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Ferramentas do Trabalho Filosófico

Com este argumento pretende defender-se uma política contra refugiados. Porém, na
premissa 1 distorce-se, ou faz-se um espantalho, da posição sustentada pelos defensores
típicos da política a favor dos refugiados. Ou seja, quem defende uma política de apoio a
refugiados não defende a premissa 1. O problema neste argumento é que. deste modo,
critica-se uma mera caricatura da posição em consideração.

Derrapagem
A falácia da derrapagem, ou bola de neve, ocorre quando se tenta mostrar que uma
determinada proposição é inaceitável porque a sua aceitação conduziria a uma cadeia de
implicações com um desfecho inaceitável, quando, na realidade, ou um dos elos dessa ca­
deia de implicações é falso, ou a cadeia no seu todo é altamente improvável. Por exemplo:

(1) Se permitirmos o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não tarda esta­
remos a permitir a poligamia, o incesto e até a pedofilia.
(2) Mas isso é claramente errado, dado que conduzirá ao fim da civilização.
(3) Logo, não devemos permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
L__________________ __________________ ____________________ J
Estamos perante uma falácia da derrapagem, uma vez que as premissas sustentam
relações causais muito duvidosas. Ou seja, do casamento homossexual não se seguem
causal mente coisas como a pedofilia ou o fim da civilização.

RESUMO

• A validade ou força dos argumentos não dedutivos não e detetável através da


sua forma lógica, mas sim de aspetos informais.

- Num argumento não dedutivo pretende-se que a<s) premissa(s) apoie(m) ou


suporte<m) a conclusão.

- Podemos organizar os argumentos nâo dedutivos em três categorias princi­


pais: argumentos indutivos (com generalizações e previsões), argumentos por
analogia, e argumentos de autoridade

• Dois tipos de argumentos indutivos muito recorrentes: generalizações e


previsões.

• Uma boa indução satisfaz os seguintes critérios:

- Critério 1: A amostra deve ser diversificada, não ocultando contraexemplos


conhecidos. (Caso se viole este critério, comete-se a falácia da generaliza­
ção precipitada.;-

- Critério 2: A amostra deve ser representativa. (Caso se viole este critério,


comete-se a falacia da amostra não representativa}

■ Os argumentos por analogia são aqueles que se baseiam na semelhança ou


analogia entre coisas diferentes.

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3. Lógica mf ormal

• Para avaliar os argumentos de analogia há um conjunto de critérios a que se


deve atender:

- Critério 1: As semelhanças observadas entre os objetos devem ser relevan­


tes para a característica a inferir na conclusão.

- Critério 2: Entre os dois objetos da comparação não devem existir diferen­


ças relevantes para a característica a inferir na conclusão.

• Ao desrespeitar-se esses critérios comete-se a falácia da falsa analogia

• Num argumento de autoridade recorre-se a opinião de um perito ou de um


especialista para reforçar a aceitação de uma determinada proposição.

• Para determinar se estamos perante um bom argumento de autoridade e pre­


ciso considerar os seguintes critérios:

- Critério 1: Deve identificar-se claramente as fontes e citar as autoridades.

-Critério 2: As autoridades devem ser reconhecidamente especialistas no


assunto em questão, sendo imparciais e isentas, e a sua opinião não deve
ser disputada por outros peritos igualmente qualificados.

• Quando se desrespeita algum destes critérios comete-se a falacia de apelo


ilegítimo a autoridade G Conceitos
• Uma falácia informal e um erro de argumentação que não depende da forma • argumentos não dedutivos
lógica do argumento; ao invés, o seu caráter enganador deve-se ao seu con­
teúdo. • argumentos indutivos (de
generalização e previsão)
• Algumas falácias informais que aparecem com frequência e que e util conhecer:
• argumentos por analogia
-Petição de princípio: quando se pressupõe nas premissas aquilo que se
quer ver provado na conclusão. • argumentos de autoridade

- Falso dilema: quando numa das premissas se consideram apenas duas pos­ • falácia informal
sibilidades ou alternativas e na realidade existem outras possibilidades que • falácia da generolizaçâo
não estão a ser devidamente consideradas. precipitoda
- Falsa relação causal: quando se atribui erradamente uma relação causal a • falácia da amostro não
dois estados ou eventos com base numa sucessão temporal. representotiva
- Ad bominem: quando se procura descredibilizar uma determinada proposi­
• falácia da falsa analogia
ção ou argumento atacando a credibilidade do seu autor.
• falácia de opelo ilegítimo
- Adpapulum quando se recorre ilegitimamentea opinião popular ou a maio­
á outondade
ria para provar a verdade de algo.
• petição de princípio
-Apelo ã ignorância: quando se tenta provar que uma proposição e verda­
deira porque ainda não se provou que e falsa, ou que e falsa porque ainda • falso dilema
não se provou que e verdadeira.
• falso relação causal
-Boneco de palha: quando se pretende mostrar que se refutou um deter­ • ad hominem
minado argumento ou teoria através da refutação da versão distorcida e
enfraquecida do mesmo. • ad populuai

- Derrapagem: quando se tenta mostrar que uma determinada proposição é • apelo à ignorãncio
inaceitável porque a sua aceitação conduziria a uma cadeia de implicações • boneco de polha
com um desfecho inaceitável, quando, na realidade, um dos elos dessa ca­
deia de implicações e falso ou improvável. • derrapagem

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Ferramentas do Trabalho Filosófico

ESQUEMATIZANDO

ARGUMENTOS NAO DEDUTIVOS

INDUTIVOS ANALOGIA AUTORIDADE

Generalizações Previsões

PETIÇÃO DE PRINCÍPIO

FALSO DILEMA

FALSA RELAÇÃO CAUSAL

AD HOMINEM

AD POPULUM

APELO Ã IGNORÂNCIA

FALÁCIAS
INFORMAIS • BONECO DE PALHA

: DERRAPAGEM
G

FALÁCIA DA GENERALIZAÇÃO
PRECIPITADA

j FALÁCIA DA AMOSTRA
REPRESENTATIVA

: FALSA ANALOGIA
G
G
G
G

* APELO À AUTORIDADE

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Questões propostas

GRUPO I

1- Indica se as afirmações seguintes são verdadeiras ou falsas. Corrige as afirmações falsas.

a) De uma lata com 1000 feijões, retirámos aleatoriamente uma amostra de 50 feijões brancos
e 50 feijões pretos, o que nos permite inferir dedutivamente que os feijões brancos e pretos
estão em igual número dentro da lata.

b) Os raciocínios por indução argumentam a partir de um caso ou exemplo específico para pro­
varem que outro caso, semelhante ao primeiro em muitos aspetos, é também semelhante
num outro aspeto determinado.

c) Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para suportar uma opinião, a maioria
das vezes não o é. O apelo à autoridade é especialmente impróprio se a pessoa não está
qualificada para ter uma opinião de perito no assunto ou se não há acordo entre os peritos do
campo em questão.
d) As falácias formais sào aquelas que sõ podem ser detetadas através de uma análise do con­
teúdo do raciocínio.
e) <O sol nasce quando o galo canta, portanto o canto do galo faz o sol nascer.» Este é um exem­
plo da falácia da falsa relação causal.

f) Quando afirmamos <Einstein era um pacifista; logo, o pacifismo tem de ser uma posição cor­
reta», estamos a cometer uma falácia od hominem.
fiO E is uma falácia da derrapagem: *Dado que não estou a mentir, segue-se que estou a dizer a
verdade.»

h) Numa falácia od hominem ataca-se quem defende um argumento e nào o próprio argumento.
i) A falácia da derrapagem baseia-se numa sequência de implicações que parecem verdadei­
ras, mas sào falsas.

j) A validade ou força dos argumentos indutivos não exclui a falsidade da conclusão, mesmo
que as premissas sejam verdadeiras, mas torna improvável que a conclusão seja falsa.

GRUPO II
Responde de forma direta e objetiva às questões que se seguem.

1. Identifica a falácia informal que ocorre em cada um dos argumentos seguintes. Apresenta uma
breve justificação das tuas respostas.

a) Tal como os bombeiros, as hospedeiras usam farda. Os bombeiros apagam fogos. Logo, as
hospedeiras também apagam fogos.

b) o trovão ocorre sempre depois do relâmpago. Logo, o trovão é causado pelo relâmpago.

c) O Luís está a defender que um futebolista ganhe muito dinheiro, justamente porque o irmão
dele é futebolista.

d) O João viu um gato preto antes de escorregar. Logo, ele escorregou porque viu um gato preto.

e) O João disse á mãe: *No teste de Filosofia, tirei 8 Mas. mais 0.5 dava 8,5; ora, isso arredonda
para 9; e já sabes que com 9 todos os professores arredondam para 10. Por isso, vou passar
a Filosofia.»
Ferramcntai do Trabalho Filoiófico

Questões propostas

f) O Principezinho pergunta ao bêbado: «Estás a fazer o quê?* Este responde: «Estou a beber.*
O Principezinho insiste: «Estás a beber porquê?* «Para me esquecer*, responde o bêbado.
Curioso volta a questionar: «Para te esqueceres de quê?» Este responde: «Para me esquecer
de que tenho vergonha.» «Mas vergonha de quê?*, volta a insistir o Principezinho. Responde
o bêbado: «Vergonha de beber.*

g) A pena de morte é uma punição justa nalguns casos. Porque há casos tão graves que, se o
criminoso fosse condenado a uma pena mais leve, não seria feita justiça.

h) E evidente que o universo ê infinito, porque, se nâo fosse, já se teria conseguido determinar
o seu tamanho.

i) A lógica proposicional ê uma teoria errada. Eles dizem que os argumentos válidos levam a
conclusões verdadeiras, mas é óbvio que isso nem sempre acontece.

j) Ou tudo o que fazemos ê involuntário ou todas as nossas ações são voluntárias. Quando
corremos ou jogamos ã bola, isso náo ê involuntário. Logo, todas as nossas ações são volun­
tárias.

GRUPO III
Responde de forma direta e objetiva ás questões que se seguem.

Lê o seguinte texto inspirado no livro A República, de Platao.

sócrates: Imagina uma caverna subterrânea que tem a toda a sua largura unia abertura por onde en­
tra Livremente a luz e, nessa caverna, homens presos desde a infância, de tal modo que nâo possam
mudar de lugar nem volver a cabeça devido às correntes que lhes prendem as pernas e o tronco, po­
dendo tâo-sõ ver aquilo que se encontra diante deles. Supõe igualmcnte que eles consideram reais as
sombras projetadas na parede.
glauco: Estou a imaginar tudo isso. Mas nâo julgariam eles que nada existiria de real além das som
bras?
sócrates: Exatamente! Para eles, aquelas sombras sào a única realidade.
glauco: Mas o que pretendes concluir?
sócrates:Póis. meu querido Glauco, c essa, precisamente, a imagem da condição humana. Ora. tal
como aqueles prisioneiros, também nós muitas vezes confundimos a aparência com a realidade e
julgamos verdadeiro o que ê falso. É verdade que nào estamos presos por correntes metálicas como
aqueles prisioneiros, mas por outro género de "correntes", que nào imobilizam o corpo mas sim a
mente, como c o caso da preguiça, medo, vícios, e falta de espírito crítico.

Responde às seguintes questões.

1. Representa canonicamente (com duas premissas e uma conclusão) o argumento náo dedutivo
presente neste texto.

2. Que tipo de argumento náo dedutivo está descrito neste texto? Justifica.

3. Será que o argumento não dedutivo descrito neste texto é forte ou fraco?
Justifica adequadamente a tua resposta, começando por enunciar os critérios de avaliação
desse tipo de argumento.

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