Logo, tal como martelamos pregos, devemos martelar empregados para que
desempenhem a sua função.

É um argumento fraco, porque pessoas, neste caso empregados, são seres humanos,
enquanto pregos são pequenos objetos, sendo distintos em demasiados aspectos para serem
comparáveis. Para além disso, o facto de ambos trabalharem em conjunto é irrelevante para
determinar a necessidade de martelar pessoas.

Falácia do apelo à autoridade: (arg. de autoridade)

▪︎︎Acontece quando a autoridade a que se recorre não é qualificada no assunto do


argumento, não é imparcial, não é referida ou a conclusão tirada não é um consenso
(mais relacionado com afirmações relativas a áreas da ciência).

Ex.: Ouvi dizer que o chocolate é excelente para a saúde dentífrica. Logo, deve ser verdade.
Ex. 2: Vi na televisão um médico especializado em hepatologia a dizer que na verdade o
álcool em altas quantidades é benéfico para o bom funcionamento do fígado. Portanto, deve
ser verdade.
Ex. 3: O meu primo, dono de uma empresa especializada na extração de petróleo, esteve-me
a explicar que o aquecimento global é um processo natural que não é causado pelo ser
humano. Ele é bastante inteligente, portanto deve ser verdade.

No primeiro exemplo, as fontes não são citadas, tornando a afirmação duvidosa.

No segundo, apesar da fonte citada ser qualificada, a sua afirmação vai contra o consenso
científico, tendo já sido refutada com estudos prévios.

No último exemplo, a fonte citada, para além de não qualificada, não é imparcial, visto que o
seu rendimento provém da extração de combustíveis fósseis, responsáveis, pelo menos em
parte, pelo aquecimento global.

4. Outras falácias informais

As falácias a seguir não estão propriamente relacionadas com os tipos de argumentos


mencionados anteriormente, mas são amplamente utilizadas no nosso quotidiano, como
forma de manipulação, através da ignorância de quem os ouve.
Falácia da petição de princípio:

▪︎︎Acontece quando a verdade da conclusão é pressuposta nas premissas, isto é, quando a


conclusão é reafirmada nas premissas de forma ligeiramente diferente.

Ex.: Deus existe porque está escrito na Bíblia que assim o é. O que está escrito na Bíblia é
garantidamente verdade, porque é a palavra de Deus, que é incapaz de mentir.

É um argumento fraco porque, para acreditar em Deus, é necessário primeiro acreditar que
Deus tenha escrito a Bíblia, e para isso, é necessário que ele seja uma entidade real.
Ou seja, a conclusão assenta numa ideia que volta a si, num ciclo vicioso.

Falácia do falso dilema / falsa dicotomia:

▪︎︎Acontece quando o argumento apresenta duas alternativas altamente simplificadas e


mutuamente exclusivas, enquanto ao mesmo tempo ignora outras alternativas possíveis.

Ex.: Ou és contra o aborto ou apoias o assassinato de bebés.

O aborto é um assunto altamente complexo, e o argumento acima apresenta apenas duas


maneiras muito simplistas de olhar para ele. É possível ter opiniões que se encontram entre
os dois extremos (a favor ou contra), e para além disso, o argumento está estruturado de
maneira a reduzir aqueles a favor a assassinos, de forma a constranger e/ou intimidá-los.

Falácia da falsa relação causal:

▪︎︎Acontece quando se relacionam dois eventos seguidos, afirmando que um é a causa do


outro, apesar de não estarem ligados.

Ex.: Uns dias depois de ter ido explorar uma casa com fama de assombrada, comecei a
sentir-me observado e não encontro alguns objetos em minha casa. Logo, estou a ser
assombrado pelos espíritos da casa.

Os dois eventos acima não estão necessariamente ligados, a paranóia e a falta de alguns
objetos está provavelmente ligada à superstição ou pobre saúde mental, não propriamente à
existência e perseguição de uma entidade sobrenatural.

Falácia do ataque à pessoa / ad hominem:


▪︎︎Consiste no ataque à pessoa que afirma algo, em vez de atacar e refutar os seus
argumentos. Pode estar relacionada com preconceito ou pode basear-se no facto de que o
argumentador não pratica o que afirma, utilizando a sua hipocrisia como refutação.

Ex.: O meu vizinho tentou discutir a possibilidade de angariarmos dinheiro para construir
uma pequena piscina partilhada entre os residentes do bairro.
Eu recusei imediatamente, uma vez que ele tem ar de drogado, e deve querer o dinheiro
para isso.

Trata-se de um argumento fraco, pois foca-se em acusar o vizinho de algo irrelacionado, de


modo a sustentar a sua posição.

Falácia do apelo ao povo / ad populum:

▪︎︎Muito utilizada em publicidade, consiste em basear a força de um argumento na opinião


de uma maioria ou grande quantidade de pessoas.

Ex.: “As nossas tintas são as mais resistentes e mais vibrantes do mercado, sendo
recomendadas por mais de 95% dos artistas a quem enviamos amostras dos nossos
produtos!”
Sendo assim, as tintas devem ser mesmo muito boas.

A suposta aprovação do produto por uma maioria dos que o provaram não é uma boa forma
de provar a sua qualidade. As estatísticas podem ser facilmente alteradas ou simplesmente
inventadas.

Falácia do apelo à ignorância:

▪︎︎Consiste em afirmar que algo é verdadeiro ou falso porque o contrário ainda não foi
provado.

Ex.: Até agora, não vi provas de que as fadas não existem, portanto elas existem.

Há muitas coisas praticamente impossíveis de provar, principalmente quando se fala de


entidades sobrenaturais, logo, basear a sua existência no facto de que não há provas físicas
de que não são reais não leva a argumentos muito fortes.

Falácia do espantalho / boneco de palha:


▪︎︎Consiste em deturpar ou caricaturar um argumento, e de seguida refutar essa forma mais
fraca e simplificada da tese. É de um certo modo parecido ao ataque à pessoa, uma vez que
acaba por fugir ao assunto, atacando algo diferente do argumento inicial.

Ex.: “Devemos ter secções de educação sexual durante o período letivo dos adolescentes, de
modo a educar a população sobre métodos contraceptivos, sexualidade, género e mudanças
que ocorrem durante a puberdade”.

A esquerda quer ensinar e mostrar sexo a crianças inocentes, e indoctriná-las com a


ideologia de género! Não podemos permitir algo assim.

De um argumento para o outro, é clara a diferença de intenção e conteúdo. O segundo é uma


caricatura tendenciosa do primeiro, de modo a descredibilizar tanto quem faz o argumento
como o argumento em si.

Falácia da derrapagem / bola de neve:

▪︎︎Consiste na afirmação de que uma ação levará a outras e a consequências terríveis e


inevitáveis.

Ex.: Se for aumentado o controlo da posse de armas automáticas, eventualmente, será


também aumentado o controlo de todas as armas. De seguida, será apenas uma questão de
tempo até perdermos mais dos nossos direitos, e então os cidadãos ficarão indefesos contra
um estado totalitário.

O argumento afirma que a partir de um evento inicial, se desencadeará uma cadeia de


eventos que terão implicações/consequências extremamente negativas para o ouvinte.
Mais uma vez, torna uma situação complexa em algo muito simples, ignorando variáveis que
poderão alterar cada passo dessa cadeia supostamente inevitável.

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