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FALÁCIAS

Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente,


sem fundamento, inválido ou falho na capacidade de provar eficazmente o que alega.
Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte
do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso.
Segundo Irving Copi, uma falácia é uma forma de raciocínio incorreto que se
reveste de um teor persuasivo tal que lhe é conferida aparente correção (COPI, 1968, p.
73). Ou seja, são argumentos que, apesar de, à primeira vista, mostrarem-se corretos, com
uma análise mais detalhada podem ser “desmascarados”.
Marcus Sacrini (2016, p. 224) identificará as falácias como “maus argumentos”
ou “maus movimentos argumentativos em uma discussão”.

Falácias Formais:

As falácias formais “são assim nomeadas devido a uma utilização errônea das
formas das asserções ou dos movimentos inferenciais, utilização que se assemelha a
padrões argumentativos bem montados” (SACRINI, 2016, p. 227).
As falácias formais podem ser classificadas de várias maneiras, para a nossa aula,
tendo em vista o tempo disponível e os objetivos da disciplina, não estudaremos a
classificação, mas buscaremos através de exemplos, compreender o que é uma falácia
formal.
Exemplos de falácias formais:

1 - Se a, então b.
2–b
3 – logo, a.
(Se choveu, então o pátio está molhado. O pátio está molhado. Portanto, choveu).

1 – Se a, então b.
2 – não – a.
3 – logo não – b.
(Se choveu, então o pátio está molhado. Não choveu. Portanto, o pátio não está
molhado).
Maneiras de formular estes argumentos de tal modo que não sejam falaciosos.
- Se choveu, então o pátio está molhado. Está chovendo. Portanto, o pátio está
molhado.
- Se choveu, então o pátio está molhado. O pátio não está molhado. Portanto, não
choveu.

Falácias Informais:

As falácias informais indicam argumentos que não são falaciosos por causa da sua
forma, mas sim de seu conteúdo.

Lista das Falácias Informais Estudadas:


1. Falácia de Ambiguidade / Equívoco
2. Apelo à Autoridade Irrelevante
3. Apelo ao Povo (argumentum ad populum)
4. Ataque à Pessoa / Argumento contra o homem (argumentum ad hominem)
5. Falácia da Ignorância (argumentum ad ignorantiam)
6. Apelo à Misericórdia, à Piedade (argumentum ad misericordiam, ignorância de
questão, fuga do assunto)
7. Apelo à Força (argumentum ad baculum)
8. Questão Complexa (pergunta capciosa, falácia da interrogação, da pressuposição)
9. Falsa Analogia
10. Apelo à Novidade (argumentum ad novitatem)
11. Falsa Causa

1. Falácia de Ambiguidade / Equívoco

“Certos erros inferenciais derivam de um uso ambíguo da linguagem, isto é, da


atribuição de mais de um sentido a um termo ou mesmo uma sentença. Quanto aos termos
ou expressões de um argumento, espera-se que eles preservem um único sentido. Se os
termos comportam dois ou mais sentidos e, no correr das inferências, consideram-se ora
um ora outro, então se comete uma falácia de ambiguidade” (SACRINI, 2016, p. 230).
Exemplos:
“A disputa foi decidida entre a menina e o menino. Aquele que derrubar o outro
vence. Derrubou o menino a menina. Portanto, a menina é a vencedora”.
“As mangas são comestíveis. E nessa camisa há duas mangas. Assim, vou
alimentar-me dessa camisa”.

2. Apelo à Autoridade Irrelevante

“Um apelo à autoridade é um apelo ao senso de modéstia [Engel], o que quer


dizer, um apelo ao sentimento de que os outros são mais bem informados. A esmagadora
maioria das coisas nas quais acreditamos, como os átomos e o sistema solar, assentam em
uma autoridade fiável, assim como todas as afirmações históricas, parafraseando C. S.
Lewis. É possível apelar razoavelmente à autoridade pertinente, como os cientistas e os
acadêmicos tipicamente o fazem. Um argumento se torna falacioso quando o apelo é a
uma autoridade que não é especialista no assunto em questão. Um apelo semelhante que
merece atenção é o apelo à autoridade vaga, onde uma ideia é atribuída a um coletivo
vago. Por exemplo, Professores alemães mostraram que tal e tal coisa é verdadeira”
(ALMOSSAWI, 2017, p. 14).

Exemplos:
Votarei neste candidato, pois o ator da novela está apoiando a sua campanha.
O creme é muito bom, pois ele é usado pela Xuxa.

Contra – argumentação:
Mostre que a pessoa citada não é autoridade qualificada. Ou que muitas vezes é
perigoso aceitar uma opinião porque simplesmente é defendida por uma autoridade. Isso
pode nos levar a erro.
3. Apelo ao Povo (argumentum ad populum)

“ (...) Tal argumento usa o fato de que um número considerável de pessoas, talvez
mesmo a maioria, acredita em algo, como evidência de que, portanto, esse algo deve ser
verdade” (ALMOSSAWI, 2017, p. 40). Incluem-se aqui os boatos, o "ouvi falar", o
"dizem", o "sabe-se que".

Exemplos:
Dizem que um disco voador caiu em Minas Gerais, e os corpos dos alienígenas
estão com as Forças Armadas.
Havaianas é uma boa sandália, tendo em vista que todo mundo usa.

Contra – argumentação:
Os educadores, os professores, as mães têm o argumento: se todos querem se
atirar em alto mar, você também quer? O fato de a maioria acreditar em algo não o torna
verdadeiro. Quem nunca teve este diálogo com a mãe:
- Mas, mãe, todo mundo vai!
- Você não é todo mundo.

4. Ataque à Pessoa / Argumento contra o homem (argumentum ad hominem)

Consiste em atacar, em desmoralizar a pessoa e não seus argumentos. Pensa-se


que, ao se atacar a pessoa, pode-se enfraquecer ou anular sua argumentação. “Um
argumento ad hominem é aquele que ataca o caráter de uma pessoa e não o que ele ou ela
está dizendo, com a intenção de desviar a discussão e desacreditar o seu argumento”
(ALMOSSAWI, 2017, p. 42).

Exemplos:
Não dêem ouvidos ao que ele diz: ele é um beberrão, bate na mulher e tem
amantes.
Contra - argumentação:
Mostre que o caráter da pessoa não tem relação com a proposição defendida por
ela. Chamar alguém de corrupto, nazista, comunista, ateu, pedófilo, etc. não prova que
suas ideias estejam erradas.

5. Apelo à Ignorância (argumentum ad ignorantiam).

“Tal argumento assume que uma proposição é verdadeira simplesmente porque


não há evidência provando que ela não é. Assim, a ausência de evidência é tomada como
evidência de ausência. Um exemplo, citado por Carl Sagan: “Não há nenhuma evidência
convincente de que os OVNIs não estão visitando a Terra; portanto OVNIS existem.”
(ALMOSSAWI, 2017, p. 26).

6. Apelo à Misericórdia, à Piedade (argumentum ad misericordiam, ignorância de questão,


fuga do assunto)

Consiste em apelar à piedade, à misericórdia, ao estado ou virtudes do autor.

Exemplo:
Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu com a escola, com
a igreja, etc.

Contra - argumentação:
Argumente que se trata de questões diferentes, que o que é invocado nada tem a
ver com a proposição. Quem argumenta assim ignora a questão, foge do assunto.

7. Apelo à Força (argumentum ad baculum)

“Esta falácia joga com os temores de uma audiência, imaginando um futuro


assustador ao qual se chegaria se uma determinada proposição fosse aceita. Em vez de
fornecer evidências para mostrar que uma conclusão decorre de um conjunto de
premissas, o que pode fornecer uma causa legítima para o medo, tais argumentos
dependem de retórica, de ameaças ou de mentiras. Por exemplo, “Peço a todos os
funcionários para votar em meu candidato nas próximas eleições. Se o outro candidato
vencer, ele vai aumentar os impostos e muitos de vocês irão perder seus empregos””
(ALMOSSAWI, 2017, p. 22). Consiste em ameaçar com consequências desagradáveis se
não for aceita ou acatada a proposição apresentada.

Exemplos:
Você deve se enquadrar nas novas normas do setor. Ou quer perder o emprego?

É melhor exterminar os bandidos: você poderá ser a próxima vítima.

Cala essa tua boca, ou não te dou o dinheiro para o show

Contra – argumentação:
Argumente que apelar à força não é racional, não é argumento, que a emoção
não tem relação com a verdade ou a falsidade da proposição.

8. Questão Complexa (pergunta capciosa, falácia da interrogação, da pressuposição)

Consiste em apresentar duas proposições conectadas como se fossem uma única


proposição, pressupondo-se que já se tenha dado uma resposta a uma pergunta anterior.

Exemplos:

Você já abandonou seus maus hábitos?"


Você já deixou de roubar no mercado onde trabalha?"

Contra - argumentação:
Mostre que existem duas proposições e que uma pode ser aceita e outra não.
Desfaça a pergunta complexa através de um diálogo racional.
9. Falsa Analogia

Consiste em comparar objetos ou situações que não são comparáveis entre si, ou
transferir um resultado de uma situação para outra.

Exemplos:
Os empregados são como pregos: temos que martelar a cabeça para que
cumpram suas funções.
Tomei mata-cura e fiquei bom. Tome você também." (essa é muito usada por
artistas e celebridades em comerciais)

Contra - argumentação:
Argumente que os dois objetos ou situações diferem de tal modo que a analogia
se torna insustentável. Mostre que o que vale para uma situação não vale para outra.

10. Apelo à Novidade (argumentum ad novitatem)

Consiste no erro de afirmar que algo é melhor ou mais correto porque é novo, ou
mais novo.

Exemplo:
"Saiu a nova geladeira Pólo Sul. Com design moderno, arrojado, ela é perfeita
para sua família, sintonizada com o futuro."

Contra - argumentação:
Mostre que o progresso ou a inovação tecnológica não implica necessariamente
que algo seja melhor.

11. Falsa Causa

Afirma que, apenas porque dois eventos ocorreram juntos, eles estão relacionados.
Exemplos:
Não vou mais lavar o carro, pois chove toda vez que eu faço isso.
Nota-se uma maior frequência de erros de português em sala de aula desde o
início das redes sociais e o uso do internetês. O advento das redes sociais vem
degenerando o uso do português correto.

BIBLIOGRAFIA:

ALMOSSAWI, Ali. O livro ilustrado dos maus argumentos. Trad. Leila Couceiro. São
Paulo: Sextante, 2017.

COPI, Irving. Introdução à Lógica. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1968.

NOLT, John e ROHATYN, Dennis. Lógica. Trad. Leila Zado Puga e Mineko Yamashita.

SACRINI, Marcus. Introdução à análise argumentativa: teoria e prática. São Paulo:


Paulus, 2016.

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