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EB20-MF-03.

106

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

Manual de Fundamentos

ESTRATÉGIA

5ª Edição
2020
EB20-MF-03.106

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

Manual de Fundamentos

ESTRATÉGIA

5ª Edição
2020
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

PORTARIA Nº 187-EME, DE 11 DE AGOSTO DE 2020


EB: 64535032933/2020-62

Aprova o Manual de Fundamentos


ESTRATÉGIA (EB20-MF-03.106), 5ª Edição,
2020.

O CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, no uso das atribuições que lhe conferem o


inciso I do art. 3º do Regimento Interno e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das
Funções de Confiança do Comando do Exército (EB10-RI-09.001), aprovado pela Portaria do
Comandante do Exército nº 127, de 21 de fevereiro de 2017, o inciso XI do art. 4º do Regulamento do
Estado-Maior do Exército, aprovado pela Portaria do Comandante do Exército nº 1.053, de 11 de
julho de 2018, e o art. 44 das Instruções Gerais para as Publicações Padronizadas do Exército (EB10-
IG-01.002), 1a Edição, 2011, aprovadas pela Portaria do Comandante do Exército nº 770, de 7 de
dezembro de 2011, resolve:
Art. 1º Fica aprovado o Manual de Fundamentos ESTRATÉGIA (EB20-MF-03.106), 5ª
Edição, 2020, que com esta baixa.
Art. 2º Fica revogada a Portaria nº 141-EME, de 23 de dezembro de 2004.
Art. 3º Esta Portaria entra em vigor em 1º de setembro de 2020.

Gen Ex MARCOS ANTONIO AMARO DOS SANTOS


Chefe do Estado-Maior do Exército
FOLHA REGISTRO DE MODIFICAÇÕES (FRM)

NÚMERO DE ATO DE PÁGINAS


DATA
ORDEM APROVAÇÃO AFETADAS
ÍNDICE DOS ASSUNTOS

Pag

PREFÁCIO
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1 Finalidade................................................................................................................ 1-1
1.2 Considerações Iniciais............................................................................................ 1-1
1.3 Histórico.................................................................................................................. 1-1
1.4 Relações entre Poder, Política, Estratégia e Tática................................................ 1-6
CAPÍTULO II – CONCEITUAÇÃO DE ESTRATÉGIA
2.1 Considerações Gerais............................................................................................. 2-1
2.2 Conceitos Básicos................................................................................................... 2-1
2.3 Estratégia................................................................................................................ 2-3
2.4 Estratégia Nacional................................................................................................. 2-9
CAPÍTULO III - O CONFLITO E SUA RESOLUÇÃO
3.1 Considerações Gerais............................................................................................. 3-1
3.2 O Conflito................................................................................................................ 3-1
3.3 Solução dos Conflitos............................................................................................. 3-2
3.4 A Crise e sua Manobra........................................................................................... 3-3
3.5 A Guerra / Conflito Armado..................................................................................... 3-9
CAPÍTULO IV – ESTRATÉGIA MILITAR
4.1 Considerações Gerais............................................................................................. 4-1
4.2 Conceitos Básicos................................................................................................... 4-1
4.3 Estratégia Militar...................................................................................................... 4-3
4.4 Princípios de Guerra............................................................................................... 4-6
4.5 Concepção da Ação Militar..................................................................................... 4-11

4.6 Concepção da Ação Não Militar.............................................................................. 4-11

CAPÍTULO V – A ESTRATÉGIA NO NÍVEL OPERACIONAL


5.1 Operações Conjuntas, Combinadas, de Cooperação e Coordenação com Agências e
Interaliadas................................................................................................................... 5-1

5.2 O Nível Operacional de Planejamento.................................................................... 5-2

5.3 As Batalhas............................................................................................................. 5-10

CAPÍTULO VI – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR


6-1
6.1 Considerações Gerais.............................................................................................
6-2
6.2 Planejamento Estratégico Militar.............................................................................
6-3
6.3 Planejamento da Defesa Nacional..........................................................................
6-3
6.4 Sistemática de Planejamento Estratégico Militar (SPEM).......................................
6-7
6.5 Planejamento Estratégico do Exército....................................................................
ANEXO A – Modelo para Elaboração de Estudo Estratégico de Área
- Apêndice 1 ao Anexo A – Levantamento Estratégico de Área - Memento
- Apêndice 2 ao Anexo A – Avaliação Estratégica de Área Operacional - Memento
- Apêndice 3 ao Anexo A – Avaliação Estratégica de Área Operacional para Defesa Territorial (Def
Ter) e Garantia da Lei e da Ordem (GLO) - Memento

ANEXO B – Modelo para a Condução de Manobra de Crise (Nível Político-Estratégico)


PREFÁCIO

O presente manual não tem por escopo ser um tratado de Estratégia. Seu propósito
é, antes, servir de orientação para o estudo e a aplicação dessa arte-ciência no âmbito do
Exército Brasileiro.
Assim, para cumprir sua finalidade, encontra-se desenvolvido em capítulos que
abordam os tópicos de interesse mais imediato para o trato da Estratégia no âmbito
mencionado, partindo de considerações mais amplas para enfoques mais específicos.
Cumpre ressaltar a existência dos Anexos "A" e "B", que abordam,
respectivamente, Estudo Estratégico de Área e Modelo para Condução da Manobra de
Crise.

ESTE M@NU@L FOI REVIS@DO COM B@SE


EM @NTEPROJETO @PRESENT@DO PEL@ ECEME
CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1 FINALIDADE

1.1.1 O presente manual tem por finalidade servir de orientação para o estudo e a
aplicação da Estratégia no âmbito do Exército Brasileiro, consideradas as prescrições
estabelecidas pelo Ministério da Defesa.

1.2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.2.1 Todo fato ou fenômeno deve ser analisado à luz da conjuntura em que
ocorreu ou ocorre, sendo este aspecto de fundamental importância no estudo da
Estratégia.

1.2.2 Tendo em vista facilitar o entendimento das considerações e dos conceitos


que serão abordados neste manual, é também oportuno que se ressalte a
necessidade de atentar para o cenário conjuntural que estiver em pauta. A avaliação
da conjuntura em cada época deverá ser consultada em documento específico
expedido pelo Estado-Maior do Exército ou em outras fontes oficiais.

1.2.3 Outro aspecto significativo para quem trabalha com Estratégia é a imposição
de se analisar todas as faces e todas as versões disponíveis sobre determinado fato
ou uma conjuntura. Não se deve tomar como "verdade absoluta" ou como "a versão
correta" apenas uma das considerações sobre um evento. É preciso ponderar, ouvir
ou conhecer outras opiniões, ainda que contrárias aos próprios valores do analista,
para se chegar a uma versão a mais exata e imparcial possível. Nessa tarefa, é
imprescindível observar tendências, identificar variáveis relevantes, verificar os
protagonistas do problema e os interesses em jogo.

1.2.4 Atualmente, uma das técnicas mais utilizadas, senão a mais utilizada, por
analistas e planejadores estratégicos é a técnica dos cenários prospectivos, que
adota diversas metodologias. Mas, o importante a se considerar é que cenários não
devem ser entendidos como projeções de futuro e, sim, como possibilidades no
futuro, com base em tendências no presente.

1.3 HISTÓRICO

1.3.1 Etimologicamente, o termo "estratégia" originou-se, na Grécia Antiga, a partir do


que se convencionou denominar de “arte do estratego” (strátegos), militar responsável
por conduzir e desdobrar os exércitos (stratou) em campanhas. Por extensão, o termo
passou a ser considerado como a “arte do general”, conceito eminentemente militar que
perdurou por longo tempo.

1-1
1.3.2 Na Idade Antiga, mais especificamente em seu período Clássico, a Grécia é
reconhecida como primeiro referencial para o estudo da História Militar e, por
conseguinte, da arte da guerra. Nesse mister, os gregos legaram lições de uma
espécie de "estratégia indireta", posto que não demonstravam maior preocupação
em destruir os povos vencidos e, sim, em assimilá-los culturalmente ou torná-los
associados comerciais.
Já os romanos, buscavam a conquista de territórios (ampliação do Império) e a
destruição dos adversários, valendo-se da estratégia direta, caracterizada pelo
emprego efetivo das legiões militares.
Do Extremo Oriente, herdaram-se os princípios da estratégia indireta de Sun Tzu
(Sun Zi), general chinês autor da conhecida obra "A Arte da Guerra", elaborada
cerca de quatro séculos antes da Era Cristã. Em seu pensamento, já se vislumbra o
relacionamento estreito que deve existir entre o poder civil (o Estado) e o poder
militar, ressaltando a "disciplina do general em relação ao soberano", embora as
coisas da guerra devessem permanecer com os chefes militares. Ao salientar que o
Estado deve ser forte, acena com a ideia de que ele disponha de capacidade
dissuasória para sua sobrevivência.

1.3.2.1 Durante a Idade Média (476 a 1453), seu primeiro período — denominado
Barbarismo — não apresentou contribuição significativa para a arte da guerra, a não
ser a "estratégia direta" de Carlos Magno, ao empregar maciçamente seu aparato
militar nas conquistas de expansão do seu império. Já no segundo período — o
Feudalismo —, que vigorou na Europa desde o século X até o final dessa época
histórica, prevaleciam nesse Continente os "exércitos" compostos por hostes que, sob
nomes distintos, os senhores feudais eram obrigados a manter disponíveis para atender
a solicitações dos soberanos. Por outro lado, na Ásia e no Oriente Próximo, Gengis
Khan realizou intensiva campanha militar numa arrancada destruidora jamais vista até
então e prosseguida por seu filho e sucessor —Ogatai—- e por seu neto, Kublai Khan.
As ações eram caracterizadas pelo ímpeto na impulsão e pela violência nos combates.

1.3.2.2 A Idade Moderna (1453 a 1789) caracterizou-se como a época das grandes
invenções, dos descobrimentos marítimos, da Renascença, da Reforma Religiosa,
das guerras "santas", da Independência dos Estados Unidos e da Revolução
Francesa. A estratégia que predominou, ainda restrita à área militar, foi a indireta.
Isso, porque os monarcas evitavam lançar-se em combates francos, preferindo os
longos movimentos e os cercos, posto que os exércitos (de mercenários) eram
pequenos e caros. Nesse período histórico, é interessante destacar a contribuição
de Nicolau Maquiavel (1469-1527), que escreveu inúmeros trabalhos de natureza
política, com destaque para "O Príncipe". O pensamento político-estratégico de
Maquiavel pode ser sintetizado em quatro premissas básicas:
- fortalecimento do Estado;
- definição clara de objetivos;
- aplicação violenta e inescrupulosa dos meios; e
- aplicação dos meios subordinada à vontade do Estado(Soberano).
É na forma de aplicar os meios que Maquiavel se caracteriza como estrategista
implacável ao afirmar que "um príncipe deve ser raposa para conhecer os laços e
armadilhas e leão para aterrorizar os lobos" ou "em política, se devem ter mais em
conta os resultados em si do que a maneira pela qual eles foram obtidos" ou, ainda,
"é a vitória e não o método de lográ-la que confere glória ao vencedor". Sem colocar
ética e moral em primeiro plano, Maquiavel preconizava o ajustamento permanente

1-2
entre a ação desenvolvida e os desígnios do Estado, fazendo da estratégia o
instrumento da política para se atingir o fim por esta proposto.

1.3.2.3 Na Idade Contemporânea, começaram a surgir os exércitos nacionais. O


povo passou a ter alguma participação na guerra e a defesa despontou como motivo
de preocupação nacional. Não era mais a retirada em relação ao inimigo que faria
sentido, mas, ao contrário, o avanço para sua destruição, enfatizando-se a
estratégia direta. As guerras passaram a ter objetivos políticos do Estado. As
campanhas de Napoleão Bonaparte ilustram bem essa conjuntura.
Nesse período, tiveram repercussão as ideias do militar-filósofo prussiano Carl Von
Clausewitz (1780-1831), estudioso da natureza da guerra, consolidadas em sua obra
(inacabada) "Da Guerra". Para Clausewitz, a guerra é um instrumento da política e,
como tal, deve a esta estar subordinada e, portanto, ser conduzida ("a guerra é a
continuação da política por outros meios"). O pensamento político-estratégico de
Clausewitz serviu de referência para a formulação de estratégias de estado e de
governo. Com base em sua "tríade estratégica" — governo, forças armadas e povo —
o governo estabelece o objetivo político da guerra, as forças armadas propiciam os
meios para se alcançar tal objetivo, e o povo proporciona a vontade nacional —
motor da guerra. Outro enfoque estratégico legado por Clausewitz é a ideia de
centro de gravidade: — "o propósito da guerra deveria ser aquele que o seu próprio
conceito encerra: derrotar o inimigo". Entretanto, para derrotá-lo pode não ser
necessário destruí-lo. O que é preciso é quebrar sua vontade de lutar. Para tanto,
deve-se ter em mente as características dominantes de ambos os beligerantes. A
partir dessas características, desenvolve-se um certo centro de gravidade, eixo de
poder que, se combalido, retira ao inimigo a capacidade de permanecer lutando.
"Esse é o ponto contra o qual as nossas energias deveriam ser dirigidas”. Além de
Clausewitz, também se notabilizou no século XIX, pelos estudos estratégicos da
guerra, Antoine Henri Jomini (1779-1869), que desenvolveu uma sistematização dos
conflitos armados em três níveis: estratégico, operacional e logístico.
Enquanto Clausewitz preocupou-se mais com os aspectos político-filosóficos da
guerra e suas relações de causa e efeito ("pensar a guerra"), Jomini, prático e
objetivo, dedicou-se mais ao "fazer a guerra". No que se refere à política em relação
à guerra, ele afirma que cabe ao estadista estabelecer o objetivo da guerra. Do
estudo das campanhas de Napoleão, Jomini concluiu que a concentração de forças
no ponto decisivo, visando à batalha principal, constitui o foco da estratégia e das
manobras táticas. Jomini estuda também a logística, entendida à época como a "arte
prática de movimentar os exércitos". Para ele, "a estratégia decide onde agir, a
logística leva a tropa a este ponto e a grande tática decide o modo de execução e o
emprego das tropas".
No contexto sul-americano, destaca-se a figura do Duque de Caxias, que,
possuidor de invulgar visão estratégica, se sagrou como o “Pacificador” de várias
querelas internas ocorridas no Império brasileiro e como arquiteto da vitória das
forças aliadas na Guerra da Tríplice Aliança, conduzida contra as tropas paraguaias
de Solano López.
A Revolução Industrial, no século XIX, constituiu fator básico da evolução da arte
da guerra, provocando aprofundados estudos a respeito do envolvimento dos
Estados em conflitos armados.
A Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861-1865) demonstrou a
necessidade de se evitar os ataques frontais diante do armamento moderno que
passava a imperar nos campos de batalha. Passou-se, assim, a se valorizar os
1-3
ataques de flanco e de surpresa, dando nova conotação à estratégia militar. Os
combates no interior de florestas, exigindo táticas e técnicas especiais, começaram
a se desenvolver em larga escala. Nas operações ao longo do Rio Mississipi e de
seus afluentes, destacaram-se as operações ribeirinhas, em que forças navais
apoiaram forças terrestres, aflorando um primeiro exemplo de operações conjuntas.
A Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) evidenciou a necessidade de um
planejamento meticuloso no campo estratégico, particularmente em decorrência dos
novos meios de transporte (ferrovias) à disposição. As armas, ainda mais modernas,
estabeleceram a supremacia do fogo no campo de batalha, impondo a dispersão
das tropas em detrimento da concentração antes adotada. Dessas condições,
surgiram ensinamentos estratégicos como:
- forças militares permanentes e organizadas são indispensáveis a uma nação;
- tais forças devem responder às exigências da política que a nação adotar; e
- o emprego das forças deve ser regulado desde o tempo de paz.
Um dos estudiosos da guerra que despontaram no século XX foi Basil Henry
Liddell Hart (1895-1970), que preconizava a "ação indireta" como a melhor forma de
concepção estratégica, seja no âmbito da estratégia nacional seja no da estratégia
militar. Dentre outros motivos, argumentava com a inviabilidade do emprego dos
engenhos atômicos, que teria resultados catastróficos, advindo daí a impossibilidade
de usá-los e a necessidade da estratégia indireta. Ainda compondo sua visão
estratégica, a Estratégia seria um conceito voltado para o preparo e o emprego do
poder nacional, com ênfase na expressão militar. Enfatizava que a condução da
guerra deveria considerar a situação da paz que se deseja. Em termos de estratégia
militar, ele ressaltava as seguintes máximas:
- ajuste seus fins aos seus meios;
- escolha a linha de ação menos provável (do ponto de vista inimigo);
- explore a frente de menor resistência, enquanto ela conduzir a qualquer objetivo
que possa contribuir para a obtenção do fim colimado;
- adote uma linha de ação que possa conduzir a objetivos diferentes;
- assegure-se de que seu plano e seus dispositivos sejam flexíveis e adaptáveis à
situação;
- não empenhe o grosso de suas forças quando o inimigo estiver em boa situação
para contê-lo;
- não repita, na mesma direção ou da mesma forma, um ataque que tenha
fracassado anteriormente.
André Beaufre (1902-1975), militar fundador do Instituto Francês de Estudos
Estratégicos, apresentou também relevante contribuição para a evolução da arte
estratégica, consolidada na trilogia: "Introdução à Estratégia", "Dissuasão e
Estratégia" e "Estratégia e Ação". Beaufre argumenta que a estratégia engloba,
invariavelmente, as expressões política, econômica, psicossocial, militar e
diplomática, qualificando-a como "estratégia total". Ressalta a importância da
liberdade de ação, que resulta da conjuntura internacional e constitui elemento de
capital importância da estratégia, particularmente após o advento da ameaça
nuclear. Segundo este estudioso, todas as possíveis ações estratégicas, resultantes
da elaboração de planejamentos estratégicos, podem ser enquadradas em um dos
modelos apresentados no seguinte quadro:

LIBERDADE DE
MODELO MEIOS OBJETIVOS AÇÃO ESTRATÉGIAS

Ameaça Direta (Dissuasão) Muito Modestos Adequada, apoiada Direta

1-4
potentes na ameaça nuclear

Pressão Indireta (Ações


políticas, econômicas ou Insuficientes Modestos Reduzida Indireta
diplomáticas)

Ações Sucessivas Reduzidos Importantes Reduzida Direta ou Indireta

Conflito Prolongado (baixa


Escassos Importantes Grande Indireta
intensidade)

Conflito Violento Potentes Importantes Adequada Direta

Tabela 1-1 - Modelos de ações estratégicas

Em síntese, para Beaufre, a estratégia direta é a preconizada por Clausewitz e a


indireta é a que busca a capitulação moral ou psicológica do adversário, sempre
com a permanente busca da liberdade de ação.
Quanto aos modelos acima apresentados, a ameaça direta vem a ser a dissuasão
nuclear; a pressão indireta baseia-se nas estratégias de Hitler e nas soviéticas; as ações
sucessivas são baseadas em Liddell Hart (aproximação indireta); o conflito prolongado é o
que melhor responde às guerras de libertação, com base no pensamento de Mao Tsé-
Tung; e o conflito violento corresponde à estratégia clássica napoleônica, teorizada por
Clausewitz.
Outra expansão verificada no desenvolvimento da estratégia ao longo dos tempos
assenta-se na concepção do líder chinês Mao Tsé-Tung (1893-1977) ao enfatizar a
importância da expressão psicossocial.

"O fator psicológico é o que provavelmente distingue a guerra


revolucionária da convencional. Nesta, tem grande importância
a conquista do território. Na guerra subversiva, não se trata do
domínio físico do terreno; o objetivo é outro e consiste,
essencialmente, na conquista da população; o fim perseguido é
a sua conquista psicológica, a apropriação de sua mente".

Sobre a guerra, ele enfatiza em sua doutrina:

"A guerra de guerrilhas tem aspectos e objetivos peculiares. É


uma arma que uma nação, inferior em armamento e
equipamentos militares, pode empregar contra outra mais
poderosa. À medida que as hostilidades avançam, as forças de
guerrilha se convertem, gradualmente, em forças regulares,
que operam coordenadamente com outras unidades do
exército regular".

1.3.2.4 A par da conotação eminentemente militar ressaltada na presente síntese


histórica, pode-se notar que o campo de ação da Estratégia estendeu-se também
aos períodos de paz, ou seja, as nações passaram a adotar o enfoque estratégico
nas relações internacionais e no planejamento governamental, ultrapassando o
campo eminentemente da defesa e passando a ser empregado também nas atividades
relacionadas com o desenvolvimento nacional. Particularmente nos anos subsequentes à II

1-5
Guerra Mundial, o vocábulo adquiriu amplo e diversificado uso, quando atingiu a totalidade
das atividades sociais, principalmente na área administrativa, e popularizou-se com
significado totalmente diferente do original (condução de forças no campo de batalha).

1.3.2.5 Em decorrência, o campo semântico da Estratégia ampliou-se de tal forma


que a palavra passou a necessitar de adjetivação. Surgiram, então, a “grande
estratégia” na Inglaterra, a “estratégia total” na França, e a “estratégia nacional” nos
EUA e no Brasil, como expressões que passaram a caracterizar uma estratégia mais
ampla, que coordena todo o esforço da nação e subordina a “arte do general” à
política, para vencer a guerra. A estratégia foi igualmente acrescida do adjetivo
“militar” quando referente às Forças Armadas e do “operacional” quando limitada ao
teatro de operações, particularizando níveis de decisão na condução das ações de
defesa.

1.3.2.6 Em síntese, a estratégia saiu, ao longo da História, dos limites dos campos
de batalha e interpôs-se em todas as atividades de governo e econômico-sociais de
um país, mesmo em tempo de paz. Foi-se modificando mediante etapas sucessivas,
cada qual com abrangência crescente, incorporando características de cada época,
o que ficará evidente na gama de conceitos que serão apresentados adiante.

1.4 RELAÇÕES ENTRE PODER, POLÍTICA, ESTRATÉGIA E TÁTICA

1.4.1 PODER NACIONAL

1.4.1.1 O poder, em sua acepção mais simples, é a capacidade de impor a vontade. É


por meio da aplicação do poder que se atingem os objetivos fixados pela política. O
poder apresenta-se como uma síntese de vontade e de meios de toda ordem, destinado
a cumprir o papel fundamental de assegurar o patrimônio e os interesses nacionais
(sentido amplo). A aplicação do poder compreende dois elementos básicos: a vontade
de agir (expressa pela política) e a capacidade dos meios (humanos e materiais) para
atingir os objetivos propostos. Na essência dessa concepção, destacam-se os
elementos constitutivos do poder: o homem (como agente do seu emprego e como
beneficiário dos resultados obtidos); a vontade nacional (interpretada pelas elites
dirigentes); e os meios (de toda ordem, de que dispõe a nação).

1.4.1.2 A vontade (traduzida em "vontade política") não deve ser entendida como
mero desejo subjetivo, mas como decisão, vontade concreta de fazer, determinação
na consecução dos objetivos. Dessa forma, a vontade nacional tem que ser
concretizada pelos representantes da sociedade que dela receberam a delegação
do poder.

1.4.1.3 O poder deve ser visualizado segundo suas características básicas, a saber:
sentido instrumental; caráter de integralidade; e relatividade.

1.4.1.4 O poder nacional, como instrumento nas mãos do Estado, destina-se a


alcançar os objetivos colimados pela sociedade. Seu caráter de integralidade reside
na relação sistêmica dos seus elementos; ou seja, não se trata de um mero
somatório dos componentes, mas da resultante de um efeito sinérgico. Ele deve ser
considerado como um todo, uno e indivisível. Sua relatividade verifica-se em relação
1-6
aos óbices que se lhe antepõem diante da consecução dos objetivos e diante do
valor que lhe atribuem atores externos; em outras palavras, é preciso avaliar a
capacidade do poder de superar os obstáculos de qualquer natureza que se
antepõem entre a vontade e a conquista de objetivos. Nessa mensuração do poder
nacional, é fundamental avaliar o que se julga possuir e como outros países o
consideram. Três erros são mais comumente cometidos na avaliação do poder
nacional:
a) considerá-lo de modo absoluto, sem relacioná-lo com as necessidades e os
óbices, bem como, a sua apreciação pelo oponente;
b) desprezar a dinâmica dos fatores que o conformam ou condicionam; e
c) atribuir importância exclusiva a um só de seus componentes, desprezando a
relação sistêmica entre eles.

1.4.1.5 Estruturalmente, entende-se o poder erigido em fundamentos, fatores,


organizações e funções, que vão se alinhar segundo expressões.

1.4.1.6 Os fundamentos assentam-se nos elementos básicos da nacionalidade:


homem, terra e instituições. Os fatores são os elementos dinâmicos do poder, com
influência sobre os fundamentos, valorizando-os ou depreciando-os. As
organizações são os agentes que promovem os fatores. As funções são aquelas
desempenhadas pelas organizações. As expressões constituem as áreas em que o
poder se manifesta: política, econômica, psicossocial, militar e científico-tecnológica.

1.4.1.7 A tabela a seguir, preconizada pela Escola Superior de Guerra (ESG),


procura apresentar uma visão sintética do inter-relacionamento dos componentes do
poder nacional.

PODER NACIONAL
EXPRESSÕES
FUNDAMENTOS Científico-
Política Econômica Psicossocial Militar
tecnológica
Recursos Recursos Recursos
Homem Povo Pessoa
humanos humanos humanos

Recursos
Recursos
Terra Território (*) Ambiente Território (*) naturais e
naturais
materiais

Instituições Instituições Instituições Instituições


Instituições Instituições C & T
políticas econômicas sociais militares

Tabela 1-2 - Inter-relacionamento dos componentes do Poder Nacional


(*) Base física terrestre; mar territorial; espaço aéreo sobrejacente.

1.4.1.8 De acordo com a Doutrina Militar de Defesa (2007), "Poder Nacional” é a


capacidade que tem o conjunto dos homens e dos meios que constituem a Nação,
atuando em conformidade com a vontade nacional, de alcançar e manter os
objetivos nacionais".
1.4.1.9 Os poderes marítimo, terrestre e aeroespacial constituem parcelas do poder
nacional eminentemente voltadas para a defesa nacional.

1-7
1.4.1.10 A expressão militar do poder nacional é integrada pelos poderes naval,
militar terrestre e militar aeroespacial.

1.4.1.11 Projeção do Poder é o processo segundo o qual a nação procura aumentar


sua influência/participação no cenário internacional mediante a atuação de qualquer
de suas expressões. Assim, a posição e a importância da nação no contexto das
nações também irão contribuir para caracterizar sua estatura político-estratégica,
além de seu potencial.

1.4.2 POLÍTICA

1.4.2.1 A essência da Política reside na interpretação dos anseios sociais e das


necessidades do país e na sua conformação em objetivos a atingir ou manter, bem
como na organização do poder e na sua aplicação em benefício da comunidade.
Nesse sentido, a política elabora diretrizes que vão orientar os rumos da condução
das ações estratégicas destinadas a superar ou contornar óbices. Essa concepção
de política pode ser sintetizada na arte de congregar vontades, de buscar consenso
em torno de objetivos, de designar meios para os diferentes setores do Estado e de
estabelecer orientações para queo emprego desses meios atenda aos projetos
nacionais. É por isso que se diz que "a política define o que fazer".

1.4.2.2 Portanto, verifica-se que cabe à expressão política a maior parcela de


responsabilidade quanto à aplicação do poder nacional.

1.4.3 ESTRATÉGIA

1.4.3.1 O conceito de estratégia é complexo e abrangente, conforme se verá em


capítulos mais adiante.

1.4.3.2 Em uma primeira abordagem, embora simplista, pode-se dizer que à


Estratégia, como instrumento da Política e, portanto, a ela subjacente, compete definir
que meios e que ações serão adotados na consecução dos objetivos estabelecidos
pela Política. Em outras palavras, a Estratégia, com base nas diretrizes políticas, indica
os caminhos a seguir para se superar ou evitar os óbices que possam se antepor à
concretização de objetivos, ou seja, estabelece a forma de traduzir e impor a vontade
política, que, por sua vez, deve ser a expressão da vontade nacional, elemento
constitutivo do poder.

1.4.3.3 Como se pode observar, muitas vezes não fica clara a delimitação entre
Política e Estratégia, podendo-se mesmo associá-las à imagem das faces de uma
mesma moeda. O fundamental é o entendimento de que a Estratégia assenta-se em
uma metodologia complexa e abrangente de planejamento, preparo e aplicação do
poder, dando forma à concepção política e cumprindo suas diretrizes. Por isso, diz-se
que "a estratégia estabelece o como fazer".

1.4.3.4 Em termos de operações militares (essência da defesa nacional), é a Política


que vai decidir pelo uso ou não da força e pela intensidade de sua aplicação. É ela
que vai definir o objetivo político da guerra. A Política, além da concepção geral da
guerra e do estabelecimento do(s) seu(s) objetivo(s), deverá conduzi-la de modo a
definir rumos e a direcioná-la para os interesses do Estado. Essa responsabilidade

1-8
não deve ser confundida com a condução específica das operações militares no
teatro de operações ou nos campos de batalha, função precípua da expressão
militar do poder nacional, atribuída às Forças Armadas.

1.4.3.5 Poder, Política e Estratégia formam a trilogia fundamental da denominada


"teoria do poder", que, em síntese, concebe a Política como o farol que ilumina a
aplicação do Poder e que orienta a Estratégia na alocação dos meios e na
formulação das ações que irão permitir a superação de óbices na busca de
objetivos. Política (objetivos) sem Poder (meios) a nada conduz; ambos, Política e
Poder, sem Estratégia (modos) caem no vazio, ou seja, não há resultados.

1.4.4 TÁTICA

1.4.4.1 A tática trata do emprego da tropa (peças de manobra) em combate de


acordo com os planos de campanha elaborados, ou seja, conforme o quadro
prescrito pela estratégia formulada no nível operacional.

1.4.4.2 Em linhas gerais, pode-se afirmar que a estratégia operacional e a tática se


diferenciam por perspectivas distintas, pois, enquanto aquela preocupa-se com
objetivos cuja posse terá maiores consequências favoráveis, esta cuida de
conquistar objetivos mais imediatos nos pontos mais vulneráveis do dispositivo
inimigo.

1-9
CAPÍTULO II

CONCEITUAÇÃO DE ESTRATÉGIA

2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

2.1.1 Aos conceitos anteriormente apresentados, devem-se somar outros de


importância para o entendimento completo da essência do fenômeno estratégico.

2.1.2 Não se pode perder de vista que todos esses conceitos se encontram inter-
relacionados, formando uma malha coerente de variáveis e de atores que precisa
ser conhecida em todos os seus meandros.

2.2 CONCEITOS BÁSICOS

2.2.1 OBJETIVOS NACIONAIS

2.2.1.1 Conforme apresentado no Capítulo I deste manual, a essência da Política,


além de organizar e de aplicar o poder, consiste na interpretação dos anseios
sociais e em sua transformação em objetivos.

2.2.1.2 De acordo com a esfera governamental considerada, esses objetivos


recebem denominações peculiares que permitem associá-los a interesses ou
necessidades específicas.

2.2.1.3 Dentre essas denominações, destacam-se aqui as que se referem


especificamente aos objetivos nacionais:

2.2.1.3.1 Objetivos Nacionais (ON) – são aqueles que a Nação busca alcançar, em
decorrência da identificação de necessidades, interesses e aspirações, ao longo das
fases de sua evolução histórico-cultural. Os Objetivos Nacionais, em função de sua
natureza, podem ser agrupados em: Objetivos Fundamentais; Objetivos de Estado;
e Objetivos de Governo.
a) Objetivos Fundamentais (OF) – são os Objetivos Nacionais voltados para a
conquista e preservação dos mais elevados interesses da Nação e de sua
identidade, subsistindo por longo tempo. Segundo a ESG, os OF não são
estabelecidos nem fixados. Derivam do processo histórico cultural e emergem,
naturalmente, à medida que as necessidades e os interesses da comunidade se
cristalizam na consciência nacional, representando aspirações que,
independentemente de classes, região, credo religioso, ideologias políticas, origens
étnicas ou outros atributos, a todos irmanam. (ESG, 2006). Normalmente, esses
objetivos encontram-se acolhidos em dispositivos constitucionais.
b) Objetivos de Estado (OE) – são ON intermediários voltados para o atendimento
de necessidades, interesses e aspirações, considerados de alta relevância para
atingir, consolidar e manter os Objetivos Fundamentais. Embora os OE sejam
estabelecidos por um Governo, devem refletir um consenso nacional sobre
aspirações relevantes e assim deverão ser buscados por seus sucessores por
intermédio de outros objetivos intermediários (ESG, 2006).

2-1
c) Objetivos de Governo (OG) – são ON intermediários, voltados para o
atendimento imediato de necessidades, interesses e aspirações, decorrentes de
situações conjunturais em um ou mais períodos de Governo.

2.2.2 ÁREA ESTRATÉGICA

2.2.2.1 Espaço, de qualquer natureza, caracterizado pela presença ou pela


possibilidade de existência de relevantes interesses ou de óbices de maior vulto,
para a consecução da política.

2.2.2.2 Área de natureza geográfica (região) ou que envolva atividade humana


(setor), na qual se aplica ação estratégica.

2.2.2.3 Espaço geográfico de interesse nacional com dimensão limitada, que, pelas
próprias características, pode oferecer vantagens militares importantes, mediante
seu controle ou domínio, em situações de conflito, crises ou guerra de caráter
limitado ou total.

2.2.2.4 Em termos militares, área estratégica compreende área do território nacional


ou partes de território estrangeiro que venham a ter envolvimento em possíveis
operações.

2.2.3 ÓBICES

2.2.3.1 São obstáculos de toda ordem que dificultem ou impeçam a conquista ou a


manutenção de objetivos.

2.2.3.2 Os óbices, existentes ou presumíveis, podem dificultar ou impedir ações nas


áreas estratégicas. Em termos nacionais, podem ser de ordem material ou
intangíveis. Resultam da natureza (secas, inundações), de fatos sociais (pobreza,
analfabetismo) ou da própria vontade humana. Podem decorrer de condições
estruturais ou conjunturais e variar na essência, na intensidade e na forma como se
manifestam. Enquadram-se nesse contexto as vulnerabilidades de um país, quais
sejam, aqueles pontos fracos que podem ser aproveitados pelo poder adverso em
caso de confronto. Para as vulnerabilidades, deve haver ações estratégicas que
impeçam sua utilização pelo oponente.

2.2.3.3 Uma classificação tradicionalmente aceita para os óbices reside na


existência ou não de intencionalidade:
a) Fatores Adversos – óbices que se interpõem aos esforços da sociedade e do
governo para alcançar e preservar os objetivos nacionais, independentemente de
intencionalidade.
b) Antagonismos – óbices de toda ordem, internos ou externos, que se contrapõem
ao alcance e à preservação dos objetivos fundamentais de um país, por ação de
forças adversas.

2.2.3.4 A superação de óbices pode-se traduzir no seu enfrentamento ou no seu


desbordamento, mediante a implementação de ações estratégicas condizentes.

2-2
FATORES ADVERSOS
(sem sentido contestatório)

ÓBICES
PRESSÃO
ANTAGONISMOS (dificulta)
(deliberadamente contestatórios)
PRESSÃO DOMINANTE
(impede)

Tabela 2-1. Classificação dos óbices

2.2.4 AÇÃO ESTRATÉGICA

2.2.4.1 Ação que compreende um conjunto de medidas de natureza e intensidade


variáveis, orientadas para o preparo e o emprego do Poder, na consecução da
Estratégia, podendo ser de duas ordens: Ação Corrente e Ação de Emergência.

2.2.4.2 AÇÃO CORRENTE – ação estratégica que se traduz no preparo e na


aplicação do Poder Nacional para atender a situação normal.

2.2.4.3 AÇÃO DE EMERGÊNCIA – ação estratégica que se traduz no preparo e na


aplicação do Poder Nacional para atender a situações de emergência.

2.2.4.4 A sequência de ações estratégicas que conformam determinada estratégia


denomina-se trajetória estratégica.

2.2.4.5 Embora pareça paradoxal, por vezes, diante de determinado óbice, a inação
intencional configura uma ação estratégica. É o caso típico de quando não se deseja
que determinado fato tenha repercussão, procurando fazer com que ele se dissipe
na origem. Via de regra, essa atitude é mais comum no nível político de decisão.

2.3 ESTRATÉGIA

2.3.1 CONCEITUAÇÃO AO LONGO DO TEMPO

2.3.1.1 Desde sua concepção original, surgida em Atenas no século V a.C., como a
"arte do general" (estratego), o conceito de Estratégia sofreu sensível evolução até
chegar às variações conceituais hoje encontradas.

2.3.1.2 Na Antiguidade, além do conceito grego já citado de "conduzir exércitos na


frente do campo de batalha", encontra-se um similar na China, de Sun Tzu (Sun Zi),
para o qual a estratégia era "a arte do general na condução das operações por meio
de ações indiretas".

2.3.1.3 Durante muitos séculos, permaneceu essa conotação estritamente militar


para a estratégia, enquanto os conflitos se restringiam ao campo de batalha. Com o
surgimento dos estados-nação e a consequente ampliação de conflitos entre eles, a
estratégia passou a tomar vulto e a se propagar por outras expressões do poder,
além da militar, para, finalmente, ser tratada em todos os segmentos decisórios
desde o tempo de paz. Assim, conceitos cada vez mais completos e até mesmo

2-3
diversos foram sendo incorporados pela polemologia, estudo científico das guerras e
seus efeitos, formas, causas e funções enquanto fenômeno social, conforme
apresentado na Seção 1.3 – HISTÓRICO, do Capítulo I, e nos extratos a seguir:
a) "Emprego das operações de guerrilha no desgaste do inimigo, mediante fluidez na
execução, permanente mobilidade, finta, surpresa e ofensiva". (Mao Tse-tung; 1893-
1977).
b) "Arte de empregar forças militares para atingir resultados fixados pela política".
(Liddell Hart; 1895-1970).
c) "Creio que a essência da estratégia repousa no jogo abstrato resultante da
oposição de duas vontades; arte da dialética das forças" ou, ainda mais exatamente,
"a arte da dialética das vontades, empregando a força para resolver seu conflito".
(André Beaufre; 1902-1975). Aqui cabe uma observação: quando se deseja atingir
um objetivo, no contexto do entrechoque de vontades, constitui visão estratégica
deixar uma "saída honrosa" ao oponente, que lhe faculte aquiescer ao nosso
interesse sem se mostrar derrotado ou humilhado, além de facilitar o atendimento
mais rápido ao nosso propósito.
d) "Arte de solução de conflito pelo emprego do poder militar". (Raymond Aron;
1905-1983).
e) "Arte de preparar e aplicar o poder para conquistar e preservar objetivos, superando óbices
de toda ordem". (ESG; Elementos Doutrinários - 2006).
f) "Estratégia Militar – arte e ciência de prever o emprego, preparar, orientar e aplicar o
poder militar durante os conflitos, considerados os óbices existentes ou potenciais,
visando à consecução ou manutenção dos objetivos fixados pelo nível político". (MD;
Doutrina Militar de Defesa - 2007).
g) "Arte de preparar e aplicar o poder para conquistar e preservar objetivos,
superando óbices de toda ordem. (EB20-MF-03.109).
h) "A estratégia é, fundamentalmente, um fenômeno de ação/reação. Todo
movimento de um dos protagonistas deve suscitar uma resposta de seu adversário.
Quando não há dialética, não há estratégia". (Coutau – Bégarie; Prof do Instituto de
Estratégia Comparada da França).
i) "Capacidade de visualizar caminhos para se atingir as metas de uma empresa".
(Conceito empresarial civil).
j) "Meio de que se vale a Política para obtenção de resultados concretos".
(Conceito governamental).
k) "Arte de aplicar os meios disponíveis com vista à consecução de objetivos
específicos"; "arte de explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos
específicos". (Conceito genérico).
l) "Ardil, estratagema, artimanha, astúcia". (Conceito de sentido figurado).
m) De uma outra forma, a estratégia pode ser entendida como o relacionamento
entre fins, caminhos e meios. Os fins são os objetivos ou metas pretendidas. Os
meios são os recursos postos à disposição para se atingir os fins. Os caminhos ou
métodos constituem a maneira (ações) como os recursos serão organizados e
aplicados para se atingir os fins. Transportando-se essa concepção para a área
militar (estratégia militar), ter-se-á a seguinte configuração:
1) Os fins como os objetivos militares.
2) Os caminhos como a doutrina de emprego das forças combatentes.
3) Os meios como os recursos (humanos e materiais) necessários ao
cumprimento da missão.

2-4
2.3.1.4 Para este manual, o conceito geral de Estratégia adotado é: “Estratégia é a
arte e ciência de preparar e aplicar o poder para, superando óbices de toda
ordem, alcançar os objetivos fixados pela política”. Arte, por envolver
característica pessoais do seu formulador, como experiência, conhecimento, visão e
criatividade. Ciência, por se valer de conhecimentos científicos de diferentes áreas.
Este conceito pode ser ilustrado graficamente de acordo com a figura a seguir.

Figura 3-1 - Conceito de Estratégia

2.3.1.5 É importante ressaltar que o fato de ser "arte" não traduz individualismo.
Normalmente, a formulação de estratégias se processa por meio de trabalho de
equipe; daí a constituição dos "centros de estudos estratégicos", dos "gabinetes de
gerenciamento de crises", dos tradicionais "estados-maiores" etc, onde várias
pessoas realizam o trabalho de elaboração mental das estratégias e das
correspondentes ações que irão implementá-las. Como disse o Marechal Castello
Branco:

"Qualquer Estratégia não é obra de um homem personalista e iluminado, e


sim trabalho de equipes e de estados-maiores, com chefes, porém, dotados
superiormente de autoridade, responsabilidade e conhecimentos
apropriados".

2.3.1.6 As variações conceituais verificadas desde os primórdios até os dias atuais


têm toda sua validade por encerrarem sentido lógico e coerente com o que se
pretende com a estratégia. O cuidado que deve ser observado pelos estrategistas é
resguardar a coerência conceitual nos diversos documentos oficiais que tratam
deste tema.

2.3.1.7 Os conceitos ora apresentados admitem adaptações a diversos níveis de


decisão. Assim, podem-se encontrar definições como:
a) ESTRATÉGIA NACIONAL - arte de preparar e de aplicar o Poder Nacional para
alcançar e preservar os Objetivos Nacionais, de acordo com a orientação
estabelecida pela Política Nacional (EB20-MF-03.109).
b) ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA – conjunto de opções e diretrizes
governamentais que orientam a nação quanto ao emprego dos meios de que dispõe
para superar as ameaças aos seus objetivos, conforme o estabelecido na Política
Nacional de Defesa (EB20-MF-03.109).
c) ESTRATÉGIA DE GOVERNO - forma como o Governo prepara e aplica o Poder
Nacional para, superando óbices, alcançar e preservar seus objetivos, de acordo
com a orientação estabelecida pela Política de Governo" (ESG; 2006).

2-5
2.3.2 CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS DA ESTRATÉGIA

2.3.2.1 Da multiplicidade de conceitos apresentada, pode-se inferir uma série de


considerações sobre a essência do fenômeno estratégico, aqui tratadas por
aspectos fundamentais.

2.3.2.2 Sob o enfoque militar, o aspecto de arte da estratégia, além dos já


mencionados, pode ser verificado também no estabelecimento de relações entre o
poder militar e as demais expressões do poder nacional, em que se destaca a
capacidade de convencimento com vistas a atender aos interesses e às
necessidades da defesa nacional.

2.3.2.3 Deve ser ressaltado que esse aspecto toma vulto quando se trata de
liderança estratégica. É o líder estratégico quem mais deve exercitar a arte de
implementar estratégias que congreguem o esforço nacional ou institucional para a
consecução dos objetivos pretendidos pela nação ou pela organização.

2.3.2.4 Quanto à visão estratégica, ela reside no exame detalhado de todas as


versões disponíveis, de todas as faces sobre determinado fato ou de uma
conjuntura, bem como das circunstâncias em que o fato ocorreu e de suas possíveis
repercussões futuras. Não se deve tomar como "verdade absoluta" ou como "a
versão correta" apenas uma ou a primeira das considerações sobre o fato. Em
outras palavras, não se pode adotar como base para decisão a primeira leitura, a
primeira opinião, a primeira versão que se colhe sobre um fato, uma crise, um
fenômeno social.

2.3.2.5 Outro aspecto a se considerar na estratégia é sua subordinação à política.


Ela é decorrente de decisão política. É por isso que o nível político (nível de decisão)
emite diretrizes estratégicas ou indica as estratégias que deverão ser
implementadas diante dos óbices levantados. Daí o estreito ajustamento que deve
existir entre as estratégias a serem adotadas e os fins políticos colimados.

2.3.2.6 A estratégia tem um nítido caráter de finalidade, pois se destina a


sobrepujar obstáculos e a atingir objetivos. Essa é a sua face finalística, que, muitas
vezes, leva a adjetivá-la.

2.3.2.7 Conforme já apontado, a estratégia vigora como instrumento da política.


Ela se presta a esclarecer os fins da política e a orientar o estabelecimento de
prioridades quando diante da escassez de meios. À estratégia cabe também
determinar a natureza e o emprego dos meios disponíveis, fato que torna ainda mais
tênue a delimitação entre política e estratégia. Além disso, a implementação de
determinada estratégia ocorrerá certamente em função dos meios disponíveis.

2.3.2.8 Uma característica bastante evidente da estratégia é sua extrema


diversidade. Além de não se prender apenas aos fins e aos meios, ela depende de
parâmetros os mais variados, ou seja, ela deve considerar também os atores
envolvidos, as circunstâncias em que as coisas acontecem, as consequências das
decisões, o peso da opinião pública, o reflexo em alianças firmadas, dentre muitos
outros fatores.

2-6
2.3.2.9 Já se abordou em tópicos anteriores que a estratégia visa a superar os
obstáculos de toda ordem que possam se antepor à conquista de objetivos. Esta é
sua característica de superação. Relembrando o pensamento do Prof Coutau-
Bégarie, "a Estratégia é, fundamentalmente, um fenômeno de ação e reação. O
propósito de toda ação estratégica é de superar o inimigo [óbices] a fim de impor-lhe
a nossa vontade".

2.3.2.10 Ao tratar do preparo e do emprego dos meios, a estratégia ressalta sua


característica de ambivalência quanto a este aspecto. Cumpre destacar que, na
concepção estratégica, os recursos disponíveis não são considerados meios até que
a estratégia estabeleça sua natureza e a forma segundo a qual serão organizados e
utilizados. Exemplo: os orçamentos de defesa e o pessoal militar são recursos; a
partir do momento em que a estratégia os organiza e define o seu emprego, seja
para dissuadir a agressão seja para buscar a vitória no conflito, eles passam a
constituir meios da estratégia. Muitas vezes, diante da escassez, caberá à estratégia
estabelecer prioridades para o emprego dos meios disponíveis.

2.3.2.11 A amplitude é um aspecto importante da estratégia, pois ela engloba os


meios de toda ordem (humanos e materiais) em cada nível de decisão e analisa
todas as variáveis que conformam a conjuntura em que ela será implementada.
Além disso, a estratégia envolve simultaneamente diversos domínios: político,
econômico, militar, diplomático, científico-tecnológico e psicossocial. Ressalte-se,
também, que ela é nitidamente interdisciplinar, pois se vale de várias áreas do
conhecimento humano.

2.3.2.12 O caráter de integração da estratégia reside no fato de, normalmente,


ocorrer o concurso de duas ou mais estratégias (ou ações estratégicas) que se
complementam na conquista de um objetivo. E isso é tanto mais verdade quanto
mais elevado o nível de atuação. Tal característica é inerente também ao fato de,
muitas vezes, surgirem óbices de naturezas diferentes na busca de um mesmo
objetivo.

2.3.2.13 Outro aspecto fundamental da estratégia é a ação. Toda estratégia deve


ser implementada mediante a execução de ações concretas, que produzam
resultados. Napoleão Bonaparte costumava afirmar que "a estratégia é uma arte
simples, mas toda de execução". Por isso é que se diz que "política é concepção;
estratégia é ação" ou "estratégia é a política em ação". Relembra-se aqui a "inação"
com o sentido de ação estratégica, conforme já comentado em tópico anterior.

2.3.2.14 Ao se abordar estratégia como caminho para se chegar a um fim, enfoca-


se sua característica de método. A estratégia estabelece o relacionamento entre as
metas da política e os meios designados para atingi-las, mediante a adoção de uma
metodologia de planejamento estratégico.

2.3.2.15 Sistema é mais um aspecto destacável da estratégia, posto que, no


contexto de um planejamento estratégico, ela toma a feição de um "conjunto
ordenado de meios, de ação ou de ideias, tendente a um resultado", caracterizando,
assim, um sistema. Em outras palavras, uma estratégia é implementada por ações e
meios correlacionados entre si, compondo um todo harmônico em busca de um
mesmo objetivo.

2-7
2.3.2.16 Dentre os aspectos fundamentais até agora abordados, não poderia deixar
de ser mencionado o de atualização ou atualidade. Nesse mister, a estratégia não
pode prescindir de um acompanhamento continuado da atualidade conjuntural.
Constitui "erro estratégico" proceder a avaliações esporádicas, apenas quando aflora
alguma "efervescência" social. É imprescindível, nessa tarefa de atualização,
observar, identificar variáveis relevantes, os protagonistas do problema e os
interesses em jogo. Para se ajustar às constantes mutações conjunturais, a
estratégia precisa ser amplamente flexível. O professor Thomas Owen, do Colégio
de Guerra Naval dos EUA, costuma afirmar que "ter uma estratégia inflexível pode
ser pior que não ter nenhuma estratégia". Para atender plenamente a essa
necessidade, a estratégia deve contar com os conhecimentos e a experiência de
pessoas ligadas ao fato, à área ou ao tema em pauta.

2.3.3 DESDOBRAMENTOS DA ESTRATÉGIA

2.3.3.1 Conforme já apresentado, a estratégia pode receber qualificações que irão


identificá-la com o nível de decisão, com a área em que se implementa, com os
resultados pretendidos etc.

2.3.3.2 Assim, é comum encontrar denominações como Estratégia Nacional,


Estratégia de Governo, Estratégia de Desenvolvimento, Estratégia Militar de Defesa,
dentre muitas outras, mas que não fogem ao conceito fundamental de relacionar
meios para superar óbices e, mediante ações, atingir objetivos.

2.3.3.3 O importante desses desdobramentos é permitir a identificação de níveis de


decisão, áreas de atuação (expressões), atores responsáveis, públicos-alvo, óbices
presentes e previstos, fins colimados etc.

2.3.3.4 Outro desdobramento que se verifica para a estratégia nacional refere-se à


predominância da expressão do poder nacional que a formula e implementa. É
também conhecido por MÉTODOS DA ESTRATÉGIA NACIONAL:
a) Estratégia Direta - é a estratégia em que, embora contando com a participação
de outras expressões, predomina a expressão militar do poder nacional. Ou seja, a
maioria das ações estratégicas é nitidamente de natureza militar, mas conta com o
concurso de ações desencadeadas por outros setores da nação, tudo com a
finalidade de se atingir o(s) mesmo(s) objetivo(s). Pode ser caracterizada pelo
emprego ou pela simples ameaça de emprego do poder militar coadjuvado por
ações de outros campos do poder nacional. Portanto, trata-se de uma estratégia que
prepondera em casos de graves conflitos ou guerra.
b) Estratégia Indireta – é aquela em que predomina o emprego de qualquer das
expressões do poder que não a militar. Nesse caso, esta última expressão exerce papel
coadjuvante da expressão protagonista. Normalmente, os meios empregados encerram
natureza política, diplomática, jurídica ou econômica.
É de se ressaltar que, principalmente em caso de conflito armado, essas duas
estratégias são implementadas simultaneamente, caracterizando o emprego do
poder nacional como um todo.

2-8
2.4 ESTRATÉGIA NACIONAL

2.4.1 CAMPOS DE ATUAÇÃO DA ESTRATÉGIA NACIONAL

2.4.1.1 A estratégia formulada para se obter solução adequada do conflito, tendo


como referencial a zona de sua ocorrência, abarca dois campos de atuação
distintos, mas interdependentes: o exterior e o interior à zona de conflito. Assim,
pode-se afirmar que há uma manobra exterior e uma manobra interior.

2.4.1.1.1. Manobra exterior


a) A ideia central da manobra exterior reside em assegurar o máximo de liberdade
de ação, como o apoio de organismos internacionais (ONU, OEA, OTAN, etc),
países amigos e/ou simpatizantes, organizações não governamentais, opinião
pública internacional, e da própria frente interna do inimigo, principalmente de sua
opinião pública e de organizações que se oponham ao conflito. Tem a finalidade de
paralisar o adversário por meio da combinação de ações de natureza política
(diplomática), econômica, psicológica e, em algumas situações, de natureza militar,
com toda variação possível de atuação.
b) A manobra exterior deve assentar-se em um convincente tema político, concebido
em função das grandes motivações do momento e bem-adaptado ao fim visado,
como por exemplo: desejo de salvaguarda da paz, contraterrorismo,
autodeterminação dos povos, não ingerência em assuntos internos, racismo,
genocídio, preservação ecológica e direito a um espaço vital.
c) De acordo com o tema político, a manobra exterior pode incluir, dentre outras, as
seguintes ações:
1) Atuar em respeito às normas do Direito Internacional e apelar para os valores
morais e humanitários, de forma a criar, no adversário e na sua frente interna, dúvidas
quanto à justiça da causa que defende, provocando cisões na sua coesão moral e, acima
de tudo, de modo a despertar simpatias no campo internacional, justificando a causa que
se advoga.
2) Explorar, nos organismos internacionais e nas organizações não
governamentais simpatizantes, o clima político resultante, de forma a isolar política e
economicamente o adversário e, se possível, paralisá-lo, impedindo-o de levar a
cabo determinadas ações ou de lançar mão de todas as possibilidades de seu poder
nacional na zona de conflito.
3) Obter ajuda sob a forma de fornecimento de equipamentos e armamentos, de
pessoal técnico, de voluntários e mesmo de tropas.
4) Empregar o poderio militar.
5) Tranquilizar outros adversários potenciais, quanto ao alcance dos objetivos
visados.

2.4.1.1.2. Manobra interior


a) A manobra interior será desencadeada na zona onde se desenvolve o conflito e
tem como finalidade primordial desenvolver e manter as forças morais da população
e das forças regulares e/ou irregulares amigas, por meio da exploração de ideias-
força como patriotismo, independência nacional, liberdade religiosa, descolonização
e elevação do nível de vida. Simultaneamente, buscar-se-á minar o moral das forças
combatentes do oponente e de seus aliados na zona de conflito.

2-9
b) A manobra interior, aproveitando a liberdade de ação obtida com a manobra exterior,
deve explorar, na zona de conflito e nas suas áreas de influência:
1) as vulnerabilidades estruturais do adversário, obrigando-o a protegê-las,
mediante a dispersão de seus meios;
2) as atividades que visam a assegurar a lealdade da população, conduzindo-a a
não colaborar com o oponente;
3) as fraquezas morais do oponente, para minar o seu poder de combate; e
4) outros aspectos conjunturais.

2.4.1.1.3. As manobras exterior e interior são aplicáveis sob qualquer método da


estratégia nacional, mas suas concepções são mais adequadas à estratégia indireta,
na qual atuam de forma preponderante as expressões política e psicossocial.

2.4.2 FASES DA ESTRATÉGIA NACIONAL

Em um quadro de crise, a estratégia, normalmente, desenvolve-se em três fases.

2.4.2.1 Fase da preparação – Nesta fase, realizam-se diversas ações, tais como:
a) preparação da opinião pública, por meio de ações psicológicas, para suportar os
encargos psicossociais, políticos, econômicos e militares decorrentes da execução
da estratégia proposta;
b) legitimação das operações militares que possam ocorrer na fase da execução
diante da opinião pública mundial e nacional, perante governos aliados e neutros,
por meio de uma campanha que deve estar apoiada em um tema político com
profundas implicações morais, mas sempre coerente com o objetivo perseguido;
c) consideração quanto à reação de países neutros ou aliados ao desenvolvimento
da estratégia escolhida, de forma a eliminar ou, no mínimo, a reduzir a ocorrência de
circunstâncias aleatórias que, normalmente, provocam profundas alterações na
liberdade de ação obtida por ocasião do início das ações;
d) isolamento do inimigo com a aplicação de medidas como: realização de tratados
e/ou alianças; promessa de partilha de território ou de privilégios; tranquilização de
adversários potenciais quanto ao valor ou alcance dos objetivos visados; concessão
de garantias a países neutros e exploração de temas ideológicos;
e) previsão da resposta do Estado adversário e, por conseguinte, adoção de
medidas para neutralizá-la; e
f) considerações quanto à possibilidade de fracasso militar, aos apoios que se
podem obter se a vitória demorar, às consequências de uma derrota, às
possibilidades de se minorar os riscos por meio de uma saída honrosa e quanto às
interrupções previsíveis no desenvolvimento da estratégia estabelecida.

2.4.2.2 Fase da execução- De acordo com a estratégia adotada (direta ou indireta),


avolumam-se as ações da expressão do poder que será decisiva para a solução do
conflito ou para atingir o objetivo.

2.4.2.2.1 No caso da estratégia direta


a) É a fase da realização das operações militares, quando se deve procurar criar o
fato consumado, por meio de uma vitória rápida e definitiva. Para isso, tem
significativa importância o momento do início das hostilidades. Deve-se procurar
uma situação em que o adversário esteja envolvido por circunstâncias capazes de
afetar sua capacidade de reação.

2-10
b) As ações diplomáticas e de operações psicológicas, realizadas previamente,
devem ter propiciado um ambiente internacional favorável, bem como condições
para que o adversário seja surpreendido e facilmente desorganizado.
c) As atividades não militares, especialmente as políticas, continuam tendo grande
importância para a paralisação de elementos potencialmente hostis e para a
galvanização de simpatias.

2.4.2.2.2 No caso da estratégia indireta


a) É a fase da realização das ações nos campos político, econômico e psicossocial,
que devem permitir completar o isolamento do inimigo, no âmbito externo, e separar
a sociedade do governo, no âmbito interno, colocando-o em xeque perante a própria
nação. Com isso, busca-se o enfraquecimento do Estado adversário. Essas ações
também são fundamentais para a manutenção da liberdade de ação.
b) As ações militares, ou a simples ameaça de seu emprego, são desencadeadas
com o propósito de desgastar o inimigo e/ou conquistar objetivos secundários,
visando a auxiliar as demais expressões do poder nacional. Estas, por sua vez,
estarão desenvolvendo ações com vistas a provocar a submissão definitiva do
inimigo.
c) As operações militares devem ser dosadas, normalmente com pouca intensidade
e com longa duração.
d) Podem, por outro lado, constituir um conjunto de operações sucessivas, cada
uma isoladamente de grande intensidade, curta duração, limitada no espaço e
dirigida contra objetivo ou objetivos secundários (ações sucessivas).

2.4.2.3 Fase da exploração – Nesta fase, torna-se imprescindível a consolidação


da vitória alcançada. Nesse sentido, faz-se necessária a análise das possibilidades
do oponente no que concerne às manobras interior e exterior, bem como a avaliação
do novo equilíbrio de poder resultante dessa vitória. Essa avaliação poderá ser
orientada por meio das respostas às seguintes questões:
a) Quais devem ser as consequências da vitória?
b) Quais as condições para o restabelecimento da paz?
c) Que atitude deve-se adotar no futuro?
d) Quais devem ser os novos objetivos?

2-11
CAPÍTULO III

O CONFLITO E SUA RESOLUÇÃO

3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

3.1.1 Em sociedade e acima dos indivíduos há, via de regra, uma autoridade
superior, onde uma ordem estabelecida garante direitos e deveres dos cidadãos. No
caso das nações, não existe um órgão supremo que as subordine ou que as faça
cumprir normas ou, ainda, que tenha autoridade incontestável para resolver seus
conflitos mediante determinada sentença. Embora tentativas nesse sentido tenham
sido feitas, tais empreendimentos não conseguiram ainda aprimorar o
relacionamento entre os Estados a ponto de evitar o surgimento de conflitos entre
eles, nem obter, com frequência, a resolução amistosa de litígios. Nesse contexto,
verifica-se que impedir a agressão entre as partes é uma tarefa complexa, sendo
comum que elas, muitas vezes e independentemente de respaldo externo, agridam-
se mutuamente, apoiadas nos próprios meios.

3.1.2 Os Estados, muitas vezes, envolvem-se em conflitos com outros Estados em


decorrência de grave ameaça aos interesses nacionais. Outras vezes, ocorre esse
envolvimento contra grupos nacionais ou estrangeiros, dos mais variados matizes,
em virtude de contestações ou tentativas de bloqueio à ação governamental.

3.1.3 A solução desses conflitos pode ocorrer por meio da forma não violenta,
utilizando-se processos e técnicas inerentes aos meios diplomáticos, jurídicos e
políticos, ou por meio da forma violenta, valendo-se da capacidade de coagir do
poder nacional, desde ameaças ou pressões até a guerra declarada.

3.2 O CONFLITO

3.2.1 Em termos estratégicos, têm relevância as situações que envolvem o conflito,


variando da paz até o conflito armado, que, nos campos interno e externo do Estado,
definem o espectro dos conflitos quanto ao grau de violência (Fig 3-1).

3.2.2 Conflito é o fenômeno social caracterizado pelo choque de vontades


decorrente do confronto de interesses, constituindo uma forma de se buscar uma
solução ou compromisso. Os meios a empregar e as ações a desenvolver
dependerão do poder relativo dos oponentes, da liberdade de ação concedida por
outros atores e pela importância atribuída ao objetivo a conquistar ou manter.

3.2.3 Paz é a ausência de lutas, violências ou graves perturbações no âmbito do


Estado. Nesta situação, as questões conflitivas porventura existentes são as
normais entre Estados e não comprometem os interesses nacionais.

3.2.4 Crise é um estado de tensão, provocado por fatores externos ou internos, sob
o qual um choque de interesses, se não administrados adequadamente, corre o
risco de sofrer um agravamento, até a situação de enfrentamento entre as partes
envolvidas. É um fenômeno complexo, de diversas origens, caracterizado por um

3-1
estado de grande tensão, não permitindo que se anteveja com clareza o curso de
sua evolução. Uma crise interna pode assumir caráter político, econômico, social,
militar, científico-tecnológico ou múltiplo.

3.2.5 As expressões guerra e conflito armado diferenciam-se apenas quanto à


perspectiva jurídica, posto que a guerra entre Estados, de acordo com leis
internacionais, condiciona-se a certos requisitos acolhidos como válidos pelos
beligerantes. Entre esses requisitos, podem-se citar o estabelecimento de
neutralidade de países e a necessidade de declaração formal de guerra.

CONFLITO

CONTROLÁVEL INCONTROLÁVEL

PAZ CRISE CONFLITO ARMADO (GUERRA)

NEGOCIAÇÃO

FORÇA

Fig 3-1.Espectro dos conflitos

3.3 SOLUÇÃO DOS CONFLITOS

3.3.1 A responsabilidade pela administração de conflitos é da alçada da expressão


política. O Estado, na solução de conflitos, pode valer-se de parte ou de todas as
expressões do poder. Basicamente, são adotadas três formas interativas para a
solução de conflitos internacionais: a negociação, a compulsão e a violência
declarada.

3.3.2 Negociação é a forma não violenta de solução, em que as partes litigantes


procuram solucionar o conflito pela busca de rumos convergentes para convivência
futura, fundamentada em bases de racionalidade, que emprega processos e
técnicas inerentes aos meios diplomáticos, jurídicos e políticos. A negociação pode
ser direta ou por intermediação de terceiros. Um dos instrumentos muito
empregados atualmente é a mediação, em que as partes litigantes aceitam a figura
de um Estado neutro, para facilitar o estabelecimento de bases para a formulação de
um novo status após o conflito, com compromissos de aceitação.

3.3.3 Compulsão é a forma de solução de conflito em que uma das partes


litigantes é compelida, por intimidação ou atrição, a aceitar a decisão tomada pela
outra parte, a quem a primeira deve se submeter. Poderá, também, ser utilizada por

3-2
terceiros para, solucionando o conflito, imporem condições a uma ou a ambas as
partes litigantes.

3.3.4 Violência declarada é a forma de solução do conflito em que uma das partes
litigantes é submetida pela outra, por sujeição ou destruição, mediante o emprego
violento de meios de toda ordem.

3.4 A CRISE E SUA MANOBRA

3.4.1 CRISES INTERNACIONAIS

3.4.1.1 A crise internacional de natureza político-estratégica vem a ser um estágio


do conflito entre dois ou mais Estados, em que o desencadeamento proposital de
uma situação de tensão visa a alcançar objetivos políticos ou político-estratégicos,
por meio da manipulação do risco de uma guerra, com atitudes e comportamentos
que indicam ser a situação extrema compatível com razões maiores, quase sempre
ocultas ou não explicitamente declaradas.

3.4.1.2 As características básicas das crises internacionais político-estratégicas são


as seguintes:
a) existência de tensão gerada por antagonismo definido;
b) cada agente envolvido visa a alcançar objetivos políticos ou político-estratégicos e
explorar vulnerabilidades do oponente;
c) desencadeamento proposital, pelo menos por uma das partes;
d) possibilidade do uso limitado da força militar e existência do risco de escalar para
o conflito armado;
e) evolução por decisões tomadas sob tensão; e
f) desenvolvimento com a presença da influência das opiniões públicas nacional e
internacional.

3.4.1.3 À medida que o desenvolvimento e o progresso dos países passam a


depender da qualidade de sua inserção internacional, especialmente nos campos
político e econômico, a exposição internacional aumenta e, com ela, elevam-se os
riscos para o surgimento de crises.

3.4.1.4 Como a situação conflituosa entre Estados é situação comum, decorre daí a
necessidade do acompanhamento contínuo da conjuntura, das tendências e
ameaças, da existência de pressões e pressões dominantes e dos fatores de riscos
presentes, com o fim de verificar a aproximação de agravamento do conflito.

3.4.1.5 A responsabilidade pelo gerenciamento de crises no âmbito do Estado cabe


à expressão política do Poder Nacional, coordenada pelo Presidente da República,
considerando a consultoria do Conselho de Defesa Nacional (CDN) e de outros
órgãos. Todo o processo é conduzido no denominado Gabinete de Crise, cuja
constituição é variável para cada caso.

3.4.1.6 A amplitude e a repercussão mundial que as crises passaram a ter, a


agilização e o alcance dos meios de comunicações, a crescente participação e a
importância da opinião pública, o maior inter-relacionamento de interesses e,

3-3
fundamentalmente, a possibilidade do holocausto nuclear são fatores que
determinaram estudos de metodologias para lidar com esse tipo de fenômeno social.

3.4.1.7 A institucionalização do conceito de crise visa a permitir um maior espaço de


manobra, para que a pressão e a força possam ser empregadas de forma controlada
e gradativa, contribuindo para convencer o oponente a chegar a um acordo, ao invés
da imposição da vontade do Estado mais forte pela sujeição ou destruição do
adversário por meio do conflito armado.

3.4.2 ELEMENTOS DA MANOBRA DE CRISE E O SEU DESENVOLVIMENTO

3.4.2.1 Manobra de crise consiste no processo de condução da crise e tem por


finalidade básica conseguir uma paz vantajosa, evitando que ela evolua para o
conflito armado.

3.4.2.2 O processo de condução da crise, refletido nas decisões políticas, deve


transcorrer em conformidade com os interesses nacionais e desenvolver-se segundo
uma sequência natural de ações e reações, que pode ser dividida em: desafio,
desenvolvimento e resultados finais (Fig 3-2).
a) Desafio: é a ação desencadeada propositadamente pelo agente que dá origem à
crise, atuando sobre uma vulnerabilidade do oponente. O agente provocador, ao dar
início à manobra de crise, assume a iniciativa e explora a liberdade de ação e a
surpresa, visando à consecução de seus objetivos político-estratégicos.
b) Desenvolvimento
1) Reação: consiste na primeira atividade do provocado com vistas à anulação da
ação adversária, de modo a neutralizar o desafio e obter a iniciativa das ações.
Busca, inicialmente, controlar a crise e, depois, conduzi-la de forma vantajosa.
2) Confrontação: são as ações e reações, quando as partes oponentes buscam
manter a iniciativa mediante uma situação que inflija, no máximo, dano igual ou
ligeiramente superior ao causado pela ação adversária.
c) Resultados Finais
1) Acordo: é a parte mais importante, delicada e decisiva da manobra de crise,
pois significa a solução pacífica para o conflito.
2) Conflito Armado: resultado final indesejável, significando que a manobra de
crise não obteve sucesso.

3.4.2.3 Normas de Comportamento Político


3.4.2.3.1 As opções para o comportamento político-estratégico dos oponentes são
escalar, estabilizar e distender.
a) Escalar - Ações para testar a firmeza do oponente ou aproveitar o momento
propício para exercer pressão mais decisiva em busca de um acordo. Esta opção
embute riscos mais elevados. Nesta etapa, aquele que conduz a manobra tem a
intenção de ser mais contundente em suas ações, provocando o agravamento da
crise mediante o aumento de atores envolvidos (escalada horizontal), do nível de
hostilidade (escalada vertical), ou de ambos. A escalada vertical pode ser realizada
de maneira ofensiva ou defensiva. A ofensiva consiste na realização de ações hostis
provocadoras em ordem crescente de intensidade. A defensiva constitui-se em
reação ante uma provocação com intensidade superior à ação.
b) Estabilizar - Reações que, a cada passo da evolução, correspondam exatamente
às ações do oponente, em natureza e intensidade. Visam a estabilizar a crise,

3-4
mantendo o status quo, a fim de ganhar tempo para arregimentação de novas forças
ou aguardar conjunturas mais favoráveis.
c) Distender - Trata-se da evolução de natureza defensiva, que busca evitar o uso
da força, procurando aliviar tensões, diminuir riscos de escalada indesejável e criar
condições de negociação em níveis mais baixos de hostilidades.

CRISES INTERNACIONAIS
SEQUÊNCIA DE AÇÕES/REAÇÕES COMPORTAMENTO POLÍTICO
* Desafio * Escalar
* Desenvolvimento - Horizontal
- Reação - Vertical (Ofs/Def)
- Confrontação * Estabilizar
* Resultados Finais * Distender
- Acordo
- Conflito Armado
Fig 3-2 – Manobra de Crise

3.4.2.4 Planejamento
3.4.2.4.1 O planejamento das ações concorrentes caracteriza-se pela escolha da
opção para o comportamento político-estratégico a adotar: escalar, estabilizar ou
distender. Nesse planejamento devem ser considerados, entre outros, os seguintes
aspectos:
a) manter inegociáveis os objetivos nacionais, uma vez que as crises são conflitos
de interesses e não de princípios;
b) manter o autocontrole sobre o próprio comportamento e procurar exercer controle
sobre o do oponente;
c) evitar o excesso deliberado de violência e prevenir o inadvertido, pelo efetivo
controle político das ações de toda a natureza;
d) evitar a diversificação desnecessária dos objetivos e propósitos;
e) evitar opções irreversíveis, mantendo a liberdade de ação para escalar ou
distender;
f) deixar aberturas para o entendimento e saídas honrosas para o oponente;
g) procurar o apoio da opinião pública nacional e internacional, influindo
permanentemente sobre as mesmas;
h) manter abertos canais diretos de comunicação com o partido oposto;
i) refrear o curso dos acontecimentos, empregando as forças com flexibilidade e
controle, para que sejam repensadas e diminuídas as tensões emocionais;
j) não atribuir importância a eventos e fatos aparentemente pequenos, que possam
gerar aumento no grau de complexidade;
k) reconhecer os dilemas do oponente, que estará também em busca de um
resultado final que atenda aos seus interesses;
l) servir-se de constante e íntimo relacionamento entre os domínios das
considerações políticas, econômicas, psicossociais e militares;
m)controlar as informações dirigidas ao público e exercer atividades de operações
psicológicas;

3-5
n) empregar as Forças Armadas (FA) em ações não facilmente classificáveis como
atos de guerra, mas como ameaça para dissuadir ou persuadir, ou para demonstrar
a disposição de escalar, sendo a violência armada compatível com os interesses em
jogo;
o) manter prontidão permanente dos segmentos do Poder Nacional que estão sendo
ou poderão ser empregados no desenvolvimento do conflito;
p) exercer pressões políticas e diplomáticas;
q) explorar indiretamente personalidades, dissidentes e grupos de opinião;
r) obter e usar o apoio de aliados ou alinhados; e
s) exercer pressões econômicas.

3.4.2.5 Estrutura de Manobra de Crise


3.4.2.5.1 Para a aplicação da metodologia de manobra de crise, há a necessidade
de existência de uma estrutura própria, adequadamente configurada. O componente
principal dessa estrutura é o Gabinete de Crise. Composto por autoridades do mais
alto nível do Estado, o Gabinete de Crise é o responsável pelas análises e decisões
requeridas em função das evoluções dos quadros político e estratégico. Cabe a tal
estrutura o exame da situação, o planejamento e a condução necessários à
manobra da crise. Para tal, deve:
a) reconhecer a existência de uma crise político-estratégica, em vista da ameaça a
interesses vitais da nação;
b) identificar os atores envolvidos;
c) identificar ou inferir os objetivos político-estratégicos de cada ator;
d) traçar o plano de condução da crise; e
e) estabelecer normas de comportamento político-estratégico.

3.4.2.5.2 A elaboração de um Diagrama de Relações resume o arco de influência


dos atores presentes na crise, indicando as questões de Competição, Cooperação,
Influenciação e Alianças para melhor analisar as possibilidades comparativas que a
situação requer.

Fig 3.3 Diagrama de Relações

3.4.2.5.3 Devem-se observar dois importantes aspectos ao identificar-se os


interesses nacionais relacionados com a crise. Primeiro, ao atuar como provocador,
evitar a diversificação de objetivos que possa vir a dificultar a condução da manobra.

3-6
O segundo aspecto é atentar para a possibilidade, normalmente indesejável, de
envolver interesses nacionais de outros países na crise, cujas eventuais inclusões
podem influir significativamente em seu desenvolvimento.

3.4.2.5.4 A fim de assessorar permanentemente as autoridades que compõem o


Gabinete de Crise, deve ser estabelecido um grupo executivo, com a
responsabilidade de prover os elementos necessários às análises e decisões. É
importante que esse grupo faça parte da estrutura permanente do Governo e tenha
a capacidade de abrigar especialistas externos, possibilitando a composição de uma
equipe multidisciplinar. Deve, portanto, estar apto a garantir interlocuções com os
demais setores do Governo envolvidos com a crise e com o exterior.

3.4.2.5.5 O Gabinete de Crise deve valer-se de um conselho de alto nível para


legitimar as análises e decisões, considerando-se a permanente iminência do
irrompimento de um conflito armado. No Brasil, o Conselho de Defesa Nacional
atende a essa necessidade.

3.4.2.5.6 A ativação da estrutura de manobra de crise é de responsabilidade do


Comandante Supremo.

3.4.2.5.7 A metodologia para a manobra de crise deve prever, além da organização


funcional da estrutura apresentada, o estabelecimento de atribuições, normas e
procedimentos. É de extrema importância que a passagem da situação de crise para
a situação de conflito armado se processe sem a necessidade de grandes
transformações.

3.4.2.5.8 Cabe ao Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas guarnecer


permanentemente o Centro de Comando e Controle do Comandante Supremo
(CC2CS), a fim de prover a interligação funcional com os centros de comando e
controle das Forças, com outros órgãos envolvidos, bem como realizar o
acompanhamento da situação e da evolução da crise, de modo que a transição para
uma situação de guerra aconteça sem solução de continuidade.

3.4.2.5.9 A compilação do quadro político-estratégico da situação da crise requer,


em face de sua complexidade, rigoroso acompanhamento pretérito, que deve ser
realizado por um grupo executivo permanente, acrescido de especialistas de áreas
afins com a natureza da crise. Nesse particular, tem relevância o papel do
negociador, que deve ser alguém com ampla experiência no tema em questão e
portador da delegação de poder outorgada pela autoridade que gerencia a crise.

3.4.2.5.10 O acompanhamento das vulnerabilidades e dos fatores de força dos


Estados envolvidos são medidas prudentes. Essa conduta é fundamental para que
se identifique o objetivo de um possível provocador, assim como os potenciais alvos
de sua reação. Isso reforça a importância das informações estratégicas e
operacionais.

3.4.2.6 Aplicação do Poder Nacional


3.4.2.6.1 Estabelecida a estrutura para a manobra de crise e efetuado o seu
planejamento, a condução da crise passa à execução.

3-7
3.4.2.6.2 Não há regras gerais ou mesmo recomendações que garantam a eficácia
da aplicação do Poder Nacional em manobra de crise. Além de cada situação
envolver um grande número de fatores e variáveis diferentes, os Estados possuem
peculiaridades, fruto das características de cada povo. Assim, as soluções que são
adequadas para um país podem ser inaceitáveis para outros.

3.4.2.6.3 A condução de uma crise político-estratégica é atribuição do mais alto nível


do poder político do país. As ações derivadas das expressões política, econômica,
científico-tecnológica, psicossocial e militar do Poder Nacional, executadas
harmonicamente, por meio do emprego controlado da pressão e da força, visam a
influenciar o opositor a aceitar um acordo pela via da negociação.

3.4.2.6.4 Na evolução da crise, deve existir proporcionalidade entre a causa do


conflito e os meios empregados para resolvê-la. As respostas dos envolvidos devem
ser adequadas aos desafios e às reações. Para estabelecer com clareza a conduta
a ser adotada pelas diferentes expressões do Poder Nacional, em particular a militar,
os mais altos níveis de condução da crise formalizam suas opções de
comportamento por meio de Normas de Comportamento Político-Estratégico.

3.4.2.7 Aplicação do Poder Militar


3.4.2.7.1 Durante a manobra de crise, o poder militar é aplicado com o fim de
pressionar o oponente e induzi-lo a alterar sua posição favoravelmente aos nossos
interesses, possibilitando a consecução do objetivo político motivador da crise.

3.4.2.7.2 O poder militar busca dar continuidade às relações políticas entre Estados,
agora com o emprego de meios que contribuam para o acordo desejado, por
compulsão (intimidação ou atrição). Assim, o emprego do poder militar tem como
propósito inicial dissuadir o oponente e indicar-lhe a firme disposição do Estado de
defender seus interesses até as últimas consequências.

3.4.2.7.3 As limitações às ações militares estabelecidas pelo nível político decorrem,


na prática, de fatores que condicionam as doutrinas do governo ao buscar seus
objetivos. Tais fatores são geralmente de natureza política e jurídica. Eles devem ser
corretamente identificados no nível político e transmitidos ao nível estratégico, para
que este gere as suas normas de comportamento.

3.4.2.7.4 Dentre os fatores de natureza política citam-se as alianças, os acordos e


os interesses de países não envolvidos na crise. Há que se considerar que os
fatores de natureza política internos podem condicionar as ações militares voltadas
para o ambiente externo. Assim, diversas questões de política externa poderão ser
tratadas por meio de comportamentos mais agressivos, com o propósito maior de
amortecer os problemas internos de natureza política ou socioeconômica.

3.4.2.7.5 Os fatores condicionantes de natureza jurídica são entendidos como


limitações impostas pelo Direito Internacional Público (DIP).

3.4.2.7.6 A manobra de crise exige unidade de ação e responsabilidade em todos os


níveis, a fim de garantir a correta atuação, não apenas da direção da política, mas
também da sua execução. Para tal, impõe-se o emprego de meios que
proporcionem uma fácil ligação do poder político com o poder militar. Evidencia-se,

3-8
portanto, a necessidade de um eficiente sistema de C2 que garanta respostas
tempestivas e adequadas à situação.

3.4.2.7.7 Quando do emprego das forças, os comandos de nível operacional


traduzem as instruções dos níveis superiores em regras de comportamento
operativo, as quais orientam os comandos de nível tático sobre as diferentes ações
que suas unidades devem ou ficam autorizadas a executar em resposta às ações do
oponente.

3.4.2.7.8 Considerando-se esses aspectos, o poder naval, o poder militar terrestre e


o poder militar aeroespacial, com suas características próprias, colocam-se como
eficazes instrumentos para a implementação de ações na manobra de crise,
permitindo o uso gradual e controlado da força, no momento e local que se fizer
necessário, em atendimento às decisões político-estratégicas de escalar, estabilizar
ou distender.

3.4.2.7.9 Em casos de crise interna, a atuação das Forças Armadas na garantia da


lei e da ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes constitucionais, possui
caráter excepcional, episódico e temporário. Ocorrerá de acordo com as diretrizes
baixadas em ato do Presidente da República, após esgotados os instrumentos
destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio.

3.4.2.7.10 A decisão presidencial para o emprego das Forças Armadas nessa


situação poderá ocorrer diretamente por sua própria iniciativa ou por solicitação dos
chefes dos outros poderes constitucionais, representados pelos Presidentes do
Supremo Tribunal Federal, do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados. A
diretriz presidencial que autoriza e formaliza esse emprego será transmitida
diretamente ao Ministro de Estado da Defesa e estabelecerá a missão, as
condicionantes do emprego, os órgãos envolvidos e outras informações necessárias.

3.5 A GUERRA / CONFLITO ARMADO

3.5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

3.5.1.1 A guerra é o conflito no seu grau máximo de violência. Muito tem-se adotado
substituir o vocábulo “guerra” por “conflito armado”. Em função da magnitude do
conflito, pode-se implicar a mobilização de todo o Poder Nacional, com
predominância da expressão militar, para impor a vontade de um ator ao outro.

3.5.1.2 O conflito armado é amplamente entendido como recurso utilizado por


grupos politicamente organizados que empregam a violência armada para solucionar
controvérsias ou impor sua vontade a outrem.

3.5.1.3 As expressões guerra e conflito armado diferenciam-se apenas na


perspectiva jurídica, segundo a qual a guerra entre Estados, de acordo com leis
internacionais, condiciona-se a certos requisitos. Entre eles figuram o
estabelecimento da neutralidade de países e a necessidade de declaração formal de
guerra. Uma vez que as guerras atuais têm ocorrido sem atender a esses requisitos,
a expressão guerra vê-se limitada em sua adoção.

3-9
3.5.1.4 A crescente dificuldade de aceitação internacional da guerra como recurso
lícito do Estado e seu indevido entendimento, pelo público em geral, como crime
contra a humanidade, são outras razões que explicam a tendência da limitação do
emprego do termo guerra. No entanto, a bibliografia especializada e os recentes
compêndios de História continuam a utilizar sistematicamente a expressão guerra,
exceto quando esse fenômeno social é tratado no campo jurídico. Por outro lado, o
termo “conflito armado” pode traduzir uma ideia de limitação de engajamento do
Poder Nacional e de objetivos em jogo. Escaramuças armadas na faixa de fronteira
de uma área em litígio e convulsões sociais em um Estado, que superem a
capacidade de controle dos órgãos policiais, exemplificam a assertiva.

3.5.1.5 O preparo do país para a guerra exige transformações estruturais e envolve


todos os setores da nação. O planejamento para atender a essa situação deve ser
previamente elaborado, a fim de que a passagem da situação de paz para a
situação de guerra transcorra da forma mais rápida e harmônica possível.

3.5.1.6 A condução da guerra requer também a participação plena de todos os


setores da nação num esforço sinérgico contra o poder inimigo em todas as suas
expressões, em função dos riscos envolvidos – perda de soberania,
comprometimento da integridade territorial e patrimonial.

3.5.2 FORMAS DE GUERRA

3.5.2.1. Não há unanimidade no tocante à classificação das guerras. De um modo


geral, ela obedece a diferentes enfoques e propósitos. Dependendo do prisma sob o
qual se observe, o fenômeno da guerra pode ser classificado de diversas maneiras.
Normalmente, a realidade dos conflitos armados exige flexibilidade na combinação
dos conceitos.

3.5.2.2. Quanto ao tipo de forças empregadas


a) Guerra Regular - Conflito armado entre Estados ou coligação de Estados no
qual as operações militares são executadas, predominantemente, por forças
regulares, podendo ser:
1) Guerra Convencional - Conflito armado realizado dentro dos padrões
clássicos e com o emprego de armas convencionais, podendo ser total ou limitada,
quer pela extensão da área conflagrada, quer pela amplitude dos efeitos a obter. É o
principal propósito da preparação e do adestramento das FA da maioria dos
países;e
2) Guerra Nuclear - Conflito armado caracterizado pelo emprego de armas
nucleares. Pode ser total ou limitada, tanto pela extensão da área conflagrada,
quanto pelos efeitos desejados.
b) Guerra Irregular - Conflito armado executado por forças não regulares ou por
forças regulares empregadas fora dos padrões normais da guerra regular, contra um
governo estabelecido ou um poder de ocupação, com o emprego de ações típicas
da guerra de guerrilhas. Divide-se em:
1) Guerra Insurrecional - Conflito armado interno, sem apoio de uma ideologia,
auxiliado ou não do exterior, em que parte da população empenha-se contra o
governo para depô-lo ou obrigá-lo a aceitar as condições que lhe forem impostas;
2) Guerra Revolucionária - Conflito armado interno, geralmente inspirado em
uma ideologia e auxiliado ou não do exterior, que visa à conquista do poder pelo
controle progressivo da nação; e

3-10
3) Guerra de Resistência - Conflito armado em que nacionais de um país
ocupado por outro país ou coligação de países, total ou parcialmente, lutam contra o
poder de ocupação para restabelecer a soberania e a independência preexistentes.

3.5.2.3. Quanto à amplitude geográfica


a) Guerra Mundial - Conflito armado que envolve a totalidade dos países cujo
Poder Nacional seja significativo em escala internacional.
b) Guerra Regional - Conflito armado que envolve um conjunto de nações
geopoliticamente agrupadas, sem generalizar-se por outras áreas.

3.5.2.4. Quanto ao grau de engajamento do poder nacional


a) Guerra Total - Conflito armado no qual os beligerantes empregam todo o seu
poder nacional, sem restrições quanto aos métodos e engenhos e mesmo quanto às
leis convencionais de guerra.
b) Guerra Limitada - Conflito armado entre Estados ou coligação de Estados, sem a
amplitude da guerra total, caracterizado pela restrição implícita ou consentida dos
beligerantes, tais como espaço geográfico restrito ou limitação do poder nacional
empregado, pelo menos por um dos beligerantes.

3.5.2.5. Quanto ao poder relativo dos contendores


a) Guerra Simétrica - Conflito armado que contrapõe dois poderes militares que
guardam entre si semelhanças de capacidades e possibilidades. Normalmente, os
contendores adotam majoritariamente técnicas, táticas e procedimentos típicos da
guerra regular.
b) Guerra Assimétrica - Conflito armado que contrapõe dois poderes militares que
guardam entre si marcantes diferenças de capacidades e possibilidades. Trata-se de
enfrentamento entre um determinado partido e outro com esmagadora superioridade
de poder militar sobre o primeiro. Neste caso, normalmente o partido mais fraco
adota majoritariamente técnicas, táticas e procedimentos típicos da guerra irregular.

3.5.2.6. Quanto à nacionalidade dos contendores


a) Guerra Externa - Conflito armado, total ou limitado, entre Estados / coligações de
Estados.
b) Guerra Interna - Conflito armado no interior de um país, regular ou não, visando
atender tanto a interesses de um grupo ou do povo quanto a objetivos políticos de
um Estado ou coligação de Estados. A Guerra Civil exemplifica esse conceito.

3.5.3 NÍVEIS DE CONDUÇÃO DA GUERRA

3.5.3.1 Em termos de organização, preparação e condução da guerra, as


responsabilidades são escalonadas nos níveis de decisão político, estratégico,
operacional e tático.

3.5.3.2 No Brasil, o nível político é representado pelo Presidente da República


(Comandante Supremo das FA), que tem como órgão consultivo o CDN. A ele cabe,
dentre outras atribuições, o estabelecimento dos objetivos políticos de guerra, a
celebração de alianças, a formulação de diretrizes para as ações estratégicas de
cada campo do Poder Nacional, a definição das limitações ao emprego dos meios
militares, ao uso do espaço geográfico, ao direito internacional e aos acordos a
serem respeitados.

3-11
3.5.3.3 O nível estratégico transforma os condicionamentos e as diretrizes políticas
em ações estratégicas, voltadas para os ambientes externo e interno, a serem
desenvolvidas setorialmente pelos diversos ministérios, de maneira coordenada com
as ações da expressão militar (expressão prevalecente). Este nível se desdobra em
todos os setores da vida nacional. Eventualmente neste nível, as diretrizes políticas
e os recursos setoriais de toda ordem podem ser reavaliados e ajustados, mediante
a adequação, a flexibilização ou o cancelamento dos objetivos anteriormente
fixados, acordados com o nível político. O nível estratégico, no Brasil, é composto
pelo MD, Conselho Militar de Defesa (CMiD) e pelos Comandos das Forças
Armadas.

3.5.3.4 No nível operacional, são elaborados os planejamentos das campanhas e


realizada a condução das operações requeridas pela guerra, em conformidade com
a estratégia estabelecida. Os comandos operacionais compõem esse nível de
condução da guerra.

3.5.3.5 No nível tático, empregam-se forças militares, organizadas segundo


características e capacidades próprias, para conquistar objetivos operacionais ou
para cumprir missões. Nesse nível, ocorrem enfrentamentos entre forças oponentes
e são utilizados procedimentos padronizados e técnicas associadas ao
adestramento e à liderança dos chefes militares.

3.5.3.6 A estruturação dos níveis acima referidos também se apresenta, guardadas


as devidas proporções, em caso de outros empregos do Poder Nacional e das FA
que não a guerra.

3.5.4 SOLUÇÃO DA GUERRA

3.5.4.1 Seja qual for a sua causa, a solução da guerra será conseguida quando
alcançar uma ou mais das seguintes condições:
a) a estrutura de apoio ao esforço de guerra do inimigo tiver sido afetada a tal ponto
que ele não consiga mais manter poder militar suficiente para o prosseguimento das
operações;
b) quebra da vontade de lutar do inimigo;
c) perda de condições do governo inimigo em congregar o povo para o esforço de
guerra;
d) redução da capacidade das FA inimigas a um ponto tal que impeça uma oposição
efetiva.

3.5.4.2 A situação pós-conflito deve merecer especial atenção dos responsáveis


pela guerra, a fim de que sejam propiciadas ao vencido condições para a sua
recuperação, fator essencial para o restabelecimento da paz.

3-12
CAPÍTULO IV

ESTRATÉGIA MILITAR

4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

4.1.1 Para o cumprimento da sua destinação constitucional e das atribuições


subsidiárias, as FA utilizam Estratégias Militares e Princípios de Guerra como
fundamentos para o seu emprego.

4.1.2 Estratégia Militar é a arte e ciência de prever o emprego, preparar, orientar e


aplicar o Poder Militar durante os conflitos, considerados os óbices existentes ou
potenciais, visando à consecução ou à manutenção dos objetivos fixados pelo nível
político. Conclui-se, portanto, que a Estratégia Militar se constitui em um dos
componentes da Estratégia Nacional.

4.1.3 Um aspecto de suma importância para a Estratégia Militar é "compreender as


transformações da guerra mais depressa que o adversário e, em consequência,
estar em condições de prever a influência de fatores novos". (André Beaufre).

4.1.4 Princípios de Guerra são preceitos filosóficos decorrentes de estudos de


campanhas militares ao longo da História e apresentam variações no espaço e no
tempo. São pontos de referência que orientam e subsidiam os chefes militares no
planejamento e na condução da guerra sem, no entanto, condicionar suas decisões.

4.1.5 O comandante, ao planejar e executar uma campanha ou operação, levará


em consideração o que preconizam os princípios, interpretando-os e aplicando-os
criteriosamente em face da situação, decidindo quais irá privilegiar, em detrimento
ou não de outros.

4.1.6 As peculiaridades das Estratégias Militares e dos Princípios de Guerra,


quando adotados pelo Exército Brasileiro para o cumprimento de suas missões
constitucionais, encontram-se amplamente explanadas em documentos específicos
da Força.

4.2 CONCEITOS BÁSICOS

4.2.1 OBJETIVOS POLÍTICOS DE GUERRA

4.2.1.1 A concepção da ação estratégica militar deve estar calcada no(s)


objetivo(s) que o Estado pretende atingir e no estado final desejado ao término do
conflito. Este objetivo é denominado objetivo político de guerra ou, simplesmente,
objetivo de guerra.

4.2.1.2 Exemplos de objetivos de guerra:


a) conquista da independência;
b) substituição de governo;

4-1
c) implantação de novo regime político-econômico;
d) difusão de ideologias ou dogmas religiosos;
e) manutenção do equilíbrio de poder;
f) ampliação territorial;
g) conquista de faixa de segurança;
h) manutenção de "status quo";
i) rendição incondicional;
j) conquista de posições de alto valor estratégico; e
k) extinção de um Estado; etc.

4.2.1.3 A seleção de um objetivo de guerra deve estar de acordo com a


capacidade do poder nacional de conquistá-lo.

4.2.2 OBJETIVOS ESTRATÉGICOS

4.2.2.1 Os objetivos políticos do conflito deverão ser traduzidos para o nível


estratégico, estabelecendo os objetivos das operações militares (objetivos
estratégicos).

4.2.2.2 Objetivo estratégico é aquele cuja conquista, destruição ou neutralização


contribui para abater a estrutura política, militar, científico-tecnológica, psicossocial
ou econômica do oponente, privando-o dos recursos necessários ao prosseguimento
da guerra. Pode ser definido, também, como um efeito desejado, em nível
estratégico, que deve ser alcançado ou visado e que contribui para a consecução de
um objetivo político ou de um outro objetivo estratégico.

4.2.2.3 Os objetivos estratégicos, para efeito de avaliação, podem ser relacionados


em dois grandes grupos:
a) decorrentes da concepção política (explícitos ou implícitos), dentre os quais
podem ser encontrados os próprios objetivos de guerra e os centros vitais de uma
área estratégica; e
b) decorrentes dos tipos e formas das operações que podem ser realizadas em
determinada área, representando interesse imediato para a execução das ações
estratégicas previstas (centros demográficos e industriais, instalações de
importância, acidentes geográficos notáveis, instalações militares e civis
relacionadas com os transportes terrestres, marítimos ou aéreos, nós
rodoferroviários, pontos críticos, usinas elétricas, represas, obras-de-arte, etc.).

4.2.2.4 Exemplos de objetivos estratégicos voltados para a expressão militar


do Poder Nacional:
a) destruição ou neutralização das forças militares inimigas;
b) destruição ou ocupação de centros do Poder Nacional adverso (particularmente
nas expressões política e econômica), de territórios, áreas ou cidades;
c) obtenção do controle ou dissociação da população;
d) corte do fluxo de suprimento;
e) conquista e/ou manutenção de determinado espaço geográfico, visando ganhar
tempo para outras ações;
f) neutralização dos meios de sustentação do esforço de guerra adversário; etc.

4-2
4.2.3 CENTRO DE GRAVIDADE

4.2.3.1 Centro de gravidade é a fonte de força, poder e resistência física ou moral


que confere ao contendor, em última análise, a liberdade de ação para utilizar
integralmente seu poder de combate. O CG, uma vez conquistado ou atingido,
poderá resultar no desmoronamento da estrutura de poder, uma vez que se trata de
um ponto de equilíbrio que dá coesão às forças, à estrutura de poder e à resistência
do adversário, sustendo o seu esforço de combate. Existe em todos os níveis de
condução da guerra.

4.2.3.2 O conhecimento do centro de gravidade condiciona a seleção do(s)


objetivo(s) de guerra. A ideia de centro de gravidade também subsiste em relação às
forças militares oponentes, ou seja, é válido considerar esse ponto vital no aparato
militar do inimigo que se defronta.

4.2.3.3 Outro aspecto a se observar é que, ao longo da evolução da situação, o


centro de gravidade pode sofrer variação.

4.2.4 LIBERDADE DE AÇÃO

4.2.4.1 Ao se conceber uma ação militar, um dos fatores primordiais a se


considerar é o grau de liberdade de ação de que dispõe ou pode dispor o país, para
orientar suas formulações estratégicas.

4.2.4.2 O nível político, responsável por estabelecer os objetivos de guerra, pode


sofrer limitações decorrentes de diversas circunstâncias, que influenciarão ou não a
liberdade de ação. Caso o Estado leve em consideração essas limitações, sua
liberdade de ação estará reduzida. Caso contrário, o Estado manterá sua liberdade
de ação à custa de sensíveis riscos políticos, econômicos, psicossociais ou militares.
Aceitando limitações, o Estado poderá impor condicionantes à formulação da
estratégia militar tais como:
a) ritmo a imprimir às operações;
b) intensidade e extensão da violência;
c) emprego de força aérea e/ou de mísseis estratégicos;
d) bloqueio naval; e
e) áreas restritas.

4.2.4.3 Segundo André Beaufre, cumpre ressaltar que, “em nossos dias, todo
conflito somente se pode travar dentro de uma margem bem-definida de liberdade
de ação, por causa das repercussões que seu desenvolvimento poderia ter sobre a
situação internacional”.

4.3 ESTRATÉGIA MILITAR

4.3.1 MÉTODOS DA ESTRATÉGIA MILITAR

4.3.1.1 O nível estratégico de planejamento, com base nos Objetivos Políticos e na


concepção estratégica de emprego da expressão militar do Poder Nacional, pode

4-3
adotar um dos seguintes métodos da Estratégia Militar: ação direta, aproximação
indireta, ação indireta e nuclear.

4.3.1.2 A Estratégia Militar da Ação Direta busca a solução do conflito pela vitória
militar, mediante o emprego de forças militares com a finalidade de destruir as forças
armadas inimigas e/ou conquistar seu território. Esse método exige flagrante
superioridade de meios militares e boa liberdade de ação para empregá-los. Nos
dias atuais, há que se considerar as normas do Direito Internacional dos Conflitos
Armados (DICA) em relação à destruição das forças inimigas.

4.3.1.3 A Estratégia Militar da Aproximação Indireta também busca a solução do


conflito pela vitória militar, porém preconiza a adoção de linha de ação que
desequilibre o adversário, atingindo seu centro de gravidade e anulando sua
capacidade de reação. Desta forma, evita-se o confronto direto com forças inimigas
principais e, consequentemente, a destruição total de suas forças, por intermédio de
ações em profundidade contra a sua retaguarda (centros de comando e controle,
instalações logísticas, centros econômicos e industriais, moral da população, etc.),
paralisando-as e forçando-as à rendição.

4.3.1.4 A Estratégia Militar da Ação Indireta não busca a solução do conflito pela
vitória militar. Está baseada em ações militares limitadas (bloqueios, bombardeios,
incursões, etc.) em complemento às ações políticas/diplomáticas, econômicas e
psicossociais, que buscam a submissão do oponente no contexto de uma Estratégia
Nacional. Esse método é adotado, normalmente, em decorrência da inferioridade de
meios militares e/ou da falta de liberdade de ação e, ainda, da convicção de que a
solução para o conflito pode e deve ser obtida sem o emprego da violência máxima.

4.3.1.5 A Estratégia Militar Nuclear busca a solução do conflito pela vitória militar,
empregando armas nucleares contra os centros do poder do inimigo e/ou contra as
suas forças estratégicas de ataque. Cabe ressaltar que, não sendo o Brasil uma
potência nuclear, esse método não constitui uma opção de planejamento
estratégico.

4.3.2 MODELOS DA ESTRATÉGIA MILITAR

4.3.2.1 O Exército Brasileiro poderá empregar, de forma singular ou conjunta, os


seguintes modelos da Estratégia Militar: Ação Independente, Aliança, Ofensiva,
Defensiva, Dissuasão, Presença, Projeção de Poder e Resistência. Esses modelos
estratégicos poderão ter caráter nacional (Estratégia Nacional) ou peculiar da Força,
de acordo com as circunstâncias em que forem implementadas. Em qualquer caso,
poderá se verificar a participação coadjuvante de outras expressões do poder que
não a militar.

4.3.2.2 As estratégias da Força Terrestre devem ser desenvolvidas segundo a


premissa de que as estratégias de defesa devem ser pensadas em termos de forças
armadas integradas (emprego conjunto).

4.3.2.3 Ação Independente: caracteriza-se pelo emprego do Poder Nacional, com


preponderância da expressão militar, de forma independente e sem alianças
constituídas, por iniciativa e decisão do governo, quando estiverem ameaçadas a

4-4
observância e a consecução de seus fundamentos e objetivos nacionais estipulados
na legislação em vigor, com base no princípio da legítima defesa e dos interesses
vitais nacionais, e mesmo à revelia dos organismos internacionais.

4.3.2.4 Aliança: caracteriza-se pelo emprego do Poder Nacional, com


preponderância da expressão militar, em conjugação com a expressão militar de um
ou mais países, constituindo uma aliança ou coalizão de Estados, cujos objetivos e
interesses sejam convergentes.

4.3.2.5 Ofensiva: caracteriza-se pela iniciativa das operações em relação ao


inimigo, quer concentrando as ações em áreas de interesse, quer desencadeando-
as em território inimigo, sem qualquer propósito de anexação deste, mas obtendo
vantagens políticas e militares iniciais, visando às futuras negociações de paz.

4.3.2.6 Defensiva: caracteriza-se por uma atitude temporária, adotada


deliberadamente ou imposta ante uma ameaça ou agressão, até que se possa
retomar a ofensiva.

4.3.2.6.1 Tem por finalidade:


a) garantir a ocupação/manutenção de espaço geográfico de interesse;
b) economizar meios para aplicá-los em outra região;
c) diminuir as vantagens momentâneas do agressor; e
d) criar condições favoráveis ao desenvolvimento da ofensiva.

4.3.2.6.2 Preparar a defesa é a melhor opção quando a própria dissuasão é


custosa demais ou improvável de ser atingida. Tem caráter eventual e transitório no
âmbito da manobra estratégica, mas pode assumir um caráter permanente quando
se torna decisiva para a manutenção do potencial nacional.

4.3.2.7 Dissuasão: caracteriza-se pela manutenção de forças militares


suficientemente poderosas e prontas para emprego imediato, capazes de
desencorajar qualquer agressão militar.

4.3.2.7.1 A capacidade da expressão militar do Poder Nacional e a disposição


política de empregá-lo plenamente na Defesa Nacional, desde que sejam
internacionalmente críveis, contribuem diretamente para esta estratégia.

4.3.2.7.2 O Brasil adota uma postura estratégica baseada na existência de uma


estrutura militar com credibilidade, capaz de gerar efeito dissuasório. No contexto de
um plano mais amplo de defesa e a fim de reprimir uma possível agressão armada,
o País empregará todo o poder militar necessário e suas reservas mobilizáveis, com
vistas à decisão do conflito no prazo mais curto possível e com o mínimo de danos à
integridade territorial e aos interesses nacionais, buscando condições favoráveis
para o restabelecimento da paz.

4.3.2.8 Presença: caracteriza-se pela presença militar, no território nacional e suas


extensões, com a finalidade de cumprir a destinação constitucional e as atribuições
subsidiárias. É efetivada não só pela criteriosa articulação das organizações
militares no território, como também preponderantemente pela capacidade de rápido
deslocamento para qualquer região do País, quando necessário.

4-5
4.3.2.9 Projeção de Poder: caracteriza-se pela participação militar além fronteiras,
em situações que possibilitem o respeito internacional ao País, por iniciativa própria
ou atendendo a solicitações provenientes de acordos externos e/ou organismos
internacionais, visando a apoiar os interesses nacionais relacionados com a
manutenção da paz internacional.

4.3.2.10 Resistência: caracteriza-se pelo desenvolvimento de ações militares em um


conflito prolongado, de caráter restrito, na maioria das vezes de baixa intensidade,
normalmente contra um oponente possuidor de poder militar incontestavelmente
superior, e onde normalmente empregam-se ações não convencionais, como táticas
e técnicas de guerrilha. Visa a obter a decisão pelo enfraquecimento moral, físico e
material do inimigo, por sua desarticulação estratégica e tática, além da obtenção do
apoio político e da opinião pública, nacional e internacional.

4.4 PRINCÍPIOS DE GUERRA

4.4.1 Os princípios adotados por um país não se aplicam necessariamente a


outros. Eles variam até mesmo entre as FA de um mesmo país, devido às diferentes
naturezas dos cenários.

4.4.2 Não existe uma ordem de prioridade na enumeração dos princípios, pois a
importância de cada um em relação aos demais varia de acordo com a situação
considerada.

4.4.3 O Exército Brasileiro poderá empregar os seguintes Princípios de Guerra:


Objetivo, Ofensiva, Simplicidade, Surpresa, Segurança, Economia de Forças ou de
Meios, Massa, Manobra, Moral, Exploração, Prontidão e Unidade de Comando.

4.4.4 OBJETIVO

4.4.4.1 Princípio que diz respeito ao estabelecimento de objetivos claramente


definidos e atingíveis, a fim de obter-se os efeitos desejados. Por essa razão, a
seleção e a clara definição desses efeitos são essenciais para a condução da guerra
e para a realização das operações, garantindo que todas as ações militares
decorrentes concorram para um único fim, somando esforços e evitando
desperdícios de forças em ações que não contribuam para o cumprimento da
missão.

4.4.4.2 Uma vez fixado o objetivo, deve-se perseverar na sua busca, sem permitir
que as circunstâncias da guerra façam perdê-lo de vista.

4.4.5 OFENSIVA

4.4.5.1 Princípio que se caracteriza por levar a ação bélica ao inimigo, de forma a
se obter e manter a iniciativa das ações, estabelecer o ritmo das operações,
determinar o curso do combate e, assim, impor sua vontade.

4-6
4.4.5.2 A ação ofensiva é necessária para obterem-se resultados decisivos, bem
como para manter a liberdade de ação. É inspirada na audácia, fortalecendo o
espírito de corpo e motivando o combatente. Quando obrigado a uma postura
defensiva, o comandante deve procurar, por todos os meios, reverter a situação,
retomando a ofensiva o mais rápido possível.

4.4.6 SIMPLICIDADE

4.4.6.1 Princípio que preconiza a preparação e a execução de ordens e planos com


concepções claras e facilmente inteligíveis, a fim de reduzir a possibilidade eventual
de equívocos na sua compreensão, sem prejuízo da precisão e da flexibilidade
necessárias. Caracteriza-se, também, pelo estabelecimento de uma relação de
comando clara, direta e ininterrupta.

4.4.6.2 A simplicidade, em todos os níveis de planejamento, reduz a possibilidade


eventual de equívocos na compreensão das ordens e dos planos, além de facilitar
correções que o controle da ação planejada determinar, sem prejuízo da precisão,
da flexibilidade e do integral atendimento do propósito. Quando diversos planos
atenderem aos demais princípios de forma equivalente, o plano mais simples deverá
ser escolhido.

4.4.7 SURPRESA

4.4.7.1 Princípio que consiste em golpear o inimigo onde, quando ou de forma tal
que ele não esteja preparado. O comandante que obtém o efeito da surpresa poderá
alterar a seu favor, de forma decisiva, a correlação das forças em combate. Esse
princípio sugere que os esforços devam ser empreendidos de forma a surpreender o
inimigo e não ser surpreendido por ele. Com o emprego da surpresa, poderão ser
obtidos resultados superiores ao esforço despendido, compensando fatores
desfavoráveis.

4.4.7.2 A surpresa deverá ser buscada nos níveis estratégico, operacional e tático.
Manifesta-se pela originalidade, audácia nas ações, sigilo, despistamento, inovação
tecnológica e, sobretudo, pela velocidade de execução das ações e dissimulação.

4.4.8 SEGURANÇA

4.4.8.1 Princípio que consiste nas medidas essenciais à liberdade de ação e à


preservação do poder de combate necessário ao emprego eficiente das FA, tendo
por finalidades: negar ao inimigo o uso da surpresa e do monitoramento; impedir que
ele interfira, de modo decisivo, em nossas operações; e restringir-lhe a liberdade de
ação nos ataques a pontos sensíveis de nosso território ou de nossas forças.

4.4.8.2 Esse princípio realça três aspectos que devem ser considerados para sua
efetiva aplicação:
a) A obtenção de informações oportunas e precisas sobre o inimigo é indispensável,
não somente para o planejamento das operações como também para evitar-se a
surpresa;
b) Os planos e a localização das forças e dos pontos sensíveis no território, assim
como todas as atividades relacionadas com as ações militares, devem ser cercados

4-7
do maior grau de sigilo possível, o que dificultará a intervenção inimiga nas
operações e no esforço de guerra; e
c) a existência de doutrina e de mentalidade de contrainteligência, estabelecidas
desde o tempo de paz.

4.4.8.3 A segurança não implica atitude defensiva, evitando-se todos os riscos. Uma
certa dose de audácia é essencial ao êxito das operações. Demasiado cuidado ou
indevida cautela podem comprometer seriamente o uso da ofensiva ou a exploração
de vantagens. A aplicação desse princípio requer adequada análise das
possibilidades do inimigo, visando em especial à defesa das bases, das fontes de
suprimentos, das comunicações e das instalações vitais, com o propósito de reduzir
vulnerabilidades e de preservar a liberdade de ação. Esse princípio não busca a
eliminação de todos os riscos, mas admite o conceito de risco calculado.

4.4.9 ECONOMIA DE FORÇAS OU DE MEIOS

4.4.9.1 Princípio que se caracteriza pelo uso econômico das forças e pela
distribuição e emprego judiciosos dos meios disponíveis para a obtenção do esforço
máximo nos locais e ocasiões decisivos.

4.4.9.2 A aplicação adequada desse princípio baseia-se dentre outros, nos


seguintes aspectos:
a) deslocamento do maior poder combatente disponível para pontos selecionados,
dentro do esforço principal, com vistas a buscar ações decisivas;
b) apropriada economia de meios ou forças nos locais ou áreas consideradas
secundárias;
c) emprego adequado de forças nas ações secundárias, liberando forças para a
realização do esforço principal; e
d) dosagens adequadas dos meios, visando a obter o máximo rendimento com o
mínimo de esforços.

4.4.10 MASSA

4.4.10.1 Princípio que compreende a aplicação de forças superiores às do inimigo,


em termos de quantidade, qualidade e eficiência, em um ponto decisivo, no tempo
devido, com capacidade para sustentar esse esforço, enquanto necessário.

4.4.10.2 Os meios devem ser concentrados para que se possa obter superioridade
decisiva sobre o inimigo, no momento mais favorável às ações que se tenham em
vista. Essa concentração permite:
a) alcançar decisiva superioridade nos locais ou áreas onde o inimigo se apresenta
fraco e sem possibilidade de ser reforçado em tempo útil; e
b) aplicar o máximo de força para a produção do efeito desejado à campanha ou à
operação e para a consecução de seu propósito.

4.4.10.3 A aplicação desse princípio permite que forças numericamente inferiores


obtenham superioridade decisiva no momento e local desejado. Não implica
obrigatoriamente o emprego maciço de forças, mas a aplicação de golpes decisivos,
em superioridade, quando e onde forem requeridos.

4-8
4.4.11 MANOBRA

4.4.11.1 Princípio que se caracteriza pela capacidade de movimentar forças de


forma eficaz e rápida de uma posição para outra, contribuindo para obter
superioridade, aproveitar o êxito alcançado e preservar a liberdade de ação, bem
como para reduzir as próprias vulnerabilidades. A finalidade da manobra é criar, pela
utilização da mobilidade de um conjunto de forças, uma situação favorável para
alcançar objetivo estratégico ou tático. Dessa maneira, os meios serão dispostos de
forma tal que as forças inimigas sejam colocadas em desvantagem, contribuindo
para que os propósitos pretendidos sejam alcançados com menores perdas de
pessoal e material.

4.4.11.2 O sucesso desse princípio está diretamente ligado à flexibilidade na


organização de forças e no apoio logístico, ao adequado C2, à mobilidade, ao grau
de adestramento, à qualidade do planejamento, à disciplina, à iniciativa e ao
aproveitamento de oportunidades no tempo e no espaço.

4.4.11.3 Enfatiza a exploração da aproximação indireta, não meramente em termos


de mobilidade ou movimento espacial, mas também em termos de oportunidade,
iniciativa, liberdade de ação e definição do ponto decisivo de aplicação da força. Na
guerra moderna, a manobra procura destruir a coesão inimiga, por meio de variadas
ações rápidas, localizadas e inesperadas. O inimigo é submetido a uma situação de
turbulência, que provoca deterioração de sua capacidade de combate.

4.4.12 MORAL

4.4.12.1 Princípio que define o estado de ânimo ou atitude mental de um indivíduo,


ou de um grupo de indivíduos, que se reflete na conduta da tropa. A estabilidade e o
moral de cada indivíduo são fundamentados na qualidade da formação, na natureza
do indivíduo e determinados por suas reações à disciplina, ao risco, ao
adestramento e à liderança. Em um grupo, os estados de espírito individuais são
intensificados e o moral torna-se um fator cumulativo que pode variar positiva ou
negativamente. A estabilidade do grupo depende da qualidade dos indivíduos que
dele participam e de suas reações à ação do comandante.

4.4.12.2 O contínuo aprimoramento e a manutenção de um moral elevado são


essenciais ao sucesso na guerra. Nem sempre força numérica, bom armamento e
adequados recursos logísticos compensam a carência de moral e a descrença nos
objetivos da guerra.

4.4.13 EXPLORAÇÃO

4.4.13.1 Princípio caracterizado pela intensificação das ações ofensivas para


ampliar o êxito inicial, sempre que for obtido um sucesso estratégico ou tático, ou
houver evolução favorável na situação. A aplicação desse princípio dependerá de
julgamento com base em informações confiáveis, de consistente experiência e de
apreciável grau de controle sobre a situação, a fim de evitar o desvio do objetivo
perseguido pelo escalão mais alto.

4-9
4.4.13.2 A exploração permite tirar vantagem de oportunidades e,
consequentemente, empregar as forças em toda extensão de sua capacidade,
obtendo efeitos desejados que poderão facilitar a consecução do propósito final.

4.4.14 PRONTIDÃO

4.4.14.1 Princípio que se define como a capacidade de pronto atendimento das FA


para fazer face às situações que podem ocorrer em ambiente de combate. A
prontidão fundamenta-se na organização, no adestramento, na doutrina, nos meios
e no profissionalismo das forças, consubstanciando-se nas seguintes funções
militares: comando, inteligência, planejamento, operações, logística e mobilização.
Com a prontidão, subentende-se que as forças estão providas dos meios essenciais
e organizadas para operações de combate. Isso envolve o preparo antes das
hostilidades e, continuamente, no decorrer da guerra.

4.4.14.2 A prontidão do comando está diretamente ligada à adequada estruturação


do processo decisório, à eficaz organização do sistema de C2 e ao alto grau de
moral, disciplina, instrução, adestramento e do conhecimento doutrinário de
assessores e de chefes militares.

4.4.14.3 A prontidão de inteligência refere-se à existência de um órgão de


inteligência, já em funcionamento antes do surgimento das hostilidades, capaz de
produzir os conhecimentos necessários em todos os níveis de comando.

4.4.14.4 A prontidão de planejamento diz respeito à disponibilidade de planos


antecipados e atualizados e da aptidão para se produzirem planos complementares
em consonância com as alterações da situação.

4.4.14.5 A prontidão de operações envolve a realização de programas de


adestramento que possibilitem a disponibilidade de forças combatentes,
caracterizadas por sua resistência física e moral, disciplina, rusticidade e
competência profissional, bem como pela existência de reservas devidamente
adestradas e equipadas, em condições de emprego operacional.

4.4.14.6 A prontidão logística caracteriza-se pela plena capacidade de transportar,


instalar, manter, equipar e abastecer, apropriadamente e com oportunidade, as FA.

4.4.14.7 A prontidão de mobilização caracteriza-se pela permanente capacidade de


utilizar ou beneficiar-se dos recursos humanos e materiais disponibilizados pela
nação. Refere-se à existência, desde o tempo de paz, de um sistema de normas
jurídicas, levantamento de dados, procedimentos e adestramento que permitam uma
melhor utilização do potencial nacional.

4.4.15 UNIDADE DE COMANDO

4.4.15.1 Princípio que é caracterizado pela atribuição da autoridade a uma só


pessoa, ou seja, à pessoa do comandante. A guerra contemporânea não admite o
emprego de FA em campanhas isoladas. Assim sendo, a combinação dos meios e a
convergência de esforços tornam-se indispensáveis para que seja obtido o máximo
rendimento das forças disponíveis.

4-10
4.4.15.2 Atuando em íntima cooperação, o que somente se consegue com
planejamento integrado e emprego coordenado, os esforços serão maximizados
para a obtenção das metas comuns. Isso só é possível quando há unidade de
comando no mais alto escalão e mentalidade militar unificada em todos os níveis.

4.4.15.3 O princípio compreende as seguintes ideias básicas:


a) cadeia de comando bem definida, com precisa e nítida divisão de
responsabilidades;
b) delegação de autoridade adequada às tarefas determinadas;
c) sistema de C2 que permita o exercício pleno do comando e de comunicações
seguras e confiáveis entre as forças em operação;
c) doutrina operacional bem compreendida, aceita e praticada pelos comandantes
em todos os níveis;
d) programas de instrução e de adestramento que visem à produção de padrões de
eficiência, a um moral elevado e a uma espontânea unidade de esforços;
e) acompanhamento das ações planejadas, para identificação dos desvios ocorridos
e aplicação das correções pertinentes; e
f) exercício do comando baseado em liderança competente, capaz de infundir total
confiança e entusiasmo aos subordinados.

4.5 CONCEPÇÃO DA AÇÃO MILITAR

4.5.1 Os fundamentos do Planejamento Estratégico-Militar (PEM) são encontrados


na legislação e nos documentos de mais alto nível do país. Assim, o método
utilizado no planejamento transforma as condicionantes e as diretrizes políticas em
ações estratégicas, voltadas para os ambientes externo e interno, a serem
desenvolvidas, de maneira coordenada, por todas as expressões do Poder Nacional.

4.5.2 O Planejamento Estratégico-Militar tem por finalidade construir uma


capacidade de defesa, com preponderância de meios militares, para a garantia da
manutenção da condição de segurança definida para o país, frente às ameaças
externas, possíveis crises ou perturbações na ordem interna. O foco é a orientação
do preparo e do emprego conjunto das Forças Armadas, visualizando as eventuais
necessidades de articulação com as demais expressões do Poder Nacional.

4.5.3 O PEM é dividido em três etapas características:


a) Avaliação da Conjuntura e Elaboração de Cenários;
b) Exame de Situação e Planejamento; e
c) Controle das Operações Militares.

4.5.4 Mais detalhes sobre o PEM podem ser encontrados nos documentos do
Ministério da Defesa que tratam sobre o assunto, como o Manual de Operações
Conjuntas (MD30-M-01).

4-11
4.6 CONCEPÇÃO DA AÇÃO NÃO MILITAR

4.6.1 No contexto do planejamento da guerra, o Estado deverá, também,


determinar a concepção da ação não militar, para orientar a atuação das demais
expressões do poder nacional, de forma a melhor favorecer a ação militar.

4.6.2 No caso de preponderar a estratégia nacional indireta, a ação militar será


definida em função das ações a serem desenvolvidas pelas demais expressões do
poder nacional, em particular aquela que exercer papel principal.

4.6.3 Nos tempos atuais, proliferam ações correspondentes a estratégias indiretas,


tais como provocações, pressões de origens diversas e motivações variadas,
aspectos psicológicos, pregação persuasiva (que não se deixa identificar como tal),
influência cultural e ideológica e ações que se valem da comunicação social
(geralmente explorando causas nobres como a ambiental, a do desarmamento
mundial e regional e a dos direitos humanos).

4.6.4 É com base na compreensão desse cenário que se devem considerar as


atitudes, medidas e ações estratégicas a adotar, sempre com vistas a preservar os
interesses e os objetivos nacionais.

4.6.5 Por não serem objeto específico do presente manual, as ações não militares
não serão aqui estudadas em sua essência. Cumpre, entretanto, ressaltar que tais
ações, sempre presentes, mesmo na estratégia direta, deverão orientar-se para o
esforço nacional de guerra ou de evitar a guerra, desde o tempo de paz.

4.6.6 Dentre as ações estratégicas não militares, cumpre destacar uma de


fundamental importância para a defesa nacional – o fortalecimento da base industrial
de defesa. Sem isso, o poder nacional estará seriamente comprometido diante da
inquestionável possibilidade do surgimento de ameaças aos interesses nacionais,
bem como tornará utópica a capacidade dissuasória que se preconiza para o país.

4-12
CAPÍTULO V

A ESTRATÉGIA NO NÍVEL OPERACIONAL

5.1 OPERAÇÕES CONJUNTAS, COMBINADAS, DE COOPERAÇÃO E


COORDENAÇÃO COM AGÊNCIAS E INTERALIADAS

5.1.1 CONCEITUAÇÃO

5.1.1.1 Operações conjuntas – As Operações Conjuntas (OpCj) são


caracterizadas pelo emprego de meios ponderáveis de mais de uma Força Singular,
sob um comando único; constituem a evolução natural na forma de utilização da
Expressão Militar do Poder Nacional. A integração das forças navais, terrestres e
aéreas na Era do Conhecimento é condição capital para o êxito, desde a fase de
geração de capacidades conjuntas até o emprego em operações.

5.1.1.2 Operações combinadas – São operações empreendidas por elementos


ponderáveis de forças armadas multinacionais, sob a responsabilidade de um
comando único. Adquirem a qualificação de conjunto-combinadas, quando requerem
a participação de diferentes forças singulares e nações. (EB70-MC-10.223)

5.1.1.3 Operações de cooperação e coordenação com agências– São as


interações das Forças Armadas com outras agências com a finalidade de conciliar
interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos
convergentes que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de ações, a
dispersão de recursos e a divergência de soluções com eficiência, eficácia,
efetividade e menores custos.

5.1.1.4 Operações combinadas interaliadas – São aquelas relacionadas com o


emprego de forças ou elementos ponderáveis de dois ou mais Estados aliados, sob
um comando único, para o cumprimento de uma missão comum.

5.1.1.5 Operações interaliadas – São aquelas relacionadas com o emprego de


forças ou elementos ponderáveis de dois ou mais Estados aliados, sem que haja um
comando único.

5.1.2 COMANDO

5.1.2.1 As forças conjuntas, combinadas, de cooperação e coordenação com


agências e interaliadas caracterizam-se por certas diferenças que existem nos tipos
das organizações militares componentes.

5.1.2.2 Entre as forças interagências e as interaliadas, diferenças como doutrina,


técnicas e costumes são, normalmente, mais acentuadas. As operações tornam-se
mais complexas quando existem diferenças nos sistemas políticos, nas religiões,
nos idiomas e nos padrões culturais e filosóficos.

5-1
5.1.2.3 O comandante de uma força combinada, interagência ou interaliada deve
conhecer e saber avaliar diferenças, variações e reflexos para as operações. Deve
combinar o tato com a determinação, a paciência com o entusiasmo, para assegurar
o máximo de eficiência da força. Deve insistir no exercício do comando por meio dos
canais estabelecidos, a despeito das dificuldades impostas pelas diferenças de
procedimentos e pela barreira dos idiomas.

5.1.3 ESTADO-MAIOR

5.1.3.1 As forças conjuntas possuem seus próprios estados-maiores, que atuam


dentro de uma definição precisa de suas responsabilidades.

5.1.3.2 As forças combinadas recebem um estado-maior combinado, de acordo com


as prescrições estabelecidas.

5.1.3.3 Nas forças interagências e nas interaliadas pode ser estabelecido um


estado-maior misto ou interaliado, ou o estado-maior do comandante da força de
maior efetivo, que pode ser ampliado para permitir uma representação equilibrada
das outras forças participantes.

5.2 O NÍVEL OPERACIONAL DE PLANEJAMENTO

5.2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

5.2.1.1 O nível operacional de planejamento, representado pelo Teatro de


Operações (TO), é o elo vital entre a estratégia militar e o emprego tático das forças
na batalha.

5.2.1.2 Neste nível, o planejamento visa ao estabelecimento e à realização de


operações de caráter naval, terrestre e aéreo, coordenadas no tempo e no espaço,
que permitam alcançar os objetivos militares impostos no planejamento estratégico.

5.2.1.3 O planejamento e a condução das operações neste nível dizem respeito à


preparação, ao deslocamento, ao desdobramento e ao emprego das forças do TO,
visando a alcançar, em melhores condições, os objetivos fixados pela estratégia
militar.

5.2.1.4 O detalhamento dos conceitos a seguir abordados encontra-se disponível em


manuais operacionais específicos.

5.2.2 ESTRATÉGIA MILITAR

5.2.2.1 A Estratégia concretiza-se por intermédio das ações que empreende. A


Estratégia Militar constitui-se em um dos componentes da Estratégia Nacional. O
nível estratégico de planejamento pode adotar um dos seguintes métodos da
estratégia militar: ação direta, ação indireta, aproximação indireta ou nuclear.

5.2.2.2 O estudo de outras estratégias é fundamental para haver flexibilidade nos


planejamentos, bem como, para a identificação de contramedidas, no caso de
identificação que as nossas forças estão sofrendo ações estratégicas.

5-2
5.2.2.3 A Estratégia Militar de Defesa (EMiD), decorrente da Política Militar de
Defesa, é o documento de mais alto nível que define as Hipóteses de Emprego (HE)
das Forças Armadas (FA) e as estratégias militares a serem empregadas em cada
uma delas.

5.2.3 ESTRATÉGIA OPERACIONAL

5.2.3.1 É a arte de deslocar, desdobrar, preparar e empregar as forças armadas,


visando a atender, nas melhores condições, aos objetivos que lhes forem
designados. Tem por finalidade aplicar forças em uma operação para atingir os
objetivos fixados pela estratégia militar, conciliando-as com as possibilidades táticas
e técnicas dos meios, buscando superioridade no momento e local desejados,
usufruindo a liberdade de ação.

5.2.3.2 O campo de emprego da estratégia operacional é o Teatro de Operações. No


tocante à Força Terrestre, ela trata do emprego das forças do Exército na execução
da estratégia militar, no âmbito do Teatro de Operações Terrestre.

5.2.4 ESTRATÉGIA OPERACIONAL TERRESTRE

5.2.4.1 É a arte de dispor Grandes Comandos, Grandes Unidades e Unidades


terrestres e conduzi-los para a batalha.

5.2.4.2 Assim, a estratégia operacional terrestre define as operações, distribui e


conduz as forças nas condições mais favoráveis para alcançar os objetivos, visando
a:
a) obter a superioridade de meios, pelo menos em região e momento selecionados;
b) usufruir da liberdade de ação; e
c) adquirir a iniciativa das operações.

5.2.4.3 AÇÃO ESTRATÉGICA MILITAR – Aquela que se realiza no deslocamento, na


concentração ou na manobra estratégica, desencadeadas para alcançar um objetivo
ou uma finalidade estratégica pela aplicação da expressão militar do Poder Nacional.

5.2.4.4 ÁREAS ESTRATÉGICAS – são as áreas de natureza geográfica (região) ou


que envolvem atividades humanas (setor), nas quais se aplicam ações estratégicas.
Na caracterização de tais áreas como estratégicas, será importante a constatação
de óbices ou a possibilidade de seu surgimento. Desse modo, podem ser
consideradas áreas estratégicas ou setores como os da educação, da saúde ou das
comunicações, da mesma forma que grandes vazios demográficos em áreas de
interesse nacional, regiões de fronteira, grandes centros urbanos e industriais, e
certas áreas no exterior, de particular interesse para o país.

5.2.5 NÍVEL DE PLANEJAMENTO OPERACIONAL

5.2.5.1 No nível operacional, o planejamento militar da campanha é elaborado pelo


Comandante Operacional, com base no Plano Estratégico de Emprego Conjunto das
Forças Armadas (PEECFA) correspondente e demais diretrizes recebidas. Objetiva
a condução das operações pelos Comandos Operacionais ativados.

5-3
5.2.5.2 O nível estratégico-operacional, representado pelo TO, é o elo vital entre a
estratégia militar e o emprego tático das forças componentes.

5.2.5.3 O planejamento é consolidado pelo Plano de Campanha, que prevê como se


dará o emprego para atingir os objetivos estratégicos.

5.2.5.4 O Plano de Campanha deve conter, ao menos:


a) o(s) objetivo(s) militar(es) estratégico(s) impostos ao TO;
b) os objetivos intermediários, se for o caso (objetivos operacionais);
c) a manobra operacional visualizada;
d) as fases das operações;
e) as relações de comando nos órgãos conjuntos e / ou combinados do TO;
f) a organização por tarefas (composição dos meios);
g) a combinação prevista de meios, atitudes e direções; e
h) dosagem de esforços.

5.2.5.5 Nesse nível, a atividade de Inteligência é intensificada pela integração dos


conhecimentos disponíveis no Sistema de Inteligência Operacional (SIOP), no
Sistema de Inteligência de Defesa (SINDE) e nos demais órgãos que compõem o
Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), a fim de suprir as necessidades de
conhecimento, cujo levantamento já deverá ter sido iniciado ainda na Etapa de
Exame de Situação e Planejamento, assim como atualizar os dados sobre o Teatro
de Operações (TO) / as Áreas de Operações (A Op) ou Zonas de Defesa (ZD).

5.2.5.6 Durante o Exame de Situação Operacional, o Comandante do TO verificará


se os meios, inicialmente distribuídos no PEECFA, estão adequados às
necessidades inerentes à missão que lhe foi atribuída. Solicitará reforços, se for o
caso, assim como informará os meios para os quais não foram identificadas tarefas
a serem atribuídas, cuja adjudicação tenha se mostrado desnecessária ou não
recomendável, após a análise efetuada no nível operacional.

5.2.5.7 As ações estratégicas operacionais são aquelas que utilizam meios


predominantemente militares e produzem seus efeitos no TO. Tais ações
compreendem:
a) o deslocamento estratégico;
b) a concentração estratégica; e
c) a manobra estratégico-operacional.

5.2.6 DESLOCAMENTO ESTRATÉGICO

5.2.6.1 O deslocamento estratégico tem por objetivo a condução das forças para a
área de concentração. No âmbito do TO, o deslocamento das forças da área de
concentração para a região onde deverão iniciar as operações militares, ou onde se
faça necessária a sua presença, é denominado deslocamento estratégico-
operacional.

5.2.6.2 O deslocamento traz em si a ideia de, pelo movimento, gerar a surpresa e


dificultar a reação adversária.

5-4
5.2.6.3 DIREÇÃO ESTRATÉGICA – Visualização de uma direção de aplicação de
força militar no quadro de uma manobra estratégica. (MD35-G-01)

5.2.6.4 O deslocamento estratégico é de natureza física e seu planejamento deve


considerar, normalmente, os seguintes fatores:
a) previsão das condições climáticas e meteorológicas;
b) condições do terreno;
c) capacidade dos transportes, significando não só a natureza e tipos dos meios
existentes, como também sua quantidade, possibilidades, manutenção e suprimento;
d) possibilidades de interferência do inimigo, que buscará, em suas ações de
interdição, impedir ou retardar a concentração estratégica; em consequência os
planejamentos devem ser flexíveis e prever alternativas para o caso de interrupções
temporárias nos eixos de deslocamento;
e) possibilidade de obter-se a surpresa; e
f) imposições logísticas.

Fig. 5-1- Deslocamento Estratégico

5.2.7 CONCENTRAÇÃO ESTRATÉGICA

5.2.7.1 Entende-se por concentração estratégica a ação de reunir os meios


operacionais em determinadas áreas geográficas, de onde devem deslocar-se para
a execução de operações ulteriores com um determinado propósito de emprego.

5.2.7.2 O deslocamento estratégico precede a concentração estratégica, podendo


suceder um novo deslocamento, caso a área de concentração não coincida com o
local de emprego da força. O essencial é dispor de tempo para que se possa obter a
iniciativa das operações.

5-5
5.2.7.3 A concentração estratégica é uma atividade complexa, que envolve o
transporte e a instalação de grandes efetivos e ponderáveis quantidades de
suprimentos em áreas muito vastas. A concentração estratégica deve atender a uma
série de exigências, particularmente a de guardar flexibilidade para reunir a força
para ser aplicada em uma manobra decisiva. Por essa razão, o dispositivo da
concentração, normalmente, traz em si o embrião da manobra anteriormente
concebida.

5.2.7.4 O Plano de Concentração Operacional é o conjunto de medidas e


providências que põe à disposição dos comandantes das forças componentes do TO
(navais, terrestres e aéreas) os elementos operacionais que lhes foram atribuídos e
os meios necessários ao apoio logístico, nos prazos e locais mais apropriados, para
que aquelas autoridades os empreguem na execução de suas manobras.

5.2.7.5 Os elementos básicos que servem de instrumento para a elaboração de um


Plano de Concentração, no nível TO, são:
a) as diretrizes e ordens do escalão superior;
b) o Plano de Campanha do comandante do TO;
c) os Planos de Mobilização;
d) o Plano Geral de Transporte (inclui o Plano de Circulação);
e) a concepção de emprego das Forças de Cobertura Estratégica;
f) as áreas de concentração selecionadas;
g) o dispositivo das forças para o combate e os meios para o Apoio Logístico (Ap Log); e
h) a necessidade de proteção terrestre e aérea, inclusive os meios de defesa
antiaérea e aérea.

5.2.8 MANOBRA ESTRATÉGICO-OPERACIONAL

5.2.8.1 A manobra estratégico-operacional é um conjunto de ações destinadas a


colocar forças, equipamentos ou fogos em situação de vantagem em relação ao
inimigo, criando condições favoráveis à realização da batalha (nível tático), a fim de
conquistar o(s) objetivo(s) estratégico(s) fixado(s).

5.2.8.2 Na busca dessa vantagem estratégica, a ação se resume, basicamente, na


preservação da estabilidade das próprias forças e na adoção de medidas que causem o
desequilíbrio das forças inimigas, atuando sobre seu centro de gravidade. Entre outras,
as medidas abaixo contribuem para esse fim:
a) alteração do dispositivo das forças, explorando-se o princípio da surpresa; realização de
ação que divida as forças inimigas;
b) atuação sobre os eixos de suprimento;
c) atuação contra as estruturas de comando e controle; e
d) execução de medidas de guerra psicológica.

5.2.8.3 São elementos básicos da manobra estratégico-operacional:


a) os objetivos estratégicos-operacionais;
b) a combinação de atitudes (ofensiva e defensiva);
c) a combinação de direções estratégicas ou direções táticas de atuação;
d) a repartição dos meios; e
e) a dosagem de esforços.

5-6
5.2.8.4 Existem duas formas básicas de manobra estratégica: a manobra ofensiva e
a manobra defensiva. Essas formas de manobra são válidas, também, para a
manobra estratégico-operacional. Estas designações referem-se ao caráter
predominante da manobra estratégica, visto que, neste nível, a combinação de
atitudes é normal.

5.2.9 FORMAS DE MANOBRA ESTRATÉGICA

5.2.9.1 Manobra estratégica ofensiva

FORMAS DE MANOBRA ESTRATÉGICA OFENSIVA

- RUPTURA (PENETRAÇÃO)
- LINHAS INTERIORES (POSIÇÃO CENTRAL)
- LINHAS EXTERIORES (CONVERGENTE)
- FLANCO (ALA)
- AÇÃO FRONTAL

5.2.9.1.1 Ruptura - A manobra central de ruptura ou penetração consiste no


rompimento do dispositivo adversário por meio de ações poderosas, visando a criar
flancos e possibilitar o rebatimento dos grupamentos de forças sobre eles.

Fig. 5-2. Manobra de ruptura

5-7
5.2.9.1.2 Linhas interiores - A manobra em linhas interiores ou em posição central
consiste na adoção de um comportamento defensivo em todos os grupamentos de
forças, à exceção de um que, atuando ofensivamente, visa à destruição de um dos
elementos de manobra do inimigo. As ações são divergentes.

Fig. 5-3. Manobra em linhas interiores

5.2.9.1.3 Linhas exteriores - Nesta forma de manobra, dois ou mais grupamentos


de forças atuam de forma convergente sobre o inimigo.

Fig. 5-4. Manobra em linhas exteriores

5.2.9.1.4 Flanco - A manobra de flanco ou ala consiste em uma pequena parte da


força ser aplicada numa ação secundária frontal, com a finalidade de fixar o principal
grupamento de forças inimigas, enquanto a força principal é empregada pelo flanco
do dispositivo inimigo, ou por meio de movimento aeroterrestre ou aeromóvel, a fim

5-8
de conquistar objetivo em profundidade que isole o campo de batalha e obrigue o
inimigo a lutar em duas frentes, sujeitando-o à destruição.

Fig 5-5 - Manobra de Flanco

5.2.9.1.5 Ação frontal - A manobra de ação frontal é aquela que incide em toda a
frente do dispositivo inimigo. Só deve ser empregada por uma força com poder
relativo de combate muito superior ao do inimigo. Caso isso não se verifique,
permitirá ao defensor executar a manobra operacional defensiva retrógrada (ver item
seguinte), apresentando novas resistências em linhas favoráveis e cobrando alto
preço em tempo e baixas pela conquista de cada nova posição.

Fig. 5-6. Manobra de ação frontal

5-9
5.2.9.2 Manobra estratégica defensiva

5.2.9.2.1. Em posição - A manobra em posição é realizada numa região que não se


pode ceder, em virtude de sua importância estratégica. Sua finalidade é impedir o
acesso inimigo à área considerada, ao mesmo tempo em que se procura
enfraquecer suas forças. No entanto, não deve ser confundida com uma defensiva
inflexível. Todas as oportunidades devem ser aproveitadas para, por meio do contra-
ataque, destruir parcelas do poder de combate inimigo. Para isso, é necessário que
o dispositivo defensivo tenha uma sólida organização em profundidade. No nível
tático, são válidas todas as combinações de formas de manobra defensiva e mesmo,
em determinadas situações, ações ofensivas locais.

5.2.9.2.2. Retrógrada - A manobra retrógrada consiste em aproveitar as condições


favoráveis do terreno, quanto à profundidade e à existência de obstáculos naturais,
para evitar o combate numa situação inicial desvantajosa e, trocando espaço por
tempo, decidir o combate em momento e local mais vantajosos.

5.2.10 FASES DA MANOBRA ESTRATÉGICO-OPERACIONAL

5.2.10.1 A manobra estratégico-operacional é normalmente subdividida em fases.


Os aspectos a considerar para o faseamento da manobra são os seguintes:
a) mudança de atitude estratégica;
b) mudança de direção estratégica;
c) necessidade de reorganização das forças;
d) possibilidades logísticas;
e) profundidade da operação;
f) duração da operação; e
g) características da região de operações.

5.3 AS BATALHAS

5.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

5.3.1.1 No nível tático, o planejamento é realizado por forças militares, envolvendo a


aplicação do poder de combate para alcançar objetivos mais imediatos e oportunos.

5.3.1.2 No interior do TO, ocorrem as campanhas (nível operacional) e as batalhas


(nível tático). Normalmente, o Plano de Campanha do TO divide a manobra
estratégico-operacional em fases que culminam com a conquista dos objetivos
estratégicos impostos ao TO. Dentro de uma fase, podem ocorrer uma ou mais
batalhas.

5.3.1.3 As batalhas consistem em uma série de combates relacionados e próximos


no tempo e no espaço. O nível estratégico-operacional de planejamento concebe as
batalhas e as prepara, procurando estabelecer as melhores condições de tempo e
espaço para que elas ocorram.

5.3.1.4 A batalha é a parte mais importante de toda a manobra estratégico-


operacional, é a sua culminância. Por meio dela, pode-se atuar diretamente sobre a

5-10
força inimiga e conseguir sua destruição. Compreende uma ou mais operações
táticas e consiste no choque violento de forças de valor considerável, mediante o
qual os contendores buscam modificar sua situação estratégica, conquistando
posições no terreno ou destruindo parcela do poder de combate inimigo.

5.3.1.5 A batalha pode ser breve e travada numa área relativamente pequena ou
pode durar várias semanas, cobrindo grandes áreas. Sua decisão se produz com a
quebra da capacidade de combate de um dos contendores.

5.3.2 ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS

5.3.2.1 Comandantes dos Comandos Operacionais ativados


a) apresentar ao Ministro da Defesa os planejamentos operacionais e a proposta de
adjudicação de meios para integrar os Comandos Operacionais;
b) planejar, controlar, coordenar e executar o emprego das forças sob seu comando,
de acordo com os planos existentes (Estratégico, Operacional e Tático), em
consonância com as diretrizes emanadas do Presidente da República e do Ministro
de Estado da Defesa;
c) planejar, controlar, coordenar e executar operações de adestramento conjunto no
terreno, em consonância com as diretrizes emanadas do Ministro da Defesa,
baseados nas HE;
d) emitir as Diretrizes de Planejamento Operacional para os Comandantes das
Forças Componentes subordinadas;
e) baseado na Lista de Necessidades, contendo demandas de toda ordem (de
inteligência, logísticas, de Comando e Controle (C²), doutrinárias, de adestramento,
etc.), elaborada durante as análises e levantamentos realizados desde o nível
estratégico de planejamento (PEECFA) e concluída ao fim dos planejamentos
operacional e táticos, buscar atualizar em todas as oportunidades os planos que
serão utilizados em adestramentos ou em revisões decorrentes da evolução da
conjuntura; e
f) manter o Min Def atualizado acerca do andamento das operações.

5.3.2.2 Comandantes de Forças Componentes (FCte)

- Planejar e executar as operações e ações decorrentes, em consonância com os


Planos Táticos que já foram realizados e com as ordens e diretrizes dos
Comandantes dos Comandos Operacionais ativados.

5.3.2.3 Comandantes das Organizações Militares não adjudicadas aos Comandos


Operacionais ativados e que estejam localizadas na sua área de responsabilidade,
quando for o caso:
a) conduzir o preparo e a execução da mobilização militar e da respectiva
desmobilização, em sua área de responsabilidade, segundo orientação de suas
respectivas FA;
b) gerenciar e executar o apoio logístico às unidades de suas respectivas FA
localizadas no TO ou na área de operações, mas não adjudicadas aos Comandos
Operacionais;
c) executar, no âmbito de suas atribuições normais de tempo de paz, as atividades
administrativas de competência de suas respectivas FA; e
d) planejar e executar a defesa e o controle de danos de instalações sob sua

5-11
responsabilidade, ficando em condições de assumir encargos relativos à segurança
de área de retaguarda, no TO ou na área de operações, caso determinado pelo
comandante operacional ativado.

5.3.3 DOCUMENTOS DE PLANEJAMENTO

A tabela 1 apresenta os principais documentos em cada nível de planejamento:

PLANEJAMENTO
NÍVEL DOCUMENTOS
Diretrizes Estratégicas:
– Diretrizes Ministeriais (DMED).
Estratégico
– Diretrizes do Chefe do Estado-Maior Conjunto das
(MD)
Forças Armadas (DPEM).
Planos Estratégicos (PEECFA).
Operacional
(Comandos Diretrizes de Planejamento Operacional.
Operacionais Planos Operacionais.
ativados)
Planos Táticos.
Tático
Diretrizes de Planejamentos Táticos.
(F Cte)
Ordens de Operações.

Tabela 5-1 – Nível de planejamento e documentos

5.3.4 ÁREAS DE RESPONSABILIDADE DOS COMANDOS OPERACIONAIS

5.3.4.1 A cada Comando Operacional ativado será atribuída uma área de


responsabilidade, correspondente ao espaço geográfico no qual o Comandante terá
autoridade para condução das operações militares, inerentes à missão que lhe foi
atribuída. Consistem em três tipos básicos:
a) Teatro de Operações (TO);
b) Área de Operações (A Op); e
c) Zona de Defesa (ZD).

5.3.4.2 A delimitação das áreas de responsabilidade – TO, A Op e ZD ocorre na


elaboração do PEECFA pelo EMCFA. Sua aprovação é atribuição do Comandante
Supremo, assessorado pelo Ministro da Defesa.

5.3.4.3 Teatro de Operações (TO)

5.3.4.3.1 TO é o espaço geográfico necessário à condução das operações militares,


para o cumprimento de determinada missão, englobando o necessário apoio
logístico. Seus limites serão inicialmente estabelecidos por ocasião do planejamento
estratégico para uma determinada HE, podendo ser alterados mediante solicitação
do Comandante do TO (Cmt TO) e autorização do Comandante Supremo, caso
necessário.

5.3.4.3.2 A parcela terrestre de um TO poderá possuir, no sentido da profundidade,


duas zonas: a Zona de Combate (ZC) e a Zona de Administração (ZA), e estas
deverão ter seus limites fixados ou propostos pelo Comandante do TO.

5-12
5.3.4.4 Área de Operações (A Op)

5.3.4.4.1 A Op é o espaço geográfico necessário à condução de operações militares,


cuja magnitude dos meios e complexidade das ações não justifiquem a criação de
um TO

5.3.4.5 Zonas de Defesa (ZD)

5.3.4.5.1 As ZD são os espaços geográficos destinados à defesa territorial e


constituídos peloparcelamento da Zona do Interior (ZI) –porçãodo território nacional
não incluída no TO.

5.3.4.5.2 As ZD poderão conter uma faixa marítima, de dimensões a serem definidas


na sua criação, indispensável à execução das tarefas de apoio às operações em
terra, de acordo com as HE existentes.

5.3.5 ÁREAS DE INTERESSE

5.3.5.1 As Áreas de Interesse são espaços geográficos onde ocorrem eventos de


interesse para o andamento das ações, que estão fora dos limites estabelecidos
para uma área de responsabilidade: TO, A Op ou ZD.

5.3.6 COMANDOS QUE PARTICIPAM NA MANOBRA ESTRATÉGICA

5.3.6.1 Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber)

5.3.6.1.1 O Comando de Defesa Cibernética, em seu emprego operativo, atua nos


níveis estratégico e operacional, com o objetivo de assegurar o uso efetivo do
espaço cibernético pelas Forças Armadas brasileiras e pelos Comandos
Operacionais ativados e impedir ou dificultar sua utilização contra interesses da
Defesa Nacional.

5.3.6.1.2 A participação do ComDCiber deverá ocorrer em todas as operações,


uma vez que é característica do espaço cibernético a ausência de fronteiras físicas,
tornando possível, em qualquer situação, a necessidade de ação cibernética contra
alvos localizados fora do TO/A Op.

5.3.6.1.3 O ComDCiber estabelecerá canal técnico com a estrutura de Guerra


Cibernética dos demais Comandos Operacionais ativados, para coordenar o
planejamento e a execução dessas demandas, e para o compartilhamento de
informações técnicas.

5.3.6.2 Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE)

5.3.6.2.1 O Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) tem por missão


empregar o Poder Aeroespacial com vistas a garantir a soberania do Espaço Aéreo
e a integração do Território Nacional. Para tanto, realiza a defesa do território
nacional contra todas as formas de ameaça aeroespacial, a fim de assegurar o
exercício da soberania no Espaço Aéreo Brasileiro.

5-13
5.3.6.2.2 O COMAE é uma organização militar com duas funções: Órgão Central do
Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA) e Comando Operacional.

5.3.6.2.3 Como Comando Operacional, o COMAE é um Comando Conjunto


permanentemente ativado, diretamente subordinado ao Comandante Supremo, e
componente da Estrutura Militar de Defesa, o qual, no caso de emprego, designará
vetores aéreos para apoio às tropas terrestres.

5.3.6.3 Comando da Zona de Defesa (COMZD)

5.3.6.3.1 A Defesa Territorial tem a finalidade de preservar o potencial material e


humano da Nação. Cabe, portanto, ao Comando da Zona de Defesa, como principal
responsável pela Defesa Territorial na sua área de jurisdição, a garantia da ordem e
da segurança das instalações que têm influência no conflito armado. Contudo, deve-
se ter em mente que a Defesa Territorial não terá condições de se opor a ações de
vulto do adversário.

5.3.6.3.2 Força Terrestre da Zona de Defesa (FTZD)


5.3.6.3.2.1 Cabe à FTZD, entre outras, as seguintes missões:
a) vigiar e guardar as fronteiras terrestres e o litoral, impedindo ou dificultando a
infiltração e o desembarque de forças inimigas de pequeno valor ou informando ao
escalão superior quanto à presença de forças de maior vulto;
b) defender os pontos sensíveis no interior da ZD, bem como garantir a segurança e
o perfeito funcionamento dos eixos de suprimentos que demandam para o TO;
c) cooperar com as autoridades civis em atividades que visem a garantir o
funcionamento dos serviços públicos essenciais e a normalidade da vida da
população civil, em coordenação com o COMAE no que for pertinente à Defesa
Aeroespacial Passiva;
d) operar os meios aéreos e antiaéreos ao seu dispor em coordenação com a
autoridade de defesa aeroespacial;
e) planejar o apoio logístico, conforme a Doutrina de Logística Militar; e
f) caberá ao Comandante da FTZD as atribuições logísticas e operacionais julgadas
convenientes a um Comandante de FTC (Força Terrestre Componente) / TO
conjunto.

5.3.7 A INTELIGÊNCIA NOS NÍVEIS DE PLANEJAMENTO

5.3.7.1 O Nível Estratégico tem como foco a produção e a salvaguarda de


conhecimentos requeridos para a formulação das avaliações estratégicas que
consubstanciarão as políticas e os planos militares no mais alto nível, sob o escopo
da Defesa Nacional e orientados para os Objetivos Nacionais. O levantamento
permanente das capacidades dos países de interesse, e a sua posterior análise,
constituem atribuições prioritárias.

5.3.7.2 Neste nível de planejamento, ao se concluir a Etapa de Avaliação da


Conjuntura e Elaboração de Cenários, tendo por base o Plano de Inteligência de
Defesa (PINDE), prossegue-se a atividade de Inteligência, visando à produção do
PEECFA. Essa etapa inicia-se com Reuniões Preliminares de Inteligência (RPI), sob
coordenação da Subchefia de Inteligência Operacional (SC2) e com a participação
de representantes de órgãos de Inteligência do MD e das Forças Singulares (FS), a

5-14
fim de produzir a Análise de Inteligência Estratégica. Esta Análise deverá estar
concluída antes do início do Exame de Situação Estratégico.

Figura 5-7. Sistema Brasileiro de Inteligência

5.3.7.3 Os representantes do EMCFA e das FA designados para compor a célula de


Inteligência do Comando responsável pelo planejamento realizarão o estudo do
Plano Estratégico de Inteligência (PEI), da Análise de respostas às NI
(Necessidades de Inteligência) do PEECFA e dos respectivos bancos de dados,
antecipadamente ao Exame de Situação Operacional, nas Reuniões Preliminares de
Inteligência (RPI). Esse trabalho é formalizado no documento Análise de Inteligência
Operacional.

5.3.7.4 Ao final do planejamento é formalizado o Anexo de Inteligência do Plano


Operacional. As NI que não tenham sido esclarecidas irão subsidiar a elaboração do
Plano de Obtenção do Conhecimento (POC).

5.3.7.5 A Análise de Inteligência Operacional e as respostas às NI do Comando


Operacional realimentarão o “banco de dados”, e como tal servirão de subsídio para
o Planejamento Tático, sendo responsabilidade da Subchefia de Inteligência de
Defesa e do setor de Inteligência do Comando responsável pelo planejamento a
inserção e a atualização deste acervo no Planejamento Operacional, que deverá ser
disponibilizado para as consultas necessárias.

5-15
CAPÍTULO VI

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR

6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

6.1.1 Não existe metodologia padrão ou universal de planejamento estratégico


adotada mundialmente. O que se encontra é um amplo leque de métodos ou de
sistemáticas que buscam atender a peculiaridades de cada país, governo ou
instituição. Porém, em um aspecto verifica-se unanimidade – o planejamento nada
mais é do que a racionalização do processo de tomada de decisão.

6.1.2 Uma visualização genérica das fases de planejamento estratégico é representada


abaixo, onde se ressaltam as seguintes etapas:
a) diagnóstico: conhecer, em profundidade, a realidade da organização, seu ambiente de
atuação interno e externo, público alvo, etc ("quem sou?");
b) política: definição dos objetivos pretendidos pela organização ("o que fazer ou
conseguir?");
c) estratégica: levantamento de obstáculos que se antepõem à consecução dos objetivos, de
meios disponíveis e de caminhos a seguir para se chegar aos objetivos colimados
(“o como fazer”);
d) programação: elaboração de planos, definição de ações estratégicas para
implementar as estratégias levantadas;
e) execução: das ações planejadas; e
f) controle: acompanhamento da execução e avaliação dos resultados.

Fig. 6-1 – Etapas do planejamento estratégico

6.1.3 Qualquer que seja a metodologia de planejamento adotada, é fundamental que


ela permita ajustamentos oportunos em função das variações conjunturais,
particularmente ao se considerar médios e longos prazos. Esses ajustamentos
tornam-se ainda mais decisivos nos tempos atuais, em que as transformações de
todos os matizes têm ocorrido com velocidade e intensidade impressionantes.

6.1.4 Essa característica da atualidade tem induzido os especialistas a proporem, a


cada dia, novas técnicas, metodologias e ações de planejamento estratégico que
não só assegurem a sobrevivência das organizações, mas que lhes proporcionem
maior competitividade e consecução mais eficiente de suas metas.

6.1.5Um outro aspecto que tem caracterizado o planejamento estratégico na


atualidade é a necessidade da adoção de atitude proativa (antecipação a obstáculos
previsíveis) e o estudo prospectivo, construído segundo a técnica de elaboração de
cenários. Esta técnica não deve ser entendida como "previsão do futuro a partir do

6-1
presente", mas como "possibilidade de ocorrência no futuro", com base nas
tendências do presente.

6.1.6 Em síntese, um método de planejamento estratégico de alto nível, como


atividade continuada e permanente que deve ser, engloba um conjunto de
procedimentos necessários à tomada de decisão e à sua consequente
implementação, podendo ser assim resumido:
a) conhecimento da realidade (em todas as expressões do poder nacional) nos
âmbitos interno e externo;
b) exame, interpretação e tendências dessa realidade;
c) identificação das necessidades básicas (objetivos) e levantamento dos óbices que
dificultam ou podem dificultar sua consecução (vale ressaltar que um dos óbices
mais encontradiços em gestão administrativa é a falta de "mentalidade de
excelência" dentre os integrantes da instituição);
d) avaliação da capacidade (da organização ou do poder nacional);
e) atendimento a pressupostos básicos e formulação de hipóteses, como
condicionantes para o estabelecimento de objetivos;
f) formulação das sequências de ações estratégicas (trajetória estratégica) e escolha das
mais indicadas para alcançar os objetivos propostos;
g) elaboração de planos em consonância com as diretrizes estratégicas formuladas; e
h) execução das ações planejadas e os subsequentes acompanhamento, avaliação e
controle.

6.1.7 Uma última consideração a se ressaltar é queo planejamento estratégico


implica o envolvimento concomitante de todos os setores integrantes do governo ou
da instituição. É fundamental que esses setores se conheçam a fundo para poderem
interagir.

6.1.8 Muitos dos aspectos aqui arrolados somente podem ser levantados ou
avaliados mediante atividades de inteligência estratégica, da qual o planejamento
estratégico não pode prescindir.

6.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR

6.2.1 É o planejamento que tem o propósito de definir e organizar funcionalmente as


ações relacionadas com o preparo e o emprego do Poder Militar, para atender às
demandas de defesa do País.

6.2.2 Trata-se de processo gerencial que examina as principais questões de uma


organização, considerando sua missão, sua visão de futuro, seus princípios e
valores, e que realiza a análise dos ambientes interno e externo, a fim de definir um
rumo amplo na busca de um futuro desejado para a organização.

6.2.3 O planejamento estratégico não deve ser entendido como uma fórmula
mágica que assegura o sucesso na resolução de todos os problemas da
organização. É preciso entender que, pela própria dinâmica do processo, poderão
surgir diferenças entre as intenções, o planejamento e a execução. Por conseguinte,
é preciso estar consciente de que existem dificuldades a serem identificadas e
superadas no processo de elaboração do planejamento estratégico.

6-2
6.3 PLANEJAMENTO DA DEFESA NACIONAL

6.3.1 O Planejamento da Defesa Nacional segue as prescrições da Constituição


Federal, da Política Nacional de Defesa (PND), da Estratégia Nacional de Defesa
(END), da Política Militar de Defesa (PMD), da Estratégia Militar de Defesa (EMiD) e
da Doutrina Militar de Defesa (DMiD), dentre outros documentos de alto nível.

6.3.2 O Presidente da República é assessorado pelo Conselho de Defesa Nacional


(CDN) sobre os assuntos referentes àsoberania nacional e defesa do estado
democrático e pelo Conselho Militar de Defesa (CMiD),sobre o emprego dos meios
militares.

6.3.3 O detalhamento das etapas do Planejamento da Defesa Nacional encontra-se


prescrito em documentação específica de caráter sigiloso.

6.4 SISTEMÁTICA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR (SPEM)

6.4.1 FINALIDADE

6.4.1.1 A Sistemática de Planejamento Estratégico Militar (SPEM), elaborada pelo


Ministério da Defesa, tem por finalidade estabelecer a sistematização do
planejamento de alto nível para as Forças Armadas, visando a contribuir para a
consecução dos objetivos da Defesa Nacional.

6.4.1.2 A Política Militar de Defesa (PMD) e a Estratégia Militar de Defesa (EMiD)


têm por finalidade orientar os planejamentos estratégicos militares das Forças
Armadas e do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA).

6.4.2 NÍVEIS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR

6.4.2.1 O planejamento estratégico militar, como cerne que é do planejamento da


defesa nacional, abrange três níveis: o nacional, formado pelas mais altas
autoridades do País; o setorial, constituído pelo Ministério da Defesa e pelos demais
órgãos com responsabilidades diretas em relação à defesa; e o subsetorial,
composto eminentemente pelas Forças Armadas.

6.4.2.2 Os fundamentos do planejamento estratégico militar, no nível nacional, são


encontrados na legislação e nos documentos de mais alto nível do País, a começar
pela Constituição Federal. Eles têm por finalidade contribuir para a formulação e a
condução da Política de Defesa Nacional (PDN) e de outras políticas nacionais que
digam respeito ao preparo e ao emprego das Forças Armadas.

6.4.2.3 É fundamental que se entenda a temática da Defesa Nacional como questão


de Estado e não como questão de Governo. Como tal, deve ser orientada por
políticas de Estado e, assim, alheia a injunções político-partidárias.

6.4.2.4 O planejamento estratégico militar, no nível setorial, tem por finalidade


construir uma capacidade de defesa, com preponderância de meios militares, para a

6-3
garantia da condição de segurança definida para o País, frente a ameaças de
ataques militares ou de conflitos armados.

6.4.2.5 O planejamento estratégico militar, no nível subsetorial, tem por finalidade


construir uma capacidade militar para compor o esforço principal da Defesa
Nacional. Ele é realizado pelas Forças Armadas em concordância com diretrizes
estratégicas emanadas dos escalões superiores e formaliza-se em políticas,
estratégias e planos estratégicos decorrentes, cujos cumprimentos resultam em
configurações de forças militares aptas para o emprego.

6-4
NÍVEIS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR
(Defesa Nacional)
NACIONAL SETORIAL SUBSETORIAL
(COMANDANTE SUPREMO) (MINISTÉRIO DA DEFESA) (FORÇAS ARMADAS)

FATORES CONDICIONANTES FATORES CONDICIONANTES FATORES CONDICIONANTES

Constituição Federal
Constituição Federal Leis Complementares Cenários Prospectivos
Leis Complementares Política Nacional Política Militar de Defesa
Política Conceito Estratégico Nacional Estratégia Militar de Defesa
Conceito Estratégico Nacional Política Nacional de Defesa Doutrina Militar de Defesa
Estratégia Nacional de Defesa

DOCUMENTO GERADO DOCUMENTO GERADO DOCUMENTO GERADO

Política Militar de Defesa Políticas/Estratégias


Política Nacional de Defesa Estratégia Militar de Defesa Configuração de Forças
Doutrina Militar de Defesa
Estratégia Nacional de Defesa (*) Planos Estratégicos Militares Planos Estratégicos
de Emprego Planos Específicos

PROPÓSITO PROPÓSITO PROPÓSITO


Construir uma capacidade de
Contribuir para a formulação e a defesa, com preponderância de
Construir uma capacidade militar
condução da PND e de outras meios militares, para a garantia
para compor o esforço principal
políticas nacionais relativas da segurança do País, frente a
da Defesa Nacional.
preparo e ao emprego das FA. ameaças de ataques militares
ou de conflitos armados.

REALIMENTAÇÃO
- Acompanhamento e avaliação de cenários.
- Alteração de recursos: financeiros, materiais etc.
(*)Estes planos são formulados pela EMiD e servirão de subsídios para a elaboração dos planos operacionais dos
Comandos Operacionais ativados.

Tab 6-1. Níveis de planejamento estratégico militar.

6.4.3 CONCEPÇÃO BÁSICA DA SPEM

6.4.3.1 A SPEM subdivide-se em três fases:


a) 1ª Fase – Concepção Estratégica e Configuração de Forças;
b) 2ª Fase – Planejamento do Preparo; e
c) 3ª Fase – Planejamento do Emprego Operacional

6.4.3.2 A 1ª fase trata da identificação das forças militares necessárias à defesa; a


2ª, da obtenção e do preparo das forças identificadas; e a 3ª, das formulações de
estruturas operativas e de doutrinas que facultem o emprego das forças militares.

6-5
Fig. 6-2. Representação da SPEM

6.4.3.3 Cumpre destacar a fase do Planejamento do Preparo, que compreende as


atividades relacionadas com o processo de obtenção de meios e com a prontificação
desses meios para o emprego operacional, ou seja, o aprestamento final dos meios.
Ela se formaliza, portanto, pelas confecção e execução dos planos estratégicos
específicos de cada Força, visando ao cumprimento das diretrizes e ações
estabelecidas nos respectivos conceitos estratégicos.

6.4.3.4 A fase do Planejamento do Preparo é a mais diversificada e complexa de todo o


planejamento estratégico militar e é, também, a que demanda os mais expressivos
aportes financeiros. Esta fase trata de assuntos relacionados com pessoal, material,
toda a cadeia de apoio logístico, ciência e tecnologia, doutrina e estruturas
operativas e administrativas, enfim, com adestramentos táticos e outros misteres.

6-6
6.4.3.5 Quanto ao planejamento do emprego operacional, compete ao Estado-Maior
Conjunto das Forças Armadas elaborar o planejamento de emprego conjunto das
Forças Armadas para atender aos imperativos da defesa nacional.

6.5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO

6.5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

6.5.1.1 Em face das considerações gerais apresentadas no início deste capítulo e,


também, de outros aspectos correlatos, o Exército Brasileiro tem buscado aprimorar
a sua metodologia de planejamentoestratégico. Para tal, adotou um modelo
considerado mais ajustado à sua realidade.

6.5.2 SISTEMA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO EXÉRCITO(SIPLEX)

6.5.2.1 O planejamento estratégico no Exército processa-se segundo duas vertentes


perfeitamente integradas:
a) uma, organizacional, que trata do preparo e do emprego dos componentes da
Instituição para o cumprimento de suas missões constitucionais e subsidiárias
(planejamento e execução de ações em vários níveis e setores); e
b) outra, de gestão, que se refere ao planejamento e descentralização de recursos
orçamentários, para atender à execução das atividades previstas no Plano
Estratégico do Exército (PEEx); medição, acompanhamento e avaliação da
execução do PEEx; levantamento e gestão de riscos; ações de governança e
integridade; e adequação das metas do PEEx, conforme a execução físico-financeira
do Plano.

6.5.2.2 A metodologia adotada prevê o SIPLEX integrado pelos seguintes


documentose respectivas fases:
a) Fase 1 - Missão;
b) Fase 2 - Análise Estratégica (Diagnóstico Estratégico, Cenários Prospectivos e
Indicações);
c) Fase 3 - Política Militar Terrestre (Objetivos Estratégicos, Mapa Estratégico);
d) Fase 4 - Estratégias Militares Terrestres(Concepção Estratégica do Exército,
Estratégias, Ações Estratégicas e Indicadores e Metas);
e) Fase 5 - Planos (Plano Estratégico do Exército-PEEx e Planos Estratégicos
Setoriais-PES);
f) Fase 6 - Orçamentação e Contratação (Proposta Orçamentária do Exército, com
base nas Necessidades Gerais do Exército, e Contrato de Objetivos); e
g) Fase 7 - Medição do Desempenho Organizacional.
– Gestão de Riscos (Plano de Gestão de Riscos).

6.5.2.3 O Sistema de Informações Gerenciais e de Acompanhamento (SIGA)


mostrou-se útil para automatizar os processos correspondentes à vertente
administrativa e para permitir sua integração ao SIPLEX.

6.5.2.4 O SIPLEX tem, em síntese, as seguintes finalidades:


a) estabelecer um método de planejamento, no mais alto nível, do Exército
Brasileiro;

6-7
b) racionalizar as atividades de planejamento e a execução das ações em vários
níveis e setores;
c) acompanhar o planejamento e a execução das ações, realimentando e
controlando o sistema; e
d) propiciar as melhores condições para o cumprimento da missão do Exército
Brasileiro com eficiência, eficácia e efetividade.

6.5.2.5 O objetivo do SIPLEX é a obtenção de unidade de pensamento e de ação


doutrinária nas concepções político-estratégica, logística e operacional.

Fig 6-4 Visão esquemática do SIPLEX

6.5.3 PLANEJAMENTO DO PREPARO E DO EMPREGO DA FORÇA TERRESTRE

6.5.3.1 As ações a serem realizadas para o Preparo da Força Terrestre são medidas
contínuas referentes aos campos do pessoal e do material, sobretudo na instrução e
adestramento, na dotação de meios, na distribuição do pessoal e na mobilização,
com o objetivo de permitir que as organizações militares (OM) estejam em condições
de participar de operações em ambiente Conjunto, Combinado ou Singular em
conformidade com a concepção estratégica de emprego.

6.5.3.1.1 O Preparo da Força Terrestre buscará a obtenção de capacidades


operativas, seguindo os fatores determinantes: Doutrina – Organização (e/ou
Processos) – Adestramento – Material – Educação – Pessoal – Infraestrutura
(DOAMEPI).

6.5.3.2 O emprego da Força Terrestre, de acordo com sua destinação constitucional e


em atendimento a compromissos internacionais, pode ocorrer pela aplicação do poder
inserido nas estruturas do Comando da Força, isoladamente; ou por intermédio de
comandos conjuntos estabelecidos pelo Presidente da República, aos quais será
atribuída a missão.

6-8
6.5.4 VERTENTE DE GESTÃO DO SIPLEX

6.5.4.1 O planejamento da gestão é consequência do planejamento estratégico do


Exército. A ligação entre as duas faces fica materializada na elaboração do Plano
Plurianual (PPA) do Governo Federal e na consolidação das informações oriundas do
Plano Diretor do Exército nas "Necessidades Gerais do Exército".

6.5.4.2 O Plano Estratégico do Exército (PEEX), produzido na Fase 5 do SIPLEX, é


atrelado ao PPA, tanto em duração quanto em previsão orçamentária. As Atividades das
Ações Estratégicas têm de possuir viabilidade econômica, ou seja, têm de ter seu custeio
previsto na parcela do PPA que corresponde ao Comando do Exército.

6.5.4.3 A Fase 6 do SIPLEX, Orçamentação e Contratação, coincide com a elaboração


do Projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) e a execução da Lei Orçamentária Anual
(LOA). O processo que envolve a elaboração da Proposta Orçamentária do Exército, do
PLOA e da execução orçamentária da LOA está representado esquematicamente pela
figura a seguir.

Fig 6-5 –Processo de Elaboração da LOA e da execução orçamentária

6.5.4.4 As Necessidades Gerais do Exército (NGE) são compiladas pelo EME, captando
as demandas do custeio e manutenção da instituição e as do processo de transformação
da Força e são a base para o processo de Orçamentação do Exército. Anualmente ele é
iniciado, quando o Governo Federal envia ao Ministério da Defesa a Pré-Proposta
Orçamentária, consoante com os objetivos e metas previstos no PPA. Com a edição da
Lei de Diretrizes Orçamentárias, são estabelecidos os parâmetros para a elaboração do
PLOA com base na Proposta Orçamentária de cada Ministério. A conciliação das NGE às
possibilidades oferecidas pelo PPA e pela Pré-Proposta Orçamentária resulta na
Proposta Orçamentária do Comando do Exército, que é encaminhada ao MD. Esse por
sua vez apresenta a Proposta conjunta das três Forças e do próprio Ministério.

6.5.4.5 Paralelo a esse processo, baseado na Proposta Orçamentária, efetua-se o


processo de contratação que é materializado nos Planos de Descentralização de
Recursos (PDR) entre o EME e os ODS/ODOp e, na esfera de atuação desses, os

6-9
respectivos Planos Setoriais. Os PDR estabelecem metas físico-financeiras de A+1, para
a execução das Atividades das Ações Estratégicas e demais ações correntes do Exército.
Os PDR são expedidos concomitantemente com a aprovação do PLOA.

6.5.4.6 A LOA é promulgada em A e as divergências em relação ao PLOA resultam em


ajustes nos PDR. As diferentes Ações Orçamentárias (AO) estabelecem o respectivo
Programa de Trabalho para o Exercício Financeiro.

6.5.4.7 A execução orçamentária é efetuada pelos diversos órgãos da Instituição e


controlada pelos Órgãos da Administração Federal, por meio dos diferentes sistemas
informatizados disponíveis.

6.5.4.8 As prestações de contas são realizadas por meio dos diversos processos
estipulados pela administração pública, culminando com a elaboração do Relatório de
Gestão da Unidade Orçamentária. Cabe destacar que este relatório aborda
principalmente a execução do Plano Estratégico da Instituição e suas entregas para a
sociedade.

Legenda:
DtzEstrt – Diretriz Estratégica Pl - Plano Interno

Exec – Execução PO - Programação Orçamentária

LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias PPA - Plano Plurianual

LOA - Lei Orçamentária Anual PS - Planos Setoriais

MdlAvl - Módulo de Avaliação RM – Região Militar

NGE - Necessidades Gerais do Exército


SIGPlan - Sistema de Informações Gerenciais e de
Planejamento
LvPrio - Livro de Prioridades

OM – Organização Militar SIAFI - Sistema de Administração Financeira

PDE - Plano Diretor do Exército SIDOR - Sistema Integrado de Dados Orçamentários

SIGA - Sistema de Informações Gerenciais e de


PlBas - Plano Básico
Acompanhamento

PlEstrt - Plano Estratégico SISPPO - Sistema de Pré-Proposta Orçamentária

6-10
6.5.4.2 O esquema anteriormente apresentado pode ser detalhado conforme a
seguinte figura:

Fig. 6-6. Detalhamento do Planejamento Administrativo

Legenda:
PIO – Proposta Inicial do Orçamento
PFO – Proposta Final do Orçamento
POE – Proposta do Orçamento do Exército

6.5.4.3 O entendimento mais aprofundado do SIPLEX e de suas vertentes poderá


ser obtido mediante consulta aos manuais específicos elaborados pelo Estado-Maior
do Exército.

6.5.5 PLANEJAMENTO BASEADO EM CAPACIDADES

6.5.5.1 O Planejamento Baseado em Capacidades (PBC) é uma metodologia


voltada a apoiar o planejamento da Força em um mundo no qual o futuro é
caracterizado por variadas incertezas, onde as ameaças são difusas e imprevisíveis
no tempo e no espaço.
6.5.5.2 Tem como escopo identificar, por meio de permanente análise da conjuntura
e em cenários prospectivos, as capacidades exigidas para confrontar quaisquer

6-11
desafios visualizados. A partir daí, interagir com as capacidades disponíveis, com o
intuito de obter uma força apropriada para atuar em uma gama de possibilidades
imprevisíveis de ocorrência no espaço e no tempo.
6.5.5.3 Permite a concepção, a criação e o emprego de forças de forma ágil e
flexível, plenamente contextualizado com a realidade presente e alinhado com as
perspectivas de futuro, reduzindo os riscos a que o planejamento de Defesa está
submetido.
6.5.5.4 O PBC é contínuo e deve estar de acordo com as imposições
governamentais decorrentes das legislações pertinentes (PND, END, dentre outras).
Deve considerar, também, a alocação de recursos orçamentários correntes para a
Defesa e as necessidades futuras estabelecidas nos cenários prospectivos, que
visualizam situações prementes de atuação da Força.
6.5.5.4 Em resumo, o PBC visa a obtenção de Capacidades Militares Terrestres
(CMT) e decorrentes Capacidades Operativas (CO) fundamentadas em objetivos
estratégicos estabelecidos a partir do nível político da Nação. Nesse contexto, os
fatores determinantes para a obtenção das requeridas capacidades são
representados pelo acrônimo DOAMEPI (Doutrina, Organização e/ou Processos,
Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura).
6.5.5.5 O PBC está em processo de estudos e pesquisas para a definição de
metodologia apropriada e consequente adoção e aplicação no âmbito das Forças
Armadas. Quando admitida, implicará em inovações consideráveis nos métodos e
amplitude de planejamentos em utilização pela Força.

6-12
ANEXO A

MODELO PARA ELABORAÇÃO DE ESTUDO ESTRATÉGICO DE ÁREA

1. GENERALIDADES
a. O estudo estratégico de área consiste, basicamente, na compilação
ordenada e atualizada de todos os elementos, mensuráveis e não mensuráveis, que
possam ser de interesse para o planejamento geral de qualquer ação estratégica em
determinada área ou para a exata compreensão de estratégias que nela estejam em
curso. O estudo estratégico permite detectar não apenas as potencialidades da área,
mas também suas vulnerabilidades, ou seja, suas deficiências ou pontos fracos
passíveis de serem explorados por um oponente. Em toda estrutura, existem
elementos fundamentais que, sendo eliminados, enfraquecidos, agravados ou
desarticulados, provocam o seu desmoronamento.
b. Os modelos existentes para o estudo estratégico de uma área servem apenas
como referência, devendo esse estudo ser adaptado a cada caso particular, em função
das informações disponíveis, do grau de desenvolvimento da área em questão e,
principalmente, da finalidade do estudo.
c. Os fatores que são considerados na caracterização de áreas estratégicas
podem ser enquadrados nas seguintes categorias básicas:
(1) poder e potencial estratégico;
(2) posição estratégica;
(3) óbices; e
(4) vulnerabilidades.
d. Poder e potencial estratégico – são avaliados quanto a suas possibilidades
em relação aos objetivos considerados, quanto a suas vulnerabilidades em relação
aos óbices e quanto à formulação de um juízo de valor sobre sua capacidade, com
vistas à ação política.
e. Posição estratégica – é a situação geográfica da área em relação aos centros
do poder ou a áreas de interesse vital para o país. Determinadas áreas podem ser
consideradas como estando em posição estratégica por servirem de pontos de apoio
para a execução de ações estratégicas em outras áreas.
f. Óbices – os óbices existentes ou potenciais são fundamentais para a
caracterização da área enfocada. Em última instância, as ações estratégicas nela
desenvolvidas terão como finalidade precípua a superação de tais óbices, de modo
a impedir o enfraquecimento do poder nacional.
g. Vulnerabilidades – são os óbices (deficiências) passíveis de serem
explorados pelo oponente. Assim, a existência de condições peculiares ao
subdesenvolvimento, a escassez de matérias-primas, as dificuldades e os
estrangulamentos no sistema de transporte são exemplos de deficiências na
expressão econômica do poder nacional que a ação de oponentes pode transformar
em vulnerabilidades. Outros exemplos podem ser citados: instabilidade política,
caracterizando deficiências na expressão política; equipamentos militares obsoletos
ou tecnologia ultrapassada, como deficiências na expressão militar; etc.
2. ZONA DE POTENCIAL ESTRATÉGICO
a. Este conceito refere-se a região caracterizada pela existência de: “território
extenso e contínuo; posição continental (na acepção de massa terrestre continental
banhada por oceanos ou mares abertos); riqueza natural diversificada; população
numerosa, densa e coesa e com capacidade realizadora; estruturas políticas
unitárias; progresso científico e poder econômico”.
b. É importante não se menosprezar a análise dos fatores de ordem histórica e
estrutural, valorizando-os da mesma forma que os fatores de ordem geográfica e
geoestratégica.
c. Em relação ao grau de desenvolvimento de uma área, há, normalmente, um rol
muito grande de elementos que devem ser considerados. Entretanto, o fundamental é
que o estudo seja norteado pelos conceitos de quantidade, qualidade e eficiência de
funcionamento dos elementos abordados.

3. ÁREA ESTRATÉGICA
a. Caracterização – Áreas, regiões ou setores são caracterizados como
estratégicos quando, no seu estudo, ficar constatada a presença ou a possibilidade de
interesses nacionais significativos, bem como a existência de óbices importantes,
fazendo-se necessária a aplicação de ações estratégicas.
b. Determinação de áreas estratégicas
Durante os estudos que culminam com a formulação da Concepção
Estratégica Nacional (CEN), começam a se configurar as primeiras áreas
estratégicas, considerando-se os interesses, os óbices existentes e as
características de cada região.
Configuradas tais áreas, torna-se necessário definir os seus limites, definição
essa que, no início, pode não ser precisa. A definição inicial dos limites de uma área
estratégica é buscada por meio do processo das tentativas pela coincidência de
unidades geográficas, econômicas, políticas, psicossociais e militares, sofrendo ao
longo do processo os reajustamentos necessários.
As áreas estratégicas podem localizar-se no próprio território nacional
(internas), fora dele (externas) ou em regiões que englobam espaços nacionais e
estrangeiros (mistas).
Convém ressaltar que algumas áreas passam a ser consideradas
estratégicas somente após determinada época. Outras, ao contrário, perdem seu
caráter estratégico com o passar dos anos. O Oceano Ártico, por exemplo,
inexpressivo por ocasião da II Guerra Mundial, é hoje uma importante área
estratégica, por permitir que os países por ele banhados projetem seu poder em
outros territórios.

4. ÁREA OPERACIONAL
a. Área operacional é a área estratégica, ou parte dela, relacionada com o
planejamento de ações predominantemente da expressão militar do poder nacional
e onde possíveis operações militares podem ocorrer.
b. A principal diferença entre uma área estratégica e uma área operacional é
que aquela se relaciona com ações de todo o poder nacional, enquanto que esta se
volta, predominantemente, para as ações militares, sem excluir as ações das demais
expressões do poder, ou seja, admite-se que as operações militares devem se
desenrolar nas áreas operacionais. Da mesma forma, quando se estuda uma área
com ênfase para o preparo e a aplicação militar, ela passa a ser considerada, para
esse estudo, uma área operacional.
c. Quando do estabelecimento da CEN, ao serem formuladas as possíveis
hipóteses de emprego, é feita uma primeira indicação das áreas onde,
presumivelmente, serão realizadas operações militares. Os estudos subseqüentes à
CEN irão possibilitar que se complementem as indicações iniciais, de forma a se
configurar, com maior nitidez, as áreas operacionais a serem efetivamente
consideradas. A delimitação mais precisa de tais áreas será obtida no
prosseguimento do processo de planejamento da defesa nacional.

5. ESTUDO ESTRATÉGICO DE ÁREA


a. Fundamentos
O estudo estratégico é composto, basicamente, de análise e de síntese,
constituindo valioso subsídio para a decisão ou para a atuação dos responsáveis
pelo planejamento da ação política.
Por intermédio do estudo estratégico, coletam-se e selecionam-se os dados
da área, avaliando-os judiciosamente, de modo que se possa chegar a uma decisão
adequada, oportuna e coerente.
O Estudo Estratégico pode-se referir tanto a áreas imprescindíveis à defesa
nacional quanto a áreas de interesse do Estado. Para este caso, devem-se
considerar as adaptações necessárias, na metodologia a seguir apresentada.
Para que haja padronização em estudos desse nível, é necessário conhecer
sua metodologia.
b. Metodologia – O estudo estratégico de área, seja puramente estratégico
seja operacional, compreende três fases:
1ª fase: levantamento estratégico;
2ª fase: avaliação estratégica;
3ª fase: exame estratégico.
c. Levantamento estratégico (1ª fase)
O levantamento estratégico de uma área tem por finalidade principal a
apuração de todos os dados e elementos que determinam ou condicionam o poder e
o potencial da referida área. Consiste, basicamente, na coleta de dados e
informações que facultam o conhecimento da área em seus aspectos positivos e
negativos.
Trata-se de trabalho metódico e contínuo, realizado desde o tempo de paz,
em que se faz sempre presente o cuidado na obtenção de dados e informações
exatas, com a devida antecedência, sem a preocupação de estabelecer relações
com os óbices existentes ou potenciais.
Existem, em certas áreas, dados que são permanentes ou de mutação muito
lenta no tempo e no espaço. Outros há, contudo, que variam de acordo com
diversos fatores. Daí a necessidade da constante atualização das informações e dos
dados obtidos.
Os trabalhos nesta 1ª fase revestem-se de características essencialmente
dinâmicas, exigindo atividade constante e pertinaz dos órgãos ou elementos
encarregados de realizar o levantamento estratégico.
Distingue-se de outros tipos de levantamento estatístico por suas finalidades
estratégicas e pelo seu uso futuro na avaliação estratégica.
Ao se fazer o levantamento estratégico de uma área operacional, não se
deve esquecer a motivação básica que preside o entendimento desse conceito, qual
seja, o da predominância de ações da expressão militar. Este deve ser o enfoque
por ocasião da coleta de dados e informações, mas sem a preocupação de
estabelecer juízos a respeito do valor do oponente admitido.
d. Avaliação estratégica (2ª fase)
1) A avaliação estratégica consiste em se determinar se as possibilidades e
vulnerabilidades existentes na área podem interferir, favorável ou
desfavoravelmente, em relação aos objetivos e políticas estabelecidas pelo Estado.
Em resumo, a finalidade principal desta fase é confrontar o valor do poder e do
potencial da área com os óbices existentes.
2) Na avaliação estratégica de uma área operacional, devem ser
consideradas as seguintes características:
a) Condições de acesso – dizem respeito à facilidade de aproximação de
meios, determinadas pela existência de vias de acesso e de direções estratégicas
que possibilitem a chegada de forças militares à área, bem como ao levantamento
de distâncias a percorrer, de obstáculos e de regiões para concentração. Os reflexos
sobre as condições de acesso à área são verificados durante esta fase, quando do
estudo da posição relativa, do relevo, da hidrografia, do solo, do clima e da
vegetação;
b) Condições de mobilidade – apreciam a capacidade de movimentação
na área. Ao ser feita a avaliação estratégica, deve ser considerado o efeito do
relevo, do solo, da hidrografia, do litoral, da vegetação, do clima e da rede viária nas
condições de mobilidade apresentadas pela área;
c) Condições de visibilidade – abrangem as considerações a respeito das
condições favoráveis à visibilidade horizontal e vertical na área. Dependem,
principalmente, das características do relevo, da vegetação e do clima;
d) Condições favoráveis às comunicações – referem-se à dependência do
material existente na áreae das possibilidades técnicas de sua utilização. Essas
condições estarão também influenciadas pelo relevo, pela vegetação e pelo clima;
e) Recursos disponíveis – apreciam as possibilidades da área em termos
de recursos à disposição, sua quantidade, qualidade e localização, bem como seus
reflexos no apoio às operações militares que aí se desenvolverem. Não se pode
esquecer do atendimento também às necessidade civis locais. Ao serem analisados
os fatores fisiográficos, devem ser verificados, por exemplo, os efeitos da geologia
(fertilidade do solo, existência de mineração e de materiais de construção), da
hidrografia (suprimento de água) e da vegetação na disponibilidade de recursos que
a área apresenta; e
f) Vulnerabilidades – a ausência ou deficiência de qualquer uma das
características acima citadas representa uma vulnerabilidade da área em estudo,
desde que possa vir a ser explorada pelo oponente.
3) Considerações
a) Na avaliação estratégica de uma área operacional, deve-se fazer a
confrontação das hipóteses de emprego com as apreciações decorrentes do
levantamento estratégico dessa área. Esse confronto tem como finalidade principal
determinar o valor da área e suas possibilidades no apoio às operações militares
que aí poderão ocorrer. Esta é, pois, a essência da 2ª fase.
b) Ao término da avaliação estratégica de uma área operacional, deve-se
estar em condições de determinar:
- os objetivos estratégicos da área;
- a natureza e o valor das forças amigas e oponentes que podem ser
empregadas na área;
- a adequação geral da área para a condução das operações militares
e para a execução das ações estratégicas previstas.
(1) Objetivo Estratégico
- Os objetivos estratégicos podem ser políticos ou militares,
ressaltando-se que estes deverão constituir passos intermediários para a conquista
daqueles.
- Para efeito de estudo, os objetivos estratégicos podem ser
relacionados em dois grandes grupos, a saber:
• objetivos explícitos e implícitos, decorrentes das hipóteses de
emprego;
• objetivos decorrentes dos tipos e formas das operações que
podem ser realizadas e das ações previstas para a área.
- Entre os objetivos do primeiro grupo, podem ser encontrados os
próprios objetivos estratégicos políticos e os centros vitais que caracterizam a área
como estratégica.
- Já os do segundo grupo são mais ligados aos objetivos de interesse
imediato para a execução das ações estratégicas previstas, tais como: centros
demográficos e industriais; instalações importantes; acidentes topográficos notáveis
da área; instalações militares e civis relacionadas com os transportes terrestres,
marítimos e aéreos; nós rodoferroviários; pontos críticos; usinas elétricas;
instalações nucleares; represas; obras de arte ; etc.
(2) Natureza e valor das forças
- A natureza das forças que podem atuar na área relaciona-se,
principalmente, com os fatores fisiográficos, com as ações estratégicas previstas e
com os tipos e formas de operações previsíveis. No caso de forças terrestres, por
exemplo, se existirem planícies bastante permeáveis ao movimento, há facilidade
para operações com blindados, mecanizados e tropas paraquedistas.
- Para a avaliação dos efetivos (valor das forças) que a área pode
comportar, consideram-se, particularmente, dentre outros, os seguintes fatores:
- os recursos existentes na área e os que podem proceder de outras
regiões, dentro das reais possibilidades de transporte e levando-se em conta,
também, as necessidades mínimas da população civil e respectivas atividades;
- a amplitude da área e os objetivos estratégicos nela existentes
ou que podem, por meio dela, ser alcançados.
(3) Adequação geral da área
- A adequação da área para a condução de operações militares resulta,
fundamentalmente, do confronto da sua base fisiográfica com as ações estratégicas
que podem nela ser desencadeadas e com os tipos e formas de operações
previsíveis, que podem ser executadas tanto pelas forças amigas como pelas
oponentes.
- A avaliação estratégica fornece, assim, elementos que vão
condicionar a 3ª fase, seja qual for o exame estratégico da área, dando-lhe
objetividade e realismo e evitando a formulação de linhas de ação impraticáveis.
e. Exame estratégico (3ª fase)
1) O exame estratégico de área tem por finalidade principal apreciar as ações
estratégicas que devem ser preparadas e conduzidas nessa área pelas diferentes
expressões do poder nacional, de forma a atender, nas melhores condições, aos
objetivos propostos pela política nacional.
2) Ao final desta fase, resultam as ações estratégicas, ou seja, as várias
opções (linhas de ação estratégicas) para serem selecionadas pela autoridade
competente, envolvendo as diversas expressões do poder.
3) De modo geral, o exame estratégico consiste em:
a) apreciar, em face da CEN, as diversas alternativas das expressões do
poder nacional, compatíveis com a importância da área e necessárias à conquista
ou à salvaguarda dos objetivos nacionais;
b) examinar o efeito dos óbices que podem se antepor às ações
projetadas ou com elas interferir desfavoravelmente;
c) estabelecer uma ordem de prioridade entre as ações estratégicas que
melhor atendam à conquista e à manutenção dos objetivos nacionais estabelecidos.
4) As ações no campo da estratégia nacional comportam, em grau variável, a
combinação de ações políticas, econômicas, psicossociais, científico-tecnológicas e
militares, caracterizando-se pela predominância do conteúdo ou dos efeitos diretos
de uma ou mais expressões e complementando-se por ações de apoio das demais
expressões. Em cada caso específico, devem ser apreciadas a ação predominante e
as ações complementares, que serão desencadeadas simultaneamente.
5) Como resultado do exame estratégico, são sugeridas ações estratégicas à
autoridade competente, de forma que ela tenha condições de selecionar aquelas
que julgar mais adequadas, tomando, assim, uma decisão que irá servir como
diretriz para os planejamentos subsequentes.
6) É evidente que, no exame de uma área operacional, predominam as ações
estratégicas de interesse da expressão militar, relacionadas tanto ao preparo como
ao emprego dessa expressão na referida área.
7) Por isso, o exame estratégico de uma área operacional consiste, ainda,
em:
a) verificar todas as possibilidades do oponente que possam interferir nas
ações estratégicas previstas para a área;
b) enumerar, na ordem de prioridade, as ações estratégicas de interesse
da expressão militar, visando à tomada de uma decisão que irá servir de base para o
planejamento militar subsequente, decisão essa que regulará o preparo
indispensável da expressão militar e a própria realização de ações militares na área.
8) A decisão servirá de base para o planejamento estratégico militar, que
objetiva o preparo e a aplicação das ações militares nessa área operacional.
f. Conclusão
1) Os estudos estratégicos de áreas estratégicas são basicamente regidos
pela mesma metodologia, apresentando, no entanto, diferenças na execução em
face do âmbito mais restrito a ser focalizado no caso das áreas operacionais. O
estudo estratégico de área operacional é realizado com a finalidade de identificar
cada uma das deficiências da área (existentes ou potenciais), delimitando-as tão
precisamente quanto possível, para verificar o que a ação do oponente pode
transformar em vulnerabilidade. Deve-se, então, classificá-las por ordem de
importância e de urgência, para determinar as ações estratégicas a planejar,
preparar e executar.
2) Percorridas as três fases do estudo estratégico, pode-se resumi-las da
seguinte forma: o levantamento reúne dados objetivamente, quase em termos
absolutos; a avaliação estabelece juízos de valor, compara, entra no domínio da
relatividade dos fatores e eventos; o exame projeta as alternativas do
comportamento para fazer frente a cada situação numa determinada área.
3) A seguir, ressalta-se a importância da inteligência estratégica, que está
presente em todas as fases do estudo, com destaque para as estimativas, fruto de
seu elevado valor estratégico.

6. INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA
a. Nos tempos atuais, a gama de conhecimentos inerentes às atividades
humanas torna-se cada vez mais ampliada e complexa, com inequívoco reflexo para
aqueles que desejam ou necessitam deter o poder. Nesse contexto, informar-se é
fundamental, sobretudo quando se trata de obter um conhecimento antecipado que
proporcione visão prévia do que pode acontecer, permitindo identificar
comportamentos ou reações diante de fatos ou situações futuras, em qualquer nível
de ação.
b. As informações podem abranger aspectos amplos e gerais ou restritos e
específicos, e sua necessidade avulta quando se trata de obter conhecimentos que,
por sua natureza, devam ser pesquisados e produzidos com o objetivo de serem
utilizados para bem fundamentar decisões nos mais altos escalões governamentais.
O estudo estratégico de área consiste nesse trabalho de produzir conhecimentos
adequados e oportunos, que favoreçam os atos decisórios, enquadrando-se, pois, no
campo da inteligência estratégica.
c. Informação estratégica é o conhecimento que tenha ou possa vir a ter
reflexos em qualquer expressão do poder nacional, produzido com a finalidade de
atender às necessidades de planejamento e à condução de ações de alcance
estratégico.
d. Ela encerra conhecimentos necessários à conquista e/ou à manutenção dos
objetivos nacionais.
e. As informações estratégicas não designam objetivos, não estabelecem
políticas, não formulam planos e não executam operações (exceto as específicas de
inteligência). Elas apenas servem de subsídio para os estudos e tomada de
decisões.
f. Em relação ao estudo estratégico de área, cumpre considerar três tipos de
informações estratégicas, classificadas de acordo com sua validade no tempo:
(1) Informação básica – Quando se refere a conhecimentos estáveis, já
consolidados, levantados ou catalogados, abrangendo todos os setores de atividade
e de caráter relativamente permanente. É utilizada com a finalidade de proporcionar
os elementos necessários aos planejadores e executores da política e da estratégia
nacional. Como o próprio nome indica, essa informação serve de base para
produção de outros conhecimentos, particularmente para acompanhar o
desdobramento de determinadas atividades ao longo de um período. O
levantamento estratégico (1ª fase), por exemplo, constitui informação básica que
fornece grande volume de dados sobre todas as expressões do poder nacional.
(2) Informação corrente – É o conhecimento dinâmico, sempre atualizado, da
conjuntura interna e externa em todas as expressões do poder nacional, que
propicia dados de valor imediato aos usuários. É utilizada para atualizar a
informação básica, permitindo acompanhar a tendência ou a evolução dos
acontecimentos que se desenrolam no país e no cenário internacional.
(3) Informação estimada ou estimativa
(a) É a projeção, em futuro previsível, de um fato ou uma situação, feita
com base na análise objetiva de todos os dados envolvidos e no estudo das
possibilidades e probabilidades de sua evolução. Exige do analista conhecimento,
argúcia, isenção, experiência e, principalmente, absoluta correção e precisão ao
expressar seu pensamento.
(b) O conhecimento estimado, proporcionando elementos que permitam
levantar linhas de ação prováveis e possíveis intenções de outras nações, evita que
os dirigentes do país sejam tomados de surpresa pelas modificações na política
internacional. Da mesma forma, no âmbito interno também podem ser elaboradas
estimativas sobre os elementos de todas as expressões do poder nacional. Pelo seu
grande valor estratégico, as estimativas são consideradas o mais nobre produto da
inteligência estratégica.
(c) As informações nitidamente militares também podem ser básicas,
correntes e estimativas. Merecem destaque as estimativas militares pelo acentuado
reflexo que terão na formulação da política de preparo e emprego da expressão
militar. Essas estimativas devem abranger, dentre outros, os seguintes elementos:
1) capacidade de mobilização;
2) avaliação do potencial militar da nação-alvo e sua possibilidade de
transformação em poder;
3) capacidade produtiva de material de defesa;
4) prováveis TO;
5) objetivos estratégicos;
6) direções estratégicas;
7) evolução da doutrina militar;
8) acordos militares e alianças.
(4) Em termos de planejamento de guerra, buscam-se informações sobre o
poder e o potencial do oponente e sobre a capacidade do nosso poder nacional de
sobrepujá-lo, sobre as possibilidades de o oponente conseguir o apoio de outras
nações e sobre a nossa capacidade de impedir essas alianças e de buscar apoio
externo.
(5) Para atender ao Plano Militar de Guerra, as necessidades de informações
incidem sobre as possibilidades de mobilização do oponente, o material de que ele
dispõe e sobre sua capacidade econômica de apoiar as operações e de durar na
ação. Em relação ao nosso País, tais necessidades voltam-se para definir as
possibilidades de, com nossos meios e potencial, atingir os objetivos de guerra
colimados.
Apêndices:
1 – Memento para o levantamento estratégico de área
2 – Memento para a avaliação estratégica de área operacional
3 – Memento para a avaliação estratégica de área operacional específico para
defesa territorial e garantia da lei e da ordem.
APÊNDICE 1 ao Anexo A

(Memento)

LEVANTAMENTO ESTRATÉGICO DE ÁREA

000 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

010 – Aspectos Gerais


011 – superfície e forma
012 – faixa fronteiriça
013 – posição relativa
014 – regiões naturais

020 – Geologia
021 – rochas e tipos de solos

030 – Orografia
031 – configuração do solo em seu conjunto
032 – acidentes do relevo; direções e altitudes

040 – Hidrografia
041 – bacias e rede fluvial
042 – lagos, açudes e canais
043 – quedas de água e suas características
044 – regimes de águas
045 – navegabilidade

050 – Climatologia
051 – elementos e fatores do clima e sua influência sobre o solo
052 – zonas climáticas
053 – regime de chuvas

060 – Vegetação
061 – revestimento florístico, espécies e áreas cobertas (zonas de vegetação)
062 – camuflagem (possibilidades)
063 – permeabilidade

070 – Litoral
071 – faixa litorânea e seu aspecto
072 – águas adjacentes e seus movimentos
073 – plataforma continental submarina

080 – Apreciação
081 – a extensão, a forma e a posição em relação a outros países ou áreas
082 – regiões naturais; características principais e valor relativo
083 – os fatores fisiográficos (geologia, relevo, clima, hidrografia e vegetação) como
condicionantes do povoamento e da capacidade de produção
084 – os fatores fisiográficos e suas influências nos transportes (barreiras e
caminhos naturais de penetração das regiões naturais)
085 – vegetação, quanto à permeabilidade e à possibilidade de camuflagem
086 – a faixa litorânea, as áreas adjacentes e seus movimentos e a plataforma
continental; reflexos na economia e na acessibilidade

100 – FATORES PSICOSSOCIAIS

110 – Antecedentes Históricos e Sociais


111 – evolução histórica e social
112 – idioma oficial, idiomas e dialetos de grupos diversos
113 – raças (regiões étnicas, miscigenação, etc)
114 – classes sociais

120 – População
121 – Aspectos demográficos
121.1 – efetivos humanos
121.2 – distribuição pelo território (regiões demográficas) e Densidade
121.3 – composição da população (sexo e idade)
121.4 – taxas de natalidade, mortalidade e sobrevivência
122 – Movimentos da população
122.1 – imigração e emigração
122.2 – migrações internas
123 – Núcleos estrangeiros
123.1 – distribuição e densidade
123.2 – nacionalidade
123.3 – tendências políticas
123.4 – desenvolvimento e atividades
124 – Mão de obra
124.1 – distribuição por atividades econômicas
124.2 – agropecuária, caça e pesca
124.3 – produção industrial
124.4 – transportes
124.5 – comunicações
124.6 – comércio
124.7 – outras

130 – Saúde Pública


131 – estado sanitário geral
132 – padrões sanitários
133 – regiões endêmicas

140 – Situação Cultural e Religiosa


141 – Educação
141.1 – ensino em geral
141.2 – ensino militar
141.3 – ensino profissional
141.4 – ensino técnico
141.5 – profissões liberais
141.6 – institutos de altos estudos
141.7 – institutos de ensino e pesquisa na área de ciência e tecnologia
142 – Cultura
142.1 – desenvolvimento
142.2 – centros culturais
142.3 – propaganda e difusão
143 – Cultos
143.1 – desenvolvimento
143.2 – hábitos nacionais
143.3 – influência religiosa e sua força
143.4 – atitude em relação ao governo
143.5 – propaganda e difusão

150 – Trabalho, Previdência e Assistência Social


151 – Trabalho
151.1 – organização
151.2 – legislação
151.3 – política trabalhista do governo
151.4 – padrão de vida e salários
152 – Previdência Social
152.1 – organização
152.2 – legislação
152.3 – seguro social
153 – Assistência Social
153.1 – organização
153.2 – legislação

160 – Moral Social e Opinião Pública


161 – hábitos e costumes sociais
162 – prevenção e repressão à inobservância dos preceitos morais
163 – liberdade de pensamento e de opinião
164 – opinião pública e sua influência sobre o governo
165 – atitudes nacionalistas e internacionalistas
166 – grau de tolerância às minorias estrangeiras
167 – organizações sociais que influem na opinião e no moral do povo
168 – propaganda
168.1 – organização
168.2 – técnica da propaganda nacional e sua eficiência
168.3 – imprensa, rádio, televisão, publicações diversas, etc
169 – contrapropaganda
169.1 – organização
169.2 – funcionamento
169.3 – eficiência
169.4 – censura

170 – Apreciação
171 – tradições históricas
171.1 – tensões sociais existentes (natureza e valor)
172 – população
172.1 – influência da composição e da distribuição de população no poder
nacional
172.2 – tendências de crescimento populacional
172.3 – repercussão econômica e social das migrações internas
172.4 – influência do imigrante na formação e nas atividades nacionais
172.5 – valores qualitativos e quantitativos da mão de obra
173 – estado sanitário geral e sua influência no poder nacional
174 – influência da educação e da cultura na formação do poder nacional
175 – nível cultural da população
176 – trabalho, previdência e assistência social
176.1 – organização trabalhista e sua influência na vida do país
176.2 – sistemas de previdência social; valor e execução
176.3 – assistência social, sua aplicação e resultados
177 – moral social e opinião pública
177.1 – psicologia nacional e bases morais da nação
177.2 – psicologias regionais
177.3 – grau de patriotismo do povo e seu valor moral
177.4 – tendências políticas das elites e das massas
177.5 – opinião pública em face das ações governamentais
178 – sentido da propaganda e seus efeitos reais.

200 – FATORES POLÍTICOS

210 – Estrutura Política


211 – regime e forma de governo
212 – poderes
212.1 – Executivo
- organização
- administração pública
- características e técnicas administrativas
212.2 – Legislativo
- organização
- aspectos políticos e funcional
- tendências políticas e composição partidária
212.3 – Judiciário
- organização
- distribuição da justiça
- situação em face dos demais poderes

220 – Sistema Jurídico


221 – doutrina e pensamento jurídico
222 – direitos e deveres do cidadão
222.1 – direitos e garantias individuais
222.2 – direitos políticos
222.3 – deveres
222.4 – limitações

230 – Política Interna


231 – Evolução do sistema
231.1 – processo eleitoral e tendências
231.2 – leis em elaboração
231.3 – partidos políticos
- seu valor representativo eleitoral
- sua influência
- programas e tendências ideológicas
231.4 – organizações que influem na política da área
231.5 – espírito renovador
231.6 – movimentos revolucionários
232 – respeito à tradição
233 – aceitação popular

240 – Segurança Pública


241 – organização
242 – funcionamento

250 – Política Externa (no caso de a área ser um país reconhecido pela
comunidade internacional)
251 – princípios que regulam as relações internacionais
251.1 – tradição política
252 – participação e influência nos organismos e nos sistemas internacionais
253 – ação da comunidade internacional
254 – atitudes políticas, aparentes ou não
255 – Ministério do Exterior
255.1 – organização
255.2 – repartições diplomáticas e consulares
255.3 – missões especiais
255.4 – tradição diplomática
256 – relações externas
256.1 – países limítrofes
256.2 – países continentais
256.3 – países extracontinentais
256.4 – pactos e ajustes internacionais: alianças, tratados e acordos em vigor
256.5 – limites; zonas de fricção e de litígio
257 – aceitação popular.

260 – Defesa Nacional


261 – política tradicional
262 – política atual em execução
263 – preparação para a guerra
263.1 – influências externas
263.2 – influências internas

270 – Inteligência e ContraInteligência


271 – organização
272 – funcionamento no país
273 – funcionamento no exterior

280 – Apreciação
281 – estrutura de estado
281.1 – relação entre os poderes
281.2 – valor da administração pública
282 – respeito às liberdades humanas e compreensão dos deveres
283 – linhas mestras da política nacional
284 – política interna
284.1 – estabilidade política; tensões políticas (natureza e valor)
284.2 – características da vontade e dos anseios
284.3 – o interesse do povo pelos atos do governo e o sincronismo de ação entre o povo e
o governo
285 – valor e eficiência dos órgãos de segurança pública
286 – política externa
286.1 – relações internacionais; significação real
286.2 – realizações da política externa em face dos compromissos internacionais
286.3 – repercussão na vida do país
287 – defesa nacional
287.1 – a repercussão na opinião pública das medidas ligadas à defesa nacional
288 – valor e eficiência das organizações de inteligência

300 – FATORES ECONÔMICOS

310 – Estrutura Econômica


311 – organização econômica
312 – economia livre ou controlada; grau de influência e controle do governo
313 – renda “per capita”

320 – Produção Extrativa


321 – produção extrativa mineral
321.1 – combustíveis
- sólidos
• produção e circulação
• espécies, fontes, volume, valor e reservas
• transporte e destino do produto
- líquidos:
• distribuição
• exportação, importação e estocagem
- gasosos
• consumo e importação
- legislação.
321.2 – minérios e minerais:
- metálicos ferrosos:
• mineração-espécie, jazidas (ferro e seus componentesou similares, extração,
beneficiamento, associados), volume, valor e reservas.
- metálicos não ferrosos:
• transformação (alumínio, antimônio, chumbo, cobre, estanho, magnésio e zinco);
• distribuição-exportação, importação e estocagem;
• circulação;
• transporte e destino do produto.
- metálicos preciosos:
• consumo.
- não metálicos fósseis:
• legislação.
- terras raras
322 – Produção extrativa vegetal
322.1 – madeira, produção - zonas, volumes e valor
322.2 – ...circulação – transporte e destino do produto
322.3 – ...distribuição – exportação, importação e estocagem
322.4 – oleaginosos, consumo e legislação

330 – Agropecuária, Caça e Pesca


331 – agricultura, produção – espécies, zonas, volumes e valor
332 – pecuária; circulação – transporte e destino do produto
333 – caça; distribuição – exportação, importação e estocagem
334 – pesca; consumo
334.1 –legislação
334.2 – cooperativas

340 – Produto Industrial


341 – Indústrias de base
341.1 – químicas
341.2 – metalúrgicas
341.3 – outras
342 – energia
342.1 – produção; espécie, instalações e potência instalada
342.2 – mananciais e represas
342.3 – potência utilizável
342.4 – distribuição
342.5 – consumo
342.6 – legislação
343 – indústrias de transformação:
343.1 – têxtil
343.2 – alimentar
343.3 – química
343.4 – mecânica
343.5 – da borracha
343.6 – de material elétrico
343.7 – ferroviária
343.8 – de construção naval
343.9 – automobilística
343.10 – aeronáutica
343.11 – de material eletrônico
343.12 – óptica
343.13 – de material de precisão
343.14 – outras
350 – Comunicações
351 – rede postal; características e técnicas
352 – rede telefônica e radiotelefônica essenciais
353 – rede telegráfica e radiotelegráfica; traçado e conexões
354 – rederadiodifusora
355 – estações de televisão
356 – radioamadorismo
357 – rede mundial de computadores (Internet)
358 – uso de satélites
360 – Transporte
361 – terrestre:
361.1 – ferroviário
- redes; características gerais
• bitolas, extensão por bitola, pontos sensíveis
• traçados, nós ferroviários e grandes terminais
• eixos principais e secundários
• capacidade de tráfego; pontos críticos
• conexão de eixos nacionais e estrangeiros
• conexão com outras vias de transporte
- material rodante; tração e reboque
• características gerais
• quantidade por espécies
• procedência
• manutenção; instalações e possibilidades
- combustível e energia elétrica
• procedência, por espécie
• consumos normais e máximos para tráfego e instalações
• valor dos consumos
• suprimento
• estocagem
• obras e melhoramentos em execução e em projeto
361.2 – rodoviário
- redes
• características gerais
• classificação e pontos sensíveis
• traçados, nós rodoviários e grandes terminais
• eixos principais e secundários
• capacidade de trânsito; pontos críticos
• conexão de eixos nacionais e internacionais
• conexão com outras vias de transporte
- material automóvel
• características gerais
• quantidade por espécie
• procedência
• manutenção (instalações e possibilidades)
- combustíveis e lubrificantes
• procedência, por espécie
• consumos normais
• valor dos consumos
• suprimentos
• estocagens
- obras e melhoramentos em execução e em projeto
361.3 – dutoviário
- características gerais
• traçados
• pontos críticos
• rendimento
- obras e melhoramentos em execução e projetados
362 – aquaviário
362.1 – fluvial e lacustre
- organização
- trechos navegáveis ou rotas principais e secundárias, conexão com outras vias de
transporte
- portos, instalações, capacidade e melhoramentosportuários
- ancoradouros
- material flutuante
• características gerais
• quantidade por espécie
• navios em serviço e em reserva
• capacidade
• procedência
• manutenção; instalações e possibilidades
- combustíveis e lubrificantes
• procedência, por espécie
• consumos normais
• valor dos consumos
• suprimentos
• estocagens
362.2 – marítimo
- portos
- organização
- conexão com outras vias de transporte
- instalações portuárias
• armazéns
• pátios
• silos
• tanques de combustíveis
- condições hidrográficas e de acostamento dos portos
• amplitude da maré
• profundidade da barra
• canal de acesso
• bacia de evolução
• cais acostável (extensão e profundidade)
- equipamentos portuários
• guindastes e cábreas
• pontes rolantes
• empilhadeiras
• carregadores mecânicos
• linhas férreas
• locomotivas e vagões
• rebocadores
• áreas de influência dos portos
363 – aéreo
363.1 – organização
363.2 – aeroportos, aeródromos, instalações e capacidades, ligações com outras vias
de transporte
363.3 – aeronaves
- características gerais
- quantidade por espécie; aviões em serviço e em reserva
- capacidade
- procedência
- manutenção; instalações e possibilidades
- combustíveis e lubrificantes
• procedência, por espécie
• consumos normais
• valor dos consumos
• suprimentos
• estocagens
370 – Comércio
371 – Exterior
371.1 – importação, espécies
- procedências ou destino
- países, portos
- volume
- valor
- destino ou procedência dos artigos
371.2 – exportação, vias de acesso ou de saída
372 – Interno

380 – Finanças
381 – orçamento, receita e despesa
382 – investimentos
383 – dívida pública interna e externa
384 – situação financeira externa; balança de pagamentos
385 – moeda e câmbio
386 – circulação fiduciária
387 – mecanismo de crédito
388 – regime fiscal

390 – Apreciação
391 – Estrutura econômica
391.1 – valor da estrutura econômica
391.2 – potencial econômico (valor e deficiências)
391.3 – autossuficiência e dependência externa (materiais estratégicos e críticos)
391.4 – pressões econômicas (internas e externas)
392 – Produção
392.1 – possibilidades de aumento de produção
392.2 – distribuiçãorelativa das fontes de produção
393 – Transportes e Comunicações
393.1 – possibilidades gerais dos transportes e das comunicações para atender a um
tráfego intenso
393.2 – traçado das vias de transporte para a circulação de riquezas
394 – Situação financeira interna e externa
395 – Comércio
395.1 – trocas internacionais e possibilidades de novos mercados
395.2 – posição relativa às rotas internacionais
396 – Regiões geoeconômicas (ligações e grau de dependência)
397 – Valor quantitativo e qualitativo da mão de obra
400 – FATORES MILITARES

410 – Organização Administrativa


411 – Estrutura geral
411.1 – órgãos diversos
411.2 – Ministério da Defesa
412 – Controle administrativo
412.1 – organização
412.2 – funcionamento

420 – Organização das Forças


421 – composição de cada força
422 – comandos
423 – efetivos e equipamentos
423.1 – efetivos e equipamentos (globais)
423.2 – unidades de combate, de apoio ao combate e de apoio logístico
424 – distribuição e ordem de batalha
425 – serviço militar
426 – mobilização militar
427 – forças auxiliares
428 – guerrilheiros
429 – defesa civil

430 – Instrução e Adestramento


431 – forças terrestres
432 – forças navais
433 – forças aéreas
434 – forças conjuntas
435 – forças auxiliares

440 – Fortificações e Instalações Permanentes de Defesa


441 – zonas defendidas
442 – bases e obras permanentes no interior
443 – bases e obras permanentes no litoral
444 – instalações subterrâneas
445 – defesa antiaérea
446 – instalações especiais

450 – Logística
451 – Logística Militar
451.1 – doutrina
451.2 – organização
451.3 – sistema de apoio
452 – Organização logística de cada força
452.1 – sistema de suprimento na paz e em campanha
452.2 – sistemas de manutenção e reparo
452.3 – sistemas de evacuação sanitária e hospitalização
452.4 – sistemas de transportes militares
452.5 – sistemas de comunicações militares
452.6 – sistemas industriais militares
452.7 – capacidade técnico-industrial
453 – Emprego militar dos transportes e das comunicações civis
454 – Sistemas de aquisições
455 – Suprimentos dependentes de fontes externas

460 – Moral e Disciplina


461 – normas gerais
462 – medidas em prática
463 – decorrência dos fatores políticos
464 – decorrência dos fatores sociológicos
465 – decorrência dos fatores econômicos
466 – decorrência de outros fatores
467 – comportamento em conflitos anteriores

470 – Potencial Humano


471 – contingente demográfico abrangido pelo serviço militar
471.1 – masculino
471.2 – feminino
471.3 – mão de obra militar
472 – período de serviço ativo
473 – índices físicos, psicológicos e de conhecimentos
474 – incapacidades e isenções
475 – reservas
476 – outros fatores

480 – Potencial em Animais


481 – população de equinos, asininos e muares
482 – criação de animais de guerra

490 – Apreciação
491 – eficiência da organização administrativa
492 – organização das forças
492.1 – valor da organização militar e dos comandos
492.2 – valor do equipamento das forças
492.3 – possibilidades de mobilização e de concentrações militares
492.4 – resultados práticos da legislação do Serviço Militar
492.5 – valor e possibilidades das forças auxiliares
493 – instrução
493.1 – nível de instrução e adestramento das forças
493.2 – valor combativo das forças
494 – importância das organizações permanentes na defesa do território
495 – valor da organização logística do país para atender às necessidades
militares
496 – estado de disciplina das Forças Armadas
497 – influência dos militares na política nacional
498 – valor do contingente humano para a mobilização

500 – FATORES CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS (C&T)

510 – Fatores psicossociais e C&T


511 – Recursos humanos existentes
511.1 – biologia
511.2 – química
511.3 – física
511.4 – eletrônica;
511.5 – informática
512 – Influência da C&T no comportamento da sociedade e na cultura (hábitos,
valores, tradições)
513 – Alterações no meio ambiente provocadas pela utilização da C&T
514 – Grau de aceitação da sociedade às mudanças provocadas pela C&T
515 – Apreciação
515.1 – grau de desenvolvimento técnico-científico da área
515.2 – resultados de pesquisas e novas realizações; experiências
515.3 – aplicações concretas e em larga escala dos conhecimentos técnicos e
científicos
515.4 – intercâmbio com outras áreas
515.5 – impacto provocado pela C&T na sociedade e no ambiente
515.6 – política e intenções de aplicação na guerra

520 – Ciência e Tecnologia na Política


521 – atitude dos políticos quanto à C&T
522 – influências dos técnicos nas decisões políticas
523 – uso de tecnologias avançadas para planejamento, tomada de decisão e
controle da execução das metas políticas
524 – apreciação
524.1 – uso e grau de valorização da C&T pelos dirigentes políticos

530 – Ciência e Tecnologia na Economia


531 – Biologia
531.1 – organizações, pesquisa e desenvolvimento
531.2 – novas realizações
531.3 – instalações e produção
531.4 – orçamento e verbas
532 – Química:
532.1 – organizações, pesquisa e desenvolvimento
532.2 – novas realizações
532.3 – instalações e produção
532.4 – orçamentos e verbas
533 – Física:
533.1 – Energia nuclear
- organizações e pesquisas
- instalações e produção
- experiências
- fontes
- orçamentos e verbas
533.2 – Aeronaves especiais
- ortodoxas, diferentes tipos de produção
- não ortodoxas; tipos especiais
- túneis aerodinâmicos
- produção livre ou controlada
533.3 – Explosivos e propelentes
- pesquisa e desenvolvimento
- campos de prova
- produção
- características
533.4 – Combustíveis e comburentes
- químicos
- sólidos
- nucleares
- orçamento e verbas
533.5 – Engenhos dirigidos (com ou sem piloto)
- pesquisa e desenvolvimento
- instalações
- campos de provas e experiências
- famílias de engenhos
- produção
- características
- propulsão e controle (se for o caso)
- orçamentos e verbas
533.6 – Armas especiais
- pesquisa e desenvolvimento
- instalações
- campos de prova e experiências
- tipos
• para o Exército
• para a Marinha
• para a Força Aérea
- produção
- características
- orçamentos e verbas
534 – Eletrônica
534.1 – pesquisa e desenvolvimento
534.2 – instalações
534.3 – radar e antirradar
534.4 – radiocomunicações
534.5 – aparelhos eletrônicos especiais
534.6 – válvulas, transistores e capacitores
534.7 – produção
534.8 – características
534.9 – orçamentos e verbas
535 – Informática
535.1 – organizações, pesquisa e desenvolvimento
535.2 – novas realizações
535.3 – instalações e produção
535.4 – orçamento e verbas
535.5 – transporte
- tecnologias aplicadas aos transportes
535.6 – finanças
- tecnologias aplicadas às finanças

540 – Reflexos da Ciência e Tecnologia no Poder Militar


541 – Biologia
541.1 – possibilidades de aplicação na guerra, inclusive nas atividades de
biossegurança.
542 – Química
542.1 – possibilidades de aplicação na guerra
543 – Física
543.1 – energia nuclear
- possibilidades de aplicação na guerra
543.2 – aeronaves militares
- produzidas na área
- procedentes de outras áreas do país
- procedentes do exterior
- capacidade de manutenção e de suprimento da área
543.3 – explosivos e propelentes
- pesquisa e desenvolvimento
- instalações
- campos de prova
- produção
- características
543.4 – combustíveis e comburentes
- químicos
- sólidos
- nucleares
543.5 – engenhos dirigidos (com ou sem piloto)
- pesquisa e desenvolvimento
- instalações
- campos de provas e experiências
- famílias de engenhos
- produção
- características
- propulsão e controle (se for o caso)
543.6 – armas especiais
- pesquisa e desenvolvimento
- instalações
- campos de prova e experiências
- tipos
• para o Exército
• para a Marinha
• para a Força Aérea
- produção
- características
- orçamentos e verbas
544 – Eletrônica
544.1 – pesquisa e desenvolvimento
544.2 – instalações
544.3 – radar e antirradar
544.4 – auxílio-rádio à navegação
544.5 – radiocomunicações
544.6 – aparelhos eletrônicos especiais
544.7 – válvulas, transistores, capacitores, etc
544.8 – produção
544.9 – características
544.10 – capacidade de uso de meios eletrônicos na guerra
544.11 – possibilidade dos recursos locais
545 – Informática
545.1 – possibilidade de aplicação na guerra
545.2 – grau de informatização das Forças Armadas
546 – Apreciação
546.1 – capacitação tecnológica para fins militares
546.2 – uso e grau de valorização da C&T pelos militares

600 – FATORES BIOGRÁFICOS

610 - Personalidades
611 – líderes políticos e religiosos
612 – representantes diplomáticos
613 – chefes militares
614 – pessoas que exercem influência no ambiente nacional
615 – dirigentes de organizações com influência nas atividades básicas do Estado
615.1 – estatais e paraestatais
615.2 – privadas
615.3 – de comunicação social (mídia)
615.4 – sindicais
615.5 – outras
616 – escritores, jornalistas, juristas de renome, etc
617 – líderes estudantis, pesquisadores científicos e técnicos, inventores e
pioneiros

620 – Tendências políticas e sociais dessas personalidades


630 – Influência de suas ideias sobre a sociedade

640 – Apreciação
641 – Tendências dos líderes de
641.1 – política
641.2 – economia
641.3 – educação, cultura, ciência e tecnologia
641.4 – órgãos de comunicação social
641.5 – entidades religiosas e assistenciais
641.6 – organizações militares
641.7 – sindicatos e entidades empresariais
APÊNDICE 2 ao Anexo A

(Memento)

AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DE ÁREA OPERACIONAL

1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
a. Posição relativa
(1) Posição relativa aos centros vitais do nosso território e de outras áreas
extraterritoriais.
(2) Articulação com as linhas de circulação terrestres, marítimas e aéreas.
b. Dimensões e forma
(1) Facilidades e dificuldades que as dimensões e a forma da área podem
apresentar para a organização do teatro de operações.
(2) Sua influência na realização de ações ofensivas e defensivas e no
desdobramento das forças.
(3) Influência nas operações de guerra irregular.

2. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS
a. Relevo
(1) Facilidades e dificuldades de circulação e de condições de acesso à área.
(2) Influência na observação aérea e terrestre.
(3) Necessidade de emprego de tropa especializada.
(4) Possibilidade de emprego de forças blindadas, mecanizadas,
motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.
(5) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.
(6) Influência nas operações.
(7) Repercussões na escolha da manobra a realizar.
b. Hidrografia
(1) Os cursos de água como obstáculos à manobra.
(2) O significado das obras de arte e das regiões de passagem.
(3) Possível influência das chuvas no volume das águas.
(4) Existência de áreas passivas (pântanos, banhados, mangues, etc).
(5) Compartimentação da área, do ponto de vista hidrográfico.
(6) Reflexos para o emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas,
aeromóveis ou paraquedistas.
(7) Utilização dos rios como vias de transporte.
(8) Influência nas operações.
c. Solo
(1) Influência na transitabilidade, sobretudo em condições meteorológicas
desfavoráveis: facilidades e dificuldades de circulação na área.
(2) Reflexos nos trabalhos de construção, fortificações de campanha e
conservação de estradas.
(3) Influência no emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas,
aeromóveis ou paraquedistas.
(4) Recursos minerais que efetivamente poderão ser aproveitados em
trabalhos de construção, de conservação e de fortificação.
d. Clima e condições meteorológicas
(1) Efeitos sobre a observação aérea e terrestre.
(2) Influência na transitabilidade: reflexos nos trabalhos de construção e
conservação, particularmente de estradas.
(3) Influência na atuação e na aclimatação do combatente.
(4) Influência na manutenção e no funcionamento do material e na
conservação de suprimentos.
(5) Oportunidades favoráveis ao desencadeamento de operações previstas.
(6) Influência no emprego de forças paraquedistas e apoio aéreo.
(7) Possibilidades de ocorrência de calamidades públicas.
(8) Reflexos na navegação aérea, costeira, fluvial e lacustre.
e. Vegetação
(1) Possibilidade de cobertura, disfarces e observação.
(2) Permeabilidade.
(3) Obstáculos.
(4) Necessidade de emprego de tropas especializadas.
(5) Reflexos no emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas,
aeromóveis ou paraquedistas.
(6) Necessidade de suprimentos especiais.
(7) Facilidades e dificuldades para a realização de operações aeromóveis ou de
suprimento aéreo.
(8) Possibilidades de aproveitamento como fonte de suprimento de
subsistência e de material de construção.
(9) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.
f. Litoral
(1) Faixas litorâneas adequadas às operações de desembarque.
(2) Facilidades e dificuldades na realização de operações anfíbias.
3. ASPECTOS ECONÔMICOS
a. Recursos econômicos – Possibilidades e limitações econômicas da área
para o apoio às operações militares e para o atendimento à população civil quanto a:
(1) recursos alimentícios;
(2) materiais de construção;
(3) combustíveis; e
(4) outros artigos.
b. Centros Industriais
(1) Importância interna e externa.
(2) Possibilidade de subdivisão da área, sob o ponto de vista econômico,
caracterizando os centros industriais e as zonas mais importantes que serão
prováveis objetivos para quem pretende dominar a área.
c. Energia
(1) Grau de dependência externa dos principais centros geradores de
energia.
(2) Vulnerabilidades às ações inimigas.
(3) Reflexos na economia da área.
d. Transportes
(1) Facilidades e dificuldades de ligação dentro da área.
(2) Facilidades e dificuldades de ligação com outras áreas.
(3) Capacidade das vias de transporte, dos campos de pouso e dos portos,
para fins militares. Valor máximo aproximado das forças que poderão ser apoiadas
em cada eixo.
(4) Estrangulamentos nos sistemas de transporte.
(5) Locais de convergência e pontos críticos.
(6) Disponibilidade e adaptabilidade dos sistemas de transportes para o apoio
às operações militares.
e. Sistemas de Comunicações
(1) Facilidades e dificuldades de apoio às operações militares.
(2) Possibilidades de aproveitamento de instalações e equipamentos civis.

4. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS
a. População
(1) Existência de núcleos populacionais que possam interferir nas operações:
possibilidades de surtos insurrecionais e revolucionários.
(2) Adensamentos populacionais e seus reflexos no planejamento da
evacuação de civis.
(3) Reflexos das migrações.
(4) Reflexos dos contrastes socioeconômicos.
(5) Tendências políticas e possibilidades de cooperação com as forças
regulares.
b. Mão de obra
(1) Facilidade ou dificuldade para recrutamento de mão de obra,
especializada ou não, e as consequências para as atividades civis.
(2) Problemas decorrentes de mão de obra ociosa.
(3) Reflexos na mobilização.
c. Saúde pública
(1) Possível influência do estado sanitário da área nas forças em campanha.
(2) Possibilidades e limitações da área no apoio de saúde às operações
militares.
d. Situação cultural e religiosa – Perspectivas de uma atitude de cooperação
ou de hostilidade.
e. Moral social e opinião pública
(1) Ação das organizações de comunicação de massa e de líderes que
influem na formação da opinião pública e do moral social.
(2) Condições de reação da opinião pública aos esforços de guerra
solicitados.

5. ASPECTOS POLÍTICOS
a. Administração da área
(1) Eficiência da administração política da área.
(2) Eficiência dos órgãos de segurança pública e seu entrosamento com as
Forças Armadas: possibilidades, deficiências e capacidade de manter a ordem na
área.
(3) Tensões políticas que poderão ter reflexos nas operações militares.
b.Centros políticos
(1) Centros políticos importantes, também, prováveis objetivos.
(2) Problemas de refugiados.
(3) Aproveitamento de localidades, particularmente nas atividades logísticas.
c. Defesa nacional
(1) Antagonismos internos e externos existentes na área, que possam
comprometer a defesa nacional
(2) Movimentos existentes na área, influenciados, financiados ou auxiliados
por forças externas.

6. ASPECTOS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS
a. Grau de desenvolvimento técnico-científico da área.
b. Resultados de pesquisas e de novas realizações e experiências.
c. Aplicações concretas e em larga escala dos conhecimentos técnico-
científicos.
d. Impacto provocado pela C&T na sociedade e no ambiente.
e. Influências de técnicos nas decisões políticas.
f. Uso e grau de valorização da C&T por políticos, militares e outros.
g. Influências concretas da C&T na economia.
h. Políticas e intenções de aplicação de inovações tecnológicas na guerra.
i. Capacitação tecnológica para fins militares:
- eletrônica;
- informática;
- defesa química, biológica, radiológica e nuclear (QBRN);
- biossegurança; e
- cibernética.

7. ASPECTOS MILITARES
a. Organização das forças
(1) Eficiência da organização administrativa de cada força.
(2) Valor do equipamento disponível.
(3) Resultados práticos do serviço militar para atender às necessidades das
organizações militares.
b. Capacidade operacional
(1) Resultados e padrões alcançados na instrução, nas condições de
aprestamento e no adestramento das Grande Unidade (GU) e Unidade (U).
(2) Resultado obtido em operações recentes.
(3) Avaliação dos padrões de disciplina das Organizações Militares (OM),
bem como do espírito de corpo.
(4) Reflexos da localização, natureza e composição das forças, tendo em
vista as operações militares.
(5) Capacidade ofensiva e defensiva.
c. Capacidade logística
(1) Valor e possibilidades dos sistemas de apoio logístico existentes para o
apoio às operações militares.
(2) Valor e possibilidades das instalações de serviços existentes, para fins
militares, inclusive nas atividades de biossegurança.
d. Mobilização
(1) Valor do contingente humano para a mobilização e seus reflexos para
uma situação continuada de guerra.
(2) Avaliação das possibilidades da área quanto à mobilização de material,
industrial e de transportes.
(3) Avaliação do sistema e dos órgãos de mobilização existentes.

8. CONCLUSÕES
a. Condicionantes que a área impõe para a conduta de operações
militares.
b. Natureza das forças que poderão ser empregadas.
c. Valor aproximado das forças que poderão ser empregadas.
d. Regiões de importância estratégica.
e. Direções estratégicas existentes.
f. Áreas favoráveis à guerra irregular.
g. Possibilidades e vulnerabilidades existentes e suas implicações nas
operações militares.
h. Adequabilidade das GU existentes às operações que possam
desenvolver-se na área.
APÊNDICE 3 ao Anexo A

(Memento)

AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA DE ÁREA OPERACIONAL PARA DEFESA


TERRITORIAL (Def Ter) E GARANTIA DA LEI E DA ORDEM (GLO)

1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
a. Posição relativa
(1) Posição relativa aos centros vitais do nosso território e de outras áreas
extraterritoriais.
(2) Articulação com as linhas de circulação terrestres, marítimas e aéreas.
b. Dimensões e forma
(1) Facilidades e dificuldades que as dimensões e a forma da área podem
apresentar para a organização do teatro de operações.
(2) Sua influência na realização de ações ofensivas e defensivas e no
desdobramento das forças.
(3) Influência nas operações de guerra irregular.

2. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS
a. Relevo
(1) Facilidades e dificuldades de circulação e de condições de acesso à área.
(2) Influência na observação aérea e terrestre.
(3) Necessidade de emprego de tropa especializada.
(4) Possibilidade de emprego de forças blindadas, mecanizadas,
motorizadas, aeromóveis ou paraquedistas.
(5) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.
(6) Influência nas operações.
(7) Repercussões na escolha da manobra a realizar.
b. Hidrografia
(1) Os cursos de água como obstáculos à manobra.
(2) O significado das obras de arte e das regiões de passagem.
(3) Possível influência das chuvas no volume das águas.
(4) Existência de áreas passivas (pântanos, banhados, mangues, etc).
(5) Compartimentação da área, do ponto de vista hidrográfico.
(6) Reflexos para o emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas,
aeromóveis ou paraquedistas.
(7) Utilização dos rios como vias de transporte.
(8) Influência nas operações.
c. Solo
(1) Influência na transitabilidade, sobretudo em condições meteorológicas
desfavoráveis: facilidades e dificuldades de circulação na área.
(2) Reflexos nos trabalhos de construção, fortificações de campanha e
conservação de estradas.
(3) Influência no emprego de forças blindadas, mecanizadas,
motorizadas,aeromóveis ou paraquedistas.
(4) Recursos minerais que efetivamente poderão ser aproveitados em
trabalhos de construção, de conservação e de fortificação.
d. Clima e condições meteorológicas
(1) Efeitos sobre a observação aérea e terrestre.
(2) Influência na transitabilidade: reflexos nos trabalhos de construção e
conservação, particularmente de estradas.
(3) Influência na atuação e na aclimatação do combatente.
(4) Influência na manutenção e no funcionamento do material e na
conservação de suprimentos.
(5) Oportunidades favoráveis ao desencadeamento de operações previstas.
(6) Influência no emprego de forças paraquedistas e apoio aéreo.
(7) Possibilidades de ocorrência de calamidades públicas.
(8) Reflexos na navegação aérea, costeira, fluvial e lacustre.
e. Vegetação
(1) Possibilidade de cobertura, disfarces e observação.
(2) Permeabilidade.
(3) Obstáculos.
(4) Necessidade de emprego de tropas especializadas.
(5) Reflexos no emprego de forças blindadas, mecanizadas, motorizadas,
aeromóveis ou paraquedistas.
(6) Necessidade de suprimentos especiais.
(7) Facilidades e dificuldades para a realização de operações aeromóveis ou de
suprimento aéreo.
(8) Possibilidades de aproveitamento como fonte de suprimento de
subsistência e de material de construção.
(9) Regiões favoráveis ao homizio de forças irregulares.
f. Litoral
(1) Faixas litorâneas adequadas às operações de desembarque.
(2) Facilidades e dificuldades na realização de operações anfíbias.
3. ASPECTOS ECONÔMICOS
a. Recursos econômicos – Possibilidades e limitações econômicas da área
para o apoio às operações militares e para o atendimento à população civil quanto a:
(1) recursos alimentícios;
(2) materiais de construção;
(3) combustíveis; e
(4) outros artigos.
b. Centros Industriais
(1) Importância interna e externa.
(2) Possibilidade de subdivisão da área, sob o ponto de vista econômico,
caracterizando os centros industriais e as zonas mais importantes que serão
prováveis objetivos para quem pretende dominar a área.
c. Energia
(1) Grau de dependência externa dos principais centros geradores de
energia.
(2) Vulnerabilidades às ações inimigas.
(3) Reflexos na economia da área.
d. Transportes
(1) Facilidades e dificuldades de ligação dentro da área.
(2) Facilidades e dificuldades de ligação com outras áreas.
(3) Capacidade das vias de transporte, dos campos de pouso e dos portos,
para fins militares. Valor máximo aproximado das forças que poderão ser apoiadas
em cada eixo.
(4) Estrangulamentos nos sistemas de transporte.
(5) Locais de convergência e pontos críticos.
(6) Disponibilidade e adaptabilidade dos sistemas de transportes para o apoio
às operações militares.
e. Sistemas de Comunicações
(1) Facilidades e dificuldades de apoio às operações militares.
(2) Possibilidades de aproveitamento de instalações e equipamentos civis.

4. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS
a. População
(1) Existência de núcleos populacionais que possam interferir nas operações:
possibilidades de surtos insurrecionais e revolucionários.
(2) Adensamentos populacionais e seus reflexos no planejamento da
evacuação de civis.
(3) Reflexos das migrações.
(4) Reflexos dos contrastes socioeconômicos.
(5) Tendências políticas e possibilidades de cooperação com as forças
regulares.

b. Mão de obra
(1) Facilidade ou dificuldade para recrutamento de mão de obra,
especializada ou não, e as consequências para as atividades civis.
(2) Problemas decorrentes de mão de obra ociosa.
(3) Reflexos na mobilização.
c. Saúde pública
(1) Possível influência do estado sanitário da área nas forças em campanha.
(2) Possibilidades e limitações da área no apoio de saúde às operações
militares.
d. Situação cultural e religiosa – Perspectivas de uma atitude de cooperação
ou de hostilidade.
e. Moral social e opinião pública
(1) Ação das organizações de comunicação de massa e de líderes que
influem na formação da opinião pública e do moral social.
(2) Condições de reação da opinião pública aos esforços de guerra
solicitados.

5. ASPECTOS POLÍTICOS
a. Administração da área
(1) Eficiência da administração política da área.
(2) Eficiência dos órgãos de segurança pública e seu entrosamento com as
Forças Armadas: possibilidades, deficiências e capacidade de manter a ordem na
área.
(3) Tensões políticas que poderão ter reflexos nas operações militares.
b.Centros políticos
(1) Centros políticos importantes, também prováveis objetivos.
(2) Problemas de refugiados.
(3) Aproveitamento de localidades, particularmente nas atividades logísticas.
c. Defesa nacional
(1) Antagonismos internos e externos existentes na área, que possam
comprometer a defesa nacional.
(2) Movimentos existentes na área, influenciados, financiados ou auxiliados
por forças externas.
6. ASPECTOS CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS
a. Grau de desenvolvimento técnico-científico da área.
b. Resultados de pesquisas e de novas realizações e experiências.
c. Aplicações concretas e em larga escala dos conhecimentos técnico-
científicos.
d. Impacto provocado pela C&T na sociedade e no ambiente.
e. Influências de técnicos nas decisões políticas.
f. Uso e grau de valorização da C&T por políticos, militares e outros.
g. Influências concretas da C&T na economia.
h. Políticas e intenções de aplicação de inovações tecnológicas na guerra.
i. Capacitação tecnológica para fins militares:
- eletrônica;
- informática;
- defesa química, biológica, radiológica e nuclear (QBRN);
- biossegurança; e
- cibernética.

7. ASPECTOS MILITARES E POLICIAIS


a. Organização das forças legais – Estrutura e funcionamento das forças
legais (forças singulares, polícias estaduais, polícia federal, etc) existentes na área.
b. Capacidade operacional
(1) Capacidade operacional das GU e U das Forças Armadas para o
desempenho das ações de Def Ter e GLO.
(2) Eficiência dos órgãos de segurança pública e seu entrosamento com as
Forças Armadas, inclusive órgãos jurídicos.
(3) Possibilidades dos tiros-de-guerra para o desempenho de açõesde Def
Ter e GLO.
(4) Possibilidades e limitações dos diversos segmentos das forças legais.
(5) Influência da localização, natureza e composição das OM e Organizações
de Polícia Militar (OPM) em relação às operações de Def Ter e GLO.
(6) Influência de ONG nas operações.
c. Capacidade logística
(1) Apoio logístico às operações de GLO: peculiaridades e deficiências.
(2) Possibilidades de apoio das instalações de serviços existentes, no caso
de grave perturbação da ordem.
d. Mobilização
(1) Valor do contingente humano para a mobilização, no caso de insuficiência
de meios para a manutenção ou restabelecimento da ordem.
(2) Avaliação das possibilidades da área quanto à mobilização de material,
industrial e de transportes.
(3) Avaliação do sistema e dos órgãos de mobilização existentes.

8. CONCLUSÕES
a. Defesa territorial
(1) Pontos sensíveis relevantes.
(2) Adequabilidade dos meios disponíveis.
(3) Possibilidades de apoio logístico com os meios existentes.
(4) Viabilidade de mobilização dos recursos para atender às necessidades de
Def Ter.
b. Garantia da Lei e da Ordem
(1) Condições políticas, econômicas e sociais passíveis de gerar
insatisfações.
(2) Pontos e áreas sensíveis:
(a) identificação e localização geográfica dos pontos e áreas sensíveis; e
(b) pontos e áreas sensíveis de maior prioridade para a GLO.
(3) Áreas-problema:
(a) atuação de organizações/grupos oponentes: objetivos, principais ações,
peculiaridades e deficiências; e
(b) consequências para a garantia da lei e da ordem.
(4) Aspectos relevantes que favorecem ou dificultam as ações de natureza
policial e militar de GLO.
ANEXO B

MODELO PARA A CONDUÇÃO DE MANOBRA DE CRISE


(Nível Político-Estratégico)

1. MONITORAMENTO DE CENÁRIOS (núcleo do Gabinete de Crise)


Trata do acompanhamento que deve ser realizado, visando a conjuntura
internacional, regional e nacional, identificando as ameaças e oportunidades, bem
como levando em consideração a nossa situação, vulnerabilidades e possibilidades
diante do poder nacional. O estudo e desenvolvimento de cenários prospectivos,
com a análise de fatos portadores de futuro e identificação daqueles que têm
potencial e que podem gerar crises, é de fundamental importância.

2. IDENTIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO CONFLITIVA (Gabinete de Crise)


Esse é o momento em que se reconhece uma situação de crise. Na verdade, não
existe uma linha definidora para se estabelecer o início de uma crise. Ela emerge
diante das circunstâncias. É necessário identificar na cena atual, com a percepção
inicial dos fatos, as PRESSÕES e PRESSÕES DOMINANTES (aquelas que venham
a ameaçar os Objetivos Fundamentais) que incidam no Estado. Visa caracterizar a
situação de crise e o(s) DESAFIO(s). Deve-se visualizar as TENDÊNCIAS do
conflito, os possíveis desdobramentos e os FATORES DE RISCO.
Esta fase, em que se busca a caracterização do quadro de crise, com sua definição
e a catalogação das ameaças presentes, deve ser conduzida por um GABINETE de
CRISE, estabelecido com um efetivo mínimo permanente em função do tipo e da
natureza do desafio a enfrentar. A presença de especialistas da área jurídica, de
comunicação, de inteligência e da área central da crise é condicionante importante
para o êxito do processo.

3. CARACTERIZAÇÃO DOS ATORES - DIAGRAMA DE RELAÇÕES


É necessário evidenciar quem, com relevância, está envolvido na situação de crise.
São os ATORES (principal e secundários) que devem ser identificados com seus
respectivos INTERESSES (ostensivos e deduzidos) e VALOR, com base nos
precedentes históricos e nos fatos da cena atual.
Nesta análise, inclui-se as considerações a respeito da CULTURA ESTRATÉGICA,
representada pelo(a)(s):
− FUNDAMENTOS do ator (ou seu pensamento político-estratégico);
− Identificação do valor da VONTADE NACIONAL (adesão e união inconteste
do povo);
− Perfil da PERSONALIDADE DO LÍDER (determinação; aversão ao risco;
comunicabilidade; ideologia; experiência; conhecimento; liderança efetiva;
outras);
− LIBERDADE DE AÇÃO (liberdade para atuar, não obstante restrições
existentes).
Nesta fase, procura-se concluir sobre a situação atual do PODER NACIONAL de
cada ator, na sua expressão POLÍTICA (conjuntura política, poder do estado, forças
políticas presentes, oposição, política externa, corpo diplomático, ligações e
influências política, outros); expressão ECONÔMICA (base econômica capaz de
sustentar demandas objetivas do interesse em jogo); e expressão MILITAR
(capacidades no setor de DEFESA).
Ainda nesta fase, é importante concluir sobre a percepção das ligações entre cada
ator, definindo as questões da competição; cooperação; influenciação; e,
possibilidade de alianças. Pode ser representada por um DIAGRAMA DE
RELAÇÕES (já exemplificado no Capítulo III deste manual). Contribui, ainda para
aprofundar o estudo da percepção sobre oponentes, suas possibilidades e a análise
comparativa com a nossa situação.

4. CONCEPÇÃO POLÍTICA E ESTRATÉGICA PARA A MANOBRA DE CRISE


Define, na concepção política, o(s) OBJETIVO(S) POLÍTICO(S) (principal e
secundários) adequado(s), visualizado(s) com base na análise das capacidades e na
nossa situação (poder nacional). Estabelece LIMITES mínimos e máximos para o
caso da utilização do procedimento da NEGOCIAÇÃO. Para cada ator, estabelece
qual a NORMA DE COMPORTAMENTO POLÍTICO (escalar, estabilizar ou
distender) deve ser estabelecida.
Na concepção estratégica, é estudado o chamado “jogo da guerra”, relacionando os
OBJETIVOS visualizados com os FATORES DE RISCOS, CENTRO DE
GRAVIDADE e a ANÁLISE DAS REAÇÕES PROVÁVEIS. Leva-se em consideração
a questão do TEMPO DISPONÍVEL, do ESPAÇO e da LIBERDADE DE AÇÃO.
Assim, ajustando o QUE? e o COMO?, são conformadas, num processo de
utilização do pensamento estratégico, as AÇÕES ESTRATÉGICAS, levando em
conta a disponibilidade e a possível mobilização do poder nacional, enquadrando-as
segundo as formas de resolução de conflitos: NEGOCIAÇÃO, COMPULSÃO e
VIOLÊNCIA DECLARADA, com suas respectivas OPÇÕES.

5. RESOLUÇÃO
Finalmente, a RESOLUÇÃO define o ESTADO FINAL DESEJADO, as REGRAS DE
COMPORTAMENTO no nível político-estratégico, para quando for o caso, a
EXPEDIÇÃO DE DIRETRIZES e o que deve ser inicialmente declarado à MÍDIA.

MEMENTO

PLANEJAMENTO POLÍTICO-ESTRATÉGICO PARA UMA SITUAÇÃO DE CRISE

1 - MONITORAMENTO DE CENÁRIOS (núcleo do Gab Crise)


- Avaliação da conjuntura internacional (ambiente externo: ameaças – oportunidades -
parcerias)
- Acompanhamento da conjuntura nacional(nossa situação: pontos fortes – pontos
fracos)
- Formulação de cenários
(Acompanhamento de fatores potenciais que podem gerar crises )

2 - IDENTIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO CONFLITIVA (Gab Crise)


Cena atual - Pressões: listar as pressões de toda ordem
- Pressões Dominantes: ressaltar pressões que incidam sobre Obj
Fundamental
- Desafio (s): identificar o(s) Desafio(s) que caracterizem crise
Tendências- Percepção inicial sobre o conflito e seus desdobramentos
- Fatores de “risco avaliado”

Conclusão - Caracterização do quadro de crise e ameaças presentes

3 - CARACTERIZAÇÃO DOS ATORES E DIAGRAMA DE RELAÇÕES


Atores principais e Secundários
Interesses: Ostensivos e Deduzidos – Fator Histórico e Valor
Cultura Estratégica: Fundamentos – Vontade Nacional – Personalidade do Líder–
Liberdade de Ação
Poder Nacional- Fatores da Política
- Fatores da Economia
- Defesa

Conclusão - Diagrama de Relação: Competição – Cooperação – Influenciação – Psb


Alianças
- Percepção sobre oponentes e suas possibilidades
- Análise comparativa com e nossa situação

4 - CONCEPÇÃO POLÍTICA E ESTRATÉGICA PARA A MANOBRA DE CRISE


Política - Objetivo Político visualizado – Principal e Secundários
- Estabelecimento de limites para Negociação
- Normas para cada ator: Escalar, Estabilizar ou Distender

Estratégica- Relação entre Objetivos x Riscos


- Análise do Centro de Gravidade e as Reações Prováveis
- Análise do Tempo, do Espaço e da Liberdade de Ação
- Ações Estratégicas
- Definição dos Procedimentos para a Solução do Conflito
- Caracterização das Opções

5 - RESOLUÇÃO
Resolução - Estado Final Desejado
- Regras de Comportamento no nível Político-Estratégico
- Expedição de Diretrizes
- Declaração à Mídia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ARON, Raymond. Peace and war: a theory of international relations. New York:
Praeger, 1966.
2. BEAUFRE, André. Introdução à Estratégia. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1998.
3. _______________. Dissuasão e estratégia. [s.l.], 1964.
4. _______________.Estratégia de ação. Rio de Janeiro: Ed. Bloch, 1966.
5. BRASIL. Exército. Instruções provisórias de planejamento estratégico
organizacional. Brasília, DF, [2008].
6. _______________. Exército. Instruções gerais para as publicações padronizadas
do Exército: EB10-IG-01.002. Brasília, DF, [2011].
7. _______________. Exército. Instruções gerais para a organização e
funcionamento do sistema de Doutrina Militar Terrestre: EB10-IG-01.005.
Brasília, DF, [2017].
8. _______________. Exército. Instruções reguladoras da sistemática de
planejamento da Doutrina Militar Terrestre: EB20-IR-10.001. Brasília, DF,
[2015].
9. _______________. Exército. Glossário de termos e expressões para uso no
Exército: EB20-MF-03.109. Brasília, DF, [2018
10. _______________. Exército. Doutrina Militar Terrestre: EB20-MF-10.102.
Brasília, DF, [2014]
11. _______________. Exército. Metodologia do Sistema de Planejamento Estratégico
do Exército. Brasília, DF, 2007.
12. _______________. Exército. Operações: EB70-MC-10.223. Brasília, DF, 2017.
13. _______________. Ministério da Defesa. Glossário das Forças Armadas: MD35-G-
01. Brasília, DF, 2015.
14. _______________. Ministério da Defesa. Operações Interagências: MD33-M-12.
Brasília, DF, 2012.
15. _______________. Senado Federal. Constituição da República Federativa. Brasília:
DF, 1988.
16. _______________. Congresso Nacional. Normas Gerais para a Organização, o
preparo e o emprego das Forças Armadas: LC 97/99. Brasília, DF, 1999.
17. _______________. Alterações na LC 97/99 (LC 117 de 02 Set.). Brasília, 2004.
18. _______________. Escola Superior de Guerra. Fundamentos do Poder Nacional. Rio de
Janeiro, 2018.
19. _______________. Escola Superior de Guerra. Metodologia do Planejamento Estratégico.
Rio de Janeiro, 2018.
20. _______________. Câmara dos Deputados. Política de Defesa para o Século XXI.
Brasília, 2003. (Organizado por Aldo Rebelo e Luis Fernandes).
21. _______________. Ministério da Defesa. Política Nacional de Defesa. Brasília,
2016.
22. _______________. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília,
2016.
23. _______________. Ministério da Defesa. Política Militar de Defesa:(MD 51-P-02).
Brasília, 2005.(Confidencial).
24. _______________. Ministério da Defesa. Estratégia Militar de Defesa: (MD 51-M-
03). Brasília, 2006.(Confidencial).
25. _______________. Ministério da Defesa. Sistemática de Planejamento Estratégico
Militar: (MD 51- M-01). Brasília, 2005.
26. _______________. Ministério da Defesa. Doutrina Militar de Defesa: (MD 51-M-
04). Brasília, 2007.
27. _______________. Congresso Nacional. Lei n. 8.183, de 11 Abr (Dispõe sobre
organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional). Brasília, DF,
1991.
28. _______________. Decreto n. 4.801, de 06 Ago (Cria a CREDEN do Conselho de
Governo). Brasília, 2003.
29. _______________. Decreto n. 3.897, de 24 Ago (Fixa as diretrizes para o emprego
das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem). Brasília, DF, 2001.
30. _______________. Ministério da Defesa. Portaria Normativa n. 452/EMD, de 27 Out
(Aprova e manda por em execução, em caráter experimental, a Estrutura Militar
de Defesa- MD 35-D-01). Brasília, 2005.
31. _______________. Ministério da Defesa. Pensamento Brasileiro sobre Defesa e
Segurança. Organizado por J. R. Almeida Pinto. A. J. Ramalho da Rocha, e R. Doring
Pinho da Silva. Brasília, 4 v. , 2004.
32. CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1979.
33. COUTAU-BÉGARIE, Hervé. Tratado de Estratégia. Tradução de Brigitte Bentolila de
Assis Manso. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, v. 1, 2006.
34. HOWARD, Michael, PARET, Peter. On War. Princeton University Press, 1986.
35. KEEGAN, John. A History of warfare. New York: Vintage Books, 1993.
36. KENNEDY, Paul M. Grand Strategy in war and peace: toward a Broaden
Definition.1991
37. LIDDELL HART, B. H. Strategy. 2.nd ed. New York: Meridian, 1991.
38. MACHIAVELLI, Niccolo. O Príncipe. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1972.
39. MARTÍNEZ, Carlos J. M. Estrategia: su teoria, planeamiento y realidad en la
Argentina. Buenos Aires: Centro FICCH, 2004.
40. ONU. Carta da Nações Unidas, de 26 Jun 1945.
41. PARET, Peter. Construtores da Estratégia Moderna. 2 v., Rio de Janeiro: Bibliex,
2001.
42. PROENÇA JR, Domício. DINIZ, Eugenio. RAZA, Salvador Ghelfi. Guia de Estudos
de Estratégia. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1999.
43. SCHWARTZ, Peter. A Arte da Previsão. São Paulo: Ed. Página Aberta Ltda, 1995.
44. TZU, Sun. A Arte da Guerra.15. ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.

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