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A LEI E AS REDES SOCIAIS: TIRE SUAS DÚVIDAS SOBRE O ALCANCE DO


DIREITO NO MUNDO VIRTUAL

Por Fernando Gualberto Scalioni (advogado, pós-graduado em Direito Público e pós


graduando em Direito Processual Civil, integrante da equipe Valladão Sociedade de Advogados
desde Janeiro de 2014).

É inegável que as redes sociais têm se consolidado como meio de comunicação extremamente
dinâmico e eficiente, possibilitando aos seus usuários a propagação de todo e qualquer tipo de
informação, em tempo real e âmbito global, de forma gratuita e irrestrita – verdadeiramente livre.

No entanto, a liberdade assegurada aos usuários e a eficiência na propagação das informações faz
das redes sociais um ambiente propício para a disseminação de ataques pessoais, de informações
mentirosas, de discursos de ódio e até mesmo para a prática de crimes, valendo-se o ofensor, na
maioria dos casos, do anonimato gerado pela utilização de perfis falsos ou subterfúgios do
gênero.

Engana-se, porém, quem pensa que a internet é uma espécie de “terra sem lei”, na qual tais
abusos, cometidos por meio das redes sociais, não poderiam ser alcançados e reprimidos pelo
Direito. Pelo contrário, existe no Ordenamento Jurídico brasileiro uma série de normas
estabelecendo direitos, deveres e mecanismos judiciais aplicáveis no âmbito das redes sociais,
insertas no chamado Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), no Código Civil Brasileiro (Lei
10.406/2002), no Código Penal Brasileiro (Dec-Lei 2.848/40) e na própria Constituição Federal,
além de já ter sido o tema objeto de ampla construção literária e jurisprudencial.
Eis os questionamentos mais frequentes dos usuários das Redes Sociais acerca de seus Direitos e
Deveres no ambiente virtual:

– O usuário que utilizar as redes sociais para disseminar ataques pessoais ou espalhar
conteúdo falso/ofensivo comete alguma ilegalidade?

Sim. O Direito à Honra, à Imagem e à Intimidade das pessoas é protegido pelo artigo 5º, inciso
X, da Constituição, que assegura ao ofendido o direito à indenização pelos danos materiais ou
morais decorrentes da ofensa. Nesse mesmo sentido, os artigos 186 e 187 do CC/2002
estabelecem que aquele que, por ação, omissão ou abuso do exercício de um direito, violar
direito alheio e causar dano a outrem, ainda que eminentemente moral (violação da honra, da
imagem e da intimidade) comete ato ilícito.

Mais especificamente com relação à internet e às redes sociais, a Lei 12.965/2014, que instituiu o
chamado Marco Civil da Internet, dispõe expressamente que ao usuário da rede mundial de
computadores no país é assegurada “a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua
proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” (art. 7º, inciso
I).

Desse modo, toda e qualquer ataque pessoal ou inverdade veiculada por qualquer meio, inclusive
a internet, capaz de causar algum tipo de dano moral ou material no ofendido configura ilícito
apreciável e punível pelo Direito, podendo a conduta do agressor configurar até mesmo o crime
de calúnia (art. 138 do Código Penal – imputar a outrem, falsamente, conduta criminosa),
difamação (art. 139 do Código Penal – atribuir a outrem fato ofensivo à sua reputação) ou injúria
(art. 140 do Código Penal – propagar ofensa a outrem que lhe diminua a autoestima ou a
dignidade).

– Aquele que só compartilha ou republica, nas redes sociais, o conteúdo ofensivo ou


inverídico formulado por terceiros, também poderá ser responsabilizado?

Sim. Os principais Tribunais do país têm entendido que o usuário da rede social, ao compartilhar
ou republicar conteúdo de terceiros em seu próprio perfil, acaba por responsabilizar-se pelas
informações veiculadas.

Inclusive, em julgado recente o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu “que há


responsabilidade dos que ‘compartilham’ mensagens e dos que nelas opinam de forma ofensiva,
pelos desdobramentos das publicações, devendo ser encarado o uso deste meio de comunicação
com mais seriedade e não com o caráter informal” (TJSP. Apelação Cível nº 4000515-
21.2013.8.26.0451, Rel. Des. Neves Amorim. Julg.: 26/11/2013).

Da mesma forma, o Código Penal, ao estabelecer a pena para o crime de Calúnia (art. 138),
dispõe expressamente que “na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala
ou divulga”, disposição que é plenamente aplicável no âmbito das redes sociais.

Portanto, a reprodução, compartilhamento e encaminhamento de conteúdo por meio das redes


sociais exige cuidado, responsabilidade e parcimônia, vez que aquele que repassa adiante
conteúdo ofensivo, ainda que de autoria de terceiros, assume as consequências civis e penais de
tal conduta.

– Quais as consequências previstas pelo Direito para o agressor e quais os meios para
atingi-las?

O agressor que se valer das redes sociais para propagar ataques pessoais e/ou disseminar
informações inverídicas poderá, na esfera cível, ser condenado a pagar indenização ao ofendido
pelos danos morais e materiais causados e, na esfera criminal, ser condenado à pena de detenção
variável de um mês a dois anos (a depender do crime – se calúnia, injúria ou difamação – da
gravidade da conduta e do histórico do agressor), além de multa, podendo a detenção ser
substituída, nas hipóteses legais, por alguma medida restritiva de direito (arts. 43 e 44 do Código
Penal), como a prestação de serviços comunitários.

A aplicação de uma ou mais dessas consequências ao agressor, no entanto, está sempre


condicionada à análise da gravidade das ofensas pelo Poder Judiciário, sendo dever do ofendido,
tanto na esfera cível quanto na penal, comprovar a ocorrência da ofensa e a sua autoria.

Dessa forma, para se obter a indenização (art. 927 do Código Civil), faz-se necessário que o
ofendido ajuíze Ação de Reparação de Danos contra o agressor, demonstrando a existência do
ilícito (ofensa), o dano material e/ou moral que sofreu e a relação entre a ofensa e o dano.

Já na esfera criminal, para se obter punição ao agressor, deve o ofendido ajuizar Ação Penal
Privada, demonstrando a ocorrência da prática criminosa (calúnia, injúria e/ou difamação) e
quem é o responsável pelas ofensas.

Tomadas tais providências pelo ofendido, o Poder Judiciário irá analisar a gravidade das ofensas
e a extensão dos danos causados, fixando, no Cível, a indenização em patamar razoável para a
reparação dos danos e, no Criminal, pena ao agressor que seja proporcional à sua conduta.
– Existe algum meio legal/judicial para se descobrir a identidade do agressor que se vale de
perfil falso para cometer ilícitos nas Redes Sociais?

Sim. Cada computador, ao estabelecer uma conexão com a internet, deixa na rede uma espécie
de impressão digital, um número de identidade único e exclusivo que lhe permite ser
identificado, chamado IP (sigla em inglês para “protocolo de internet”).

Por sua vez, o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) estabelece aos provedores de internet o
dever de manterem os registros de conexão dos seus usuários pelo prazo de 01 ano, devendo
exibi-los, mediante indispensável ordem judicial, ao interessado (art. 22), à autoridade policial,
administrativa ou ao Ministério Público (art. 13 e parágrafos).

Sendo assim, pode o ofendido, para identificar de onde partiram as agressões, requerer, mediante
Ação Judicial, que a própria rede social informe o IP do computador do qual fora publicado o
conteúdo ofensivo, bem como os dados e registros inerentes ao perfil que o publicou. O Tribunal
de Justiça de Minas Gerais, inclusive, possuindo entendimento firme no sentido de que “o
fornecimento do Internet Protocol (IP), juntamente com horários e informações acerca dos logins
e logouts da conta falsa na rede social de propriedade da requerida, e demais informações
fornecidas para criação do perfil do usuário, constituem medidas adequadas” (TJMG. Agravo de
Instrumento nº 0460795-79.2014.8.13.0000, Rel. Des. Arnaldo Maciel. Publ.: 10/10/2014).

Tais requerimentos, esclarece-se, podem ser formulados mediante o ajuizamento de Ação


Judicial específica contra o provedor e/ou rede social, exclusivamente para esse fim, ou, de
forma mais célere e simples, já no âmbito de eventual Ação de Reparação de Danos, através do
requerimento de Exibição de Documentos previsto pelo Código de Processo Civil (arts. 396 e
seguintes).

– É possível obter a imediata exclusão do conteúdo ofensivo publicado pelo agressor?

Sim. O Superior Tribunal de Justiça já consolidou o entendimento de que “ao ser comunicado de
que determinada imagem postada em seu site possui conteúdo potencialmente ilícito ou ofensivo,
deve o provedor de compartilhamento de vídeos removê-lo preventivamente no prazo de 24
horas, até que tenha tempo hábil para apreciar a veracidade das alegações do denunciante” (STJ.
REsp nº 1.403.749/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi. DJe.: 25/03/2014)

Dessa forma, basta ao ofendido comunicar ao provedor a existência de algum conteúdo ofensivo
em seus domínios, para que a própria rede social promova a exclusão do material denunciado.
Inclusive, a maioria das redes sociais dispõe de ferramentas para facilitar a denúncia, pelos
usuários, de conteúdos impróprios, a fim de tornar mais célere e eficiente a retirada das
publicações ofensivas.

Caso esses mecanismos extrajudiciais não funcionem, no entanto, é cabível o ajuizamento de


Ação Judicial pelo ofendido, inclusive com pedido liminar, buscando a imediata exclusão do
material ofensivo da rede.

– O Provedor de Internet e as próprias Redes Sociais podem ser responsabilizados pelos


ilícitos cometidos, no âmbito de seus domínios virtuais, por algum de seus usuários?

A princípio não. A Lei 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) determina que os provedores de
conteúdo da internet, categoria na qual se inserem as redes sociais, não são responsáveis pelos
conteúdos publicados por seus usuários, os quais detêm a total responsabilidade por eventual
publicação ofensiva à honra, à imagem e à dignidade de terceiros.

No entanto, o próprio Marco Civil da Internet, em seu art. 19, faz a ressalva de que o
descumprimento, pelo provedor, de ordem judicial específica de exclusão de conteúdo ofensivo,
gera para este responsabilidade civil sobre o material. Ou seja: segundo a Legislação específica
sobre o tema, se determinada a exclusão do material ofensivo pelo Poder Judiciário, o provedor
que se mantiver inerte e descumprir a ordem de retirada torna-se também responsável pelo
conteúdo, podendo, aí sim, ser condenado a indenizar o ofendido.

Este, porém, não é o entendimento que tem predominado junto ao Superior Tribunal de Justiça.
Isso porque o referido Tribunal entende que a simples notificação do provedor acerca da
existência de conteúdo impróprio gera para ele o dever de remover tal conteúdo preventivamente
no prazo de 24 horas (vide resposta anterior). Assim, por coerência, entende o STJ que “a inércia
do provedor que, após notificado pelo usuário, não promove a remoção da sua página de rede
social com conteúdo ofensivo, enseja responsabilização civil” (STJ. AgRg no AREsp nº
123.013/SP, Rel. Min. João Otávio Noronha. DJe.: 03/11/2015), independentemente de ordem
judicial.

De todo modo, é a inércia do provedor que acarreta sua responsabilização, não sendo este, a
priori, o responsável pelo conteúdo ofensivo publicado em seus domínios.

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