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FALÁCIAS DE RELEVÂNCIA

1. Conclusão Irrelevante (Ignoratio Elenchi):


A falácia de Conclusão Irrelevante consiste em exigir que um argumento suporte uma
conclusão particular quando realmente não tem nada logicamente a ver com a
conclusão.
Por exemplo, um cristão pode começar dizendo que ele irá argumentar que os
ensinamentos do cristianismo são indubitavelmente verdadeiros. Se ele, então,
argumentar no percurso, que o cristianismo é de grande ajuda à muitas pessoas, não
interessa quão bem ele argumente ele não irá ter mostrado que os ensinamentos do
cristianismo são verdadeiros.
Tristemente, esse tipo de argumentos irrelevantes é freqüentemente bem sucedido,
porque eles fazem muitas pessoas verem a suposta conclusão sob uma luz mais
favorável.
Num tribunal, tentando provar a culpa de homicídio do réu, o promotor poderá
argumentar longamente que o homicídio é um crime horrendo. Esta argumentação não
infere nada sobre o crime do acusado, porém, poderá demover o júri a condenar o
criminoso pela repulsa provocada contra os crimes relatados pelo promotor.

2. Petição de Princípio (Petitio Principii):


Essa falácia ocorre quando as premissas são pelo menos tão questionáveis quanto a
conclusão alcançada.
Para tentar estabelecer a verdade de um argumento, um indivíduo propõe como
conclusão a mesma proposição que é a premissa e, para enganar os outros, escreve
de maneira diferente para obscurecer a intenção.
Por exemplo:
"Alienígenas estão abduzindo vítimas inocentes toda semana. O governo deve saber o
que está acontecendo. Portanto, o governo está ligado com os alienígenas."
“Permitir a liberdade de expressão deve ser sempre vantajoso para o estado; pois é
altamente propício aos interesses da comunidade que cada indivíduo desfrute de
liberdade para expressar seus sentimentos.”

3. Círculo Vicioso (Circulus in demonstrando):


O efeito círculo é provocado quando tentamos provar uma coisa pela outra - igualmente
carente de demonstração, gerando o efeito "Tostines" (é fresquinho porque vende mais
e vende mais porque é fresquinho...).

4. Falsa Causa (generalização apressada):


A falácia de falsa causa ocorre quando alguma coisa é assumida como a causa de um
evento meramente porque aconteceu antes desse evento.
Exemplo:
"A União Soviética colapsou após instituir o Ateísmo estadual. Portanto, nós devemos
evitar o Ateísmo pelas mesmas razões."
Aqui foi tomado como causa do efeito algo que não é a causa real.
Interessante como muitas pessoas são sugestionadas por testemunhos a respeito de
remédios milagrosos, os quais informam sobre curas milagrosas.
“A Sra. Cicrana sofria de um forte resfriado.
Tomou duas semanas de chá do índio “Pé Dourado” e ficou completamente curada.”

Lógica – Falácias – Prof. Ms. Calixto Silva Neto Pág.: 1/7


5. Causa Comum:
Trata-se de uma "confusão entre causas e efeitos". Isso se dá quando dois
acontecimentos são tomados como causa um do outro, esquecendo-se, porém, que
ambos são causados por um terceiro.

6. Generalização Apressada (Acidente Convertido):


Essa falácia é o reverso da Falácia de Acidente. Ocorre quando você forma uma regra
geral ao examinar apenas poucos casos específicos que não são representativos de
todas as causas possíveis. Exemplo:
"Jim Bakker foi um cristão insincero. Portanto, todos os cristãos são insinceros."
“O Fulano de Tal contraiu câncer em função do álcool, então, álcool é nocivo à saúde.”
A consideração sobre o uso do álcool, por aqueles que o fazem em excesso, foi
generalizada para toda e qualquer quantidade de uso de álcool.

7. Acidente:
A falácia do acidente ou uma generalização arrasadora ocorre quando uma regra geral
é aplicada a uma situação particular, mas as características dessa situação particular
significam que a regra é inaplicável. É o erro feito quando você vai do geral ao
específico. O que é verdadeiro “em geral” pode não ser universalmente verdadeiro,
sem limitações, porque as circunstâncias alteram os casos.
Exemplo:
"Cristãos geralmente não gostam de Ateus. Você é um cristão, então, você não deve
gostar de Ateus."
Essa falácia é muitas vezes cometida por pessoas que tentam decidir questões morais
ou legais ao aplicar mecanicamente regras gerais.

8. Argumento dirigido contra o homem (Argumentum ad Hominem):


Argumentum ad hominem literalmente significa "argumento dirigido contra o
homem"; existem duas variedades.
A primeira é a forma Argumentum ad hominem ofensiva. Se você recusa a
aceitar uma afirmação e justifica sua recusa criticando a pessoa que fez a
afirmação, então, você é culpado de argumentum ad hominem ofensivo. Por
exemplo:
"Você clama que Ateus podem ser morais - porém eu descobri que você
abandonou sua esposa e crianças.”
Isso é uma falácia porque a verdade de uma afirmação não depende das
virtudes da pessoa que a afirma. Um argumentum ad hominem menos
descarado é rejeitar a proposição baseada no fato que isso também foi afirmado
por outra pessoa facilmente criticável. Por exemplo:
"Portanto, nós devemos fechar a igreja? Hitler e Stalin teriam concordado
com você."
A segunda é a forma Argumentum ad hominem circunstancial. Essa forma
refere-se a tentar persuadir alguém a aceitar uma afirmação que você faz,
referindo-se às circunstâncias particulares dessa pessoa. Por exemplo:
"Portando é perfeitamente aceitável matar animais para comer. Eu espero
que você não argumente de outra maneira, dado que você está feliz em
usar sapatos de couro."

Lógica – Falácias – Prof. Ms. Calixto Silva Neto Pág.: 2/7


Essa falácia pode também ser usada como uma desculpa para rejeitar uma
conclusão particular. Por exemplo:
"Claro que você iria argumentar que discriminação positiva é uma coisa
má. Você é branco."
Essa forma particular de Argumentum ad Hominem circunstancial, quando você
alega que alguém está racionalizando a conclusão por razões egoístas, é
conhecida também como "envenenando o bem".
Não é sempre válido referir-se às circunstâncias de um indivíduo que está
fazendo uma reclamação. Se alguém é um conhecido perjurador ou mentiroso, o
fato irá reduzir sua credibilidade como uma testemunha. Isso não irá, entretanto,
provar que seu testemunho é falso nesse caso. Isso também não irá alterar a
sensatez de nenhum argumento lógico que ele possa fazer.

9. Recurso à Força (Argumentum ad Baculum):


Um Apelo para a Força acontece quando alguém recorre à força (ou à ameaça
de força) para provocar a aceitação de outros à sua conclusão. Normalmente, se
recorre a ela quando as provas ou argumentos racionais fracassam. Essa falácia
é freqüentemente usada por políticos, e pode ser resumida como "a força gera o
direito". A ameaça não necessariamente vem diretamente da pessoa que
argumenta. Exemplo:
"...Então, há uma ampla prova da verdade da bíblia. Todos os que
rejeitam a aceitar a verdade irão queimar no inferno."
"...em todo caso, eu sei seu número de telefone e eu sei onde você mora.
Eu mencionei que eu sou licenciado para portar armas ocultas?"

10. Argumento pela Ignorância (Argumentum ad Ignorantiam):


Essa falácia ocorre quando é argumentado que algo deve ser verdade,
simplesmente porque não se foi provado que é falso. Ou, equivalentemente,
quando é argumentado que algo deve ser falso porque não foi provado ser
verdade.
Note que isso não é o mesmo que assumir que algo é falso até que seja provado
ser verdade. Na justiça, por exemplo, o princípio inspirador é assumir a
inocência de uma pessoa até que se demonstre sua culpabilidade.
Aqui estão alguns exemplos:
"Claro que a bíblia é verdadeira. Ninguém pode provar de outra maneira."
"Claro que telepatia e outros fenômenos psíquicos não existem. Ninguém
mostrou nenhuma prova de que eles são reais."
“Devem existir Fantasmas, pois ninguém ainda foi capaz de provar que
eles não existem.”
Nas investigações científicas, se é conhecido que um evento iria produzir certa
evidência, se tivesse ocorrido, a ausência de tal evidência pode validamente ser
usada para inferir que esse evento não ocorreu. Isso, entretanto, não prova com
certeza.
Por exemplo:

Lógica – Falácias – Prof. Ms. Calixto Silva Neto Pág.: 3/7


"Um dilúvio como o descrito na bíblia iria requerer que um enorme volume
de água estivesse presente na terra. A terra não tem um décimo de tanta
água, mesmo se nós contarmos a congelada nos pólos. Portanto, tal
dilúvio não ocorreu."
É, possível que algum processo desconhecido ocorreu para remover a água. A
boa ciência iria então demandar uma teoria plausível testável para explicar como
ela desapareceu.
Essa falácia ocorre, muito freqüentemente, em relação a fenômenos psíquicos, a
telepatia, etc., sobre os quais não há provas claras em pró ou contra. É curioso
que haja tão grande número de pessoas cultas propensas a cair nesta falácia.

11. Apelo à Piedade (Argumentum ad Misericordiam):


Esse é o apelo à piedade ou à compaixão, também conhecido como Súplica
Especial. A falácia é cometida quando alguém apela à piedade ou à compaixão
pelo bem de ter a conclusão aceita. Este argumento é muito usado nos tribunais,
quando um advogado de defesa coloca de lado os fatos pertinentes ao caso e
trata de conseguir a absolvição do seu cliente, despertando a piedade no júri.
Exemplo:
"Eu não matei minha mãe e pai com um machado! Por favor não me ache
culpado, eu já estou sofrendo o suficiente sendo um órfão."
“Apelo para vós não em defesa de Thomas Kidd, mas em nome da extensa série, - da
extensíssima sucessão que remonta a um distante passado, através das eras, e que se
projeta nos anos vindouros - a extensíssima série de homens oprimidos e despojados
da terra. Apelo para vós em nome dos homens que se levantam antes do amanhecer e
voltam a seus lares à noite, quando a luz já desapareceu dos céus, e dão suas vidas,
suas forças e seu trabalho, para que outros enriqueçam e se engrandeçam. Apelo para
vós em nome daquelas mulheres que oferecem suas vidas a esse moderno Deus do
dinheiro, e apelo para vós em nome de seus filhos, os que vicem e os que ainda estão
por nascer.”
Conforme transcrito em Clarence Darrow for Defese, de Irving Stone.

12. Populismo - Apelo Emocional ao Povo (Argumentum ad Populum):


Esse é conhecido como Apelando “ao povo” ou “à galeria”, ou Apelando para as
Pessoas. Essa falácia é cometida quando se tenta ganhar aceitação da conclusão ao
apelar à um grande número de pessoas. Essa forma de falácia é freqüentemente
caracterizada por linguagem emotiva.
Exemplo:
”Pornografia deve ser banida. É violência contra mulhe.r.
“Por milhares de anos pessoas acreditaram em Jesus e na bíblia. Essa crença tem tido
um grande impacto em suas vidas. O que mais evidente você precisa para que Jesus
seja o filho de Deus? Você está tentando dizer a essas pessoas que elas são tolas
enganadas?”
“O Candidato Fulano de Tal, segundo as pesquisas do Instituto Vozes do
XYZ, está com 70% das intenções de votos. E você em quem irá votar?”

13. Apelo à Autoridade (Argumentum ad Verecundiam):


O Apelo à Autoridade usa a admiração e respeito a uma pessoa famosa para tentar
ganhar suporte a uma determinada conclusão.

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Os anúncios publicitários são exemplos comuns desta falácia, quando somos
instigados a fumar esta ou aquela marca de cigarros porque um campeão de futebol
ou um corredor de automobilismo afirma a superioridade de tal marca.
Exemplos:
"Issac Newton era um gênio e acreditava em Deus."

Essa linha de argumento não é sempre completamente falsa; por exemplo, pode ser
relevante referir-se a uma autoridade vastamente respeitada em um campo particular,
se você está discutindo esse assunto. Por exemplo, nós podemos distinguir claramente
entre:
"Hawking concluiu que os buracos negros desprendem radiação."
e
"Penrose concluiu que é impossível construir um computador inteligente."

Hawking é um físico e então nós podemos racionalmente esperar suas opiniões sobre
radiação de buracos negros como sendo informadas. Penrose é um matemático, então,
é questionável até onde ele é bem qualificado para falar no assunto de inteligência de
máquinas.

14. Pergunta Complexa:


Essa é a forma interrogativa de Implorar a Pergunta. Um exemplo é a clássica pergunta
carregada:
"Você parou de bater na sua esposa?"
A pergunta pressupõe uma resposta definida para outra pergunta que não foi nem
mesmo perguntada.
“Você já bateu alguma vez em sua esposa?”

“Você bateria em uma criança com uma vara?”


Se você respondeu “não, claro que não”, caiu em uma armadilha, pois seu interlocutor
concluirá que você admitiu bater em crianças com outro objeto que não seja a vara.
A outra pergunta implícita é:
“Você bate em crianças?”

Esse truque é freqüentemente usado por advogados em acareações cruzadas, quando


eles freqüentemente perguntam:
"Onde você escondeu o dinheiro que você roubou?"

Similarmente, políticos freqüentemente fazem perguntas carregadas como:


"Quanto tempo essa interferência dos EU em nossos afazeres será permitida
continuar?”
ou
"O Chanceler planeja mais dois anos de privatização arruinosa?"

Em todos os casos, é prudente tratar as perguntas complexas não como se fossem


simples, mas analisando-as em todos os seus componentes.

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FALÁCIAS DE AMBIGÜIDADE (Grupo
Linguístico)
1. Equívoco:
A maioria das palavras tem mais de um significado literal, como a palavra “pena” que
tanto se refere à cobertura que reveste o corpo das aves, como um instrumento de
escrita, ou ainda uma sanção ou punição.
Equívoco ocorre quando uma palavra chave é usada com mais de um significado no
mesmo argumento.
Exemplo:
“O fim de uma coisa é sua perfeição; a morte é o fim da vida;
Logo, a morte é a perfeição da vida.”

Cuidado especial deve ser tomado com as palavras relativas como, por exemplo, as
palavras “bom”, “alto”, “pequeno”, etc.
“O Beltrano é um bom matemático;
então, será um bom professor de matemática.”

2. Anfibologia:
Anfibologia ocorre quando as premissas usadas em um argumento são ambíguas em
função da construção gramatical. Um enunciado é anfibiológico quando seu significado
não é claro, pelo modo confuso ou imperfeito como suas palavras são combinadas e,
pode ser verdadeiro numa interpretação e falso em outra.
Exemplo:
"Amante apaixonado perfura o coração depois de se despedir da amada ingrata com
um punhal.”

O apostador fanático pelo time X, que jogaria contra o time Y, pergunta ao banqueiro
do jogo:
“O que acontecerá hoje no jogo?”
O banqueiro de jogo lhe responde:
“Hoje acontecerá uma grande vitória.”
E o feliz apostador aposta tudo no seu time, o X, que inclusive era o grande favorito,
porém ele .... perde!
Ao reclamar para o banqueiro, esse lhe responde:
“Eu disse que haveria uma grande vitória, e ouve.”

3. Ênfase (ou acento):


Ênfase é uma forma de falácia através da troca de significados. Nesse caso, o
significado é trocado ao se alterar partes de uma afirmação que são enfatizadas ou
acentuadas. É claro que algumas proposições, dependendo do que se acentue, tomará
significados diferentes.
Exemplo:
"Não falaremos mal de nossos amigos."
Subentende que não devemos falar mal das pessoas em geral.
e
"Não falaremos mal de nossos amigos."
Subentende que não devemos falar mal somente de nossos amigos, ou seja, dos que
não são nossos amigos, podemos falar mal.
Outros exemplos:

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“Promoção, somente R$ 9,99”
A ênfase está no número 9, e o incauto passa a imaginar que o preço é mais próximo
de 9 do que de 10.

“Grande oportunidade, venha morar no que é seu:


60 meses para pagar, entrega em apenas 2 anos.”
A primeira vista parece que a entrega é muito rápida em relação ao prazo de
pagamento, porém, note que estão em bases diferentes: meses versus anos.

4. Composição:
A Falácia de Composição é concluir que a propriedade compartilhada por um número
de itens individuais é também compartilhada por uma coleção desses itens:
"Um carro usa menos gasolina e causa menos poluição que um ônibus. Portanto,
carros são menos danosos ao ambiente do que os ônibus."
Pode não ser verdade, à medida que temos muito mais carros do que ônibus.

É falácia também, concluir que a propriedade de partes de um objeto deve também ser
uma propriedade da coisa inteira. Exemplos:
"A bicicleta é inteiramente feita de componentes de massa baixa, é portanto, muito
leve."
Mesmo sendo fabricado de peças leves, dependendo da quantidade das partes, o todo
poderá ser pesado.

“O Beltrano, da igreja Tal, é muito bom, então, todos os membros da igreja Tal são
boas pessoas.”

5. Divisão:
A falácia da divisão é o oposto da Falácia de Composição. Consiste em assumir que
uma propriedade de alguma coisa deve se aplicar às suas partes, ou que uma
propriedade de uma coleção de itens é compartilhada por cada item.

"Você está estudando em um colégio rico. Portanto, você deve ser rico."
"Formigas podem destruir uma árvore. Portanto, essa formiga pode destruir uma
árvore."
“Essa igreja Tal, a qual o Beltrano pertence, tem ensinamentos honestos, então,
Beltrano é honesto.”

Lógica – Falácias – Prof. Ms. Calixto Silva Neto Pág.: 7/7

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