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O discurso

argumentativo e os principais
tipos de argumentos e
falácias informais
Em discussão
Lógica informal

Ocupa-se, sobretudo, daquele tipo de argumentos cuja


construção e avaliação dependem de aspetos
que vão para lá da forma lógica de tais argumentos.

Que tipo de argumentos usamos e como nos podemos


defender de argumentos manipuladores?
Quais são as condições necessárias a uma boa
argumentação?
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Principais tipos de argumentos
– argumentos dedutivos
e não-dedutivos
Argumentos não-dedutivos

O apoio que as premissas A conclusão é apenas


dão à conclusão é apenas hipotética e não
provável. definitiva.

Estes argumentos podem ser


enfraquecidos ou fortalecidos pela
introdução de novas premissas.
Argumentos Argumentos
dedutivos não-dedutivos

Argumentos de Argumentos por


autoridade analogia

Generalizações Argumentos indutivos Previsões


Indução por generalização

Argumento cuja conclusão é mais geral do que a(s)


premissa(s), inferindo-se que algo se aplica a mais
coisas do que as que foram objeto de observação.

Forma lógica

Alguns X são Y.
Logo, todos os X são Y.

Exemplo

Os ratos que observámos são maléficos.


Logo, todos os ratos são maléficos.
Critérios exigidos para a construção de generalizações fortes

O número de casos observados proposto nas premissas


tem de ser relevante ou significativo.

Os casos observados têm de ser representativos do


universo em questão.

Não podem ter sido encontrados contraexemplos, depois


de ativamente procurados.
Falácia da generalização precipitada

Conclui-se o geral com base em poucos casos observados


ou ignorando contraexemplos conhecidos.

Exemplo

Os vinte gatos que observámos eram brancos.


Logo, todos os gatos são brancos.
Falácia da amostra não-representativa

Conclui-se uma dada característica de um segmento da


população, ou de uma parte específica de um universo,
para toda a população, ou para todo o universo em causa.

Exemplo

Foram inquiridos trezentos budistas e todos disseram


acreditar na reencarnação.
Logo, todas as pessoas religiosas acreditam na
reencarnação.
Generalizações fortes

Exemplo

Com base em observações científicas, constatou-se


que os mamíferos que foram objeto de estudo respiravam
pelos pulmões.
Logo, todos os mamíferos respiram pelos pulmões.

Exemplo

Inquéritos realizados a vinte mil adolescentes de várias


idades e de todos os distritos de Portugal revelam que todos
eles gostam de usar as redes sociais virtuais.
Logo, todos os adolescentes do país gostam de usar as
redes sociais virtuais.
Indução por previsão

Argumento que, baseando-se em casos ocorridos no


passado, antevê casos não observados, presentes ou
futuros, sendo, com frequência, a conclusão menos geral
do que as premissas.

Forma lógica

Todos os X observados até agora são Y.


Logo, o próximo X que observarmos será Y.

Exemplo

Todos os cães observados até agora ladravam.


Logo, o próximo cão que observarmos ladrará.
Critério exigidos para a construção de previsões fortes

Não pode ter sido encontrada, depois de ativamente


procurada, informação de fundo que inviabilize o apoio das
premissas à conclusão.
Falácia da previsão incorreta ou inadequada

Exemplo
Até agora, em dez jogos, o futebolista x nunca marcou
nenhum golo pela sua equipa.
Logo, ele nunca marcará golos pela sua equipa.

Previsão forte

Exemplo
Os insetos observados até agora tinham exoesqueleto.
Logo, o próximo inseto que observarmos terá
exoesqueleto.
Argumento por analogia

Argumento que, a partir de certas semelhanças


(analogias) ou relações entre dois objetos ou
realidades, conclui novas semelhanças ou relações
entre elas.

Forma lógica
Tanto x como y têm as propriedades E, F e G.
Ora, y tem a propriedade H.
Logo, x também tem a propriedade H.

Exemplo
Tanto os gatos como os seres humanos são mortais.
Os seres humanos têm medo de cobras.
Logo, os gatos também têm medo de cobras.
Critérios exigidos para a construção de argumentos por analogia fortes

As semelhanças ou analogias estabelecidas entre as


realidades devem ser relevantes com respeito à conclusão.

Para além de relevantes, essas semelhanças ou analogias


têm de ser em número suficiente.

Não podem existir, entre as realidades comparadas,


diferenças significativas e relevantes com respeito à
conclusão e que a possam pôr em causa.
Falácia da falsa analogia

Exemplo

O livro x tem a mesma forma do livro y, o mesmo


número de páginas e uma capa idêntica.
O livro x tem um conteúdo excelente.
Logo, o livro y também tem um conteúdo excelente.
Argumento por analogia forte

Exemplo

Paula e Micaela frequentam a mesma turma, têm ambas


boas classificações, são responsáveis pelo clube de
leitura da escola e apreciam a poesia de Fernando
Pessoa e os romances de Eça de Queirós.
Paula gosta das aulas de Literatura Portuguesa.
Logo, Micaela também gosta dessas aulas.
Argumento de autoridade

Argumento que se apoia nas afirmações de


um especialista, um perito ou pessoa a quem se
reconhece autoridade numa determinada área do
saber, para fazer valer uma dada tese.

Forma lógica

Uma certa autoridade ou testemunha afirmou que A.


Logo, A.

Exemplo
Kant afirmou que o critério para determinar o valor moral
de uma ação é a intenção.
Logo, o critério para determinar o valor moral de uma ação
é a intenção.
Critérios exigidos para a construção de argumentos de autoridade fortes

A autoridade invocada deve ser um efetivo especialista ou


perito na área em questão, uma autoridade reconhecida.

A autoridade invocada tem de estar identificada, isto é, a


autoridade não deve ser anónima.

A autoridade invocada deve dispor de provas, e quem a


invoca deve compreender essas provas.

A tese deve ser amplamente consensual entre as


autoridades dessa área.

O especialista invocado não pode ter interesses pessoais


ou de classe no âmbito do assunto em causa, ou seja,
deve haver imparcialidade.

O argumento não pode ser mais fraco do que outros


argumentos a favor de uma tese oposta.
Falácia do apelo ilegítimo à autoridade

Exemplo

Um empresário do setor das carnes afirmou que o


vegetarianismo faz mal à saúde.
Logo, o vegetarianismo faz mal à saúde.

Argumento de autoridade forte

Exemplo

Apoiado em experiências de carácter científico, Galileu


afirmou que todos os corpos caem com aceleração
constante. Por conseguinte, todos os corpos caem com
aceleração constante.
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Falácias informais
Falácia da petição de princípio

Consiste em assumir como garantido aquilo que se


pretende provar, estando a conclusão implícita, ainda
que disfarçadamente, nas premissas.

Forma lógica

A.
Logo, A (com variações linguísticas em relação à premissa).

Exemplo

Na perspetiva de Descartes, o espírito e a matéria são


coisas distintas. Por isso, de acordo com o autor de
“Discurso do Método”, a matéria diferencia-se do espírito.
Falácia do falso dilema

Resulta da redução indevida de várias opções possíveis a apenas duas,


mutuamente exclusivas, ignorando-se as restantes alternativas e forçando a
uma escolha entre as duas alternativas propostas.

Forma lógica Exemplo

Ou A ou B, mas não ambas.


Não-A. Ou concordas comigo ou és ignorante.
Logo, B. Não concordas comigo.
Logo, és ignorante.
Falácia da falsa relação causal

Falácia em que se confunde com uma relação de


causalidade a mera sucessão de acontecimentos (1)
ou a mera correlação entre eles (2).

Forma lógica 1 Forma lógica 2


Os eventos x e y ocorrem
Ocorreu x, depois ocorreu y.
simultaneamente.
Logo, x é a causa de y.
Logo, x é a causa de y.

Exemplo 1 Exemplo 2

Sempre que o jogador x marca um Aos domingos, as pessoas descansam


golo, segue-se a morte de um famoso. e visitam familiares. Por isso, o
Como tal, a causa de tais mortes é o descanso é a causa da visita aos
facto de o jogador x marcar golos. familiares.
Falácia ad hominem

Comete-se quando, em vez de se atacar


ou refutar a tese de alguém, se ataca a pessoa que
a defende e a sua idoneidade.

Forma lógica
A pessoa x afirmou que A.
Mas x não tem credibilidade.
Logo, A é falsa.

Exemplo

João afirmou que o aborto é moralmente incorreto.


Mas João é antipático e bebe em demasia.
Logo, é falso que o aborto seja moralmente incorreto.
Falácia ad populum

Comete-se quando se apela à opinião da maioria


para fazer valer a verdade de uma tese.

Forma lógica

A maioria das pessoas acredita ou diz que A.


Logo, A.

Exemplo

A maioria da população defende que ver televisão é a


melhor forma de anular a angústia existencial.
Logo, ver televisão é a melhor forma de anular a angústia
existencial.
Falácia do apelo à ignorância

Comete-se sempre que o desconhecimento de um


facto é usado como prova para justificar uma tese,
sendo uma proposição considerada verdadeira ou
falsa só porque não se provou o oposto.

Forma lógica

Não se sabe ou não se provou que A é verdadeira (falsa).


Logo, A é falsa (verdadeira).

Exemplo

Nunca se provou que o Universo é finito.


Logo, o Universo não é finito.
Falácia do espantalho (ou do boneco de palha)

Comete-se quando se procura refutar o argumento, posição, teoria


ou tese de alguém, atacando ou refutando uma versão simplificada,
mais fraca e deturpada de tal argumento, posição, teoria ou tese.

Forma lógica

O argumento (ou a tese) y – que é uma versão mais fraca e distorcida do


argumento (ou da tese) x – é um mau argumento (ou uma tese
falsa/inaceitável). Logo, o argumento (ou a tese) x é um mau argumento (ou
uma tese falsa/inaceitável).

Exemplo

Susana defende que o confinamento de algumas pessoas é a melhor


medida para impedir a propagação da pandemia. Antónia contesta a
perspetiva de Susana dizendo que confinar todas as pessoas não é
aceitável porque faz aumentar a obesidade.
Falácia da derrapagem

Comete-se sempre que se apresenta, pelo menos,


uma premissa falsa ou duvidosa e uma série de
consequências progressivamente inaceitáveis.

Forma lógica

Se A, então B.
Se B, então C.
Se C, então D.
Logo, se A, então D.

Exemplo

Se não te divertes, ficas triste.


Se ficas triste, ganhas uma depressão.
Se ganhas uma depressão, irás suicidar-te.
Logo, se não te divertes, irás suicidar-te.

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