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Sun, Tzu. (2006). A Arte Da Guerra: Estratégia Militar - Guerra; L & PM Pocket editores, vol.

207, Tradução de Sueli, Porto Alegre. Brasil.


A Arte da Guerra é uma obra literária do general e pensador chinês Sun Tzu, escrita por volta
da primeira metade do primeiro milénio antes Cristo. A obra influenciou os estrategistas
modernos como Mao Tsé-Tung, na luta contra os japoneses e os chineses naciolistas. Para
além de dar conselhos e ensinamentos de estratégias, tácticas bélicas aplicadas em conflitos
armados, o livro proporciona igualmente, conselhos, didácticas e pedagogias adaptáveis ao
mundo de negócios, oferecendo a administradores, empresários e economistas uma expansão
de conhecimentos na área e tem aplicações em outras áreas da vida social, político, cultural,
académico e ideológico, atingindo deste modo o carácter universal e enciclopédico.
De referir que os filósofos e os reis da Antiguidade clássica distinguiam entre as guerras
correctas das incorrectas. Era moralmente correcto um governante esclarecido atacar uma
nação rústica e obscura, civilizar os escravos, sancionar os que voluntariamente almejavam
manter-se na cegueira, ou sumariamente arrumar um Estado em degradação. Tais sanções, de
acordo com a vontade do Céu, eram executados pelo próprio governante ou por um ministro
por si indicado. Os comandantes das diferentes unidades militares eram elementos da
aristocracia hereditária, reflectindo a graduação na hierarquia militar a posição na sociedade
feudal.
Quando a obra do Sun Tzu surgiu, a estrutura feudal, os seus últimos resquícios de degradação,
já ia sendo substituída por um tipo completamente diferente de sociedade, onde o indivíduo de
talento usufruía de muitas possibilidades. A evolução era gradual, mas verificava-se em todos
os campos, incluindo o militar. A originalidade e o empreendimento traziam recompensas.
Com a constituição de exércitos permanentes, as operações militares deixaram de ser sazonais,
passando por levar a cabo rapidamente e a representar ameaças constantes para os adversários
em potência. O tempo dos bravos e dos guerreiros, cuja farra provinha de proezas individuais,
acabara. Combates singulares, característica própria de todas as sociedades feudais, poderiam
ainda ocorrer aqui e além. Simplesmente, os generais recusavam-se a fazê-lo agora eles
próprios.
O livro está dividido em treze capítulos, onde cada um mostra diferentes tipos de estratégias e
as diversas maneiras de encarar conflitos, enfrentar inimigos, atacar a fraqueza do adversário
evitando a força, além de estratégias, planeamento. Como se pode apreender as ideias de Sun
Tzu, a obra está dedicada não só para o exército, como também promove paradigmas eficientes
e eficazes capazes de responder significativamente, os desafios da pessoa humana que a vida
lhe impõe. Independentemente da vocação de cada um, quanto respeitadas e vividas as
didácticas e as pedagogias de Tzu pode nos levar a superação das dificuldades por nós
encaradas e consequentemente, o alcance do bem – estar no planeta Terra.
No capítulo um aborda-se sobre a necessidade de guerra para a soberania de Estado, nos seus
domínios da vida e da morte. Assemelha-se neste caso, com aquilo que está escrito na bíblia:
“é morrendo que se ressuscita”. O General Tzu faz menção os cinco factores fundamentais, que
são: as regras, tempo (clima), terreno (relevo) e o poder ou autoridade. Estes factores quando
co – substanciados e comparados com os sete factores, como (prudência dos generais, tácticas
dos comandantes, tropas bem sucedidas no campo de batalha, tropas bem treinadas, tropas
sérias e hábeis, tropas e generais preparados, administração e justiça nas sanções e retornos)
garantem o sucesso na batalha, avaliando deste modo, os resultados.
No capítulo dois arrola sobre as estratégias, as condições e os meios necessários para encarar
um conflito armado. Aqui, o autor disse que para se vencer na guerra é da exclusiva
dependência da capacidade de terminar um conflito de forma célere. A flexibilidade aqui é
factor crucial para o sucesso nas operações militares. O autor analisa igualmente, as vantagens
e desvantagens da guerra, numa pespectiva económica, onde disse: para o sucesso da guerra o
Estado deve minimizar os gastos com conflitos armados.
O Sun convida-nos à uma gestão sustentável dos recursos disponíveis em casos de conflitos
armados e nada de se aproveitar da ocasião para agudizar os viveis de vulnerabilidade da
população em termos das carências das necessidades básicas de que ela depende no seu dia-a-
dia para a sua subsistência.

No capítulo três o autor fala da necessidade de separar o poder do governo civil do comando
militar e preocupar-se com a paz, a harmonia e tranquilidade dos cidadãos. Para tal, a
verdadeira força armada de um exército depende da sua concórdia e não do número dos
soldados. Faz ainda, a menção das cinco razões que ditam o sucesso na guerra: ataque,
estratégia, alianças, exército e cidades. Afirma ainda que, o melhor estratega descobre as
tácticas do seu adversário, atacando-o nos seus pontos fracos e estudando-o nos seus pontos
fortes.

Reitera aos generais a capacidade de gestão do tempo, do pessoal e evitar cometer erros e optar
pelo mal menor em circunstâncias extremas e difíceis. O aspecto a ressalvar neste capítulo são
as estratégias a adoptar rumo a vitória, como: ganhar, dominar terras do inimigo sem criar
danos humanos, materiais e ambientais, mas sim sujeita – los a rendição.
A premissa de que a liderança militar no campo não deve estar sujeita à interferência do
governo civil baseia – se na ideia de que a chave para a vitória é o conhecimento profundo da
situação real. Para efeito há necessidade de delinear as cinco razões para determinar qual dos
lados tem possibilidade de prevalecer sobre outro. Como afirma Tzu que quando conhecemos a
nós mesmos e aos outros nunca corremos o perigo; quando conhecemos a nós mesmos, mas
não aos outros, temos cinquenta por cento de possibilidade de vencer, e quando não
conhecemos a nós próprios nem aos outros, estamos em perigo em qualquer batalha.

No quarto capítulo fez – se comparações das estratégias aplicadas pelos generais da


Antiguidade e as estratégias aplicadas pelos generais contemporâneos do Tzu, onde afirma que
a administração, a organização, a coordenação, astúcia, a prudência, a sabedoria e a disciplina
do exército constituem elementos chaves para evitar ataques surpreendentes e directos. Aborda
ainda, sobre as regras militares, que aliadas as manobras militares, analisa – se o perigo de
entrar em conflito directo e os métodos a recorrer para vencer, uma vez que esse tipo de
batalha é imprevisível.

Portanto, o posicionamento estratégico das tropas é imperativo para o sucesso. Para efeito, as
tropas devem, a todo custo defender os lugares estratégicos. Salienta-se ainda que os generais
hábeis vão a batalha com intuito de dominar o inimigo com convicção de que as posições
dominadas estão em protecção. Apela – nos a não dar nenhuma ocasião ao adversário.

No capítulo cinco, o autor tece sobre os pontos fortes e fracos que o exército pode imprimir em
certas circunstâncias. Tzu faz menção das estratégias militares a serem aplicadas pelos generais
e, ou oficiais para vencer o inimigo que são: a criatividade, a motivação, o amor afetivo e a
gestão correcta do tempo. Estas têm em vista ressarcir as forças dos soldados. A capacidade de
liderança dos generais e, ou dos oficiais revitaliza os esforços dos soldados.

No capítulo seis, Tzu expressa sobre a escolha dos locais acessíveis para o combate e o
aperfeiçoamento de tácticas militares. Fala das estratégias a serem empreendidas pelos generais
habilidosos e prudentes. Tanto os pontos fortes (coragem, paciência, precaução, sabedoria,
prudência e disciplina militar), como as fraquezas (as características do relevo, o clima, rios,
vegetação, solos da região), merecem de um estudo profundo para que os soldados saiam
vencedores no conflito. Tzu fala da necessidade de apresentar as fraquezas hipócritas para
enganar e puxar o inimigo para si. Contudo, a boa liderança dos generais, a diversificação de
tácticas e dos métodos é importante.

No sétimo capítulo são arroladas estratagemas militares, sobre as precauções, atenções no


momento em as desconfianças e a insegurança entre os beligerantes são enormes, no que tange
as possibilidades de invasão dos seus territórios. Abordada – se igualmente, aspectos de
unidade, concórdia entre os compatriotas da nação e a necessidade de identificar os terrenos
acessíveis e estudar as possíveis manobras inimigas de forma objectiva e inteligente.

Tzu disse haver necessidade de avaliar o nível de prudência dos generais sem subestimar as
estratégias do inimigo, pois as manobras militares servem para enganar o adversário, logrando
deste modo, as possíveis vantagens. Essas vantagens são co – substanciadas pelo espírito de
liderança dos generais e dos oficiais. O estudo do terreno e das manobras tácticas são
importantes porque evitam surpresas de conflitos directos e profetizam a vitória uma vez que
esse tipo de combate é fatal. Contudo, os princípios da vacuidade e da plenitude também põem
à mostra o mecanismo fundamental dos clássicos princípios yin-yang, sobre os quais os
primeiros se baseiam, o mecanismo da reversão de um para o outro nos extremos.

No capítulo oito está expressa a necessidade de mobilizar o povo para servir de guia de
orientação do exército, o recrutamento militar obrigatório e as nove circunstâncias que estes
passam após o treinamento. São abordadas igualmente, as cinco razões mortíferas que levam a
derrota da prudência e da bravura repetidas vezes. A relevância de conhecer os diversos tipos
de terrenos, de adaptação às condições impostas pela natureza e a capacidade que o exército
tem de escolher os terrenos acessíveis e bons. Torna imprescindível neste capítulo, a
capacidade de conhecer os erros do adversário e induzir a comete – los.
A prontidão não significa apenas preparação material; sem um estado mental apropriado, a
mera força física não é suficiente para garantir a vitória. Mestre Sun define indirectamente as
condições psicológicas do líder vitorioso, enumerando cinco perigos — ter muita disposição
para morrer, ter muita ansiedade de viver, encolerizar-se com muita rapidez, ser puritano ou
sentimental demais.

No capítulo nove, Sun faz menção e explica sobre as quatro situações que leva os militares
habilitados a efectuar os movimentos nos diversos acampamentos. Aborda ainda, sobre as
diferentes posições militares em determinados tipos de terreno do território inimigo, sem
descurar a necessidade de um exército de ser liderado por general que não integra no grupo,
torna – se vitorioso.

Tzu diz: O individualista sem estratégia que considera os adversários com leviandade irá
inevitavelmente tornar – se um cativo. Dirige – os pelas artes da cultura, unifica – os pelas
artes marciais; isto é vitória certa. O sábio Confuciano disse: Os que enviam pessoas a
operações militares sem educa – las as destroem.

No capítulo dez, Tzu expressa a necessidade de dominar a configuração do terreno, de modo a


identificar e conhecer os lugares acessíveis e inacessíveis, vantajosas e desvantajosas para a
realização das manobras militares, antes do combate. Tzu disse que a realização de
movimentos ordenados, ataques certos, defesas antecipadas, acampamentos criteriosos, saídas
e métodos certos, conhecer a sua força e a do adversário e conhecer os acidentes do território.
Conhecer os tipos de terrenos, o inimigo e conhecer quando e como atacar e as vantagens e
desvantagens resulta da tomada dos seis tipos de posições de terreno.

No capítulo onze, o general Sun aborda sobre nove tipos de terrenos a serem encaradas
vantajosa e desvantajosamente pelas tropas. E ensina – nos ainda, a evitar aproveitar o inimigo
em situações vazias. Arrola sobre a contribuição da população nativa no combate aos
invasores, aos que semeiam o infortúnio no seu seio e a identificar o ponto fulcral do general
em cada uma das situações de modo a vencer.

General Sun descreve a táctica apropriada em cada tipo de região. Inclui uma reflexão sobre os
elementos sociais e psicológicos do conflito, na medida em que esses estão presos devido a
acção do ambiente, devendo examinar os seguintes aspectos: adaptação às diferentes regiões,
vantagens da contração e da expansão, padrões de sentimentos humanos e condições”.

O capítulo doze aborda sobre a arte de uso do fogo nos ataques ao inimigo que consiste em
cinco maneiras no combate, variam em função das circunstâncias, o que é necessário para tirar
proveito desse elemento. Além disso são mencionadas respostas adequadas em caso de ataque
com esse e outros elementos. Apela nos a não decidir para agradar os interesses singulares, mas
sim os da nação em geral.
Sun diz: Um governo não deve mobilizar um exército motivado pela raiva, os líderes militares
não devem provocar a guerra movidos pela cólera. Antes, deves agir se for benéfico; caso
contrário, deve desistir. A raiva pode-se transformar em alegria, a cólera pode-se tornar prazer,
mas uma nação destruída não pode ser restaurada para a existência, e os mortos não podem ser
devolvidos à vida.

No capítulo treze e último Sun Tzu explica sobre a importância de espiões como fonte de
informação sobre o inimigo. Descreve as cinco formas inteligências ou de espiões e modos de
gestão dos mesmos espiões. Investe mais no vencimento dos generais e dos oficiais. Fala da
importância dos agentes secretos no exército de um País e da relevância do governo
esclarecido e dos generais dignos para garantir a paz e segurança.

Sun define cinco tipos de espiões, ou agentes secretos. O espião local é contratado dentre a
população de uma região em que as operações são planeadas. Um espião infiltrado é contratado
entre os oficiais de um regime contrário. Um espião reverso é um agente duplo, contratado
dentre espiões inimigos. Um espião morto é o que recebe a missão de levar informações falsas.
Um espião vivo é o que vem e vai com informações.

4. Descrição do conteúdo da obra


Na guerra existem cinco factores essências para o ataque e o convívio entre as tropas do
exército e comandante, o primeiro é seria a influência moral, havendo harmonia entre povo e
seus líderes; o segundo é o tempo que diz a respeito das condições climáticas; em terceiro o
terreno que pode ser de fácil acesso como bem dificultoso; em quarto o comando que é
influenciado pela qualidade do general; e em quinto a disciplina que é o respeito entre as
hierarquias.

O general que obter estes cinco factores pode contar – se vitorioso, além disso, o general
também deve criar situações para realizações de seus planos onde ele terá o comando e o
equilíbrio do grupo. O objectivo na guerra é capturar o Estado inimigo intacto e não arruinado,
sem ter que lutar, fazendo estragos nas estratégias dos inimigos e rompendo alianças entre eles
até mesmo antes de atacar. Sendo que o general deve saber se ele é capaz de ataca – lo, ou se o
exército for fraco perante o inimigo ele deve se retirar.
Sai vitorioso aquele que sabe quando lutar e quando não pode, aquele que sabe usar tanto as
grandes como as pequenas forças, aquele que tem as tropas unidas pelo mesmo propósito,
aquele que é prudente e fica na espera pelo inimigo, aquele que cujos generais são capazes e
não sofrem influências de um soberano. O ideal é conhecer o inimigo e a si mesmo, pois
conhecendo a si mesmo e não o inimigo também há chance de vencer. Um general habilidoso
respeita os ensinamentos e adota o comando e a disciplina de forma total. O general deve saber
mover-se quando vantajoso, promovendo mudanças na situação, espalhando e controlando suas
forças.

O relacionamento de um general com suas tropas é satisfatório quando as ordens são


consistentes, confiáveis e notadas. Um exército prefere terrenos altos e aprecia a luz do sol para
se sair bem em seus confrontos, pois terrenos baixos e muito fechados de vegetação são alvos
para armadilhas. De acordo com sua natureza o terreno pode ser classificado como, acessível,
indeciso, estreito, íngreme e distante. A adaptação ao terreno é o principal aliado do exército na
batalha, onde são valores do general considerar a situação do inimigo e o grau de dificuldade
do terreno como controlar a vitória. Conhecendo o inimigo como conhece a si mesmo, a vitória
nunca estará em perigo, conheça o terreno, conheça o clima, assim a vitória será completa.

Dependendo do território escolha qual acção irá tomar para enfrentar o inimigo, pois uma
acção errada pode acarretar a derrota, sendo o general o escolhedor destas acções. O general só
deve agir se determinada causa for de interesse do Estado, e não lute se não estiver de facto em
perigo. Um governante não tem o direito de arriscar o exército por um mero enfurecimento
com algo, o exército deve ser preservado. O general deve ser justo e delicado para obter a
verdade de seu agente secreto sobre a investigação de possíveis investidas dos inimigos. Neste
contexto, apesar do longo tempo da existência desta obra, a sua lógica mantém – se no actual
cenário com estratégias que parecem ter sido intactas durante este longo período de tempo.

5. Análise Crítica da obra A Arte da Guerra


O verso inicial do clássico de Sun Tzu constitui uma chave para toda a sua filosofia. “A guerra
é uma questão vital para o Estado. Torna – se de grande importância estudá – la com atenção
em todos os seus detalhes”. Aqui, o general Sun Tzu reconhece que luta armada não é uma
aberração transitória, mas sim um acto consciente e periódico, susceptível de análise racional.
Ele acreditava que a força moral e as faculdades intelectuais do homem eram cruciais na
guerra, se estas forem correctamente aplicadas, a guerra seria levada a cabo com sucesso e
nunca ser efectuada de forma impensada ou violenta e sempre precedida por medidas que
tornassem fácil a vitória.

O grande vencedor frustrava os planos do seu inimigo e rompia as suas alianças. Abria
clivagens entre o governante e os seus ministros, entre os comandantes e os comandados, entre
superiores e inferiores. Os seus espiões e agentes estariam activos em todo o lado, recolhendo
informações, plantando discórdia e nutrindo a subversão. O inimigo devia ser isolado e
desmoralizado, a sua força de resistência quebrada. Só assim, e sem qualquer batalha, os seus
exércitos seriam vencidos, as suas cidades tomadas e o seu Estado derrubado. Quando o
adversário não pudesse ser dominado por aqueles meios recorria à força armada, a ser utilizada
para a vitória com objectivo único: em curto espaço de tempo possível; com o mínimo de perda
de vidas e esforços possíveis e com o mínimo possível de baixas causadas ao inimigo.

A unidade nacional era para Sun Tzu uma condição essencial para a guerra. Isso podia ser
conseguido graças a um governo comprometido com o bem – estar do seu povo, e não à sua
opressão. Maquiavel estava certo ao afirmar que as teorias de Sun Tzu se apoiavam na
“benevolência e rectidão”.

Fazendo conexão a guerra na perspectiva política, às alianças, a sua inexistência, à unidade e


estabilidade interna e ao moral do exército próprio, em contraste com a falta de união dos
adversários, Sun Tzu procurou estabelecer uma base real para o cálculo racional das forças em
confronto. A sua compreensão quanto à intervenção na guerra de componentes psicológicas,
morais, físicos e circunstanciais revela enorme agudeza. Pez embora Sun Tzu não tivesse sido
o primeiro a perceber que a força armada é o último dos árbitros nos conflitos entre Estados,
sendo o primeiro a dar a real entrechoque físico. Ele sabia dos efeitos da guerra na economia.
As suas referências a preços inflacionados, valores desperdiçados, limitações de
abastecimentos e as inevitáveis sobrecargas impostas ao povo demonstram o seu conhecimento
quanto à importância desses factores, que até bem recentemente foram negligenciados.
As ideias acima podem ser comparadas com a questão dos insurgentes que se instalaram na
região norte de Cabo Delgado. Se o governo fosse mais interventivo logo a priori, talvez teria
se ultrapassado ou os tais insurgentes talvez teriam revelado do que reivindicam e celebrava-se
um pacto com o governo para evitar o pior que actualmente, nos é revelado: danos humanos e
materiais, violência contra as mulheres e crianças que nada sabem do porquê de toda essa tanta
barbaridade.
Tzu distinguia perfeitamente entre o que hoje definiríamos como “estratégia nacional” e
“estratégia militar”. Tal é evidenciado na sua dissertação sobre o cálculo das forças a enfrentar
– se, no capítulo 1 (um), onde faz menção cinco assuntos a serem ponderados nos
ensinamentos: os humanos (o moral e o comando), os físicos (o terreno e o clima) e os
doutrinários. Com a superioridade desses pontos encarregava – se o conselho para aferir que os
efectivos militares não eram decisivos, mas sim a qualidade das tropas, disciplina, equidade na
administração, recompensas, castigos e preparação.

Por fim, o vetusto escritor afirma não lhe parecer dever ser o objcetivo de acções militares o
aniquilamento do exército inimigo, a destruição das suas cidades e o devastamento do seu
território. Sun Tzu acrescenta dedica ainda uma mensagem aos governantes, dizendo que “As
armas são sempre motivo de maus pressentimentos, utilize – as apenas quando não houver
outra alternativa”.

Ao nível estratégico e militar

E mais: não tivesse a viúva de Clausewitz feito publicar o 'Da Guerra', na década de 1830, tão
pobremente interpretado em seu conceito do 'forte contra o forte do inimigo' e tão
distorcidamente exaltado com base nas campanhas vitoriosas e a manobra política e estratégica
indireta proposta por Sun teria preponderado no século XIX e se projectado no século XX, com
grande probabilidade de haver impedido as desgraças de 1870, 1914 e 1939.

O Ocidente somente se deu conta desse desnorteamento de rumo, quando as potências


terrestres da Eurásia (Ásia e Europa) lhe mostraram, após a II Guerra Mundial, que liam
Clausewitz de maneira inversa e que adoptavam os princípios de Sun Tzu como dogmas. A
política era a continuação da guerra e a estratégia para sua execução deveria ser indirecta.
Stalin, Kruschev e Mao foram mestres de péssimos alunos ocidentais.
No Oeste, as únicas vozes de peso que se levantaram, advertindo para o erro, foram,
inicialmente, os bons na Estratégia Operacional, e, mais tarde, André, na Estratégia Nacional.
Na visão de Sun Tzu, o exército era o instrumento que desfechava o combate de graça em um
inimigo já tornado vulnerável.

Antes do início das hostilidades, agentes secretos cuidavam de romper as alianças do inimigo e
realizavam diversas actividades subversivas. Suas missões compreendiam espalhar falsos
rumores e informações enganosas, corromper e subverter oficiais, criar e aumentar a discórdia
interna e sustentar quintas – colunas.

Enquanto isso, os espiões, actuando em todos os níveis, informavam sobre a situação do


inimigo. Os planos de vitória são baseados em seus relatórios. Assim prossegue o ex-
comandante do Exército Vermelho, em uma notável paráfrase de Tzu: “o exército vitorioso
ataca urn inimigo desmoralizado e derrotado”.

Nesta perspectiva, a arte da guerra tem exercido profunda influência ao longo de toda a história
da China e no pensamento militar dos países do mundo inteiro. Pois constitui a fonte das
teorias estratégicas de Mao Tsé – Tung e da doutrina táctica dos exércitos chineses. Por meio
dos mongóis1 – tártaros2, as ideias de Tzu foram transmitidas à Rússia e tornaram – se parte
substancial da herança oriental. Assim, a obra é leitura obrigatória aos que pretendem obter um
entendimento mais aprofundado da notável estratégia desses dois países nos dias de hoje.

Ao nível histórico

A Arte da Guerra foi escrito no período dos Estados Beligerantes da antiga China, que durou
do quinto ao terceiro século a.C. Constituiu uma época de prolongada desintegração da dinastia
Chou3, que fora fundada há mais de quinhentos anos pelos sábios políticos que escreveram o I
Ching4.
O colapso da antiga ordem foi marcado pela destabilização das relações entre os Estados e pelo
estado de guerra interminável entre os aspirantes à hegemonia em meio aos padrões de aliança
e oposição sempre em mudança. As estratégias dos estados bélicos é uma colecção clássica de
histórias sobre as políticas e militares dos estados feudais desse tempo, nos oferece uma
descrição gráfica do período dos Estados bélicos.

1
São povos que habitavam nas planícies ao Sul do Lago Baikal, na actual Mongolia. No seu auge, o império
alcançava terras na Coreia, através da Asia, entrando pela Rússia até a Costa do mar Báltico. Vieram até no oeste
da China capturando Bukhara, cidade comercial, matando todos os seus habitantes. Após a morte de Genghis
Khan em 1227, ascende no poder seu filho Ogedei e completou a conquista da China, seguindo para Europa, onde
destruiu Kiev e avançou para a Hungria em 1240. Matoso, (1945:p.267)
2
É um grupo étnico que habitavam originalmente no nordeste do deserto de Gobi, no século V e, apos
dominarem, durante o século IX, os citanos migraram para o sul. (ibdem)
3
Constitui uma das primeiras dinastias chinesas que teve seu início com a queda da dinastia Xangue, no final dos
século X ou IX a.C., e seu término com a ascensão da disnatia Chim em 256 a.C. Matoso., (1960:p.291).
4
O I – Ching é um oráculo baseado no livro das mutações que criado há 3 mil anos na China. Ele oferece
orientações para a tomada de decisões. Matoso, (1960:p.296).
Usurpadores se proclamam senhores e reis, estados governados por pretendentes e
conspiradores reforçam seus exércitos para se tornarem superpotências. No fim, enfrentaram –
se e destruíram-se uns aos outros, conspirando com territórios maiores e anexando territórios
menores, passando anos em operações militares violentas, enchendo os campos com
morticínio.

Pais e filhos não estavam próximos uns dos outros, irmãos não estavam seguros uns com os
outros, maridos e mulheres se separavam — ninguém podia responder por sua vida. A virtude
desapareceu. Nos anos posteriores, isto se tornou cada vez mais extremado, com sete grandes
Estados e cinco pequenos Estados lutando uns contra os outros pelo poder, Matoso,
(1960:p.227). Em geral, isso acontecia porque os estados bélicos eram vergonhosamente
gananciosos, lutando insaciavelmente para desenvolver-se.

Muitas pessoas da época deram ouvidos ao humanismo pacifista. Alguns dizem que isso
ocorreu porque não podiam implementar as políticas propostas pelos antigos pensadores;
outros dizem que não podiam implementar as políticas porque não prestavam atenção e não
queriam ser humanistas e justos.

Por outro lado, os que ouviam as doutrinas humanistas pacifista de Lao-tzu e Chuang-Tzu em
geral se escondiam e trabalhavam sobre o problema por ângulos diversos. Lao-Tzu e Chuang-
Tzu mostram que o homem agressivo parece cruel, mas na verdade é um tipo emocional; então,
eles assassinam o emocional com real crueldade antes de revelar a natureza espontânea da
humanidade livre.

Na óptica destes dois pensadores Lao-Tzu e Chuang-Tzu, António, líder da disnatia dos
Antoninos traz uma ideia contrária ao dizer: "devolve a paz, assegurando deste modo, a
prosperidade no império romano devido a sua honestidade, seriedade, sagacidade e caracter,
dedica aos governantes dizendo: converta-te simples, honesto, puro, grave amigo da justiça,
piedoso, benévolo, afetuoso, firme no cumprimento dos seus deveres. Luta para seres tal como
a filosofia te formou… os únicos frutos que podemos tirar da existência terrestre são as santas
disposições e as ações inspiradas pelo bem social. Mostra-te, em tudo, discípulo de Antonino.
Imita a sua constância nas empresas bem calculadas, a sua igualdade de alma em todas as
ocasiões, a sua piedade, a serenidade do seu rosto, a sua doçura, a sua indiferença pela gloria, o
seu ardor em bem dirigir os negócios públicos", Matoso, (1960:pp.235-236).
Os antigos mestres taoistas (via, caminho princípio supremo de tudo que existe no céu, na terra
e na humanidade) mostram como a crueldade real, a frieza da objectividade plena, sempre
inclui a pessoa em sua avaliação incisiva da situação. O Buda histórico, um contemporâneo de
Confúcio, ele próprio descendente de um clã de guerreiros no tempo em que esta casta estava
consolidando seu domínio político, disse que o conflito cessaria se fôssemos conscientes de
nossa própria morte, Aurélio, (1925:p.47).

Esta é a impiedade de Lao-Tzu quando ele diz que o universo é desumano e o sábio vê o povo
como cães de palha usados para sacrifícios rituais. Chuang-Tzu também apresenta diversos
exemplos dramáticos de impiedade com relação a si mesmo como um exercício em perspectiva
destinado a levar à cessação do conflito interno e externo.

Essa "desumanidade" não é utilizada pelos filósofos originais como uma justificativa para uma
agressão do poder de forma cruel, mas como uma meditação sobre a falta de sentido último da
cobiça e da posse que subjazem à agressão. Na índia, os aspirantes budistas visitavam locais de
cremação e contemplavam os cadáveres em decomposição daqueles cujas famílias não
dispunham de recursos para uma cerimónia de cremação. Faziam isso para eliminar a cobiça e
a posse dentro de si mesmos. Depois, voltavam o pensamento para pessoas e sociedades ideais.

Deste modo, Sun Tzu sugere que os leitores contemplem a devastação provocada pela guerra,
desde as fases iniciais de traição e alienação até as formas extremas de ataque incendiário e
assédio, vista como uma espécie de canibalismo em massa dos recursos humanos e naturais.
Ele fornece ainda ao leitor um sentimento mais ampliado para o significado das virtudes
individuais e sociais cuidadas pelos pacíficos e humanistas.

Deste modo, é natural que se pense sobre a linha taoísta de A Arte da Guerra não como um
elemento cultural casual, mas como uma chave para a compreensão do texto em todos os seus
níveis. Pela natureza de sua temática manifesta, A Arte da Guerra exigia a atenção das pessoas
que tinham menos possibilidades de compreender os ensinamentos pacificos dos humanistas
clássicos. Para Aurélio, M. (1997:p.51) afirma que, "o I Ching preservou certas ideias
filosóficas ao longo de toda espécie de mudança política e social pela sua popularidade como
oráculo e como livro de conselhos, assim A Arte da Guerra conservou o âmago da filosofia
prática taoísta da destruição pela sua oposição".
Muitas vezes se pensa que a contradição é um instrumento padrão da psicologia taoísta,
utilizado para transpor barreiras não entendidas de consciência. Talvez o paradoxo de A Arte
da Guerra esteja na sua oposição à guerra. E como A Arte da Guerra guerreia contra a guerra,
assim o faz por seus próprios princípios; ela se infiltra nas linhas inimigas, revela os segredos
do inimigo e muda o coração das tropas adversárias.

A Arte da Guerra recomenda-se a leitura dos profissionais do corpo de fuzileiros navais e por
todos os outros funcionários da inteligência militar de todos os países.

6. Recomendações

Por outro lado, hoje o maior inimigo da humanidade não pode ser visto, nem tocado, como um
vírus. Então como iremos lutar, vigiar, atear fogo ou se infiltrar em algo que não podemos ver
ou tocar? Por fim, o recado que Sun Tzu deixa é que, devemos estar sempre preparados para
qualquer batalha, mesmo quando não a desejamos, o que assinala a importância de sempre
usarmos características competitivas mesmo que nossa meta não seja a eliminação de um
adversário.

A obra tem por objetivo prestar conselhos e ensinamentos de estratégias usadas em guerras,
mas que são perfeitamente adaptáveis ao mundo dos negócios, oferecendo a administradores,
empresários e economistas uma expansão de conhecimento na área. Assim se tratando de
estratégias fundamentadas pelo maior general que já existiu na arte militar, seguramente
ampliam as possibilidades de sucesso.

7. Identificação do autor da obra


Sun Tzu, filósofo – estrategista, foi um general chinês que viveu de 544 a 496 a.C., o homem
mais versado que já existiu na arte militar. No comando do exército real de Wu, acumulou
inúmeras vitórias, derrotando exércitos inimigos e capturando seus comandantes. Foi um
profundo conhecedor das manobras militares e escreveu A Arte da Guerra, ensinando
estratégias de combate e tácticas de guerra.

Por.
António Tomás, Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica de
Moçambique, actual Uni – Rovuma, Delegação de Nampula.
Email: at9523058@gmail.com ou tomasinho2017@hotmail.com
Referências bibliográficas

1. Aurélio, M. (1997), Historia Universal, 5º Ano, Lisboa.

2. Matoso. A. G. (1960). Compêndio de Historia Universal, 3º ano, Livraria da Sá da

Costa, Lisboa.

3. Tzu. S. (2006). A Arte Da Guerra: Estratégia Militar - Guerra; L & PM Pocket editores,

vol. 207, Tradução de Sueli, Porto Alegre. Brasil.

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