Você está na página 1de 7

Filosofia/12a Classe/ Lógica II – Falácias

COLÉGIO KITABU
Disciplina de: Introdução à Filosofia
6. FALÁCIAS
Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. O termo falácia deriva
do verbo latino fallere que significa enganar.
As falácias que são cometidas involuntariamente, designam-se por paralogismo; as que são
produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas. Assim, em
qualquer falácia ocorrem dois elementos essenciais:

1°) Uma verdade aparente: que dá ao argumento uma certa capacidade de convencer e que leva
os incautos ao equivoco.
2°) Um erro oculto: que leva a que se retirem conclusões falsas, a partir de uma verdade. Esse
erro oculto pode derivar da ambiguidade dos conceitos, salto desregrado do particular para o
geral, a tomada do relativo como absoluto, o parcial como o total, o acidental como essencial.

Existem muitos tipos de falácias, não havendo consenso quanto à sua classificação. Para efeitos
de nosso estudo vamos classificá-las em dois grandes tipos:

a) Sofismas de palavras ou sofismas verbais: que se devem a incorrecta ou má expressão


das ideias.
b) Sofismas de ideias ou sofismas mentais ou de conceito: que se devem ao nosso imperfeito
conhecimento das coisas.

6.1 Sofismas de palavras ou sofismas verbais


Os sofismas de palavras ou sofismas verbais podem ser:
1. Falácia da Equivocação: acontece sempre que acidental ou deliberadamente, num
argumento usamos a mesma palavra em dois sentidos diferentes.
Ex:
Só o homem é que pensa.
Ora, nenhuma mulher é homem.
Logo, nenhuma mulher pensa.
Prof. Job Machaiche/Filosofia/12ª Classe/1 Trim/CK/2023
0
1
Filosofia/12a Classe/ Lógica II – Falácias

Este argumento é falacioso dado que na primeira premissa a palavra “homem” significa
“espécie humana” e na segunda “ser humano” do sexo masculino.

2. Falácia da composição: consiste em juntar palavras que devem ser tomadas


separadamente.
Ex:
Nem estes nem aqueles sapatos me servem.
Logo, nenhuns sapatos me servem.

Sempre que se transfere um atributo de cada uma das partes para o todo não se distinguindo a
predicação distributiva da predicação colectiva corre-se o risco de argumentar
falaciosamente.

3. Anfibologia: deriva da ambiguidade sintáctica de uma parte do argumento, isto é, de um


argumento. Por isso, esta falácia ocorre sempre que procuramos sustentar uma conclusão
recorrendo uma interpretação errada de uma proposição gramaticalmente ambígua.
Ex:
Todos os homens amam uma mulher.
Mataka ama Abiba.
Logo, todos os homens amam Abiba

Ambiguidade deste argumento verifica-se na primeira premissa. Pois, em geral, a mulher


amada é diferente para cada homem. Todos amam uma mulher … diferente.
Consequentemente, não podemos concluir que todos amam Abiba.

4. Falácia da divisão: consiste em separar palavras que devem ser tomadas juntas. Por isso,
ela ocorre quando num argumento se transfere ilegitimamente um atributo do todo ou da
classe para as parte, para cada um dos membros da classe.

Prof. Job Machaiche/Filosofia/12ª Classe/1 Trim/CK/2023


0
2
Filosofia/12a Classe/ Lógica II – Falácias

Ex:
O Colégio Kitabu é uma das instituições de ensino prestigiadas do pais.
Logo, cada um dos alunos desta instituição de ensino é prestigiado.

5. Falácia da falsa dicotomia: este tipo de falácia ocorre quando se reparte uma classe de
objectos em dois pólos que se supõe serem os únicos possíveis e incompatíveis,
ignorando a possibilidade de existência de uma alternativa a ambos.
Ex: Ou estás do meu lado ou contra mim.

6.2 Sofismas de ideias ou sofismas mentais


Os sofismas de ideias ou mentais podem resultar de uma dedução ou indução ilegítima. Dai
que, temos sofismas de indução ilegítima e sofismas de dedução ilegítima.

a) Sofismas de indução ilegítima


Os sofismas de indução ilegítima podem ser:
1. Falácia de analogia: ocorre quando concluímos de um objecto para outro sem ter em
consideração as diferenças existentes entre eles, mas considerando apenas as suas
semelhanças.
Ex:
As aves voam.
O avião voa.
Logo, o avião é ave

2. Falácias do acidental: acontece quando tomamos o que é acidental pelo que é essencial.
Ex:
Esta aparelhagem não funciona.
Logo, a técnica é uma farsa.

3. Falácia de ignorância da causa: ocorre quando tomamos por causa um simples


antecedente ou qualquer circunstância acidental.

Prof. Job Machaiche/Filosofia/12ª Classe/1 Trim/CK/2023


0
3
Filosofia/12a Classe/ Lógica II – Falácias

Ex:
Depois do cometa houve uma epidemia;
Logo, os cometas causam epidemias

4. Falácia da enumeração imperfeita: verifica-se sempre que atribuímos ao todo aquilo que
só é verdadeiro de algumas partes.
Ex:
Este e aquele africano são hospitaleiros.
Logo, os africanos são hospitaleiros.

b) Sofismas de dedução ilegítima


Os sofismas de dedução ilegítima podem ser:

1. Falácia da conversão: ocorre quando se convertem proposições sem respeitar as regras.


Ex:
O mendigo pede.
Logo, quem pede é mendigo.

2. Falácia de oposição: ocorre quando não são respeitadas as regras da oposição de


proposições.
Ex:
Todo os africanos são hospitaleiros.
Nenhum africano é hospitaleiro.

3. Falácia do silogismo: acontece quando não são respeitadas as regras do silogismo ou se


usa um esquema formal não válido.
Ex:
As rosas são flores.
Algumas mulheres são rosas.
Logo, algumas mulheres são flores.

Prof. Job Machaiche/Filosofia/12ª Classe/1 Trim/CK/2023


0
4
Filosofia/12a Classe/ Lógica II – Falácias

4. Círculo vicioso (ou petição de princípio): ocorre quando se pretende resolver uma
questão com a própria questão, ou seja, quando se supõe acordado ou provado
precisamente o que está em questão; apresenta-se como premissa o que só se justifica
como conclusão.
Ex:
O que é lógica? É a ciência do que é lógico.
O remédio cura porque tem a virtude curativa.

Outros Casos de Argumentações Falaciosas

1. Argumentum ad hominem (ataque pessoal)

No lugar do argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o
enunciado.

Ex1: Esse senhor diz que presenciou o crime! Mas que confiança nos pode merecer um pobre
bêbado?

Ex2: Não recebemos lições de democracia de alguém que militou em partidos antidemocráticos!

2. Argumentum verbosium (prova por verbosidade)

Tentativa de esmagar os envolvidos pelo discurso extenso e complexo. Superficialmente, o


argumento parece plausível e bem pesquisado, mas é tão trabalhoso desembaraçar e verificar
cada facto comprobatório que pode acabar por ser aceite sem ser contestado.

É mais uma tentativa de saturar a mente do oponente.

3. Argumentum ad populum (apelo à multidão, ao povo, à emoção)

É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas. Por vezes é
chamada de apelo à emoção, pois os apelos emocionais tentam atingir toda a população.

Ex1: Inúmeras pessoas acreditam em Deus, portanto Deus existe.

Ex2: Querem uma cidade limpa? Querem uma cidade segura? Votem no partido X!
Prof. Job Machaiche/Filosofia/12ª Classe/1 Trim/CK/2023
0
5
Filosofia/12a Classe/ Lógica II – Falácias

4. Argumentum ad baculum (apelo à força-pressão psicológica)

Acontece quando quem argumenta a favor de uma conclusão sugere ou afirma qua algum mal ou
problema acontecerá a quem não aceitar. Este tipo de argumento baseia-se em ameaças ao bem-
estar físico ou psicológico de alguém ou de um grupo de pessoas.

Ex1: Ou te calas, ou ficas sem recreio.

Ex2: As minhas opiniões estão correctas e mandarei prender quem discordar de mim.

5. Argumentum ad antiquitatem (apelo à antiguidade)

Afirmar que algo é verdadeiro ou bom somente porque é antigo ou porque "sempre foi assim".

Ex1: Os homens da caverna já faziam assim, esta é a maneira correcta de se fazer.

Ex2: Nossos avós educavam dessa maneira, assim é o jeito certo de educar.

6. Argumentum ad novitatem (apelo à novidade)

Argumentar que o novo é sempre melhor, sem uma justificativa.

Ex.: Na Filosofia, Sócrates já está ultrapassado. É melhor Severino Ngoenha, pois é o mais
recente.

7. Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância)

Tentar provar algo a partir da ignorância quanto à sua validade. Só porque não se sabe se algo é
verdadeiro, não quer dizer que seja falso, e vice-versa.

Ex1: Ninguém conseguiu provar que Deus existe, logo ele não existe.

Ou o contrário.

Ex2: Ninguém conseguiu provar que Deus não existe, logo ele existe.

Prof. Job Machaiche/Filosofia/12ª Classe/1 Trim/CK/2023


0
6
Filosofia/12a Classe/ Lógica II – Falácias

8. Argumentum ad misericordiam (apelo à piedade)

Consiste no recurso à piedade ou a sentimentos relacionados, tais como solidariedade e


compaixão, para que a conclusão seja aceite, embora a piedade não esteja relacionada ao assunto
ou à conclusão do argumento. Do argumento ad misericordiam deriva o argumentum ad
infantium - "Faça isso pelas crianças". A emoção é usada para persuadir as pessoas a apoiar (ou
intimidá-las a rejeitar) um argumento com base na emoção, mais do que em evidências ou
razões. Este argumento tem acontecido, com frequência, quando alguns alunos tentam convencer
os seus professores a passá-los de classe, invocando razões comoventes

9. Argumentum ad nauseam (repetição nauseante)

É a aplicação da repetição constante e a crença incorrecta de que, quanto mais se diz algo, mais
correcto isso está.

Ex: Se Joãozinho diz tanto que a sua ex-namorada é muito linda, então ela é.

Espera-se convencer o oponente com a saturação da sua mente pelo argumento.

BIBLIOGRAFIAS
1. AA.VV. A Emergência do Filosofar, 11ª e 12ª Classe, Moçambique Editora, 2003.

2. GEQUE, Eduardo & BIRIATE, Manuel – Pré-Universitário, 12ª Classe, Logman


Moçambique, 1ª Edição, Maputo, 2010.

3. ALVES, Fátima et al, Pensar e Ser – Introdução à Filosofia, 11˚ Ano, Texto Editora, Lisboa,
1997.

4. LOURENÇO, J. Vieira, Do Vivido ao Pensado, 11˚ Ano, Porto Editora.

5. LOURENÇO, J. Vieira, Razão e Sentido – Introdução à Filosofia, 11˚ Ano, Porto Editora,
S/Edição, Porto, S/Ano.

Prof. Job Machaiche/Filosofia/12ª Classe/1 Trim/CK/2023


0
7

Você também pode gostar