Você está na página 1de 100

1.1.

Tese, argumento, validade,


verdade e solidez
LÓGICA

Disciplina filosófica que estuda a distinção entre argumentos corretos (ou válidos) e
incorretos (ou inválidos)

Estudo das leis, princípios e regras a que devem obedecer o


pensamento e o discurso para serem válidos.

Lógica formal Lógica informal

Analisa a validade Analisa a validade


dos argumentos dos argumentos não
dedutivos. dedutivos.
ARGUMENTO

Conjunto de proposições
devidamente articuladas

Conclusão
Premissa(s)
(tese)

A(s) premissa(s) procura(m) defender,


sustentar ou justificar a conclusão.
Exemplo
Premissa Os alunos da turma 10A são estudantes de Filosofia.
ANTECEDENTE
Premissa Pedro e Miguel são alunos da turma 10A.
CONSEQUENTE Conclusão Logo, Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia.

Indicador de Nexo lógico


conclusão

Um argumento tem subjacente uma inferência ou raciocínio, uma operação


mental através da qual chegamos a uma conclusão partindo de determinadas
razões e efetuando a transição lógica entre proposições.
Não se enquadram na categoria de “argumentos” aqueles que são
meros conjuntos de proposições sem qualquer conexão lógica entre si.

Exemplos
Os rapazes são giros.
As cerejas fazem bem à saúde.
Logo, as férias devem continuar.

Todos os deuses são imortais.


Alguns carros funcionam a gasolina.
Logo, as palavras são indispensáveis.
Quando, num argumento, a transição lógica falha,
percebemos que algo está errado.

Exemplo
Os alunos da turma 10A são estudantes de Filosofia.
Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia.
Logo, Pedro e Miguel são alunos da turma 10A.

Neste exemplo, compreendemos facilmente que o facto de Pedro e Miguel


serem estudantes de Filosofia não implica que façam parte da turma 10A. Neste
sentido, estaremos a cometer um erro de raciocínio, tornando o argumento
inválido e, portanto, nada convincente.
No nosso discurso quotidiano, formulamos constantemente argumentos.
Usamos expressões que indicam a presença de premissas e de conclusões.

Alguns indicadores de premissa Alguns indicadores de conclusão


Porque… Logo…
Pois… Então…
Admitindo que… Por conseguinte…
Pressupondo que… Portanto…
Considerando que… Por isso…
Partindo do princípio de que… Consequentemente…
Sabendo que… Segue-se que…
Dado que… Infere-se que…
Uma vez que… Conclui-se que…
Devido a… É por essa razão que…
Como… Daí que…
Ora… Assim…
Em virtude de… Isso prova que…
Indicadores de premissa e de conclusão – exemplos

Uma vez que é uma atividade física, o Proposição 1 – O desporto é atividade física.
desporto é saudável. Como se sabe, a Proposição 2 – O desporto é saudável.
atividade física é saudável. Proposição 3 – A atividade física é saudável.

Indicadores de premissa Toda a atividade física é saudável.


Todo o desporto é atividade física.
Logo, todo o desporto é saudável.

Indicador de conclusão
O Universo não é infinito. Com efeito, se Proposição 1 – O Universo não é infinito.
o Universo fosse infinito, a força da Proposição 2 – Se o Universo fosse infinito, a
gravidade não existiria. Ora, a força da força da gravidade não existiria.
gravidade existe. Proposição 3 – A força da gravidade existe.

Se o Universo fosse infinito, a força da gravidade


Indicadores de premissa não existiria.
A força da gravidade existe.
Logo, o Universo não é infinito.

Indicador de conclusão
É nas frases que usamos no nosso discurso que encontramos
expressas as proposições que compõem os argumentos.
Mas nem todas as frases expressam proposições.

PROPOSIÇÕES FRASES

Nem todas as frases expressam proposições.

Só as frases declarativas.

Afirmam, negam, atribuem, declaram ou


constatam alguma coisa.

Podem ser consideradas verdadeiras ou falsas.


EXEMPLOS DE FRASES QUE NÃO EXPRESSAM PROPOSIÇÕES

EXEMPLOS TIPO DE FRASE


Saia da minha frente! Frase imperativa.
Que belo jardim você tem! Frase exclamativa.
Quem sou eu? Frase interrogativa.
Farei o que me mandas fazer. Frase que traduz uma promessa.
Ajuda-me a transportar estes sacos. Frase que expressa um pedido.
PROPOSIÇÃO

Pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso,


expresso por uma frase declarativa.

A mesma proposição pode ser expressa por


diferentes frases declarativas:
“Camões é o autor d’ Os Lusíadas.”
=
“O autor d’ Os Lusíadas é Camões.”
PROPOSIÇÕES Relacionam termos.

É geralmente entendido como a


TERMO
expressão verbal do conceito.

CONCEITO Elemento básico do pensamento.

Representação intelectual de
determinada realidade.

O conteúdo dessa representação


Pode dizer respeito a uma classe de
objetos (ex. casas) ou a uma
realidade singular (ex. a minha casa).
PROPOSIÇÕES

VERDADE FALSIDADE

VALORES DE VERDADE:
Aplicam-se à matéria ou conteúdo das proposições.
Se estiverem de acordo com a realidade, as proposições são
verdadeiras; se não estiverem, são falsas.
ARGUMENTOS

VALIDADE INVALIDADE

São qualidades próprias dos


argumentos, resultantes do facto de
as premissas apoiarem/garantirem ou
não a conclusão.

A validade traduz uma certa relação entre os valores de


verdade das premissas e o valor de verdade da conclusão.
VALIDADE VALIDADE
DEDUTIVA NÃO DEDUTIVA
ARGUMENTOS
DEDUTIVOS

A sua validade depende apenas da forma lógica do argumento.

Se as premissas
Num argumento dedutivo válido é logicamente impossível que as forem verdadeiras
premissas sejam verdadeiras e, simultaneamente, a conclusão e a conclusão falsa,
falsa. então o argumento
é inválido.

Os argumentos dedutivos válidos são especialmente


apreciados pelos filósofos.

Estes argumentos preservam


a verdade.
Exemplo Exemplo

Todos os alunos são sensatos. Todos os alunos são sensatos.


Todos os jovens de dezasseis anos são alunos. Todos os jovens de dezasseis anos são sensatos.
Logo, todos os jovens de dezasseis anos são sensatos. Logo, todos os jovens de dezasseis anos são alunos.

Argumento dedutivo válido Argumento dedutivo inválido

É logicamente impossível as duas premissas A verdade da conclusão não é garantida pela


serem verdadeiras e a conclusão falsa. verdade das premissas.

Todos os A são B. Todos os A são B.


Todos os C são A. Todos os C são B.
Logo, todos os C são B. Logo, todos os C são A.

Forma válida Forma inválida


Pode haver argumentos dedutivos válidos com premissas e conclusão falsas.

Todos os portugueses são pintores.


Bertrand Russell é português.
Logo, Bertrand Russell é pintor.

Pode haver argumentos dedutivos inválidos com premissas e conclusão verdadeiras.

Todos os naturais de Lisboa são portugueses.


Fernando Pessoa é português.
Logo, Fernando Pessoa é natural de Lisboa.
Argumentos sólidos

Argumentos válidos constituídos por


premissas verdadeiras.

A solidez já pressupõe a validade.

Exemplos
Todos os portugueses são europeus.
João Sousa é português.
Logo, João Sousa é europeu.

João Sousa é lisboeta e é português.


Logo, é português.
Em qualquer discurso argumentativo são vários os tipos de
argumentos que poderemos usar quando queremos convencer
alguém da razoabilidade de uma tese.

Para além dos dedutivos, podemos usar argumentos não dedutivos.

Tipos de argumentos

Argumentos Argumentos não


dedutivos dedutivos

Argumentos indutivos Argumentos por Argumentos de


(induções) analogia autoridade

Generalização Previsão
ARGUMENTOS NÃO DEDUTIVOS

Num argumento não dedutivo, a verdade das premissas apenas


sugere a plausibilidade da conclusão ou a probabilidade de ela ser
também verdadeira.

Neste tipo de argumentos, as premissas apenas dão um suporte


parcial à conclusão, fornecendo razões a seu favor, mas não a
tornando necessariamente verdadeira.

A sua validade depende de aspetos que vão para lá da forma lógica


do argumento.

Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas


não propriamente impossível, ter premissas verdadeiras e
conclusão falsa.
EXEMPLO 1 Até hoje, todos os gatos nasceram mamíferos.
Logo, o próximo gato a nascer também nascerá mamífero.

Argumento não dedutivo válido Argumento forte

Argumento cuja(s) premissa(s) oferece(m) um apoio


forte à conclusão.

EXEMPLO 2 Alguns estudantes copiam nos testes.


Logo, todos os estudantes copiam nos testes.

Argumento não dedutivo inválido Argumento fraco

Argumento cuja(s) premissa(s) não oferece(m) um


apoio forte à conclusão.
Falácia

Argumento incorreto ou inválido,


embora aparente ser válido.

Falácias formais Falácias informais

Resultam de aspetos
que vão para lá da
Decorrem apenas da
forma lógica do
forma lógica do
argumento. São
argumento. São
cometidas ao nível dos
cometidas ao nível dos
argumentos não
argumentos dedutivos.
dedutivos.
1.2. O Quadrado da Oposição
Alguns tipos de proposições

Exemplos

Afirmam ou negam sem Todos os rios correm.


Categóricas Os poetas não são arquitetos.
restrições nem condições.

Afirmam ou negam sob Se viajo, então aprendo.


Condicionais Se não fores, então eu não vou.
determinadas condições.
Disjunção exclusiva:
Ou és sábio ou não és prudente.
Afirmam ou negam em forma de
alternativas que se excluem
Disjuntivas (disjunção exclusiva) ou não Disjunção inclusiva:
(disjunção inclusiva). És inteligente ou boa pessoa.

Seguidamente, iremos ter em consideração as proposições categóricas.


Estrutura das proposições categóricas

Numa proposição categórica, afirmamos ou negamos alguma coisa – o


termo predicado – de uma outra coisa – o termo sujeito.

Todos os artistas são sábios.

SUJEITO CÓPULA PREDICADO

Ser relativamente Característica ou


Elemento que faz a
ao qual se afirma qualidade que se
ligação do sujeito
ou nega o afirma ou nega do
com o predicado.
predicado. sujeito.

SéP
Exemplos

VERDADEIRA Portugal é um país europeu.


Proposições afirmativas

FALSA O Sol é um planeta.

Picasso não é o autor de Guernica. FALSA

Proposições negativas

Nenhum cão é animal aquático. VERDADEIRA

A proposição categórica é o enunciado que estabelece uma relação de afirmação ou de


negação entre termos, podendo tal relação ser considerada verdadeira ou falsa.
QUANTIFICADORES

Nota:
UNIVERSAIS EXISTENCIAL há outros
quantificadores
com idêntico
significado –
“TODOS” “NENHUM” “ALGUM” por exemplo,
“Qualquer”
equivale a
“Todos”.

Permitem-nos saber se o sujeito é tomado na sua totalidade ou somente em parte.

Exemplos:
1. Todos os seres humanos são bípedes.
2. Alguns seres humanos não são altos.

Nas proposições categóricas há uma relação de inclusão ou de não inclusão, na


classe relativa ao predicado, de todos ou de apenas alguns dos elementos que
fazem parte da classe do sujeito.
PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

Forma-padrão ou
forma canónica

Exemplos: Exemplos:
Os gatos vivem. Todos os gatos são viventes.
Os americanos sonham. Todos os americanos são sonhadores.
PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

QUALIDADE QUANTIDADE

AFIRMATIVAS NEGATIVAS UNIVERSAIS PARTICULARES

Uma proposição é Uma proposição é Uma proposição é Uma proposição é


afirmativa quando nos negativa quando nos considerada universal considerada particular
indica que o indica que o quando o sujeito é quando o sujeito é
predicado convém ao predicado não tomado em toda a sua tomado apenas numa
sujeito. convém ao sujeito. extensão. parte da sua extensão.

Exemplo: Exemplo: Exemplo: Exemplo:


Qualquer deus é Há animais que não Todos os cães são Alguns insetos
imortal. são mortais. vertebrados. perturbam.
Tipos de proposições Forma lógica

Tipo A Universal afirmativa Todo o S é P.

Tipo E Universal negativa Nenhum S é P.

Tipo I Particular afirmativa Algum S é P.

Tipo O Particular negativa Algum S não é P.


Proposições categóricas na sua forma-padrão ou forma
canónica e outras expressões das mesmas

Tipo A Universais afirmativas

O predicado é afirmado de todos os elementos da classe que o sujeito representa.

Forma-padrão Outras expressões

Qualquer filósofo é crítico.


Ser filósofo é ser crítico.
Todo o S é P Os filósofos são críticos.
O filósofo é crítico.
Todos os filósofos são críticos. Quem é filósofo é crítico.
Não há filósofos que não sejam críticos.
Só há filósofos críticos.
Tipo E Universais negativas

O predicado é negado de todos os elementos da classe que o sujeito representa.

Forma-padrão Outras expressões

Os animais não são perigosos.


O animal não é perigoso.
Nenhum S é P Ser perigoso não é uma característica dos
animais.
Nenhum animal é perigoso. Não há animal que seja perigoso.
Só existem animais não perigosos.
Todos os animais não são perigosos.
Tipo I Particulares afirmativas
O predicado é afirmado apenas de uma parte dos elementos da classe que o sujeito
representa.
Forma-padrão Outras expressões

Certos dias são belos.


Algum S é P
Há dias belos.
Existem dias belos.
Alguns dias são belos.
Existe pelo menos um dia que é belo.
Tipo O Particulares negativas
O predicado é negado apenas de uma parte dos elementos da classe que o sujeito
representa.
Forma-padrão Outras expressões

Certos caminhos não são transitáveis.


Algum S não é P Há caminhos não transitáveis.
Existem caminhos não transitáveis.
Alguns caminhos não são Existe pelo menos um caminho que não é
transitáveis. transitável.
Nem todos os caminhos são transitáveis.
QUADRADO DA OPOSIÇÃO

Exemplo: Todos os papéis Exemplo: Nenhum papel


são brancos. é branco.

A CONTRÁRIAS E
SUBALTERNAS CONTRADITÓRIAS SUBALTERNAS

I SUBCONTRÁRIAS O
Exemplo: Alguns papéis Exemplo: Alguns papéis
são brancos. não são brancos.
Notas:
As relações apresentadas designam-se por: contrariedade, contraditoriedade, subcontrariedade e subalternação.
A relação de subalternação não constitui uma oposição lógica propriamente dita.
Às proposições universais também por vezes se chama “subalternantes”; às particulares, “subalternadas”.
A implica I, E implica O, mas o contrário não se verifica. Daí a seta apresentar apenas um sentido.
Inferir por oposição consiste em tirar de uma proposição outras
Inferências
proposições, alterando a quantidade e/ou a qualidade, e em concluir
por
imediatamente, a partir da verdade ou falsidade da proposição
oposição
inicial, a verdade ou falsidade daquelas que se obtêm.

As teses filosóficas surgem, frequentemente, sob a forma de proposições universais.

Para negar uma proposição universal não é correto apresentar a sua contrária, pois se a
verdade de uma delas implica a falsidade da outra, da falsidade de uma não podemos
concluir a falsidade ou veracidade da outra.

Exemplos
A negação de “Nenhuma guerra é justa” não é “Todas as guerras são justas”, mas sim
“Algumas guerras são justas”.

A negação de “Algumas guerras não são justas” será “Todas as guerras são justas”.
Regras da oposição

Regra das Duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras e falsas ao mesmo tempo. A
contraditórias verdade de uma implica a falsidade da outra e vice-versa. São a negação uma da outra.

Duas proposições contrárias não podem ser ambas verdadeiras ao mesmo tempo, mas
Regra das
podem ser ambas falsas. Todavia, da falsidade de uma não se pode concluir a falsidade ou
contrárias veracidade da outra. Por isso, não são a negação uma da outra.

Regra das Duas proposições subcontrárias não podem ser ambas falsas ao mesmo tempo, mas podem
subcontrárias ser ambas verdadeiras. Não são a negação uma da outra.

Da verdade da universal infere-se a verdade da particular que lhe está subordinada; da


Regra das verdade da particular nada se pode concluir quanto à universal; da falsidade da universal
subalternas nada se pode concluir relativamente à verdade ou falsidade da particular; da falsidade da
particular infere-se a falsidade da universal. Não são a negação uma da outra.

Nota A negação das proposições singulares, aquelas que se referem a um só indivíduo,


elemento ou objeto, não oferece dificuldade: a negação de “Picasso é inglês” será
“Picasso não é inglês”; a negação de “O corpo não é mortal” será “O corpo é mortal”.
1.3. Formas de inferência válida – lógica
proposicional
PROPOSIÇÃO

Pensamento ou conteúdo expresso por uma frase declarativa, suscetível de


ser considerada verdadeira ou falsa.

As proposições têm valor de verdade.

Simples Complexas

São proposições em que São proposições em que


não estão presentes está presente um operador
quaisquer operadores. ou mais do que um.

Exemplos Exemplos
As casas são brancas. As casas são belas. As casas são brancas ou as casas são belas.
Gertrudes é arquiteta. Paulo é engenheiro. Gertrudes é arquiteta e Paulo é engenheiro.
Deus existe. O mundo foi criado por Deus. Se Deus existe, então o mundo foi criado por Deus.
Eu sou jogador de futebol. Eu não sou jogador de futebol.
Proposições

Simples Complexas

O seu valor de verdade


O seu valor de verdade
depende do valor de
depende do facto de elas
verdade das proposições
estarem ou não de acordo
simples e dos operadores
com a realidade.
utilizados.

Gertrudes é arquiteta. Paulo é engenheiro. Gertrudes é arquiteta e Paulo é engenheiro.

verdadeira falsa falsa

Gertrudes é arquiteta ou Paulo é engenheiro.

verdadeira
Operadores Proposicionais

Trata-se de palavras ou expressões que, sendo ligadas a determinada(s)


proposição(ões), permitem formar novas proposições.

“Penso que”,
“E”, “ou”, “se…,
“acredito que”, “é
então”, etc.
possível que”, etc.

Operadores
verofuncionais
(operadores lógicos
ou conetivas
Proposição complexa função de verdade proposicionais).

Operadores que nos permitem, uma vez conhecidos os valores de verdade das
proposições simples, determinar, apenas com base nessa informação, o valor de
verdade da proposição resultante.
Variáveis Letras P: Deus existe.
proposicionais proposicionais Q: A vida tem sentido.

Exemplo Forma lógica

Deus existe e a vida tem sentido. P e Q.


Logo, Deus existe. Logo, P.

Argumento dedutivamente válido.

É possível determinar, com base nos operadores


verofuncionais, a validade dos argumentos em que as
proposições se integram.
OPERADORES VEROFUNCIONAIS

Símbolo Leitura Formas proposicionais


 não Negação
 e Conjunção
Constantes  ou Disjunção inclusiva
lógicas
 ou . ou… ou Disjunção exclusiva
→ se..., então Condicional
↔ se, e só se Bicondicional
Forma lógica Exemplos
P Não P. Deus não existe.
PQ P e Q. Deus existe e a vida tem sentido.
PQ P ou Q. Deus existe ou a vida tem sentido.
PQ Ou P ou Q. Ou Deus existe ou a vida tem sentido.
P→Q Se P, então Q. Se Deus existe, então a vida tem sentido.
P↔Q P se, e só se, Q. Deus existe se, e só se, a vida tiver sentido.

Operador singular,
Aplica-se apenas a uma proposição. “não”
unário ou monádico
“e”, “ou”, “ou… ou”,
Operador binário ou
Aplica-se a duas proposições. “se..., então”, “se, e só
diádico
se”
Negação Tabela de verdade

P: Portugal é um país asiático. Tabela que apresenta as diversas condições


de verdade de uma forma proposicional
específica, permitindo determinar de modo
 P (Não P)
mecânico a sua verdade ou falsidade.
Portugal não é um país asiático.
A tabela de verdade exibe os valores de
Expressões verdade possíveis da(s) proposição(ões) e os
alternativas valores de verdade resultantes das operações
efetuadas.
Não é verdade que Portugal é um país asiático.
É falso que Portugal seja um país asiático.
É errado afirmar que Portugal é um país asiático. Tabela de verdade da
negação

A negação é uma proposição com a


P P
forma “Não P”, representando-se por
“ P”. Se P é verdadeira,  P é falsa;
V F
Coluna de referência
se P é falsa,  P é verdadeira. F V
A negação de uma negação (ou dupla Primeira parte Segunda parte
negação) – que se representa por “  P” – Sendo o operador da negação o único operador
equivale a uma afirmação. unário, só haverá duas filas na tabela.
Tabela de verdade da conjunção
Conjunção
P Q PQ
P: A vida é enigmática.
Q: A morte é enigmática. V V V
V F F
P  Q (P e Q) F V F
A vida é enigmática e a morte é F F F
enigmática.
Sendo o operador da conjunção, à semelhança dos
que estudaremos a seguir, um operador binário,
Expressões haverá na tabela quatro condições de verdade.
alternativas
A vida é enigmática e a morte também o é. A conjunção é uma proposição com a
A vida e a morte são enigmáticas. forma “P e Q”, simbolizando-se por “P 
A vida é enigmática, mas a morte é-o igualmente. Q”, a qual é verdadeira se as proposições
Quer a vida quer a morte são enigmáticas.. conectadas forem ambas verdadeiras e é
falsa desde que pelo menos uma dessas
proposições seja falsa.
P: Descartes era racionalista. Tabela de verdade da
Disjunção
Q: Locke era empirista. disjunção inclusiva
inclusiva
P Q PQ
P  Q (P ou Q) V V V
Descartes era racionalista ou V F V
Locke era empirista. F V V
F F F
A disjunção inclusiva é uma proposição com a forma “P ou Q”, simbolizando-se por “P  Q”, a qual é
sempre verdadeira, exceto quando P e Q forem simultaneamente falsas.

Tabela de verdade da
Disjunção P: Vou ao cinema. disjunção exclusiva
Q: Fico em casa.
exclusiva P Q PQ
V V F
P  Q (Ou P ou Q)
V F V
Ou vou ao cinema ou fico em F V V
casa. F F F
A disjunção exclusiva é uma proposição com a forma “Ou P ou Q”, simbolizando-se por “P  Q”, a qual é
verdadeira se P e Q possuem valores lógicos distintos e falsa se P e Q possuem o mesmo valor lógico.
Observação sobre
a disjunção
exclusiva

Pode suceder que o próprio contexto nos permita saber qual a disjunção que
está a ser usada. Por exemplo, a seguinte disjunção, aparentemente inclusiva,
na realidade é exclusiva:

António tem cinco anos ou António tem sete anos.

A impossibilidade de as duas proposições serem verdadeiras em simultâneo


justifica que estejamos perante um caso de disjunção exclusiva.
Tabela de verdade da
Condicional P: Marco golos. condicional
(implicação Q: Sou desportista.
P Q P→Q
material)
P → Q (Se P, então Q) V V V
Se marco golos, então sou V F F
desportista. F V V
F F V
Expressões
Antecedente É uma condição suficiente
alternativas
(P) para o consequente.

Sou desportista, se marco golos. Consequente É uma condição necessária


Sou desportista, caso marque golos. (Q) para o antecedente.
Desde que eu marque golos, sou desportista.
A condicional é uma proposição com
Ser desportista é condição necessária para eu
a forma “Se P, então Q”,
marcar golos.
simbolizando-se por “P → Q”, a qual
Marcar golos é condição suficiente para eu ser
só é falsa se P – o antecedente – é
desportista.
verdadeira e Q – o consequente – é
Se marco golos, sou desportista.
falsa. Em todas as restantes
situações, a nova proposição é
verdadeira.
Tabela de verdade da
Bicondicional P: Sou escritor. bicondicional
(equivalência Q: Publico livros.
material) P Q P↔Q
P ↔ Q (Se, e só se) V V V
Sou escritor se, e só se, publico V F F
livros. F V F
F F V

Expressões
alternativas
Sou escritor se, e somente se, publico livros. A bicondicional é uma proposição
Sou escritor se, e apenas se, publico livros. com a forma “P se, e só se, Q”,
Publicar livros é condição necessária e suficiente simbolizando-se por “P ↔ Q” a qual
para eu ser escritor. é verdadeira se ambas as proposições
Se sou escritor, publico livros e vice-versa. tiverem o mesmo valor lógico e falsa
se as proposições tiverem valores
lógicos distintos.
Formas proposicionais e operadores verofuncionais
Proposições
Disjunção
simples
Negação Conjunção Condicional Bicondicional
inclusiva exclusiva

P Q P Q PQ PQ PQ P→Q P↔Q


V V F F V V F V V
V F F V F V V F F
F V V F F V V V F
F F V V F F F V V
Âmbito dos operadores P: Eu sonho.
Q: Eu estudo.

Operador principal:  Eu sonho e não estudo. PQ

Uma conjunção e uma negação que incide sobre a proposição Q.

Operador principal:  É falso afirmar que eu sonho e não estudo.  (P   Q)

Uma negação que incide sobre a conjunção de P e de  Q.

Âmbito de um operador: refere-se à proposição (ou proposições)


sobre a qual (ou sobre as quais) esse operador incide.

No segundo exemplo, o operador da negação (enquanto operador principal) apresenta


um âmbito diferente do do outro operador da negação.
Formalizar proposições complexas

Isolar as proposições simples


que as constituem e atribuir
Colocar as proposições na variáveis proposicionais a
forma canónica, identificando cada uma. A isto se chama Simbolizar ou formalizar a
os operadores verofuncionais “construir o dicionário” proposição complexa.
envolvidos. dessas proposições ou
proceder à sua
“interpretação”.

Exemplo: Não sou rico se, e só se, não tenho dinheiro.

Expressão canónica Dicionário Formalização

Não sou rico se, e só se, não P: Sou rico.


P↔Q
tenho dinheiro. Q: Tenho dinheiro.
O método das tabelas de verdade

Expressão canónica Dicionário Formalização

Não é verdade que se está sol P: Está sol.


 (P → Q))
então está bom tempo. Q: Está bom tempo.

1. P Q  (P → Q) 2. P Q  (P → Q)
Desenhar a tabela, Colocar na tabela
colocando aí as os valores de V V
verdade das
letras
proposições
V F
proposicionais e a
proposição simples, esgotando F V
complexa. as possibilidades.
F F

3. P Q  (P → Q) 4. P Q  (P → Q)
Calcular os valores
de verdade das V V V Calcular os valores V V F V
proposições, de verdade da
excetuando os
V F F proposição relativa
V F V F
daquela que é F V V ao operador F V F V
relativa ao principal.
operador principal. F F V F F F V
Para duas variáveis, são necessárias quatro filas; para
três, oito; para quatro, dezasseis, etc.

P Q R [R  (P  Q)] ↔ (R  Q)
Determinamos primeiro os valores
V V V V V V V de verdade da conjunção “P  Q” e
V V F V V V V da disjunção “R  Q” (a ordem neste
V F V V F V V caso é irrelevante). De seguida,
V F F F F V F determinamos os valores da
F V V V F V V disjunção “R  (P  Q)”. Por fim,
determinamos os valores da
F V F F F F V
bicondicional a partir dos valores
F F V V F V V obtidos para as duas disjunções.
F F F F F V F
Tautologias ou
verdades lógicas

Fórmulas proposicionais que são sempre verdadeiras, qualquer que seja o


valor de verdade das proposições simples que as constituem.

Exemplo Forma lógica

Se observo o céu e escuto o


(P  Q) → P
vento, então observo o céu.

P Q (P  Q) → P
V V V V
V F F V
F V F V
F F F V
Contradições ou
falsidades lógicas

Fórmulas proposicionais que são sempre falsas, independentemente do valor


de verdade das proposições simples que as compõem.

Exemplo Forma lógica

Não penso ou não sonho se, e


( P   Q) ↔ (P  Q)
só se, penso e sonho.

P Q ( P   Q) ↔ (P  Q)
V V F F F F V
V F F V V F F
F V V V F F F
F F V V V F F
Contingências ou proposições indeterminadas

Fórmulas proposicionais que tanto podem ser verdadeiras como falsas,


consoante os valores lógicos das proposições simples que as compõem.

Exemplo Forma lógica

Se passeio ou corro, então


(P  Q) → P
passeio.

P Q (P  Q) → P
V V V V
V F V V
F V V F
F F F V
Tautologias e formas de inferência válida

P Q [(P → Q)  P] → Q Este exemplo, que


traduz o chamado
modus ponens,
V V V V V
constitui uma
V F F F V tautologia.
F V V F V
F F V F V

Uma forma de inferência dedutiva é válida se, e somente se, a fórmula


proposicional (implicativa) que lhe corresponde for uma tautologia.
Inspetores de circunstâncias

Consistem numa sequência de tabelas


de verdade, que são feitas para as
premissas e para a conclusão.

Como num argumento dedutivo válido é impossível que as premissas


sejam verdadeiras e a conclusão falsa, num inspetor de circunstâncias
um argumento válido será aquele no qual não existe nenhuma linha que
torne todas as premissas verdadeiras e a conclusão falsa.
Exemplo 1 Argumento Dicionário Formalização

O modus ponens, que Se sou português,


vimos enquanto fórmula então sou conhecedor
P: Sou português. P→Q
tautológica, aparece de Camões.
Q: Sou conhecedor de P
agora, enquanto forma Sou português.
Camões. Q
de inferência, com uma Logo, sou conhecedor
apresentação diferente. de Camões.
Nota: Em vez do símbolo , também poderemos usar o símbolo , que se designa
por “martelo semântico”. Ambos se leem “Logo”, um indicador de conclusão.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão

P Q P → Q, P Q A primeira linha exprime a única


circunstância em que ambas as
V V V V V premissas são verdadeiras. Ora,
dado que tal circunstância
V F F V F
também torna a conclusão
F V V F V verdadeira, o argumento é
F F V F F considerado válido.
Exemplo 2 Argumento Dicionário Formalização

Se corro, então sinto-


P→Q
me bem. P: Corro.
Q
Sinto-me bem. Q: Sinto-me bem.
P
Logo, corro.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão


A primeira e a terceira linhas
P Q P → Q, Q P exprimem as únicas
circunstâncias em que ambas as
premissas são verdadeiras.
V V V V V Contudo, se na primeira linha a
V F F F V circunstância torna a conclusão
F V V V F verdadeira, já na terceira linha a
circunstância em causa torna a
F F V F F conclusão falsa. O argumento é,
por isso, inválido.
Exemplo 3 Argumento Dicionário Formalização
Se leio, aumento a minha
P: Leio.
inteligência.
Q: Aumento a minha P→Q
Se aumento a minha inteligência,
inteligência. Q→R
aumento a minha autoestima.
R: Aumento a minha P→R
Logo, se leio, aumento
autoestima.
a minha autoestima.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão

P Q R P → Q, Q → R  P → R

V V V V V V
Estamos perante um argumento
V V F V F F
válido, pois nas circunstâncias
V F V F V V em que ambas as premissas são
V F F F V F verdadeiras, a conclusão
F V V V V V também o é.
F V F V F V
F F V V V V
F F F V V V
Exemplo 4 Argumento Dicionário Formalização

Se Manuel barafusta e Pedro não


P: Manuel barafusta.
sorri, então o ambiente é pesado. (P   Q) → R
Q: Pedro sorri.
O ambiente é pesado. R
R: O ambiente é
Logo, Manuel barafusta e Pedro não PQ
pesado.
sorri.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão

P Q R (P   Q) → R, R  P   Q

V V V F F V V F F
Há três circunstâncias (1.ª, 5.ª
V V F F F V F F F e 7.ª) em que ambas as
V F V V V V V V V premissas são verdadeiras e a
V F F V V F F V V conclusão é falsa. Logo, o
F V V F F V V F F argumento é inválido.
F V F F F V F F F
F F V F V V V F V
F F F F V V F F V
Modus ponens: Exemplo Formalização
Algumas afirmação do
formas de antecedente na Se está sol, então vou à praia. P→Q
inferência segunda premissa
Está sol. P
e do consequente
válida
na conclusão.
Logo, vou à praia. Q

Modus tollens: Exemplo Formalização


negação do
consequente na Se está sol, então vou à praia. P→Q
segunda premissa Não vou à praia. Q
e do antecedente Logo, não está sol. P
na conclusão.

Exemplo Formalização

Se Deus existe, então o mundo é finito.


P→Q
Logo, se o mundo não é finito, então
Q→P
Deus não existe.
Contraposição
Exemplo Formalização
Se o mundo não é finito, então Deus
não existe. Q→P
Logo, se Deus existe, então o mundo é P→Q
finito.
Exemplo Formalização

Canto ou estou alegre. PQ


Silogismo
Não canto. P
disjuntivo
Logo, estou alegre. Q
(disjunção
inclusiva) ou Exemplo Formalização
modus tollendo
ponens Canto ou estou alegre. PQ
Não estou alegre. Q
Logo, canto. P

Exemplo Formalização
Se viajar, então aprendo novas coisas.
Silogismo Se aprendo novas coisas, então torno- P→Q
hipotético me melhor pessoa. Q→R
Logo, se viajar, então torno-me melhor P→R
pessoa.
Exemplo Formalização
Leis de De
Morgan:
indicam-nos Não é verdade que sou injusto e cruel.  (P  Q)
Logo, não sou injusto ou não sou cruel. PQ
que de uma Negação
conjunção da
conjunção Exemplo Formalização
negativa
podemos Não sou injusto ou não sou cruel.
inferir uma PQ
Logo, não é verdade que sou injusto e
  (P  Q)
disjunção cruel.
de
negações, e Exemplo Formalização
que de uma
disjunção Não é verdade que há sol ou chuva.  (P  Q)
negativa Logo, não há sol e não há chuva. PQ
Negação
podemos da
inferir uma disjunção Exemplo Formalização
conjunção
Não há sol e não há chuva.
de PQ
Logo, não é verdade que há sol ou
negações.   (P  Q)
chuva.
Exemplo Formalização

Não é verdade que eu não penso. P


Logo, eu penso.. P
Negação
dupla Exemplo Formalização

Eu penso. P
Logo, não é verdade que eu não penso. P
Variáveis de fórmula

Representam qualquer tipo de proposição (simples ou complexa). Usam-se as


letras iniciais do alfabeto: A, B, C, etc.
Exemplo Dicionário Formalização

Se tenho livros, então sou feliz e sábio. P: Tenho livros. P → (Q  R)


Não é verdade que sou feliz e sábio. Q: Sou feliz.  (Q  R)
Logo, não tenho livros. R: Sou sábio. P

Formalização

A→B
B
A
FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA

Modus ponens Modus tollens


A→B A→B
A B
B A
Silogismo disjuntivo Silogismo hipotético
AB AB A→B
A B B→C
B A A→C
Contraposição Leis de De Morgan

A→B B→A Nota: o  (A  B) AB


B→A A→B símbolo   AB   (A  B))
significa, no
presente
O
OU A→BB→A contexto, que  (A  B)   A   B
tanto se pode U
Negação dupla inferir
 (A  B) AB

validamente
A A num como AB   (A  B)
A A noutro
sentido. O
OU AA  (A  B)   A   B
U
PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS (FORMAS DE INFERÊNCIA INVÁLIDA)

Exemplo Formalização

Falácia da
afirmação do Se és meu amigo, então dizes-me sempre a verdade. P→Q
consequente Dizes-me sempre a verdade. Q
Logo, és meu amigo. P

Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se afirma o consequente na


segunda premissa, concluindo-se com a afirmação do antecedente.

Exemplo Formalização

Falácia da
negação do Se és meu amigo, então dizes-me sempre a verdade. P→Q
antecedente Não és meu amigo. P
Logo, não me dizes sempre a verdade. Q

Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se nega o antecedente na


segunda premissa, concluindo-se com a negação do consequente.
2.1. O discurso argumentativo e
principais tipos de argumentos e
falácias informais
Em qualquer discurso argumentativo são vários os tipos de
argumentos que poderemos usar quando queremos convencer
alguém da razoabilidade de uma tese.

Para além dos dedutivos, podemos usar argumentos não dedutivos.

Tipos de argumentos

Argumentos Argumentos não


dedutivos dedutivos

Argumentos indutivos Argumentos por Argumentos de


(induções) analogia autoridade

Generalização Previsão
ARGUMENTOS NÃO DEDUTIVOS

Num argumento não dedutivo, a verdade das premissas apenas


sugere a plausibilidade da conclusão ou a probabilidade de ela ser
também verdadeira.

Neste tipo de argumentos, as premissas apenas dão um suporte


parcial à conclusão, fornecendo razões a seu favor, mas não a
tornando necessariamente verdadeira.

A sua validade depende de aspetos que vão para lá da forma lógica


do argumento.

Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas


não propriamente impossível, ter premissas verdadeiras e
conclusão falsa.
EXEMPLO 1 Até hoje, todos os gatos nasceram mamíferos.
Logo, o próximo gato a nascer também nascerá mamífero.

Argumento não dedutivo válido Argumento forte

Argumento cuja(s) premissa(s) oferece(m) um apoio


forte à conclusão.

EXEMPLO 2 Alguns estudantes copiam nos testes.


Logo, todos os estudantes copiam nos testes.

Argumento não dedutivo inválido Argumento fraco

Argumento cuja(s) premissa(s) não oferece(m) um


apoio forte à conclusão.
Argumentos indutivos: indução por generalização

Argumento cuja conclusão é mais geral do que a(s) premissa(s).

Exemplo:
Todos os peixes observados até agora respiram através da absorção
do oxigénio presente na água.
Logo, todos os peixes respiram através da absorção do oxigénio
presente na água.

REQUISITOS DE VALIDADE DAS GENERALIZAÇÕES:

Uma generalização é válida se cumprir os seguintes requisitos:


- se partir de um número relevante de casos observados;
- se não se tiverem encontrado, depois de procurados, quaisquer
contraexemplos;
- se os casos observados forem representativos do universo em
questão.
EXEMPLOS DE GENERALIZAÇÕES VÁLIDAS

Exemplo 1:
Todos os esquilos observados até hoje são mamíferos.
Logo, todos os esquilos são mamíferos.

Exemplo 2:
Com base em inquéritos realizados a quarenta indivíduos de cada uma das profissões
existentes na cidade X, constata-se que todos afirmaram estar satisfeitos com o respetivo
emprego.
Logo, todos os indivíduos da cidade X estão satisfeitos com o respetivo emprego.
EXEMPLOS DE GENERALIZAÇÕES INVÁLIDAS

Exemplo 1:
Fiz um teste de Filosofia e foi difícil.
Logo, todos os testes de Filosofia são difíceis.

Falácia da generalização precipitada: ocorre quando se conclui abusivamente o geral de


apenas um ou poucos casos. Além disso, no que se refere ao exemplo apresentado, existem
certamente contraexemplos que põem em causa a conclusão.

Exemplo 2:
Com base em inquéritos realizados ao conjunto dos estudantes portugueses do ensino
superior, constata-se que todos eles valorizam este tipo de ensino.
Logo, todos os portugueses valorizam o ensino superior.
Falácia da amostra não representativa: consiste em concluir de um segmento da população
para toda a população, apesar de a amostra poder incluir um número significativo de casos.
Neste exemplo, embora o número de casos seja significativo, os estudantes portugueses do
ensino superior não representam a população portuguesa. Além disso, existirão certamente
contraexemplos que põem em causa a conclusão.
Argumentos indutivos: indução por previsão
Argumento que, baseando-se em casos passados, antevê casos não
observados, presentes ou futuros.

Exemplo:
Todos os cavalos observados até hoje nasceram quadrúpedes.
Logo, o próximo cavalo a nascer também nascerá quadrúpede.

REQUISITOS DE VALIDADE DAS PREVISÕES:

Uma indução por previsão é válida se cumprir os seguintes requisitos:


– se existir uma forte probabilidade de a conclusão corresponder à realidade;
– se não existir informação disponível contrária ao que se afirma no argumento.
EXEMPLOS DE PREVISÕES VÁLIDAS

Exemplo 1:
Todos os esquilos observados até hoje são mamíferos.
Logo, o próximo esquilo que observarmos também será mamífero.

Exemplo 2:
Até agora o planeta Terra girou sempre em redor do Sol.
Logo, durante o próximo ano, o planeta Terra também irá girar em redor do Sol.
EXEMPLOS DE PREVISÕES INVÁLIDAS

Exemplo 1:
O clube A venceu os sete jogos do campeonato disputados até agora.
Logo, o clube A irá vencer os próximos vinte e sete jogos do campeonato por disputar.

Falácia da previsão inadequada (Neste caso, não é forte a probabilidade de


a conclusão corresponder à realidade.)

Exemplo 2:
A temperatura na Terra nunca apresentou variações significativas no passado.
Logo, ela nunca apresentará variações significativas no futuro.

Falácia da previsão inadequada (Neste caso, a conclusão é ilegítima porque existe


informação disponível que dá conta do aquecimento global.)
Argumento por analogia
Argumento que consiste em partir de certas semelhanças ou
relações entre dois objetos ou duas realidades e em encontrar
novas semelhanças ou relações. Baseia-se, assim, na comparação
que se estabelece entre as realidades, supondo semelhanças novas
a partir das já conhecidas.

Forma lógica:

X tem a propriedade A.
Y é semelhante a X.
Logo, Y tem a propriedade A.

Exemplo:
O cantor X canta bastante bem.
O cantor Y tem um timbre e uma extensão vocal semelhantes aos do
cantor X.
Logo, o cantor Y também canta bastante bem.
REQUISITOS DE VALIDADE DO ARGUMENTO POR ANALOGIA:

Um argumento por analogia é válido se cumprir os seguintes requisitos:


– se as semelhanças entre as realidades forem relevantes no que diz
respeito à conclusão;
– se as semelhanças relevantes no que diz respeito à conclusão forem em
número suficiente;
– se não existirem diferenças relevantes no que diz respeito à conclusão.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA VÁLIDO

O aluno A consegue boas classificações.


O aluno B é tão aplicado, empenhado, metódico e inteligente como o
aluno A, tendo condições socioeconómicas semelhantes.
Logo, o aluno B também consegue boas classificações.
EXEMPLOS DE ARGUMENTOS POR ANALOGIA INVÁLIDOS

Exemplo 1:
O carro da marca X é bastante potente.
O carro da marca Y tem a mesma cor e o mesmo tamanho que o carro da marca X.
Logo o carro da marca Y também é bastante potente.
Falácia da falsa analogia (Neste caso, as semelhanças não são relevantes no que diz
respeito à conclusão.)

Exemplo 2:
O médico A, que estudou numa Universidade de prestígio, é um profissional excelente.
O médico B estudou na mesma Universidade.
Logo, O médico B também é um profissional excelente.
Falácia da falsa analogia (Neste caso, as semelhanças relevantes no que diz respeito à
conclusão não são em número suficiente.)

Exemplo 3:
As máquinas não são conscientes de si.
A mente humana é como uma máquina.
Logo, a mente humana não é consciente de si.
Falácia da falsa analogia (Neste caso, existem diferenças relevantes entre a mente humana e as
máquinas, no que diz respeito àquilo que é afirmado na conclusão.)
Argumento de autoridade
É o argumento que se apoia na opinião de um especialista ou de
uma autoridade para fazer valer a sua conclusão.

Forma lógica:

Uma autoridade, especialista ou testemunha afirmou que P.


Logo, P.

Exemplo:
Galileu afirmou que todos os corpos caem com aceleração constante.
Logo, todos os corpos caem com aceleração constante.
REQUISITOS DE VALIDADE DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE:
Para o argumento de autoridade ser válido deve cumprir os seguintes requisitos:
– deve referir-se o nome da autoridade e a fonte em que ela exprimiu essa ideia,
ou seja, a autoridade não deve ser anónima;
– a autoridade invocada deve ser um efetivo especialista ou perito na área em
questão, ou seja, uma autoridade reconhecida;
– não pode existir controvérsia entre os especialistas da área em questão, ou seja,
aquilo que é afirmado deve ser amplamente consensual entre as autoridades
dessa área;
– o especialista invocado não pode ter interesses pessoais ou de classe no âmbito
do assunto em causa, ou seja, deve haver imparcialidade;
– o argumento não pode ser mais fraco do que outro argumento contrário.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE VÁLIDO

Newton afirmou, em Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, que todo o corpo


permanece parado ou em movimento retilíneo uniforme, a menos que uma força
seja aplicada nele.
Logo, todo o corpo permanece parado ou em movimento retilíneo uniforme, a
menos que uma força seja aplicada nele.
EXEMPLOS DE ARGUMENTOS DE AUTORIDADE INVÁLIDOS

Exemplo 1:
Estudos indicam que comer um ovo por dia prejudica a saúde.
Logo, comer um ovo por dia prejudica a saúde.
Falácia do apelo ilegítimo à autoridade (Será necessário referir quem foram os autores do estudo; existe
controvérsia entre os especialistas relativamente a este assunto; além disso, o argumento talvez seja
mais fraco do que o argumento contrário.)

Exemplo 2:
Um membro do governo afirmou que, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos
cidadãos aumentou bastante.
Logo, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos cidadãos aumentou bastante.

Falácia do apelo ilegítimo à autoridade (Além de não ser referido o nome da pessoa invocada, talvez
também não se trate de uma autoridade efetiva na área em questão, sendo inclusive alguém com
interesses pessoais no âmbito do assunto em causa; além disso, existe certamente controvérsia entre os
especialistas relativamente a este assunto.)
FALÁCIAS INFORMAIS
As falácias informais são argumentos inválidos, aparentemente
válidos, e cuja invalidade não resulta de uma deficiência formal,
antes decorre do conteúdo do argumento, da sua matéria, da
linguagem natural comum usada nesses argumentos.

Uma vez que este tipo de falácias não depende da forma lógica do
argumento, pode haver argumentos com a mesma forma que sejam
fortes ou fracos, bons ou maus, válidos ou inválidos.

Algumas falácias informais foram já referidas – as da generalização


precipitada, da amostra não representativa, da previsão inadequada,
da falsa analogia e do apelo ilegítimo à autoridade. Mas há outras
que são bastante comuns.
FALÁCIAS INFORMAIS
Falácia da falsa relação causal (post
Falácia da generalização precipitada hoc, ergo propter hoc)

Falácia da amostra não representativa Falácia ad hominem

Falácia da previsão inadequada Falácia ad populum

Falácia da falsa analogia Falácia do apelo à ignorância

Falácia do espantalho ou do boneco de


Falácia do apelo ilegítimo à autoridade
palha
Falácia da derrapagem, “bola de neve”
Falácia da petição de princípio
ou “declive escorregadio”

Falácia do falso dilema


Falácia da petição de princípio

Falácia que consiste em assumir como verdadeiro aquilo que se pretende provar.

A conclusão é usada, de forma implícita, como premissa, encontrando-se muitas vezes


disfarçada com palavras de significação idêntica à das da conclusão.

Argumento circular ou falácia da circularidade.

EXEMPLOS:

Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à


saúde.

O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência.


Falácia do falso dilema

Consiste em reduzir as opções possíveis a apenas duas, ignorando- Forma lógica:


se as restantes alternativas, e em extrair uma conclusão a partir
dessa disjunção falsa. Ou P ou Q.
Não P.
“Falso dilema” é sinónimo de “falsa dicotomia”. Logo Q.

Exemplo de uma disjunção falsa:


Ou votas no partido x ou será a desgraça do país.
(Outros partidos são ignorados.)

EXEMPLO DE UMA FALÁCIA DO FALSO DILEMA:


Ou votas no partido x ou será a desgraça do país!
Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.

(Embora seja válido em termos dedutivos, este argumento exprime a falácia do falso
dilema.)
Falácia da falsa relação causal
(Post hoc, ergo propter hoc)

A expressão “post hoc, ergo propter hoc” significa “depois disto, logo
por causa disto”. Esta falácia comete-se sempre que se toma como
causa de algo aquilo que é apenas um antecedente ou uma qualquer
circunstância acidental. Trata-se, por isso, de concluir que há uma
relação de causa e efeito entre dois acontecimentos que se verificam
em simultâneo ou em que um se verifica após o outro.

EXEMPLOS:
Sempre que eu entro com o pé direito no campo, a minha equipa ganha
o jogo.
Logo, a causa das nossas vitórias é o facto de eu entrar com o pé direito
no campo.

Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa.


Logo, a chuva é a causa das negativas dos meus testes.
Falácia ad hominem

É o tipo de argumento dirigido contra o homem. É a falácia Forma lógica:


que se comete quando, em vez de se atacar ou refutar a tese
de alguém, se ataca a pessoa que a defende. A pessoa A
afirmou P.
Mas a pessoa A
não é credível.
Os ataques pessoais poderão centrar-se, por exemplo, na
Logo, P é falso.
classe social, no partido político ou na religião da pessoa em
causa. Muitas vezes, o objetivo destes argumentos consiste
em desviar as atenções daquilo que está em causa.

EXEMPLOS:

A tua tese de que tudo é composto de átomos está errada, porque cheiras mal da boca
sempre que a proferes.

Sartre estava errado a respeito do ser humano, porque não ia regularmente à missa.
Falácia ad populum
Forma lógica:

É a falácia que se comete quando se apela à opinião da A maioria das


maioria para fazer valer a verdade de uma conclusão. pessoas diz que P.
Logo, P.

EXEMPLOS:

A maioria das pessoas considera que a leitura é uma perda de tempo. Logo a leitura é uma
perda de tempo.

A maioria dos contribuintes considera legítimo fugir ao fisco.


Logo, é legítimo fugir ao fisco.
Falácia do apelo à ignorância Forma lógica:

Não se sabe que P.


Logo, é falso que P.
Comete-se esta falácia sempre que uma proposição
é tida como verdadeira só porque não se provou a Ou
sua falsidade ou como falsa só porque não se
provou que é verdadeira. Não se sabe que é
falso que P.
Logo, é verdadeiro
que P.

EXEMPLOS:

Não se sabe se os fantasmas existem. Logo, é falso que existam fantasmas.

Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém provou que eles
existem.

A alma é imortal. Isto porque ninguém provou que a alma morre com o corpo.
Falácia do espantalho ou do boneco de palha
É a falácia cometida sempre que alguém, em vez de refutar o verdadeiro argumento do
seu opositor/interlocutor, ataca ou refuta uma versão simplificada, mais fraca e deturpada
desse argumento, a fim de ser mais fácil de rebater a tese oposta.

Trata-se de distorcer as ideias do interlocutor para que elas pareçam falsas.

EXEMPLO:
António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de industrialização
os tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis.
Manuel refuta António dizendo: “António quer que apenas comamos alface!”.

[Em momento algum António defende que não devemos comer todo e qualquer tipo de
carne, sugerindo que sejamos vegetarianos (“comer alface”), mas apenas aquele tipo de
carne sujeito às condições descritas. O argumento é assim deturpado e simplificado.]
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

É a falácia cometida sempre que alguém, para refutar uma tese Forma lógica:
ou para defender a sua, apresenta, pelo menos, uma premissa
falsa ou duvidosa e uma série de consequências Se P, então Q.
progressivamente inaceitáveis. Se Q, então R.
Se R, então S.
Logo, se P, então S.

A partir da primeira premissa, outras vão surgindo, até se mostrar que


um determinado resultado indesejável inevitavelmente se seguirá.

EXEMPLO

Se jogares a dinheiro, vais viciar-te no jogo. Se te viciares no jogo,


perderás tudo o que tens. Se perderes tudo o que tens, terás de
mendigar. Se tiveres de mendigar, ninguém te dará nada. Se
ninguém te der nada, morrerás à fome. Logo, se jogares a dinheiro,
morrerás à fome.
.

Você também pode gostar