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Falácias não Formais III

Argumento Ad Vericundiam

É usado quando do recurso à autoridade, ao sentimento de respeito que as


pessoas nutrem por alguém famoso para conseguir que as pessoas acreditem em sua
conclusão.

Esse argumento nem sempre é falaz, porque a referencia a alguém que é


especialista no que pesquisa pode dar maior peso a opinião e constituir uma prova
relevante da conclusão apresentada. Considera-se falaz o recurso à autoridade de
alguém quando o assunto do qual se trata não é próprio do autor ao qual se refere.
Exemplo disso pode ser quando se propõe uma discussão acerca de um time de futebol e
o interlocutor usa como referencia para defender o seu argumento Albert Einstein. Não
há na obra desse autor nada que legitime a sua autoridade para tratar de futebol; ou
ainda quando se pretende tratar de questões bioéticas e se oferece como referencia para
sustentar a conclusão o que disse o papa. Esse pode ser referencia de autoridade para
tratar de questões sobre a fé, mas não sobre ciência.

Um exemplo que pode causar certo problema e, por isso, precisa ser considerado
com cautela são as campanhas publicitárias. Se uma campanha apresenta determinado
ator, pelo qual as pessoas nutrem grande afeição, asseverando que um produto é melhor
do que o outro, e por isso se deve comprar esse e não o outro, podemos considerar esse
argumento falacioso, porque ele não tem autoridade legitima para atribuir um juízo de
valor significativo acerca desse assunto. Não podemos confundir essa falácia com a ad
populum, quando a maioria das pessoas aceita uma pessoa e, necessariamente, tudo o
que essa pessoa afirma é verdadeiro.

Assim, quando se afirma que uma proposição pe literalmente verdadeira na base


de sua asserção por uma “autoridade”, cuja competência reside em um campo diferente,
temos uma falácia ad vericundiam.

Ex.

Einstein disse que Deus não joga dados. Ora, Einstein foi um dos maiores físicos da
história. Logo, podemos afirmar que, se Deus não joga dados, então ele existe.

Entre os modos diferentes de empregar essa falácia ainda podemos citar:

1. Quando a autoridade é erroneamente citada ou interpretada;


2. Quando a autoridade, além de gozar de imenso prestigio popular, não tem
competência para determinar sobre o assunto em questão;
3. Quando um especialista emite juízos sobre assuntos que estão fora de sua
especialidade;
4. Quando as autoridades manifestam-se acerca de temas para os quais lhes falta
qualquer evidencia;
5. Quando, apesar da discordância de autoridades de determinada especialidade,
utiliza-se uma visão unilateral.

Falácia por Acidente

Consiste em aplicar uma regra geral e um caso em particular, cujas


circunstancias “acidentais” tornam a regra inaplicável. Na Republica de Platão existe
um caso em que a regra geral de que “toda pessoa deve pagar a sua divida” não deve ser
cumprida naquela circunstancia “acidental”: “Suponhamos que um amigo, em seu
perfeito juízo, confiou-me, em deposito, as suas armas, e me pediu para devolve-las
quando o seu espirito tivesse conturbado. Deveria devolve-las? Ninguém diria que sim
ou acharia certo se assim o fizesse...” (PLATÃO apud COPI, 1968 p. 82).

H. W. B. Joseph, ao referir-se a essa falácia afirma que, “Não existe falácia mais
insidiosa, do que tratar um enunciado que, em muitos aspectos não é enganador, como
se fosse sempre verdadeiro e sem restrições” (JOSEPH apud COPI, 1968, p. 83)

Ex.

O que você comprou ontem comerá ontem; você ontem comprou carne crua,
portanto comerá hoje carne crua.

Falácia por Acidente Controvertido (Generalização Apressada)

Ocorre quando com base em observação de certos casos excepcionais, extrai-se


uma regra geral, sem que no entanto esses casos sejam típicos. Essa falácia é
característica do individuo ingênuo, que considera ocorrências singulares, constantes,
sem levar em conta a sua contingencia temporal e espacial.

Além da ocorrência dessa falácia em induções mal elaboradas, ela pode servir
também a propósitos ideológicos, sexistas e racistas.

Sobre a falácia de Acidente Controvertido afirma Karl Popper: “Ora, está longe
de ser obvio, do ponto de vista lógico, haver justificativa no inferir enunciados
universais de enunciados singulares; independentemente de quão numerosos sejam
esses. Com efeito, qualquer conclusão colhida desse modo pode revelar-se falsa.”
(POPPER, 1993 apud SOARES, 2003, p. 138)

Ex.

À meia-noite o dia 1º de janeiro de 1975, Marte apareceu em tal posição no céu.


Logo, todo dia 1º de janeiro, Marte aparecerá nessa mesma posição.

95% dos detentos da Casa de Detenção de São Paulo, são pertencentes à classe
menos favorecida. Logo, as classes menos favorecidas são uma classe perigosa.
Falácia Falsa Causa

Essa falácia foi analisada de várias formas no passado e, por isso, recebeu várias
denominações diferentes, tais como non causa pro causa, significa a ação de tomar
como causa de um efeito algo que não é a sua causa real; e post hoc ergo propter hoc,
que representa o raciocínio que realiza a inferência de que um acontecimento é a causa
do outro na simples base de que o primeiro é anterior ao segundo.

Ex.

Toda vez que os tambores soaram durante o eclipse, o sol reapareceu.

A Sra. X tomou um remédio feito com ervas secretas, e melhorou de um gripe


forte em duas semanas.

Sucesso: para atrair prosperidade para você e seu amor, ferva dois litros de água
com canela em pau, folhas de louro e sete nozes com casca. Essa água é ideal para
banhar o seu corpo antes de ir para o trabalho ou quando quiser destacar o seu charme
ao se encontrar com a pessoa que ama. As sobras devem ser jogadas no lixo.

Falácia de Petição por Principio (Petitio Principii)

É chamado de circular ou tautológico. Acontece quando a conclusão afirma o


que já está nas proposições anteriores, de modo que a conclusão transforma-se em mera
repetição do que já foi apresentado.

Ex.

Se a TV é prejudicial à educação das crianças, podemos afirmar que ela é


ofensiva á boa educação.

“Permitir a todos os homens a liberdade ilimitada de expressão, deve ser sempre


e de um modo geral, vantajoso para o Estado; pois é altamente propicio aos interesses
da comunidade que cada individuo disfrute da liberdade, perfeitamente ilimitada, para
expressar os seus sentimentos” (WHATELY, 1826 apud COPI, 1968, p. 84).

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