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Falácias Informais

Todos os erros de argumentação que não


derivam da forma dos raciocínios mas antes da
matéria e do seu mau uso em contexto de
comunicação, e que surgem quando um orador
pretende persuadir um auditório por meio de
razões que são más razões, com a intenção de
manipular as pessoas. As falácias são
argumentos que parecem ser bons, em vários
contextos e para várias pessoas, sem que de
facto o sejam.
Falácias Informais
Também está em causa o apoio insuficiente ou
implausível das premissas em relação à
conclusão de um dado argumento: as
premissas podem ser falsas (erros de
conteúdo) ou facilmente retorquíveis
(contestadas e refutadas), as razões expostas
não são adequadas, nem
pertinentes/relevantes, há equívocos em
excesso ou a informação não é
transmitida/adaptada à especificidade do
auditório.
Falácias Informais
Uma falácia informal é um argumento que parece
ser válido e persuasivo sem o ser de facto.
É um argumento usado com intenção de sofisma
(de enganar ou iludir o auditório).
As falácias informais não são erros de forma mas
argumentos cujas razões não são plausíveis para
se aceitar a verdade das teses ou
crenças/opiniões, geram uma ilusão de verdade,
uma ilusão de persuasão. Uma falácia informal
surge de uma tentativa de manipulação, de
persuadir um auditório por razões que não são
boas razões.
São argumentos capciosos ou autênticos sofismas.
Falácias Informais
Argumento «ad hominem» circunstancial ou
«ataque pessoal ao caráter».

-É uma estratégia falaciosa quando ataca o


caráter de uma pessoa em vez de discutir as
suas ideias.
-É uma manobra retórica de diversão, uma
forma de fugir às questões em debate,
procurando denegrir um adversário e
questionar a sua competência ou seriedade.
Falácias Informais
Argumento «ad hominem» circunstancial
ou «ataque pessoal ao caráter».
Forma lógica geral:
X afirmou que p
X é de caráter duvidoso ou teve um
comportamento suspeito/inadequado em
alguma circunstância da sua vida. X não é
uma pessoa credível. Portanto, a afirmação
de p que X fez não é
verdadeira/plausível/credível.
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-É uma estratégia vil, de baixo nível e ofensiva, e pode


assumir várias formas: ataca diretamente o valor moral
da pessoa, ou aspetos da sua vida, ou ainda a
incoerência entre o que a pessoa afirma e o que faz na
prática.
-Só é aceite como legítimo quando existem provas ou
evidências irrefutáveis reconhecidas publicamente da
falta de credibilidade de uma pessoa. Neste caso, o
ataque pessoal visa retirar credibilidade ou
competência (autoridade) ao visado. Nem sempre é
inválido.
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«Quem é o ex-Primeiro Ministro José
Sócrates para fazer afirmações sobre a
situação económica do país e as políticas
do atual Governo? Afinal, não foi ele
quem conduziu o país à ruína? Não
acredites numa única palavra que sai
daqueles lábios!»
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«Quem é o ex-Primeiro Ministro José
Sócrates para fazer afirmações sobre a
confiança no mundo? Nem sequer se sabe se
foi ele que escreveu o livro. Estás a esquecer-
te que já foi preso e tem um processo em
tribunal por suspeita de alta corrupção! Tudo
o que esse indivíduo afirma não passa de
patranhas!»
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«Eu sou a favor do aborto – quem é você
para ter uma opinião acerca deste
assunto? Você é homem, não é para aqui
chamado – Você sabe lá o que é ter um
filho! Cale-se já! Você não passa de um
mero animal com pénis na cabeça!»
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«Não queria mais nada! Proibir-me
de sair à noite! Mas quem é o meu
pai para me impedir de sair à noite,
ele que é um verdadeiro vampiro da
noite e das discotecas! – Ele é o
Batman!»
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«O antigo Presidente da República Cavaco Silva devia
ter-se demitido imediatamente do seu cargo. Afinal de
contas ele é suspeito de ter feito dinheiro, ou ter
favorecido os seus familiares, de modo obscuro com as
ações do BPN e muitos dos políticos da sua confiança
são indivíduos suspeitos de alta corrupção. É o caso de
Oliveira e Costa, que está preso, e de Dias Loureiro, que
anda há muito desaparecido. E o «mata-velhas» do
Brasil, o Duarte Lima? O melhor que tinha a fazer era
demitir-se, se tivesse vergonha na cara». (Joe Berardo
dixit)
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«O senhor Carlos Cruz não tem
direito a nenhuma opinião neste país,
muito menos sobre as questões de
violência infantil – afinal de contas
não foi condenado à prisão por
crimes de pedofilia?»
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«O ex-presidente do Sporting só tem é
de estar calado sobre o clube e os
resultados da equipa de futebol. Não foi
esse indivíduo que ordenou o assalto à
academia de Alcochete? Não passa de
um criminoso.»
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«Você diz para eu deixar de
beber! Mas que grande exemplo o
seu: você não está sóbrio há mais
de um ano!»
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Argumento «ad hominem» ou «ataque pessoal».

-Exemplos.
-«O Zeca disse que o modus ponens é
sempre válido. Mas ele não pesca
nada de filosofia, cheira mal e tem
uns pés enormes. Ele sabe lá o que é
o modus ponens! Agora tem a mania
que sabe latim.»
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Argumento «ad verecundiam» ou «apelo à autoridade».
-O argumento é usado para invocar uma pessoa
reconhecida como competente numa determinada área
ou assunto, de modo que a sua opinião é tida como
influente, geradora de consensos e é
verosímil/verdadeira.
-É muito utilizado no campo científico e em discussões
de carácter técnico, mas é inútil na filosofia.
-Forma lógica geral: “X disse que p. X é uma pessoa
competente e reconhecida como influente pelos seus
pares; portanto, p é verdade.”
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Argumento «ad verecundiam» ou «apelo à autoridade».
-É legítimo desde que cumpra várias condições
cumulativamente:
-(a) o especialista é reconhecido pelos seus pares como uma
autoridade competente; a autoridade é credível pela
generalidade da opinião pública; (b) há uma ampla margem
de consenso sobre as opiniões proferidas; (c) as fontes da
opinião são fidedignas, citadas corretamente, e podem ser
publicamente escrutinadas, por exemplo, obras, estudos
científicos ou técnicos. A falta de uma destas condições torna
falacioso o apelo à autoridade especializada.
Falácias Informais
Exemplos de argumentos «ad verecundiam» ou «apelo à autoridade».

-«Segundo o ex-Presidente da República, a austeridade foi


necessária para fazer face à difícil situação em que o nosso país
se encontrava. Logo, a opinião de Cavaco Silva era verdadeira,
afinal ele sempre foi um economista excelente».
-«Cristiano Ronaldo afirmou que o banco XPTO é o melhor para
fazer depósitos, logo, é melhor fazermos como ele e
depositarmos o dinheiro no XPTO».
-«O champô ZKS é o melhor para combater a caspa. Ronaldo
usa-o todos os dias. Façam como ele, comprem ZKS e livrem-se
da caspa».
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Exemplos de argumentos «ad verecundiam» ou «apelo à autoridade».

-«O relatório publicado recentemente pela OIT defende (recomenda)


que o salário mínimo deve ser aumentado em Portugal já em 2014.
Ora, sucede que o último relatório dos credores externos de Portugal
(«Troika») é contra essa medida para o próximo ano, e que não deve
ser implementada antes de uma retoma económica razoável. Os dois
relatórios foram realizados por economistas internacionais
competentes. O ex-1º Ministro Passos Coelho defendeu que era
possível aumentar o ordenado mínimo, como comunicou em reunião
com os parceiros sociais, mas numa data a definir num período pós-
Troika.»
-Questão: Faz sentido fazer aqui apelo à autoridade?
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Exemplos de argumentos «ad verecundiam» ou «apelo à autoridade».
-«De acordo com o astrónomo Galileu, o planeta Terra move-se
em torno do seu eixo e descreve um movimento orbital em
torno do Sol, que é o centro do sistema solar. Logo, a opinião
de Galileu é verdadeira».
-«De acordo com o filósofo Platão, a democracia é um péssimo
regime político, pois favorece a inveja, a injustiça e a corrupção
dos governantes. Logo, devemos seguir a opinião platónica,
assumir uma atitude antidemocrática e preferir uma monarquia
de filósofos. Platão viu tudo!»
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Exemplos de argumentos «ad verecundiam» ou «apelo à autoridade».

-«Claro que Deus existe e isso é


indiscutível. Temos a prova disso no
célebre argumento do filósofo medieval
Santo Anselmo, o argumento invencível
ou endonoético. Se a prova de Anselmo é
irrefutável, é evidente que Deus existe e
nada mais há a discutir.»
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Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
É uma estratégia de argumentação quase
sempre falaciosa: recorre à violência, à
ameaça, ao uso da força, para impor uma dada
opinião ou decisão.
É falacioso quando o uso da razão é
substituído ou empregue prioritariamente pela
violência: a força da lei é substituída pela lei
da força.
Forma lógica do ad baculum
• Se X não aceitar Y, então Z.
• Z é um castigo, uma consequência negativa,
para X.
• Portanto, Y é verdade.
• A falácia consiste em Y não apresentar
nenhuma garantia de que o seu argumento é
válido para X, convencendo-o apenas pela
existência do uso da força em Z.
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Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
Pode ser legítimo ou bastante plausível quando, no
extremo da argumentação racional, e verificando
que o oponente não se demove face às razões
expostas, se pretende impor pela força o que não se
consegue estabelecer por via pacífica. Fazer cumprir
a lei de um país, ou as leis do Direito Internacional,
ou cumprir os termos de um tratado, ou as normas
do bom senso, podem ser situações que legitimam
o apelo à força. Neste caso, o ad baculum é válido.
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Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
-«Não é possível negociar com governos
terroristas. Ou nos entregam imediatamente
Bin Laden e os seus dirigentes nas próximas
24 horas ou sofrerão as consequências»
(George W. Bush em mensagem dirigida ao
governo talibã afegão, em 2001)
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Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
-«Se não fizeres os trabalhos de casa e não
tiveres bom comportamento nas aulas irás
reprovar. Mesmo que tenhas boas notas nos
testes vais reprovar – comigo não tens
hipótese. Portanto, vê lá o que fazes!»
(Professor para aluno)
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Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
-«Tirem-me já estes ciganos da minha
propriedade! Se não saírem
imediatamente das minhas terras, chamo
a GNR e vai tudo dentro! Rua daqui já!»
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Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
-«Se não entregarem rapidamente o
vosso arsenal de armas químicas de
destruição maciça, seremos obrigados a
tomar medidas severas de natureza
militar contra o vosso regime». (Barack
Obama, ex-presidente dos EUA, em
comunicação aberta ao regime ditatorial
da Síria)
Falácias Informais
Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
-«Se não acabarem com as provocações de
testes nucleares com mísseis balísticos,
teremos de tomar medidas severas como o
mundo nunca viu e o vosso país será
arrasado. O meu botão nuclear vermelho é
maior que o vosso – e funciona!» (Donald
Trump, em comunicado aberta ao regime
ditatorial da Coreia do Norte)
Falácias Informais
Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
«Aqui na Madeira quem manda são os
madeirenses. Não aceitamos imposições do
Continente, nem pagamos mais impostos. E
se não aceitarem a nossa posição temos de
começar a pensar seriamente na
independência da nossa região!»
Falácias Informais
Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
«Meus caros colegas autarcas – é tudo muito
simples. Quando os fiscais do Ministério do
Ambiente aparecerem à porta com ameaças
de multas sobre as Câmaras que não
cumprem as leis ambientais, só há uma coisa
decente a fazer: é recebê-los à pedrada!»
Falácias Informais
Argumento «ad baculum» ou «apelo à força».
-Exemplos:
«Eu sei que passei no sinal vermelho
senhor polícia, mas parece que ainda não
olhou bem para a minha cara – sabe com
quem é que está a falar? Veja lá se quer
continuar a trabalhar no futuro!»
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Argumento «ad ignorantiam» ou «apelo à ignorância».
-O argumento é legítimo (válido informalmente)
apenas quando o nosso estado atual de
conhecimentos autoriza invocar a ignorância.
-Em tribunal, na dúvida, na ausência de provas
concludentes sobre a culpabilidade do réu, liberta-
se a pessoa: in dubio pro reu. Na dúvida, presume-
se a inocência do réu.
-É falacioso ou ilegítimo (inválido) quando se
pretende provar algo sem provas, ou quando se
pretende provar a verdade de A porque não se sabe
que A é falsa, ou vice-versa.
Falácias Informais
Argumento «ad ignorantiam» ou «apelo à ignorância».

Forma lógica do apelo à ignorância

1.Não se provou a verdade de A. Portanto, A é falso.

1. Não se provou a falsidade de A. Portanto, A é


verdadeiro.
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Argumento «ad ignorantiam» ou «apelo à ignorância».
-Exemplos:
-«Ninguém conseguiu provar que não existe
vida para além da morte; logo, há vida para
além da morte».
Falácias Informais
Argumento «ad ignorantiam» ou «apelo à ignorância».
-Exemplos:
-«Até agora não se conseguiu provar que
existe vida inteligente extraterrestre. Logo,
não existe vida inteligente extraterrestre».
Nota: é válido, está de acordo com o nosso
estado atual de conhecimentos.
Falácias Informais
Argumento «ad ignorantiam» ou «apelo à ignorância».
-Exemplos:
-«A melhor prova de que há vida inteligente
extraterrestre é que nunca fomos visitados
por seres alienígenas (eles evitam-nos… não
aprendem nada connosco…). Logo, os
extraterrestres são inteligentes e existem
de facto».
Falácias Informais
Argumento circular ou petição de princípio («petitio
principii»)
-O argumento é sempre falacioso e muitas vezes surge
dissimulado como se fosse um argumento, quando na
realidade não passa de um pseudo-argumento ou
aparência de argumento. Consiste basicamente em repetir
na conclusão a mesma ideia expressa na premissa através
de sinónimos ou pela repetição simples da mesta ideia.
-Exemplo da forma lógica:
-«X é verdadeiro; portanto, X é verdadeiro»
-Note-se que qualquer argumento com esta forma
implicacional é válido e sólido se o conteúdo proposicional
for verdadeiro. No entanto, não é cogente.
Falácias Informais
Argumento circular ou petição de princípio («petitio
principii»)
-O argumento é sempre falacioso e muitas
vezes surge dissimulado como se fosse um
argumento, quando na realidade não passa
de um pseudo-argumento ou aparência de
argumento. Consiste basicamente em
repetir na conclusão a mesma ideia
expressa na premissa através de sinónimos
ou pela repetição simples da mesta ideia.
Falácias Informais
Argumento circular ou petição de princípio («petitio
principii»)
-Exemplos:
-«Eu digo sempre a verdade e nunca me
engano. Logo, eu sou infalível».
-«O Benfica é o Benfica porque é o
Benfica!»
-«Eu nunca minto – portanto, falo sempre a
verdade, doa a quem doer!»
-«O açúcar dissolve-se porque é uma
substância solúvel!»
Falácias Informais
Argumento circular ou petição de princípio («petitio
principii»)
«Acredito que Deus existe porque consigo
demonstrar a sua existência utilizando
cuidadosamente as minhas capacidades
racionais. Ora, uma vez que Deus não é
enganador, posso estar certo de que
quando utilizo cuidadosamente as minhas
capacidades racionais não sou conduzido
ao erro.»
Descartes. Eis um argumento filosófico
engenhosamente capcioso.
Falácias Informais
Falso Dilema
-O argumento do falso dilema é sempre falacioso quando há
uma situação em que existindo três ou mais alternativas, o
orador pretende impor apenas duas, sendo que uma delas é
inaceitável, coagindo assim o interlocutor ou um auditório a
aceitar apenas uma das alternativas, como se fosse uma espécie
de opção única ou uma escolha sem escolha.
-Exemplos de formas lógicas do falso dilema:
-Ou X ou Y ou nada mais se aceita.
-Se A é verdadeiro, então B é falso.
-Se B é verdadeiro, então A é falso.
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Falso Dilema
-Exemplos:
-«Quem não é por mim, está contra mim!».
-«O Benfica ou nada!»
-«Ou Portugal segue o programa acordado
com a Troika ou será a desgraça nacional!»
-«Só há uma alternativa para os portugueses
no futuro – empobrecermos todos para sair da
crise, custe o que custar, não há outro
caminho!»
Falácias Informais
Falso Dilema
-Exemplos:
«Ou os estivadores param a greve e
negoceiam com as entidades patronais ou o
porto de Setúbal terá de encerrar para
sempre.»
«Qual é a parte do que não entendem? Não há
dinheiro! Portanto, não há aumentos salariais
para ninguém da função pública em 2019. Se
aumentarmos as pessoas, voltamos a ter uma
crise orçamental.»
Falácias Informais
Apelo à compaixão ou apelo à piedade («ad misericordiam»)

O argumento do apelo à piedade é sempre


falacioso pois ocorre no limite da argumentação
racional, quando um orador, esgotadas as razões,
pretende substituí-las por emoções ou motivos de
ordem sentimental. O apelo à emoção é visto
como um último recurso, o ato de desespero do
orador. É uma manobra de diversão desesperada
de quem já perdeu toda a razão e não tem mais
nenhum outro expediente.
Falácias Informais
Apelo à compaixão ou apelo à piedade («ad
misericordiam»)
Exemplos:
-«Tenha pena de mim senhor juiz, não
tenho culpa de ter morto os meus pais,
agora o que será de mim. Tenha piedade
de um pobre órfão!»
Falácias Informais
Apelo à compaixão ou apelo à piedade («ad misericordiam»)
Exemplos:
-«Senhor professor, não me reprove na disciplina, eu
sei que tenho sido um baldas, nunca faço os
trabalhos, tiro más notas nos testes, chego sempre
atrasado ou falto às aulas, e até sei que mais valia
estar calado nas poucas aulas a que consigo
comparecer, mas, apesar de tudo, tem de me passar,
porque senão fico sem as minhas férias e os meus pais
obrigam-me a trabalhar. É que eu preciso mesmo
muito das férias para repousar da Escola que me põe
doente - pela minha rica saúde, passe-me!»
Falácias Informais
Falácia Causal ou «post hoc» (falsa causa)

O argumento é falacioso porque confunde a


relação entre uma causa e o seu efeito com
eventos que surgem de modo casual ou
acidental. O erro é ligar dois acontecimentos
que acontecem no tempo, mas que não têm
relação de causalidade entre si.
Falácias Informais
Falácia Causal ou «post hoc» (falsa causa)

O erro está em confundir consequência com


sequência. Do género: «se B vem depois de A,
logo A causa B». Aquilo que surge numa
sucessão temporal não tem de ser
necessariamente o resultado de uma relação
causal. O erro está precisamente em julgar que
«depois disto, logo, por causa disto». Uma
coincidência de factos ou eventos que ocorrem
em simultâneo não estão só por isso ligados de
modo causal. Pode ser uma circunstância
fortuita.
Falácias Informais
Falácia Causal ou «post hoc»
-Exemplos:
-«Mértola está cada vez mais poluída –
aumenta de dia para dia as pessoas que
fumam à porta da Escola»
-«O trovão vem depois do relâmpago, logo,
o relâmpago é a causa do trovão»
Falácias Informais
Falácia Causal ou «post hoc»
-Exemplos:
-«Ele foi o último a sair da sala, por isso, se
depois dele sair ninguém voltou a ver o
telemóvel…»
-«Bebi um copo de água e a dor de cabeça
passou; logo, beber água cura as dores da
cabeça».
-«Tenho que me despedir por causa da saúde
do meu patrão – ele fica sempre doente
comigo!»
Falácias Informais
Falácia Causal ou «post hoc»
-Exemplos:
-«O Zeca sempre que entra com o pé direito na
sala de aula tira positiva no teste. Portanto, a
positiva nos testes deve-se à sua entrada com
o pé direito em sala de aula.»
-«Em média, a população homossexual contraí
SIDA em maior percentagem do que as
pessoas heterossexuais. Portanto, a
homossexualidade é a causa da SIDA.»
Falácias Informais
Falácia do «boneco de palha», «Homem da Palha» ou «Espantalho»

O argumento é falacioso porque é uma tentativa de


manipular um auditório, ou centrar um debate num
pormenor irrelevante e dando-lhe uma importância
excessiva.
O recurso ao «espantalho» pode ser uma ficção, ou
uma tese ou opinião imaginária e falsa, que se atribui a
uma pessoa para tentar iludir as pessoas. Tenta
argumentar-se contra uma posição que ninguém à
partida defenderia, ou contra uma posição que é muito
provável que ninguém defenda.
Falácias Informais
Falácia do «boneco de palha», «Homem da Palha» ou
«Espantalho»

O argumento do «homem da palha» é uma


estratégia de «fuga à questão», uma forma de
um orador evitar habilmente uma
argumentação difícil de refutar, e por isso
recorre a um expediente fictício, construindo
uma tese imaginária que é atribuída só para
efeitos de refutação. É uma estratégia de
ignorância de elenco ou «ignoratio elenchi».
Falácias Informais
Falácia do Homem da Palha ou «Espantalho»
Exemplos:
-«O senhor Primeiro Ministro não pretende
um Serviço Nacional de Saúde, o que pretende
é acabar com ele: já viram as medidas de
cortes orçamentais para a Saúde no próximo
ano?»
Falácias Informais
Falácia do Homem da Palha ou «Espantalho»
Exemplos:
-«As medidas de contenção e de austeridade
não têm qualquer interesse para o povo nem
para a economia do país – no fundo só servem
para proteger os mais ricos que nunca pagam
impostos e são os principais responsáveis pela
situação atual do país. Aliás, só estamos onde
estamos por causa dos políticos do CDS e do
PSD».
Falácias Informais
Falácia do Homem da Palha ou «Espantalho»
Exemplos:
-«O ex-Primeiro Ministro José Sócrates era um
indivíduo pouco digno de crédito, afinal não foi
ele quem autorizou os casamentos entre
homossexuais no nosso país?»
-«O candidato X para a Associação de
Estudantes tem cabelo a mais na cabeça, isso
já é em si mesmo uma objeção, um contra-
argumento. Como é que se pode confiar numa
pessoa a quem nem se consegue ver os
olhos?»
Falácias Informais
Falácia do Homem da Palha ou «Espantalho»
Exemplos:
-«Os cortes na saúde e nos apoios aos doentes
crónicos só vão prejudicar a vida dos portugueses. O
que este Governo quer no fundo é que os doentes
cancerosos e os diabéticos emigrem para reduzir o
défice.»
-«Nós não vamos conseguir regressar aos mercados
porque o Partido Socialista teima em não contribuir
com soluções para a reforma do Estado e ajudar a
reduzir o défice das contas públicas. Só por causa do
PS é que não há saída da crise económica».
Falácias Informais
Falácia da derrapagem ou «bola de neve» ou ainda «declive
ardiloso»
-O argumento é falacioso porque se afirmam
premissas com valor provável como se fossem
verdades categóricas e certezas com valor
absoluto, encadeando-se as razões entre si
para extrair uma conclusão supostamente
irrefutável. Trata-se de um argumento
composto por uma cadeia de condicionais, de
nexos causais, com valor amplificante de
consequências graves.
Falácias Informais
Falácia da derrapagem ou «bola de neve» ou ainda «declive ardiloso»
O declive ou plano inclinado é no fundo como o
trajeto de uma bola de neve que vai aumentando
de volume até chegar a uma conclusão inevitável.
Usamos premissas prováveis como se fossem
certezas inaceitáveis para o auditório.
Este tipo de argumentação apresenta um efeito
algo delirante ou paranoico para o auditório. O
facto é que quanto maior for o número de
acontecimentos em sequência, menor é a
probabilidade da conclusão derivar dessa cadeia.
Quanto mais implausível se torna a cadeia de
acontecimentos, mais inverosímil se torna a
conclusão.
Falácias Informais
Falácia da derrapagem ou «bola de neve» ou ainda «declive
ardiloso»

Exemplos:
«Se beberes um copo de vinho,
vais beber dois. Se beberes dois,
vais beber três. Se beberes três,
vais beber quatro. Logo, se
beberes um copo de vinho, vais
tornar-te alcoólico».
Falácias Informais
Falácia da derrapagem ou «bola de neve» ou ainda «declive ardiloso»

Exemplos:
«Se começares a jogar videojogos, vais tornar-te
viciado no jogo. Se te tornares viciado em
videojogos, vais gastar todo o teu dinheiro para
comprares novos jogos. Se gastares o teu dinheiro
todo em videojogos, vais ter de roubar para pagar
as tuas despesas. Logo, se começares a jogar
videojogos, vais ter de roubar para pagar as tuas
despesas. Se roubares, vais acabar preso – o
melhor é não jogares videojogos para não
acabares os teus dias na prisão».
Falácias Informais
Falácia da derrapagem ou «bola de neve» ou ainda «declive ardiloso»

Exemplos:
«Se Portugal não cumprir com o acordo da Troika,
então não haverá dinheiro para pagar aos
funcionários públicos. Se não houver dinheiro
para pagar aos funcionários públicos, a economia
não funcionará. Se a economia não funcionar,
Portugal terá de sair da zona euro. Se sairmos da
zona euro, vamos ter uma guerra civil. Logo, se
não cumprirmos com o acordo da Troika vamos
ter uma guerra civil em Portugal. Para não nos
matarmos uns aos outros, o melhor é pagar a
dívida aos credores e cumprir o acordo da
Troika».
Falácia do apelo ao povo – Ad populum
• Esta falácia é um tipo de argumento que apela às
crenças e opiniões populares que fazem parte da
mentalidade comum. O erro está em supor que a
maioria, por ser simplesmente uma maioria, tem
sempre razão e está na posse de uma verdade
inquestionável.

• A forma lógica é simples: «A maioria das pessoas


pensa que P; logo, P tem de ser verdade.»
• A maioria das pessoas aprova X (ou aprova
emocionalmente X). Logo, X é verdadeiro.
Falácia do apelo ao povo – Ad populum
• Exemplos:
• "A voz do povo é a voz de Deus" (vox populi, vox dei).
• A maioria das pessoas da nossa sociedade é cristã;
portanto, o cristianismo é uma doutrina religiosa
verdadeira.
• A maioria dos portugueses é adepta ou simpatizante
do SLB; portanto, o SLB é o melhor clube português.
• Tony Carreira é o artista português que vendeu mais
discos em Portugal; logo, ele é o melhor artista
nacional.
Falácia do apelo ao povo – Ad populum
• Exemplos:

• As sondagens mostram todas que o


PS vai ganhar as próximas eleições;
junta-te aos vencedores e vota PS.
• A maior parte das pessoas não vai
votar nas eleições europeias; logo, tu
também não deves votar.
Falácia do apelo ao povo – Ad populum
• Exemplos:
• A maioria dos portugueses condena e não
gosta de touradas; portanto, as touradas
deviam ser extintas no nosso país.
• Não fiquem para trás – comprem já o carro
dos vossos sonhos MZKX. Todos o querem, é o
mais vendido na Europa – e querer é poder.
Crédito garantido em suaves prestações
mensais de 96 meses.
Falácia do apelo ao povo – Ad populum
• Exemplos:

• Meus caros compatriotas americanos. Todos nós


sabemos quem são os imigrantes que nos batem à porta.
Todos vocês sabem que na sua maioria são criminosos,
traficantes de droga, violadores, ladrões, indivíduos que
apenas querem entrar no nosso país para viver à custa
do nosso sistema de segurança social, oportunistas que
querem viver do dinheiros dos vossos impostos sem nada
ter contribuído para a nossa sociedade. Eu sei o que
todos vocês pensam: um muro, bem alto, cheio de arame
farpado e com cães raivosos à espera deles. Não
passarão, não são bem-vindos! A América está sempre
primeiro tal como vocês todos acreditam!»

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