Você está na página 1de 126

ABORDAGEM INTRODUTÓRIA À

FILOSOFIA E AO FILOSOFAR

Elaborado de acordo com as


Aprendizagens Essenciais
I. O que é a filosofia
Origem da filosofia

A filosofia ocidental nasceu na Grécia, em Mileto, colónia grega da Ásia


Menor, por volta dos inícios do século VI a. C.

Os primeiros filósofos são também os primeiros cientistas.

De acordo com a sua origem etimológica, filosofia significa amor à sabedoria


(philos – “amor”, “amizade” – e sophia – “sabedoria”).

Terá sido Pitágoras (séc. VI a. C.) a usar o termo pela primeira vez,
chamando-se a si mesmo filósofo.
Características da filosofia

A filosofia nasce da relação que temos com o mundo e com os outros e


desenvolve-se a partir da problematização e do questionamento das crenças
que formamos sobre os mesmos.

A atitude filosófica caracteriza-se pelo reconhecimento do erro e da dúvida


quando lidamos com ideias que julgávamos seguras e garantidas.

Este amor pelo saber é suscitado pelo espanto, pela dúvida, pela consciência
da fragilidade e do sofrimento ou pela vontade de estabelecer uma
comunicação autêntica com os outros.
Os filósofos refletem criticamente e desenvolvem respostas para os
problemas que colocam. Tais problemas são problemas que dizem respeito a
todos os seres humanos

Exemplos: «De onde vimos?», «Quem somos?», «Para onde vamos?»,


«Como devemos agir?», «O que é o conhecimento?», «O que é o bem?»

Filosofia

Espontânea Sistemática

Traduz-se num pensamento rigoroso


traduz um pensamento comum, que
em termos conceptuais, apresentado
não exige um conhecimento da
sob a forma de argumentação crítica,
história da filosofia nem evidencia
subjacente à qual se encontram
grande complexidade conceptual e
certos conhecimentos da tradição
argumentativa.
filosófica.
Especificidade da filosofia

A filosofia distingue-se de outras disciplinas pelo objeto, pelo método e pelas


teorias que constrói.

Objeto Método Teorias/teses

A filosofia procura A filosofia baseia-se no


responder a problemas exercício reflexivo e Os filósofos
fundamentais, em crítico, na investigação, apresentam teorias ou
domínios distintos – os análise e problematização teses, que são as
valores, a mente, a dos conceitos e na respostas dadas aos
linguagem, a existência, argumentação racional. A problemas filosóficos a
a arte, a religião, a filosofia não é uma partir do método
ciência, etc. –, e cujas disciplina empírica, mas referido.
eventuais respostas se conceptual e a priori.
encontram na raiz da
compreensão da O objeto de estudo da filosofia corresponde assim ao
natureza humana e da real como um todo. Ela procura, portanto, uma
realidade em geral. compreensão do real na sua totalidade.
II. As questões da filosofia
Características dos problemas da filosofia

A filosofia é um saber que resulta do estudo reflexivo de


problemas gerais e fundamentais.

Esses problemas traduzem-se em questões que


apresentam algumas características específicas.

• são relativas às nossas crenças fundamentais;


• geram a controvérsia e a discussão de ideias;
• levam a um avanço na compreensão e aprofundamento do tema;
• dizem respeito e interessam, em princípio, a toda a Humanidade;
• não são resolvidas experimentalmente.
Questões não filosóficas e questões filosóficas

Questões filosóficas e respetivas


Questões não filosóficas
disciplinas filosóficas
– Como devemos agir?
– Como se faz uma sopa?
– Como podemos distinguir uma ação
– Quais são os Dez Mandamentos?
moralmente correta de uma
– Quais são os direitos presentes na
moralmente incorreta?
Constituição da República Portuguesa?
– Em que consistem os direitos e os
deveres?
Ética

– Como se chama o Presidente da


– Quem deve governar?
República?
– Devemos obedecer ao Estado?
– Qual o regime político predominante
– O que é uma sociedade justa?
na Europa?
– Como deve a riqueza ser distribuída?
– Qual o salário médio dos portugueses?
Filosofia social e
política
– Quais as práticas principais do islão?
– Será que Deus existe?
– Quando surgiu o cristianismo?
– A existência do mal é compatível com
– Quais os principais deuses do
a existência de Deus?
hinduísmo?
Filosofia da religião

– Como garantir a validade dos


– Quando começa o curso de Lógica? argumentos não dedutivos?
– Quem foi o filósofo que escreveu mais – O que faz com que um argumento
livros sobre Lógica? dedutivo válido seja válido?

Lógica
– O que é o belo?
– Onde posso comprar objetos para
– O que é uma obra de arte?
embelezar a minha casa?
– Qual é o título do último quadro
pintado por Picasso? Estética e filosofia
da arte
– Quais as disciplinas do curso de – O que é o conhecimento?
História? – Qual é o fundamento do
– Com que idade a criança aprende conhecimento?
melhor a aritmética? Filosofia do
conhecimento
– Quanto tempo demoras a chegar a
casa? – Qual é a origem de tudo o que existe?
– Quantos metros quadrados tem esta – O que é a realidade?
loja? – O que é o tempo?
– Que fatores conduziram à extinção dos – O que é o espaço? Metafísica
dinossauros?
Não há fronteiras estanques entre os diversos problemas filosóficos.

Estes encontram-se inter-relacionados, devendo ser abordados de forma


integradora, pois dizem sempre respeito ao ser humano.

A filosofia influencia inevitavelmente a nossa vida. Por isso, ela apresenta


um valor inquestionável pelas vantagens que proporciona:

• amplia a nossa compreensão do mundo;


• expande os nossos horizontes intelectuais;
• promove o pensamento crítico e autónomo;
• promove o desenvolvimento de competências gerais: análise de
conceitos, definições, argumentos e problemas; capacidade de
comunicação oral e escrita; construção e defesa de ideias.
III. Racionalidade
argumentativa da Filosofia e a
dimensão discursiva do
trabalho filosófico
3.1. Tese, argumento, validade,
verdade e solidez
Teses, teorias e argumentos

Para responder aos problemas que colocam,


os filósofos apresentam teses ou teorias.

Uma tese corresponde a uma ideia que se quer afirmar a propósito de um


dado problema.

No âmbito da filosofia, uma tese constitui uma resposta a um problema em


aberto, estando por conseguinte sujeita à discussão.

Para defender uma ideia, ou tese, é necessário construir bons argumentos.

Para assegurar a qualidade e o rigor dos argumentos que apoiam as suas


teses e teorias, os filósofos recorrem à lógica.
LÓGICA

Disciplina filosófica que estuda a distinção entre argumentos corretos (ou válidos) e
incorretos (ou inválidos), mediante a identificação das condições necessárias à operação
que conduz da verdade de certas crenças à verdade de outras.

Estudo das leis, princípios e regras a que devem obedecer o


pensamento e o discurso para serem válidos.

Lógica formal Lógica informal

Analisa
Analisa a validade
fundamentalmente
formal dos
a validade dos
argumentos
argumentos não
dedutivos.
dedutivos.
ARGUMENTO

Conjunto de proposições
devidamente articuladas

Conclusão
Premissa(s)
(tese)

A(s) premissa(s) procura(m) defender,


sustentar ou justificar a conclusão.
Exemplo
Premissa Os alunos da turma 10A são estudantes de Filosofia.
ANTECEDENTE
Premissa Pedro e Miguel são alunos da turma 10A.
CONSEQUENTE Conclusão Logo, Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia.

Indicador de Nexo lógico


conclusão

Um argumento tem subjacente uma inferência ou raciocínio, uma operação


mental através da qual chegamos a uma conclusão partindo de determinadas
razões e efetuando a transição lógica entre proposições.
Não se enquadram na categoria de “argumentos” aqueles que são
meros conjuntos de proposições sem qualquer conexão lógica entre si.

Exemplos
Os rapazes são giros.
As cerejas fazem bem à saúde.
Logo, as férias devem continuar.

Todos os deuses são imortais.


Alguns carros funcionam a gasolina.
Logo, as palavras são indispensáveis.
Quando, num argumento, a transição lógica falha, algo está errado.

Exemplo
Os alunos da turma 10A são estudantes de Filosofia.
Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia.
Logo, Pedro e Miguel são alunos da turma 10A.

Neste exemplo, compreendemos facilmente que o facto de Pedro e Miguel


serem estudantes de Filosofia não implica que façam parte da turma 10A. Neste
sentido, estaremos a cometer um erro de raciocínio, tornando o argumento
inválido e, portanto, nada convincente.
No nosso discurso quotidiano, formulamos constantemente argumentos.
Usamos expressões que indicam a presença de premissas e de conclusões.

Alguns indicadores de premissa Alguns indicadores de conclusão


Porque… Logo…
Pois… Então…
Admitindo que… Por conseguinte…
Pressupondo que… Portanto…
Considerando que… Por isso…
Partindo do princípio de que… Consequentemente…
Sabendo que… Segue-se que…
Dado que… Infere-se que…
Uma vez que… Conclui-se que…
Devido a… É por essa razão que…
Como… Daí que…
Ora… Assim…
Em virtude de… Isso prova que…
Indicadores de premissa e de conclusão – exemplos

Uma vez que é uma atividade física, o Proposição 1 – O desporto é atividade física.
desporto é saudável. Como se sabe, a Proposição 2 – O desporto é saudável.
atividade física é saudável. Proposição 3 – A atividade física é saudável.

Indicadores de premissa Toda a atividade física é saudável.


Todo o desporto é atividade física.
Logo, todo o desporto é saudável.

Indicador de conclusão
O Universo não é infinito. Com efeito, se Proposição 1 – O Universo não é infinito.
o Universo fosse infinito, a força da Proposição 2 – Se o Universo fosse infinito, a
gravidade não existiria. Ora, a força da força da gravidade não existiria.
gravidade existe. Proposição 3 – A força da gravidade existe.

Se o Universo fosse infinito, a força da gravidade


Indicadores de premissa não existiria.
A força da gravidade existe.
Logo, o Universo não é infinito.

Indicador de conclusão
O ENTIMEMA

Os adolescentes são capazes de se A premissa «Todos os que são capazes de se


espantar perante o mundo. espantar perante o mundo são criativos»
Logo, os adolescentes são criativos. encontra-se implícita, tendo sido suprimida.

ENTIMEMA
Indicador de conclusão

Argumento em que uma ou mais


proposições são omitidas,
encontrando-se subentendida(s) –
pode inclusive omitir-se a conclusão.
É nas frases que usamos no nosso discurso que encontramos
expressas as proposições que compõem os argumentos.

PROPOSIÇÕES FRASES

Nem todas as frases expressam proposições.

Só as frases declarativas.

Afirmam, negam, atribuem, declaram ou


constatam alguma coisa.

O seu conteúdo pode ser considerado verdadeiro ou falso.


EXEMPLOS DE FRASES QUE NÃO EXPRESSAM PROPOSIÇÕES

EXEMPLOS TIPO DE FRASE


Saia da minha frente! Frase imperativa.
Que belo jardim você tem! Frase exclamativa.
Quem sou eu? Frase interrogativa.
Farei o que me mandas fazer. Frase que traduz uma promessa.
Ajuda-me a transportar estes sacos. Frase que expressa um pedido.
PROPOSIÇÃO

Pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso,


expresso por uma frase declarativa.

A mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases declarativas:


“Camões é o autor de Os Lusíadas.”
=
“O autor de Os Lusíadas é Camões.”

Frases ambíguas podem exprimir (pelo menos para quem as interpreta) mais
do que uma proposição:
“Joana encontrou Carlos com o seu irmão” pode exprimir a ideia de que “Joana encontrou o seu irmão com
Carlos” ou que “Joana encontrou Carlos com o irmão dele”.
PROPOSIÇÕES Relacionam termos, de modo
(categóricas) implícito ou explícito.

É geralmente entendido como a


TERMO
expressão verbal do conceito.
CONCEITO Elemento básico do pensamento.

Representação intelectual de
JUÍZO determinada realidade.

O conteúdo dessa representação


pode dizer respeito a uma classe de
Operação mental que objetos ou a uma realidade singular.
permite estabelecer uma (No entanto, há autores que defendem que só as
relação entre conceitos e noções ou ideias gerais é que podem ser
que está subjacente à consideradas conceitos.)
formação de proposições.

O mesmo conceito pode ser expresso por termos diferentes sob o ponto de vista
linguístico (“domicílio” e “residência”) e o mesmo vocábulo pode exprimir
diferentes conceitos (“nota”, enquanto “apontamento”, e “nota” enquanto
”classificação”), sendo que neste caso estamos perante termos distintos de um
ponto de vista lógico. Um termo pode ser constituído por mais do que uma
palavra, exprimindo um único conceito: por exemplo, “livros de arquitetura”.
PROPOSIÇÕES

VERDADE FALSIDADE

Aplicam-se à matéria ou conteúdo das proposições. Se


estiverem de acordo com a realidade, as proposições são
verdadeiras; se não estiverem, são falsas.
ARGUMENTOS

VALIDADE INVALIDADE

São qualidades próprias dos


argumentos, resultantes do facto de
as premissas apoiarem/garantirem ou
não a conclusão.

A validade traduz uma certa relação entre os valores de


verdade das premissas e da conclusão.
VALIDADE VALIDADE
DEDUTIVA NÃO DEDUTIVA
ARGUMENTOS
DEDUTIVOS

A sua validade depende essencialmente da forma lógica do


argumento.

Se as premissas
forem verdadeiras e
Num argumento dedutivo válido é logicamente impossível que as
a conclusão falsa,
premissas sejam verdadeiras e, simultaneamente, a conclusão falsa. então o argumento
é inválido.

Os argumentos dedutivos válidos são especialmente


apreciados pelos filósofos.

Estes argumentos preservam


a verdade.
Exemplo Exemplo

Todos os alunos são sensatos. Todos os alunos são sensatos.


Todos os jovens de dezasseis anos são alunos. Todos os jovens de dezasseis anos são sensatos.
Logo, todos os jovens de dezasseis anos são sensatos. Logo, todos os jovens de dezasseis anos são alunos.

Argumento dedutivo válido Argumento dedutivo inválido

É logicamente impossível as duas premissas A verdade da conclusão não é garantida pela


serem verdadeiras e a conclusão falsa. verdade das premissas.

Todos os A são B. Todos os A são B.


Todos os C são A. Todos os C são B.
Logo, todos os C são B. Logo, todos os C são A.

Forma válida Forma inválida


Pode haver argumentos dedutivos válidos com premissas e conclusão falsas.

Todos os portugueses são pintores.


Bertrand Russell é português.
Logo, Bertrand Russell é pintor.

Pode haver argumentos dedutivos inválidos com premissas e conclusão verdadeiras.

Todos os naturais de Lisboa são portugueses.


Fernando Pessoa é português.
Logo, Fernando Pessoa é natural de Lisboa.
Argumento dedutivo formalmente
válido

Argumento que tem uma forma lógica tal


que a verdade das premissas garante
sempre a verdade da conclusão, sendo
Argumentos
impossível que as premissas sejam
dedutivos verdadeiras e a conclusão falsa.

Argumento dedutivo formalmente


inválido

Argumento que tem uma forma lógica tal


que a verdade das premissas não garante a
verdade da conclusão.
Argumentos sólidos

Argumentos válidos constituídos por


premissas verdadeiras.

A solidez já pressupõe a validade.

Exemplos
Todos os portugueses são europeus.
João Sousa é português.
Logo, João Sousa é europeu.

João Sousa é vimaranense e é português.


Logo, é português.
ARGUMENTOS NÃO
DEDUTIVOS

A sua validade depende de aspetos que vão para lá da


forma lógica do argumento.
Falácia

Argumento incorreto ou inválido,


embora aparente ser válido.

Falácias formais Falácias informais

Decorrem da forma Resultam de aspetos


lógica do argumento. São que vão para lá da
cometidas ao nível dos forma lógica do
argumentos dedutivos. argumento. São
Um argumento dedutivo formalmente cometidas ao nível dos
inválido é um argumento que tem uma argumentos não
forma lógica tal que a verdade das premissas dedutivos.
não garante a verdade da conclusão.
3.2. O Quadrado da Oposição
Alguns tipos de proposições

Exemplos

Afirmam ou negam sem


Todos os rios correm.
Categóricas restrições, alternativas ou Os poetas não são arquitetos.
condições.

Afirmam ou negam sob Se viajo, então aprendo.


Condicionais determinadas condições. Se não fores, então eu não vou.

Disjunção exclusiva:
Ou és sábio ou não és prudente.
Afirmam ou negam em forma de
alternativas que se excluem
Disjuntivas (disjunção exclusiva) ou não Disjunção inclusiva:
(disjunção inclusiva). És inteligente ou boa pessoa.

Seguidamente, iremos ter em consideração as proposições categóricas.


Estrutura das proposições categóricas

Numa proposição categórica, afirmamos ou negamos alguma coisa – o


termo predicado – de uma outra coisa – o termo sujeito.

Todos os artistas são sábios.

SUJEITO CÓPULA PREDICADO

Ser, ou conjunto de
Característica ou
seres, Elemento que faz a
qualidade que se
relativamente ao ligação do sujeito
afirma ou nega do
qual se afirma ou com o predicado.
sujeito.
nega o predicado.

SéP
Exemplos

VERDADEIRA Portugal é um país europeu.


Proposições afirmativas

FALSA O Sol é um planeta.

Picasso não é o autor de Guernica. FALSA

Proposições negativas

Nenhum cão é animal aquático. VERDADEIRA

A proposição categórica é o enunciado que estabelece uma relação de afirmação ou de


negação entre termos, podendo tal relação ser considerada verdadeira ou falsa.
QUANTIFICADORES

Nota:
UNIVERSAIS EXISTENCIAL há outros
quantificadores
com idêntico
significado –
“TODOS” “NENHUM” “ALGUM” por exemplo,
“Qualquer”
equivale a
“Todos”.

Permitem-nos saber se o sujeito é tomado na sua totalidade ou somente em parte.

Exemplos:
1. Todos os seres humanos são bípedes.
2. Alguns seres humanos não são altos.

Nas proposições categóricas há uma relação de inclusão ou de não inclusão, na


classe relativa ao predicado, de todos ou de apenas alguns dos elementos que
fazem parte da classe do sujeito.
PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

Forma-padrão ou
forma canónica

Exemplos: Exemplos:
Os gatos vivem. Todos os gatos são viventes.
Os americanos sonham. Todos os americanos são sonhadores.

Na linguagem corrente, as frases que expressam proposições categóricas nem sempre


se apresentam com a estrutura indicada. Mas tais frases podem ser transformadas de
modo a exprimirem proposições na forma-padrão ou forma canónica.
PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

QUALIDADE QUANTIDADE

AFIRMATIVAS NEGATIVAS UNIVERSAIS PARTICULARES

Uma proposição é Uma proposição é Uma proposição é


Uma proposição é
negativa quando nos considerada universal considerada particular
afirmativa quando nos
indica que o predicado quando o sujeito é quando o sujeito é
indica que o predicado
não convém ao tomado em toda a sua tomado apenas numa
convém ao sujeito.
sujeito. extensão. parte da sua extensão.

Exemplo: Exemplo: Exemplo: Exemplo:


Qualquer deus é Há animais que não Todos os cães são Alguns insetos
imortal. são mortais. vertebrados. perturbam.
Tipos de proposições Forma lógica

Tipo A Universal afirmativa Todo o S é P.

Tipo E Universal negativa Nenhum S é P.

Tipo I Particular afirmativa Algum S é P.

Tipo O Particular negativa Algum S não é P.


Proposições categóricas na sua forma-padrão ou forma
canónica e outras expressões das mesmas

Tipo A Universais afirmativas

O predicado é afirmado de todos os elementos da classe que o sujeito representa.

Forma-padrão Outras expressões

Qualquer filósofo é crítico.


Ser filósofo é ser crítico.
Os filósofos são críticos.
Todo o S é P
O filósofo é crítico.
 
Quem é filósofo é crítico.
Todos os filósofos são críticos.
Não há filósofos que não sejam críticos.
Só há filósofos críticos.
Se um ser é filósofo, é crítico.
Tipo E Universais negativas

O predicado é negado de todos os elementos da classe que o sujeito representa.

Forma-padrão Outras expressões

Os animais não são perigosos.


O animal não é perigoso.
Ser perigoso não é uma característica dos
Nenhum S é P
animais.
 
Não há animal que seja perigoso.
Nenhum animal é perigoso.
Só existem animais não perigosos.
Todos os animais não são perigosos.
Se um ser é animal, não é perigoso.
Tipo I Particulares afirmativas
O predicado é afirmado apenas de uma parte dos elementos da classe que o sujeito
representa.
Forma-padrão Outras expressões

Certos dias são belos.


Algum S é P
Há dias belos.
 
Existem dias belos.
Alguns dias são belos.
Existe pelo menos um dia que é belo.
Tipo O Particulares negativas
O predicado é negado apenas de uma parte dos elementos da classe que o sujeito
representa.
Forma-padrão Outras expressões

Certos caminhos não são transitáveis.


Algum S não é P Há caminhos não transitáveis.
  Existem caminhos não transitáveis.
Alguns caminhos não são Existe pelo menos um caminho que não é
transitáveis. transitável.
Nem todos os caminhos são transitáveis.
QUADRADO DA OPOSIÇÃO

Exemplo: Todos os papéis Exemplo: Nenhum papel


são brancos. é branco.

A CONTRÁRIAS
E
SUBALTERNAS CONTRADITÓRIAS SUBALTERNAS

I SUBCONTRÁRIAS
O
Exemplo: Alguns papéis Exemplo: Alguns papéis
são brancos. não são brancos.
Notas:
As relações apresentadas designam-se por: contrariedade, contraditoriedade, subcontrariedade e
subalternação.
A relação de subalternação não constitui uma oposição lógica propriamente dita.
Às proposições universais também por vezes se chama “subalternantes”; às particulares, “subalternadas”.
Inferir por oposição consiste em tirar de uma proposição outras
Inferências
proposições, alterando a quantidade e/ou a qualidade, e em concluir
por
imediatamente, a partir da verdade ou falsidade da proposição
oposição
inicial, a verdade ou falsidade daquelas que se obtêm.

As teses filosóficas surgem, frequentemente, sob a forma de proposições universais.

Para negar uma proposição universal não é correto apresentar a sua contrária, pois se a
verdade de uma delas implica a falsidade da outra, da falsidade de uma não podemos
concluir a falsidade ou veracidade da outra.

Exemplos
A negação de “Nenhuma guerra é justa” não é “Todas as guerras são justas”, mas sim
“Algumas guerras são justas”.

A negação de “Algumas guerras não são justas” será “Todas as guerras são justas”.
Regras da oposição

Regra das Duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras e falsas ao mesmo tempo. A
contraditórias verdade de uma implica a falsidade da outra e vice-versa. São a negação uma da outra.

Duas proposições contrárias não podem ser ambas verdadeiras ao mesmo tempo, mas
Regra das
podem ser ambas falsas. Todavia, da falsidade de uma não se pode concluir a falsidade ou
contrárias veracidade da outra. Por isso, não são a negação uma da outra.

Regra das Duas proposições subcontrárias não podem ser ambas falsas ao mesmo tempo, mas podem
subcontrárias ser ambas verdadeiras. Não são a negação uma da outra.

Da verdade da universal infere-se a verdade da particular que lhe está subordinada; da


Regra das verdade da particular nada se pode concluir quanto à universal; da falsidade da universal
subalternas nada se pode concluir relativamente à verdade ou falsidade da particular; da falsidade da
particular infere-se a falsidade da universal. Não são a negação uma da outra.

A negação das proposições singulares, aquelas que se referem a um só


Nota indivíduo, elemento ou objeto – sejam elas afirmativas ou negativas – não
oferece dificuldade: a negação de “Picasso é inglês” será “Picasso não é
inglês”; a negação de “O corpo não é mortal” será “O corpo é mortal”.
3.3. Proposições condicionais e
bicondicionais
Proposições condicionais
As proposições condicionais são proposições compostas ou complexas,
visto que se dividem em duas partes, correspondentes a duas outras
proposições: o antecedente e o consequente.

Se tenho dinheiro, então sou feliz.

ANTECEDENTE CONSEQUENTE

Na condição de «eu ter dinheiro» (antecedente),


então «sou feliz» (consequente).

Nesta relação de implicação, é impossível que o antecedente seja


verdadeiro e o consequente falso (se é «verdade que tenho dinheiro»,
então «é impossível não ser feliz»).
As proposições condicionais estabelecem condições necessárias e
suficientes entre as proposições que as integram.

Se sou lisboeta, então sou português.

Ser lisboeta é uma condição suficiente para ser português e ser


português é uma condição necessária para ser lisboeta.
Nem sempre, todavia, as proposições condicionais se apresentam, na
linguagem corrente, segundo a forma-padrão, ou forma canónica,
equivalente ao esquema «Se P (antecedente), então Q (consequente)»

Se sou lisboeta, então sou português.

equivale a

Se sou lisboeta, sou português.


Caso seja lisboeta, sou português.
Sou português, se sou lisboeta.
Sempre que sou lisboeta, sou português.
Sou lisboeta apenas se for português.
Não sou lisboeta se não for português.
Para eu ser português, basta eu ser lisboeta
Ser lisboeta é uma condição suficiente para eu ser português.
Ser português é uma condição necessária para eu ser lisboeta.
Negação de proposições condicionais

Para negar proposições condicionais, ter-se-á de mostrar que o antecedente


não é uma condição suficiente para o consequente.

Exemplo

Se és empresário, então és rico.

Negação
És empresário, mas não és rico.
Sendo a condição suficiente indicada por “se” e a condição necessária por “só
se”, usa-se a expressão “se, e só se” (ou “se, e apenas se”, “se, e somente se”)
para indicar condições que sejam, em simultâneo, suficientes e necessárias.

Proposições com a forma “P se, e só se, Q” chamam-se bicondicionais, uma


vez que cada uma das proposições que aí estão presentes implica ou tem
como consequência a outra: “Se P, então Q” e “Se Q, então P".

Sou poeta se, e só se, escrevo poemas.

Isto significa que “Se sou poeta, então escrevo poemas” e “Se escrevo
poemas, então sou poeta”, ou seja, ser poeta é uma condição necessária e
suficiente para escrever poemas, e vice-versa.
Negação de proposições bicondicionais

Para negar uma proposição bicondicional, ter-se-á de mostrar que as duas


proposições em causa não constituem condições necessárias e suficientes
uma para a outra, podendo verificar-se o que é dito numa, sem que se
verifique o que é dito na outra.

Exemplo

Sou saudável se, e só se, faço exercício físico.

Negação
Sou saudável, mas não faço exercício físico.
Ou
Faço exercício físico, mas não sou saudável.
3.4. Formas de inferência válida – lógica
proposicional
PROPOSIÇÃO

Pensamento ou conteúdo, suscetível de ser considerado


verdadeiro ou falso, expresso por uma frase declarativa.

As proposições têm valor de verdade.

Simples Complexas

São proposições em que São proposições em que


não estão presentes está presente um operador
quaisquer operadores. ou mais do que um.

Exemplos Exemplos
As casas são brancas. As casas são belas. As casas são brancas ou as casas são belas.
Gertrudes é arquiteta. Paulo é engenheiro. Gertrudes é arquiteta e Paulo é engenheiro.
Deus existe. O mundo foi criado por Deus. Se Deus existe, então o mundo foi criado por Deus.
Eu sou jogador de futebol. Eu não sou jogador de futebol.
Proposições

Simples Complexas

O seu valor de verdade


O seu valor de verdade
depende do valor de
depende do facto de elas
verdade das proposições
estarem ou não de acordo
simples e dos operadores
com a realidade.
utilizados.

Gertrudes é arquiteta. Paulo é engenheiro. Gertrudes é arquiteta e Paulo é engenheiro.

verdadeira falsa falsa

Gertrudes é arquiteta ou Paulo é engenheiro.

verdadeira
Operadores proposicionais

Trata-se de palavras ou expressões que, sendo ligadas a determinada(s)


proposição(ões), permitem formar novas proposições.

“Penso que”,
“E”, “ou”, “se…,
“acredito que”, “é
então”, etc.
possível que”, etc.

Operadores
verofuncionais
(operadores lógicos
ou conetivas
Proposição complexa função de verdade proposicionais).

Operadores que nos permitem, uma vez conhecidos os valores de verdade das
proposições simples, determinar, apenas com base nessa informação, o valor de
verdade da proposição resultante.
Variáveis Letras P: Deus existe.
proposicionais proposicionais Q: A vida tem sentido.

Exemplo Forma lógica

Deus existe e a vida tem sentido. P e Q.


Logo, Deus existe. Logo, P.

Argumento dedutivamente válido.

É possível determinar, com base nos operadores


verofuncionais, a validade dos argumentos em que as
proposições se integram.
OPERADORES VEROFUNCIONAIS

Símbolo Leitura Formas proposicionais


 não Negação
 e Conjunção
Constantes  ou Disjunção inclusiva
lógicas .
 ou  ou… ou Disjunção exclusiva
→ se..., então Condicional
↔ se, e só se Bicondicional
Forma lógica Exemplos
P Não P. Deus não existe.
PQ P e Q. Deus existe e a vida tem sentido.
PQ P ou Q. Deus existe ou a vida tem sentido.
PQ Ou P ou Q. Ou Deus existe ou a vida tem sentido.
P→Q Se P, então Q. Se Deus existe, então a vida tem sentido.
P↔Q P se, e só se, Q. Deus existe se, e só se, a vida tiver sentido.

Operador singular,
Aplica-se apenas a uma proposição. “não”
unário ou monádico
“e”, “ou”, “ou… ou”,
Operador binário ou
Aplica-se a duas proposições. “se..., então”, “se, e só
diádico
se”
Negação Tabela de verdade ou matriz lógica

P: Portugal é um país asiático. Tabela que apresenta as diversas condições


de verdade de uma forma proposicional
específica, permitindo determinar de modo
 P (Não P)
mecânico a sua verdade ou falsidade.
Portugal não é um país asiático.
A tabela de verdade exibe os valores de
Expressões verdade possíveis da(s) proposição(ões) e os
alternativas valores de verdade resultantes das
operações efetuadas.
Não é verdade que Portugal é um país asiático.
É falso que Portugal seja um país asiático.
É errado afirmar que Portugal é um país asiático. Tabela de verdade da
negação

A negação é uma proposição com a


P P
forma “Não P”, representando-se por
“ P”. Se P é verdadeira,  P é falsa;
V F
Coluna de referência
se P é falsa,  P é verdadeira. F V
A negação de uma negação (ou dupla Primeira parte Segunda parte
negação) – que se representa por “  P” Sendo o operador da negação o único operador
– equivale a uma afirmação. unário, só haverá duas filas na tabela.
Tabela de verdade da conjunção
Conjunção
P Q PQ
P: A vida é enigmática.
Q: A morte é enigmática. V V V
V F F
P  Q (P e Q) F V F
A vida é enigmática e a morte é F F F
enigmática.
Sendo o operador da conjunção, à semelhança dos
que estudaremos a seguir, um operador binário,
Expressões haverá na tabela quatro condições de verdade.
alternativas
A vida é enigmática e a morte também o é. A conjunção é uma proposição com a
A vida e a morte são enigmáticas. forma “P e Q”, simbolizando-se por “P 
A vida é enigmática, mas a morte é-o igualmente. Q”, a qual é verdadeira se as proposições
Quer a vida quer a morte são enigmáticas.. conectadas forem ambas verdadeiras e é
falsa desde que pelo menos uma dessas
proposições seja falsa.
P: Descartes era racionalista. Tabela de verdade da
Disjunção
Q: Locke era empirista. disjunção inclusiva
inclusiva
P Q PQ
P  Q (P ou Q) V V V
Descartes era racionalista ou V F V
Locke era empirista. F V V
F F F
A disjunção inclusiva é uma proposição com a forma “P ou Q”, simbolizando-se por “P  Q”, a qual é
sempre verdadeira, exceto quando P e Q forem simultaneamente falsas.

Tabela de verdade da
Disjunção P: Vou ao cinema. disjunção exclusiva
exclusiva Q: Fico em casa. P Q PQ
V V F
P  Q (Ou P ou Q)
V F V
Ou vou ao cinema ou fico em F V V
casa. F F F
A disjunção exclusiva é uma proposição com a forma “Ou P ou Q”, simbolizando-se por “P  Q”, a qual é
verdadeira se P e Q possuem valores lógicos distintos e falsa se P e Q possuem o mesmo valor lógico.
Observação sobre
a disjunção
exclusiva

Pode suceder que o próprio contexto nos permita saber qual a disjunção que
está a ser usada. Por exemplo, a seguinte disjunção, aparentemente inclusiva,
na realidade é exclusiva:
 
António tem cinco anos ou António tem sete anos.
 
A impossibilidade de as duas proposições serem verdadeiras em simultâneo
justifica que estejamos perante um caso de disjunção exclusiva.
Tabela de verdade da
Condicional P: A alma é imortal. condicional
(implicação Q: Deus existe.
P Q P→Q
material)
P → Q (Se P, então Q) V V V
Se a alma é imortal, então Deus V F F
existe. F V V
F F V
Expressões
Antecedente É uma condição suficiente
alternativas
(P) para o consequente.
Deus existe, se a alma é imortal.
Deus existe, caso a alma seja imortal. Consequente É uma condição necessária
Existir Deus é condição necessária para a alma ser (Q) para o antecedente.
imortal.
A condicional é uma proposição com
A alma ser imortal é condição suficiente para Deus
a forma “Se P, então Q”,
existir.
simbolizando-se por “P → Q”, a qual
Se a alma é imortal, Deus existe.
só é falsa se P – o antecedente – é
A alma não é imortal se Deus não existir.
verdadeira e Q – o consequente – é
A alma é imortal somente se Deus existir.
falsa. Em todas as restantes
 
situações, a nova proposição é
verdadeira.
Tabela de verdade da
Bicondicional P: Sou escritor. bicondicional
(equivalência Q: Publico livros.
material) P Q P↔Q
P ↔ Q (Se, e só se) V V V
Sou escritor se, e só se, publico V F F
livros. F V F
F F V

Expressões
alternativas
Sou escritor se, e somente se, publico livros. A bicondicional é uma proposição
Sou escritor se, e apenas se, publico livros. com a forma “P se, e só se, Q”,
Publicar livros é condição necessária e suficiente simbolizando-se por “P ↔ Q” a qual
para eu ser escritor. é verdadeira se ambas as proposições
Se sou escritor, publico livros e vice-versa. tiverem o mesmo valor lógico e falsa
se as proposições tiverem valores
  lógicos distintos.
Formas proposicionais e operadores verofuncionais
Proposições
Disjunção
simples
Negação Conjunção Condicional Bicondicional
inclusiva exclusiva

P Q P Q PQ PQ PQ P→Q P↔Q


V V F F V V F V V
V F F V F V V F F
F V V F F V V V F
F F V V F F F V V
Âmbito dos operadores P: Eu sonho.
Q: Eu estudo.
Operador principal
(operador de maior âmbito): Eu sonho e não estudo. PQ

Uma conjunção e uma negação que afeta a proposição Q.

Operador principal
(operador de maior âmbito): É falso afirmar que eu sonho e não estudo.  (P   Q)

Uma negação que afeta a conjunção de P e de  Q.

Âmbito de um operador: refere-se à proposição (ou proposições)


que esse operador afeta. O operador principal (de maior âmbito) é
aquele que se aplica a toda a forma proposicional.
No segundo exemplo, o operador da negação (enquanto operador principal ou operador
com maior âmbito) apresenta um âmbito diferente do do outro operador da negação.
Formalizar proposições complexas

Isolar as proposições simples


que as constituem e atribuir
Colocar as proposições na variáveis proposicionais a
forma canónica, identificando cada uma. A isto se chama Simbolizar ou formalizar a
os operadores verofuncionais “construir o dicionário” proposição complexa.
envolvidos. dessas proposições ou
proceder à sua
“interpretação”.

Exemplo: Estudar lógica é condição suficiente para eu ser bom aluno a Filosofia.

Expressão canónica Dicionário Formalização

Se estudo lógica, então sou P: Estudo lógica.


P→Q
bom aluno a Filosofia. Q: Sou bom aluno a Filosofia.
Exemplo: Não sou rico se, e só se, não tenho dinheiro.

Expressão canónica Dicionário Formalização

Não sou rico se, e só se, não P: Sou rico.


P↔Q
tenho dinheiro. Q: Tenho dinheiro.

Exemplo: As normas morais têm sentido, caso o dizer-se que o mal não existe e o
bem é ilusório constitua uma falsidade.

Expressão canónica Dicionário Formalização

Se é falso afirmar que o mal P: O mal existe.


não existe e o bem é ilusório, Q: O bem é ilusório.
 ( P  Q) → R
então as normas morais têm R: As normas morais têm
sentido. sentido.
O método das tabelas de verdade

Expressão canónica Dicionário Formalização

Não é verdade que se está sol P: Está sol.


 (P → Q))
então está bom tempo. Q: Está bom tempo.

1. P Q  (P → Q) 2. P Q  (P → Q)
Desenhar a tabela, Colocar na tabela
colocando aí as os valores de V V
verdade das
letras
proposições
V F
proposicionais e a
proposição simples, esgotando F V
complexa. as possibilidades.
F F

3. P Q  (P → Q) 4. P Q  (P → Q)
Calcular os valores
de verdade das
V V V Calcular os valores
V V F V
proposições, V F F de verdade V F V F
excetuando os que relativos ao
são relativos ao F V V operador principal. F V F V
 
operador principal. F F V F F F V
P Q (P  Q) → ( P  Q) Determinamos primeiro os
valores de verdade de “ P”
V V V V F V V
(copiamos também, para
V F F V F F F facilitar, os valores de verdade de
F V F V V VV Q). De seguida, determinamos os
F F F V V V F valores da disjunção “ P  Q” e
da conjunção “P  Q”. Por fim,
determinamos os valores da
condicional (operador de maior
âmbito) a partir dos valores
obtidos para a conjunção e para
Devemos começar pelos operadores a disjunção.
de menor âmbito e ir avançando para
os de âmbito maior.
Para duas variáveis, são necessárias quatro filas; para
três, oito; para quatro, dezasseis, etc.

P Q R [R  (P  Q)] ↔ (R  Q)

Determinamos primeiro os valores


V V V V V V V
de verdade da conjunção “P  Q” e
V V F V V V V da disjunção “R  Q”. De seguida,
V F V V F V V determinamos os valores da
V F F F F V F disjunção “R  (P  Q)”. Por fim,
F V V V F V V determinamos os valores da
F V F F F F V bicondicional a partir dos valores
F F V V F V V obtidos para as duas disjunções.
F F F F F V F
Tautologias ou
verdades lógicas

Fórmulas proposicionais que são sempre verdadeiras, qualquer que seja o


valor de verdade das proposições simples que as constituem.

Exemplo Forma lógica

Se observo o céu e escuto o


(P  Q) → P
vento, então observo o céu.

P Q (P  Q) → P
V V V V
V F F V
F V F V
F F F V
Contradições ou
falsidades lógicas

Fórmulas proposicionais que são sempre falsas, independentemente do valor


de verdade das proposições simples que as compõem.

Exemplo Forma lógica

Não penso ou não sonho se, e


( P   Q) ↔ (P  Q)
só se, penso e sonho.

P Q ( P   Q) ↔ (P  Q)
V V F F F F V
V F F V V F F
F V V V F F F
F F V V V F F
Contingências ou proposições indeterminadas

Fórmulas proposicionais que tanto podem ser verdadeiras como falsas,


consoante os valores lógicos das proposições simples que as compõem.

Exemplo Forma lógica

Se passeio ou corro, então


(P  Q) → P
passeio.

P Q (P  Q) → P
V V V V
V F V V
F V V F
F F F V
Tautologias e formas de inferência válida

P Q [(P → Q)  P] → Q Este exemplo, que


V V V traduz o chamado
modus ponens,
V V
F F V constitui uma
V F tautologia.
F V
V F V
F F
V F V

Uma forma de inferência dedutiva é válida se, e somente se, a fórmula


proposicional (implicativa) que lhe corresponde for uma tautologia.
Inspetores de circunstâncias

Consistem numa sequência de tabelas


de verdade, que são feitas para as
premissas e para a conclusão.

Como num argumento dedutivo válido é impossível que as premissas


sejam verdadeiras e a conclusão falsa, num inspetor de circunstâncias
um argumento dedutivo válido será aquele no qual não existe nenhuma
linha que torne todas as premissas verdadeiras e a conclusão falsa.
Exemplo 1 Argumento Dicionário Formalização
O modus ponens, que
Se sou português,
vimos enquanto
então sou conhecedor
fórmula tautológica, P: Sou português. P→Q
de Camões.
aparece agora, Q: Sou conhecedor de P
Sou português.
enquanto forma de Camões. Q
Logo, sou conhecedor
inferência, com uma
de Camões.
apresentação diferente.
Nota: Em vez do símbolo , também poderemos usar o símbolo , que se designa por
“martelo semântico”. Ambos se leem “Logo”, um indicador de conclusão.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão

P Q P → Q, P Q A primeira linha exprime a única


circunstância em que ambas as
V V V V V premissas são verdadeiras. Ora,
dado que tal circunstância
V F F V F também torna a conclusão
F V V F V verdadeira, o argumento é
F F V F F considerado válido.
Exemplo 2 Argumento Dicionário Formalização

Se corro, então sinto-


P→Q
me bem. P: Corro.
Q
Sinto-me bem. Q: Sinto-me bem.
P
Logo, corro.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão


A primeira e a terceira linhas
P Q P → Q, Q P exprimem as únicas
circunstâncias em que ambas as
premissas são verdadeiras.
V V V V V Contudo, se na primeira linha a
V F F F V circunstância torna a conclusão
F V V V F verdadeira, já na terceira linha a
circunstância em causa torna a
F F V F F conclusão falsa. O argumento é,
por isso, inválido.
Exemplo 3 Argumento Dicionário Formalização

Se leio, aumento a minha inteligência. P: Leio.


Se aumento a minha inteligência, Q: Aumento a minha P→Q
aumento a minha autoestima. inteligência. Q→R
Logo, se leio, aumento R: Aumento a minha P→R
a minha autoestima. autoestima.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão

P Q R P → Q, Q → R  P → R

V V V V V V
Estamos perante um argumento
V V F V F F
válido, pois nas circunstâncias
V F V F V V em que ambas as premissas são
V F F F V F verdadeiras, a conclusão
F V V V V V também o é.
F V F V F V
F F V V V V
F F F V V V
Exemplo 4 Argumento Dicionário Formalização

Se Manuel barafusta e Pedro não


P: Manuel barafusta.
sorri, então o ambiente é pesado. (P   Q) → R
Q: Pedro sorri.
O ambiente é pesado. R
R: O ambiente é
Logo, Manuel barafusta e Pedro não PQ
pesado.
sorri.

Premissa 1 Premissa 2 Conclusão

P Q R (P   Q) → R, R  P   Q

V V V VF F V V V F F
Há três circunstâncias (1.ª, 5.ª
V V F VF F V F V F F e 7.ª) em que ambas as
V F V VV V V V V V V premissas são verdadeiras e a
V F F VV V F F V V V conclusão é falsa. Logo, o
F V V F F F V V F F F argumento é inválido.
F V F F F F V F F F F
F F V F F V V V F F V
F F F F F V V F F F V
Modus ponens: Exemplo Formalização
Algumas afirmação do
formas de antecedente na
segunda premissa Se está sol, então vou à praia. P→Q
inferência e do Está sol. P
válida consequente na Logo, vou à praia. Q
conclusão.

Modus tollens: Exemplo Formalização


negação do
consequente na Se está sol, então vou à praia. P→Q
segunda premissa Não vou à praia. Q
e do antecedente Logo, não está sol. P
na conclusão.

Exemplo Formalização

Se Deus existe, então o mundo é finito.


P→Q
Logo, se o mundo não é finito, então
Q→P
Deus não existe.
Contraposição
Exemplo Formalização
Se o mundo não é finito, então Deus não
existe. Q→P
Logo, se Deus existe, então o mundo é P→Q
finito.
Exemplo Formalização

Canto ou estou alegre. PQ


Silogismo
Não canto. P
disjuntivo
Logo, estou alegre. Q
(disjunção
inclusiva) ou Exemplo Formalização
modus tollendo
ponens Canto ou estou alegre. PQ
Não estou alegre. Q
Logo, canto. P

Exemplo Formalização
Se viajar, então aprendo novas coisas.
Silogismo Se aprendo novas coisas, então torno- P→Q
hipotético me melhor pessoa. Q→R
Logo, se viajar, então torno-me melhor P→R
pessoa.
Exemplo Formalização
Leis de De
Morgan:
indicam-nos Não é verdade que sou injusto e cruel.  (P  Q)
Logo, não sou injusto ou não sou cruel. PQ
que de uma Negação
conjunção da
conjunção Exemplo Formalização
negativa
podemos Não sou injusto ou não sou cruel.
inferir uma PQ
Logo, não é verdade que sou injusto e
  (P  Q)
disjunção cruel.
de
negações, e Exemplo Formalização
que de uma
disjunção Não é verdade que há sol ou chuva.  (P  Q)
negativa Logo, não há sol e não há chuva. PQ
Negação
podemos da
inferir uma disjunção Exemplo Formalização
conjunção
Não há sol e não há chuva.
de PQ
Logo, não é verdade que há sol ou
negações.   (P  Q)
chuva.
Exemplo Formalização

Não é verdade que eu não penso. P


Logo, eu penso.. P
Negação
dupla Exemplo Formalização

Eu penso. P
Logo, não é verdade que eu não penso. P
Variáveis de fórmula

Representam qualquer tipo de proposição (simples ou complexa). Usam-se as


letras iniciais do alfabeto: A, B, C, etc.
Exemplo Dicionário Formalização

Se tenho livros, então sou feliz e sábio. P: Tenho livros. P → (Q  R)


Não é verdade que sou feliz e sábio. Q: Sou feliz.  (Q  R)
Logo, não tenho livros. R: Sou sábio. P

Formalização

A→B
B
A
FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA

Modus ponens Modus tollens


A→B A→B
A B
B A
Silogismo disjuntivo Silogismo hipotético
AB AB A→B
A B B→C
B A A→C
Contraposição Leis de De Morgan

A→B B→A Nota: o  (A  B) AB


B→A A→B símbolo   AB   (A  B))
significa, no
presente
O
OU A→BB→A contexto, que  (A  B)   A   B
tanto se pode U
Negação dupla inferir
validamente  (A  B) AB
A A num como  AB   (A  B)
A A noutro
sentido. O
OU AA  (A  B)   A   B
U
3.5. Principais falácias formais (formas
de inferência inválida)
PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS (FORMAS DE INFERÊNCIA INVÁLIDA)

Exemplo Formalização

Falácia da
afirmação do Se és meu amigo, então dizes-me sempre a verdade. P→Q A→B
consequente Dizes-me sempre a verdade. Q B
Logo, és meu amigo. P A

Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se afirma o consequente na


segunda premissa, concluindo-se com a afirmação do antecedente.

Exemplo Formalização

Falácia da
negação do Se és meu amigo, então dizes-me sempre a verdade. P→Q A→B
antecedente Não és meu amigo. P A
Logo, não me dizes sempre a verdade. Q B

Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se nega o antecedente na


segunda premissa, concluindo-se com a negação do consequente.
3.6. O discurso argumentativo e
principais tipos de argumentos e
falácias informais
Em qualquer discurso argumentativo são vários os tipos de
argumentos que poderemos usar quando queremos convencer
alguém da razoabilidade de uma tese.

Para além dos dedutivos, podemos usar argumentos não dedutivos.

Tipos de argumentos

Argumentos não
Argumentos dedutivos
dedutivos

Argumentos indutivos Argumentos por Argumentos de


(induções) analogia autoridade

Generalização Previsão
ARGUMENTOS NÃO DEDUTIVOS

Num argumento não dedutivo, a verdade das premissas apenas


sugere, com maior ou menor grau de probabilidade, a
plausibilidade da conclusão.

Neste tipo de argumentos, quando válidos, as premissas apenas


dão um suporte parcial à conclusão, fornecendo razões a seu favor,
mas não a tornando necessariamente verdadeira.

A sua validade depende de aspetos que vão para lá da forma lógica


do argumento.

Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas


não propriamente impossível, ter premissas verdadeiras e
conclusão falsa.
EXEMPLO 1 Até hoje, todos os gatos nasceram mamíferos.
Logo, o próximo gato a nascer também nascerá mamífero.

Argumento não dedutivo válido Argumento forte

Argumento cuja(s) premissa(s) oferece(m) um apoio


forte à conclusão.

EXEMPLO 2 Alguns estudantes copiam nos testes.


Logo, todos os estudantes copiam nos testes.

Argumento não dedutivo inválido Argumento fraco

Argumento cuja(s) premissa(s) não oferece(m) um


apoio forte à conclusão, mas sim um apoio fraco.

A validade não dedutiva possui graus de força, entre o muito fraco e o muito forte.
Alguns autores chamam argumentos cogentes aos argumentos não
dedutivos fortes com premissas verdadeiras, reservando o termo sólido
apenas para os dedutivos.

Outros autores consideram que um argumento cogente é um argumento


válido e sólido que tem premissas mais plausíveis ou aceitáveis do que a
conclusão, aplicando-se aos dedutivos e aos não dedutivos. Aos
argumentos cogentes também se chama argumentos bons.

Argumento cogente Se o Sol brilha, então é dia.


O Sol brilha.
Logo, é dia.

Argumento não
Lisboa é a capital de Portugal.
cogente Logo, Lisboa é a capital de Portugal.
Argumentos indutivos: indução por generalização

Argumento cuja conclusão é mais geral do que a(s) premissa(s).

Exemplo:
Todos os peixes observados até agora respiram através da absorção
do oxigénio presente na água.
Logo, todos os peixes respiram através da absorção do oxigénio
presente na água.

REQUISITOS DE VALIDADE DAS GENERALIZAÇÕES:

Uma generalização é válida se cumprir os seguintes requisitos:


- se partir de um número relevante de casos observados;
- se não se tiverem encontrado, depois de procurados, quaisquer
contraexemplos;
- se os casos observados forem representativos do universo em
questão.

 
EXEMPLOS DE GENERALIZAÇÕES VÁLIDAS

Exemplo 1:
Todos os esquilos observados até hoje são mamíferos.
Logo, todos os esquilos são mamíferos.

Exemplo 2:
Com base em inquéritos realizados a duzentos indivíduos de cada uma das profissões
existentes na cidade X, constata-se que todos afirmaram estar satisfeitos com o respetivo
emprego.
Logo, todos os indivíduos da cidade X estão satisfeitos com o respetivo emprego.
EXEMPLOS DE GENERALIZAÇÕES INVÁLIDAS

Exemplo 1:
Fiz um teste de Filosofia e foi difícil.
Logo, todos os testes de Filosofia são difíceis.

Falácia da generalização precipitada: ocorre quando se conclui abusivamente o geral de apenas um ou poucos casos ou
quando não são tidos em conta contraexemplos conhecidos.
No exemplo, parte-se apenas de um caso e existem certamente contraexemplos que põem em causa a conclusão.

Exemplo 2:
Com base em inquéritos realizados ao conjunto dos estudantes portugueses do ensino superior,
constata-se que todos eles valorizam este tipo de ensino.
Logo, todos os portugueses valorizam o ensino superior.

Falácia da amostra não representativa: consiste em concluir de um segmento da população, ou de uma parte específica
de um universo, para toda a população ou para todo o universo em causa, apesar de a amostra poder incluir um número
significativo de casos. A amostra não é representativa da multiplicidade de características do universo em causa.
No exemplo, embora o número de casos seja significativo, os estudantes portugueses do ensino superior não
representam a população portuguesa. Também existirão contraexemplos que põem em causa a conclusão.
Argumentos indutivos: indução por previsão
Argumento que, baseando-se em casos passados, antevê casos não
observados, presentes ou futuros.

Exemplo:
Todos os cavalos observados até hoje nasceram quadrúpedes.
Logo, o próximo cavalo a nascer também nascerá quadrúpede.

REQUISITOS DE VALIDADE DAS PREVISÕES:

Uma indução por previsão é válida se cumprir os seguintes requisitos:


– se existir uma forte probabilidade de a conclusão corresponder à realidade;
– se não existir informação disponível contrária ao que se afirma no argumento.

 
 
EXEMPLOS DE PREVISÕES VÁLIDAS

Exemplo 1:
Todos os esquilos observados até hoje são mamíferos.
Logo, o próximo esquilo que observarmos também será mamífero.

Exemplo 2:
Até agora o planeta Terra girou sempre em redor do Sol.
Logo, durante o próximo ano, o planeta Terra também irá girar em redor do Sol.
EXEMPLOS DE PREVISÕES INVÁLIDAS

Exemplo 1:
O clube A venceu os sete jogos do campeonato disputados até agora.
Logo, o clube A irá vencer os próximos vinte e sete jogos do campeonato por disputar.

Falácia da previsão inadequada (Neste caso, não é forte a probabilidade de


a conclusão corresponder à realidade.)

Exemplo 2:
A temperatura na Terra nunca apresentou variações significativas no passado.
Logo, ela nunca apresentará variações significativas no futuro.

Falácia da previsão inadequada (Neste caso, a conclusão é ilegítima porque existe


informação disponível que dá conta do aquecimento global.)
Argumento por analogia
Argumento que consiste em partir de certas semelhanças ou
relações entre dois objetos ou duas realidades e em encontrar
novas semelhanças ou relações. Baseia-se, assim, na comparação
que se estabelece entre as realidades, supondo semelhanças novas
a partir das já conhecidas.

Forma lógica:

X tem a propriedade A.
Y é semelhante a X.
Logo, Y tem a propriedade A.

Exemplo:
O cantor X canta bastante bem.
O cantor Y tem um timbre e uma extensão vocal semelhantes aos do
cantor X.
Logo, o cantor Y também canta bastante bem.
REQUISITOS DE VALIDADE DO ARGUMENTO POR ANALOGIA:

Um argumento por analogia é válido se cumprir os seguintes requisitos:


– se as semelhanças entre as realidades forem relevantes no que diz
respeito à conclusão;
– se as semelhanças relevantes no que diz respeito à conclusão forem em
número suficiente;
– se não existirem diferenças relevantes no que diz respeito à conclusão.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA VÁLIDO

O aluno A consegue boas classificações.


O aluno B é tão aplicado, empenhado, metódico e inteligente como o
aluno A, tendo condições socioeconómicas semelhantes.
Logo, o aluno B também consegue boas classificações.
EXEMPLOS DE ARGUMENTOS POR ANALOGIA INVÁLIDOS

Exemplo 1:
O carro da marca X é bastante potente.
O carro da marca Y tem a mesma cor e o mesmo tamanho que o carro da marca X.
Logo o carro da marca Y também é bastante potente.
 Falácia da falsa analogia (Neste caso, as semelhanças não são relevantes no que diz
respeito à conclusão.)

Exemplo 2:
O médico A, que estudou numa Universidade de prestígio, é um profissional excelente.
O médico B estudou na mesma Universidade.
Logo, O médico B também é um profissional excelente.
 Falácia da falsa analogia (Neste caso, as semelhanças relevantes no que diz respeito à
conclusão não são em número suficiente.)

Exemplo 3:
As máquinas não são conscientes de si.
A mente humana é como uma máquina.
Logo, a mente humana não é consciente de si.
 Falácia da falsa analogia (Neste caso, existem diferenças relevantes entre a mente humana e as
máquinas, no que diz respeito àquilo que é afirmado na conclusão.)
Argumento de autoridade
É o argumento que se apoia na opinião de um especialista ou de
uma autoridade para fazer valer a sua conclusão.

Forma lógica:

Uma autoridade, especialista ou testemunha afirmou que P.


Logo, P.

Exemplo:
Galileu afirmou que todos os corpos caem com aceleração constante.
Logo, todos os corpos caem com aceleração constante.
REQUISITOS DE VALIDADE DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE:
Para o argumento de autoridade ser válido deve cumprir os seguintes requisitos:
– deve referir-se o nome da autoridade e a fonte em que ela exprimiu essa ideia,
ou seja, a autoridade não deve ser anónima;
– a autoridade invocada deve ser um efetivo especialista ou perito na área em
questão, ou seja, uma autoridade reconhecida;
– não pode existir controvérsia entre os especialistas da área em questão, ou seja,
aquilo que é afirmado deve ser amplamente consensual entre as autoridades
dessa área;
– o especialista invocado não pode ter interesses pessoais ou de classe no âmbito
do assunto em causa, ou seja, deve haver imparcialidade;
– o argumento não pode ser mais fraco do que outro argumento contrário.
 

  EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE VÁLIDO


 
Newton afirmou, em “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, que todo o
corpo permanece parado ou em movimento retilíneo uniforme, a menos que uma
força seja aplicada nele.
Logo, todo o corpo permanece parado ou em movimento retilíneo uniforme, a
menos que uma força seja aplicada nele.
EXEMPLOS DE ARGUMENTOS DE AUTORIDADE INVÁLIDOS

Exemplo 1:
Estudos indicam que comer um ovo por dia prejudica a saúde.
Logo, comer um ovo por dia prejudica a saúde.
 
Falácia do apelo ilegítimo à autoridade (Será necessário referir quem foram os autores do estudo; existe
controvérsia entre os especialistas relativamente a este assunto; além disso, o argumento talvez seja
mais fraco do que o argumento contrário.)

Exemplo 2:
Um membro do governo afirmou que, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos
cidadãos aumentou bastante.
Logo, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos cidadãos aumentou bastante.

Falácia
  do apelo ilegítimo à autoridade (Além de não ser referido o nome da pessoa invocada, talvez
também não se trate de uma autoridade efetiva na área em questão, sendo inclusive alguém com
interesses pessoais no âmbito do assunto em causa; além disso, existe certamente controvérsia entre os
especialistas relativamente a este assunto.)
FALÁCIAS INFORMAIS
As falácias informais são argumentos inválidos, aparentemente
válidos, e cuja invalidade não resulta de uma deficiência formal,
antes decorre do conteúdo do argumento, da sua matéria, da
linguagem natural comum usada nesses argumentos.

Uma vez que este tipo de falácias não depende da forma lógica do
argumento, pode haver argumentos com a mesma forma que sejam
fortes ou fracos, bons ou maus, válidos ou inválidos.

Algumas falácias informais foram já referidas – as da generalização


precipitada, da amostra não representativa, da previsão
inadequada, da falsa analogia e do apelo ilegítimo à autoridade.
Mas há outras que são bastante comuns.
FALÁCIAS INFORMAIS
Falácia da falsa relação causal (post
Falácia da generalização precipitada hoc, ergo propter hoc)

Falácia da amostra não representativa Falácia ad hominem

Falácia da previsão inadequada Falácia ad populum

Falácia da falsa analogia Falácia do apelo à ignorância

Falácia do espantalho ou do boneco de


Falácia do apelo ilegítimo à autoridade
palha
Falácia da derrapagem, “bola de neve”
Falácia da petição de princípio
ou “declive escorregadio”

Falácia do falso dilema


Falácia da petição de princípio

Falácia que consiste em assumir como verdadeiro aquilo que se pretende provar.

A conclusão é usada, de forma implícita, como premissa, encontrando-se muitas vezes


disfarçada com palavras de significação idêntica à das da conclusão.

Argumento circular ou falácia da circularidade.

EXEMPLOS:

Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à saúde.
 
O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência.
Falácia do falso dilema

É a falácia que ocorre quando, num argumento, se reduzem as opções Forma lógica:
possíveis a apenas duas, ignorando-se as restantes alternativas.
Ou P ou Q.
Não P.
“Falso dilema” é sinónimo de “falsa dicotomia”. Logo Q.

Exemplo de uma falsa dicotomia:


Ou votas no partido x ou será a desgraça do país.
(Outros partidos são ignorados.)

EXEMPLO DE UMA FALÁCIA DO FALSO DILEMA:


Ou votas no partido x ou será a desgraça do país.
Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.

(Embora seja válido em termos dedutivos, este argumento exprime a falácia do falso
dilema.)
Falácia da falsa relação causal
(Post hoc, ergo propter hoc)

A expressão “post hoc, ergo propter hoc” significa “depois disto, logo
por causa disto”. Esta falácia comete-se sempre que se toma como
causa de algo aquilo que é apenas um antecedente ou uma qualquer
circunstância acidental. Trata-se, por isso, de concluir que há uma
relação de causa e efeito entre dois acontecimentos que se verificam
em simultâneo ou em que um se verifica após o outro.

EXEMPLOS:
Sempre que eu entro com o pé direito no campo, a minha equipa ganha
o jogo.
Logo, a causa das nossas vitórias é o facto de eu entrar com o pé direito
no campo.

Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa.


Logo, a chuva é a causa das negativas dos meus testes.
Falácia ad hominem

É o tipo de argumento dirigido contra a pessoa. É a falácia Forma lógica:


que se comete quando, em vez de se atacar ou refutar a tese
de alguém, se ataca a pessoa que a defende. A pessoa A
afirmou P.
Mas a pessoa A
não é credível.
Os ataques pessoais poderão centrar-se, por exemplo, na
Logo, P é falso.
classe social, no partido político ou na religião da pessoa em
causa. Muitas vezes, o objetivo destes argumentos consiste
em desviar as atenções daquilo que está em causa.

EXEMPLOS:

Sartre afirmou que o ser humano está condenado a ser livre.


Mas Sartre não frequentava a igreja.
Logo, Sartre errou quando disse que o ser humano está condenado a ser livre.
Falácia ad populum
Forma lógica:

É a falácia que se comete quando se apela à opinião da A maioria das


maioria para fazer valer a verdade de uma conclusão. pessoas diz que P.
Logo, P.

EXEMPLOS:

A maioria das pessoas considera que a leitura é uma perda de tempo.


Logo a leitura é uma perda de tempo.
 
A maioria dos contribuintes considera legítimo fugir ao fisco.
Logo, é legítimo fugir ao fisco.
Falácia do apelo à ignorância Forma lógica:

Não se sabe que P.


Logo, é falso que P.
Comete-se esta falácia sempre que uma proposição
é tida como verdadeira só porque não se provou a Ou
sua falsidade ou como falsa só porque não se
provou que é verdadeira. Não se sabe que é
falso que P.
Logo, é verdadeiro
que P.

EXEMPLOS:

Não se sabe se os fantasmas existem. Logo, é falso que existam fantasmas.

Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém provou que eles
existem.

 Nunca ninguém provou ser falso que a alma é imortal. Logo, a alma é imortal.
Falácia do espantalho ou do boneco de palha
É a falácia cometida sempre que alguém, em vez de refutar o verdadeiro argumento do
seu opositor/interlocutor, ataca ou refuta uma versão simplificada, mais fraca e deturpada
desse argumento, a fim de ser mais fácil de rebater a tese oposta.

Trata-se de distorcer as ideias do interlocutor para que elas pareçam falsas.

EXEMPLO:
António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de industrialização
os tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis.
Manuel refuta António dizendo: “António quer que apenas comamos alface!”.

[Em momento algum António defende que não devemos comer todo e qualquer tipo de
carne, sugerindo que sejamos vegetarianos (“comer alface”), mas apenas aquele tipo de
carne sujeito às condições descritas. A tese e o argumento são, assim, deturpados e
simplificados.]
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

É a falácia cometida sempre que alguém, para refutar uma tese Forma lógica:
ou para defender a sua, apresenta, pelo menos, uma premissa
falsa ou duvidosa e uma série de consequências Se P, então Q.
progressivamente inaceitáveis. Se Q, então R.
Se R, então S.
Logo, se P, então S.

A partir da primeira premissa, outras vão surgindo, até se mostrar que


um determinado resultado indesejável inevitavelmente se seguirá.

As proposições condicionais
EXEMPLO utilizadas são ligeiramente
prováveis, mas também
Se tens pouco tempo para te divertires, ficas triste. ligeiramente improváveis.
Se ficas triste, ganhas uma depressão. Devido à acumulação desta
Se ganhas uma depressão, irás suicidar-te. improbabilidade, a última
Logo, se tens pouco tempo para te divertires, irás suicidar-te. condicional apresenta um
resultado inaceitável.

Você também pode gostar