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Lógica informal

Argumentos não dedutivos


Pretendem apenas que a verdade das premissas apoie ou suporte a verdade da conclusão, ou seja, a verdade das
premissas torna muito provável a verdade da conclusão.

Conceito de validade não dedutiva: Força do argumento


- O argumento pode ser forte, caso seja bem-sucedido. Se não for, é fraco.

Um argumento não dedutivo é forte se a verdade das premissas nos dá uma elevada probabilidade de a conclusão
ser verdadeira. A sua força não é detetável pela sua forma lógica.

Cogência
- Um argumento forte com premissas verdadeiras é um argumento cogente.

Ex: Todos os rubis que vi até hoje eram


vermelhos.

Logo, o próximo rubi que eu observar será


vermelho,

Tipos de argumentos não-dedutivos


Argumentos Indutivos
Generalização: argumento que parte do conhecimento que temos sobre uma amostra de um universo para afirmar
na conclusão algo acerca desse universo todo.

- Para ser forte necessita de 3 critérios:

1. Para que tipo de argumento seja forte é importante que não exista informação mais especializada
sobre o assunto que contradiga o tema em análise.

2. O número de casos observados deve ser Quando o número de casos observados é pequeno e
suficiente e relevante para a conclusão que se pouco relevante, ao tentar-se retirar uma conclusão
pretende retirar do argumento geral, incorre-se na falácia da generalização precipitada.

3. Os casos observados têm que representar de forma adequada o universo em causa.

Ex: Suponhamos que se pretende realizar 1 sondagem sobre a opinião dos


A conclusão a retirar da
portugueses sobre a eutanásia. O local escolhido para realizar o
sondagem incorre na
questionário é à porta das igrejas.
falácia da amostra não
Esta sondagem irá apenas sondar uma parte da população (neste caso, mais representativa
religiosa) sobre este tema. Não contempla a representação de outras partes
da população. 1
Previsão: argumento que parte do conhecimento que temos do passado e ou/ do presente para justificar uma
conclusão acerca de um facto ainda não observado.

Generalização Todos os sapos são


verdes.
Todos os sapos que vi até
hoje eram verdes. Conclusão
O próximo sapo que
Previsão
observar será verde.
Premissa

Analogia
Argumentos que partem de uma semelhança ou analogia entre 2 coisas ou categorias de coisas. Se uma delas
tem uma certa característica, conclui-se que a outra também tem.

- Para que seja um argumento forte, é importante que este cumpra 2 requisitos:

• o número de semelhanças tem de ser relevante e em número suficiente para a conclusão a retirar;
• não devem existir diferenças significativas que possam colocar em causa a conclusão a retirar.

Se um dos requisitos não é cumprido, a analogia torna-se fraca e incorre na falácia da falsa analogia.

Autoridade
Argumento que procura defender uma conclusão recorrendo a uma autoridade:

• pode ser uma pessoa - autoridade epistémica (alguém que é especialista sobre o assunto em questão)
Ex: «Platão, na sua obra O Fédon, defende a imortalidade da alma apresentando 4 argumentos.»

• ou um documento/livro/estudo que compile ou represente um conjunto de conhecimentos aceite pelos


especialistas do tema em questão.

Para que seja um argumento forte, é importante que este cumpra 3 requisitos:

1. A autoridade invocada (seja uma pessoa ou obra especializada) tem de ser especialista ou fonte reconhecida
na área ou tema em discussão.

2. O que é afirmado tem de ser consensual entre os especialistas da área.

3. Tem de se apresentar prova do que se afirma: que autoridade disse, o que disse exatamente e onde disse
(fonte ou documento).

Sempre que um destes requisitos não for cumprido, incorre-se na falácia do apelo ilegítimo à autoridade.

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Falácias Informais

Petição de princípio: comete-se esta falácia quando se pressupõe nas premissas do argumento aquilo

que se quer defender na conclusão.

Refutação
Ex: «Bebo. Se bebo, tenho vergonha. Se tenho vergonha, tenho
Mostrar que o argumento está a pressupor o de esquecer, se tenho de esquecer, bebo. Logo, bebo.»
que tenta provar.

Falso Dilema: incorre-se nesta falácia quando numa das premissas se consideram apenas duas alternativas, mas na
realidade existem outras que não estão a ser consideradas.

Refutação
Ex: «Ou estás comigo ou estás contra mim. Não estás
Mostrar que existe uma terceira alternativa, o comigo. Logo, estás contra mim.
que conduz à falsidade da disjunção.

Espantalho ou boneco de palha: esta falácia consiste em demonstrar que se está a refutar uma certa teoria
distorcendo ou ridicularizando a mesma.

Refutação Ex: «O Sr. Deputado na campanha para as eleições defende a


legalização das drogas leves.
Mostrar que o argumento falha o alvo, pois
limita-se a criticar uma caricatura da tese em Se ele for eleito, iremos assistir a uma debandada imigratória
análise. dos traficantes a escolherem o nosso país para viverem.»

Derrapagem ou bola de neve: incorre-se nesta falácia quando se tenta mostrar que uma certa proposição conduz a
uma cadeia de implicações com um desfecho inaceitável.

Ex: «Se permitirmos o casamento entre pessoas do mesmo


Refutação sexo, não tarda estaremos a permitir a poligamia, o incesto
e até a pedofilia.
Mostrar que uma das implicações em que se
baseia é falsa ou que a sequência de Mas isso é claramente inaceitável, dado que conduzirá ao
implicações é improvável. fim da civilização.

Logo, não devemos permitir o casamento entre pessoas do


mesmo sexo.»
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Ataque à pessoa = ad hominem: tenta-se refutar uma tese atacando a pessoa ou descredibilizando-a em vez de
atacar o argumento.

Refutação
Ex: «Einstein afirma que os átomos existem.
Mostrar que não foram apresentadas boas razões Mas Einstein era infiel à mulher. Logo, é falso
para se considerar que a tese em causa é falsa. que os átomos existam.»

Apelo à ignorância: incorre-se nesta falácia quando se tenta provar que uma proposição é verdadeira porque ainda
não se provou que é falsa.

Refutação
Ex: «Até hoje ninguém conseguiu provar os
Mostrar que a ausência de prova não é uma prova
fantasmas ou as bruxas existem.
em si mesma pois pode dever-se à nossa falta de
capacidade e não à sua falsidade. Logo, os fantasmas e as bruxas não existem.»

Apelo ao povo = ad populum: semelhante no apelo à autoridade, mas aqui recorre-se à opinião popular.

Refutação
Ex: «A maioria pensa que não temos a obrigação
Mostrar que uma maioria pode ser ignorante moral de combater a pobreza absoluta. Logo,
acerca do assunto em questão e que a verdade da não temos a obrigação de combater a pobreza
proposição não ser estabelecida com base numa absoluta.»
maioria.

Falsa relação causal: ocorre quando se tenta atribuir erradamente uma relação causal a 2 estados ou

eventos com base numa mera sucessão temporal.

Refutação Ex: «No último jogo de futebol, usei meias amarelas


Mostrar que um dos eventos poderia ter e marquei golo. Logo, marquei golo porque estava
ocorrido sem que o outro ocorresse. a usar meias amarelas.»

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A ação humana e o problema do livre-arbítrio

Diferenciar acontecimento de ação humana

Acontecimento: evento que ocorre num determinado lugar durante um determinado período.

Uma ação é:

- Um acontecimento
Mas nem todos os acontecimentos são ações
Ex: Um furacão ou um sismo.

- Envolve um agente
Mas nem tudo o que envolve um agente é uma ação
Ex: «A Sara foi ao cinema» (ação)
- Algo que um agente faz acontecer «A Sara sofreu um AVC» (acontecimento)
Mas nem tudo o que um agente faz é uma ação

São o que resulta da realização da ação e


permitem avaliar o resultado da nossa ação
bem como o impacto que teve.
É dele que depende a
realização da ação. É o ato que resulta frequentemente
da deliberação e implica escolher
Sem ele, não existe a intenção
entre vários rumos possíveis e
que irá explicar o propósito da Consequências possibilita a execução da ação.
ação, nem existirão os meios
pensados para a realizar.

Agente Decisão

Rede
conceptual
da Ação
Humana É um processo reflexivo que
antecede a decisão. Pondera-
se sobre qual a melhor opção
Motivo Deliberação a tomar entre as várias
alternativas possíveis.

A deliberação ponderada
É a justificação, o porquê ou a razão de implica escolhas entre
ser da ação. Intenção alternativas e é um processo
tendencialmente racional.
A relação entre o motivo e a intenção
reside no seguinte: saber qual é o motivo
da ação - o porquê, clarifica a intenção ou
o para quê da ação. É o propósito ou o objetivo da ação se realizar.
Relaciona-se com os desejos, as crenças e os estados
Ex: posso ter a intenção de fazer uma mentais do agente.
viagem até Madrid porque quero ir visitar A causa de uma ação reside na intenção do agente.
o Museu do Prado (motivo). 5
Problema do livre-arbítrio

Conceitos importantes:

Cadeia causal: Sequência de eventos que consiste Livre-arbítrio: Capacidade de


na relação de dependência causal entre controlar a nossa ação perante
acontecimentos que se vão sucedendo no tempo. alternativas reais de escolha.
Um acontecimento A é a causa do acontecimento B
que, por sua vez é causa do C, e por aí em diante.

p (q ∧ r)

Este problema Filosófico coloca a questão: É o ser humano livre ou não?

conflito que existe entre 2 crenças:

Somos seres livres Não somos seres livres

Estamos determinados a agir do Temos uma vontade que nos permite


modo como agimos fazer escolhas

Determinismo Libertismo

Perspetiva Incompatibilista Perspetiva Compatibilista

Esta resposta defende que a crença num Esta resposta defende que a existência de um mundo
mundo determinista é incompatível com a determinista não anula a existência da liberdade. É possível
crença na existência da liberdade humana. viver-se num mundo submetido à lei da causalidade e existir,
Uma crença anula necessariamente a outra. ao mesmo tempo, lugar para a liberdade humana.

Determinismo Libertismo
Determinismo Moderado

Mesma noção de livre-arbítrio (ausência Noção diferente de livre-arbítrio


de causas anteriores)
Uma ação é livre se nela houver ausência
de noção ou constrangimento

Determinismo Radical: defende que os acontecimentos, tal como as ações humanas, são o resultado inevitável de
acontecimentos anteriores por serem efeitos necessários dessas causas. Assim, se as ações não dependem do ser
humano, este não é livre.

Sustenta-se em 2 argumentos:

• Argumento científico: as descobertas científicas e o sucesso da ciência explicam a confiança na crença que
todos os acontecimentos possuem causas determinadas.
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Objeção: A evolução da física quântica veio demonstrar que existem acontecimentos no universo que não são
totalmente determinados.

• Argumento da ilusão da liberdade: a sensação de agirmos livremente não passa de uma ilusão criada pela
mente devido ao desconhecido ou incapacidade de as explicar de outra forma.
Objeção: Ser livre implica apenas controlar a nossas ações e esse controlo, não é ilusório, é real.

Libertismo: defende que alguns acontecimentos, como as ações humanas, não são explicadas pelo Determinismo e
as leis causais não têm poder sobre o ser humano. Logo, existe liberdade.

Esta teoria sustenta-se em 2 argumentos:

• Argumento da experiência: experienciamos o livre-arbítrio em cada ação que realizamos.


Objeção: Temos experiências como: sentir que a Terra não se move ou o Sol se afunda no oceano quando se põe, que
não correspondem à realidade.

• Argumento da causalidade do agente: os agentes também podem ser causas, podem iniciar uma cadeia de
acontecimentos sem ser ele próprio causado.
Objeção:
1. Não existem evidências científicas que comprovem que o ser humano não possa ser determinado por causas de
natureza interna.

2. Admitir este argumento surge outro problema: que tipo de causalidade é a do agente? Quais são as suas leis?

Determinismo moderado: para um determinista moderado, uma ação não-livre evidencia a presença de coação
ou de um constrangimento que obriga ou limita a vontade do ser humano.

Esta teoria sustenta-se em 2 argumentos:

• Argumento de Frankfurt: possuir livre-arbítrio implica ter alternativas possíveis de agir e controlo sobre as
ações.
Objeção: Uma das críticas apresentadas a este argumento consiste no facto, mesmo não existindo alternativas
possíveis, o ser humano continua a ser responsável pelas suas ações. Assim, a existência de alternativas possíveis não
é um requisito para exigir a responsabilidade moral.

• Argumento das razões e orientações: ser livre implica ser responsável pelas ações, conhecer e saber explicar
as razões que justificam a sua realização.
Objeção: Alguns críticos defendem que o conhecimento das razões para a realização da ação não é suficiente para
caracterizar de forma clara uma ação como livre. Face a uma situação onde existe coação ou constrangimento, o ser
humano continua a decidir com base nos seus estados internos. Assim, o que seria considerado uma ação não-livre,
emerge como uma contradição se seguirmos a definição do que é uma ação livre - causada pelos estados internos do
agente.

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