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Argumentos não dedutivos

- Um argumento não-dedutivo é um argumento em que se pretende que as


premissas apoiem ou suportem a conclusão;
- É válido quando é improvável, mas não propriamente impossível, ter premissas
verdadeiras e conclusão falsa.
- Se as premissas oferecem um apoio forte à conclusão, o argumento é válido-
argumento forte;
- Se as premissas oferecem à conclusão um apoio fraco ou inexistente, o argumento
é inválido- argumento fraco.

Argumentos indutivos
- Os argumentos indutivos baseiam-se num determinado número de casos
conhecidos e retiram uma conclusão que inclui casos desconhecidos.
- Num argumento indutivo por generalização, extraímos uma conclusão geral (que
inclui casos de que não tivemos experiência) a partir de um conjunto de premissas
referentes a alguns casos de que já tivemos experiência.
1) Todos os corvos observados até hoje são pretos.
2) Logo, todos os corvos são pretos.
- Num argumento indutivo por previsão baseamo-nos num conjunto de premissas
referentes a alguns acontecimentos observados no passado para inferir uma
conclusão acerca de um acontecimento futuro.
1) Até hoje, o Sol nasceu todos os dias.
2) Logo, (provavelmente) o Sol irá nascer amanhã.
- Os argumentos indutivos devem respeitar os seguintes critérios:
- Para não cometer a falácia da generalização precipitada, devem basear-se num
número significativo de casos e não podem haver contra exemplos conhecidos;
- Para não cometer a falácia da amostra não-representativa, devem basear-se em
casos que representem a diversidade de características do universo em causa;
Para não cometer a falácia da omissão de dados, não podem ignorar nem omitir
informação relevante.

Argumentos por analogia


- Os argumentos por analogia baseiam-se em semelhanças conhecidas entre dois
elementos para concluir que estes também devem ser semelhantes em relação a
outros aspetos.
1) x é como (ou semelhante a ) y.
2) x tem a característica d.
3) Logo, (provavelmente) y também tem a característica d.
- Para não cometer a falácia da falsa analogia, os argumentos por analogia devem
respeitar os seguintes critérios:
- Devem basear-se num número suficiente de semelhanças;
- Devem basear-se em semelhanças relevantes para aquilo que se pretende
concluir;
- Não podem haver diferenças relevantes entre os elementos comparados.

Argumentos de autoridade
- Os argumentos de autoridade baseiam-se na opinião de um perito ou especialista
para concluir que uma determinada proposição é verdadeira (ou falsa).
- Estrutura de um argumento de autoridade:
1) x diz que P.
2) Logo, P.
- Para não cometer a falácia do apelo à autoridade, os argumentos de autoridade
devem respeitar os seguintes critérios:
- Devem basear-se na opinião de especialistas no assunto em questão;
- Deve haver consenso entre os especialistas da área;
- Devem identificar claramente a autoridade invocada.

Outras falácias informais


- Petição de princípio: ocorre quando se pressupõe nas premissas aquilo que se
quer ver provado na conclusão.
1) P.
2) Logo, P.
- Falso dilema: ocorre quando numa das premissas se consideram apenas duas
probabilidades ou alternativas, quando na realidade existem outras possibilidades
que não estão a ser devidamente consideradas.
1) P ou Q.
2) Não-P.
3) Logo, Q.
- Falsa relação causal: ocorre quando se atribui erradamente uma relação causal a
dois estados ou eventos com base numa mera sucessão temporal.
1) x ocorreu depois de y.
2) Logo, x ocorreu por causa de y.
- Ad hominem: ocorre quando se procura mostrar que uma determinada proposição
é falsa atacando a credibilidade do autor.
1) x diz que P.
2) Mas x é y (y= uma qualquer característica negativa que visa
descredibilizar x)
3) Logo, Não-P.
- Ad populum: ocorre quando se recorre à opinião popular, ou seja, à opinião da
maioria, para estabelecer a verdade de uma dada proposição.
1) A maioria pensa que P.
2) Logo, P.
- Apelo à ignorância: ocorre quando se tenta provar que uma proposição é
verdadeira porque ainda não se provou que é falsa, ou que é falsa porque ainda não
se provou que é verdadeira.
1) Até hoje ninguém provou que P.
2) Logo, Não-P.
OU
1) Até hoje ninguém provou que Não-P.
2) Logo, P.

- Espantalho (ou boneco de palha): ocorre quando se tenta mostrar que se refutou
uma determinada teoria (ou um determinado argumento) atacando uma versão
distorcida e enfraquecida da mesma (ou do mesmo).
1) P caracteriza-se por defender Q.
(Q= versão distorcida e enfraquecida de P)
2) Não-Q.
3) Logo, Não-P.
- Derrapagem (ou bola de neve): ocorre quando se tenta mostrar que uma
determinada proposição conduz a uma cadeia de implicações com um desfecho
inaceitável, quando, na realidade, ou um dos elos dessa cadeia de implicações é
falso, ou a cadeia no seu todo é altamente improvável.
1) Se P, então Q.
2) Se Q, então R.
3) Logo, se P, então R.

Livre-arbítrio e o determinismo
- O problema tradicional do livre-arbítrio é o seguinte: “Temos livre-arbítrio?’”
- Temos livre-arbítrio se, e só se, algumas das coisas que acontecem dependem, em
última análise, da nossa vontade.
- O determinismo é a tese de que tudo o que acontece é a consequência necessária
de acontecimentos anteriores e das leis da natureza.
- Aparentemente, existe uma tensão entre a crença de que temos livre-arbítrio e a
crença no determinismo.
- Há duas respostas possíveis para o problema da compatibilidade: o
incompatibilismo e o compatibilismo.

Incompatibilismo
- Se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.
1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.
2) Se não temos possibilidades alternativas, então não temos livre-arbítrio.
3) Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.

Compatibilismo
- Ainda que o determinismo seja verdadeiro, podemos ter livre-arbítrio.
1) Temos possibilidades alternativas se, e só se, há situações em que, caso
tivéssemos escolhido fazer outra coisa, teríamos feito outra coisa.
2) Ainda que o determinismo seja verdadeiro, há situações em que, caso
tivéssemos escolhido fazer outra coisa, teríamos feito outra coisa.
3) Logo, ainda que o determinismo seja verdadeiro, temos possibilidades
alternativas.
4) Se temos possibilidades alternativas, podemos ter livre-arbítrio.
5) Logo, ainda que o determinismo seja verdadeiro, podemos ter livre-arbítrio.
Determinismo radical (perspectiva incompatibilista)
- O determinismo radical nega a liberdade à ação humana- o ser humano não pode
livremente escolher outro modo de agir- e defende o incompatibilismo entre o livre-
arbítrio e o determinismo, não havendo lugar para o livre-arbítrio.
1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.
2) Se não temos possibilidades alternativas, então não temos livre-arbítrio.
3) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.
4) O determinismo é verdadeiro.
5) Logo, não temos livre-arbítrio.

As principais objeções que podem ser formuladas contra o determinismo são os


argumentos usados pelos libertistas para defenderem a tese contrária: o argumento da
experiência e da responsabilidade- segundo o qual a experiência da liberdade e da
responsabilidade nos leva a acreditar na existência do livre-arbítrio- e a ideia de que o
Universo (física quântica) não constitui um sistema determinista- há acontecimentos
indeterminados, que não podemos prever com rigor.

Libertismo ( perspectiva incompatibilista)


- O libertismo é a corrente que defende, de modo mais radical, o livre-arbítrio e a
responsabilidade do ser humano. Para defender a liberdade de escolha, considera-
se que o agente tem o poder de interferir no curso normal das coisas pela sua
capacidade racional e deliberativa.
1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.
2) Se não temos possibilidades alternativas, então não temos livre-arbítrio.
3) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.
4) Temos livre-arbítrio.
5) Logo, o determinismo é falso.

- São dois os argumentos principais do libertismo em defesa da liberdade:


- O argumento da experiência e da responsabilidade. De acordo com este
argumento, a experiência da liberdade, por um lado, é uma prova de que somos
livres. Por outro lado, temos a noção de responsabilidade.
- O Universo não constitui um sistema determinista.Particularmente no mundo
quântico, há acontecimentos indeterminados, que escapam à tentativa de os prever
com rigor.
- Podem levantar-se algumas objeções aos argumentos apresentados:
- O facto de termos experiência da liberdade não prova que exista. Ela pode ser
ilusória, isto é, essa sensação pode não corresponder a nada de real. Do mesmo
modo, os sentimentos associados à responsabilidade podem não ser
justificáveis.
- O facto de o Universo não constituir um sistema determinista, e de se considerar a
possibilidade do aleatório, não permite afirmar claramente a existência do livre-
arbítrio. Com efeito, se as ações humanas são imprevisíveis e se é, portanto, o
acaso que as conduz, então elas não são o resultado do que o ser humano
quer.
Determinismo moderado (perspectiva compatibilista)
- O determinismo moderado é a perspectiva que aceita o determinismo no mundo
natural e, em simultâneo, afirma a existência do livre-arbítrio,existindo, então,
espaço para a liberdade e para a responsabilidade. Um ato pode ser, ao mesmo
tempo, livre e determinado.
1) Temos possibilidades alternativas se, e só se, há situações em que, caso
tivéssemos escolhido fazer outra coisa, teríamos feito outra coisa.
2) Ainda que o determinismo seja verdadeiro, há situações em que, caso
tivéssemos escolhido fazer outra coisa, teríamos feito outra coisa.
3) Logo, ainda que o determinismo seja verdadeiro, temos possibilidades
alternativas.
4) Se temos possibilidades alternativas, podemos ter livre-arbítrio.
5) Ainda que o determinismo seja verdadeiro, podemos ter livre-arbítrio.
6) O determinismo é verdadeiro.
7) Temos livre-arbítrio.
8) Logo, temos livre-arbítrio, apesar de o determinismo ser verdadeiro.

- Ações livres: aquelas que fazemos com vontade de as fazer e sem que ninguém
nos obrigue. São realizadas sem coerção, sem constrangimentos, sem obstáculos.
Elas resultam dos nossos desejos, das nossas crenças, do nosso carácter e da
nossa personalidade.
- Ações não livres: aquelas em que somos forçados ou obrigados a escolher isto ou
aquilo, a fim, por exemplo, de conservarmos a integridade física ou a posse de bens
materiais.

- O determinismo moderado encontra-se sujeito a uma objeção. Com efeito, ao dizer-


se que somos livres, mas que as nossas ações decorrem dos nossos desejos, das
nossas crenças e do nosso carácter, desde que não manipulados, não
podemos,contudo, ignorar que o carácter, as crenças e os desejos dependem
de forças que não controlamos, havendo assim acontecimentos anteriores que
nos constrangem.

O problema da natureza dos juízos morais


- O problema da natureza dos juízos morais pode ser formulado conforme se segue:
“Qual é a natureza dos juízos morais?”
- Um juízo é uma operação mental através da qual atribuímos uma certa
propriedade,P, a um certo sujeito, S (este sujeito pode ser qualquer coisa: uma
pessoa, uma criatura, um objeto, um lugar, uma situação ou um acontecimento).
- Os juízos de facto são puramente descritivos; o seu valor de verdade é
inteiramente independente das crenças, dos hábitos, da sociedade e da cultura, dos
gostos ou das preferências de quem os formula, e a direção da adequação parte da
realidade para o juízo.
- Os juízos de valor são (pelo menos em parte) normativos (ou prescritivos),
expressam uma determinada avaliação das coisas, e a direção da adequação parte
do juízo para a realidade, ou seja, avaliam a realidade ou dizem como as coisas e as
situações deveriam ser.
- Os juízos morais são juízos de valor que dizem respeito àquilo que devemos ou
não devemos fazer,ou seja, são juízos que envolvem as noções de certo ou errado,
justo ou injusto, louvável ou censurável.
- Assim, o problema original acerca da natureza dos juízos morais pode ser
subdividido em três problemas mais simples:
1. Os juízos morais têm valor de verdade?
2. Em caso afirmativo, a sua verdade (ou falsidade) é independente de qualquer
perspetiva (isto é, o domínio de factos morais ao qual estes se reportam é
independente de quaisquer sujeitos)?
3. Em caso negativo, de que perspetiva dependem?

- Os não-cognitivistas caracterizam-se por defender que os juízos morais não são


verdadeiros juízos, pois não possuem qualquer tipo de conteúdo descritivo, ou seja,
não atribuem (nem pretendem atribuir) qualquer tipo de propriedades aos objetos,
mas antes limitam-se a prescrever certos tipos de ações, a expressar certos
sentimentos de aprovação e de reprovação relativamente às mesmas ou a
manifestar desabafos emocionais;
- Os cognitivistas consideram que os juízos morais também têm uma componente
descritiva, pois reportam-se a um certo domínio de factos: os factos morais; ou seja,
quando formulamos juízos morais, fazemos a atribuição de propriedades morais-
como a coragem, a justiça ou a bondade- às pessoas ou às suas ações.
- De entre as teorias cognitivistas, destacam-se o subjetivismo, o relativismo e o
objetivismo.

Subjetivismo
- De acordo com o subjetivismo,os juízos morais são crenças acerca das nossas
preferências pessoais e subjetivas. Sendo assim, os juízos de valor são
também subjetivos, exprimindo as preferências do sujeito. O seu valor de
verdade depende se descrevem adequadamente as nossas preferências ou não.
- O principal argumento que tem sido apresentado a favor do subjetivismo é o
argumento dos desacordos.
1) Mesmo dentro de cada sociedade ou cultura existem amplos e profundos
desacordos no que diz respeito ao valor de verdade dos juízos morais.
2) Se, além das nossas preferências pessoais e subjetivas, houvesse um
domínio de factos morais ao qual pudéssemos apelar, então tais desacordos
não teriam lugar.
3) Logo, não há domínio de factos morais além das nossas preferências
pessoais e subjetivas.

- Críticas ao subjetivismo:
- Tornaria impossível a existência de desacordos morais genuínos;
- Implica que somos moralmente infalíveis;
- Nem sempre os nossos juízos morais correspondem às nossas preferências
subjetivas.
- Quando alguém afirma “x é errado” está simplesmente a dizer “eu reprovo x”, e quando
alguém afirma “x é correto” está simplesmente a dizer “eu aprovo x”.
Relativismo
- O relativismo cultural defende que os juízos morais são crenças acerca do código
moral vigente na nossa sociedade ou cultura, ou seja, acerca do conjunto de
regras que os membros da sociedade acordaram para organizar a sua vida em
conjunto.
- O principal argumento que tem sido apresentado a favor do relativismo é o
argumento da diversidade cultural.
1) Culturas diferentes têm códigos morais diferentes.
2) Se culturas diferentes têm códigos morais diferentes, então não há uma
verdade moral objetiva, pois a verdade dos juízos morais é sempre relativa à
cultura ou ao grupo social onde estes são formulados, mais propriamente, ao
código moral adotado pelos seus respetivos membros.
3) Logo, não há uma verdade moral objetiva, pois a verdade dos juízos morais é
sempre relativa à cultura ou ao grupo social onde estes são formulados, mais
propriamente, ao código moral adotado pelos respetivos membros.

- Críticas ao relativismo:
- O argumento da diversidade cultural não é sólido;
- Há acordos imorais,
- O relativismo impossibilita o progresso moral das sociedades e conduz ao
conformismo.

- Quando alguém afirma “x é errado” está simplesmente a dizer "a minha


sociedade reprova x”, e quando alguém afirma “x é correto” está simplesmente a
dizer “a minha sociedade aprova x”.

Objetivismo
- Os objetivistas consideram que os juízos morais são crenças, pois defendem que os
juízos morais têm um valor de verdade independente de qualquer perspectiva, ou
seja, que os juízos morais são objetivamente verdadeiros (ou objetivamente
falsos). Estes autores consideram que existe um domínio de factos morais
objetivos aos quais os nossos juízos morais se referem. Isto é, os factos morais não
dependem da perspectiva de qualquer sujeito, sociedade ou cultura, mas sim de um
certo padrão neutro de avaliação.
- O objetivismo caracteriza-se pela ideia de que um juízo moral é correto
quando,independentemente de gostos,preferências ou convenções sociais, tem as
melhores razões do seu lado.
- O principal argumento que tem sido apresentado a favor do objetivismo é o
argumento da justificação imparcial.
1) Há juízos morais que não são justificáveis de um ponto de vista imparcial.
2) Se há juízos morais que não são justificáveis de um ponto de vista imparcial,
então não há juízos morais objetivamente falsos.
3) Logo, há juízos morais objetivamente falsos.

- Críticas ao objetivismo:
- o argumento dos desacordos;
- o argumento da estranheza.
- Quando alguém afirma “x é errado”, está a dizer que, “independentemente das
nossas preferências pessoais ou convenções coletivas, há boas razões para
reprovar x”,e, quando alguém afirma “x é correto”, está a dizer que,
“independentemente das nossas preferências pessoais ou convenções
coletivas, há boas razões para se aprovar x”

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