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MÉTODOS DE ARGUMENTAÇÃO

Para começarmos o nosso estudo, é importante partirmos da origem da palavra “método”, que corresponde a um caminho por
meio do qual se chega a determinado objetivo ou fim.  (meta = através de, odos = caminho).
Dessa forma, quando estabelecemos os métodos de raciocínio, na verdade, encontramos meios de chegarmos a
uma conclusão, partindo-se de uma linha de pensamento.
É importante destacar que, em um texto argumentativo, muitas vezes, partimos de um método de raciocínio para
desenvolver e defender uma ideia. A argumentação tem por objetivo a persuasão e, para isso, recorremos a provas objetivas
ligadas a razão, a raciocínio lógico e a proposições (premissas) que conduzem a conclusões.

Em Lógica, uma premissa é uma fórmula considerada hipoteticamente verdadeira, dentro de uma dada inferência. Premissa


significa a proposição, o conteúdo, às informações essenciais que servem de base para um raciocínio, para um estudo que levará
a uma conclusão.

OS MÉTODOS DE RACIOCÍNIO LÓGICO


Basicamente, são três os métodos de raciocínio utilizados: o indutivo, o dedutivo e o dialético.

O MÉTODO INDUTIVO

É aquele que parte da análise de observações particulares, para chegar a uma afirmação geral, à determinada conclusão.
Quando temos uma opinião e a comprovamos com dados da realidade, por exemplo, estamos utilizando o método indutivo. Isso
que dizer que quando eu cito testemunhos de autoridade, dou exemplos, uso estatísticas, estou utilizando o método indutivo
para argumentar.

Vejam o exemplo a seguir:

João é mortal.
Antônio é mortal.
Sérgio é mortal.
João, Antônio e Sérgio são homens.
Logo, homens são mortais.
(premissas particulares que levaram a uma conclusão geral)

Vamos ver o método indutivo na prática argumentativa:

TEMA: A realização de grandes eventos esportivos no Rio de Janeiro, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, foi positiva para
as comunidades carentes cariocas? 

Já foi noticiado pela mídia que alguns moradores da Zona Oeste tiveram que aceitar indenizações irrisórias do Governo e
deixar suas residências. Houve casos em que pessoas saíram para trabalhar e encontraram suas casas demolidas quando
retornaram. O discurso de que os mais pobres serão beneficiados com 2014 e 2016 é, portanto, falacioso e toda a sociedade
deve estar atenta para não se deixar levar pelas pseudo boas ações governamentais.

Partindo para a análise:

Por que as pessoas querem ser famosas? Porque de alguma forma elas querem ser felizes, e fama traria felicidade.

1 primeira premissa> Já foi noticiado pela mídia que alguns moradores da Zona Oeste tiveram que aceitar indenizações
irrisórias do Governo e deixar suas residências

2 segunda premissa> Houve casos em que pessoas saíram para trabalhar e encontraram suas casas demolidas quando
retornaram.

Conclusão> O discurso de que os mais pobres serão beneficiados com 2014 e 2016 é, portanto,falacioso...

O MÉTODO DEDUTIVO

É a aplicação de uma regra geral a um caso particular (raciocínio que vai do geral para o particular). O processo de dedução é
silogístico e baseia-se na exatidão das premissas. Silogismo é o raciocínio formado de três proposições: a primeira, chamada de
premissa maior; a segunda de premissa menor e a terceira de conclusão.

A dedução vai do geral para o particular.

Exemplo:
Todos os homens são mortais. (premissa maior)
Sócrates é homem. (premissa menor)
Logo, Sócrates é mortal. (conclusão)
A força deste tipo de raciocínio está na exatidão da premissa maior, caso contrário pode-se incorrer em conclusões absurdas:

Exemplo: Todo político é desonesto.

Teodoro é político.

Logo, Teodoro é desonesto.

Veja o exemplo a seguir: Todos os povos devem respeitar as diferenças culturais. O brasileiro, berço da diversidade, deve
fortalecer tal comportamento.

Notem como partimos de uma generalização (“Todos os povos”) para, depois, falarmos do brasileiro especificamente.
(DEDUÇÃO)

A dedução, também, é bastante utilizada em textos dissertativos argumentativos. Observem o fragmento a seguir:

TEMA- POR QUE O DESEJO DE FAMA É TÃO PRESENTE NO MOMENTO ATUAL?

“É válido destacar, antes de tudo, que o grande objetivo do ser humano em vida é a felicidade. Ser feliz no mundo capitalista em
que vivemos parece estar baseado em desejos essencialmente materiais, tais como: dinheiro e status social. Nessa perspectiva,
se considerarmos que a fama é um meio de se atingir de maneira mais rápida tais ideais, não é de se estranhar que seja tão
desejada na atualidade”.

Partindo para a análise:

Por que as pessoas querem ser famosas? Porque de alguma forma elas querem ser felizes, e fama traria felicidade.

1 premissa-premissa maior> É valido destacar antes de tudo que o grande objetivo do ser humano em vida é a felicidade.

2 premissa menor> Ser feliz no mundo capitalista em que vivemos parece estar baseado em desejos essencialmente
materiais, tais como: dinheiro e status social.

Conclusão> a fama é um meio de se atingir de maneira mais rápida tais ideais

No método dedutivo, a opinião é comprovada somente com ideias, sem apresentação de elementos concretos, de situações
específicas. Parte-se da ideia geral, da teoria, para se comprovar uma situação específica.

                                               

“Se, pelo método indutivo, partimos dos fatos particulares para a generalização, pelo dedutivo,
caminhamos em sentido inverso: do geral para o particular, da generalização para a especificação, do desconhecido
para o conhecido. É método a priori: da causa para o efeito”.

Silogismo e sofismo
O sofismo ou sofisma é uma linha de pensamento ou retórica que procura induzir o erro, a partir de uma falsa lógica ou sentido.
O discurso sofista tem a intenção de enganar e, em determinadas situações, o silogismo pode apresentar uma relação intrínseca
com o sofismo.
O silogismo, mesmo sendo um pensamento lógico, pode gerar conclusões equivocadas, caracterizando-se como um  silogismo
sofístico.
Exemplo: “Deus é amor. O amor é cego. Stevie Wonder é cego. Logo, Steve Wonder é Deus”.

O MÉTODO DIALÉTICO
O método dialético consiste em se estabelecer um raciocínio a partir de ideias a princípio contrárias para se chegar,
posteriormente, a uma síntese. A dialética utiliza a tese (ideia inicial), a antítese (ideia contrária à tese) e
a síntese (conclusão) como elementos básicos para a argumentação.

Simplificando muito, é o modo de raciocínio que busca chegar a uma idéia comparando duas, muitas vezes opostas. A palavra
pode designar simplesmente relação entre duas coisas. Na argumentação, consiste-se na contraposição de argumentos, de modo
a afirmar um deles. Os argumentos são chamados de tese e antítese. Extremamente produtiva, com o método dialético
comentamos uma ideia contrária à nossa para descontruí-la, apontando suas falhas. Assim, reafirmamos o valor de nossa tese e
alcançamos o objetivo primeiro da dialética como arte argumentativa, que é vencer um debate. 

Sócrates internaliza a dialética, retirando seu caráter primeiro de disputa argumentativa. Enxerga nela a melhor maneira de se
chegar à verdade: dialogando com nós mesmos, conseguimos colocar em questão nossos conceitos, validando ou não a verdade
deles. Ex: Se penso que é correto mentir (tese), levanto a possibilidade do oposto: não mentir é o correto (antítese). A partir da
comparação entre os dois conceitos e suas conseqüências, afirmo ou não a verdade de um deles. 

Exemplos de dialética na argumentação:


O técnico da seleção transmite uma visão sacrificial do futebol. No seu repertório, ao "comprometimento" e à "doação" soma-se
a "superação". ("Superação" é palavra da moda. Por "superação" entende-se até conseguir fazer regime para emagrecer.) Na
entrevista da convocação ele disse que não gosta de se pôr como vítima e que seu propósito é ser feliz. O conjunto do discurso,
no entanto, aponta para o inverso. Ele é vítima de críticos que não reconhecem o valor de "todo um trabalho", por ele feito ao
longo de três anos e meio com "coerência". Mas não importa. A infelicidade é o caminho pelo qual se chega ao triunfo. A alegria
que pode (e em princípio até deve) haver numa disputa esportiva desaparece sob os imperativos da renúncia e da abnegação.
Futebol é jogo, e jogo é brinquedo. Paulo Mendes Campos escreveu uma vez que a bola é o mais perfeito brinquedo jamais
inventado. Dunga e a cerveja, com seus arrebatamentos cívicos, seu espírito "guerreiro" e sua busca de inimigos, passam longe
das noções de jogo e brinquedo. Sob a inspiração deles, quem entra em campo é o talibã de chuteiras. (Trecho do texto “Talibãs
de chuteiras”, de Roberto Pompeu de Toldeo)

A construção do parágrafo é predominantemente dialética. O autor contrapõe à ideia de Dunga sobre futebol a sua. 

O técnico da seleção transmite uma visão sacrificial do futebol. No seu repertório, ao "comprometimento" e à
"doação" soma-se a "superação". ("Superação" é palavra da moda. Por "superação" entende-se até conseguir fazer
regime para emagrecer.) Na entrevista da convocação ele disse que não gosta de se pôr como vítima e que seu
propósito é ser feliz. O conjunto do discurso, no entanto, aponta para o inverso. Ele é vítima de críticos que não
reconhecem o valor de "todo um trabalho", por ele feito ao longo de três anos e meio com "coerência". Mas não
importa. A infelicidade é o caminho pelo qual se chega ao triunfo. (ideia de dunga: futebol é sacrifício) 

A alegria que pode (e em princípio até deve) haver numa disputa esportiva desaparece sob os imperativos da
renúncia e da abnegação. Futebol é jogo, e jogo é brinquedo. Paulo Mendes Campos escreveu uma vez que a bola é
o mais perfeito brinquedo jamais inventado. (ideia do autor – futebol é jogo, brinquedo)

Dunga e a cerveja, com seus arrebatamentos cívicos, seu espírito "guerreiro" e sua busca de inimigos, passam
longe das noções de jogo e brinquedo. Sob a inspiração deles, quem entra em campo é o talibã de chuteiras.
(conclusão a partir da comparação entre as duas ideias, que desvaloriza a de Dunga.) 

No próprio discurso de Dunga, o autor contrapõe afirmações que seriam opostas, o que mostraria a incoerência daquele:

Na entrevista da convocação ele disse que não gosta de se pôr como vítima e que seu propósito é ser feliz. O conjunto do
discurso, no entanto, aponta para o inverso. Ele é vítima de críticos que não reconhecem o valor de "todo um
trabalho", por ele feito ao longo de três anos e meio com "coerência".

Reparem a construção de dialéticas na tirinha acima e notem que, nesse caso, a síntese foi conciliadora, uma vez que se criou
um ponto de contato entre tese e antítese, unindo-as.
1-CAIU NO ENEM
 Que estratégia argumentativa leva o personagem do
terceiro quadrinho a persuadir sua interlocutora?
a) Prova concreta, ao expor o produto ao consumidor.
b) Consenso, ao sugerir que todo vendedor tem técnica.
c) Raciocínio lógico, ao relacionar uma fruta com um
produto eletrônico.
d) Comparação, ao enfatizar que os produtos apresentados
anteriormente são inferiores.
e) Indução, ao elaborar o discurso de acordo com os
anseios do consumidor.

QUESTÃO UERJ 1

No desenvolvimento da argumentação, o autor enumera razões específicas, facilmente constatadas no cotidiano, para sustentar
sua opinião, anunciada no título, de que todos nós seríamos ainda escravocratas.
Esse método argumentativo, que apresenta elementos específicos da experiência social cotidiana, para deles extrair uma
conclusão geral, é conhecido como:
(A) direto (C) dedutivo
(B) dialético (D) indutivo
 
QUESTÃO UERJ 2

só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, (l. 3-4) Esse trecho se refere à utilização do
seguinte método de argumentação:
(A) indutivo
(B) dedutivo
(C) dialético
(D) silogístico
 

QUESTÃO UERJ 3
ler nos faz mais felizes. É um caminho para o autoconhecimento, e o exercício constante de autoconhecimento é um
caminho para a felicidade. (l. 5-6)
Neste argumento, Rodrigo Lacerda formula uma premissa geral e uma premissa particular, para relacioná-las na conclusão.
Essa estrutura caracteriza o argumento como:
(A) indutivo
(B) dialético
(C) dedutivo
(D) comparativo

QUESTÃO UERJ 4
Antonio Prata, ao comentar o ataque ao jornal Charlie Hebdo, construiu uma série de variações do argumento típico do método
dedutivo, conhecido como “silogismo” e normalmente organizado na forma de três sentenças em sequência.
A organização do silogismo sintetiza a estrutura do próprio método dedutivo, que se encontra melhor apresentada em:
(A) premissa geral - premissa particular - conclusão
(B) premissa particular - premissa geral - conclusão
(C) premissa geral - segunda premissa geral - conclusão particular
(D) premissa particular - segunda premissa particular - conclusão geral
 

QUESTÃO UERJ 5

A validade de nossos conhecimentos é garantida pela correção do raciocínio. São dois os modos de raciocínio: o indutivo e o
dedutivo. Sobre isso, assinale a alternativa correta.
a) O raciocínio indutivo é amplamente utilizado pelas ciências experimentais.
b) O raciocínio indutivo parte de uma lei universal, considerada válida para um determinado conjunto, aplicando-a aos casos
particulares desse conjunto.
c) O raciocínio dedutivo parte de uma lei particular, considerada válida para um determinado conjunto, aplicando-a aos casos
universais desse conjunto.
d) O raciocínio dedutivo é uma argumentação na qual, a partir de dados singulares suficientemente enumerados, inferimos uma
verdade universal.
e) O raciocínio indutivo é o argumento cuja conclusão é inferida necessariamente de duas premissas

QUESTÃO UERJ 6

O método dedutivo organiza-se a partir de premissas gerais que são confirmadas por premissas particulares para se chegar a
uma conclusão. A frase do texto que evidencia uma premissa geral é:
(A) "Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis." (l. 1-2)
(B) "Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis." (l. 9)
(C) "São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana." (l. 29-30)
(D) "Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos." (l. 47-48)
QUESTÃO UERJ 7
A argumentação se estrutura por meio de diferentes mecanismos discursivos. No quarto parágrafo (linhas 24 a 30), o
mecanismo empregado consiste na apresentação de:
(A) opinião apoiada em exemplos (C) construção caracterizada como dialética
(B) alegação partilhada por muitos (D) definição baseada em elementos válidos

QUESTÃO UERJ 8

 
O início do primeiro parágrafo (l. 1-2) expõe um eixo em que se apoiará a construção do texto. Esse eixo pode ser definido
como:
(A) uma evidência da tese
(B) uma opinião polêmica
(C) um método de raciocínio
(D) um testemunho autorizado

QUESTÃO UERJ 9

A pátria
 
            “Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que
lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome
dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas
de tupi, do folklore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma!
Nenhuma!

O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a
agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando
o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele
não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma
decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física,
nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato, era a do Tenente
Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamarati.

E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado
por uma ilusão, por uma ideia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía?
Não sabia que essa ideia nascera da amplificação da crendice dos povos greco-romanos de que os ancestrais
mortos continuariam a viver como sombras e era preciso alimentá-las para que eles não perseguissem os
descendentes? Lembrou-se do seu Fustel de Coulanges… Lembrou-se de que essa noção nada é para os
Menenanã, para tantas pessoas… Pareceu-lhe que essa ideia como que fora explorada pelos conquistadores por
instantes sabedores das nossas subserviências psicológicas, no intuito de servir às suas próprias ambições…

Reviu a história; viu as mutilações, os acréscimos em todos os países históricos e perguntou de si para si: como
um homem que vivesse quatro séculos, sendo francês, inglês, italiano, alemão, podia sentir a Pátria?

Uma hora, para o francês, o Franco-Condado era terra dos seus avós, outra não era; num dado momento, a
Alsácia não era, depois era e afinal não vinha a ser.

Nós mesmos não tivemos a Cisplatina e não a perdemos; e, porventura, sentimos que haja lá manes dos nossos
avós e por isso sofremos qualquer mágoa?

Certamente era uma noção sem consistência racional e precisava ser revista.”

BARRETO, Lima.Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1986.


O personagem Policarpo Quaresma, no trecho acima, se encontra preso, prestes a ser executado pelo exército de Floriano
Peixoto, por ter escrito uma carta ao presidente protestando contra o assassinato de prisioneiros. Antes de ser executado, ele
reflete sobre a noção de pátria. Nos dois primeiros parágrafos, ele parte de suas próprias experiências, o que configura o
seguinte método de raciocínio:
(A) indutivo, pensando do particular para o geral
(B) dedutivo, pensando do abstrato para o concreto
(C) dialético, pensando a partir das suas contradições
(D) sofismático, pensando do geral para o particular

QUESTÃO UERJ 10

O problema não é a escassez de recursos


 
            Assessor da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Libânio diz que o levantamento sobre
as condições de vida no Rio demonstra que a relação da instituição com o Brasil se dará cada vez mais no campo
da informação e menos no de recursos financeiros.
O GLOBO: Por que o Rio foi escolhido para ter o primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano de uma cidade?
JOSÉ CARLOS LIBÂNIO: Primeiro, pela oferta de recursos intelectuais, que permitiu não só a criação de novos
indicadores, como também desagregá-los. O Brasil foi o primeiro país a ter um índice para todas as cidades. Com
a experiência, resolvemos enfrentar o desafio de fazer o mesmo em nível local. O Rio foi escolhido porque se
destaca no imaginário nacional e mundial. Era preciso identificar suas peculiaridades e talentos para planejar o seu
futuro.
Em que situação de desenvolvimento humano o Rio se encontra?
LIBÂNIO: Olhamos para a vida carioca por diversos prismas e aparece uma cidade inusitada. Está entre as quatro
capitais com melhores condições de vida. Mas, se comparada a outras capitais, sofre uma intensa desproporção de
renda. Em termos de desigualdades, está em 11º. Fica claro que a dificuldade da cidade é a repartição dos
recursos. A Zona Sul, por exemplo, tem renda per capita cinco vezes maior do que a Zona Norte.
Os problemas do Rio atingem a todos da mesma maneira?
LIBÂNIO: A vantagem do relatório é justamente olhar a informação desagregada, fechando o zoom do
microscópio, para identificar onde a cidade está bem e onde não está. Médias, normalmente, mais escondem do
que revelam. Não podemos supor, por exemplo, que todas as áreas pobres da cidade têm as mesmas condições
de saneamento e acesso à água.
Como a ONU espera que o relatório seja aproveitado?
LIBÂNIO: O Brasil está se graduando junto à ONU e ao Banco Mundial. Isso significa que virão menos recursos a
fundo perdido destes dois organismos. Vai ser preciso que haja mobilização da sociedade, porque vemos que o
problema não é a escassez de recursos. A tendência é de que a ONU mande mais recursos para África e Ásia. Para
o Brasil, os recursos serão mandados em ordem decrescente. O país poderá continuar contando com a ONU, mas
a colaboração para o desenvolvimento se dará cada vez mais no campo da informação e menos da mobilização
dos recursos financeiros.
LIBÂNIO, José Carlos. O Globo, 24/03/2001.

Médias, normalmente, mais escondem do que revelam. Não podemos supor, por exemplo, que todas as áreas
pobres da cidade têm as mesmas condições de saneamento e acesso à água.
O trecho transcrito acima critica um uso específico do seguinte método de raciocínio:
(A) dedutivo
(B) dialético
(C) indutivo
(D) silogístico
 

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