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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA

EM
ADMISTRACAO PÚBLICA

3º Ano
Disciplina: ADMINISTRAÇÃO AUTARQUICA
Código:
Total Horas/1o Semestre:
Créditos (SNATCA):
Número de Temas:

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED


ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED),


e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior
de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
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Cel: +258 82 3055839

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Website:www.isced.ac.mz

i
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Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor Bernardo João Ferro

Coordenação Direcção Académica do ISCED

Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia


(IAPED)
Revisão Científica
XXXXX
Revisão Linguística
XXXXX
Ano de Publicação
ISCED – BEIRA
Local de Publicação
XXXXX

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Índice
Tema pag
Visão geral-------------------------------------------------------------------------------------------------1
Objectivos do Módulo------------------------------------------------------------------------------------1

Objectivos específicos------------------------------------------------------------------------------------1
Quem deveria estudar este modulo----------------------------------------------------------------------1
Como está estruturado este módulo---------------------------------------------------------------------2
Conteúdo desta disciplina/módulo----------------------------------------------------------------------2
Outros recursos---------------------------------------------------------------------------------------------3
Autoavaliado e tarefas de avaliação---------------------------------------------------------------------3

Comentários e sugestões----------------------------------------------------------------------------------4
Icones de actividade---------------------------------------------------------------------------------------4
Habilidades de estudo-------------------------------------------------------------------------------------4
Precisa de apoio? ------------------------------------------------------------------------------------------6
Tarefas(avaliação e autoavaliação)----------------------------------------------------------------------7
Avaliação---------------------------------------------------------------------------------------------------7

Tema Evolução Histórica-----------------------------------------------------------------------------11


Considerações Gerais------------------------------------------------------------------------------------11
Introdução-------------------------------------------------------------------------------------------------11
Objectivos gerais-----------------------------------------------------------------------------------------11
Objectivos específicos----------------------------------------------------------------------------------12
Introdução-------------------------------------------------------------------------------------------------13
Objectivos específicos-----------------------------------------------------------------------------------13

1.0.A História da Administração ----------------------------------------------------------------------14


1.1.Administração Local no Período Colonial-------------------------------------------------------15
1.2.Administração Local Pós Independência------------------------------------------- -------------18
1.3.Administração Local Moçambicana--------------------------------------------------------------24
1.4.As autoridades Tradicionais------------------------------------------------------------------------31
1.5.Legitimidade do Poder Local em Moçambique-------------------------------------------------36
1.6.Pluralidade politica----------------------------------------------------------------------------------37
Sumario----------------------------------------------------------------------------------------------43
1.7.Exercícios de Auto Avaliação---------------------------------------------------------------------43
1.8.Resolução de exercício de auto avaliação--------------------------------------------------------44

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Tema II---O Controlo----------------------------------------------------------------------------------48


Introdução-------------------------------------------------------------------------------------------------49
2.0. Objectivos Específicos-----------------------------------------------------------------------------49

2.1.1. A Velha e Nova Administração Local--------------------------------------------------------50


2.1.2. As empresas Municipais-------------------------------------------------------------------------50
2.2. Concessão da Exploração de Serviços Públicos------------------------------------------------50
2.3. Regulamentação Fiscalização e Tarefas---------------------------------------------------------51
2.4. A relação entre o Poder Central e o Poder Local-----------------------------------------------51
2.5. A razão do Controlo--------------------------------------------------------------------------------55

2.6. A Cidadania e o Controlo--------------------------------------------------------------------------56


2.7. 0. Organização da Tutela Administrativa--------------------------------------------------------57
2.7.1. Órgãos de Tutela---------------------------------------------------------------------------------57
2.7.2. Órgãos Centrais-----------------------------------------------------------------------------------57
2.7.3. O Ministério da Administração Estatal e Função Pública como Órgão central da Tutela
Administrativa--------------------------------------------------------------------------------------------58
2.7.4. A inspecção Administrativa do Estado--------------------------------------------------------59
2.7.5. Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa---------------------------------------------61
2.7.6. Acções correctivas--------------------------------------------------------------------------------62
2.7.7. Ministério da Economia Plano e Orçamento--------------------------------------------------64

2.7.8. A inspecção Geral das Finanças----------------------------------------------------------------64


2.7.9. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento--------------------------------------------------66
2.8.0. Meios dos Órgãos de Tutela---------------------------------------------------------------------65
2.8.1. A inspecção----------------------------------------------------------------------------------------67
2.8.2. O Inquérito-----------------------------------------------------------------------------------------68
2.8.3. Sindicância----------------------------------------------------------------------------------------68
2.8.4. Ratificação----------------------------------------------------------------------------------------69

Sumario---------------------------------------------------------------------------------------------------71
2.8.5. Exercícios de Auto avaliação-------------------------------------------------------------------71

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2.8.6. Resolução do exercício de auto avaliação-----------------------------------------------------71

Tema III- Geminações--------------------------------------------------------------------------------77


Introdução------------------------------------------------------------------------------------------------79

3.0. Objectivos específicos------------------------------------------------------------------------------79


3.1.0. Novos Instrumentos de Gestão------------------------------------------------------------------79
3.1.1. Operacionalização do Conceito de Descentralização----------------------------------------79
3.2. Enquadramento Histórico--------------------------------------------------------------------------81
3.3. O Conceito de Descentralização------------------------------------------------------------------83
3.4. Formas de Descentralização----------------------------------------------------------------------85

3.5. 0. Enquadramento legislativo da Lei 3/94 das eleições autárquicas de Janeiro de 1998--85
3.6.0. Reformas Administrativas-----------------------------------------------------------------------86
3.6.1. Opção da Descentralização para Moçambique-----------------------------------------------89
3.6.2. Uma Primeira Análise Crítica do Processo de Descentralização e Desconcentração---89
3.7.0. As Autarquias Locais----------------------------------------------------------------------------92
3.7.1. O Concelho----------------------------------------------------------------------------------------96

3.7.2. Classificação dos Municípios-------------------------------------------------------------------97


3.7.3. Atribuições Municipais--------------------------------------------------------------------------99
3.7.4. Órgão da Administração Municipal----------------------------------------------------------102
3.8.0. Serviços especiais-------------------------------------------------------------------------------105
3.8.1. Os Serviços Municipalizados------------------------------------------------------------------106
3.8.2. Regime Financeiro das Autarquias Locais--------------------------------------------------107
3.9.0. As Agências Doadoras Multilaterais e Bilaterais-------------------------------------------111

3.9.1. A Participação; A Autarquia Parceira--------------------------------------------------------115


3.9.2. Áreas de Cooperação---------------------------------------------------------------------------115
Formação de quadros----------------------------------------------------------------------------------115
3.9.3. Cultura e Património Histórico----------------------------------------------------------------115
3.9.4. Infra-Estrutura, Saneamento Básico, urbanismo e Ambiente-----------------------------116
3.10.0. Protocolos entre ICP e AMP-----------------------------------------------------------------116

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3.10.1. Na área de Educação e Formação de Quadros---------------------------------------------119


3.10.2. Na área de Infra-estruturas, Saneamento Básico, Urbanismo e Ambiente-------------120
3.10.3. Na área de Apoio em Matérias e Equipamentos------------------------------------------120
3.11. 0. Outras Instituições ---------------------------------------------------------------------------122

3.11.1. Análise da CIM com Moçambique----------------------------------------------------------122


3.11.2. Operacionalização da CIM-------------------------------------------------------------------127
3.11.3. Conteúdos da CIM----------------------------------------------------------------------------129
3.11.4. Formas da CIM-------------------------------------------------------------------------------130
3.11.5. A CIM nas Relações Internacionais--------------------------------------------------------132
3.11.6. Potencialidades e Limitações da CIM------------------------------------------------------134

3. 11.7. O Desenvolvimento Local, as Novas Autoridades---------------------------------------137


Sumario-------------------------------------------------------------------------------------------------138
3.11.8. Exercícios de autoavaliação------------------------------------------------------------------138
3.11.9. Resolução de Exercícios de autoavaliação------------------------------------------------140
4. Bibliografia-------------------------------------------------------------------------------------------145

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Visão geral

Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Administração


Autárquica

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Contabilidade Geral deverá


ser capaz de: Apresentar a estrutura básica da Administração
Autárquica, destacando seus objectivos, sua sistematização, seus
procedimentos concebidos para captar, registar, acumular, resumir
e interpretar os fenómenos que afectam as situações das Autarquias
Locais

 Fazer um breve percurso histórico da disciplina.

 Conhecer as diferentes formas de descentralização;


Objectivos
 Conhecer os processos de orientarão a implementação das
Específicos
autarquias Locais em Moçambique

 Saber Interpretar o fenómeno da cooperação intermunicipal.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 3º ano do curso de


licenciatura em Administração Pública do ISCED. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar
seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Administração Autárquica, para estudantes do 3º


ano do curso de licenciatura em Administração Pública, à
semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se
segue:

Páginas introdutórias

 Um índice complete.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades, Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros


exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e
actividades práticas algunas incluido estudo de caso.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Outros recursos

A equipa dos académica e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta
uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para
você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu
centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu
curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para
além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca,
pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda
as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e
subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

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3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo
melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!?
Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar
que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento

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da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume


de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimento, perde sequência lógica, por fim
ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança,
depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem
o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar
a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está
a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens,
definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para
colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a
melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à
compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros

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ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou


invertidas ,etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e
apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante –
CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro


estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativo.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do


tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em
que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com
relação aos outros colegas. Desta maneira ficar a saber se precisa
de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver habito de
debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos,
constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

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Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio 1é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es).Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorias devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentada de
avaliação.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

TEMA – I: CONSIDERAÇÕES GERAIS.

UNIDADE Temática I Objectivos específicos;

Unidade Tematica 1.0.Evolução histórica;

Unidade tematica1.1.Adminstracao Local no período colonial;

Unidade tematica 1.2. Administração Local pós-independência;

Unidade Tematica 1.3Adminstracao Local moçambicana;

Unidade Tematica1.4Autoridades tradicionais;

Unidade Tematica 1.5Legitimidade do poder local em Moçambique;

Unidade Tematica1.6 Pluralidade politica do poder local;

Unidade Tematica1.7 Exercícios de Auto avaliação;

Unidade tematica1.8 Resolução dos Exercícios de autoavaliação.

Introdução

A Administração Autárquica é uma área nova no contexto moçambicano.


Só com a aprovação da revisão constitucional de 1990 é que a lei permite uma
abertura para a sua implantação. Hoje Moçambique está enfrentando
os desafios da implantação das autarquias locais por ser ainda Uma realidade
nova. Ao longo deste modo ira ser debruçado no I Capitulo o processo da
evolução Histórica passando pela chegada
dos portugueses em Moçambique e
a implantação da maquina administrativa colonial. No segundo capitulo, está
patente o controlo, tutela, já criadas as autarquias locais há necessidade de se
Estabelecer algum nível de controlo das suas actividades
assim com para Cumprir com o princípio

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Constitucional de unicidade do Estado moçambicano.


No terceiro capítulo, dentre outros aspectos versa sobre a descentralização no
Geral, o surgimento das autarquias locais, sua classificação. Há também um
Olhar sobre as geminações que na verdade são formas de cooperação (CIM).

Objectivos Gerais

 Apoiar os leitores a fazer uma comparação da etimologia da Descentralização


e as suas consequências;

Objectivos
específicos
 Perceber o processo que levou ao surgimento das autarquias
em Moçambique;
 Fazer uma abordagem da administração

autárquica moçambicana

;um sistema de controle adequado à empresa;

No final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de:


1. Explicar a estrutura prismática da administração moçambicana;
2. Perceber o processo de criação dos concelhos em Moçambique;
3. Explicar o processo de surgimento das companhias em Moçambique;
4. O papel do partido Frelimo na implementação da nova administração;
5. Diferenciar a lei 3/94 e a lei 2/97, sobre o poder local;
6. Indicar as primeiras regiões onde foram instalados os primeiros
Municípios;
7. Explicar o papel dos Grupos dinamizadores.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Unidade Temática I

Introdução
IA Administração Pública em moçambicana nem esteve no nível que se
encontra hoje, pois passou pelo processo de administração colonial,
esta que teve de ser abandonada após 1975, ano da proclamação da
independência nacional. Sem recursos humanos formados, o Governo
moçambicano teve que ir implementando a sua administração
aprendendo

Objectivos específicos

 Mostrar o processo da evolução da administração;


 Apresentar a importância da autoridade tradicional.

No final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de:


8. Explicar a estrutura prismática da administração moçambicana;
9. Perceber o processo de criação dos concelhos em Moçambique;
10. Explicar o processo de surgimento das companhias em Moçambique;
11. O papel do partido Frelimo na implementação da nova administração;
12. Diferenciar a lei 3/94 e a lei 2/97, sobre o poder local;
13. Indicar as primeiras regiões onde foram instalados os primeiros
Municípios;
14. Explicar o papel dos Grupos dinamizadores.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

1.0. A Historia da Administração

Durante bastante tempo, entendeu-se que a modernização da


administração dos Países em desenvolvimento se fazia pela adopção
dos modelos e valores ocidentais. Uma vez adoptados, estes
funcionariam tal como nos Países de origem. Riggs (1964) veio
demonstrar que a modernização não equivale a um processo automático
de transferência de modelos de organização administrativa e outros. As
estruturas ocidentais em contacto com as sociedades tradicionais são
retratadas, como a luz ao atravessar um prisma.

A situação prismática não é nem tradicional, nem moderna, antes


contém novos elementos que resultam da justaposição das antigas e
novas estruturas sociais. A maior parte das sociedades mantém muitas
das antigas tradições e normas culturais, enquanto importa e aceita
práticas e padrões das sociedades modernas. O resultado é uma
sociedade prismática, em que os valores e procedimentos ocidentais
constituem uma fachada, mas, na prática, não funcionam.

Será que a administração local em Moçambique é constituída por


estruturas prismáticas? Ou deve procurar-se a explicação do seu
funcionamento noutros mecanismos ou teorias? A literatura não é
muito optimista sobre a situação actual da administração local nos
países africanos. Segundo Jreisat (2010), embora os Estados africanos
tenham sido governados segundo a lógica dual, com separação das
áreas urbanas (europeias) e as áreas rurais, denominadas territoriais, os
líderes africanos tenderam a reproduzir os tiques dos colonizadores,
ocupando as suas posições no aparelho administrativo. Daí que, a partir
dos anos oitenta, se tenha assistido a uma pressão das entidades
doadoras no sentido de os Países africanos adoptarem modelos de
gestão identificados com a Nova Gestão Pública.

Reportando-se à administração local no Senegal, Touré (2012) insiste


em que o movimento de autonomia local e de descentralização
impulsionado pelas entidades doadoras

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

não passa de retórica, já que tem levado ao enfraquecimento das


autoridades locais e ao aumento da intervenção estatal. O mesmo tem
sido apontado para outros países africanos, designadamente o Uganda e
o Gana (Awortwi, 2011). Vamos procurar desenvolver este tema da
autonomia e da democracia local em Moçambique, usando vários
contributos e a análise comparada.

1.1.Administração Local no Período Colonial

Os portugueses chegaram a Moçambique nos finais do século XV, a


caminho da Índia. Ao longo da costa fundaram as feitorias de comércio
em Sofala (1505) e na Ilha de Moçambique (1507), que constituíram as
primeiras formas de controlar o comércio entre o interior africano e
diversos portos do Oceano Índico. A colonização ocorreu, primeiro,
como consequência da procura de metais preciosos (ouro, prata e
bronze), a que se juntou a demanda do marfim e, já no século XVIII, o
comércio de escravos (Newitt, 1997; UEM, 1988).

Durante os primeiros séculos de colonização, o território de


Moçambique integrou o Estado da Índia, com sede em Goa. No
contexto das reformas iluministas do império português, o Marquês de
Pombal separou a administração de Moçambique do governo da Índia,
concedeu-lhe autonomia administrativa (1752) e financeira (1755) e
ordenou, em 1761, a instalação de câmaras municipais nas principais
povoações da colónia, elevadas a vilas na mesma altura. Desse modo,
em 1763, foram criados municípios na Ilha de Moçambique e em
Quelimane; no ano seguinte, no Ibo, Sena, Tete e Zumbo; e em data
desconhecida, entre o final de 1763 e Maio de 1764, em Sofala e
Inhambane (Rodrigues, 1998; Teixeira, 1990).

A criação de concelhos em Moçambique, assim como a urbanização,


foi um processo lento, que esteve associado a uma ocupação colonial
gradual e que só se tornou efectiva no século XX. A Ilha de
Moçambique, cidade em 1818,

15
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

manteve-se como capital até 1898, quando esta foi transferida para
Lourenço Marques, actual Maputo, cujo crescimento esteve ligado à
importância do Transval. A Beira, fundada no final do século XIX, só
ganhou estatuto administrativo de cidade em 1907, depois de iniciada,
em 1899, a construção do caminho-de-ferro que ligava o seu porto à
Rodésia (actual Zimbabwe). Porto Amélia, hoje Pemba, só em 1934 foi
elevada a categoria de vila e em 1958 de cidade.

Em finais do século XIX, depois da Conferência de Berlim (1884-


1885), a administração colonial organizou campanhas de ocupação
efectiva do território e reorganizou a administração da colónia. O sul e
o distrito de Moçambique foram administrados de forma directa pelo
governo colonial. No centro e no norte, o território foi arrendado a
grandes companhias capitalistas, algumas das quais, a Companhia de
Moçambique e a Companhia do Niassa, tinham poderes majestáticos.
Estas companhias majestáticas não exploraram apenas economicamente
o território, como asseguraram o exercício da autoridade administrativa
nas áreas concessionadas (Newitt, 1997, pp. 321-343).

As companhias sucederam aos chamados prazos, criados nos finais do


século XVI e que perduraram até ao século XX. Tratava-se de
estruturas feudais importadas da Europa e que constituíam o modo de
exploração na bacia do Zambeze. Segundo Papagno (1980), os prazos
foram um modelo de administração que acabou por ser integrado nas
grandes companhias, nomeadamente a Companhia de Moçambique e a
Companhia da Zambézia. Este processo acelerou-se depois
do Ultimatum (1890), como consequência de investimentos ingleses.
Neste formato de concessão, as companhias tinham poderes sobre os
habitantes africanos das áreas concessionadas.

Na sequência da ocupação efectiva imposta pela conferência de Berlim,


o Estado português optou por uma administração indirecta, que
assentava na diferenciação entre europeus e nativos. Os primeiros
estavam sujeitos ao direito e às instituições europeias, nomeadamente
as municipais; os segundos, aos direitos costumeiros e às autoridades

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tradicionais, legitimadas por poder colonial. Alguns moçambicanos,


uma pequena minoria, tinham emprego na economia capitalista e
sabiam ler e escrever português, pelo que tinham o estatuto de
“assimilados”, mas tinham uma posição inferior à dos europeus
(Newitt, 1997, pp. 384-385).

O Código do Trabalho dos Indígenas da África Portuguesa, de 1928, e


o Estatuto Político, Civil e Criminal dos Indígenas, de 1929, na
sequência da lei de trabalho de 1899 e de outros diplomas, articulavam
a relação entre colonos e colonizados. Estes últimos eram forçados pela
administração colonial a diversos tipos de trabalho. O recrutamento de
trabalhadores era feito pelos sipaios, isto é, soldados locais, que
actuavam sobretudo nas zonas rurais, mandatados pelos colonizadores.
As autoridades tradicionais serviam de intermediários entre o poder
colonial e as populações indígenas (Newitt, 1997, pp. 407-410).
Entretanto, no começo dos anos de 1960, a política colonial do Estado
português mudou, tendo sido abolido o regime do indigenato (decreto-
lei nº 43893, de 6 de Setembro de 1961). Todos, num instante,
passaram a cidadãos portugueses. Na prática, porém, o dualismo
manteve-se, continuando os africanos a serem considerados cidadãos de
segunda, ou cidadãos sem cidadania (Araújo, 2008).

No auge da colonização, durante o Estado Novo, acentuou-se a criação


de estruturas administrativas fortemente centralizadoras em que as
estruturas municipais eram uma extensão do poder central, tal como,
acontecia na metrópole colonial. Na sequência da reforma
administrativa ultramarina de 1933, a colónia era dirigida por um
governador-geral, compondo-se de três províncias, por sua vez
divididas em distritos com um administrador. A nível local, a malha
administrativa, na sequência da estabelecida já em 1914, distinguia-se
em concelhos municipais, nos principais centros urbanos, e em
circunscrições, nas zonas rurais, em ambos os casos, administrados por
autoridades nomeadas.

Os concelhos municipais eram dirigidos por autoridades civis, sendo

17
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os mais importantes presididos por um presidente de câmara, e


dividiam-se em freguesias. As circunscrições eram governadas por
administradores e decompunham-se em postos administrativos, que
podiam existir igualmente nas áreas rurais dos concelhos, a cargo de
chefes de posto.

Os postos administrativos, por sua vez, agrupavam as regedorias,


chefiadas por régulos, sob fiscalização dos administradores. A figura do
régulo foi sendo promovida pelas autoridades coloniais, e entre as suas
funções estava o recrutamento de trabalhadores. Mesmo depois da
abolição do Estatuto dos Indígenas, em 1961, tal manteve-se ou
reforçou-se mesmo, tendo os régulos passado a ser formalmente
considerados parte da administração local.

No início da década de 1960, existiam em Moçambique 61 concelhos –


centros urbanos com 500 ou mais eleitores – e 31 circunscrições. Pela
nova Lei Orgânica do Ultramar, de 1972, Moçambique passou a ser
designado “Estado”, mas a estrutura administrativa manteve-se
semelhante à existente (Meneses, 2009; Newitt, 1997, p. 410).

1.2. Administração Local Pós-Independencia

Declarada a independência, em 1975, sob a denominação de República


Popular de Moçambique, a administração do País foi marcada pela
necessidade de reforçar a unidade nacional, a liderança do partido único
e o planeamento central. A estrutura sociopolítica e administrativa
obedecia ao centralismo democrático, que orientou os primeiros anos
do País.

Uma das primeiras medidas do novo governo foi abolir a dualidade


administrativa entre zonas predominantemente rurais (circunscrições
administrativas) e urbanas (concelhos), na sequência da orientação
política saída do Conselho de Ministros, de 9 de Junho do 1975. Como
argumenta Trindade (2003), a orientação política perfilhada aquando da

18
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independência era contrária às estruturas legadas pelo colonialismo,


pelo que havia a necessidade de “revolucionar o aparelho do Estado”.

Esta ideia constituiu uma das principais tarefas levadas a cabo pelo
Governo da Frelimo, para o qual a dualidade administrativa do modelo
colonial deveria ser abandonada, enquanto se instituía um novo
conceito, as aldeias comunais, como estratégia política de
desenvolvimento rural. A estratégia era apoiada pelas populações que a
entendiam como um meio para assegurar a melhoria das suas condições
de vida.

Conforme o autor, aquele modelo de organização iria facilitar ao


Governo o fornecimento dos meios materiais, técnicos e científicos aos
sectores considerados prioritários no processo de reconstrução nacional,
ou seja, na “educação, saúde, agricultura e defesa” (idem). Esta
abordagem defendia o desenvolvimento das zonas rurais em todos os
sectores de actividade do Estado, o “que implicava necessariamente, a
extinção das regedorias, que eram consideradas estruturas de natureza
feudal, colaboracionistas com o colonialismo e incompatíveis com o
poder popular” (idem). Assim, após a independência, o território de
Moçambique foi dividido em províncias, distritos e localidades, não se
reconhecendo o papel das autoridades tradicionais, já que se entendia
que essas autoridades haviam colaborado com a administração colonial.
Importa considerar, também, que existia o desiderato político de
construir um País homogéneo do Rovuma ao Maputo, pelo que os
localismos tinham de ser eliminados.

A lei de 5/78, de 22 de Abril, substituiu as estruturas coloniais


orgânicas em quatro níveis: central, provincial, distrital e local. Note-se
que as estruturas locais eram meros receptoras e executores das
decisões a nível central. A grande novidade foi a criação de assembleias
do povo a nível local, distrital e provincial (lei de 7/78, de 22 de Abril).
Os Conselhos Executivos eram fortemente dependentes do poder
central. Como refere Otayek (2007), “logo após a independência, a hora
é de exaltação da nação, erguida em verdadeira religião civil, e da

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omnipotência do partido-estado que pretende ser a sua encarnação e o


instrumento da sua criação” (p. 6).

A Constituição de 1990 introduziu profundas mudanças políticas, como


o pluralismo político e a existência de autonomias locais, e também
económicas, nomeadamente pelo abandono do sistema de economia
planificada e pela consagração da economia de mercado. O novo texto
constitucional estabeleceu a separação dos órgãos do poder local, que
passaram a ser dotados de personalidade jurídica própria face ao
aparelho administrativo central.

Na sequência das mudanças constitucionais, em Maio de 1992, o


Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL),
que tinha por objectivo a reformulação do sistema de administração
local do Estado e a sua transformação em órgãos locais com
personalidade jurídica própria e dotados de autonomia administrativa e
financeira. Em consequência, foi aprovada a lei 3/94, de 13 de
Setembro, que estabeleceu a “institucionalização dos distritos
municipais e representando o primeiro instrumento normativo de
descentralização” (Trindade, 2003).

O processo da descentralização política e administrativa não foi


encarado de forma igual pelo partido único da Frelimo e pelos partidos
políticos emergentes neste período, incluindo a Renamo. Estes últimos
partidos entendiam que o projecto se tratava de uma ideia saída do
partido único no poder e, entretanto, não viam com agrado o
lançamento do Programa de Reformas dos Órgãos Locais.

A lei 3/94, de 13 de Setembro, cuja regulamentação se fazia já depois


de eleições multipartidárias de 1994, acabou por se tornar um
documento da discórdia em torno da sua constitucionalidade, pelo que
se optou por fazer uma revisão da Constituição (lei 9/96 de 22 de
Novembro). A emenda constitucional introduziu o título “Poder Local”,
que previa a existência de Autarquias Locais, visando a participação
dos cidadãos na solução dos problemas da sua comunidade, a promoção
do desenvolvimento local e o

20
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aprofundamento da democracia, no quadro da unidade do Estado


moçambicano (Trindade, 2003, p. 120).

Assim, em 1997, foi publicada nova lei (2/97, de 18 de Fevereiro), que


serviu de quadro normativo às primeiras eleições municipais em 1998,
feitas em 33 Municípios. Embora a lei fosse igualmente matéria de
discórdia e de debate político-partidário, à semelhança da lei 3/94, foi,
finalmente, aprovada pela Frelimo e pela União Democrática (UD). A
Renamo e quase todos os restantes partidos de oposição recusaram-se a
participar nas primeiras eleições autárquicas de 1998, por discordarem
da forma como o processo de descentralização estava a ser conduzido
pelo governo. Essa rejeição deu origem a uma elevada taxa de
abstenção de 85,42%. Na maioria dos municípios em disputa, o partido
no poder concorreu sozinho às eleições. Ainda assim, nas duas maiores
cidades do país, Maputo e Beira, as associações de cidadãos – Juntos
pela Cidade e Grupo de Reflexão e Mudança – obtiveram resultados
relevantes, atingindo, respectivamente, 25,58% e 39,85% dos votos e
elegendo, no primeiro caso, 15 e, no segundo, 17 membros para as
Assembleias Municipais (Trindade, 2003, pp. 118-125).

A nova legislação introduziu a uma mudança significativa na filosofia


subjacente à mencionada lei 3/94, conforme o Quadro 1. Para muitos
autores, houve uma clara regressão sob o ponto de vista do
aprofundamento do processo democrático. As maiores críticas dirigem-
se, por um lado, ao facto de a lei 2/97 se aplicar a um número restrito
de cidades e vilas, e, por outro lado, não contemplar as comunidades e
não promover o envolvimento das autoridades tradicionais (Trindade,
2003, p. 120). O Quadro 1 mostra claramente as diferenças entre as
duas concepções de poder local, já que na primeira lei, a 3/94, é
manifesta a importância concedida às Autoridades Tradicionais,
consideradas um poder de facto. Existiriam, assim, poderes legitimados
pelo voto popular e poderes tradicionais, que não são eleitos.

Esta dualidade levantava um problema constitucional que a lei 2/97, de


18 de Fevereiro, tentou resolver, introduzindo o conceito de

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legitimação das Autoridades Tradicionais (AT), por parte do poder


central. Todavia, este procedimento não retira às AT o seu papel de
mediadores entre o poder central, herdeiro do poder colonial, e a
população. Na verdade, esta absorve a lei, conforme ela é lida pelos
líderes locais.

Quadro 1: Principais Diferenças entre a Lei 3/94 e a Lei


2/97 sobre o Poder Local

Lei nº 3/94 Lei nº 2/97


Divisão administrativa em Criação de autarquias, subdivididas
128 distritos municipais em municípios (urbanos), e povoações
rurais (= distritos) e 23 (rurais). Cidades, vilas, aldeias,
distritos municipais povoações (544) são à partida
urbanos. elegíveis para o estatuto de autarquia.
Ficam de fora do poder local os 128
distritos geridos pelos órgãos
administrativos locais e, por
conseguinte, sob administração
central.
Eleição directa e secreta dos Eleição directa e secreta do Presidente
três órgãos municipais: e da Assembleia Municipal (AM).
Presidente (Administrador Metade dos membros do Conselho
nas zonas rurais), Municipal são designados pelo
Assembleia e Conselhos Presidente e metade são membros da
Municipais. AM.
Enumeração clara das As funções dos governos locais são
funções e serviços dos reduzidas em questões essenciais
governos locais (inclui (como o uso da terra) e condicionadas
segurança pública, uso da à existência de recursos financeiros
terra, abastecimento de locais.
água, entre outros).

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Definição clara das Representação dos órgãos de


prerrogativas e administração central na jurisdição
competências da territorial das autarquias. Possibilidade
administração central e do de controlo e participação destes no
município. governo local (dupla administração).
Autonomia orçamental, Autonomia administrativa, fiscal,
fiscal, patrimonial, de patrimonial e de organização.
planeamento e organização. Subordinação administrativa das
autarquias ao princípio da “unidade do
poder político”.
Apoio orçamental previsto Apoio orçamental previsto no OGE.
no OGE.
Integração das autoridades A participação das autoridades
tradicionais no processo de tradicionais é substancialmente
consulta e tomada de limitada e sujeita a regulamentação
decisões locais ministerial.
(nomeadamente no arbítrio
de conflitos e em questões
relacionadas com o uso da
terra).
Direito à criação de uma Não há referência ao direito de
associação de municípios. associação dos municípios.
Princípio do gradualismo: Princípio do gradualismo. A lei da
estabelecimento gradual dos criação das autarquias (elaborada,
municípios com base em discutida e aprovada posteriormente)
condições socioeconómicas, limita o número de autarquias na
administrativas e de infra- primeira fase a 33.
estruturas mínimas.

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Tutela legal e financeira dos Tutela legal e financeira dos


municípios por parte do municípios por parte do MAE e do
Ministério do Plano e MPF, respectivamente. A lei da tutela
Finanças (MAE), administrativa do Estado sobre as
respectivamente. autarquias locais (elaborada, discutida
e aprovada posteriormente) determina
que a tutela pode ser delegada aos
governos provinciais.

Fonte: Faria & Chichava (1999, p. 8)

1.3.Administração Local Moçambicana

Em 2003, foram aprovados vários textos legislativos destinados a


acelerar o processo de consolidação dos municípios e, em 2007-2008,
foram introduzidas alterações significativas à lei 2/1997, as quais
procuram designar as autarquias como poder local, em oposição ao
poder central desconcentrado.

Como foi argumentado em Zavale (2011), a designação do “Poder


Local” pelo legislador resulta da reimportação de leis eurocêntricas que
continuam a marcar o mapa da administração pública do País. Na
verdade, a Lei 1/2008 introduziu algumas alterações, mas manteve o
princípio do gradualismo, que só permitia avançar para o
estabelecimento de novos municípios se as povoações obedecessem a
determinados critérios. O princípio do gradualismo consiste num
processo lento de criação das autarquias locais em Moçambique, o que
explica que, na sua primeira fase, tenham sido implementados apenas
33 municípios, 23 nas cidades e 10 nas 68 vilas existentes no país,
conforme apresentado no Quadro 2.

De acordo com Hanlon (1997), o princípio do gradualismo em


Moçambique é essencialmente explicado pela inexistência ou
insuficiência de condições económicas e sociais necessárias e

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indiscutíveis para a reimplantação e funcionamento da administração


autárquica nas vilas em geral (p. 13). E, portanto, é necessário fazer
previamente a consolidação e a capacitação de agentes locais e fazer
acompanhar o processo de recursos técnicos e infra-estruturas, que
permitam o funcionamento da máquina da organização municipal. Daí
que o processo de instituição do poder local nas primeiras vilas tivesse
sido visto como uma acção piloto. O autor considera que a etapa
subsequente passará pela transformação de mais vilas em municípios e
a realização de eleições de harmonia com o mesmo princípio.

Assim, o poder local foi inicialmente estendido a 10% do território,


sendo que apenas 25% dos moçambicanos obtiveram o direito de eleger
os seus representantes. Em Abril de 2008, foram implementados mais
10 municípios, e, finalmente, em 15 de Maio de 2013, o Conselho de
Ministros propôs ao parlamento a introdução de mais dez novos
municípios: Boane (província de Maputo), Praia do Bilene (província
de Gaza), Quissico (Zavala) (província de Inhambane), Nhamatanda
(província de Sofala), Sussundenga (província de Manica),
Nhamayábué (província de Tete), Maganja da Costa (província de
Zambézia), Malema (província de Nampula), Chiure (província de
Cabo Delgado) e Mandimba (província de Niassa) (EA, 2013). Esta
última proposta continua assente num dos grandes princípios
orientadores da política de progressiva descentralização político-
administrativa de Moçambique, o gradualismo. Assim, Moçambique
tem um total de 53 conselhos municipais, conforme o Quadro 2.

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Quadro 2: Primeiros Municípios de Moçambique


(Cidades e Vilas)

Municípios Total:
Capital Municípios
Província
Província Cidades1 Vilas (Cidades e
Vilas)

Mocímboa da
Pemba (Iº)2 -
Praia (Iº),
Cabo C e
Pemba Mueda 5
Delgado Montepuez
(IIº)3 e
(Iº) - D
Chiúre (IIIº)4

Metangula
Lichinga (Iº) - (Iº), Marrupa
Niassa Lichinga C e Cuamba (IIº) e 5
(Iº)- D Mandimba
(IIIº)

Nampula
(Iº),- B
Angoche (Iº)-
C, Ilha de Monapo (Iº),
Nampula Nampula Moçambique Ribáuè (IIº) e 7
(Iº) - C e Malema (IIIº)
Nacala
(Porto) - (Iº)-
C

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Milange (Iº),
Quelimane
Alto
(Iº)- C, Gúrué
Molócuè
Zambézia Quelimane (Iº)- D e 6
(IIº),
Mocuba (Iº)-
Maganja da
D
Costa (IIIº)

Catandica
Chimoio (Iº)- (Iº), Gondola
Manica Chimoio C e Manica (IIº) e 5
(Iº)- D Sassundenga
(IIIº)

Marromeu
(Iº),
Beira (Iº)- B e Gorongosa
Sofala Beira 5
Dondo (Iº)- D (IIº) e
Nhamatanda
(IIIº)

Moatize (Iº),
Ulógué (IIº) e
Tete Tete Tete (Iº)- C 4
Nhamayábuè
(IIIº)

Vilankulo
(Iº),
Inhambane
Massinga
(Iº)- C e
Inhambane Inhambane (IIº) e 5
Maxixe (Iº)-
Quissico
D
(Zavala).
(IIIº)

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Xai-Xai (Iº)- Mandlakazi


C, Chibuto (Iº), Macia
Gaza Xai-Xai (Iº)- D e (IIº) e Praia 6
Chókwè (Iº)- do Bilene
D (IIIº)

Manhiça (Iº),
Namaacha
Maputo Maputo Matola (Iº)- B 4
(IIº) e Boane
(IIIº)

Cidade de Cidade de Maputo (Iº)-


1
Maputo Maputo A

Total
53
Municípios

Fonte: Organização dos autores

1
“Cidades são classificadas em quatro categorias de acordo com o
decreto-lei n.º 14/76, reflectindo o seu tamanho, desenvolvimento e
importância. A cidade de Maputo é a única cidade do nível A; Beira e
Nampula são as únicas do nível B. Nível C é utilizado para as outras
capitais e cidades de importância regional. Nível D implica só
importância local” (Hanlon, 1997, p. 45).

2
Iº - A referência Iº significa primeiro mandato, segundo a lei 10/97, de
31 de Maio.

3
IIº - A referência IIº significa segundo mandato, segundo a Lei 3/2008,
de 02 de Maio.

4
IIIº - A referência IIIº significa terceiro mandato, segundo a Lei
11/2013, de 03 de Junho.

Segundo o Banco Mundial (2009), esse processo de implantação


gradual dos municípios subdivide-se em duas áreas, territorial e

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funcional. A primeira, o gradualismo territorial, refere-se ao


alargamento progressivo da governação municipal a um número
crescente de cidades em todo o território nacional. A segunda área
considerada é o gradualismo funcional, que reflecte o incremento na
transferência de competências do Estado para as municipalidades,
conforme lavrado na lei 2/97 e no decreto 33/06.

As autarquias locais são providas de um órgão executivo (Presidente do


Conselho Municipal) e por um órgão representativo e deliberativo
(Assembleia Municipal). O Conselho Municipal é um órgão executivo,
composto por vereadores designados pelo Presidente para dirigir os
vários pelouros da Câmara. O Presidente do Conselho Municipal e a
Assembleia Municipal são eleitos simultaneamente por sufrágio
universal, directo e secreto, ambos cumprindo mandatos de cinco anos.
Em termos de competências, embora estas formalmente sejam
alargadas, as autarquias têm de actuar como se fossem órgãos locais do
Estado, porque estão sujeitas à sua tutela administrativa e dependem
financeiramente dele, já que as suas receitas são constituídas quase
globalmente por transferências do poder central.

Ao mesmo tempo que prossegue o processo de descentralização, tem


lugar o processo de desconcentração das funções administrativas do
Estado, em grande medida decalcado da estrutura administrativa
colonial (ver Quadro 3). De facto, a nível da Província, todos os oficiais
são apontados pelo governo central: o governador pelo governo central;
o secretário pelo primeiro-ministro; e os directores provinciais pelo
ministro responsável pela respectiva pasta.

Quadro 3: Evolução da dimensão administrativa de


Moçambique

Consti Revisã Revisão Constitu


tuição o Constitu ição de
de Constit cional

29
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1975 ucional de 1986 2004


de 1978

Provín Provínc Provínci Provínci


cias ias as as

Distrit Distrito Distritos Distritos


os s

Cidade Postos Postos


s Adminis Adminis
trativos trativos

Locali Localid Localida Localida


dades ades des des

Povoaçõ
es

Zonas Zonas
Urbanas urbanas:
: cidades cidades
e vilas e vilas

Fonte: Organização dos autores

No dizer dos responsáveis moçambicanos, o distrito é a base do


desenvolvimento económico, nacional e cultural. A nível distrital, a
estrutura é composta pelo administrador distrital, o secretário
permanente distrital e os serviços distritais.

O enquadramento de outros níveis administrativos inferiores ao distrito


está descrito na Figura.

30
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Figura 1: Estrutura dos Órgãos Locais-Distrito, Posto


Administrativo, Localidade

Fonte: Organização dos autores

A lei 5/2007, de 7 de Fevereiro, veio dar competências às assembleias


municipais para aprovar propostas de plano e orçamento municipal a
submeter ao Conselho de Ministros e fiscalizar a sua execução.

Em síntese, podemos resumir o sistema administrativo local dizendo


que existem actividades centrais directas, actividades desconcentradas,
desenvolvidas pelas Províncias ou níveis inferiores destas, e actividades
desenvolvidas pelo poder local, conforme a Figura 2. Importa, ainda,
analisar as autoridades tradicionais, cujo papel foi muito tumultuoso ao
longo do período colonial e depois da independência.

31
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1.4.Autoridades Tradicionais

Como notou Santos (2003), o tema das Autoridades Tradicionais (AT)


tem provocado um grande debate no continente africano, merecendo,
por si só, uma reflexão sociológica:

os temas da discussão são muitos e entre eles são de salientar os


seguintes: as autoridades tradicionais enquanto poder e administração
local; a regulação do acesso à terra; o direito costumeiro e a justiça
tradicional; as mulheres e o poder tradicional; a feitiçaria; a medicina
tradicional; a compatibilidade entre os direitos costumeiros e o direito
oficial e, em especial, a constituição (p. 74).

Figura 2: Administrações Locais

Fonte: Organização dos


autores

Após a independência política de Moçambique, a Frelimo encarou os


régulos e, com eles, as AT como instrumentos de opressão e exploração
do povo ao serviço do colonialismo. Por isso, os régulos bem como as
AT, não só foram desprezados como ainda foram odiados, perseguidos
e presos (Mutaquinha, 1998). Em seu lugar, foram criados os
secretários das Aldeias Comunais e

32
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dos Grupos Dinamizadores. Estas autoridades viriam a desempenhar


múltiplas funções, tomando conta de muitos dos encargos
anteriormente realizados pelas autoridades tradicionais, como a “gestão
de questões sociais, mediação de conflitos, policiamento, administração
e regulação” (Meneses, 2009, p. 26). Além da introdução de uma nova
tipologia de funções e de uma nova nomenclatura na administração,
Mutaquinha (1998) considera que a Frelimo ignorou, igualmente, a
tradição em matéria de origem e de legitimidade do poder (p. 15).
Mutaquinha reitera essa ideia, afirmando que os secretários das aldeias
eram todos indivíduos fiéis da linha ideológica da Frelimo, uma opinião
também seguida por outros autores.

Lourenço (2007), por exemplo, destaca que as autoridades tradicionais


eram tidas como contrárias à construção do “Homem Novo”. A
liderança da Frelimo retratou os chefes tradicionais como oportunistas e
corruptos, já que haviam lucrado com o papel de cobradores de
impostos, recrutadores de mão-de-obra e agentes de polícia local na
estrutura colonial portuguesa, além de terem colaborado com as Forças
Armadas Portuguesas.

Conforme Meneses (2009), as autoridades tradicionais foram acusadas


de serem instituições obscurantistas e vestígios do passado feudal.
“Subalternizadas no tempo colonial e depreciadas pela Frelimo após a
independência, as autoridades tradicionais mantinham uma forte
presença no tecido político pelo peso que gozavam junto das
populações que administravam” (p. 30). De facto, com a criação do
“Homem Novo”, as ideias voltadas para o tradicional e tudo o que fosse
considerado vestígio do passado colonial constituíam matérias a
destruir para dar lugar aos princípios revolucionários de um País novo
fundado na ideologia da Frelimo.

Esta rejeição da parte da Frelimo dos chefes tradicionais e régulos fê-


los cair na dependência da Renamo, de quem constituíram uma base
social de apoio. Como argumenta Meneses (2009), gradualmente, e
apoiando-se fortemente nas antigas instituições de poder local, a

33
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Renamo foi reintroduzindo os régulos como agentes do poder local nas


áreas sob o seu controlo. O papel destas autoridades foi fundamental na
mobilização de jovens para integrar as fileiras do exército guerrilheiro
da Renamo (p. 31).

Como consequência dos Acordos de Paz (1992) e do processo eleitoral


de 1994, a Frelimo fez uma aproximação às Autoridades Tradicionais.

De facto, embora a Constituição de 1990 fosse já portadora de um


clima de abertura às lideranças tradicionais, a legislação específica só
apareceu mais tarde com a Constituição de 2004. Em consequência, a
lei 11/2005, de 10 de Junho, definiu o distrito como sendo o órgão
territorial da organização (política, económica e social) e do
funcionamento da administração local do Estado, dando ênfase aos
princípios de descentralização, bem como de desburocratização e de
articulação entre as várias estruturas do poder presentes no território,
nomeadamente as populações locais ou comunidades e as respectivas
lideranças, incluindo também as autarquias locais compreendidas no
respectivo território.

Meneses (2009) clarifica a questão da diversidade das autoridades


locais intervenientes no cenário da administração distrital: tal
diversidade levou o poder governamental a reelaborar o plano de
cooperação com as autoridades comunitárias. Para a autora, esse
processo alargou o debate sobre as lideranças de vários atores que se
entrecruzam, como os “chefes tradicionais, os secretários de bairro ou
aldeia e outros líderes legitimados pelas respectivas comunidades” (p.
32). No entanto, ela critica a posição do governo ao equiparar as AT
tradicionalmente reconhecidas aos líderes religiosos, os secretários de
grupos dinamizadores e outras personalidades locais, conforme
definido pelo diploma ministerial 80/2004. Nesta sessão ficaram
estabelecidas duas categorias dicotómicas, os chefes tradicionais e os
secretários de bairro ou aldeia, aos quais se juntam outros líderes
legitimados, que desempenham algum papel de carácter económico,

34
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

social, religioso ou cultural aceite pelo grupo social (Meneses, 2009).

A divisão entre chefes tradicionais e secretários de bairro/aldeia retoma


a ideia matriz das AT de que fala Mutaquinha (1998). Para este autor,
com a independência, a Frelimo ignorou a tradição em matéria de
origem e de legitimidade das AT substituindo-as pelos secretários de
aldeia da sua criação e, após 16 anos de guerra, recuou no sentido de
corrigir o erro cometido em relação às AT. Todavia, Meneses (2009)
considera antes que o “Governo Central, pretendeu de forma
encapotada e engenhosa, integrar a riqueza de instituição do poder local
no sistema de administração local, ao mesmo tempo que a Frelimo
procura capitalizar espaço político com esta manobra” (p. 33). Como
salienta a autora, esse diploma estipulou que a selecção dos líderes
tradicionais se baseava nas regras das respectivas comunidades,
enquanto os secretários de bairro seriam escolhidos de acordo com
critérios da comunidade local ou grupo social. A aplicação do diploma
nas zonas rurais resultou no reconhecimento dos antigos régulos, bem
como dos respectivos adjuntos, e nalguns casos dos secretários,
enquanto outros líderes apenas recentemente têm sido reconhecidos
pelo Estado, apesar do seu papel como mediadores na resolução de
conflitos sobre problemas da terra, disputas familiares, casos de
feitiçaria e no desempenho de outras competências, entretanto lavradas
no decreto-lei 11/2005 (artigo 62º) (Meneses, 2009, p. 33).

Na verdade, as dificuldades do Estado moçambicano no relacionamento


com as autoridades tradicionais têm semelhanças com outros processos
ocorridos nas antigas colónias africanas. Numa primeira fase, os chefes
tradicionais (régulos) administravam, em nome do colonizador, as
zonas rurais. Numa segunda fase, a seguir à independência, foram
perseguidos porque tinham colaborado com o colonizador e tornava-se
necessário construir um Estado, necessariamente centralizado. A
terceira fase corresponde à crise dos Estados africanos, o que abriu
caminho para o recurso às autoridades tradicionais como forma de
redução das despesas. Na última fase, que começa nos anos noventa, o
reconhecimento das autoridades

35
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

tradicionais tem estado associado à liberalização política,


descentralização e processo de democratização (Forquilha, 2008).

Em Moçambique, a Renamo tinha conseguido o apoio das autoridades


tradicionais, pelo que a Frelimo procurou apropriar-se deste poder de
facto, estabelecendo uma relação clientelar com os líderes locais. Estes
passaram a ser intermediários entre o Estado central e os cidadãos. Mas
nem sempre foi uma prática pacífica, porque muitos viam nesta
colaboração um perigo para a unidade do Estado (Orre, 2008), além de
que não se entendia como é que a democratização com base em
eleições podia harmonizar-se com a aceitação de autoridades não
eleitas e legitimadas pela tradição.

1.5. Legitimidade do Poder Local em Moçambique

O Quadro 5 abaixo foi elaborado com base na seguinte pergunta: “diga


qual a sua opção em relação as afirmações apresentadas”.

Quadro 4: Poder tradicional e poder municipal

Poder Frequência (%)

As AT devem conservar um poder equivalente ao


26 4,8
do Presidente da Câmara Municipal

As AT devem conservar algum poder, mas o


Presidente da Câmara Municipal deve ter maior 464 86,1
autoridade

As AT devem apenas aparecer em cerimónias e não


39 7,2
devem ter outro poder

O sistema de AT deve ser completamente abolido 10 1,9

36
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Total 539 100

Fonte: Organização dos autores

Dos 539 indivíduos que responderam ao questionário, 86,1%


escolheram a afirmação: Autoridades Tradicionais (ou Régulos) devem
conservar algum poder, mas o Presidente da Câmara Municipal deve ter
maior autoridade. Porém, no mesmo Quadro 5, pode ver-se que existe
outro grupo, 1,9% dos inquiridos, que considera que o sistema de AT
deve ser completamente abolido. Desse modo, pode concluir-se que a
generalidade de cidadãos inquiridos considera as AT como parte
integrante do poder local.

1.6.Pluralidade Politica do Poder Local

Partindo da questão do pluralismo jurídico-administrativo observado


em Moçambique pediu-se aos inquiridos que escolhessem só uma das
cinco afirmações a seguir indicadas em resposta à seguinte questão:
“até que ponto concorda ou discorda das seguintes afirmações abaixo?”

Os Grupos Dinamizadores (GD) e Autoridades Tradicionais (ou


Régulos) (AT) devem trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal,
bem como com autoridades distritais;

Os GD devem trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal


(incluindo autoridades distritais);

As AT devem trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal


(incluindo autoridades distritais);

Os GD devem ser abolidos definitivamente;

As AT devem ser abolidas definitivamente.

37
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Na análise dos resultados obtidos no Quadro 6, pode ver-se que existe


um total de 85,7% de pessoas inquiridas que concorda ou concorda
muito com a articulação entre AT, Grupos Dinamizadores (GD) e
Câmara Municipal, bem como com as autoridades distritais. Este
resultado reforça as bases que deram origem à publicação do decreto-lei
n.º 80/2004, que estabelece critérios de legitimação, no caso dos líderes
tradicionais, através de seleção validada mediante as regras da
respectiva comunidade (art. 8º), enquanto os secretários de bairro ou
aldeia deverão ser escolhidos segundo mecanismos da respectiva
comunidade local ou grupo social (art. 9º) (Meneses, 2009).

Quadro 5: Pluralismo Jurídico-administrativo em


Moçambique: Articulação entre AT,GD CM

Articulação entre AT, Grupos Dinamizadores e


Conselho Municipal, bem como com autoridades Frequência (%)
distritais

Concordo muito 125 26,7

Concordo 276 59

Nem discordo nem concordo 43 9,2

Discordo totalmente 21 4,5

Nem quero ouvir 3 0,6

Total 468 100

Fonte: Organização dos autores

O grupo de participantes que discorda ou nem quer ouvir falar dessa


articulação é apenas de 5,1%. A resposta sugere, portanto, que o
número de cidadãos que rejeita o papel das AT é diminuto, o que pode
ser traduzido no interesse crescente

38
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

pelas autoridades tradicionais e a sua relação com o Estado, enquanto


tema central ao debate político no mapa do continente africano.

Em relação à articulação entre o Conselho Municipal (incluindo


autoridades distritais) e os Chefes Tradicionais, o Quadro 7 mostra que
50,8% de pessoas discorda totalmente ou nem quer ouvir da questão,
enquanto 23% concorda ou concorda muito com essa articulação. Estas
respostas parecem mostrar que é percebido pela população um
antagonismo entre as Autoridades Tradicionais e o Conselho
Municipal, considerando o papel histórico das AT quer no regime
colonial, quer a sua experiência no regime socialista do pós-
independência.

Quadro 6: Pluralismo Jurídico-administrativo em


Moçambique articulação entre CM e chefes tradicionais

Articulação entre CM (incluindo autoridades


Frequência (%)
distritais) e Chefes Tradicionais

Concordo muito 18 3,9

Concordo 89 19,1

Nem discordo nem concordo 123 26,3

Discordo totalmente 233 49,9

Nem quero ouvir 4 0,9

Total 467 100

Fonte: Organização dos autores

Considerando o Quadro 8, verifica-se que 39,2% dos respondentes


discorda totalmente ou não quer ouvir falar da articulação entre o
Conselho Municipal e Grupos Dinamizadores, enquanto 39% concorda

39
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

ou concorda muito com essa articulação. Esses resultados sugerem uma


clara divisão de opiniões entre o grupo de inquiridos.

Quadro 7: Pluralismo Jurídico-administrativo em


Moçambique articulação entre CM e GD

Articulação entre CM (incluindo autoridades


Frequência (%)
distritais) e Grupos Dinamizadores

Concordo muito 24 5,2

Concordo 156 33,8

Nem discordo nem concordo 101 21,9

Discordo totalmente 176 38,1

Nem quero ouvir 5 1,1

Total 462 100

Fonte: Organização dos autores

O Quadro 9 mostra a posição dos respondentes face à questão da


abolição das Autoridades Tradicionais: 92,6% discorda totalmente ou
nem quer ouvir falar da extinção das AT, enquanto 2,2% se manifesta a
favor. Este resultado dá a ideia de que as populações atribuem às AT
um papel central na Administração Pública. Como dissemos antes, as
Autoridades Tradicionais são mediadoras e contraponto do poder
central e municipal, mesmo que este tome a forma do poder municipal
na sua forma originária na Europa.

40
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Quadro 8: Pluralismo Jurídico Administrativo em


Moçambique abolição dos Chefes Tradicionais

Abolição dos Chefes Tradicionais Frequência (%)

Concordo muito 4 0,8

Concordo 7 1,4

Nem discordo nem concordo 25 5,2

Discordo totalmente 349 72,1

Nem quero ouvir 99 20,5

Total 484 100

Fonte: Organização dos autores

No que diz respeito aos Grupos Dinamizadores, conforme o quadro 10,


11,88,3% das pessoas discorda totalmente ou nem quer ouvir falar da
sua abolição contra apenas 4,4% que se manifestam a favor da
extinção, pese embora o seu papel histórico. De facto, durante a luta
armada de independência de Moçambique e, sobretudo, no pós-
independência, os Grupos Dinamizadores passaram a desempenhar o
papel das AT (Autoridades Tradicionais ou Régulos), identificando-se
com estas por indicação da Frelimo, sem, no entanto, terem adquirido o
mesmo peso das Autoridades Tradicionais.

Quadro 9: Pluralismo Jurídico Administrativo em


Moçambique abolição dos GD

Abolição dos Grupos Dinamizadores Frequência (%)

Concordo muito 10 2,1

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Concordo 11 2,3

Nem discordo nem concordo 34 7,2

Discordo totalmente 327 69,7

Nem quero ouvir 87 18,6

Total 469 100

Fonte: Organização dos autores

Do confronto da teoria prismática com a análise do desenvolvimento


administrativo em Moçambique e com a análise dos dados empíricos,
verifica-se que a cultura e a estrutura política tradicionais têm uma
importância central. Desse modo, a administração local não se esgota
nas leis que traduzem modelos importados, mas tem que ser lida nas
práticas administrativas e no comportamento dos habitantes.

A observação destas distorções ou refrações obriga, necessariamente, a


um outro tipo de estudo mais em profundidade, de confronto entre o
papel das autoridades administrativas formais e das autoridades
tradicionais.

Na nossa opinião, as práticas e as rotinas administrativas não são uma


fotocópia das intenções do legislador, nem pura e simplesmente a
tradução do pensamento tradicional. A análise empírica não explica
completamente a teoria prismática, mas confirma que tal teoria
constitui uma aproximação explicativa da formação do poder local em
Moçambique.

A figura do régulo representava o elo articulador entre a administração


colonial e a população na localidade ou posto administrativo. Neste
sentido, a figura do régulo foi, fundamentalmente, um instrumento ao
serviço da administração colonial. O mesmo já não acontecia com a
figura de chefe tradicional, salvo nos casos em que este assumia,
coincidentemente, também as funções de régulo (Mutaquinha, 1998, p.

42
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

9).

Em Moçambique, chamaram-se Grupos Dinamizadores às organizações


de base da sociedade, durante a luta pela independência de
Moçambique. Trata-se de células criadas pelo partido de base da
Frelimo, organização que assumiu o poder político após a
independência.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos fundamentalmente


três itens em termos de considerações gerais á disciplina de
Contabilidade Geral:
1. Evolução da Administração Pública Moçambicana;
2. Administração Local de Moçambicana e;

1.7. Exercícios de auto avaliação

1. Os portugueses chegaram a Moçambique nos finais do Sec. XV,


a caminho da Índia.
a) Explique as razões que ditaram a colonização em África no
geral e em Moçambique em particular.
b) Diga como foi implemento o processo de administração nos
primeiro séculos de colonização sob o comando do Marques
de pombal?
2. A criação de concelhos em Moçambique foi um processo lento.
a) Explique como este processo foi realizado em Moçambique?
b) Indique os anos de fundação das seguintes cidade e a razão da
sua fundação
 Ilha de Moçambique;
 Cidade da Beira;
 Cidade de Maputo.
3. Quando é que a capital Moçambicana foi transferida da Ilha de
Moçambique para a cidade de Maputo e quais foram as razoes

43
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

que ditaram esta mudança?

4. Na sequência da conferência de Berlim, o Estado Português


optou por uma Administração indirecta que assentava na
diferenciação entre Europeus e Africanos.
a) Segundo a afirmação acima indicada, onde e quando foi
realizada a conferencia de Berlim?
b) Quais as principais medidas tomadas na conferencia de
Berlim e quais forma as consequências para África?
c) Quais eram os direitos e deveres dos Africanos e Europeus
diante da Administração colonial.

5. A Lei 5/78, de 22 de Abril, vem dar um ar novo a


Administração em Moçambique pós independência. Qual foi o
dado novo introduzido pela referida Lei?

6. Faça uma diferenciação evolutiva entre a Constituição da


República de Moçambique de 1975 e a CRM de 1990?

7. Quando forma instituídas as primeiras autarquias em


Moçambique.

1.8.Resolução dos Exercícios de Autoavaliação

1 a) As razões que ditaram a colonização em África no geral e em


Moçambique em particular são:

 A procura dos metais preciosos (ouro, prata e bronze);


 Marfim;
 Mais tarde no século XVIII o comércio de escravos.

b. Durante os primeiros séculos de colonização, o território de

44
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Moçambique integrou o Estado da Índia, com sede em Goa. No


contexto das reformas iluministas do império português, o Marquês de
Pombal separou a administração de Moçambique do governo da Índia,
concedeu-lhe autonomia administrativa (1752) e financeira (1755) e
ordenou, em 1761, a instalação de câmaras municipais nas principais
povoações da colónia, elevadas a vilas na mesma altura. Desse modo,
em 1763, foram criados municípios na Ilha de Moçambique e em
Quelimane; no ano seguinte, no Ibo, Sena, Tete e Zumbo; e em data
desconhecida, entre o final de 1763 e Maio de 1764, em Sofala e
Inhambane (Rodrigues, 1998; Teixeira, 1990).

2. a) A Ilha de Moçambique, cidade em 1818, ;

Cidade da Beira 1907

Maputo 1898

3. A capital moçambicana foi transferida da Ilha de Moçambique para


Maputo no ano de 1898,devido ao, crescimento ligado à importância do
Transval.

4. a) A conferência de Berlim foi realizada em 1884-1885, em Berlim


na Alemenha.

b) A administração colonial organizou campanhas de ocupação


efectivas do território e reorganizou a administração da colónia. No
centro e norte, o território foi arrendado a grandes companhias
capitalistas, algumas das quais, a companhia de Moçambique e a
companhia do Niassa, tinham poderes majestáticos não exploravam
apenas economicamente o território, como asseguraram o exercício da
autoridade administrativa nas áreas concessionadas.

c) O Estado português optou por uma administração indirecta, que


assentava na diferenciação entre europeus e nativos. Os primeiros
estavam sujeitos ao direito e às instituições europeias, nomeadamente
as municipais; os segundos, aos direitos costumeiros e às autoridades
tradicionais, legitimadas por poder colonial. Alguns moçambicanos,

45
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

uma pequena minoria, tinham emprego na economia capitalista e


sabiam ler e escrever português, pelo que tinham o estatuto de
“assimilados”, mas tinham uma posição inferior à dos europeus. No
auge da colonização, durante o Estado Novo, acentuou-se a criação de
estruturas administrativas fortemente centralizadoras em que as
estruturas municipais eram uma extensão do poder central, tal como,
acontecia na metrópole colonial. Na sequência da reforma
administrativa ultramarina de 1933, a colónia era dirigida por um
governador-geral, compondo-se de três províncias, por sua vez
divididas em distritos com um administrador. A nível local, a malha
administrativa, na sequência da estabelecida já em 1914, distinguia-se
em concelhos municipais, nos principais centros urbanos, e em
circunscrições, nas zonas rurais, em ambos os casos, administrados por
autoridades nomeadas.

5. A nova legislação introduziu a uma mudança significativa na


filosofia subjacente à mencionada lei 3/94, conforme o Quadro 1. Para
muitos autores, houve uma clara regressão sob o ponto de vista do
aprofundamento do processo democrático. As maiores críticas dirigem-
se, por um lado, ao facto de a lei 2/97 se aplicar a um número restrito
de cidades e vilas, e, por outro lado, não contemplar as comunidades e
não promover o envolvimento das autoridades tradicionais. O Quadro 1
mostra claramente as diferenças entre as duas concepções de poder
local, já que na primeira lei, a 3/94, é manifesta a importância
concedida às Autoridades Tradicionais, consideradas um poder de
facto. Existiriam, assim, poderes legitimados pelo voto popular e
poderes tradicionais, que não são eleitos.

6. A Constituição de 1990 introduziu profundas mudanças políticas,


como o pluralismo político e a existência de autonomias locais, e
também económicas, nomeadamente pelo abandono do sistema de
economia planificada e pela consagração da economia de mercado. O
novo texto constitucional estabeleceu a separação dos órgãos do poder
local, que passaram a ser dotados de personalidade jurídica própria face

46
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

ao aparelho administrativo central

Na sequência das mudanças constitucionais, em Maio de 1992, o


Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL),
que tinha por objectivo a reformulação do sistema de administração
local do Estado e a sua transformação em órgãos locais com
personalidade jurídica própria e dotados de autonomia administrativa e
financeira. Em consequência, foi aprovada a lei 3/94, de 13 de
Setembro, que estabeleceu a “institucionalização dos distritos
municipais e representando o primeiro instrumento normativo de
descentralização” (Trindade, 2003).

7.1998

47
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

UNIDADE Temática II

: 2.0. Objectivos específicos

2.1. A velha e nova Administração Local;

2.2. As Empresas Municipais e Intermunicipais;

2.3 Concessão da Exploração de Serviços Públicos;

2.4 Regulamentação, Fiscalização e Tarifas;

2.5 Relação entre o Poder Central e o Poder Local;

2.6 A Razão do Controlo;

2.7 Cidadania e o Controlo;

2.8.0. Organização da Tutela Administrativa;

2.8.1. Órgãos de Tutela;

2.8.2.Órgãos centrais;

2.9.0.O MAEFP como órgão central da tutela Administrativa;

2.9.1. A Inspecção Administrativa do Estado;

2.9.2Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa;

2.9.3. Acções Correctivas;

2.9.4 O Ministério da Economia e Finanças;

2.9.5 A inspecção Geral das Finanças;

2.9.6. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento;

2.9.7 Os Meios dos órgãos de Tutela; 2.9.8 A inspecção;

2.9.9 O inquérito;

2.9.10.Sindicancia;

48
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

2.9.11 Ratificação;

2.9.12 Exercícios de Autoavaliação;

2.9.13. Resolução dos exercícios de autoavaliação

Introdução

Logo após a implementação da administração pública pelo Governo moçambicano, surge a


necessidade de descentralização, devendo esta ser de forma gradual devido a escassez
dos recursos. Sedo assim no âmbito da descentralização surge as Autarquias Locais e
consequentemente a necessidade de haver algum tipo de controlo. A Lei 1/2008, de 16 de
Janeiro permite ao Município criar empresas ao nível municipal.

2.0. Objectivos específicos

 Fazer uma retrospectiva da Administração numa perspectiva


local;
 Explicar a natureza e a importância do controlo numa autarquia
local.

No final desta unidade temática o estudante deverá ser


capaz de:

1. Segundo a lei 1/2008, de 16 de Janeiro, explicar o processo de


instituição das empresas municipais;
2. Explicar como ocorre a relação entre o poder central e o poder
local numa autarquia;
3. Definir o controlo numa autarquia local
4. Indicar o papel do cidadão no controlo de uma autarquia local;
5. Falar da tutela Administrativa e os órgãos de tutela;
6. Indicar o papel do Ministério da Administração Estatal e
Função Publica como órgão central de Tutela Administrativa;
7. Indicar e explicar os meios dos órgãos de tutela.

49
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

2.1. A Velha e a Nova Administração Local

2.1.1 As empresas municipais e intermunicipais

Segundo a Lei 1/2008, de 16 de Janeiro, que reformula o sistema


tributário autárquico e harmoniza com a Lei base do sistema tributário,
Lei n15/2002, de 26 de Julho, bem como introduzir alterações com
vista à observância da Lei n 9/2002, de 12 de Fevereiro, Lei que aprova
o sistema de Administração Financeira do Estado, no seu artigo 38
determina:

As autarquias Locais podem criar serviços autónomos ou empresas


publicas autárquicas para satisfação de necessidades colectivas das
respectivas populações, quando tais necessidades sejam de interesse
relevante para a colectividade e/ou a gestão autónoma se mostre a
solução mais eficiente.

A sua aprovação é da competência é da Assembleia Municipal ou de


Povoação e a criação de empresas públicas autárquicas nos termos do
número anterior, mediante proposta fundamentada do competente órgão
executivo, devendo tal proposta ser acompanhada das necessárias
demonstrações de viabilidade nos aspectos económicos, técnico e
financeiro, e instruída com poderes que a lei tornar obrigatórios.

Os serviços autónomos a que a lei acima indicada é gerida em termos


empresarias, por conta e risco das autarquias gozando de autonomia
administrativa e financeira.

2.2. Concessão da Exploração de Serviços Públicos

Segundo os números 1,2,3, do artigo 39 da Lei 1/2008, de 16 de


Janeiro, a Assembleia Municipal ou de povoação pode autorizar a
concessão de serviços públicos pelos

50
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

órgãos executivos das autarquias locais, desde que o interesse público


se mostre devidamente assegurado

A escolha do concessionário tem lugar mediante concurso público a


realizar com observância da legislação em vigor.

Segundo a lei, são nulas e de nenhum efeito as concessões ou qualquer


outra forma de autorização para a exploração de serviços públicos.

2.3.Regulamentação, Fiscalização e Tarifa

No artigo 40 da mesma lei, no número um e dois, os serviços cuja


exploração seja de concessão estão sujeitos à regulamentação e à
fiscalização da administração autárquica, cabendo igualmente aos
órgãos executivos autárquicos aprovar a respectiva política tarifária.

O Presidente do conselho municipal ou de povoação pode rescindir os


contratos de concessão ou de exploração, sempre que se verifique
actuação em desconformidade com as cláusulas contratuais, lesiva do
interesse público, ou quando os serviços venham funcionando em
condições manifestamente insatisfatórias de atendimento das
necessidades dos utentes.

2.5.A Relação entre o Poder Central e o Poder Local

A autarquia local como pessoa colectiva descentralizada é autónoma


quanto a hierarquia do Estado. Significa isto que não há subordinação
hierárquica da autarquia local em relação ao Estado- Administração.
Contudo, a não subordinação hierárquica não leva as Autarquias Locais
a tornarem-se independentes do poder central. Por outras palavras,
como escreve (Jaime Gerente), a criação dos municípios não liberta o
Estado da sua responsabilidade global

51
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

sobre o País e o funcionamento dos diversos órgãos legal e


constitucionalmente existentes.

Moçambique é um Estado unitário, as Autarquias Locais desenvolvem


as suas actividades no quadro da unidade do Estado e organizam-se
com pleno respeito da unidade e do ordenamento Jurídico nacional.
Assim o número 1 do artigo 188 da Constituição refere que: o poder
local tem como objectivos organizar a participação dos cidadãos na
solução dos problemas próprios da sua comunidade, promover o
desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da
democracia, no quadro da unidade do Estado Moçambicano. Do mesmo
modo o número 2 do artigo19 da Lei 2/97, de 18 de Fevereiro, e pelo
número 1 do artigo 3 da Lei 7/97, de 31 de Maio, que estabelece o
regime jurídico da tutela Administrativa do Estado a que estão sujeitas
as autarquias locais.

Esta questão do controlo constitui um dos problemas centrais do


processo de mudança de gestão autárquica, razão por que desperta
posições, se não contraditórias, pelo menos díspar quanto ao âmbito,
profundidade e implicações do processo de controlo que deve incidir
sobre as autarquias locais e se entende deve ser de natureza análoga
definido para Administração Pública no Geral. Como escreve Joaquim
dos Santos Carvalho, não deveria haver qualquer tipo de controlo sobre
os actos praticados, excepto que decorresse da acção dos particulares
dos eleitores, Admitido o controlo a posteriori exercido pelo tribunal de
contas em processos de fiscalização sucessivas as contas da autarquia.
De outro lado, os que entendem que a reforma constitucional e a
legislação entretanto produzida ao manter apenas acautela e nem
garante o bom uso dos dinheiros Públicos.

O princípio de autonomia das autarquias locais, num estado como


Moçambique deve conciliar-se com exigências inversas que resultam
de um outro princípio constitucional: o da indivisibilidade do território
da República.

A Lei organiza a fiscalização da actividade dos órgãos das autarquias

52
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locais pelos agentes do Estado. Ela implanta uma tutela Administrativa.


O conceito designa o conjunto de meios de controlo que o poder central
dispõe sobre as autarquias locais, ou por outras palavras, consiste no
conjunto de poderes de intervenção de uma pessoa colectiva pública na
gestão de outra pessoa colectiva, a fim de assegurar a legalidade ou
mérito da sua actuação.

A tutela Administrativa apresenta-se sob a forma de um conjunto de


poderes limitados atribuídos pela Lei ou em virtude dela, a uma
autoridade superior, com fim de garantir o respeito do direito e de
salvaguardar o interesse geral contra a inércia, o excesso e a invasão
dos agentes descentralizados. Assim a tutela Administrativa tem por
fim assegurar em nome da entidade tutelar, que a entidade tutelada
cumpra as leis em vigor e garantir que sejam adoptadas soluções
convenientes e oportunas para a prossecução do interesse Público. Por
outras palavras a tutela tem por fim o respeito da legalidade e a
protecção do interesse geral ou de uma forma, é deste modo que através
da tutela administrativa o Estado garante que os órgãos do município
realizem as suas actividades em obediência aos comandos da
Constituição da Republica e demais legislação vigente no País. “e um
controlo que tem uma natureza administrativa porque ela é
implementada e realizada pela Administração do Estado.

O controlo Administrativo de tutela incide sobre a legalidade dos actos


praticados pelas autarquias locais e exerce-se, em principio ex post
facto, isto é depois do facto, ou por outras palavras depois que o acto
praticado ganhe força executória.

Do ponto de vista teórico e prático, a figura da tutela administrativa,


não pode confundir-se com a noção de controlo hierárquico. Com
efeito, deve-se distingui-la do poder hierárquico pelo facto de que este
tipo de poder é na sua essência o que um chefe exerce sobre os seus
subordinados ( o superior Hierárquico tem a faculdade de apreciar o
acto do seu subordinado segundo critérios tanto de oportunidade como
de legalidade. Ele dispõe do poder de reformar ou substituir por um
novo praticado pelo seu subordinado).

53
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

O poder de tutela, pelo contrário é muito diferente. Ele não estabelece


um relacionamento entre um superior hierárquico e seus subordinados,
mas entre o fiscal (a autoridade de controlo e os fiscalizados (os órgãos
da pessoa publica sob controlo). Disto resulta que seja um poder
condicionado: o controlo não se presume ele só se exerce nos caso e
nas formas previstas pela Lei. O que quer dizer que a tutela
Administrativa do Estado só pode limitar a autonomia das autarquias
locais, nos termos estabelecidos pela Lei e não como uma competência
geral, tal como a que se relaciona com o poder hierárquico.

A tutela Administrativa não comporta a possibilidade de dar ordens.


Por outras palavras na área de competência própria das Autarquias
Locais as instruções, as injunções, as ordens dos órgãos dos Estados
Administração são proibidas. Em teoria, enquanto o poder central deve
deixar a iniciativa e a responsabilidade aos agentes descentralizados e
censurar só os seus eventuais excessos de poder, no regime de controlo
hierárquico, pelo contrário, a qualidade de superior hierárquico induz
implicação direito de apreciar o acto do seu subordinado em função das
exigências que estão tão ligadas tanto a oportunidade quanto a
legalidade das decisões.

Do mesmo modo, a tutela Administrativa não se confunde com os


poderes dos órgãos de poder jurisdicional da Administração da
Administração pública e com certos controlos internos da
Administração tais como a sujeição, a autorização ou aprovação por
órgão da mesma pessoa colectiva pública.

A tutela administrativa implica prerrogativas reduzidas da parte da


Administração central. A autonomia dos órgãos descentralizados é a
regra, a tutela é a excepção. As disposições que estabelecem o regime
jurídico dos poderes de tutela são de interpretação estrita.

Os órgãos das autarquias Locais sob controlo tem a responsabilidade


dos interesses deste e só são obrigados em direito pelas leis,
regulamentos e princípios gerais de direito. A autoridade de controlo
pode fazer respeitar estes últimos, mas não pode acrescentar, por sua

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própria iniciativa prescrições complementares ou substituir-se aos


órgãos da autarquia Local para suprir ou substituir-se aos órgãos da
autarquia local para suprir uma omissão município fazendo o que este
não fez.

2.5. A Razão do Controlo

O controlo exercido pelo estado, é necessário pelo menos por três


razoes: em primeiro lugar a salvaguarda da unidade política e o respeito
da legalidade necessita de um controlo de Estado é a tutela que garante
o respeito das Autarquias locais pelo interesse geral e que assegura a
coordenação eficiente entre os diversos interesses parcelares de cada
uma das comunidades com supremo interesse colectivo.

De uma outra forma a figura da descentralização como solução de


liberdade, favorecendo a educação política dos cidadãos, seria inútil se
o poder central pudesse intrometer-se na gestão de serviços públicos
descentralizados e substituir as decisões da nova colectividade,
regularmente adoptadas pelos dos seus agentes. Em contrapartida se
necessário for a descentralização não deve e não pode privar o Estado
do direito de controlar os serviços públicos criados pelas autarquias
locais. Caso contrário, pode assistir-se à diluição de toda a autoridade
numa feudalidade de organismos independentes. O Estado deve manter
a coerência do sistema unitário:

A segunda razão baseia-se no facto de que a autarquia local poder ser


vítima da má gestão dos seus representantes. O estado deve, então
intervir para estabelecer uma gestão sã. Parafraseando Geoges Vedel e
Pierre Delvolvé , Neusa liberdade se exerce sem riscos e o risco de
uma Administração imperfeita é o preço da liberdade dos interessados
em gerir eles próprios os seus assuntos.

Finalmente, o controlo é do próprio interesse dos indivíduos que


possam ter necessidade de protecção contra a autoridade

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

descentralizada.

Não é o princípio de uma tutela do Estado sobre as autarquias locais


que é credível; é só o seu eventual carácter discriminatório as suas
diversificações de toda a natureza. O princípio da tutela Administrativa
em si próprio, é perfeitamente admissível. O Controlo do Estado sobre
as autarquias locais é necessário pois é o único meio de que ele dispõe
para garantir o respeito do interesse geral ou de protecção dos
interesses nacionais. Por outras palavras a descentralização não existe
sem tutelas em descentralização. Estamos em face de duas noções
indissoluvelmente ligadas porque a tutela é a tradição Jurídica da
descentralização: ela aí encontra ao mesmo tempo a sua origem e seu
fim.

O Estudo do controlo do Estado sobre as autarquias locais necessita, em


primeiro lugar de apresentar a sua organização. Antes de analisar em
segundo lugar, as modalidades segundo as quais ele está implementado.

2.6.A Cidadania e o Controlo

.O controlo pode ser de natureza política através daquilo que Maurice


Hauriou, chamava Poder de sufrágio. Depois do fim do mandato dos
titulares e membros dos órgãos das autarquias locais, o cidadão será o
Juiz aquando da nova eleição da gestão dos responsáveis dos seus
órgãos e poderá sancionar, politicamente, se tiver lugar, os eleitos que
segundo a sua livre opinião não responderam às suas esperanças.

Acontece que, durante o seu mandato, a maioria dos eleitos locais, e


isto é o caso na maioria dos países democráticos, não perderam de vista
que eles devem evitar frontalmente conhecer mal as suas promessas
eleitorais, comprometer a autarquia local em aventuras financeiras ou
por outras palavras, a presença do eleitor, o boletim de voto que ele
detêm são de natureza a travar, e mesmo impedir certas iniciativas dos
eleitores locais que seriam mal entendidas pela opinião que as acharia

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pouco justificáveis ou onerosas em comparação com as vantagens que


elas são susceptíveis de apresentar para o interesse geral.

A segunda forma de controlo que o cidadão municipal pode


desempenhar é o de natureza jurisdicional. As Decisões e as
deliberações dos órgãos da Autarquia local constituem, na maior parte
dos casos, actos administrativos unilaterais. Com efeito, todos os
administrados podem impugnar contenciosamente, por meio de recurso
contencioso de anulação dos actos que lhes prejudicam artigo 81. 82 da
CRM.

A demais, a alínea f) do número 1 do artigo106 da lei n˚ 2/97, de 18 de


Fevereiro, precisa que são nulas, independentemente da declaração dos
tribunais, as decisões dos órgãos autárquicos (….) que violem direitos
fundamentais dos cidadãos.

Além disso, quando uma pessoa, singular ou colectiva, sofre um


prejuízo por causa de uma decisão legal da administração municipal, no
exercício de actividades de gestão privada ou de gestão pública, ela tem
o direito de indemnizar a autarquia local com vista à reparação do
prejuízo sofrido.

2.7.0. Organização da Tutela Administrativa

A tutela administrativa pertence ao Estado que a exerce através de


órgãos de tutela, dispondo de meios específicos de intervenção e de
controlo.

2.7.1. Órgão de Tutela

Operar-se a uma distinção entre os órgãos centrais da tutela


administrativa e as suas componentes desconcentradas.

2.7.2. Órgãos Centrais

A tutela Administrativa do Estado cabe ao Governo. Ela é exercida,


segundo os termos do número 1 do

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artigo8 da Lei n7/97, de 31 de Maio, pelo ministro que superintende a


função Pública e a Administração Local do Estado e pelo ministro que
superintende a área das finanças, no domínio das respectivas áreas de
competência.

Assim, se a Lei atribui aos Ministros da Administração Estatal (A), por


um lado, e ao do Plano e Finanças (B) por outro, a competências
exercício de poderes de tutela, é preciso analisar essas atribuições em
relação às administrações centrais chefiadas pelos respectivos ministros
que vão fornecer os recursos humano se os meios materiais necessários
ao exercício do controlo de tutela. Fica bem claro que esses
departamentos ou serviços dos ministérios referidos actuam ou decidem
em nome dos ministros componentes, visto que só elas tem
competência, por força de lei para decidir nesta matéria da tutela
administrativa.

2.7.3.O Ministério da Administração Estatal e Função


Pública como Órgão Central da Tutela Administrativa

Dentro das estruturas internas do Ministério da Administração


Estatal(a) a Inspecção Administrativa do Estado desenvolve um papel
relevante em matéria de controlo administrativo.

As estruturas internas relevantes no ministério da Administração Estatal


em matéria de organização territorial.

O Ministério da Administração Estatal e Função Pública é o órgão


central da tutela Administrativa. Como titular, entre outras atribuições
da coordenação do processo da descentralização da administração local,
da implementação das normas sobre a organização territorial, da
promoção de diligências que concorram para o exercício da tutela
administrativa, do Estado sobre as Autarquias Locais da inspecção da
Administração Pública e de prosseguir e desenvolver o processo de
descentralização, o Ministério da Administração Estatal e a estrutura

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Governamental mais indicada para exercer a tutela Administrativa


sobre as autarquias locais.

Beneficiando, por um lado, de estruturas centrais especializadas


directamente ligadas às áreas da organização territorial e de gestão de
recursos humanos do Estado (Direcção Nacional da Administração
Local, Direcção Nacional da Função Pública, Inspecção Administrativa
do Estado, tendo na maioria contribuído nos estudos preparatórios do
conjunto da regulamentação sobre o processo de descentralização e por
outro, de representações provinciais através das Direcções Provinciais
de Apoio e Controlo (SP), este Ministério era o mais indicado para
garantir, a título principal o controlo do Estado sobre as Autarquias
Locais.

Dentro do conjunto das estruturas internas do Ministério da


Administração Estatal, interessadas nas actividades de controlo, a
Inspecção Administrativa do Estado desempenha um papel
especialmente importante.

2.7.4. Inspecção Administrativa do Estado

A inspecção Administrativa do Estado, faz parte integrante da Estrutura


do Ministério da Administração Estatal. Ela é dirigida por um
inspector-geral, nomeado pelo Ministério da Administração Estatal.
Estrutura Orgânica da Inspecção Administrativa do Estado é constituída
por um corpo de inspectores Administrativos nomeados pelo Ministro
da Administração Estatal, sob proposta do Inspector-geral, e de uma
Secretária.

De uma maneira geral, a inspecção administrativa do Estado tem por


funções:

 Verificar o cumprimento e aplicação das normas procedimentos


administrativos nas instituições centrais e locais do Estado ou
sub tutela do Ministério da Administração Estatal;

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

 Fiscalizar a aplicação das normas sobre a estrutura, organização,


recursos humanos e documentação do aparelho do Estado;
 Verificar o funcionamento dos serviços Administrativos;
 Exercer acções inspectivas específicas por determinação
superior;
 Denunciar junto do Ministério Público as ilegalidades
detectadas no exercício da sua actividade.

Especialmente como um órgão de apoio no âmbito do exercício da


tutela Administrativa, a inspecção Administrativa é encarregue de:

 Fiscalização dos procedimentos Administrativos em


municípios;
 Realizar inquéritos e sindicâncias nos órgãos, Municipais;
 Prestar orientações aos órgãos municipais uniformizando a
interpretação e aplicação da Lei;
 Prestar informação ao Governo sobre a Administração Local;
 Proceder à instrução de Processos de inquéritos e sindicância
nos órgãos do aparelho municipal;
 Controlar o funcionamento legal das instituições dos
Municípios.

Assim, a actividade da inspecção Administrativa do Estado tem


principalmente por objectivos aspectos jurídicos administrativos e
disciplinares da acção da administração das Autarquias Locais. Não se
deve ter uma aproximação ou uma abordagem apenas repressiva da
actuação da inspecção Administrativa do Estado como escreve o
inspector-geral da Administração do Estado, a relação que deve existir
entre os órgãos (das autarquias locais) e a inspecção Administrativa do
Estado deve ser de complementaridade de tal modo que haja
transparência na governação o que reforçará a unidade nacional, o
aprofundamento da democracia, a reconciliação da família
Moçambicana e a estabilização política economia do País.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Assim, é mais na direcção de uma frutuosa colaboração entre os órgãos


das Autarquias Locais e os agentes da inspecção Administrativa do
Estado que devem caminhar as suas futuras relações, sobretudo no
inicio da implementação do processo de autacização. Neste sentido a
alínea e) do artigo 6 do Diploma ministerial no 141/94, de 30 de
Novembro, tem um conteúdo que permite instaurar este tipo de
relações. Com efeito, conforme esta disposição regulamentar, uma das
funções da inspecção administrativa é a de emitir recomendações e
propor aos níveis de decisão competente as acções correctivas.

Estas disposições poderiam permitir à inspecção Administrativa


implementar pelo menos, dois tipos de acções. A primeira situa-se num
plano geral e pode apresentar-se antes da acção de inspeccionar
propriamente dita; a segunda é concomitante com acção de inspecção.

2.7.5. Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa

Podem distinguir-se dois domínios nos quais a Inspecção


Administrativa do estado pode desenvolver a sua função pedagógica.

Em primeiro lugar, a pedagogia da inspecção administrativa do Estado


poderia consistir num trabalho de explicação o e de informação do
direito vigente. Sabemos todos que o pacote legislativo relacionado
com as Autarquias Locais é um corpus Luris complexo que necessita
de comentários e interpretações que muitas vezes algumas
irregularidades cometidas tem as suas raízes não na má-fé do agente
que praticou o acto suspeito de irregularidades, mas em razão do não ou
mau conhecimento da legislação vigente. A Inspecção Administrativa
poderia, sob a forma de recomendações não vinculativas, ou outras
formas de documentos informativos, trazer ao conhecimento dos órgãos
das autarquias locais uma determinada informação sobre a aplicação ou
a interpretação das disposições legislativas ou regulamentares que
podem suscitar dúvidas ou interrogações do lado dos órgãos das

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Autarquias Locais.

Neste sentido, devemos acrescentar que este verdadeiro dever de


informação deve estender-se à divulgação das decisões jurisdicionais
dos tribunais em relação aos assuntos locais. A Divulgação dos
acórdãos do tribunal Administrativo de Moçambique relativos á
interpretação das disposições legislativas ou regulamentares vigentes,
por exemplo, poderiam ser muito úteis às partes interessadas, seja para
a Administração pública do Estado ou seja para Administração das
Autarquias Locais.

A segunda acção pedagógica da parte da inspecção Administrativa do


Estado , que poderia ser implementada soba forma de recomendações
não vinculativas ou outras formas de documentos informativos ,
consistiria em aproveitar a sua própria experiencia no seu trabalho
concreto de inspecção, junto das autarquias locais , para informar os
órgãos das Autarquias Locais de situações ilegais que foram
observados e dos meios mais adequados para as corrigir .

Assim a inspecção poderia jogar um papel de prevenção de situações


potencial ou virtualmente ilegais.

2.7.6. Acções Correctivas

O resultado de uma acção de inspecção pode revelar situações não


conforme ao direito vigente. As irregularidades detectadas, de uma
forma geral, não serão todas da gravidade que necessita de uma
denúncia junto do Ministério Público, dos elementos constitutivos de
ilícito criminal, nos termos da alínea h) do artigo 6 do diploma
ministerial n14/94, de 30 de Novembro alínea b) do Artigo 3 do
Decreto n 51/95, de 14 de Novembro. Na maior parte dos casos, as
irregularidades praticadas serão susceptíveis de ser corrigidas e
sanadas. Nestes casos, a pedagogia que se exprime através dos erros
cometidos e dos meios a empregar para restabelecer uma situação

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

conforme à legalidade, encontra-se nas acções correctivas que visam


concretamente, tornar o acto praticado conforme ao direito vigente.
Como estabelece a alínea e) do Artigo 6 do diploma ministerial no
14/94, de 30 de Novembro são funções da inspecção Administrativa.
Emitir recomendações e propor aos níveis de decisão competente as
acções correctivas.

De modo geral, como escreve Carlos Lwanga Sabonete, a Inspecção


Administrativa do Estado caso detecte algo anormal no processo de
inspecção, inquérito ou sindicância informará aos agentes responsáveis
por centros de decisão superiores sobre irregularidades e inobservância
de normas administrativas a fim de proporcionar a revisão correctiva
dos actos administrativos ilegais sem prejuízo de exercer as
competências que lhe são próprias.

A resultante deste conjunto de acções é a Inspecção Administrativa


deveria assumir, no futuro, um papel importante na elaboração e
reformulação da legislação no domínio do desenvolvimento da
Administração Pública Municipal.

No que concerne às relações com outras inspecções e mais


particularmente, a inspecção-geral de finanças, o princípio é de que os
inspectores Administrativos do Estado estabelecerão uma cooperação,
sempre que isso se mostre conveniente a prossecução dos objectivos
comuns. Os corpos de inspecção em geral e a inspecção Administrativa
do Estado em particular, deveriam constituir um dos melhores reflexos
da evolução das relações do Estado com as autarquias locais e um
agente essencial da sua modernização. Além do controlo exercido, a
inspecção Administrativa do Estado poderia actuar como assessor
estratégico do Ministro da Administração Estatal nesta matéria, avaliar
as políticas sectoriais implementadas e propor medidas de
racionalização, de cooperação, de eficácia e o seu melhoramento.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

2.7.7. Ministério da Economia Plano e Finanças

O controlo dos actos relativos à gestão financeira das Autarquias Locais


é atribuído ao Ministro da Economia Plano e Finanças como, garante da
correcta utilização dos fundos pelas entidades públicas, da execução,
controlo e contabilização dos meios financeiros do orçamento do
Estado e da inspecção e controlo da utilização dos fundos do Estado.
Ele exerce este controlo financeiro externo, mas particularmente
através da inspecção-geral de finanças. Trata-se de uma fiscalização
realizada por um organismo externo independentemente da entidade
fiscalizada. O exercício da tutela Administrativa não abrange
unicamente acções de fiscalização. Ela compreende também
ratificações. A direcção Nacional do Plano e Orçamento está
encarregue da instrução dos processos das ratificações no que diz
respeito aos actos financeiros da Autarquias Locais sujeitos à
ratificação.

Além dessas estruturas, é preciso realçar as atribuições das Direcções


Provinciais da Economia e Finanças, nomeadamente a função de
acompanhar o surgimento e funcionamento das autarquias em função
de regulamentação própria e instrução superior, quer em apoio
metodológico quer em interacção profunda incluindo a alocação de
bens materiais e recursos humanos indispensáveis ao fortalecimento do
processo de autarcisação.

2.7.8. A Inspecção Geral das Finanças

A inspecção-geral das finanças foi criada em 1990 pelo diploma


ministerial n 29/90, de 21 de Março como um serviço no Ministério das
Finanças e confere ao Inspector-Geral de Finanças a autoridade para
proceder à auditoria e inspeccionar os Ministérios do Governo de
Moçambique, empresas estatais,

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serviços Públicos, Governos Locais, empresas privadas em que o


Governo de Moçambique possui a participação em 20% ou mais,
empresas privadas que tenham recebido empréstimo do Governo
Moçambicano e embaixadas Moçambicanas no estrangeiro.

A alínea h) do diploma Ministerial n2/97, de 1de Janeiro, consagra a


Inspecção-geral de finanças como órgão central do Ministério do Plano
e finanças e funciona na directa dependência do respectivo Ministro. O
seu estatuto orgânico foi aprovado pelo Decreto n 40/99, de 29 de
Junho. A inspecção-geral das finanças é dirigida por um inspector-geral
e um inspector-geral Adjunto são nomeados pelo despacho do ministro
das finanças. A nível regional funcionam as delações regionais da
inspecção das finanças, cujo objectivo, funções e forma de organização
são definidos no diploma ministerial n 57/2000, de 21 de Junho.

A inspecção-geral das finanças é estruturada a nível central, em


departamentos e repartições. Dentro do conjunto dessas estruturas é
preciso realçar a existência do departamento de inspecção às autarquias
(DIA).

O diploma ministerial n 2/97, de 1 de Janeiro revoga o diploma


Ministerial n 2/90, de 21 de Março e Precisa as funções da inspecção-
geral de finanças.

Mas particularmente, no que concerne ao controlo financeiro externo


das Autarquias Locais, a inspecção-geral de finanças poderá:

 Realizar inspecções e exames às escritas) Autarquias Locais;


 Proceder a inquéritos que por virtude do decurso das inspecções
se mostrem necessários;
 Proceder a inquéritos e sindicâncias.
 Levantar e instruir autos de transgressão, quando no decurso ou
em resultado em resultado de inspecções inquéritos,
sindicâncias detectem infracções às leis fiscais.

Pertencer-lhe-á o controlo da gestão financeira e patrimonial através de


inspecções ou de auditorias financeiras e desempenho não só dos

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

cofres, das contas e dos serviços financeiros das Autarquias Locais,


mas também das suas unidades dependentes. Nesta perspectiva, pode-se
pensar especialmente no controlo financeiro dos serviços
autonomizados ou das empresas municipais.

No que concerne à planificação do controlo, o numero 2 do artigo 80 da


lei n 11/97, de 31, de 31 de Maio, prevê que as Autarquias com
categoria de município devem ser inspeccionadas ordinariamente pelo
menos duas vezes no período de cada mandato dos respectivos órgãos.

2.7.9. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento

A Direcção Nacional do Plano e Orçamento do Ministério do Plano e


Finanças constitui um órgão central. As suas funções constam do artigo
13 do diplomam Ministerial n 2/97, de 31 de Janeiro. Todavia, o artigo
referido não estabelece nenhuma função específica em relação ao
processo de ratificação dos actos autárquicos sujeitos à ratificação. Na
altura da aprovação do Estatuto Orgânico do Ministério do Plano e
Fianças ( 1 de Janeiro de 1997, Lei n 2/97, de 18 de Fevereiro não
estava, por definição aprovado o referido diploma ministerial não podia
consagrar funções ou relação a colectividades que ainda não existiam
formalmente.

De facto, esta função foi atribuída repartição do Orçamento Provincial


do Departamento do Orçamento desta direcção cujo serviço é o
encarregado da instrução do processo dos actos sujeitos a esta
modalidade de controlo.

2.8.0. Meios dos Órgãos de Tutela

O exercício da tutela Administrativa carece da criação de meios


destinados a garantir a efectividade do controlo da legalidade dos actos
das Autarquias Locais. Estes meios

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estão expressamente definidos pelo número 1 do Artigo 4 da lei n0


7/97, de 31 de Maio. Trata-se da Inspecção, do Inquérito, da
Sindicância e da Ratificação. O conjunto destas Técnicas estão
especificadas nos artigos 5,6 e 7 da Lei n0 7/97, de 31 Maio. Estes
meios representam um conjunto de técnicas e procedimentos com vista
a concretizar dois fins ou a realizar dois objectivos: a verificação da
legalidade dos actos Administrativos das Autarquias Locais e a
verificação do mérito dos actos administrativos nos casos e nos termos
expressamente previstos na Lei.

Nesta perspectiva, só trataremos, nos desenvolvimentos a seguir das


estruturas das modalidades de controlo. A Inspecção, o inquérito, a
sindicância e a ratificação . o fundo e o conteúdo da versificação da
legalidade serão abordados desenvolvimentos ulteriores.

2.8.1. A Inspecção

O número 2 do artigo 5 da Lei n 4 /97, de 31 de Maio define a


inspecção como o conjunto de operações que consistem na verificação
da conformidade, com a Lei dos actos administrativos praticados e dos
contratos celebrados pelos órgãos e serviços das Autarquias Locais. O
conteúdo deste dispositivo legislativo permite distinguir estritamente
esta noção daquela que consta dos artigos 8 e 9 do Decreto n 42:082/58,
de Dezembro, que consagram um conceito muito mais abrangente de
acções inspectivas.

De forma geral, no processo de trabalho de inspecção, os inspectores


devem verificar, analisar e tecer observações no que diz respeito, ao
cumprimento e aplicação das normas e procedimentos Administrativo,
à observância de normas sobre prestação de serviços públicos. As
acções inspectivas enquadram-se num plano anual de actividades ou de
trabalho (Inspecção Ordinária) ou mandatada superiormente para casos
ou objectivos especificamente determinados (inspecção extraordinária).

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

2.8.2. O Inquérito

O número 3 do Artigo 5 da Lei 7/97, de 31 de Maio no que concerne à


definição do inquérito precisa: o Inquérito consiste na averiguação da
legalidade dos actos administrativos dos órgãos e serviços das
Autarquias Locais em virtude de denúncia fundada ou ainda, quando
resulte de informações e recomendações de uma inspecção anterior.

O objectivo do controlo no inquérito permanece idêntico ao da


inspecção. Nos dois casos trata-se de verificar a conformidade de actos
e contratos administrativos em relação de um modo geral, à Lei. O que
distingue o inquérito da inspecção é o sujeito da iniciativa do processo
de controlo. A inspecção pressupõe já uma planificação prévia das
acções inspectivas, o que quer dizer que a iniciativa pertence
exclusivamente à Administração Pública. No caso do inquérito a
iniciativa é mista. Por um lado, a iniciativa do controlo tem as suas
raízes nas informações e recomendações de uma inspecção anterior, o
que deixa oportunidade da iniciativa do controlo à Administração
Pública, mas por outro, o controlo pode ter os seus fundamentos numa
denúncia fundada o que quer dizer que é uma entidade (outros órgãos
da Administração ou particulares) que se situa fora da inspecção que
está na origem do desencadeamento do processo de controlo.

A Lei não prevê expressamente os pormenores da tramitação


processual do inquérito. Todavia, como o fim é idêntico ao da
inspecção, não há motivo para ter uma abordagem diferente desta.

2.8.3. Sindicância

A sindicância consiste, segundo as disposições do número 4 do artigo 5


da Lei7/97, de 31 de Maio na indagação profunda e global da
actividade dos órgãos e serviços da Autarquia Local, quando existam
indícios de ilegalidade que pelo seu volume ou gravidade, não passam
ser averiguados no âmbito de mero

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inquérito. Por outras palavras, trata-se de averiguação geral acerca do


funcionamento dos serviços. O processo de sindicância pode regular-se,
em primeiro lugar, pelas orientações gerais relacionadas com as acções
inspectivas e, em segundo lugar, pelo dispositivo do Artigo215 do
EGFAE, como direito subsidiário com as necessárias adaptações.

Diogo Freitas do Amaral, citado pelo Giles Cistac, resumiu


perfeitamente conteúdo próprio a cada um destes métodos de controlo:
Inspeccionar significa examinar as contas e documentos de um
organismo, a fim de verificar-se tudo se encontra de acordo com as leis
aplicáveis. Se suspeita da existência de uma situação geral de
ilegalidades numerosas e imputáveis a várias pessoas, procede-se uma
sindicância; pelo contrário, se pretende fazer apenas uma inspecção de
rotina, ou verificar da legalidade de certo acto ou de comportamento de
um dado individuo, procede-se a um inquérito.

Assim a diferença destes dois reside por lado, e na pessoa titular da


iniciativa do desencadeamento do processo de controlo, por outro
diferente na sua concepção é a ratificação.

2.8.4. Ratificação

Do Latim medieval ratificação, composto de ratum (confirmado) e


facere (fazer), entende-se a aprovação ou confirmação de acto jurídico
praticado por outrem. A ratificação consiste na aprovação, pelos órgãos
de tutela, a que ficam sujeitos certos actos administrativos dos órgãos
de tutela, a que ficam sujeitos certos actos administrativos dos órgãos
das Autarquias Locais, para se tornarem exequíveis. Assim, a
ratificação entende-se por acto jurídico já praticado, isto é existente.

Nos termos do número 2 do artigo 6 da Lei n 7/97, de 31 de Maio,


carecem de ratificação do órgão tutelar os actos administrativos dos
órgãos autárquicos expressamente indicados na Lei, bem como os que
tenham por objectivo:

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 Aprovar o plano de desenvolvimento da Autarquia Local;


 Aprovar o orçamento;
 Aprovar o plano de ordenamento do território;
 Aprovar o quadro de pessoal;
 Aprovar a contracção de empréstimos de amortização
plurianual.

Independentemente destas técnicas de controlo, os órgãos de tutela


administrativa do Estado podem solicitar informações e
esclarecimentos sobre decisões administrativas dos órgãos e serviços
das Autarquias Locais.

O artigo 13 da lei n 7/97, de 31 de Maio prevê uma sanção radical


contra os órgãos colegiais da Autarquia Local que se obstem à
realização de inspecção, inquérito ou sindicância, quando se recusem a
prestar informações e esclarecimentos aos agentes da inspecção ou
facultar-lhes o exame aos serviços e a consulta de documentos. É a
dissolução do órgão recalcitrante. Por detrás da qualidade das técnicas
de controlo implementadas é preciso ter em vista que o objectivo a
atingir é o bom funcionamento do processo de controlo da legalidade,
para realizar este fim. Como escreve Ancha Elisa Carneiro, é
importante o estabelecimento de um sistema de recolha e análise de
informações e esclarecimentos, com vista à verificação atempada da
legalidade dos actos autárquicos. O que só será possível com base num
clima de confiança mútua entre as partes envolvidas, capacitação e
fortalecimento institucional das mesmas.

Já insistimos atrás, nos desenvolvimentos relativos a apresentação da


Inspecção Administrativa do Estado sobre necessidade de instaurar
um bom relacionamento entre as entidades controladas e a autoridade
de controlo. O sucesso deste processo encotra-se na criação de um
ambiente de confiança mútua entre os interessados. Em estrita
colaboração, como parceiros que partilham um objectivo comum que é

70
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

o cumprimento da legalidade.

Sumário

Nesta Unidade temática 2 estudamos e discutimos fundamentalmente


três itens em termos de considerações gerais á disciplina de
Contabilidade Geral:
1. Empresas Municipais e intermunicipais
2. Autarquia Local
3. Tutela Administrativa, Controlo

2.8.5. Exercícios de autoavaliação

1. Por tuas próprias palavras, defina os seguintes conceitos:


a) Tutela Administrativa;
b) Hierarquia.

2. A não subordinação hierárquica da autarquia Local em relação


ao Estado não leva as autarquias a tornarem-se independentes
do poder central.
a) Como é efectuado o controlo das autarquias locais pelo
poder central?

3. Quais são os problemas despoletados pela questão de controlo


na autarquia local ?

4. Quais as reais razões da realização do controlo a uma autarquia


loca pelo Governo central?
5. A quem cabe realizar a tutela Administrativa a uma autarquia
local?

6. Dentro da estrutura interna do MAEFP (Ministério da


Administração Estatal e Função Pública), a inspecção
administrativa do Estado desenvolve

71
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

um papel relevante em matéria de controlo administrativo.


a) Explique qual é o papel da inspecção Administrativa na
realização do controlo?
b) Explique em que consiste a acção pedagógica da inspecção
Administrativa.
c) Qual é o papel da DNPO (Direcção Nacional do Plano e
Orçamento?

2.8.6 Resolução dos Exercícios de autoavaliação

1c) o termo hierarquia significa a existência de escalões de


responsabilidade, saindo do mais novo ao mais velho.

1. A Lei organiza a fiscalização da actividade dos órgãos das autarquias


locais pelos agentes do Estado. Ela implanta uma tutela Administrativa.
O conceito designa o conjunto de meios de controlo que o poder central
dispõe sobre as autarquias locais, ou por outras palavras, consiste no
conjunto de poderes de intervenção de uma pessoa colectiva pública na
gestão de outra pessoa colectiva, a fim de assegurar a legalidade ou
mérito da sua actuação. A tutela Administrativa apresenta-se sob a
forma de um conjunto de poderes limitados atribuídos pela Lei ou em
virtude dela, a uma autoridade superior, com fim de garantir o respeito
do direito e de salvaguardar o interesse geral contra a inércia, o excesso
e a invasão dos agentes descentralizados. Assim a tutela Administrativa
tem por fim assegurar em nome da entidade tutelar, que a entidade
tutelada cumpra as leis em vigor e garantir que sejam adoptadas
soluções convenientes e oportunas para a prossecução do interesse
Público. Por outras palavras a tutela tem por fim o respeito da
legalidade e a protecção do interesse geral ou de uma forma, é deste
modo que através da tutela administrativa o Estado garante que os
órgãos do município realizem as suas actividades em obediência aos
comandos da Constituição da Republica e demais legislação vigente no
País. “e um controlo que tem uma natureza administrativa porque ela é

72
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

implementada e realizada pela Administração do Estado. O controlo


Administrativo de tutela incide sobre a legalidade dos actos praticados
pelas autarquias locais e exerce-se, em principio ex post facto, isto é
depois do facto, ou por outras palavras depois que o acto praticado
ganhe força executória.

2 a) Moçambique é um Estado unitário, as Autarquias Locais


desenvolvem as suas actividades no quadro da unidade do Estado e
organizam-se com pleno respeito da unidade e do ordenamento Jurídico
nacional. Assim o número 1 do artigo 188 da Constituição refere que: o
poder local tem como objectivos organizar a participação dos cidadãos
na solução dos problemas próprios da sua comunidade, promover o
desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da
democracia, no quadro da unidade do Estado Moçambicano. Do mesmo
modo o número 2 do artigo19 da Lei 2/97, de 18 de Fevereiro, e pelo
número 1 do artigo 3 da Lei 7/97, de 31 de Maio, que estabelece o
regime jurídico da tutela Administrativa do Estado a que estão sujeitas
as autarquias locais.

3. Esta questão do controlo constitui um dos problemas centrais do


processo de mudança de gestão autárquica, razão por que desperta
posições, se não contraditórias, pelo menos díspar quanto ao âmbito,
profundidade e implicações do processo de controlo que deve incidir
sobre as autarquias locais e se entende deve ser de natureza análoga
definido para Administração Pública no Geral. Como escreve Joaquim
dos Santos Carvalho, não deveria haver qualquer tipo de controlo sobre
os actos praticados, excepto que decorresse da acção dos particulares
dos eleitores, Admitido o controlo a posteriori exercido pelo tribunal de
contas em processos de fiscalização sucessivas as contas da autarquia.
De outro lado, os que entendem que a reforma constitucional e a
legislação entretanto produzida ao manter apenas acautela e nem
garante o bom uso dos dinheiros Públicos.

O princípio de autonomia das autarquias locais, num estado como


Moçambique deve conciliar-se com exigências inversas que resultam
de um outro princípio constitucional: o

73
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

da indivisibilidade do território da República

4. O controlo exercido pelo estado, é necessário pelo menos por três


razoes: em primeiro lugar a salvaguarda da unidade política e o respeito
da legalidade necessita de um controlo de Estado é a tutela que garante
o respeito das Autarquias locais pelo interesse geral e que assegura a
coordenação eficiente entre os diversos interesses parcelares de cada
uma das comunidades com supremo interesse colectivo. O princípio da
tutela Administrativa em si próprio, é perfeitamente admissível. O
Controlo do Estado sobre as autarquias locais é necessário pois é o
único meio de que ele dispõe para garantir o respeito do interesse geral
ou de protecção dos interesses nacionais. Por outras palavras a
descentralização não existe sem tutelas em descentralização. Estamos
em face de duas noções indissoluvelmente ligadas porque a tutela é a
tradição Jurídica da descentralização: ela aí encontra ao mesmo tempo a
sua origem e seu fim.

5. A tutela administrativa a uma Autarquia local cabe ao Ministério da


Administração Estatal e Função Pública.

6 a) A inspecção Administrativa do Estado, faz parte integrante da


Estrutura do Ministério da Administração Estatal. Ela é dirigida por um
inspector-geral, nomeado pelo Ministério da Administração Estatal.
Estrutura Orgânica da Inspecção Administrativa do Estado é constituída
por um corpo de inspectores Administrativos nomeados pelo Ministro
da Administração Estatal, sob proposta do Inspector-geral, e de uma
Secretária.

De uma maneira geral, a inspecção administrativa do Estado tem por


funções:

 Verificar o cumprimento e aplicação das normas procedimentos


administrativos nas instituições centrais e locais do Estado ou
sub tutela do Ministério da Administração Estatal;
 Fiscalizar a aplicação das normas sobre a estrutura, organização,

74
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

recursos humanos e documentação do aparelho do Estado;


 Verificar o funcionamento dos serviços Administrativos;
 Exercer acções inspectivas específicas por determinação
superior;
 Denunciar junto do Ministério Público as ilegalidades
detectadas no exercício da sua actividade.
b) Podem distinguir-se dois domínios nos quais a Inspecção
Administrativa do estado pode desenvolver a sua função
pedagógica.
Em primeiro lugar, a pedagogia da inspecção administrativa
do Estado poderia consistir num trabalho de explicação o e
de informação do direito vigente. Sabemos todos que o
pacote legislativo relacionado com as Autarquias Locais é
um corpus Luris complexo que necessita de comentários e
interpretações que muitas vezes algumas irregularidades
cometidas tem as suas raízes não na má-fé do agente que
praticou o acto suspeito de irregularidades, mas em razão do
não ou mau conhecimento da legislação vigente. A
Inspecção Administrativa poderia, sob a forma de
recomendações não vinculativas, ou outras formas de
documentos informativos, trazer ao conhecimento dos
órgãos das autarquias locais uma determinada informação
sobre a aplicação ou a interpretação das disposições
legislativas ou regulamentares que podem suscitar dúvidas
ou interrogações do lado dos órgãos das Autarquias Locais.

c) A Direcção Nacional do Plano e Orçamento do Ministério do Plano e


Finanças constitui um órgão central. As suas funções constam do artigo
13 do diplomam Ministerial n 2/97, de 31 de Janeiro. Todavia, o artigo
referido não estabelece nenhuma função específica em relação ao
processo de ratificação dos actos autárquicos sujeitos à ratificação. Na
altura da aprovação do Estatuto Orgânico do Ministério do Plano e
Fianças ( 1 de Janeiro de 1997, Lei n 2/97, de 18 de Fevereiro não
estava, por definição aprovado o referido diploma ministerial não podia

75
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

consagrar funções ou relação a colectividades que ainda não existiam


formalmente.

De facto, esta função foi atribuída repartição do Orçamento Provincial


do Departamento do Orçamento desta direcção cujo serviço é o
encarregado da instrução do processo dos actos sujeitos a esta
modalidade de controlo.

76
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

UNIDADE Temática III;

Introdução;

3.0.Objectivos específicos;

3.1.Novos Instrumentos de gestão;

3.2 Operacionalização do conceito de descentralização;

3.3 Enquadramento Histórico politico;

3.4 O Conceito de Descentralização;

3.5Formas de Descentralização;

3.6.0 Enquadramento legislativo da lei 3/94 das Eleições Autárquicas de


Junho de 1998;

3.6.1. Reformas Administrativas;

3.6.2. Opções de descentralização para Moçambique;

3.6.3. uma primeira análise crítica do processo de descentralização e


desconcentração;

3.7.0. As Autarquias Locais;

3.7.1. O Concelho;

3.7.2. Classificação dos Municípios;

3.7.3. Atribuições Municipais;

3.7.4. “órgão da Administração municipal;

3.8.0 Serviços Especiais;

3.8.1.os Serviços Municipalizados;

3.8.2 Regime financeiro das Autarquias locais;

3.9.0. As agências doadoras multilaterais e bilaterais;

77
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.9.1. Participação: Autarquia Parceira (Cooperação lusófona);

3.9.2 áreas de cooperação;

3.9.3. Formação de quadros;

3.9.4 Cultura e património histórico;

3.9.5 Infra-estrutura, saneamento básico, urbanismo e ambiente; Geminações


Portugal Moçambique;

3.10.0 Protocolos entre ICP e a ANMP;

3.10.1 Na área de educação e formação de quadros;

3.10.2. Na área de infra-estruturas, saneamento básico, urbanismo e


ambiente;

3.11.0. Outras instituições;

3.11.1. Análise da CIM com Moçambique;

3.11.2. Operacionalização da CIM;

3.11.3. Conteúdo da CIM;

3.11.4. Formas da CIM;

3.11.5. CIM nas Relações Internacionais;

3.11.6. Potencialidades e limitações da CIM;

3.11.7 O Desenvolvimento Local- As novas autoridades;

3.11.8 Exercícios de Autoavaliação;

3.11.9 Resolução dos Exercícios de Autoavaliação

78
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Introdução

Devido as semelhanças climáticas, culturais entre outros, as Autarquias Locais abrem um novo
campo de acção denominado cooperação intermunicipal. O surgimento das autarquias
locais, suas características e funcionamento.

3.0. Objectivos específicos

 Explicar o processo da descentralização;


 Analisar o surgimento das primeiras autarquias locais;
 Analisar a cooperação intermunicipal (Geminações).

No final desta unidade temática cada estudante deverá


ser capaz de

1. Diferenciar a descentralização da desconcentração;


2. Explicar os processos que levaram Moçambique a adoptar o
modelo de descentralização;
3. Explicar o processo das reformas Administrativas;
4. Explicar o âmbito do surgimento das Autarquias Locais;
5. Analisar a Cooperação Intermunicipal (CIM);

3.1.0. Novos Instrumentos de Gestão

3.1.1. Operacionalização do conceito de descentralização

O termo descentralização tem sido aplicado a vários tipos de


iniciativas. Por vezes o conceito refere-se à privatização, ou seja à
transferência de tarefas antes desempenhadas formalmente pelo Estado
para o sector privado. Na medida em que se agrega tanto a
descentralização (o poder passa do Governo central para as empresas

79
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

privadas) e a democratização (alarga) a escolha dos clientes), muitos


autores defendem este tipo de descentralização. Todavia, há que
considerar que muitas vezes as empresas, dada a sua grandeza, mais
não fazem do que assumir esse poder não ocorrendo assim qualquer
tipo de descentralização. Actualmente, este fenómeno é muito comum
dada a mundialização das empresas que se substituem, muitas vezes
nos Países em desenvolvimento, ao próprio Estado.

Em segundo lugar, o termo descentralização é muitas vezes relacionado


com descentralização, no sentido em que há uma dispersão dos agentes
do Governo central pelos níveis mais baixos. Se na verdade, a
desconcentração é feita pelas autoridades máximas democraticamente
eleitas, tal facto ganha relevância na discussão de uma governação
democrática. Mas, normalmente, este processo é conduzido por
Governos que não são eleitos democraticamente, pelo que esta pratica
muitas vezes é utilizada como forma de permitir uma maior penetração
e controlo nos níveis mais baixos e na sociedade civil.

Em terceiro lugar, a descentralização por vezes refere-se a


transferências fiscais, em que o nível mais elevado num sistema cede o
controlo orçamental e o poder de decidir financeiramente aos níveis
hierarquicamente mais baixos.

Por último, a descentralização está ligada ao conceito de delegação, ou


seja, a transferência de recursos, tarefas, poder de decisão para as
autoridades hierarquicamente inferiores, que são ou independentes do
Governo central, ou democraticamente eleitas. Deste modo, a
“delegação”, encarada como uma descentralização democrática será o
conceito que irá ser utilizado neste estudo, pelo que sem recorrer a
conceitos do direito civil e administrativo, a descentralização pode ser
definida como a Organização das actividades da administração
central fora do Governo central, podendo ser através de:

 Medidas administrativas (e fiscais) que permitam a


transferência de responsabilidades e recursos para agentes
criados pelos órgãos da administração central; ou

80
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

 Medidas políticas que permitam a atribuição, pelo Governo


central, de poderes e responsabilidades e recursos específicos
para autoridades locais.

Alguns autores consideram que a descentralização ideal é um misto de


descentralização administrativa, fiscal e política.

3.2. Enquadramento Histórico Politico

Desde os anos de 1980 que Moçambique está a conhecer rápidas e


significativas mudanças económicas, politicas e administrativas. As
origens dos actuais problemas políticos e administrativos remontam ao
período colonial e do pos- independência, em 1975. Moçambique
herdou um conjunto de práticas administrativas colónias que não eram
as adequadas para um País africano recém- independente. A partida
funcionários civis e técnicos de origem portuguesa, pos a
independência, dificultou a necessária transformação da administração
colonial, que não procurou responder às necessidades de educação e
formação da população local para actividades administrativas e
técnicas.

Sob a liderança do antigo movimento de libertação de Moçambique,


FRELIMO, Moçambique independente tornou-se num Estado
Socialista de partido único, baseado nos princípios do centralismo
democrático. Num sistema político e administrativo muito
hierarquizado, as regiões careciam de autonomia de recurso e quadros
para administrar as suas respectivas áreas. O terceiro congresso da
FRELIMO em 1977, declarou a sua intenção de avançar com a
descentralização administrativa do Estado e com a criação de postos
provinciais, distritais e administrativos baseados no poder popular.
Apesar destas declarações, o poder de decisão cabia em ultima
instancia ao partido e as funções dos seus órgãos regionais, distritais,
locais nunca foram claramente definidas. Mesmo o mais modesto
desempenho de alguns destes órgãos

81
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

não pode ser melhorado devido ao crescente conflito político, que


culminou com a guerra e o seu opositor político, a Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO).

A deterioração da Economia, a destruição das estruturas sócio


económicas e da Administração Pública devido a guerra e a falta de
capacidade económica, administrativa e técnica, tiveram efeitos
devastadores na situação política económica de Moçambique. O
aumento da pobreza, a importante migração e deslocação da população
em finais dos anos de 1980 obrigou a que em 1987 fosse lançado um
programa de reabilitação económica. Em 1990, foi aprovada uma
reforma constitucional que introduziu a democracia pluralista e
multipartidária. Finalmente em 1992, com o apoio da comunidade
internacional, foi assinado em Roma um acordo geral de Paz que pôs
fim ao conflito armado entre a FRELIMO e a RENAMO constituindo
um ponto de viragem na situação do País confirmando e consolidando
mudanças económicas e politicas fundamentais em curso desde finais
dos anos 80, nomeadamente: o Programa de reabilitação económica
iniciado em 1987.

A nova constituição que introduziu o pluralismo e a democracia


multipartidária, o acordo de Paz ao redefinirem a relação entre o
Parlamento e o Executivo, permitiram a RENAMO o acesso parcial ao
poder, ainda que esse poder se circunscreve-se ao Parlamento e se
limita-se essencialmente a questões internas. Em 1994, foram
realizadas as primeiras eleições gerais multipartidárias que deram
vitória ao partido Frelimo que formou o governo sozinho e nomeou
governadores provinciais.

A Lei sobre o quadro institucional ( lei 3/94, Primeira lei sobre a


descentralização estabeleceu legalmente a autonomia dos Distritos
Municipais. o Processo sofreu porém profundas mudanças nos
últimos anos, por razões que serão desenvolvidas mais à frente. Como
resultado, um novo quadro institucional para a reforma do Governo
local, a lei 2/97.

82
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Esta lei , juntamente com outros instrumentos legais , permitiu a


realização das primeiras eleições autárquicas em Junho de 1998. A
oposição recusou-se a participar nas eleições locais devido à falta de
consensos sobre o quadro legal e institucional.

Este boicote afectou o âmbito e o ritmo do programa de


descentralização em geral. As eleições foram realizadas em 33 cidades
e vilas.

3.3.O Conceito de Descentralização

A descentralização é um conceito que tem vindo a receber definições


diferentes na literatura, com pontos diferentes de ênfase no tempo e no
espaço. As razoes de tais mudanças são diferentes pelo facto de o
conceito não ser uma constante. É importante perceber que a
descentralização não é um fim. Rondineli citado pela Irae B. Lundim
define a descentralização como a transferência ou delegação da
autoridade judicial, planeamento, tomada de decisões e gestão de
actividades de nível central as suas agências, organização no terreno de
unidades subordinadas ao governo, empresas publicas semi-autonomas
ou órgãos governamentais.

Muitos governantes têm adoptado um sistema de descentralização por


razões de naturezas diferentes. Na esfera política existem os que
aceitam o sistema como parte do processo de democratização. Em tal
quadro estrutural, o Governo central vê a necessidade de delegar alguns
poderes à instituições eleitas localmente. Isto permite uma resposta
rápida e eficaz às necessidades das populações.

Não obstante, em certos casos a descentralização foi adoptada como


uma opção para eliminar conflitos tribais e outros males no sei dos
Estados.

Na frente do Desenvolvimento, a descentralização tem sido apoiada


porque se diz que ela acelera e expande os benefícios do crescimento e

83
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

garante a distribuição equitativa dos escassos recursos nacionais.

Uma vez que os beneficiários do desenvolvimento ficam envolvidos em


todo o cíclo de planificação, a descentralização permite uma melhor
planificação da meta, dos recursos, e a mobilização dos recursos locais
para aumentar os recursos nacionais.

Os críticos têm contudo sido rápidos, ao afirmar que a descentralização


caso não seja adequadamente concebida pode levar a desequilíbrios
regionais, trazendo daí conflitos e desintegração nacional.

A descentralização se não for bem concebida pode ajudar a aumentar o


peso de tomada de decisões entre os diferentes níveis do Governo,
permitindo assim ao Governo central coordenar e delinear as políticas a
nível central.

A descentralização permite a rápida realização de projectos, uma vez


que aos gestores locais é dada a possibilidade de tomar decisões,
evitando a fita vermelha e procedimentos burocráticos associados à
centralização. Isto poupa igualmente à economia alguns fundos, através
da redução dos custos desnecessários de sobre funcionamento devido a
demora da decisão de implementação.

Como tem sido dito com frequência, um gestor próximo do problema


está melhor qualificado e posicionado para resolvê-lo
(Rondineli,1981ª)Lundim.

 A Administração central não pode conhecer duma forma mais


abrangente a complexa variedade de factores que afectam a
implementação de um bem sucedida dos projectos nas
comunidades locais ao longo do País. Na sua tentativa de
enfrentar esta incerteza, criam procedimentos grandemente
centralizados.
 Da mesma maneira, pelo medo de cometer erros nada fazem
sobre a tomada de decisões urgentes que são essenciais para a
implementação de projectos e programas locais. Como resultado
as comunidades pobres sofrem. As autoridades e funcionários

84
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

locais, por outro lado, vão tentar o melhor possível para debelar
a crise, mas quase inutilmente (B.Maphaugela, no relatório dos
trabalhos do 16 seminário anual da CPO/DOD, 23-26 de Maio
de 1994).

3.4. Formas de Descentralização

A literatura diferencia duas formas de descentralização

Desconcentração e a Devolução

A desconcentração envolve uma transferência limitada de poderes na


tomada de decisões a funcionários a nível local sem nenhum
instrumento de suporte. Contudo, devolução envolve plena autoridade
na tomada de decisões e envolvimento da comunidade a nível local,
com termos estatutários para uma acção autónoma daqueles sectores
mandatados por eles. ( Irae Baptista Lundim, Francisco Jamisse
Machava, Friendrich Eben)

3.5.0. Enquadramento Legislativo da Lei 3/94, das


Eleições Autárquicas de Junho de 1998

O problema de excessiva centralização do poder de decisão foi


oficialmente reconhecido como problema nacional em 1983. O IV
congresso da FRELIMO, caracterizou o Governo moçambicano de
então uma estrutura do topo muito pesada, com uma estrutura muito
fraca ao nível da províncias e dos distritos. Para ultrapassar este
problema, foi desenhado um complexo e multifacetado processo
político e legislativo. Em termos administrativos, identificam-se duas
linhas de acções: Desconcentração do Governo central e autarcização,
isto é, a criação de um número limitado de municípios.

85
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.6.0. Reformas Administrativas

O processo de descentralização teve o seu início em 1991, com a


elaboração pelo Governo do programa da reforma dos órgãos locais
(PROL), que tinha como objectivo a reformulação do sistema de
administração local do Estado vigente. A sua transformação em órgãos
locais com personalidade jurídica própria, distinta do Estado, dotados
de autonomia Administrativa, financeira e patrimonial. Este programa
consistia na elaboração de um diagnóstico e estudos aprofundados na
área jurídica, administrativa, financeira, de infra-estruturas e meio
ambiente da qual resultou a lei 3/94, aprovada por unanimidade pela
Assembleia monopartidaria em Setembro de 1994. Elaborada após uma
longa e intensas fases de consultas.

De referir que a Lei 3/94 é orientada por seis princípios fundamentais


que constituem a filosofia do programa de reforma dos Governos
locais , nomeadamente:

 Autonomia - é garantida a autonomia aos municípios autonomia


administrativa, financeira e patrimonial;
 Economia e simplicidade - devido à relativa escassez de
recursos humanos e financeiros de base apenas foram
contemplados, no curto prazo, um único nível de poder local;
 Pluralismo e participação é encorajada a participação dos
cidadãos nos assuntos municipais;
 Legitimidade as autarquias obtêm a sua legitimidade a partir de
um sufrágio directo e universal;
 Respeito pelas autoridades tradicionais – as autarquias estão
orientadas no sentido de respeitar e procurar criar relações
cooperativas com as autoridades locais;
 Gradualismo- na medida em que os municípios possuem fracos
recursos humanos, materiais e financeiros , podem requerer
uma extensão do período de desenvolvimento de modo a
conseguirem uma total operacionalidade.

86
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Com as primeiras eleições multipartidárias (para a presidência e


Parlamento) de Outubro de 1994 a marcarem uma etapa importante no
processo de pacificação e democratização do País, concluiu-se que já
estavam criadas as condições para se avançar, embora gradualmente,
com a descentralização pelo menos administrativa do País. Mas por
falta de clareza institucional ou por interesses ou divergências políticas,
interpretou-se como descentralização (ou prioridade na
descentralização) o processo que iria conduzir às eleições locais e a
consequente criação dos municípios urbanos e rurais a luz da Lei 3/94.

Contudo, a legislação elaborada posteriormente na tentativa de


complementar e aplicar essa lei suscitou forte oposição da RENAMO,
da UD, e de alguns elementos dentro da própria FRELIMO e duvidas
quanto à sua conformidade com a Constituição. Daí a emenda da
constituição da República através da Lei 9/96, que introduz no capítulo
algo sobre órgãos Locais do Estado os artigos 188-198 sobre o poder
local com objectivo de organizar a participação dos cidadãos na solução
dos problemas próprios da sua comunidade, estas alterações à
Constituição determinaram mudanças significativas ao previsto na Lei
3/94, substituída posteriormente e a luz da nova constituição pela lei
2/97.

A aprovação da lei 2/97 e da subsequente legislação e regulamentação


complementou a referida Lei, elaborada praticamente sem consultar ou
debater com outras forças activas ou representantes da sociedade civil,
foi objecto de grande controvérsia e divisão entre as principais forças
políticas. A Lei foi aprovada apenas com votos da FRELIMO e da UD,
tendo a RENAMO boicotado a votação e finalmente também as
próprias eleições autárquicas, devido a discordâncias várias,
nomeadamente quanto à supervisão e procedimentos do processo
eleitoral, quanto ao número limitado de municipalidades criadas locais
e centrais no mesmo espaço geográfico incluindo em termos de
finanças locais.

Não obstante a falta de consensos as principais forças políticas e o


boicote de todos os partidos da

87
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

oposição, as eleições autárquicas acabaram por se realizar. Considerada


a primeira etapa de facto do processo de descentralização. O conflito
politico que se instalou evidenciado na falta de acordo e confiança
mutua entre o Governo e principal força da oposição, a RENAMO, é
uma importante limitação para a reforma administrativa. Parecem
existir diferentes escolas de pensamento sobre a natureza da reforma
administrativa, sobre os seus motivos e princípios de base. Estas
diferentes visões não correspondem necessariamente a uma divisão
entre o Governo e a oposição.

Wigmer, considera que existem algumas indicações que apontam no


sentido de uma dupla clivagem no seio do partido FRELIMO: entre
centralizadores e descentralizadores e entre a direcção do partido e as
bases.

Brocaathem, por seu lado fez uma analise da política de


descentralização identificando três lógicas de acção contraditórias
tecnocratas patrimonial e a democrática. Conclui que o processo de
descentralização em Moçambique.

Um País em desenvolvimento, não conduz a uma verdadeira


democracia participativa. Pelo contrário Braathen, considera que há
actores que seguem uma estratégia tecnocrata e patrimonial, baseada
em práticas centralistas e numa ideologia de estudo. Defende que o
principal interesse desse grupo de actores é apoiar uma estratégia
clientista de cedência de poderem troca de valores matérias ou
económicos.

Por outro lado, também existem activistas e membros do partido com


um misto de preocupações tecnocráticas e democráticas, orientados por
interesses de valor e razão, que estão mais receptivos à ideia de
descentralização e desejosos de envolver a sociedade civil no processo
de tomada de decisões politicas. No entanto, ambas as tendências estão
nos centros do poder Estatal e controlam as elites locais do partido, que
personificam as estruturas administrativas locais.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.6.1. Opções de Descentralização para Moçambique

As aulas desta cadeira, não são sobre a política de descentralização, isto


é sobre as forças motivadoras é alógica de base da política de
descentralização. É, porém necessário perceber as principais
motivações dos actores e os principais conflitos entre ele, para
compreender a forma como a descentralização avança ou não, na
prática. Seguidamente são apresentadas as várias formas de
descentralização que estão a ser promovidas por diferentes centros de
poder, recorrendo para tal aos conceitos geralmente usados na literatura
sobre a descentralização: desconcentração administrativa e /ou fiscal
vesus delegação politica (muitas vezes como descentralização
democrática.

Há autores que consideram que a descentralização da excessivamente


centralizada administração estatal é necessária para ajudar Moçambique
as realidades do pos- guerra fria.

3.6.2. Uma Primeira Analise Crítica do Processo de


Descentralização e Desconcentração

Depois deste quadro geral é possível, desde já, fazer algumas


observações sobre o desenvolvimento do processo de descentralização
e desconcentração. Em primeiro lugar, o programa inicial (PROL) teve
por objectivo a divisão administrativa segundo um prisma de
descentralização. Porém, as primeiras eleições multipartidárias em
1994 mostraram que a Renamo conseguiu ganhar as eleições nos meios
rurais de algumas regiões do centro e norte do país. Em segundo lugar,
os diversos pacotes legislativos foram quase integralmente informados
pela legislação e pela doutrina portuguesa. Isso é patente, sobretudo, no
caso das autarquias locais. Em terceiro lugar, numa primeira fase, os
responsáveis moçambicanos ignoraram as autoridades tradicionais, mas
a evolução dos acontecimentos obrigou-os as integrar esta

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

administração. Só que a forma de integração das autoridades


tradicionais consistiu, em grande medida, na “reactualização do modelo
de administração de indirect rule que presidiu à Reforma
Administrativa Ultramarina, e que vigorou no País durante
praticamente todo o tempo colonial” (Fernandes, 2007, p. 158), mesmo
no que concerne ao reconhecimento da legitimidade dos líderes locais.

Figura 3: Pluralismo Jurídico do Poder Local em


Moçambique

Fonte: Zavale (2011)

Em conclusão, temos no mesmo território três tipos de administração,


em muitos casos sobrepondo-se e,

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

noutros, complementando-se: administração local do Estado


(desconcentrada); administração local autárquica (descentralizada); e
administração comunitária, onde podemos encontrar chefes
tradicionais, secretários de bairro, grupos dinamizadores, grupos
religiosos e não religiosos, organizações não-governamentais e outros
líderes, sendo certo que a administração comunitária não tem
autonomia, reportando ora ao município, ora à província ou ao distrito,
conforme a Figura 3.

Na prática, porém, o processo administrativo local é o resultado do


embate dos modelos administrativos importados com a cultura e
lideranças locais. As populações sempre aprendem os procedimentos
administrativos pelo entendimento das Autoridades Tradicionais
(Régulos) ao longo de séculos.

A Figura 3 reproduz o reconhecimento e a regulamentação por parte do


Estado das formas de legitimação e reconhecimento das autoridades
comunitárias, e dos modos de articulação dos órgãos locais
desconcentrados e descentralizados com as demais autoridades
(internas/externas e nacionais/não nacionais) intervenientes no espaço
local. Temos, assim, um Estado heterogéneo, potencialmente gerador
dum processo de fragmentação, sobretudo em municípios controlados
por partidos opostos ao poder central, se enraizados em culturas locais
dotadas de autonomia.

Finalmente, importa sublinhar que os modelos administrativos


convencionais foram importados da Europa, tendo havido uma forte
pressão dos doadores internacionais que impuseram a descentralização
como condição das doações. Estas formas administrativas importadas
da metrópole colonial estavam imbuídas da nova gestão pública que
impregnava toda a administração, incluindo a administração local.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.7.0. As Autarquias Locais

Podemos analisar o conceito de autarquias locais nos seus vários


elementos: a circunscrição territorial, o agregado de pessoas, os
interesses comuns, os órgãos próprios. Antes de expor o regime de cada
uma das autarquias locais, vejamos alguns elementos comuns.

Circunscrição territorial o substrato da autarquia local é um agregado


de pessoas definido pela residência em certa circunscrição do território
do Estado.

Daqui se deduz a grande importância que tem na autarquia o seu


território: trata-se de uma pessoa colectiva territorial ou da população e
território. Mas este território é talhado dentro do território do Estado,
por uma lei dimanada dos respectivos órgãos de soberania, que o
delimita ou circunscreve segundo as tradições e as conveniências da
administração.

Essa função do território do Estado pode simultaneamente ser a


circunscrição base de uma autarquia local (por exemplo, da freguesia) e
parte integrante das circunscrições de outras autarquias (concelhos,
Distrito). Em rigor a circunscrição paroquial é a base, pois o concelho
forma-se de freguesias e os distritos compõem-se de concelhos.

Como a circunscrição é uma parcela do território do Estado, mas


fundamentalmente é território do Estado, nela vigoram as leis gerais, e
a autoridade autárquica tem de ser exercida na medida prescrita por
essas leis.

O território de uma autarquia local tem um duplo pape: primeiro, o de


permitir a definição do agregado de pessoas cujos interesses serão os
fins específicos da autarquia visto esse agregado resultar da residência
dentro do espaço da circunscrição;

Segundo o de limitar a jurisdição da autarquia e a competência dos seus


órgãos em razão do lugar, visto que estes só têm autoridade no âmbito

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

da circunscrição.

É em função deste duplo papel que tem de ser considerados os


problemas tocantes ao território das autarquias.

Como o território do Estado abrange o espaço aéreo e o mar territorial,


a circunscrição de uma autarquia abrangerá esses espaços na mesma
extensão? A resposta terá de ser dada tendo em conta o que nesses
espaços corresponde a unicamente ao exercício da soberania do Estado
e que, por conseguinte, não pode entrar nos interesses vicinais. Num
conselho marítimo fazem parte da sua população as pessoas que
porventura viviam permanentemente a bordo de barcos fundeados junto
aos cais, mas isso não significa que o território da autarquia abranja
toda a porção correspondente ao mar territorial. Só que traduzir
vizinhança se integra na autarquia. O mesmo se diga do espaço aéreo,
onde a jurisdição na autarquia se estende até onde os vizinhos exerçam
o seu direito de propriedade privada, mas não mais além.

Sendo a circunscrição uma fracção do território do Estado que vai


servir de base a certa pessoa colectiva de direito público, só a lei pode
dispor do território criando o substrato da autarquia.

Na circunscrição de cada autarquia há uma povoação designada para


sede da freguesia ou do concelho ou para capital do Distrito: a tal
designação é da competência do Governo.

Agregado populacional- outro elemento da autarquia local é o


agregado de pessoas formado pela população residente na circunscrição
ou território que lhe serve de base.

Em rigor essa população constitui o primeiro elemento da autarquia na


medida em que possui interesses comuns cuja realização exige uma
comunidade de esforços e de acção. Mas tem de se falar previamente
no território visto que é pela fixação neste que se individualiza a
população.

Outrora, quando cada conselho possuía o seu direito próprio, com

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regime jurídico e fiscal privativo dos seus munícipes em que tantas


vezes existiam apreciáveis privilégios, era no foral ou no direito
consuetudinário de cada terra que tinha de ser procurada a definição
dos respectivos vizinhos.

Todos os que residam ou se encontrem na circunscrição onde a


autarquia exerça jurisdição estão sujeitos aos seus regulamentos e
posturas.

A submissão aos impostos e taxas locais depende, não de qualidade


pessoal, mas de verificação do território da respectiva circunscrição de
qualquer dos factos tributários previstos na Lei.

O mais importante direito ligado à qualidade de membro da autarquia é


o direito de sufrágio. Mas no código Administrativo esse direito foi
apenas reconhecido para eleição das juntas de freguesia.

O código Administrativo quando concede direitos ou impõe deveres ora


faz referencia ao munícipe, ora ao leitor recenseado pela circunscrição,
ora ao contribuinte de contribuições directas do Estado, devendo notar-
se a tendência para equiparar em direitos ( salvo quanto ao sufrágio) o
eleitor ou contribuinte.

Interesses comuns- A existência de umas tantas pessoas a residir em


certa fracção do território do Estado não justificaria que fossem
consideradas como um agregado a que a lei reconhecesse personalidade
jurídica se da proximidade de residência ou vizinhança não resultasse
para essas pessoas a comunidade de certos interesses que lhes conviesse
realizar pelos seus próprios meios.

Os primeiros municípios coincidiam com povoações. Era a povoação


que formava o núcleo unificado na vida jurídica, ainda que numa
civilização eminentemente rural, a povoação não pudesse subsistir sem
um aro, mais ou menos extenso, de terras cultivadas pelos respectivos
habitantes ou ao dispor de todos para usos comunais (pasto, lenhas,etc.)

O alargamento de dimensão dos concelhos urbanos e o povoamento do

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aro dos rurais levou em muitos deles a formar freguesias em cada um.

O facto de a organização local corresponder a núcleos realmente


vicinais tornava imediata a consciência dos interesses comuns. Os
vizinhos de cada lugar juntavam-se na mesma preocupação de garantir
a sua segurança regular a utilização das águas e terras comuns, manter
em bom estado os caminhos, etc.

Nos nossos dias a densidade da população e a facilidade das


comunicações esbateram o localismo de tal modo que dificilmente se
poderá dizer determinados interesses são exclusivos dos moradores de
umas localidades indiferentes aos restantes cidadãos do País.

Mas em todo caso podem discriminar-se os interesses mais próximos


dos habitantes de cada localidade ou de um grupo de localidades
situadas em certa circunscrição, em relação a outros interesses de
carácter mais geral.

Por outro lado, há que atender à facilidade de realização dos interesses.


Aos agregados locais deve ser deixada a satisfação daquelas
necessidades que eles possam conseguir pelos seus próprios meios mais
rápida e ajustadamente, mesmo quando não sejam apenas locais e se
justifique a comparticipação do Estado nas despesas a que esta
satisfação dê lugar.

Estes dois critérios proximidade dos interesses, eficiência da realização


– levam a admitir certa diferenciação entre as autarquias , pois não só
os interesses comuns são de diferentes carácter consoante se trata de
freguesia, de conselho ou de distrito como dentro de cada uma destas
categorias não deverão ser medidas pela mesma bitola as autarquias
dos agregados urbanos ou rurais e sobretudo, os interesses das grandes
cidades e das modestas povoações .

Os problemas principais acerca da definição dos interesses autárquicos


–as atribuições da autarquia local –levantam-se sobretudo em relação
ao concelho. Aí os examinaremos a propósito das atribuições

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

municipais.

Órgãos das autarquias locais – os corpos administrativos Na medida


em que a lei reconhece como dignos de protecção jurídica os interesses
comuns dos agregados populacionais definidos pela residência em certa
circunscrição do território Estado, erige estes agregados em pessoas
colectivas, o que implica a formação de órgãos próprios.

Por definição, esses órgãos devem exprimir a vontade que convém á


pessoa colectiva, pois lhe é normalmente imputável, isto é, devem
querer o que importa à realização dos interesses dela e não doutros.

Não tem que ver a propriedade dos órgãos da autarquia- órgãos dos
seus interesses, capazes de tomar decisões e deliberações definitivas e
executórias – com o modo de escolha dos seus titulares. O auto-
Governo dos agregados, isto é, a escolha dos titulares dos órgãos da
autarquia por sufrágio dos próprios membros desses agregados, pode
ser uma garantia de que órgãos se mantenham fies aos interesses da
autarquia mas não é essencial à natureza dela.

Cada categoria de autarquias locais pode ter vários tipos de órgãos. Mas
é comum a todos o tipo denominado corpo administrativo.

Esta expressão pertence ao vocabulário importado da França nos


primórdios da experiencia do sistema administrativo. Na verdade, é na
Constituição Francesa do ano III, ou do Directório que, a par do corpo
legislativo composto pelos dois conselhos, dos quinhentos e dos
anciãos, aparecem no título VIII os corpos administrativos.

De entre os órgãos colegiais das autarquias, é a eles que está confiada a


gestão permanente dos respectivos interesses ao contrário dos
conselhos municipais ou de distrito que reúnem uma ou duas vezes no
ano, em sessões.

Por isso a definição que convém aos corpos administrativos é a de


órgãos colegiais de gestão permanente dos interesses das autarquias

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locais.

3.7.1. O Concelho

O Município, expressão tradicional da Administração local


autárquica. Historia- A forma típica tradicional da administração
local autárquica é o município.

Nalguns países pode dizer-se que os termos concelho e município têm


sido considerados sinónimos: o concelho é a autarquia local que tem
por base territorial a circunscrição municipal.

Mas em rigor, trata-se de noções distintas, pois que há instituições


municipais sempre que os próprios vizinhos gerem directamente, ou por
órgãos que os representem, em regra eleitos, os interesses locais.

Podem, pois admitir-se dois conceitos de município: o conceito lato,


que identifica o município com qualquer núcleo populacional em que
os órgãos autárquicos sejam constituídos por pessoas que façam parte
do respectivo agregado; e o conceito restrito, que limita a designação de
município ao concelho, isto é, à autarquia local cujo território é a
circunscrição municipal.

É duvidoso porém que o actual concelho possa ser considerado directo


sucessor do município medieval.

3.7.2. Classificação dos Municípios

Vamos agora entrar no estudo da organização administrativa dos


municípios. Começaremos pela classificação que com maior ou menor
amplitude e extensão de efeitos, as nossas leis desde os primórdios da
municipalização mandam fazer.

Três critérios podem ser adoptados: o da Índole social dos municípios,


o da população e o fiscal.

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O critério da índole social dos municípios leva à classificação


fundamental em duas grandes ordens: a dos municípios urbanos e dos
municípios rurais.

São municípios urbanos aqueles em que a parte principal da


população está aglomerada num mesmo centro residencial e aí exerce
toda a espécie de profissões numa ampla divisão e especialização do
trabalho. Desta complexa actividade e da aglomeração populacional
nascem os problemas característicos das cidades os de arruamento,
habitação, higiene, cultura física e intelectual, expansão, segurança,
comunicações, abastecimento, iluminação, assistência etc. Os
concelhos urbanos subdividem-se conforme a sua actividade
predominante em industriai, comerciais, mineiros, marítimos,
suburbanos e grandes cidades.

São municípios rurais – aqueles cuja população se dedica, pela maior


parte, à cultura da terra, quase sempre em povoamento disperso, de
modo que a sede desempenha apenas o papel de centro administrativo e
económico, sem o predomínio residencial e a preponderância social que
lhe cabe nos municípios urbanos.

Entre duas das ordens poderia admitir-se uma outra, a dos municípios
mistos, ou seja aqueles em que interesses agrários e interesses se
misturam.

Segundo o critério da população, os concelhos dividem-se em classes


conforme o número de habitantes critério só por si deficiente, pois este
elemento quantitativo não basta para dar carácter e individualizar um
município.

Segundo o critério fiscal, graduam-se as classes conforme as receitas


ordinárias dos municípios, índice das suas possibilidades económicas e
administrativas.

A classificação dos concelhos pode revestir maior ou menor


importância, consoante dispuser o direito positivo. Umas vezes a classe
do concelho só influi na composição

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dos órgãos municipais; outras vezes a lei vai até ao ponto de estabelecer
regimes jurídicos diferentes, quanto à organização, atribuições e
competência para cada classe. Em algumas legislações, como em
Espanha e nos Estados Unido, permite-se que cada concelho elabore o
seu próprio foral, a sua carta, conforme entender mais
convenientemente para estabelecer o sistema adequado às suas
condições peculiares.

A ordem dos municípios rurais depende, sobretudo, das indicações de


dois factores a população e as possibilidades fiscais. Excepcionalmente
se atende na primeira ordem a categoria administrativa da sede (capitais
dos distritos).

O legislador não surgiu pois, um critério puramente doutrinário e vê-se


que não levou os princípios às suas últimas consequências, por ter de
atender as outras considerações administrativas. Não figura na
classificação legal a classe dos concelhos mistos, mas admite-se um
regime administrativo que pode considerar-se misto quanto aos
concelhos rurais com zonas de urbanização ou de turismo (praias
estancias hidrológicas ou climatéricas de altitude, de repouso ou de
recreio, monumentos ou lugares de nomeada).

3.7.3. Atribuições Municipais

O problema das atribuições municipais é dos mais delicados a resolver.


Em princípio pertencem ao município todos os negócios (mas só esses)
que digam respeito à comunidade de interesses determinada pela
vizinhança. Assim, por exemplo, a administração dos bens comuns, a
segurança de pessoas e bens, a assistência, a limpeza pública, a
iluminação, o abastecimento de águas.

Mas, em primeiro lugar, nos grandes núcleos populacionais já se torna


muito difícil ir buscar a vizinhança como critério da comunidade de
interesses. Há antes uma continuidade de espaço habitado que, porém

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exorbita com frequência dos limites convencionais do município ou


cria interesses que as soluções de continuidade não quebram (caso dos
núcleos suburbanos, dos dormitórios, citadinos, etc).

Depois algumas dessas matérias podem, por via da evolução dos meios
técnicos da sua resolução, transformar-se em objecto de interesses
gerais; outras não cabem nas responsabilidades financeiras dos
municípios; e há outras que não sendo por natureza municipais, o
Estado entrega ao cuidado dos concelhos para maior eficiência dos
serviços e comodidade do público.

Torna-se pois extremamente delicado traçar a esfera de atribuições do


município por via de uma definição ou (clausula geral).

O princípio fundamental do direito municipal, neste ponto, é o de que


os corpos administrativos só podem deliberar no exercício da sua
competência e para realização das atribuições que expressamente lhes
forem cometidas por leis.

Quer dizer: não há negócios que por natureza, pertençam ao município;


este só pode prosseguir os fins e interesses expressa e taxativamente
enunciados na lei. Qualquer acto praticado por um corpo administrativo
fora das atribuições municipais é juridicamente inexistente.

Temos assim três sistemas de determinação das atribuições municipais:


o chamado sistema da clausula geral que é o brasileiro, o sistema da
enumeração taxativa que a lei portuguesa segue, e o sistema misto que
consiste numa clausula geral segunda da enumeração exemplificativa,
ou numa enumeração rematada por uma remissão “ em geral” para
certo critério pelo qual em caso de duvida se decidirá.

O inconveniente da cláusula geral é a incerteza na interpretação, que


pode originar frequentes conflitos entre o município e outras entidades
públicas. Para obviar a esse defeito, o IV Congresso Hispano-Luso –
Americano de municípios, realizado em Barcelona em 1967,
preconizou que em caso de duvida relativamente a um interesse

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

peculiar do município, prevalecesse a competência deste.

Julgamos, porém mais conveniente o sistema da enumeração taxativa


seguido pelo direito português, embora com o risco de dificultar o
progresso da vida municipal quando o legislador não ponha
oportunamente a cargo dos concelhos alguma atribuição
correspondente a novas necessidades colectivas. Todavia esse risco é
bem compensado pela certeza das esferas de acção das várias entidades
públicas.

O código Administrativo de 1936-40 introduziu a distinção entre


atribuições (interesses a realizar pela pessoa colectiva) e competências
(poderes jurídicos conferidos aos órgãos para desempenho das
atribuições).

Há duas classificações legais de maior importância a ter em conta: uma


atende ao objecto das atribuições, outra ao seu exercício.

Quanto a objectivos o código distingue seis grupos de atribuições


sendo:

a) Administração de bens comuns e próprios do conselho;


b) De fomento;
c) De abastecimento público;
d) De cultura e assistência;
e) De salubridade pública;
f) De polícia.

Mas a classificação de maior interesse é a que se faz quanto ao


exercício, em atribuições

a) De exercício facultativo;
b) De exercício obrigatório.

As atribuições de exercício obrigatório constituem um encargo legal, de


que os órgãos municipais têm de desonerar-se antes de quaisquer
outras, pois o legislador considerou matérias que formam o seu objecto

101
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

como mínimo necessário de funções a desempenhar pela administração


do município.

E como é natural que tal mínimo de funções varie, conforme a riqueza


do concelho e as exigências do seu tipo social, resulta daí que o número
e a natureza dessas obrigações variam com a classe e a ordem do
concelho, e até dentro do mesmo concelho, consoante as zonas em que
a competência da câmara tem que se exercer sejam urbanas ou rurais
(caso das zonas de turismo).

Esta obrigatoriedade é jurídica ou meramente programática? Se uma


câmara abandonasse totalmente a realização de uma atribuição de
exercício obrigatório poderiam ser arguidas de ilegais as deliberações
que contemplassem atribuições de exercício facultativo. Mas esse
abandono teria de ser total não bastando para haver ilegalidade alegar a
insuficiente dotação , ou a incompleta realização, pois a extensão do
cumprimento da atribuição é matéria discriminatória.

A justificação da obrigatoriedade de certas atribuições é fácil: não faria


sentido permitir aos municípios que preterissem as necessidades
fundamentais (higiene, caminhos, abastecimento de águas, escolas,
segurança etc) para darem preferência a iniciativas menus úteis ou até
de simples carácter sumptuário, embora mais propicias a lisonjear a
vaidade dos administradores e os olhos dos munícipes.

3.7.4. Órgãos da Administração Municipal

3.7.4. ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

OS órgãos da administração são segundo o código de 1940

A- Comuns:
a) O concelho municipal;
b) A câmara municipal;

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

c) O Presidente da câmara municipal.


B- Especiais
d) Juntas de turismo e comissões municipais de turismo;
e) Comissões municipais de assistência;
f) Órgãos municipais consultivos.

a) Conselho Municipal-é uma Assembleia composta do


presidente da câmara e de representantes. Esta assembleia tem
carácter representativo, e da sua composição se depreende o
conceito orgânico que o legislador forma de município,
considerando, não como simples conjunto de indivíduos –
cidadãos, mas como expressão orgânica da convivência de
famílias agregadas.

As funções do concelho municipal podem classificar-se em:

- Função eleitoral, quando elege os vereadores;

- Função moderadora, quando como fiscal da actuação do


presidente da câmara municipal e dos vereadores, podendo requerer
ao Governo inquérito aos actos daquele e revogar o mandato destes,
de modo a manter o equilíbrio dos dois elementos (de nomeação e
electivo) que compõem a câmara:

Função orientadora e fiscalizadora ao estabelecer as regras gerais da


acção administrativa e financeira da câmara, e ao pronunciar-se
sobre as deliberações desta que careçam da sua aprovação para se
tornarem executórias.

O conselho municipal reúne ordinariamente duas vezes por ano e


extraordinariamente sempre que for necessário. Tem mesa própria,
mas é seu presidente o da câmara. Podem assistir às suas
reuniões, por direito próprio, os vereadores; e os funcionários
públicos ou municipais e os munícipes com reconhecida
competência que sejam convocados pelo Presidente, mas só para

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

fins de informação e consulta nas matérias em que forem peritos ou


de que tenham conhecimento especial (Marcelo de Sousa in Código
Administrativo art 24).

b) Câmara municipal, é o órgão colegial de gestão permanente dos


negócios municipais: é o corpo Administrativo do concelho.

Compõem-se de um presidente nomeado pelo Governo, e de


vendedores eleitos conselho municipal e cujo número varia com a
classe e ordem dos conselhos.

As funções camarárias são principalmente deliberativas. A


execução das deliberações compete ao presidente da câmara, mas
salvo nas grandes cidades, os negócios municipais podem ser
distribuídos por pelouros, cada um dos quais é gerido por um dos
Membros da Câmara (Presidente e vereadores), cabendo aos
vereadores a preparação da execução das deliberações relativas aos
pelouros, sem prejuízo dos poderes de direcção e coordenação do
presidente (cod, art 58).

c) Presidente da Câmara Municipal - O Presidente da Câmara é


livremente nomeado pelo Governo, devendo ser escolhido,
salvo circunstancias excepcionais , de entre os Munícipes do
respectivo concelho-e, de preferência , vogais do conselho
Municipal, antigos vereadores ou Membros das comissões
Administrativos municiais ou diplomadas com um curso
superior.

Tem uma dupla função, a de chefiar a administração municipal,


como órgão, embora nomeado, do conselho; e a de representar o
Governo, como magistrado administrativo. O Presidente da câmara
é simultaneamente órgão do Município e órgão do Estado.

Serviços Municipais a preparação das deliberações e decisões dos


órgãos municipais e respectiva execução correm por serviços
burocráticos e técnicos: são os serviços municipais, que o Código

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distingue em secretaria, tesouraria e serviços especiais.

Secretaria- A secretaria é o serviço por onde corre o expediente das


câmaras, e o relativo à execução das deliberações camarárias e dos
despachos e ordens do Presidente.

Pode dividir-se em serviços ou Secções.

O funcionário que a dirige é o chefe da Secretaria, mas os


respectivos serviços são sempre do pelouro do presidente da
câmara.

Tesouraria compete-lhe a arrecadação das receitas a guarda de


fundos e valores, o pagamento das despesas e quaisquer
movimentos dos dinheiros do município. Está a cargo de um
tesoureiro, que nos concelhos de pequena receita é o tesoureiro da
fazenda Pública e nos outros um funcionário.

3.8.0. Serviços Especiais

Cabe esta designação aos partidos, médicos, médicos veterinários e


outros existentes no concelho, as repartições instituídas para
assegurar o exercício de determinado ramo das atribuições
municipais que exija conhecimentos especializados de qualquer
ciência ou arte e não se traduza em actividade económica, bem
como os serviços de extinção de incêndios.

A expressão partido é tradicional e designa hoje a função exercida


em beneficio dos habitantes do concelho, por conta deste, mas sob
a forma de profissão liberal. Quer dizer: o funcionário não deixa de
exercer livremente a sua profissão, mas recebe um vencimento para
o fazer dentro de certa área e aí atender gratuitamente os munícipes
pobres.

Quanto às repartições técnicas podem ser diversas (saúde e higiene,

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

engenharia, arquitectura e contencioso.

Os serviços de incêndios é um serviço de segurança pública, a cargo


das autoridades policiais ou de corpos de bombeiros e para cujo
desempenho podem ser requisitados os serviços e bens necessários,
e ordenados até os indispensáveis sacrifícios de coisas e direitos.

3.8.1. Os Serviços Municipalizados

Além dos serviços municipais, podem as câmaras instituir com a


aprovação dos respectivos conselhos municipais e do Governo,
serviços municipalizados, isto é serviços públicos de interesse local
explorados sob forma industrial por conta e risco dos municípios.

Trata-se de empresas públicas cujo empresário é o município,


embora essas empresas não tenham personalidade jurídica: são
autónomas, mas estão integradas no concelho. As condições
fundamentais prescritas para a municipalização resumem-se em que
os serviços a instruir tenham:

1. Por fim, satisfazer necessidades colectivas da população do


concelho em relação as quais se verifique que:
a) A iniciativa privada as não provê satisfatoriamente;
b) Sejam de primacial importância para a colectividade;
2. Organização autónoma, dentro da administração municipal e
sob forma industrial (salvo autorização do Governo);
3. Funcionamento económico, em benefício do público.

As actividades que podem ser municipalizadas o código enumera as


principais, relativas ao abastecimento de água, de energia eléctrica e de
gás de iluminação; ao aproveitamento, depuração e transformação
águas de esgoto, lixos, detritos e imundícies; à construção e exploração
de mercados frigoríficos, balneários, lavadouros públicos e
estabelecimentos hidroterapeuticos; comercialização de carnes verdes,
higienização de produtos alimentares,

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nomeadamente o leite, e ao transporte colectivo de pessoas e


mercadorias.

Além destas, porém podem ser municipalizadas outras actividades


quando circunstâncias especiais aconselhem o Governo a autoriza-lo.

O processo de musicalização – para que uma actividade se converta em


serviço municipalizado, o processo a seguir é:

a) Elaboração prévia de um estudo económico, técnico e


financeiro da empresa com o respectivo projecto;
b) Deliberação da Câmara sobre este projecto favorável a
municipalização;
c) Sujeição da deliberação da câmara à aprovação do conselho
municipal.

3.8.2. Regime Financeiro das Autarquias

A aprovação deste novo regime financeiro local prevêem-se um


conjunto de princípios fundamentais que pretendem assegurar uma
efectiva coordenação entre administração central e local no
plano financeiro e contribuir para o controlo orçamental e para a
prevenção de situações de instabilidade e desequilíbrio financeiro.

Princípio da legalidade - A actividade financeira das Autarquias


Locais exerce-se no quadro da constituição, da lei, das regras de direito
da União Europeia e das restantes obrigações internacionais assumidas
pelo Estado Moçambicano. São nulas as deliberações de qualquer órgão
das autarquias locais que envolvam o exercício de poderes tributários,
determinem o lançamento de taxas não previstas na lei ou que
determinem ou autorizem a realização de despesas não permitidas por

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

lei.

Princípio da estabilidade orçamental - O princípio da estabilidade


orçamental pressupõe, na aprovação e execução dos orçamentos, a
sustentabilidade financeira das autarquias locais, bem como uma gestão
orçamental equilibrada, incluindo as responsabilidades contingentes por
si assumidas. As autarquias locais não podem assumir compromissos
que coloquem em causa a respectiva estabilidade orçamental.

Princípios da autonomia financeira - As autarquias locais têm


património e finanças próprios, cuja gestão compete aos respectivos
órgãos. A autonomia financeira das autarquias locais assenta,
nomeadamente, nos seguintes poderes dos seus órgãos: a) Elaborar,
aprovar e modificar as opções do plano, orçamentos e outros
documentos previsionais, bem como elaborar e aprovar os
correspondentes documentos de prestação de contas; b) Gerir o seu
património, bem como aquele que lhes seja afecto; c) Exercer os
poderes tributários que legalmente lhes estejam atribuídos; d) Liquidar,
arrecadar, cobrar e dispor das receitas que por lei lhes sejam destinadas;
e) Ordenar e processar as despesas legalmente autorizadas; f) Aceder ao
crédito, nas situações previstas na lei.

Princípio da transparência - A actividade financeira das autarquias


locais está sujeita ao princípio da transparência, que se traduz num
dever de informação mútuo entre estas e o Estado, bem como no dever
de divulgar aos cidadãos, de forma acessível e rigorosa, a informação
sobre a sua situação financeira. O princípio da transparência aplica-se
igualmente à informação financeira respeitante às entidades
participadas por autarquias locais e entidades intermunicipais que não
integrem o sector local, bem como às concessões municipais e parcerias
público-privadas.

Princípio da solidariedade nacional recíproca - O Estado e as

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autarquias locais estão vinculados a um dever de solidariedade nacional


recíproca que obriga à contribuição proporcional do sector local para o
equilíbrio das contas públicas nacionais. Tendo em vista assegurar a
consolidação orçamental das contas públicas, em situações
excepcionais e transitórias, podem ser estabelecidos, através da Lei do
Orçamento do Estado, limites adicionais à dívida total autárquica, bem
como à prática de actos que determinem a assunção de encargos
financeiros com impacto nas contas públicas pelas autarquias locais. A
Lei do Orçamento do Estado pode determinar transferências do
Orçamento do Estado de montante inferior àquele que resultaria das leis
financeiras especialmente aplicáveis a cada submeter, sem prejuízo dos
compromissos assumidos pelo Estado nas áreas da solidariedade e da
segurança social. A possibilidade de redução depende sempre da
verificação de circunstâncias excepcionais imperiosamente exigidas
pela rigorosa observância das obrigações decorrentes do Programa de
Estabilidade e Crescimento e dos princípios da proporcionalidade, do
não arbítrio e da solidariedade recíproca, e carece de audição prévia dos
órgãos constitucional e legalmente competentes dos subsectores
envolvidos.

Princípio da equidade intergeracional - A actividade financeira das


autarquias locais está subordinada ao princípio da equidade na
distribuição de benefícios e custos entre gerações, salvaguardando as
suas legítimas expectativas através de uma distribuição equilibrada dos
custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual. O princípio
implica a apreciação no plano da incidência orçamental, a apreciação,
nomeadamente, dos investimentos aprovados, dos encargos com
passivos financeiros, das necessidades de financiamento das entidades
participadas pela autarquia, dos compromissos orçamentais e das
responsabilidades contingentes, dos encargos explícitos e implícitos em
parcerias público-privadas, concessões e demais compromissos
financeiros de carácter plurianual, bem como da despesa fiscal,
nomeadamente compromissos futuros decorrentes de isenções fiscais
concedidas, pelos municípios.

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Princípio da justa repartição dos recursos públicos entre o Estado e


as autarquias locais - A actividade financeira das autarquias locais
desenvolve-se no respeito pelo princípio da estabilidade das relações
financeiras entre o Estado e as autarquias locais, devendo ser garantidos
os meios adequados e necessários à prossecução do quadro de
atribuições e competências que lhes é cometido. A participação de cada
autarquia local nos recursos públicos é determinada nos termos e de
acordo com os critérios previstos no RFALEI (Regime Financeiro das
Autarquias Locais e das Entidades Intermunicipais), visando o
equilíbrio financeiro vertical (adequação dos recursos de cada nível de
administração às respectivas atribuições e competências) e horizontal
(correcção de desigualdades entre autarquias do mesmo grau
resultantes, designadamente, de diferentes capacidades na arrecadação
de receitas ou de diferentes necessidades de despesa).

Princípio da coordenação entre finanças locais e finanças do


Estado - A coordenação entre finanças locais e finanças do Estado tem
especialmente em conta o desenvolvimento equilibrado de todo o País e
a necessidade de atingir os objectivos e metas orçamentais traçados no
âmbito. A coordenação referida no número anterior efectua-se através
do Conselho de Coordenação Financeira, sendo as Autarquias Locais
ouvidas antes da preparação do Programa de Estabilidade e
Crescimento e da Lei do Orçamento do Estado, nomeadamente quanto
à sua participação nos recursos públicos e à evolução do montante
global da dívida total autárquica. Para efeitos do disposto no presente
artigo, podem igualmente ser estabelecidos deveres de informação e
reporte adicionais tendo em vista habilitar as autoridades nacionais com
a informação agregada relativa à organização e gestão de órgãos e
serviços das Autarquias Locais.

Princípio da tutela inspectiva - O Estado exerce tutela inspectiva


sobre as Autarquias Locais e as restantes entidades do sector local, a
qual abrange a respectiva gestão patrimonial e financeira e só pode ser

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

exercida segundo as formas e nos casos previstos na lei,


salvaguardando sempre a democraticidade e a autonomia do poder
local. Os orçamentos das entidades do sector local prevêem as receitas
necessárias para cobrir todas as despesas, respeitando assim o equilíbrio
orçamental, sendo apresentados anualmente e enquadrados num plano
plurianual de programação orçamental (anualidade e plurianualidade).
Os orçamentos das autarquias locais e das entidades intermunicipais
compreendem todas as receitas e despesas de todos os seus órgãos e
serviços sem autonomia financeira (unidade e universalidade).

São admitidas pela RFALEI como excepções ao princípio da não


consignação, as receitas provenientes de:

a) Fundos comunitários;
b) Fundo social municipal;
c) Cooperação técnica e financeira;
d) Empréstimos a médio e longo prazos para aplicação em
investimentos ou contraídos no âmbito de mecanismos de recuperação
financeira;

Pode, excepcionalmente, ser inscrita no Orçamento do Estado uma


dotação para financiamento de projectos de interesse nacional a
desenvolver pelas autarquias locais, de grande relevância para o
desenvolvimento regional e local, correspondentes a políticas
identificadas como prioritárias, de acordo com os princípios da
igualdade, imparcialidade e justiça. A RFALEI prevê ainda a
possibilidade da concessão de auxílios financeiros em situações
excepcionais, como as de calamidade pública (www. Portal
autárquico).

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.9.0. As Agências Doadoras Multilaterais e Bilaterais

Um dos actuais debates no seio das organizações internacionais diz


respeito à promoção da cooperação descentralizada. A criação dos laços
directos entre um município e outra entidade local ( ou uma rede) com
a atribuição directa de fundos a essa ligação, é a forma base utilizada
por essas organizações para colaborar na cooperação intermunicipal.
Nalguns casos, as associações nacionais de municípios funcionam
como intermediárias, responsáveis pela selecção de projectos e
distribuição de fundos. Podem também incluir uma ONG( Organização
não Governamental), em parceria com uma entidade.

Em termos de intervenção das agências doadoras multilaterais,


destacam-se pela sua actuação, as seguintes:

Organização das Nações Unidas

No sistema das NU( Nações Unidas), existe vários Organismos


e instituições que, directa ou indirectamente promovem a
CIM(Cooperação intermunicipal), embora não exista uma
política específica nesta matéria.
O Secretariado não sendo um organismo financiador, exerce
pressão política para a expansão de cooperação intermunicipal e
organiza actividades nos Países em desenvolvimento para
ajudar melhorar as suas capacidades de administração e gestão
pública.

O Banco Mundial

Desenvolve programas de apoio a descentralização e às


instituições e actores locais nos Países em desenvolvimento.
Embora os municípios não possam solicitar financiamento
directo para um projecto podem participar nestes programas
associando-se aos organismos que são

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directamente abrangidos: ONG, associações de municípios,


redes de cidades.

O Pnud

Realiza estudos relativos a aspectos relacionados a


descentralização e delegação de poderes ao nível local.

A Unicef

Funciona actualmente como um fundo para o desenvolvimento


local, através da concessão de empréstimos em condições muito
favoráveis a ONG e outras organizações da sociedade civil,
municípios e empresários. Também recorre a CIM para atingir
os seus objectivos relativamente as mulheres e à crianças.

Organização Para Cooperação e Desenvolvimento


Económico(OCDE)

O comité de ajuda ao desenvolvimento (CAD) tem como função


a coordenação e a promoção da eficiência da ajuda ao
desenvolvimento, tendo criado recentemente um grupo ad-hoc
dirigido ao desenvolvimento participado , que poderá ser um
impulso à expansão da CIM.

113
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Banco Europeu da Reconstrução e


Desenvolvimento(BERD)

A sua actividade está mais dirigida para o desenvolvimento do sector


privado na Europa central e oriental, estimulando o crescente
envolvimento dos municípios nos projectos que financia.

O Concelho da Europa

Encoraja o envolvimento das Autarquias na cooperação N/S.


Um dos últimos programas do Centro Norte –Sul, o “ Programa
dialogo descentralizado “ tem como o objectivo prioritário o
reforço do papel dos poderes locais e regionais, a promoção
da cooperação descentralizada e a democracia local nas
relações Norte-sul.

União Europeia

A cooperação descentralizada e as actividades da CIM


surgiram inicialmente nas Direcções Gerais da Comissão
Europeia. Na Direcção Geral do Desenvolvimento (DGVIII)
através da convenção de Lomé , a partir de 1990, incluída
pela primeira vez a CIM e os Governos nacionais dos Países
da ACP são adicionalmente encorajados a incluir cooperação
descentralizada nos seus programas indicativos
Nacionais(PIN)

Frequentemente também, as agências bilaterais delegam os seus


programas de CIM em Organizações intermédias como as
Associações nacionais de municípios. Estas desempenham uma
serie de funções adicionais na cooperação intermunicipal. Tendo
em consideração a realidade das relações norte e sul em termos de
CIM, as geminações cujo foco central

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

são as actividades culturais e sociais surgem como inúteis. No seu


lugar, os municípios aumentem cada vez mais a cooperação em
aspectos específicos de cariz técnico e institucional.

3.9.1. Participação : A Autarquia Parceira

Cooperação Lusófona

As Geminações com outros países são uma realidade. A independência,


a história do poder local e o passado comum podem ajudar a definir os
modos de cooperação.

No âmbito das associações nacionais de municípios o papel da


associação dos municípios tem se destacado na promoção das
geminações na medida em que proporciona oportunidades de
cooperação, colaboração entre os municípios.

3.9.2. Áreas de Cooperação

Formação de Quadros

Neste domínio estão incluídas acções que visam, nomeadamente, o


apoio por parte do Governo na realização de cursos de formação,
seminários e sessões de formação técnica levados a cabo por
municípios, Associações de municípios ou outras entidades com
competência para o efeito, no sentido de promover a formação e o
aperfeiçoamento profissional de quadros da Administração Local dos
Países beneficiários, incluem-se também iniciativas que tenham como
objectivo apoiar ao nível do material e equipamento, programa de
alfabetização no âmbito do ensino Básico.

115
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.9.3. Cultura e Património Histórico

Nesta área inserem-se acções que visem essencialmente apoiar a


recuperação do património arquitectónico na comunidade,
nomeadamente a elaboração de estudos e projectos, obras de
recuperação de imóveis de valor arquitectónico na comunidade e a
Edição de meios que visem a promoção deste património.

3.9.4. Infra-Estrutura, Saneamento Básico, Urbanismo e


Ambiente

Inserem-se neste domínio o apoia à elaboração de projectos e à


execução de infra-estruturas, cujo objectivo seja a melhoria da
qualidade de vida e bem-estar das populações, bem como o apoio à
formação de técnicos destes países, a realizar melhor os serviços.

Quadro 10: Geminações entre Moçambique e Portugal

Moçambique Portugal Data do acordo


Angoche Figueira da foz 31.07.97
Beira Porto 18.11.98
Seixal 06.11.97
Coimbra 23.06.97
Arganil 07.09.99
Ilha de Évora 15.09.97
Moçambique
Inhambane Aveiro 10.02.93
Oeiras N.D

3.10.0. Protocolos entre o ICP e a ANMP

A partir deste protocolos o ICP (Instituto de Cooperação Portuguesa) e


a ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses)
acordaram um conjunto de

116
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

procedimentos de modo a tornar mais eficaz todo o processo de


planeamento e execução das acções de cooperação tendo sido
acordadas as seguintes orientações de princípio.

 Ser apoiado o transporte de material, preferencialmente ligado a


projectos já em curso ou em vias de execução;
 Serem apoiados os projectos e acções enquadradas nas
prioridades estabelecidas no protocolo de cooperação
MNE/ANMP( educação e formação de quadros, cultura,
Património histórico, infra-estrutura s, saneamento básico,
urbanismo e ambiente apoio em matérias e equipamento;
 Estabelecer que o único interlocutor do ICP, no diálogo com as
câmaras municipais portuguesas, fosse a ANMP, que deveria
assumir sempre que possível o papel de coordenador.

Assim em 1998, o encargo total do ICP com apoio à cooperação


intermunicipal, contabilizou-se 3.240 contos, em que 10% coube as
autarquias moçambicanas, consubstanciado no envio de diverso
material para PALOP(bibliografia, material escolar , medicamentos e
material cirúrgico, roupas , contentores de lixo, uma pá
retroescavadora e uma betoneira) inseridos em projectos já em
execução e enquadrados no âmbito entre o protocolo MNE e a ANMP.

Quadro 11: Cooperação Intermunicipal com


Moçambique

Câmara Projecto/Acção Município Participação Câmara


Municipa Beneficiário ICP(contos) municipa
l mC l (em
contos)

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ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

CM Oferta de 500 C.M Beira 140 N.d


Coimbra livros à
Biblioteca
municipal
CM Projecto de CM de N.d 3150
Figueira desenvolviment Angoche
da foz o comunitário;
formação de
recursos
humanos,
análise técnico
Administrativa
das obras
municipais
concurso das,
formação na
área de dos
planos
municipais;
formação de
agentes de
desenvolviment
o comunitário

118
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

CM . Projecto de Administraçã N.D 53000


S.Comba recuperação de o Distrital de
Dao sistema de Namaacha
captação de
bombagem de
água para
abastecimento;
apoio á escola
primária,
recuperação de
casa do
concelho de
santa Comba
dao
CM Maia Envio do CM Nampula 190 0
material Básico
Fonte: Direcção de serviços sócio culturais do, ICP,2000

Dando sequência ao processo de melhoramento de toda a coordenação,


o ICP, em 1999, mesmo sem verbas inscritas no seu orçamento para a
cooperação intermunicipal, passou a analisar os projectos dos
municípios com maior rigor e a sensibilizar tanto a ANMP como as
câmaras para um melhor planeamento dos projectos

O plano integrado de cooperação portuguesa aprovado conjuntamente


com o orçamento de estado para o ano de 1999, veio criar condições,
face às novas orientações estratégicas definidas para a cooperação, para
o reforço da cooperação intermunicipal indo ao encontro da proposta do
ministério dos negócios estrangeiros e da cooperação com Moçambique
no sentido de dar apoio.

119
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.10.1. Na Área de Educação e Formação de Quadros

 Bolsas para acções de formação no âmbito da administração


local e da Administração autárquica;
 Formação e aperfeiçoamento profissional de quadros da
Administração local, fundamentalmente através da frequência
de cursos, seminários, sessões de informação técnica e
realização de estágios;
 Apoio na realização de estudos e projectos sobre assuntos
relevantes no poder local a empreender em Moçambique,
organização e reorganização das estruturas do poder local e a
troca de experiência e informação de natureza Técnico
Administrativa;
 Acções de formação de formadores nas matérias concernentes a
administração local.

3.10.2. Na Área de Infra-Estrutura, Saneamento Básico,


Urbanismo e Ambiente

 Apoio ao estudo e execução de infra-estruturas, cujo objectivo


seja a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar das
populações;
 Apoio à formação de técnicos, a realizar em Moçambique em
áreas a definir.

3.10.3. Na Área de Apoio em Materiais e Equipamentos

 Acções que visem o envio de materiais e ou equipamentos


directamente relacionados com áreas referidas.

Assim em 1999,refeletindo a crescente importância da cooperação


intermunicipal indo ao encontro dos

120
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

desejos manifestados pelas autoridades moçambicanas, o apoio a


este tipo de projectos aumentou aproximadamente cinco vezes
mais, atingindo os 33 mil contos distribuídos por 16 acções e
projectos. Pode-se assim constatar houve de 1998 para 1999 uma
evolução extremamente positiva tanto ao nível dos montantes
desembolsados quanto ao nível da qualidade de cooperação
portuguesa, a ANMP passou a levar em conta algumas das
recomendações do ICP e as câmaras começaram a trabalhar no
domínio das prioridades da cooperação para o desenvolvimento e
papel do coordenador do MNE através do ICP.

Quadro 12: Cooperação Intermunicipal com


Moçambique -1999

Câmara Projecto/Acçã Município Participaçã Câmara


Municip o Beneficiário o ICP(em Municip
al contos) al (em
Contos)
C.M Envio de C.M da 7750 36000
Loures equipamento Matola
de
saneamento
básico
ANMP Seminário Municípios 5500 5500
Cooperação Moçambican
Descentraliza os
da Portugal -
Moçambique

121
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

CM de Envio de de CM de Xai- 295 N.d


Cascais material e Xai
equipamento
administrativo
diverso
CM Envio de duas Administraçã 875
Santa viaturas o Distrital de
Comba (ambulância e Namamacha
dao pronto
socorro)
CM Festa da CPLP 2500
Sintra língua
portuguesa
Sintra

3.11.0. Outras Instituições

Não se deve deixar de mencionar algumas outras instituições que


actuam na área de cooperação descentralizada, para além das
autarquias locais.

Deste modo, a união das cidades capitais luso Africanas – América-


Asia.(UCCLAA, assume-se como uma das grandes organizações de
cooperação no espaço lusófono. Tendo sido criada em 1985, a
UCCLA desenvolve actividades de cooperação intermunicipal nas
áreas de formação, cultura, saúde , equipamento e infra-estrutura e
relações institucionais internacionais através do estabelecimento
das geminações e acordos de cooperação entre as 15 capitais
membros.

Também a direcção a Direcção-geral da Administração Autárquica


(DGAA), tem desenvolvido acções de cooperação directamente
ligadas com o poder local nos PALOPs

122
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

concretizadas através da formação profissional, assistência técnica


intercambio de formação, documentação e acções de consultoria.

3.11. 1. Análise da CIM com Moçambique

O grau de institucionalização das actividades de cooperação num


município depende do modo como é tratado pela administração
municipal. Na verdade, como excepção de alguns municípios
(normalmente com centros urbanos importantes), a tendência para a
profissionalização é ainda muito baixa, não existindo nem linhas
orçamentais próprias nem gabinetes de relações internacionais, nem
envolvimento com sociedade civil.

As acções de cooperação intermunicipal com maior incidência são os


serviços e as infra-estruturas sociais (educação, saúde abastecimento de
agua e saneamento, etc). Também a oferta de material (desportivo,
escolar, de Secretaria, medicamentos e material medico, contentores
entre outros e atribuição de bolsas de estudo em instituições de ensino
principalmente superior) são acções muito frequentes, bem como apoio
na área de urbanismo e infra-estruturas económicas (pontes, estradas,
portos, caminhos de ferro, iluminação publica e ajuda alimentar e de
emergência.

De acordo com os quatro pilares estabelecidos pela OCDE, já aqui


identificados verifica-se que grande parte das autarquias que cooperam
com Moçambique canaliza as suas actividades para assistência directa à
redução da pobreza e no desenvolvimento participativo, em detrimento
das questões ambientais e da paridade homens/mulheres.

Também a cooperação económica começa a surgir não só através do


envolvimento dos empresários na contribuição para ajuda ao município
geminado, mas também na sua inclusão nas comitivas para analisar no
local eventuais investimentos. Esta tendência é muito evidente nas
geminações com as autoridades locais de Moçambique, devido às

123
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

potencialidades de investimento neste país.

Também o envolvimento das ONG na CIM pode ser analisado através


dos apoios que os municípios prestam a estas organizações, quer
através do co-financiamento de projectos e/ ou acções de cooperação,
nomeadamente a realização de estudos sobre a cooperação
descentralizada e o papel dos municípios na ajuda ao desenvolvimento.
Por outro lado, os municípios podem apoiar e/ ou envolver-se em
eventos e acções promovidos pelas ONG e que o cruzem, directa ou
indirectamente, com a CIM.

Da análise da maioria das acções e projectos de desenvolvimento os


municípios portugueses e moçambicanos, no âmbito dos respectivos
protocolos de geminações é possível identificar áreas de intervenção,
cujo objectivo é não só aumentar o nível do bem-estar das populações
envolvidas, mas também a qualidade de vida das mesmas mas,
contribuído assim para a redução dos níveis de pobreza e para uma
maior proximidade entre Portugal e Moçambique. Assim, as áreas de
maior intervenção são as seguintes:

 Agricultura e pescas;
-Formação agrária e de pessoal ligado às pescas;
-Formação em matéria de gestão do meio ambiente.

 Cultura, Juventude e desportos;


-Investigação cultural;
-Cooperação a nível da Biblioteca;
-Recuperação do património histórico.

 Industria, comércio e turismo;


-Formação em gestão empresarial para os agentes económicos;
-Desenvolvimento do turismo.

 Obras Públicas e Habitação


- Construção;

124
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

- Saneamento e gestão ambiental;


Cooperação a nível de estradas.

 Saúde
- Construção e reabilitação de estruturas;
- Saneamento básico e salubridade;
Programas de estudo e combate ao sida.

 Administração
- Formação de quadros da administração;
-Gestão de serviços urbanos;
-Planeamento físico;
Gestão financeira e patrimonial.

De referir, ainda que todos estes projectos implicam intercâmbios,


estágios, concessão de bolsa de estudo e formação em Portugal e em
Moçambique, assumindo no conjunto a maior representatividade no
contexto da cooperação intermunicipal. Embora estes sejam subjacentes
ao estabelecimento de geminações e /ou protocolos objectivos como a
troca de experiências para a resolução de problemas idênticos e a
promoção de trocas económicas, analise das actividades empreendidas
mostra um predomínio de acções unilaterais de ajuda ao
desenvolvimento e/ ou ajuda humanitária e emergência.

Até ao inicio do ano 2000, existiam como se pode constatar, muitas


acções isoladas realizadas no âmbito dos protocolos de geminações.
Como o acordado em sede Grupo de Missão para a gestão do programa
de cooperação intermunicipal tipo de acções de cooperação deve-se
inserir, como uma das suas componentes num projecto integrado de
cooperação. Toda via, já em 2000 foram detectadas mais acções
isoladas, mas que dado o cariz iminentemente humanitário dos seus
objectivos e a título excepcional, as mesmas foram consideradas.

Pode-se concluir que a CIM para o Desenvolvimento com Moçambique


neste aspecto muito recente no poder

125
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local português, encontrando-se, toda via, numa fase de incremento


com uma significativa heterogeneidade de situações. Há quem tem com
Moçambique um grande dinamismo e capacidade organizacional, ainda
se registam acções de cooperação de forma improvisada.

Nesta analise também podem ser salientadas as complicações


financeiras e burocráticas, tanto da parte Moçambicana como
portuguesa, bem como ainda fraco empenho politico que restringe as
potencialidades deste tipo de cooperação e de relacionamento entre as
populações, ao qual não é alheia a distância dos dois países.

Ainda neste âmbito, os municípios enfrentam um dilema que se


caracteriza por uma realização de esforços para a sua afirmação e
legitimidade, portanto, o reforço institucional (criação de recursos
humanos, matérias e financeiros e a exigência para a realização de
empreendimentos que resolvam de imediato os problemas das
comunidades locais.

Outro aspecto que merece menção no balanço é o relacionamento entre


os municípios e o governo provincial e central. A legislação autárquica
preconiza a tutela administrativa, patrimonial e financeira do estado
sobre as autarquias locais moçambicanas. A nível central são órgãos
tutelares os Ministérios de Administração Estatal e do Plano e fianças.
Deste modo, a escassez da regulamentação específica sobre os
mecanismos práticos de relacionamento e a delegação de competências
aos Governadores provinciais na matéria tutelar cria disparidade na
base de varias iniciativas locais.

Já no que diz respeito ao relacionamento com a sociedade civil, os


municípios moçambicanos têm a registar o mérito de estarem a alcançar
níveis desejados de bom relacionamento com as associações de
cidadãos, instituições religiosas, associações económicas e culturais
que prometem contribuições e participações nos programas para o
desenvolvimento dos municípios. Afigura-se na possibilidade de
criação de uma estrutura junto do governo que se assegure de
assistência técnicos financeira e administrativas dos municípios a vários

126
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níveis. Neste âmbito, a concretização da associação nacional dos


municípios de Moçambique, contribuirá para a cooperação ,
promoção da defesa , dignificação e representação do poder local de
Moçambique.

Quanto ao impacto directo da cooperação intermunicipal Portugal-


Moçamabique no combate à pobreza são necessários melhoramentos
na adopção de estratégias de desenvolvimento económico , social ,
cultural dos municípios que deve contemplar a capacitação
institucional dos órgãos eleitos. Todavia, tem contribuído para
aumentar os níveis de bem-estar e melhoria de condições de vida das
populações locais.

Se a primeira vista pode e deve existir uma complementaridade entre os


vários níveis de poder, a competição entre eles é enorme. As tensões
são constantes dado que descentralizar significa também ceder poder e,
muitas vezes, a transferência de competências não é acompanhada
pelos necessários recursos inviabilizando, na prática a assunção dessas
competências. Também por esta via a CIM tem um importante papel a
desempenhar.

3.11.1.Opercionalização da CIM

O fracasso das estratégias de desenvolvimento tradicionais teve a ver,


entre outros com o facto da ajuda ao desenvolvimento passar
frequentes vezes ao lado das origens, e como tal das soluções , das
desigualdades estruturais, e por o próprio impacto global da ajuda ter
sido negligenciado. Por outro lado, muitas das relações N/S
caracterizam-se pelo paternalismo. A mudança de atitude é, por isso
necessária e a cooperação descentralizada procura ser uma das vias.
Porém , a debilidade dos parceiros do sul e a falta de auto-refelexação
no norte, entre outros factores , tem impedido mudanças significativas
nas práticas .

127
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A CIM é muitas vezes designadas por Cooperação descentralizada . No


entanto, e embora esta seja a posição do Banco Mundial, que define
cooperação internacional descentralizada como sendo uma parceria
formal entre autoridades locais em diferentes Países que se
comprometem num programa de intercâmbio e colaboração com
objectivo de melhorar as circunstâncias sociais e económicas das suas
respectivas comunidades e potenciando as habilitações e competências
dos parceiros envolvidos, esta definição poderá ser excessivamente
redutora e discriminatória em relação a outros actores. E isto porque se
a letra cooperação descentralizada significa cooperação não
centralizada, então está-se perante uma cooperação exercida também
por outros actores que não as autoridades centrais.

Esta é aliais, a visão da União Europeia que aquando da


institucionalização da cooperação descentralizada no âmbito da IV
convenção de Lomé, elegeu como actores da cooperação
descentralizada “ os poderes públicos descentralizados, os
agrupamentos rurais ou citadinos , as cooperativas , os sindicatos, os
estabelecimentos de ensino e de investigação , as organizações não
governamentais e outras associações , agrupamentos e entidades
capazes e desejosos de contribuir , pela sua própria iniciativa , para o
desenvolvimento dos Estados.

Assim neste contexto a cooperação intermunicipal é uma forma de


cooperação descentralizada na qual os municípios assumem eles
próprios a tarefa de participação activa nos processos de
desenvolvimento.

Deste modo entende-se por cooperação intermunicipal ou cooperação


autárquica o estabelecimento de relações entre duas ou mais
comunidades e onde os principais actores são os municípios ou seus
equivalentes de acordo com a organização administrativa dos diferentes
Países. Nestas relações entre parceiros podem envolver-se outros
actores, tais como ONG, outras organizações da sociedade civil,
associações empresariais/Industriais.

128
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

Entre as partes envolvidas são definidas, numa relação de igualdade, a


natureza e o carácter do seu relacionamento. A natureza dos contratos
celebrados é variada as geminações, os protocolos / acordos de
colaboração / cooperação e as redes são um exemplo. Todos eles
podem ser classificados como cooperação descentralizada, embora este
seja um conceito mais amplo e ainda não haja um consenso no sentido
operacional do termo. De facto, esta-se numa fase de identificação de
um conceito que está na moda e no qual cabe tudo o que o
programatismo de quem o utiliza dita.

Apesar das limitações , a cooperação descentralizada começa a surgir


como uma área importante na agenda da comunidade doadora
internacional a qual está (pelo menos ao nível do discurso) disposta
aumentar o volume de recursos para esse efeito

Do que acaba de ser exposto, decorre que a CIM pode e deve ser
considerada como uma forma de cooperação descentralizada. A sua
concretização é feita através de variados programas , projectos e
actividades, por diferentes actores que operam ao nível local nacional
ou internacional usando várias estruturas Organizacionais.

3.11.3. Conteúdo da CIM

O envolvimento inicial entre os municípios de vários países tinha


subjacente uma filosofia diferente da actual que a evolução recente veio
enriquecer. Um dos aspectos que actualmente marca a agenda
internacional é a questão do ambiente, a par do incremento das
incapacidades institucionais (capacity building). Esta necessidade tem
conduzido ao desenvolvimento de programas técnicos e de
administração especificamente destinados a aumentar as capacidades
dos poderes locais e a qualidade dos serviços municipais. Ela tem
merecido atenção não só das agências oficiais de ajuda ao
desenvolvimento mas também dos municípios envolvidos em

129
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

actividades de cooperação internacional.

Os intercâmbios tradicionais privilegiavam três áreas: Educação,


Desporto e cultura. Actualmente para além destas outros domínios
integram a CIM, nomeadamente, a saúde, o ambiente, a gestão e a
administração municipal, o urbanismo e as infra-estruturas, numa
tentativa de encontrar melhores soluções para os problemas idênticos.

Também na lista das actividades desenvolvidas pelos municípios em


matéria de cooperação há que referir o combate a pobreza, os
intercâmbios profissionais e culturais do desenvolvimento social, a
assistência técnica a formação profissional, a promoção da mulher e
num menor número de casos ajuda humanitária.

No que diz ao financiamento para a concretização destas actividades, os


municípios recorrem não só ao aos fundos próprios, mas também as
campanhas públicas de angariação a donativos privados e a
contribuições das agências oficias de cooperação.

3.11. 4. Formas da CIM

As Geminações são uma via privilegiada de implantação da CIM e


como tal da cooperação descentralizada. Neste trabalho são entendidas
como parcerias permanentes, formalizadas mediante acordos entre as
partes reconhecidas oficialmente entre dois ou mais municípios e que
promovem a troca de conhecimento e de experiências podendo
envolver diferentes sectores da sociedade civil. (Associações, ONG,
outras organizações).

A relação de geminação consiste em promover relações de amizade,


intercâmbio e apoio mútuo. Embora muitas não passem de acto formal,
as potencialidades quanto à sua utilização enquanto canais de
cooperação são grandes. Através delas podem-se desenvolver acções
conjuntas, apoiar os parceiros do sul em questões que são rotineiras
para os municípios de Países desenvolvidos mas que exigem um

130
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

considerável esforço no do sul ( infra-Estruturas básicas, abastecimento


de agua, recolha e tratamento de resíduos etc). Podem constituir
plataforma de intercâmbio cultural entre as associações e/ou escolas,
possibilitar o envio de voluntários e o estabelecimento de convénios
com ONG, através delas pode-se promover a educação para
desenvolvimento aumentando a consciência pública sobre a
interdependência.

As geminações tem sabido adaptar-se aos ventos das mudanças


internacionais e evoluir de actividades culturais e de solidariedade para
actividades mais complexas que podem ser combinadas com interesses
comerciais e políticos e de ajuda ao desenvolvimento. Recentemente
por exemplo e intimamente ligada à relações internacionais e do papel
do poder local em muitos Países, as geminações tendem a evoluir para
o estabelecimento de trocas económicas entre municípios.

A origem das parcerias pode ter fontes diversas, pois tanto pode ser o
resultado de um acordo formal como pode ser o culminar de um longo
percurso conjunto assinado apenas para oficializar as relações.

Não se pode dizer que haja o predomínio de motivos que conduzem ao


estabelecimento deste tipo de relações, variando desde tipo de situações
acidentais a uma programação cuidadosa, sendo esta a forma mais
comum. A primeira vaga de geminações N/S esteve ligada a acção de
ONG, das associações locais ou a indivíduos transformando os laços
existentes numa relação oficial de modo a assegurar a sua continuidade,
melhorar o acesso aos financiamentos e ou desenvolver novas atitudes.
Apresenta-se de seguida algumas das motivações para a formalização
das relações entre os municípios:

1. Politicas - muitos municípios participam na CIM por razões de


ordem política ou compromisso com aspectos globais;

2. Humanitária - reflexo da reacção perante situações de miséria e


de dificuldades;
3. Económicas – a procura do lucro, através do alargamento das

131
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

relações comerciais;
4. Técnicas - muitas vezes, os Países procuram este tipo de
geminações para ultrapassar o fosso tecnológico e para aceder a
financiamento exteriores, assistência técnica e know-how;
5. Interesses humanos, -na Base desta motivação esta muitas vezes
o interesse por outras culturas e estilos de vida;
6. Razões étnicas presença de minorias étnicas numa dada
comunidade pode motivar o envolvimento de um município na
CIM;
7. Proximidade geográfica língua, problemas ambientais idênticos.

De um modo geral, a vontade de envolvimento dos municípios em


actividades de cooperação e em geminações passa pela escolha dos
parceiros nomeadamente, as semelhanças, demográficas geográficas,
laços históricos e/ ou culturais.

Outro dado importante é que a cooperação intermunicipal pode também


ser concretizada através de protocolos de colaboração. Estes dada a sua
natureza mais especifica, dão normalmente lugar à transferências de
conhecimento, realizada ao nível de cooperação técnica, tirando partido
do desenvolvimento das capacidades e põe um forte envolvimento do
município e dos seus serviços técnicos especializados. Diz respeito a
formação dos Recursos Humanos em áreas específicas como sejam o
saneamento (recolha e tratamento de resíduos, luta contra a poluição),
os transportes urbanos, a qualidade de vida, a reabilitação do
património imobiliário, a gestão municipal, etc. As intervenções dos
técnicos fazem-se ao nível dos estudos preliminares, da elaboração dos
projectos da formação do pessoal e da transferência de tecnologias.

Um outro tipo de protocolo tem a ver com as transferências de


conhecimento em domínios mais teóricos, ligados à elaboração de
políticas locais.

Pela sua natureza é frequente a assinatura simultânea de protocolos de


colaboração /cooperação aquando do acto da geminação, o inverso já é
menos frequente ou seja podem existir protocolos de colaboração que

132
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

ainda não deram lugar a acordos de geminação.

3.11.5. A CIM nas Relações Internacionais

A rápida evolução das relações internacionais na última década com o


crescente fosso N/S, entre outros factores fez emergir movimentos na
sociedade civil, nomeadamente, com a criação de muitas ONG,
associações locais e mesmo departamentos internacionais dentro dos
municípios, nos anos 70, 80, com o objectivo de influenciar
directamente as relações N/S, através de acções de sensibilização e de
educação para o desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, foram tendo lugar conferencias para debate do papel


dos municípios e das ONGs na cooperação para o desenvolvimento
sendo exemplo disso a federação mundial das cidades unidades e vilas
geminadas (MMCU-VG) e a união internacional das autoridades locais.
Ambas foram importantes para a emergência do movimento das
geminações.

A primeira conferencia internacional cidades na cooperação para o


desenvolvimento, em Florença (1983), ONDE SE DISCUTIU a
participação dos municípios nas actividades de cooperação. Em
consequência deste debate, constitui-se um consórcio internacional de
cooperação de Associações municipais e ONG.

Em 1985 realizou-se em colónia a primeira conferência europeia sobre


as cidades o desenvolvimento que deu mais tarde à declaração de
colónia, a qual dirigida ao municípios e as ONG, incita a
desenvolverem acções conjuntas e a participarem de uma forma mais
activa na ajuda ao desenvolvimento e à cooperação, tirando partido de
toda a sua variedade de recursos e capacidades contribuindo por essa
via a para a mudança de relacionamento entre o norte e o sul.

Centrada nas cidades e no desenvolvimento, a declaração de Colónia


marca uma nova abordagem no quadro da descentralização da

133
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

cooperação N/S, pois coloca a ênfase na cooperação das ONGD e das


cidades e atribui um importante papel as comunidades rurais.

Todavia, dado o estado embrionário da cooperação municipal, as


intenções da declaração não surtiam os efeitos desejados.

Em 1988, o Conselho da Europa promoveu a conferência sobre a


interdependência e solidariedade, em Madrid, recomendando a
cooperação descentralizada.

Em 1990, no Zimbabwe, é dado novo alento cooperação intermunicipal


N/S, com a realização da conferência internacional Norte-Sul de
trabalho conjunto para o desenvolvimento, da qual resultou a
declaração de Bulawayo entusiasticamente recebida em África.

Em Marco de 1992, teve lugar na Índia uma conferência semelhante à


de Colónia de onde surgiu a declaração de SEVAGRAM , que chama
atenção para a necessidade de uma maior justiça na índia através da
actuação local.

Em Outubro de 1992, teve lugar em Berlim, uma conferência sobre as


iniciativas locais para o desenvolvimento sustentável, da qual saiu a
carta de Berlim – Juntos para o desenvolvimento sustentável e um
relatório analítico sobre aspectos significativos para as organizações
locais.

Em 1995, realizou-se em Haia a conferência relativa ao tema um


mundo municípios: A forma local de inovar na cooperação
internacional. a promoção da compreensão deste fenómeno a melhoria
da qualidade de cooperação internacional entre os municípios, o
reconhecimento da CIM como uma importante contribuição para a
cooperação descentralizada e incentivar outros municípios a envolver
se em neste tipo de relacionamento foram alguns dos objectivos da
reunião.

Uma também importante forma de cooperação do desenvolvimento


direccionado para os poderes e populações locais é a cooperação sul/sul
através da disseminação de

134
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

experiências entre municípios do sul, ainda que existam ainda poucos


exemplos deste tipo de colaboração. O seu sucesso e incremento inicial
parece ser facilitado pela intervenção de uma terceira parte, sejam eles
os doadores bilaterais ou multilaterais, as ONG ou outros municípios.

Paralelamente à realização destas conferências foram surgindo outras


formas de promoção do envolvimento dos municípios em aspectos mais
globais, que passaram a acompanhar temas como a Paz, direitos
humanos e ambiente.

3.11. 6. Potencialidades e Limitações da CIM

Entre as potencialidades que a CIM apresenta, destaca-se desde logo , a


função de educação para o desenvolvimento , ao potenciar a
consciência pública sobre a interdependência Norte/Sul e a sua
compreensão em relação a outras sociedades e culturas. Do mesmo
modo, pode servir de mecanismo de pressão institucional, ao focalizar-
se na desigualdade das relações entre as diversas partes do mundo e
para a necessidade urgente de uma maior equidade e solidariedades
internacionais.

Ao criar ligações entre poderes locais e ao proporcionar o envolvimento


das sociedades, pode contribuir para aumento das trocas da amizade da
valorização cultural e, ao mesmo tempo estimular a emergência da
sociedade Civil do Sul. Ao ter um melhor conhecimento das carências
económicas e sociais de uma sociedade menos desenvolvida, as
geminações poderão atenuar e contrariar os efeitos dos programas de
ajustamento estrutural do fundo monetário internacional por vezes
verdadeiras terapias de choque.

Dados os problemas que se colocam ao poder local em África,


nomeadamente em termos de eficiência administrativa, escassez de
recursos humanos capacitados e ausência de instituições efectivas, a
politica de ajuda ao desenvolvimento tornou-se um instrumento

135
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

importante em termos de formação e de desenvolvimento dos recursos


humanos locais e de capacitação administrativa no fortalecimento das
instituições locais.

Se bem que o poder local é apenas um dos aspectos a equacionar no


desenvolvimento de um País, há, todavia, todo o interesse na
descentralização e liberalização em curso nos Países em
desenvolvimento, bem como no fortalecimento do poder local e
regional. Como consequência da globalização e directamente
relacionada com a reavaliação do papel do estado no processo de
desenvolvimento, há em muitos Países Africanos um reconhecimento
de que as questões do desenvolvimento local não podem ser
equacionadas apenas através de iniciativas do Governo central. Trata-se
aqui da aplicação prática do princípio da subsidiariedade.

As geminações poderão também ser um importante veículo de partilha


de conhecimento s, experiencias e assistência técnica, com o intuito de
aumentar a capacidade de gestão, diminuir os custos de realização e
aumentar o rendimento. As relações profissionais entre organismos que
exercem actividades semelhantes têm a vantagem de serem
complementares e poderem evoluir ao longo do tempo. Ao mesmo
tempo, a longa duração da geminação permite o aprofundamento das
relações interpessoais, característica que os outros tipos de cooperação
não permitem. Por outro lado permite a criação de comunidades
participativas e também um dos aspectos fundamentais da CIM, ao
assegurar a manutenção de uma dimensão humana nas relações de
cooperação.

Contudo, se as potencialidades são enormes, existem inúmeros


obstáculos que se deparam aos municípios no desenvolvimento das
suas actividades de cooperação. Os constrangimentos à expansão da
CIM são mais internos do que externos, resultam de factores endógenos
e exógenos. Sem dúvida alguma que a maior limitação está relacionada
com os recursos financeiros e humanos e com a pouca autonomia local.
Muitas vezes para contornar este problema recorre-se a um terceiro
parceiro, que muitas agências doadoras

136
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

já finariam a alguns programas de cooperação intermunicipal,


aumentando, deste modo, tanta capacidade financeira como os recursos
humanos.

Todavia, este é ainda um processo embrionário, onde os mecanismos de


incentivo e apoio à concretização de acções são incipientes, contribuído
para uma sobrecarga dos orçamentos municipais.

Outro grande obstáculo relaciona-se com a inexistência de capacidades


por parte do poder local e regional e pelo fraco envolvimento da
sociedade civil. De facto, no Sul, existe uma tensão permanente entre
os planos nacional e local, traduzida numa grande competição. Por
outro lado, a legitimidade destes poderes decorrentes do poder central,
tratando-se mais de uma desconcentração do que de uma
descentralização político-administrativa, agravada pela ausência de
quadros e de parceiros capazes de empreender acções de cooperação
inseridas em estratégias de desenvolvimento mais vastas.

Contudo décadas de desenvolvimento planeado e assistência


conduziram à inevitável conclusão de que o desenvolvimento
económico por si só, não trará um desenvolvimento equilibrado e
sustentável. Durante muito tempo, o enfoque no aspecto económico
significou a exclusão de factores políticos, sociais e ambientais e
culturais contribuindo para que perante o aumento dos níveis de
pobreza e a rápida degradação ambiental, se consolidasse cada vez mais
a ideia que o desenvolvimento deve ser centrado nas pessoas, a riqueza
equitativamente distribuída e ambiente cada vez mais saudável.

3.11.7. O Desenvolvimento Local – As Novas


Autoridades

A incidência dos factores anteriormente descritos é naturalmente


diferente na Europa e ou em África, mas o que é inegável é que aqueles
factores encontram-se em todos os recantos desta aldeia global. Este

137
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

enquadramento permite obter uma multiplicação, em todos os


continentes em vários Países com contornos e resultados diferenciados,
de incitativas, processos e experiências comunitárias designados
normalmente por desenvolvimento local.

São iniciativas e projectos que procuram responder a necessidades


locais, e tem encontrado respostas globais nomeadamente através
de:

 Fórmulas locais de regulação social, económica, politica,


etc.
 Mobilização das capacidades e recursos locais de forma
integrada;
 Utilização de rede de solidariedade e identidades locais.

Sumário

Nesta Unidade temática estudamos e discutimos fundamentalmente


três itens em termos de considerações gerais á disciplina de
Contabilidade Geral:
1. Administração Municipal;
2. Analise critica da descentralização e;
3. Cooperação intermunicipal

3.11.8 Exercícios de Autoavaliação

1. De entre vários conceitos abordados neste capítulo defina os


seguintes:
a) Descentralização;
b) Desconcentração;
c) Devolução;
d) Circunscrição territorial.
2. Quais são os elementos que definem uma autarquia local?

138
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3. Durante o processo de sua introdução, os Municípios passaram


por várias fases e critérios. Indique critério usado para
classificar os municípios?
4. Refira-se aos órgãos de Administração Municipal qual a função
de um deles?
5. O regime financeiro das autarquias locais implica a existência
de vários princípios.
a) Em poucas palavras, em que consiste o princípio de estabilidade
orçamental e o de equidade interageracional?
6. As geminações com municípios de outros países são uma
realidade. A independência, a história do poder local e o
passado comum pode ajudar a definir os modos de cooperação.
a) Indique 2 municípios moçambicanos que foram abrangidos
por uma cooperação intermunicipal.
7. É verdade que a cooperação intermunicipal realiza-se por áreas.
Explique em que consiste a cooperação na área de infra-
estrutura. Saneamento básico, urbanismo e ambiente.
8. No âmbito dos respectivos protocolos de geminações é possível
identificar áreas de intervenção cujo objectivo é não só
aumentar o nível do bem-estar das populações envolvidas, mas
também a qualidade de vida das mesmas. Quais são as áreas de
maior intervenção nas geminações entre municípios
moçambicanos e portugueses?
9. Formas da CIM, apresente algumas das motivações para a
formalização das relações entre os Municípios.

139
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

3.11.9. Resolução de Exercícios de Autoavaliação

1 a) A descentralização está ligada ao conceito de delegação, ou seja, a


transferência de recursos, tarefas, poder de decisão para as autoridades
hierarquicamente inferiores, que são ou independentes do Governo
central, ou democraticamente eleitas. Deste modo, a “delegação”,
encarada como uma descentralização democrática será o conceito que
irá ser utilizado neste estudo, pelo que sem recorrer a conceitos do
direito civil e administrativo, a descentralização pode ser definida como
a Organização das actividades da administração central fora do
Governo central. A descentralização é a transferência ou delegação da
autoridade judicial, planeamento, tomada de decisões e gestão de
actividades de nível central as suas agências, organização no terreno de
unidades subordinadas ao governo, empresas publicas semi-autonomas
ou órgãos governamentais.

b) A desconcentração envolve uma transferência limitada de


poderes na tomada de decisões a funcionários a nível local
sem nenhum instrumento de suporte.
c) Contudo, devolução envolve plena autoridade na tomada de
decisões e envolvimento da comunidade a nível local, com
termos estatutários para uma acção autónoma daqueles
sectores mandatados por eles.

d) Circunscrição territorial o substrato da autarquia local é um


agregado de pessoas definido pela residência em certa
circunscrição do território do Estado.

e) Trata-se de uma pessoa colectiva territorial ou da população


e território. Mas este território é talhado dentro do território
do Estado, por uma lei dimanada dos respectivos órgãos de
soberania, que o delimita ou circunscreve segundo as
tradições e as conveniências da administração.

140
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

f) A relação de geminação consiste em promover relações de


amizade, intercâmbio e apoio mútuo. Embora muitas não
passem de acto formal, as potencialidades quanto à sua
utilização enquanto canais de cooperação são grandes.
Através delas podem-se desenvolver acções conjuntas,
apoiar os parceiros do sul em questões que são rotineiras
para os municípios de Países desenvolvidos mas que exigem
um considerável esforço no do sul ( infra-Estruturas básicas,
abastecimento de agua, recolha e tratamento de resíduos
etc).
1. A circunscrição territorial, o agregado de pessoas, os interesses
comuns, os órgãos próprios.
2. Três critérios podem ser adoptados: o da Índole social dos
municípios, o da população e o fiscal.
O critério da índole social dos municípios leva à classificação
fundamental em duas grandes ordens: a dos municípios urbanos
e dos municípios rurais.
São municípios urbanos aqueles em que a parte principal da
população está aglomerada num mesmo centro residencial e aí
exerce toda a espécie de profissões numa ampla divisão e
especialização do trabalho. Desta complexa actividade e da
aglomeração populacional nascem os problemas característicos
das cidades os de arruamento, habitação, higiene, cultura física
e intelectual, expansão, segurança, comunicações,
abastecimento, iluminação, assistência etc. Os concelhos
urbanos subdividem-se conforme a sua actividade predominante
em industriai, comerciais, mineiros, marítimos, suburbanos e
grandes cidades.
São municípios rurais – aqueles cuja população se dedica, pela
maior parte, à cultura da terra, quase sempre em povoamento
disperso, de modo que a sede desempenha apenas o papel de
centro administrativo e económico, sem o predomínio
residencial e a preponderância social que lhe cabe nos

141
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

municípios urbanos.

3. O concelho municipal;
A câmara municipal;
a) O Presidente da câmara municipal. Conselho Municipal-é
uma Assembleia composta do presidente da câmara e de
representantes. Esta assembleia tem carácter representativo, e da
sua composição se depreende o conceito orgânico que o
legislador forma de município, considerando, não como simples
conjunto de indivíduos – cidadãos, mas como expressão
orgânica da convivência de famílias agregadas.

As funções do concelho municipal podem classificar-se em:

- Função eleitoral, quando elege os vereadores;

- Função moderadora, quando como fiscal da actuação do


presidente da câmara municipal e dos vereadores, podendo requerer
ao Governo inquérito aos actos daquele e revogar o mandato destes,
de modo a manter o equilíbrio dos dois elementos (de nomeação e
electivo) que compõem a câmara

6 a) O princípio da estabilidade orçamental pressupõe, na aprovação


e execução dos orçamentos, a sustentabilidade financeira das
autarquias locais, bem como uma gestão orçamental equilibrada,
incluindo as responsabilidades contingentes por si assumidas. As
autarquias locais não podem assumir compromissos que coloquem
em causa a respectiva estabilidade orçamental.

Princípio da equidade intergeracional -A actividade financeira das


autarquias locais está subordinada ao princípio da equidade na
distribuição de benefícios e custos entre gerações, salvaguardando as
suas legítimas expectativas através de uma distribuição equilibrada dos
custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual. O princípio
implica a apreciação no plano da incidência orçamental, a apreciação,
nomeadamente, dos investimentos aprovados, dos encargos com

142
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

passivos financeiros, das necessidades de financiamento das entidades


participadas pela autarquia, dos compromissos orçamentais e das
responsabilidades contingentes, dos encargos explícitos e implícitos em
parcerias público-privadas, concessões e demais compromissos
financeiros de carácter plurianual, bem como da despesa fiscal,
nomeadamente compromissos futuros decorrentes de isenções fiscais
concedidas, pelos municípios.

7 CM Coimbra vs Cidade da Beira, oferta de 500 livros a


biblioteca municipal;
CM Loures vs CM Matola, envio de equipamento de
saneamento básico

8 . Área de infra-estruturas, saneamento Básico, urbanismo e ambiente

 Apoio ao estudo e execução de infra-estruturas, cujo objectivo


seja a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar das
populações;
 Apoio à formação de técnicos, a realizar em Moçambique em
áreas a definir.
 9 Agricultura e pescas;
-Formação agrária e de pessoal ligado às pescas;
-Formação em matéria de gestão do meio ambiente.

 Cultura, Juventude e desportos;


-Investigação cultural’
-Cooperação a nível da Biblioteca;
-Recuperação do património histórico.

 Indústria, comércio e turismo;


-Formação em gestão empresarial para os agentes económicos;
-Desenvolvimento do turismo.

 Obras Públicas e Habitação


- Construção;

143
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

- Saneamento e gestão ambiental;


Cooperação a nível de estradas.

 Saúde
- Construção e reabilitação de estruturas;
- Saneamento básico e salubridade;
Programas de estudo e combate ao sida.
 Administração
- Formação de quadros da administração;
-Gestão de serviços urbanos;
-Planeamento físico;
Gestão financeira e patrimonial.

144
ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica

4.0. Bibliografia

Referência do documento impresso

José António Oliveira Rocha e Gonçalves Jonas Bernardo Zavale, « O


Desenvolvimento do Poder Local em África: O caso dos municípios em
Moçambique », Cadernos de Estudos Africanos, 30 | -1, 105-133.

Referência electrónica
José António Oliveira Rocha e Gonçalves Jonas Bernardo Zavale, « O
Desenvolvimento do Poder Local em África: O caso dos municípios em
Moçambique », Cadernos de Estudos Africanos [Online], 30 | 2015,
posto online no dia 14 Dezembro 2015, consultado o 10 Agosto 2016.
URL : http://cea.revues.org/1879 ; DOI : 10.4000/cea.187

José António Oliveira Rocha


Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho, Campus de
Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal

jaoliveirarocha@gmail.com

Gonçalves Jonas Bernardo Zavale


Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho, Campus de
Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal

dambuzaz@yahoo.com.br

Os DOI (Digital Object Identifier) são agora acrescentados


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de anotação bibliográfica do OpenEdition.
Os utilizadores das instituições que subscrevem um dos programas
Freemium do OpenEdition podem descarregar as referências
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