Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Candidato: O Supervisor:
_______________________________ ______________________________
Eu, Meralito Alfredo Mazivila, com identidade número 71180023, aluna do programa
académico de Licenciatura em Direito, do Instituto Superior de Ciências e Educação a
Distância, declaro que o conteúdo do trabalho intitulado: A Eficácia dos Direitos Humanos
nas Penitenciarias em Moçambique, é reflexo de meu trabalho pessoal e manifesto que perante
qualquer notificação de plágio, cópia ou falta em relação à fonte original, sou directamente a
responsável legal, económica e administrativamente, isentando Orientador, a Universidade e as
instituições que colaboraram com o desenvolvimento deste trabalho, assumindo as
consequências derivadas de tais práticas.
Assinatura:
vii
RESUMO
A pesquisa subordina-se ao tema: a eficácia dos direitos humanos nas penitenciárias em Moçambique, a
qual teve como objectivo geral, discutir sobre a eficácia dos direitos humanos nas Penitenciárias em
Moçambique e como objectivos específicos, colectar informações relativas a eficácia dos direitos
humanos na Penitenciária Distrital de Inharrime; trazer uma abordagem sobre a eficácia dos direitos
humanos nos Estabelecimentos Penitenciários e identificar possíveis saídas para a eficácia dos direitos
humanos nos Estabelecimentos Penitenciários em Moçambique. Os direitos humanos são situações
jurídicas de bastante complexidade, tanto ao nível conceitual como ao nível prático. Pode dizer-se que os
direitos humanos (e na sua raiz, os direitos fundamentais) são aqueles direitos e liberdades que as pessoas
detêm pelo simples facto de serem dotadas de carácter humano, possuindo uma natureza essencial para
garantir a existência do indivíduo. A civilização humana, desde sua primícia, até o período actual, passou
por várias fases, cada uma com suas peculiaridades, com seus pontos positivos e negativos, de modo
que as evoluções científicas, tecnológicas, políticas, económicas, jurídicas e sociais são muitas vezes
lentas e graduais. A Constituição da República de Moçambique vigente consagra e garante os direitos
fundamentais universalmente reconhecidos no mundo moderno. Trata-se de uma das melhores e mais
progressivas Constituições em termos de promoção, defesa e garantia dos direitos humanos. Um dos
objectivos fundamentais do Estado moçambicano (que já vinha reconhecido desde a Constituição de
1990) é a “defesa e a promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante a Lei” [(alínea
e) do artigo 11 da CRM)]. Além disso, a República de Moçambique aceita, observa e aplica os princípios
da Carta da Organização das Nações Unidas e da Carta da União Africana (nº 2 do art. 8 da CRM). Para
tanto, pelo princípio de universalidade e igualdade, o artigo 35 da CRM estabelece que “todos os cidadãos
são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres,
independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução,
posição social dos pais, profissão ou opção política.”
vii
ABSTRACT
The research is subordinated to the theme: the effectiveness of human rights in prisons in Mozambique,
which had as a general objective to discuss the effectiveness of human rights in prisons in Mozambique
and as specific objectives, to collect information on the effectiveness of human rights in the Inharrime
District Penitentiary; bring an approach to the effectiveness of human rights in Penitentiary
Establishments and identify possible ways out for the effectiveness of human rights in Penitentiary
Establishments in Mozambique. Human rights are very complex legal situations, both conceptually and
practically. It can be said that human rights (and at their root, fundamental rights) are those rights and
freedoms that people have for the simple fact that they are endowed with a human character, having an
essential nature to guarantee the existence of the individual. Human civilization, from its first beginning
to the present period, has gone through several phases, each with its peculiarities, with its positive and
negative points, so that scientific, technological, political, economic, legal and social evolutions are
often slow and gradual. The Constitution of the Republic of Mozambique in force enshrines and
guarantees the fundamental rights universally recognized in the modern world. It is one of the best and
most progressive Constitutions in terms of promoting, defending and guaranteeing human rights. One of
the fundamental objectives of the Mozambican State (which had been recognized since the Constitution
of 1990) is the “defence and promotion of human rights and equality of citizens before the Law”
[(Article 11(e) of the CRM)]. Furthermore, the Republic of Mozambique accepts, observes and applies
the principles of the Charter of the United Nations and the Charter of the African Union (paragraph 2 of
art. 8 of the CRM). Therefore, by the principle of universality and equality, article 35 of the CRM
establishes that "all citizens are equal before the law, enjoy the same rights and are subject to the same
duties, regardless of color, race, sex, ethnic origin, place of birth, religion, education level, parents'
social position, profession or political choice.”
vii
AGRADECIMENTOS
Aos docentes do Instituto Superior de Ciência e Educação a Distância, em especial aos do curso
de Direito, pelo empenho demonstrado durante a caminhada, pelo conhecimento transmitido e
pelo incentivo para o alcance dos objectivos almejados.
Agradeço aos meus familiares pelo apoio incondicional, pela força, por estar sempre presente.
E por fim a todos aqueles que, directa ou indirectamente contribuíram para a realização do
mesmo.
vii
DEDICATÓRIA
A dedicatória vai para seus familiares e a todos aqueles que acreditam no saber.
Em especial a sua esposa Florência Julião Chauque, a sua Alegria Gonsalves Machava e ao seu
irmão Arnaldo Alfredo Mazivila.
Aos seus colegas e amigos, que estiveram sempre presentes e em conjunto compartilharam
conhecimentos e experiências de vida.
vii
ABREVIATURAS E SIGLAS
Art. - Artigo
CC - Código Civil
CP - Código Penal
CPC – Código do Processo Civil
CRC - Código do Registo Civil
CRM – Constituição da República de Moçambique
D. L – Decreto-Lei
DH – Direitos Humanos
DUDH – Declaração Universal dos Direitos Humanos
Ed. – Edição
EP – Estabelecimento Penitenciário
Nº - Número
P. – Página
SERNAP – Serviço Nacional Penitenciário
LEP – Lei de Execução Penal
vii
Índice
Este cenário pode-se afigurar uniforme em todo país, dado que em termos financeiros tem
pesado aos cofres do Estado para garantir as condições mínimas de habitabilidade aos
prisioneiros.
A partir da segunda metade do século XVI, com ensina Bitencourt, houve “grande
transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na criação e construção
de prisões organizadas para a correcção dos apenados” Bitencourt, (2001, p. 16).
Ocorre que a imposição dos ostentosos suplícios e mesmo a aplicação da pena capital
mostravam-se incapazes de conter o fenómeno sócio-criminal que se alastrava assustadoramente,
fazendo surgir numerosas vozes, que bradaram contra o horror a que eram submetidos os detidos
e condenados.
E dentre essas vozes reformistas a que mais se destacou, relativamente ao problema das formas
de punição, é a de Beccaria (1997).
11
Grande foi a sua revolta contra a crueldade das penas, contra a barbárie dos suplícios. Enalteceu
os princípios da dignidade da pessoa humana e da liberdade como valores supremos.
No entanto, quando se analisa a grande maioria dos estabelecimentos prisionais pátrios, conclui-
se que a essência do pensamento de Beccaria (1997), apesar de ter sido reproduzida na
Constituição na Republica de Moçambique, na Lei de Execuções Penais (Lei n° 26/2019, de 26
de Dezembro) e na normativa internacional, na realidade não passa de mera folha de papel. E
poucos parecem se importar com isso.
Ora, o mundo do cárcere tende, naturalmente, a cada vez mais se distanciar da sociedade civil,
na medida em que o sistema tenciona segregar indivíduos do meio social, quando se está diante
da prática de acto considerado crime. Beccaria (1997).
Ocorre que esse distanciamento carrega em si, potencialmente, a semente do descaso: uma vez
encarcerados, passam os apenados a serem esquecidos. Parece não interessar à sociedade como
eles (sobre)vivem; se há respeito à direitos humana e aos ditames da CRM, da normativa
internacional que proíbe as penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, bem
como à Lei de Execuções Penais pátria (LEP).
Em verdade, quando se está diante de insurreições carcerárias como as que por vezes a
mídia divulga, mais se procura insuflar o discurso de enrijecimento da repressão penal, do
que indagar as condições humanas dos presídios, à guisa de melhor conhecê-los, para assim
detectar as causas principais dessa problemática, na busca incessante por novos rumos a serem
trilhados, com supedâneo na dignidade da pessoa humana e na busca da reinserção social do
apenado, a fim de efectivamente prepará-lo ao retorno ao convívio social.
Quanto a estrutura, o trabalho está composto por cinco (05) capítulos nomeadamente:
Capítulo I: aspectos introdutórios;
Capítulo II: fundamentação teórica;
Capítulo III: metodologia;
Capítulo IV: análise e interpretação de resultados; e
Capítulo V: conclusões e recomendações.
12
CAPÍTULO I
1.1. Contextualização
O mundo evoluiu em sua forma de pensar, não sendo diferente, em geral, quando se reflecte
sobre a forma do cumprimento das sanções penais.
Com efeito, ensina o mestre Zaffaroni (1999), que tem predominado entre os doutrinadores a
seguinte progressão histórica, relativamente às penas, de forma gradual: nos primórdios,
imperava a vingança privada, a chamada “justiça pelas próprias mãos”, triunfo da barbárie e dos
suplícios impostos ao descumpridor das leis; seguiu-se a fase da vingança pública, quando a
pena passa ao poder do Estado, sendo que no Direito Medieval o cumprimento das penas não
fugiu da ideia de maus-tratos, até evoluir-se para a ideia de humanização e dignidade no
cumprimento das penas, com o advento do século das luzes.
O Sistema Prisional moçambicano remonta do tempo colonial em que a política vigente naquele
tempo era separatista, servindo de forma diferente a população negra da branca.
Para tanto, “determinadas cadeias eram para prisioneiros de raça branca enquanto muitas vezes a
população local enfrentava penas traduzidas em trabalho forçado Xibalo nas plantações e obras
pertencentes aos portugueses.
Com a introdução do SNAPRI, ora revogado pelo Serviço Nacional Penitenciário, pela Lei no
3/2013172 de 16 de Janeiro, norma revogatória do Decreto no 7/2006, de 17 de Maio, procedeu-
se à unificação do Sistema, passando à tutela do Ministério da Justiça. Por certo, a situação
crítica vivida pelos cidadãos-presos somente poderá ser resolvida quando o verdadeiro Estado
Democrático de Direito deixar de ser apenas uma previsão constitucional, ou seja, quando
passar a garantir o cumprimento dos princípios para todos os brasileiros, principalmente em
relação à dignidade humana, e não simplesmente exercer a violência legítima, oficializada.
13
1.2. Problematização
Os direitos humanos são situações jurídicas de bastante complexidade, tanto ao nível conceitual
como ao nível prático.
Pode dizer-se que os direitos humanos (e na sua raiz, os direitos fundamentais) são aqueles
direitos e liberdades que as pessoas detêm pelo simples facto de serem dotadas de carácter
humano, possuindo uma natureza essencial para garantir a existência do indivíduo.
Para além disso, considera-se que tanto os direitos fundamentais como os direitos humanos estão
intimamente ligados a uma visão de igualdade e de liberdade dos indivíduos.
A importância de Beccaria (1997) é indiscutível. Ainda que não se possa atribuir total
originalidade a suas ideias, inspiradas no contratualismo e no utilitarismo, teve Beccaria o
mérito de sistematizar, de forma acessível, todo um sistema diretamente contrário aos
costumes e tradições de sua época, que ainda vivenciava a barbárie punitiva.
O mais relevante na obra de Beccaria (1997) é o discurso sobre a finalidade das penas,
sendo considerado um dos grandes precursores das teorias relativas da pena, mais
especificamente da prevenção. Defendeu que: “O fim, pois, é apenas impedir que o réu cause
novos danos aos seus concidadãos e dissuadir os outros de fazer o mesmo” Beccaria (1997,
p. 62).
E ainda ensinou em sua obra clássica: “É, pois, necessário escolher penas e modos de infligi-las
que, guardadas as devidas proporções, causem a impressão mais eficaz e duradoura nos espíritos
dos homens, e a menos penosa no corpo do réu” Beccaria, (1997, p. 62).
Pois bem. Foi inspirada nessas ideias humanistas, contrárias ao rigorismo das penas corporais,
que surgiu a instituição “prisão-pena”, a qual aparece como verdadeiro “acesso à humanidade da
justiça penal, no dizer de Foucault, (1987), ao menos era esse o seu propósito aparente.
Foucault, (1987).
Os direitos humanos são muitas vezes definidos pela sua finalidade: proteger poderes e esferas
de liberdade das pessoas, aplicáveis primordialmente na relação pessoa Estado (dimensão
negativo-defensiva).
Muitas penitenciarias albergam mais de três vezes o número de presos para os quais foram
construídas. Adultos e menores são mantidos juntos e os presos são mantidos para além das suas
sentenças. Muitos detidos passam mais tempo em prisão preventiva do que a duração da sentença
que iriam eventualmente receber. As penitenciárias não cumprem com padrões internacionais.
Este dispositivo constitucional assume assim uma relevância notável, pois naturalmente
condiciona o restante texto constitucional bem como o Estado e Cidadãos nas suas relações
mútuas no respeito da dignidade da pessoa humana.
15
1.3. Objectivos
Objectivo Geral
Discutir sobre a eficácia dos direitos humanos nas Penitenciárias em Moçambique.
1.5. Justificativa
Ao falar-se da eficácia dos direitos humanos nas penitenciarias em Moçambique pretende-se
aqui fazer referência as liberdades básicas que devem gozar todos os seres humanos sem
distinção de cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, estado civil do país, situação
económica, posição social, julgamento moral, filiação partidária ou religiosa ou ideológica na
percepção dos direitos humanos.
Direitos Humanos inerentes a um ser humano enquanto vivo, porque através deste é possível
conquistarem outros direitos como a liberdade, segurança.
Do ponto de vista de Luís Roberto Barroso (2003), a dignidade humana representa superar a
intolerância, a discriminação, a exclusão social, a violência, a incapacidade de aceitar o
diferente.
16
Tem relação com a liberdade e valores do espírito e com as condições materiais de subsistê ncia
da pessoa.
Isso se reflecte em todas as áreas sociais, e com grande ênfase no âmbito do Direito Penal, pois
o poder estatal passou a utilizar da pena e das prisões como principal forma de controle e
manutenção da ordem, esquecendo-se que seu objecto e limite de actuação estão estabelecidos
e vinculados aos direitos fundamentais.
Partindo-se do pressuposto de que o tratamento desumano foi abolido pela Lei Fundamental,
questiona-se: isso acontece na prática? O processo penal, por si só, já não é uma tortura
psicológica para o réu, o qual se vê julgado não apenas por um juiz, que se pretende imparcial,
mas por toda uma sociedade que ainda tem anseios por justiça a qualquer custo?
Para tanto, com o advento das sanções criminais diferentes da pena privativa de liberdade,
aplicadas em sentença criminal condenatória, bem como as condições da suspensão do processo
e da suspensão da pena, o conceito de prisão passou a assumir outros contornos no mundo e
particularmente em Moçambique, sendo que a aplicação de penas alternativas à prisão é tida
como um facto positivo quer no âmbito sociológico e/ou jurídico, que é a nossa linha de
orientação.
17
CAPITULO II
2. Fundamentação Teórica
2.1. Conceptualização
2.1.1. Eficácia
Eficácia é a qualidade daquilo que cumpre com as metas planejadas, ou seja, uma característica
pertencente as pessoas que alcançam os resultados esperados.
A eficácia é considerada uma qualidade positiva no comportamento de alguém, principalmente
de profissionais que estão ligados aos cargos de gerência ou chefia.
Para ser eficaz, o profissional tem que reunir uma série de outras qualidades importantes, como a
organização, o planeamento, a proatividade, produtividade e a liderança.
Uma actividade desempenhada com eficácia é sinónimo de sucesso, pois o objectivo pretendido
foi cumprido conforme o pretendido, ou mesmo superando as expectativas.
Exemplo: “O projecto gráfico foi concluído com muita eficácia”.
Para Flávia Piovesan, dignidade da pessoa humana seria um valor ético, verdadeira exigência de
justiça. Piovesan, (2006).
Já Ingo Wolfgang Sarlet (2010), fundamentado em bases filosóficas, traz um conceito próprio a
respeito de direitos humano, embora reconheça que não seja um conceito estanque no tempo: (...)
temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em
cada ser humano, que o faz merecer do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da
comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como
venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de
propiciar e promover sua participação activa e co-responsável nos destinos da própria existência
18
e da vida em comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais
seres que integram a rede da vida. Sarlet, (2010, p. 37-39).
O conceito de Ingo traz postulados fundamentais, como a ideia de que o conceito de direitos
humano é inerente à natureza do homem, ou seja, o valor próprio que identifica o ser humano
como tal. Mas seria um princípio universal?
Grande é a polémica a esse respeito. Embora possam existir variantes facetas a respeito da
concepção de direitos humano nas diversas culturas, entendemos que o núcleo essencial do ser
humano a ser preservado é o mesmo, em qualquer lugar, a partir do que entende-se por de
direitos humanos.
Neste contexto cabe avaliar que de acordo com Oliveira (2010) existem três gerações que em um
estudo inicial apresentam uma conquista pela humanidade, sendo em três espécies de direitos
fundamentais.
Consubstanciadas nas ideias divulgadas nomeadamente na Revolução Francesa, os quais se
epitomam no lema “liberdade, igualdade e fraternidade”. Na qual cada personificação
representaria uma geração de direitos que fora conquistada, posto que cada uma com
características próprias.
No que pertine a Revolução francesa de 1789, pode-se destacar que foi um dos principais marcos
para a evolução dos direitos humanos, cabendo salientar que fundamentada nas ideias divulgadas
nomeadamente na referida Revolução Francesa resultaram na criação de um histórico
documento denominando Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Sendo garantido
sobretudo que todos os cidadãos franceses deveriam ter direito à liberdade, propriedade e
resistência à opressão.
19
Cabe destacar a respeito da evolução histórica dos direitos humanos que tais fases mencionadas
por Karel Vasac, ao longo dos séculos, auxiliaram a sedimentar o conceito e o regime jurídico
dos direitos essenciais.
Em se tratando dos direitos de primeira geração, Bobbio, (2010), aduz que neste primeiro
momento, destaca-se a comunicação dos direitos de liberdade, ressaltando que neste primeiro
processo ocorreram as chamadas liberdades negativas, onde ocorre uma limitação do poder
público, um não fazer do Estado, uma prestação negativa em relação ao indivíduo.
Desta feita, pode sintetizar a passagem do Estado absoluto para o Estado de direito, onde o
indivíduo passa a ter não somente os direitos privados, mas também adquire direitos públicos.
Nessa premissa a inicial geração dos direitos humanos revigorou-se na fase de resistência aos
poderes dos monarcas absolutistas, em decorrência da luta da burguesia pela protecção de
direitos individuais essenciais como a vida, a liberdade e a propriedade.
Cumpre ressaltar que nessa logicidade os direitos do homem de primeira geração representam os
direitos civis e políticos. Conforme Celso Lafer, (1988, p. 126), "São vistos como direitos
inerentes ao indivíduo e tidos como direitos naturais, uma vez que precedem o contrato
social". Esses direitos configuram a libertação do homem contra o poder absoluto do Estado.
Dentre outros autores, diante da evolução histórica dos direitos fundamentais em gerações vale
ressaltar que para Pedro Lenza (2010) em relação aos direitos de 1ª geração, tais direitos são os
que mencionam-se às liberdades públicas e aos direitos políticos, portanto, são os direitos civis e
políticos a compreenderem o valor de liberdade.
20
Ato contínuo, a segunda dimensão é formada pelos direitos sociais, culturais, económicos,
ramificações do direito à igualdade, impulsionados pela Revolução Industrial europeia. Sob a
perspectiva de Bobbio (2010) deu-se a transição do indivíduo, ao qual eram atribuídos direitos
naturais e morais para indivíduos distintos da pessoa, se tratando de toda a humanidade em seu
conjunto.
Pelas palavras de Francisco Luciano Lima Rodrigues (2007), este contempla a segunda geração
dos direitos humanos como sendo o agir do Estado e aborda que nesta geração de direitos
passou-se a exigir uma efectiva actuação do Estado afim de asseverar o bem estar social,
diferentemente da actuação Estatal da primeira geração, nesta buscava-se o comportamento do
Estado no sentido de que fosse realizada a justiça social.
Cabe ressaltar que na segunda geração os direitos sociais dependem de prestações positivas do
Estado para a satisfação das necessidades sociais, económicas e culturais do cidadão que no caso
seriam as obrigações de fazer, logo na segunda geração o Estado deve agir.
Trata-se agora de liberdade por intermédio do Estado, refere-se ao agir do Estado para com os
indivíduos. A terceira geração não possui uma identificação clara dos agentes operadores, pois
emergiu dos apelos de uma sociedade massificada.
O entendimento de Bobbio (2010) ocorre à passagem do indivíduo de uma forma genérica para
um indivíduo de forma específica, com base em distintos parâmetros que o distingue, tais como o
sexo, a idade, condições físicas, entre outras características.
De acordo com Celso Lafer, (1988, p. 131), os direitos humanos de terceira geração são aqueles
direitos de titularidade colectiva: “o titular destes direitos deixa de ser a pessoa singular,
passando a sujeitos diferentes do indivíduo, ou seja, os grupos humanos como a família, o povo,
a nação, colectividades regionais ou étnicas e a própria humanidade”.
Estes são os direitos relacionados a sociedade actual, marcada por extensos conflitos de massa,
envolvendo o direito ambiental e também o direito do consumidor, onde esses direitos difusos
muitas das vezes sofrem violações.
Pode-se observar que a terceira geração ocorre com o fim da segunda guerra mundial e ligada
aos valores de fraternidade ou solidariedade.
21
São os relativos ao avanço, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bem como ao
direito de propriedade sobre o património comum da humanidade e ao direito de comunicação.
Têm primeiro por destinatário o género humano mesmo, num momento expressivo de sua
afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta.
Diante dessa concepção pode-se então falar-se sobre os direitos de protecção, preservação e
recuperação do meio ambiente, utilizando os recursos naturais de forma sustentável.
Nessa premissa em relação a 4ª geração de direitos fundamentais onde alguns autores abordam
sua existência. Pedro Lenza (2009), baseado em Norberto Bobbio diz ser essa geração decorrente
das evoluções no campo da engenharia genética, ao colocarem em risco a própria existência
humana, através da influência do património genético.
Bem como para Bonavides (2006), defende que é a geração do direito à democracia (directa), o
direito à informação e o direito ao pluralismo.
22
Praticamente no mesmo sentido que Norberto Bobbio, a doutrinadora Flávia Martins André da
Silva (2011) em consonância a quarta geração ou dimensão como aborda, aduz que são direitos
de responsabilidade, que assomaram com o desenvolvimento tecnológico, tais como a promoção
e manutenção da paz, à democracia, entre outros.
Estes direitos ao conciliarem democracia e pluralismo, permitem que se fale do advento de uma
globalização democrática dos direitos fundamentais, uma personificação onde o homem seja o
centro, a corrente de divergência de todos os interesses do sistema.
Sob outro prisma, mas na mesma abordagem de conteúdo e tema deve-se compreender os
direitos humanos e sua distinção entre direitos do homem e direitos fundamentais.
Pois bem, de acordo Comparato: "todos os seres humanos tem direito a ser igualmente
respeitados, pelo simples fato de sua humanidade", dessa maneira, os direitos inerentes do
homem são aqueles que nascem com o indivíduo pelo simples fato de sua humanidade, destaca-
se entre esses direitos, a liberdade e igualdade em dignidade e direitos (2015, p. 24).
Leciona Robert Alexy (2008) que os direitos fundamentais são aqueles baseados em regras e
princípios, pois sempre que é criada uma disposição de direito fundamental que garante um
direito subjectivo, a esse direito é atribuído pelo menos um princípio de tal natureza.
Aborda ainda que os princípios tem relevância sobretudo para a questão constitucional da
hierarquia interna constitucional, são os direitos do homem jurídico-institucionalizadamente
garantidos.
Por conseguinte, no que tange aos direitos humanos, Peres Luño, (1995, p. 48), considera-os
como: “o conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as
exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas
positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional”.
23
Diante do exposto pode-se afirmar que os direitos humanos são todos os direitos que nascem
com o indivíduo pelo simples fato de ser humano. São direitos e são fundamentais porque sem
eles o ser humano não conseguirá existir ou não será capaz de se desenvolver e de participar
plenamente da vida social e política, sendo esses direitos positivados pelos ordenamentos
jurídicos em nível nacional e internacional.
Deste modo pode-se destacar que todas as coisas devidamente chamadas de entes
irracionais são meios, com isso tem um preço, por outro lado abordam-se os entes racionais
que são um fim em si mesmo não tendo valor relativo, quando algo é tido com um fim,
tem-se não um preço, mas sim uma dignidade, portanto, o ser humano jamais deve ser
utilizado como um meio para atingir outras finalidades, se não como um fim em si mesmo.
De acordo com Comparato (2015) o ser humano tem carácter único, insubstituível e com um
valor próprio, com isso, todos os indivíduos tem o direito de serem respeitados igualmente, sem
distinção, pelo simples fato de serem seres humanos. Portanto a dignidade da pessoa existe de
modo particular em todo cidadão, sendo que a essência dos direitos humanos é o direito a ter
direitos.
24
Bem como no artigo 1º da Declaração dos Direitos Humanos: "todos os seres humanos nascem
livres e iguais em dignidade e em direitos" (1948, online). É bastante relevante citar que a
dignidade é o suporte de todos os direitos humanos.
Os cidadãos dispõem de direitos, e devem ser tratados com a mais elevada protecção, dado que
cada um possui valor particular. Por derradeiro, é importante ressaltar que tal princípio é o
vetor e a partir deste, todos os demais princípios devem ser interpretados.
Neste diapasão, sobre o conceito de autonomia, Kant aduz que: a autonomia é aquela sua
propriedade graças à qual ela é para si mesma a sua lei (independentemente da natureza dos
objectos do querer). O princípio da autonomia é, portanto, não escolher senão de modo que as
máximas da escolha estejam incluídas, simultaneamente, no querer mesmo, como lei
universal. Kant, (1994, p. 85).
25
Cumpre ressaltar, que esta é a liberdade comunicativa, pressuposta no agir que do indivíduo nas
suas escolhas. Pode-se dizer que o conceito de autonomia, portanto está em que a liberdade
subjectiva de acção do sujeito privado possibilite a autonomia política dos cidadãos. Assim
como para que uma norma seja universal é necessário o consenso, isto é, para que
possamos se possa sentir destinatário de direitos, é necessário o entendimento enquanto autores
de direito.
Trata-se de uma das melhores e mais progressivas Constituições em termos de promoção, defesa
e garantia dos direitos humanos.
26
Para sublinhar ainda mais o compromisso com a causa dos direitos humanos, o artigo 43 da
Constituição estabelece que os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são
interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH) e a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos.
Na actual Constituição, os direitos humanos encontram-se plasmados no Título III sob epígrafe
“direitos, deveres e liberdades fundamentais”.
Para além deste direito, também tem-se a destacar a igualdade de géneros os direitos de
categorias vulneráveis como é o caso de pessoas portadores de deficiências.
Para tanto, pelo princípio de universalidade e igualdade, o artigo 35 da CRM estabelece que
“todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos
mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento,
religião, grau de instrução, posição social dos pais, profissão ou opção política.”
A análise funda-se mais aos direitos políticos e civis que na Constituição de 1990, bem como a
de 2004 vem substanciar cada vez mais os direitos da pessoa humana.
Afigura-se importante notar que o texto constitucional reza que “todo o indivíduo tem direito a
vida, a liberdade e a segurança” (arts. 40 e 59, da CRM).
27
para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos".
Do ponto de vista de Luís Roberto Barroso (2003), a dignidade humana representa superar a
intolerância, a discriminação, a exclusão social, a violência, a incapacidade de aceitar o
diferente.
Tem relação com a liberdade e valores do espírito e com as condições materiais de subsistência
da pessoa.
Isso se reflecte em todas as áreas sociais, e com grande ênfase no âmbito do Direito Penal, pois
o poder estatal passou a utilizar da pena e das prisões como principal forma de controle e
manutenção da ordem, esquecendo-se que seu objecto e limite de actuação estão estabelecidos
e vinculados aos direitos fundamentais.
Partindo-se do pressuposto de que o tratamento desumano foi abolido pela Lei Fundamental,
questiona-se: isso acontece na prática? O processo penal, por si só, já não é uma tortura
psicológica para o réu, o qual se vê julgado não apenas por um juiz, que se pretende imparcial,
mas por toda uma sociedade que ainda tem anseios por justiça a qualquer custo?
Para as pessoas mais desavisadas, infelizmente ainda a grande maioria da população, o preso
deixa de ser um indivíduo dotado de direitos, e passa a ser tratado como coisa, que vive em um
mundo à parte da realidade, onde a força bruta do Estado anula o ser dotado de razão à medida
que passa a intimidá-lo com o pretexto de manter a ordem e a segurança social.
Isso ocorre porque muitas vezes o preso deixa de ser visto como cidadão que tem assegurado
todas as garantias constitucionais, pelo simples fato de estar privado de sua liberdade, o que
não pode mais ser tolerado.
28
O cidadão-preso precisa ser reconhecido como ser dotado de dignidade, entendendo-se esta
como qualidade inerente à essência do ser humano, bem jurídico absoluto, portanto,
inalienável, irrenunciável e intangível.
Esqueceu-se que a liberdade também se trata de um dos mais importantes direitos do homem,
que acaba sendo suprimido de forma arbitrária quando confrontado com o direito de punir. Há
dificuldade de compreensão de que o Estado somente existe em função da pessoa humana.
Jamais poderá se olvidar que o "homem constitui a finalidade precípua e não meio de
actividade estatal"
É preciso compreender que o preso conserva os demais direitos adquiridos enquanto cidadão,
que não sejam incompatíveis com a "liberdade de ir e vir", à medida que a perda temporária do
direito de liberdade em decorrência dos efeitos de sentença penal refere-se tão-somente à
locomoção. Isso, invariavelmente, não é o que ocorre.
O que se constata é que, na prática, o cidadão-preso perde muito mais do que sua liberdade.
Perde sua dignidade. Está submetido à humilhação e acaba se sentindo um nada. E é nesse
contexto que, depois de cumprida a sua passagem pela casa prisional, voltará ao convívio
social. Estigmatizado. Rotulado. Sem possibilidade de adaptação. Invariavelmente retornará à
criminalidade.
Como adverte Cezar Roberto Bitencourt (2004), a prisão ao invés de "frear a delinquência,
parece estimulá-la, convertendo-se em instrumento que oportuniza toda espécie de
desumanidade", até porque não traz "nenhum benefício ao apenado; ao contrário, possibilita
toda sorte de vícios e degradações".
Em outras palavras, Maria Lucia Karan (1993), sustenta que as ameaças contidas nas normas
penais não têm evitado o surgimento de novos delitos ou o nascimento de conflitos. Pelo
contrário, está evidenciado que isso não tem relação com a aplicação da pena e tampouco com
a intensidade das sanções.
É imprescindível, por isso, o entendimento de que a pena e as prisões, por não serem
instrumentos idóneos na resolução de conflitos, têm se mostrado ineficientes para solucionar
problemas decorrentes da intervenção do poder punitivo.
29
Ademais, constituem-se em sofrimentos órfãos de racionalidade, que servem apenas para
reproduzir sistemas perversos e desiguais. São necessárias atitudes mais racionais e humanas
para permitir a libertação e emancipação do homem.
Segundo Luigi Ferrajoli (2000), cada vez que um inocente tem razão em temer a um juiz,
significa que este se encontra fora da lógica do Estado de Direito: o medo, a desconfiança e a
não garantia de inocência indicam a quebra da função própria da jurisdição penal e a ruptura
dos valores políticos que a legitimam, por isso a presunção de inocência precisa ser (re)
afirmada, para superação da crise de legitimidade do poder judicial e restituição do papel de
garantes dos direitos fundamentais aos juízes.
Em razão disso, actualmente, muito se tem discutido acerca da problemática dos direitos
humanos.
Busca-se o (re) conhecimento dos direitos fundamentais, mas que ainda não têm
aplicabilidade, por ausência de vontade política, mas também por falta de comprometimento da
sociedade, principalmente do operador do Direito.
O argumento - manter a segurança - pode servir apenas como uma das justificativas do poder
punitivo. Não pode se converter na mais importante. Jamais poderá ser fundamento para não
reconhecimento dos direitos fundamentais do cidadão-preso, à medida que o Direito Penal,
segundo o modelo garantista de Ferrajoli (2000), cujas ideias foram sintetizadas por Andrei
Schmidt, tem como metas "buscar o máximo bem-estar possível dos não-desviados, mediante a
descrição legal de condutas passíveis de serem punidas, limitada, entretanto, pelo mínimo mal-
estar necessário aos desviados", a fim de evitar a "severidade das penas" e o "abolicionismo
total".
30
Hoje, tem-se uma Constituição que deve servir de base para todo o ordenamento e para as
acções do corpo social, que prevê a garantia dos direitos fundamentais, proíbe as penas cruéis,
garante a integridade física e moral, enfim, o respeito à dignidade do ser humano.
É preciso ir muito além para ver no preso um ser humano dotado de direitos e garantias, até
porque também não é lícito ser julgado por quem não tem a função de julgar, como ainda
insistem em fazer as pessoas descomprometidas e despreocupadas com a protecção e eficácia
dos direitos fundamentais.
E para isso é irrelevante a gravidade do fato imputado, porque o Estado somente conseguirá o
respeito do cidadão se respeitar a dignidade deste. É um dever social aprende a "passar pelas
ruas da vida respeitando ao outro em suas dignidades, sem invadi-lo com nossas soberbas,
nossas verdades, ou nossos desejos de poder".
Isso porque "o valor da dignidade do ser humano, postulado supralegal que decorre da própria
natureza das coisas, daquilo que é ínsito à nossa existência e pertence ao direito natural, se
encontra amalgamado com a solidariedade e com o que há de melhor no ser humano que é a
busca pela compreensão (que não significa aprovação e tampouco tolerância com o que por
vezes é intolerável) dos acertos e erros de nossos pares".
Essa solidariedade deve ser entendida como responsabilidade de todos pelas carências ou
necessidades dos indivíduos, pois "assim como os direitos humanos se dirigem a todos, o
compromisso com sua concretização caracteriza tarefa de todos, em um comprometimento
comum com a dignidade comum".
31
É necessário o reconhecimento, ainda, de que a simples positivação dos direitos humanos,
agora como direitos fundamentais, será impotente para resolver os problemas da sociedade.
Somente a previsão legal não é suficiente para a mudança de comportamentos.
Tem-se uma Magna Carta que se pretende das mais evoluídas, mas que não consegue ser
efectiva. Os direitos fundamentais estão postos e estendem-se a todos os cidadãos, inclusive ao
preso, mas estão longe de serem (re) conhecidos.
É certo que não se conseguirá alterar a sociedade problemática, como a brasileira, somente
com dispositivos constitucionais, pois a Constituição por si só não resolve problemas sociais,
embora permite a criação de políticas conscientes objectivando a realização do seu conteúdo.
Não há dúvida de que a sociedade está se tornando mais complexa, buscando interesses dos
mais diversos, ante as inúmeras possibilidades existentes.
No mundo contemporâneo-globalizado quem está fora do mercado não tem chances de se (re)
inserir no meio social. Na falta de opções, o crime é a solução disponível, para não dizer a
única alternativa, pois o Estado, que se pretende provedor-transformador, não consegue sequer
garantir o mínimo ao indivíduo. E a sociedade, esquecida das atrocidades já cometidas em
nome da lei, parece persegui-las, pretendendo dar ao cidadão-preso o mesmo tratamento
daquele que perdeu a vida por conta das barbáries praticadas nas guerras que marcaram o
século passado.
Diante disso, no momento em que se defende a garantia dos direitos fundamentais, e o respeito
à dignidade do cidadão-preso, é necessário que o Direito Penal seja interpretado à luz
da Constituição e compreendido como última ratio, no sentido de actuar apenas quando os
32
demais ramos do Direito forem incapazes de tutelar os bens relevantes à vida do indivíduo e da
própria sociedade.
Do contrário, continuará servindo como instrumento de exclusão social, e em pouco tempo não
haverá mais lugar para o homem nas casas prisionais.
Como aponta Luigi Ferrajoli (2000), para a sociedade pode até ser suficiente que a maioria dos
culpados seja condenada, mas o maior interesse é de que todos os inocentes, sem excepção,
estejam protegidos. Isso porque os direitos dos cidadãos estão ameaçados não somente pelos
delitos, mas também pelas penas arbitrárias.
Num país onde o preso não perde somente a liberdade, mas também a sua dignidade, frente aos
abusos cometidos pelo poder punitivo, o operador do Direito deve estar comprometido com a
garantia dos direitos do cidadão, sem perder de vista que está lidando com um dos mais
importantes direitos: a liberdade.
Esta somente pode ser restringida nas hipóteses em que seja imprescindível em razão da
ausência de outra forma de punição pelo delito praticado.
Para isso, é preciso, como pretende Bolzan de Morais (2002), que os operadores do Direito
sejam instrumentalizados com os meios necessários para garantir uma prática comprometida
com a eficácia dos direitos humanos, a fim de salvaguardar os direitos e garantias
fundamentais.
Por certo, a situação crítica vivida pelos cidadãos-presos somente poderá ser resolvida quando
o verdadeiro Estado Democrático de Direito deixar de ser apenas uma previsão constitucional,
ou seja, quando passar a garantir o cumprimento dos princípios para todos os brasileiros,
principalmente em relação à dignidade humana, e não simplesmente exercer a violência
legítima, oficializada.
33
Uma directiva para a busca de soluções, talvez passe pelas instituições escolares em geral,
introduzindo os direitos fundamentais no ensino básico, como condição de possibilidade para o
indivíduo buscar alternativas fora da criminalidade.
Porém, antes de tudo, como afirma Alessandro Baratta (1999), se faz necessária a compreensão
dos valores e dos comportamentos presentes na sociedade na qual se pretende re-inserir o preso
porque não se pode falar em educação e re-inserção, ou de modificação de excluídos, sem
antes pensar em alterar a sociedade, a fim de que seja atingida a raiz do mecanismo de
exclusão.
É imprescindível, também, que cada cidadão faça a sua parte, comprometendo-se com o Estado
Democrático e ainda pouco social de Direito, como forma de transformar a realidade social.
Para tanto, “determinadas cadeias eram para prisioneiros de raça branca enquanto muitas vezes a
população local enfrentava penas traduzidas em trabalho forçado Xibalo nas plantações e obras
pertencentes aos portugueses.
Com a introdução do SNAPRI, ora revogado pelo Serviço Nacional Penitenciário, pela Lei no
3/2013172 de 16 de Janeiro, norma revogatória do Decreto no 7/2006, de 17 de Maio, procedeu-
se à unificação do Sistema, passando à tutela do Ministério da Justiça.
34
Considerando todas as insuficiências do Estado Moçambicano, mas reconhecendo o seu
esforço no sentido de melhorar a vida dos reclusos, a Liga Moçambicana dos Direitos
Humanos (LDH) como instituição vocacionada na promoção e defesa dos direitos
fundamentais do homem, incluindo a denúncia da sua violação, no desenvolvimento da
qualidade da justiça para todos os moçambicanos e na promoção de uma cultura de Direitos
Humanos no país, tem estado a acompanhar atentamente a situação dos Direitos
Humanos em Moçambique.
Porque no curso das suas actividades, que incluem visitas sistemáticas às penitenciárias e
esquadras nacionais, tem constatado actos que atentam contra os direitos dos reclusos, a
LDH sente-se na obrigação de denunciar publicamente, através dos órgãos de
comunicação social, os aspectos que constituem violação dos direitos dos reclusos, desde
a tortura aos reclusos, passando pelas péssimas condições de alojamentos de higiene,
associadas à superlotação, a prisão de menores de idade, o desrespeito pelos prazos de
prisão preventiva até à não separação de reclusos doentes dos não doentes.
Estas violações não se solucionariam apenas com a melhoria das condições gerais da vida
reclusória, a sua solução passa, também, pela flexibilidade do sistema de administração
da justiça.
É lamentável que reclusos doentes não tenham o devido tratamento, que os indivíduos
permaneçam detidos por longo tempo mas sem culpa formada e que cenas de tortura
perpetradas por autoridades policiais persistam, numa clara violação dos Direitos do
Homem.
2.7. Estabelecimentos Penitenciários Moçambicanos
Os Estabelecimentos Penitenciários em Moçambique, maior parte deles apresentam os seguintes
aspectos:
Deficiente sistema de esgoto com o transbordo das fossas no local;
Latrinas deficientes sem capacidade para uso diário por mais de 3000 reclusos aí existentes;
Iluminação deficiente, celas sem janelas e vidros;
35
Pavilhões superlotados;
Os reclusos menores dormem no chão ou nas esteiras.
Este cenário pode-se afigurar uniforme em todo país, dado que em termos financeiros tem
pesado aos cofres do Estado para garantir as condições mínimas de habitabilidade aos
prisioneiros.
Nessa ordem de ideias, as penas alternativas a prisão tem vindo a serem vistas como sendo a
melhor solução para descongestionar as cadeias e melhorar o sistema prisional.
Citando a Amnesty International “as disposições das Regras Mínimas sobre alojamento, higiene
pessoal e condições sanitárias esclarecem que competem às autoridades a responsabilidade de
proporcionar instalações com uma área, iluminação, aquecimento e ventilação adequadas e
camas separadas.
As regras 12 e 13 exigem instalações sanitárias que o recluso” possa utilizar de modo limpo e
decente e instalações de banho e duche suficientes.
A regra 19 dispõe que “a todos os reclusos, de acordo com os padrões locais ou nacionais, deve
ser fornecido um leito próprio e roupa de cama suficiente e pessoal, que estará limpa quando lhes
for entregue, mantida em bom estado de conservação e mudada com a frequência suficiente para
garantir a sua limpeza.
36
CAPÍTULO III
3. Metodologia
Para se alcançar os objectivos previamente estabelecidos, houve necessidade de se recorrer a
diversos métodos eu adiante vêm mencionados, uma vez que " o método é o caminho para atingir
um objectivo". Libâneo (1990:150).
Método é um procedimento, ou melhor, um conjunto de processos necessários para o alcançar os
fins de uma investigação. Envolve a definição de como será realizado o trabalho.
Tendo em conta ao objectivo, usar-se-á a pesquisa descritiva, que de acordo com Gil (2008:28),
tem como o objectivo primordial a descrição das características de determinada população ou
fenómeno ou ainda, o estabelecimento de relações entre variáveis.
37
Ela usa alguma parte das teorias, conhecimentos, métodos e técnicas acumuladas das
comunidades de pesquisa (da Academia) para um propósito específico. É útil para encontrar
soluções para problemas quotidianos, geralmente direccionado para a um Problema.
Essas técnicas auxiliam a situar o assunto na literatura académica sobre o tema de interesse, para
então aprofundá-la e utilizar os autores para uma explanação crítica e científica sobre o tema.
38
3.2.2. Método de Procedimento
No que Refere aos procedimentos, desenvolveu-se:
Pesquisa bibliográfica;
Pesquisa documental e;
Estudo de caso.
A fonte dos dados primários foi, a entrevista directa com cidadãos para uma abordagem em torno
da Eficácia dos Direitos Humanos nas Penitenciarias em Moçambique, no distrito Inharrime.
39
Os principais documentos para compor o referencial teórico foram artigos relacionados ao tema,
teses, dissertações, livros, jornais e revistas especializadas.
Aqui, realizou-se a entrevista estruturada, pois o uso desta entrevista justifica-se pelo facto de
dar informações na linguagem do próprio sujeito e ao mesmo tempo permite aprofundar as
informações.
A entrevista semi-estruturada, busca alcançar uma maior profundidade nos dados colectados,
bem como nos resultados obtidos, e o método do focusgroup, com base na análise dos dados
obtidos na realização de entrevista, busca por via do confronto dessas respostas uma melhor
compreensão do denominado estudo científico.
3.4. Amostragem
A “amostra é um extracto do universo populacional usado em um determinado estudo ou numa
determinada pesquisa”. Marconi & Lakatos (2007: p.45). Neste caso, a entrevista será com os
funcionários do Estabelecimento Penitenciário Distrital de Inharrime; reclusos do
Estabelecimento Penitenciário Distrital de Inharrime; Sociedade Civil e Juristas, todos residentes
no Distrito de Inharrime.
40
Amostragem probabilística não intencional, o investigador estabelece contacto inicial com
alguns sujeitos previamente identificados como membros do grupo que se pretende estudar, e
estes sujeitos põem o investigador em contacto com outros membros desses e assim
sucessivamente Lakatos & Marconi, (2007).
Neste contexto, o universo populacional da pesquisa, foi constituído por vinte (20) cidadãos,
sendo:
Seis (06) funcionários do Estabelecimento Penitenciário Distrital de Inharrime;
Dez (10) reclusos internados na Penitenciária Provincial da Zambézia -Quelimane;
Dois (02) Membros da sociedade civil, residentes no Distrito de Inharrime e;
Dois (02) Juristas, residentes no Distrito de Inharrime.
41
CAPÍTULO IV
4. Análise e Discussão dos Resultados
Neste capítulo, estão apresentados e discutidos os resultados da pesquisa.
A presente pesquisa, está relacionado com a eficácia do trabalho socialmente útil do recluso.
Na segunda questão, procurava-se perceber se há condições para o respeito dos direitos humanos
dos reclusos neste Estabelecimento Penitenciário, que de forma unânime, responderam dizendo
que não há condições para o respeito dos Direitos Humanos dos reclusos devido a vários factores
que pode se depreender com a realidade vivida pelos recluso.
A segunda questão, procurava saber sobre o que tinha a dizer sobre os direitos humanos nos
Estabelecimentos Penitenciário, de forma particular, no EPDI, ao que responderam de forma
ordeira dizendo que as prisões podem ser consideradas como um dos piores lugares em que o ser
humano pode viver.
Elas estão abarrotadas, sem condições dignas de vida, e menos ainda de aprendizado para o
recluso e mostram um quadro alarmante sobre o quão precário se encontra os presídios
brasileiros.
É notável detectar que as prisões moçambicanas estão em declínio, não representando mais um
local ressocializador.
Indo aos Juristas residentes no Distrito de Inharrime, mediante ao guião de entrevista constante
do apêndice 4, foi-lhes dirigido duas questões, que na primeira procura saber sobre quais os
direitos devem ser observados aos presos nos Estabelecimentos Penitenciários, ao que de forma
unânime responderam dizendo que, de acordo como o previsto no artigo 12 da Lei n° 26/2019,
de 26 de Dezembro, que aprova o Código de Execução das Penas (LEP), os direitos a serem
observados aos presos nos Estabelecimentos Penitenciários são:
43
A protecção da sua vida, saúde, integridade pessoal e liberdade de consciência, não podendo
ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos;
A liberdade de religião e de culto;
A ser tratado pelo nome e a que a situação de reclusão seja reservada, nos termos da lei,
perante terceiros;
A manter contactos com o exterior, designadamente mediante visitas, comunicação à
distância ou correspondência, sem prejuízo das limitações impostas por razões de ordem,
segurança e disciplina ou resultantes do regime de execução da pena ou medida privativa da
liberdade;
À protecção da vida privada e familiar e à inviolabilidade do sigilo da correspondência e
outros meios de comunicação privada, sem prejuízo das limitações decorrentes de razões de
ordem e segurança do estabelecimento penitenciário e de prevenção da prática de crimes;
A manter consigo filho até aos 3 anos de idade ou, excepcionalmente, até aos 5 anos, com
autorização do outro titular da responsabilidade parental, desde que tal seja considerado do
interesse do menor e existam as condições necessárias;
A participar nas actividades laborais, de educação e ensino, de formação, religiosas, sócio-
culturais, cívicas e desportivas e em programas orientados para o tratamento de
problemáticas específicas;
A ter acesso ao Serviço Nacional de Saúde em condições idênticas às que são asseguradas a
todos os cidadãos;
A ser pessoalmente informado, no momento da entrada no estabelecimento penitenciário, e
esclarecido, sempre que necessário, sobre os seus direitos e deveres e normas em vigor;
A ter acesso ao seu processo individual e a ser informado sobre a sua situação processual e
sobre a evolução e avaliação da execução da pena ou medida privativa da liberdade;
A ser ouvido, a apresentar pedidos, reclamações, queixa se recursos e a impugnar perante o
tribunal de execução das penas a legalidade de decisões dos serviços penitenciários;
A informação, consulta e aconselhamento jurídico por parte de advogado;
Outros direitos previstos nos instrumentos legais aplicáveis.
Na segunda questão, procurava-se saber sobre que implicações jurídicas advêm da não eficácia
dos direitos humanos aos reclusos nos Estabelecimentos Penitenciários e de forma unânime
44
responderam referindo que tanto a ordem interna como a internacional proíbe-se penas e
tratamento cruéis, desumanos ou degradantes do que se assiste a constante violação dos referidos
direitos nos Estabelecimentos Penitenciários de forma particular, no EP distrital de Inharrime e
nisso, o máximo que se tem chegado é à responsabilização do Estado por essa violação conforme
pode se depreender da Própria lei mãe. (Artigo 58 da CRM, 2004).
Este cenário pode-se afigurar uniforme em todo país, dado que em termos financeiros tem
pesado aos cofres do Estado para garantir as condições mínimas de habitabilidade aos
prisioneiros.
Nessa ordem de ideias, as penas alternativas a prisão tem vindo a serem vistas como sendo a
melhor solução para descongestionar as cadeias e melhorar o sistema prisional.
Citando a Amnesty International “as disposições das Regras Mínimas sobre alojamento, higiene
pessoal e condições sanitárias esclarecem que competem às autoridades a responsabilidade de
proporcionar instalações com uma área, iluminação, aquecimento e ventilação adequadas e
camas separadas.
As regras 12 e 13 exigem instalações sanitárias que o recluso” possa utilizar de modo limpo e
decente e instalações de banho e duche suficientes.
A regra 19 dispõe que “a todos os reclusos, de acordo com os padrões locais ou nacionais, deve
ser fornecido um leito próprio e roupa de cama suficiente e pessoal, que estará limpa quando lhes
for entregue, mantida em bom estado de conservação e mudada com a frequência suficiente para
garantir a sua limpeza.
45
Maiores partes das penitenciárias do país apresentam-se completamente superlotadas, o que
acelera a deterioração das condições de alojamento dos reclusos.
Nalgumas penitenciárias, o número de presos ultrapassa o triplo do seu limite.
O Decreto-Lei no 39:997, de 1955, reza que “os prisioneiros devem ser tratados com justiça e
humanidade, para que, sentindo a severidade necessária da pena, não sofram humilhações inúteis
ou influências prejudiciais à sua readaptação”, actualmente substituída pela Lei n° 26/2019, de
26 de Dezembro, que aprova o Código de Execução das Penas (LEP), a situação vivida nas
penitenciárias moçambicanas, deixa com pulga na orelha.
46
CAPÍTULO V
5. Considerações Finais e Recomendações
5.1. Considerações Finais
A pesquisa subordina-se ao tema: a eficácia dos direitos humanos nas penitenciárias em
Moçambique, a qual teve como objectivo geral, discutir sobre a eficácia dos direitos humanos
nas Penitenciárias em Moçambique e como objectivos específicos, colectar informações relativas
a eficácia dos direitos humanos na Penitenciária Distrital de Inharrime; trazer uma abordagem
sobre a eficácia dos direitos humanos nos Estabelecimentos Penitenciários e identificar possíveis
saídas para a eficácia dos direitos humanos nos Estabelecimentos Penitenciários em
Moçambique.
O que se observa nos Estabelecimentos Penitenciários é uma série de problemas de toda ordem
que acabam por desviar o intuito da reintegração e relocalização do recluso.
Os Estabelecimentos Penitenciários podem ser considerados como um dos piores lugares em que
o ser humano pode viver. Elas estão abarrotadas, sem condições dignas de vida, e menos ainda
de aprendizado para o apenado, mostram um quadro alarmante sobre o quão precário se
encontra.
É notável detectar que as prisões moçambicanas estão em declínio, não representando mais um
local ressocializador ou que venha a ajudar na prevenção da criminalidade.
Muitas celas contêm mais presos do que suporta, causando desconforte e má qualidade de vida
aos presos.
47
Nas questões de género, a pesquisa mostra que “as mulheres são a minoria, ao contrário dos
homens.
De acordo com Velasco et al. (2019, p. 02) “todas as unidades seguem com superlotação no
sistema. Em razão dessa superlotação, diversos outros problemas surgem, agravando ainda mais
a situação do sistema carcerário.
Um dos mais graves é a forma como a superlotação acaba por ampliar a onda da criminalidade.
O que se verifica é uma escola do crime.
Isso se explica pelo facto de que dentro dem Estabeleciomento Penitenciario, os presos são
misturados, ou seja, aqueles que cometeram graves delitos estão convivendo com aqueles que
cometeram delitos considerados de menor gravidade.
Desse modo, “há uma influência negativa que os agentes de crimes mais graves possuem sobre
os agentes de delitos mais leves” Souza (2018, p. 03).
Sobre essa realidade, importante destacar as seguintes palavras: “As prisões jamais – e em lugar
nenhum do mundo – demonstraram eficiência em reduzir o crime ou a violência.
Ao contrário, especialmente em Moçambique e nas últimas três décadas, elas têm demonstrado o
seu papel fundamental como espaços onde o crime se articula e se organiza, dentre outras coisas,
através de um eficientíssimo sistema de recrutamento de novos integrantes para compor as redes
criminais” Dias; Gonçalves (2018) apud Velasco et al., (2019, p. 04).
A realidade discrepante entre a norma e a prática mostra que esse problema está longe de ser
resolvido.
As condições precárias dos Estabelecimentos Penitenciarios, “fazem com que os agentes ali
detidos se tornem mais perigosos do que quando entraram, e muito disto é fruto do desrespeito
aos direitos humanos – que é ausente no dia-a-dia dos presos” Souza (2018, p. 05).
Com a superlotação, o preso acaba por encontrar uma realidade desumana nos presídios, uma
vez que os presos são submetidos a tratamentos cruéis, habitando em celas sujas e sem
perspectiva de melhora.
48
5.2. Recomendações/Sugestões
Muitos reclusos muitas vezes ficam à mercê do próprio destino e dos agentes e guardas
penitenciários, que mal pagos e também vivendo em condições precárias de trabalho acabam por
não respeitar e proteger os reclusos.
Da superlotação, por exemplo, se origina os problemas sanitários, uma vez que nas celas
superlotadas não existem camas e nem espaço suficientes para todos, “fazendo-se o sistema de
rodízio em que muitos são obrigados a dormir no chão na companhia de insectos e roedores que
disseminam inúmeras enfermidades” Galdino (2014, p. 03).
Com o descontrole do sistema prisional, não existe muitas possibilidades do reingresso do ex-
condenado ao convívio social, principalmente porque dentro das instituições prisionais os presos
acabam aprimorando e amadurecendo as habilidades criminais, tanto teóricas quanto práticas.
Com base nisso, Mirabete (2013, p. 252) entende que “é praticamente impossível a
ressocialização do homem que se encontra preso, quando vive em uma comunidade cujos valores
são totalmente distintos daqueles a que, em liberdade deverá obedecer”.
Em conformidade com o supracitado, Leal (2017, p. 20) descreve as prisões como sendo “o local
onde estão enclausuradas milhares de pessoas, desprovidas de assistência, em ociosidade, sem
49
condições de higiene, onde se misturam presos enfermos, onde quadrilhas controlam o tráfico,
sendo um local em que vigora a indisciplina”.
Nota-se aspectos que constituem violação dos direitos dos reclusos, desde a tortura aos
reclusos, passando pelas péssimas condições de alojamentos de higiene, associadas à
superlotação, a prisão de menores de idade, o desrespeito pelos prazos de prisão
preventiva até à não separação de reclusos doentes dos não doentes.
Estas violações não se solucionariam apenas com a melhoria das condições gerais da vida
reclusória, a sua solução passa, também, pela flexibilidade do sistema de administração
da justiça.
É lamentável que reclusos doentes não tenham o devido tratamento, que os indivíduos
permaneçam detidos por longo tempo mas sem culpa formada e que cenas de tortura
perpetradas por autoridades policiais persistam, numa clara violação dos Direitos do
Homem.
50
6. Referências Bibliográficas
a) Legislação:
Constituição da Republica de Moçambique, publicado no BR N˚51, Iᵃ SERIE, (22 – 12 –
2004).
b) Doutrina:
ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais. 5ª ed. pc: Editorial Ltda, 2008.
ANNONI, D. Direitos Humanos & acesso à justiça no direito internacional. Curitiba: Juruá,
2009. Curitiba: Juruá, 2009.
BARATTA, A. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: Introdução à Sociologia do
Direito Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.
BECCARIA, C. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Editora Pilares Ltda, 2013.
BECCARIA, C. B. M. Dos Delitos e das Penas. Trad. de Lucia Guidicini, A. B. Co. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito Penal, 2º Volume, Reimpressão, Lisboa, aafdl, 2003.
BITENCOURT, C. R. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2001.
BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
BONAVIDES, P. Curso de direito constitucional. 19. ed. São P a u l o , Malheiros, 2006.
COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 9. ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2015.
DIAS, C. N. A produção da Disciplina pelo encarceramento. O público e o privado, 2015.
51
FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 24. ed. Trad. de Raquel Ramalhete.
Petrópolis: Vozes, 1987.
GODOI, R. Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos. Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
HAMELA, E. Os Custos das Cadeias para a sociedade: que contribuição ao
desenvolvimento de Moçambique. Maputo: Publifix, Lda., 2011.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. In: Textos seleccionados. São Paulo:
Abril, 1994.
LAFER, C. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah
Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
LENZA, P. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
LIBÂNEO, J. C. Didáctica. Cortez Editora. São Paulo. 1990.
MARCÃO, R. Curso de Processo Penal. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
MARCONI, E. M. & Lakatos, M. A; Técnicas de Pesquisa: planeamento e execução,
amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análises e interpretação de dados, atlas, 5ª
Edição. Editora: São Paulo; 2002.
MARCONI, M. A. & Lakatos. E. M. Técnicas de Pesquisa. 6ª ed. São Paulo: Atlas.2007.
MAZZUOLI. V. O. Curso de direito internacional. São Paulo, Atlas, 2009.
NOBRE, J. E. P. O Direito brasileiro e o princípio da dignidade da pessoa humana. Jus
Navigandi, Teresina, ano 4, 2000.
OLIVEIRA, S. A. M. A Teoria geracional dos direitos do homem. Acesso em Setembro
de 2021.
PEREIRA, A. M. Os direitos do preso à luz do princípio da dignidade da pessoa humana.
Âmbito Jurídico, Rio Grande. 2013.
PERES, L. A. Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constitución. 5ª Ed., Madrid:
Tecnos, 1995.
PIOVESAN. F. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
52
RODRIGUES, F. L. L. O Direito ao património cultural preservado –um direito e uma
garantia fundamental. Acesso em Setembro de 2021.
SARLET, I. W. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais. 8. Ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2010.
SILVA, F. M. A. Direitos fundamentais, acesso em Setembro de 2021.
SKARBEK, D. Prison gangs, norms, and organizations. Journal of Economic Behavior and
Organization, 2012.
THOMAZ, O. R. “Escravos sem dono”: a experiência social dos campos de trabalho em
Moçambique no período socialista. Revista de Antropologia, 2008.
TRINDADE, A. A. O Direito Internacional em um mundo em transformação. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002.
ZAFFARONI, E. R. Manual de Direito Penal brasileiro: parte geral. 2. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999.
c) Sites:
Www.portaldogoverno.gov.mzdocs/fold-politicas/justiça/politicaprisional.
Http://www.direitonet,com.br/artigos/exibir.
53
7. APÊNDICE
54
Apêndice I
Guião de entrevista dirigida aos funcionários do Estabelecimento Penitenciário Distrital de
Inharrime
Exmo. Senhor/a_________________________________________________________________
De igual modo, importa informar que, pela ética e sigilo, as informações fornecidas serão
confidenciais, tendo acesso o proponente do tema, o supervisor e o entrevistado.
Questões Norteadoras
55
Apêndice II
De igual modo, importa informar que, pela ética e sigilo, as informações fornecidas serão
confidenciais, tendo acesso o proponente do tema, o supervisor e o entrevistado.
Questões Norteadoras
R:___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2. Que mecanismo adoptar para que os direitos humanos sejam eficazes nos Estabelecimentos
Penitenciários, e de forma particular, no EPDI?
R:___________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
56
Apêndice III
De igual modo, importa informar que, pela ética e sigilo, as informações fornecidas serão
confidenciais, tendo acesso o proponente do tema, o supervisor e o entrevistado.
Questões Norteadoras
1. Quais os direitos devem ser observados aos presos nos Estabelecimentos Penitenciários?
R:____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2. Que implicação jurídica advêm da não eficácia dos direitos humanos aos reclusos nos
Estabelecimentos Penitenciários?
R:____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
57
Apêndice IV
De igual modo, importa informar que, pela ética e sigilo, as informações fornecidas serão
confidenciais, tendo acesso o proponente do tema, o supervisor e o entrevistado.
Questões Norteadoras
2. O que tens a dizer sobre os direitos humanos nos Estabelecimentos Penitenciário, de forma
particular, no EPDI?
R:____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
58