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TIPOS DE ARGUMENTOS / FALÁCIAS INFORMAIS

1.1 Argumentos não dedutivos Um bom argumento indutivo* deve basear-


-se numa amostra representativa e
Existem argumentos dedutivos e não-
diversificada, bem como não deve ocultar
dedutivos. contraexemplos conhecidos.
Um argumento dedutivo é um argumento
em que se pretende que a verdade das *Por exemplo, se tiverem sido observados dez mil corvos e em
premissas seja suficiente para garantir ou regiões diferentes, os argumentos em consideração serão
mais fortes do que no caso de terem sido observados apenas
estabelecer a verdade da conclusão. Essa cem corvos numa pequena região.
pretensão pode ser bem-sucedida
(argumento válido), ou não (argumento Caso contrário estamos perante maus
inválido). argumentos indutivos, ou seja, foi cometida
Um argumento não-dedutivo é um alguma falácia informal. Este tipo de falácia
argumento em que se pretende apenas que não decorre de falhas na lógica dos
a verdade das premissas apoie/suporte a argumentos, o seu caráter enganador deve-
verdade da conclusão. Caso essa pretensão se ao seu conteúdo.
seja bem-sucedida o argumento é forte, caso
contrário argumento é fraco. Quando um argumento por generalização se
A força dos argumentos não-dedutivos baseia num número reduzido de casos ou
não é detetável através da sua forma lógica. ignora contraexemplos conhecidos: falácia
Num bom argumento não-dedutivo, a da generalização precipitada.
verdade das premissas torna apenas
provável a verdade da conclusão. Quando a amostra utilizada para fazer a
generalização é tendenciosa (não é
1.1.1 Argumentos indutivos representativa da diversidade de
características do universo em questão):
Num argumento indutivo por
falácia da amostra não representativa.
generalização, extraímos uma conclusão
geral (que inclui casos de que não tivemos
1.1.2 Argumentos por analogia
experiência), a partir de um conjunto de
Num argumento por analogia partimos de
premissas referentes a alguns casos de que já
um conjunto de semelhanças relevantes
tivemos experiência.
entre dois elementos para atribuir a um deles
uma característica observada no outro.
(1) Cada um dos corvos observados
até agora é preto.
(1) O José tem tosse, dor de
(2) Logo, todos os corvos são pretos.
garganta, febre alta, tremores e
suores, dor de cabeça, dor muscular,
Num argumento indutivo por previsão,
cansaço.
baseamo-nos num conjunto de premissas
(2) As pessoas com esses sintomas
referentes a alguns acontecimentos
normalmente têm gripe.
observados no passado para inferir uma
(3) Logo, o José provavelmente tem
conclusão acerca de um acontecimento
gripe.
futuro.

Num mau argumento por analogia (falácia


(1) Cada um dos corvos observados
da falsa analogia), as semelhanças
até agora é preto.
observadas não são relevantes para a
(2) Logo, o próximo corvo que
característica em causa/existem diferenças
observarmos será preto.
relevantes entre os dois elementos que não (1) Não estou a mentir.
estão a ser devidamente tidos em conta. (2) Logo, estou a dizer uma verdade.

Na primeira premissa deste argumento já


1.1.3 Argumento de autoridade
está implícito o que é afirmado na conclusão.
Recorre-se à opinião de um perito ou de um
A petição de princípio também se designa
especialista para reforçar a aceitação de uma
por “argumento circular” ou “falácia da
determinada proposição:
circularidade”.

(1) Nos livros e aulas de história


ensina-se que Dom Afonso Henriques
1.2.2 Falso dilema
foi aclamado como primeiro rei de Numa das premissas consideram-se
Portugal em 1139, sendo isso apenas duas possibilidades ou alternativas,
consensual entre os especialistas quando na realidade existem outras
nessa matéria. possibilidades que não estão a ser
(2) Logo, Dom Afonso Henriques foi devidamente consideradas.
aclamado como primeiro rei de (1) Ou és vegetariano, ou és
Portugal em 1139. carnívoro.
(2) Não és vegetariano.
Um bom argumento de autoridade: (3) Logo, és carnívoro.
1) identifica claramente as suas fontes
2) cita autoridades que 1.2.3 Apelo à ignorância
- são reconhecidamente especialistas Consiste em tentar provar que uma
no assunto em questão proposição é verdadeira porque ainda não
- são igualmente imparciais e isentas e se provou que é falsa, ou que é falsa porque
- a sua opinião não é disputada por ainda não se provou que é verdadeira.
outros peritos.
(1) Até hoje ninguém conseguiu
Se esses critérios não forem satisfeitos, provar que temos liberdade.
incorre-se na falácia da falsa autoridade. (2) Logo, a liberdade é uma ilusão.

(1) Platão é um fi lósofo de renome e


1.2.4 Ataque à pessoa (ad
defende que existem almas imortais.
(2) Logo, existem almas imortais. hominem)
Procura-se descredibilizar uma
Ainda que Platão seja um especialista determinada proposição ou argumento
competente, há outros especialistas atacando a credibilidade do seu autor.
igualmente competentes que disputam
seriamente essa, logo não é um bom (1) Defendes que Deus não existe
argumento de autoridade. porque apenas estás a seguir a moda.
(2) Logo,Deus existe.

1.2 Outras falácias informais


1.2.5 Derrapagem (bola de neve)
1.2.1 Petição de Princípio (ou Consiste em tentar mostrar que uma
falácia da circularidade) determinada proposição é inaceitável,
porque a sua aceitação conduziria a uma
Quando se pressupõe nas premissas aquilo cadeia de implicações com um desfecho
que se quer ver provado na conclusão: inaceitável, quando, na realidade, ou um dos
elos dessa cadeia de implicações é falso, ou é a seguinte: a maioria das pessoas afirma
a cadeia no seu todo é altamente improvável. que P; logo, P é verdadeiro. O problema
desta inferência é que a maioria das pessoas
(1)  Se permitirmos o casamento entre pode estar equivocada.
pessoas do mesmo sexo, não tarda
estaremos a permitir a poligamia, o (1)  As sondagens indicam que os
incesto e até a pedofi lia. socialistas vão ter maioria no
(2)  Mas isso é claramente intolerável, parlamento.
dado que conduzirá ao fi m da (2)  Logo, deves votar nos socialistas.
civilização.
(3)  Logo, não devemos permitir o
casamento entre pessoas do mesmo
sexo.

1.2.6 Espantalho
Pretende-se mostrar que se negou um
determinado argumento, ou teoria, através
da negação de uma versão distorcida e
enfraquecida do(a) mesmo(a).

(1) Os defensores dos direitos dos


animais sustentam que é tão errado
matar um animal como matar um
humano.
(2) Mas isso é obviamente falso.
(3) Logo, os defensores dos direitos
dos animais estão errados (ou seja, os
animais não têm direitos).

1.2.7 Falsa relação causal


É um erro indutivo, que consiste em
concluir que há uma relação de causa-efeito
entre dois acontecimentos A e B que
ocorrem sempre em simultâneo ou em que A
ocorre imediatamente após B.

(1) Sempre que o José entra com o


pé direito na sala de aula tira positiva
no teste de fi losofi a.
(2) Logo, a positiva que o José tira no
teste é causada por entrar com o pé
direito.

1.2.8 Ad populum
Consiste em apelar à opinião da maioria
ou “ao povo” para se sustentar a verdade de
alguma afirmação. A estrutura do argumento

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