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Além dos dedutivos, usamos argumentos indutivos, por analogia, de

autoridade – argumentos cuja validade depende de aspetos que vão


para lá da sua estrutura formal.

LÓGICA INFORMAL

Tentativa de desenvolver um modo de avaliar e analisar os


argumentos que ocorrem na linguagem comum, partindo do seu
conteúdo/matéria e do seu potencial persuasivo.

Tem em atenção todo o tipo de argumentos cujo potencial


persuasivo não dependa apenas de critérios formais, mas também
de critérios dialéticos, informais.
1. O discurso argumentativo –
principais tipos de argumentos e
falácias informais
1.1. Tipos de argumentos
Tipos de argumentos

Argumentos Argumentos não


dedutivos dedutivos

Argumentos indutivos Argumentos por Argumentos de


(induções) analogia autoridade

Generalização Previsão

A validade dos argumentos não dedutivos não depende da forma lógica, mas do grau de
probabilidade, razoabilidade ou relevância das proposições que compõem o argumento.
Argumentos indutivos: GENERALIZAÇÃO
Argumento cuja conclusão é mais geral do que a(s) premissa(s).

REQUISITOS DE VALIDADE DAS GENERALIZAÇÕES:

- partir de casos particulares representativos;


- não existência de contraexemplos.

EXEMPLO DE UMA GENERALIZAÇÃO VÁLIDA:


O cão Mondego tem pelo. Logo, todos os cães têm pelo.

Qualquer cão parece ser um caso representativo e ainda não se acharam contraexemplos .

EXEMPLO DE UMA GENERALIZAÇÃO INVÁLIDA:


O medicamento para a tosse teve efeitos secundários graves para a saúde do meu primo.
Logo, todos os medicamentos fazem mal à saúde.

Aquele medicamento não é representativo de todos os medicamentos e não será difícil


encontrar um contraexemplo suscetível de tornar ilegítima a conclusão.
Argumentos indutivos: PREVISÃO
Argumento que, baseando-se em casos passados, antevê casos
não observados, presentes ou futuros.

A sua validade está dependente da probabilidade de a conclusão


corresponder, ou não, à realidade. Este é um tipo de argumento
muito usado pelas ciências.

EXEMPLO DE UMA PREVISÃO VÁLIDA:

Todo o sistema natural observado até hoje evolui para um estado


de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima.
Por conseguinte, todos os sistemas naturais que doravante
observarmos evoluirão para um estado de máxima desordem,
correspondente a uma entropia máxima.

Trata-se de uma previsão válida, na medida em que é provável


que a conclusão corresponda à realidade. A verdade da premissa
fornece uma forte razão para aceitar a conclusão.
Argumento por analogia
Argumento que consiste em partir de certas semelhanças ou relações entre dois objetos ou
duas realidades e em encontrar novas semelhanças ou relações.

O argumento por analogia baseia-se na comparação estabelecida entre as coisas,


supondo semelhanças novas a partir das já conhecidas.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA:


Quando alguém entra para uma equipa de futebol, concorda em obedecer às decisões do
treinador. A administração americana é como uma equipa de futebol. Logo, quando alguém
entra para a administração americana, concorda em obedecer às decisões do presidente.

Equipa de futebol = Administração americana


Treinador Presidente

Mas, se a administração americana é semelhante, em certos aspetos, a uma equipa de futebol,


noutros aspetos será diferente. Um argumento por analogia é válido se as semelhanças entre
as realidades forem mais relevantes do que as diferenças.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA INVÁLIDO: Os raciocínios por analogia


O Universo é infinito. são muito frequentes na
A sociedade é tão complexa como o Universo. infância. Também a arte se
Logo, a sociedade é infinita. baseia bastante na analogia.
Argumento de autoridade
Argumento que se apoia na opinião de um
especialista para fazer valer a sua conclusão.

Requisitos para ser considerado válido:

•o especialista usado deve ser um perito no tema em questão;


•não pode existir controvérsia entre os especialistas do tema em questão;
•o especialista invocado não pode ter interesses pessoais no tema em causa;
•o argumento não pode ser mais fraco do que outro argumento contrário.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE VÁLIDO:

Einstein disse que E = mc². Logo, E = mc².

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE INVÁLIDO:

O futebolista X disse que E = mc². Logo, E = mc².


1.2. Falácias informais
FALÁCIAS INFORMAIS
Argumentos inválidos, aparentemente válidos, cuja invalidade não resulta
de uma deficiência formal, antes decorre do conteúdo, da matéria, da
linguagem natural comum usada nesses argumentos.

Falácia da petição de princípio

Falácia do falso dilema

Falácia do apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam)

Falácia ad hominem (ao homem, contra a pessoa)

Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

Falácia do espantalho ou do boneco de palha

Falácia da causa falsa (post hoc, ergo propter hoc)

Falácia do apelo ao povo, à opinião da maioria (ad populum)


Falácia da petição de princípio
Processo que consiste em assumir como verdadeiro aquilo que se pretende provar.

A conclusão é usada, de forma implícita, como premissa, encontrando-se muitas


vezes disfarçada com palavras de significação idêntica à das da conclusão.

Argumento circular

EXEMPLOS:

Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à


saúde.

O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência.


Falácia do falso dilema
Consiste em reduzir as opções possíveis a apenas duas,
ignorando-se as restantes alternativas.

Trata-se, portanto, de extrair uma conclusão a partir de uma


disjunção falsa. «Falso dilema» é sinónimo de «falsa dicotomia».

Exemplo de uma disjunção falsa:


Ou votas no partido x ou será a desgraça do país.
(Outros partidos são ignorados.)

EXEMPLO DE UM FALSO DILEMA:

Ou votas no partido x, ou será a desgraça do país!


Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.
Falácia do apelo à ignorância
(argumentum ad ignorantiam)

Comete-se esta falácia sempre que uma proposição é tida como


verdadeira só porque não se provou a sua falsidade ou como
falsa só porque não se provou que é verdadeira.

EXEMPLOS:

A alma é imortal. Na verdade, ninguém provou que a alma morre


com o corpo.

Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém


provou que eles existem.
Falácia ad hominem

É o tipo de argumento dirigido contra o homem. Em vez de se atacar


ou refutar a tese de alguém, ataca-se a pessoa que a defende.

Os ataques pessoais poderão centrar-se, por exemplo, na classe social, no partido


político ou na religião da pessoa em causa. Muitas vezes, o objetivo destes
argumentos consiste em desviar as atenções daquilo que está em causa.

EXEMPLOS:

A tua tese não tem qualquer valor, porque és um ex-presidiário.

Sartre estava errado a respeito do ser humano, porque não ia


regularmente à missa.
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

Esta falácia é cometida sempre que alguém, para refutar uma tese,
apresenta, pelo menos, uma premissa falsa ou duvidosa e uma série
de consequências progressivamente inaceitáveis.

Usa-se um exemplo que se estende indefinidamente para mostrar que um


determinado resultado indesejável inevitavelmente se seguirá.

Se permitirmos uma exceção a uma regra, mais e mais exceções se seguirão,


o que conduzirá à inevitabilidade de a regra ser totalmente subvertida ou de
haver consequências totalmente indesejáveis.

EXEMPLO:

É péssimo que jogues a dinheiro. Se o fizeres, vais viciar-te no


jogo. Desse modo, perderás tudo o que tens. Em consequência,
se não quiseres morrer à fome, terás de roubar.
Falácia do espantalho ou do boneco de palha
Esta falácia é cometida sempre que o orador, em vez de refutar o verdadeiro argumento do
seu opositor/interlocutor, ataca ou refuta uma versão simplificada, mais fraca e deturpada
desse argumento, a fim de ser mais fácil rebater a tese oposta.

Além de não tratar realmente a afirmação do adversário, o orador tende a criticar uma
posição diferente daquela que tinha sido originalmente defendida pelo oponente.

EXEMPLO:

António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de industrialização
os tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis.
Manuel refuta António dizendo: «António quer que apenas comamos alface!»

[Em momento algum António defende que não devemos comer todo e qualquer tipo de carne,
sugerindo que sejamos vegetarianos («comer alface»), mas apenas aquele tipo de carne
sujeito às condições descritas. O argumento é assim deturpado e simplificado.]
Falácia da causa falsa
(post hoc, ergo propter hoc)

A expressão «post hoc, ergo propter hoc» significa «depois disto, logo
por causa disto». Nesse sentido, a falácia da causa falsa surge
sempre que se toma como causa de algo aquilo que é apenas um
antecedente ou uma qualquer circunstância acidental.

EXEMPLOS:

Fiquei com dores de cabeça no dia em que a minha avó fez um bolo.
O bolo foi a causa das minhas dores de cabeça.

Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa. Por isso, a chuva
é a causa das negativas dos meus testes.
Falácia do apelo ao povo, à opinião da maioria
(ad populum)

Consiste apelar à opinião da maioria para defender que uma


afirmação é verdadeira

torna-se o comportamento da multidão como exemplo a seguir ; a verdade


ou falsidade de uma afirmação não tem de depender da opinião das
pessoas e, mesmo que dependa, seria injustificado considerar que a
opinião da minoria é falsa
EXEMPLOS:

A maioria das pessoas pensa que só o que é natural é bom para a


saúde. Logo, só o que é natural é bom para a saúde

Devem votar no meu partido. Toda a ente já percebeu que é o melhor


para o país!

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