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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
PROF. DR. RONY PETTERSON GOMES DO VALE
RONYVALE@ UFV.BR

LET 102 – LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL I

AULA 07 PARTE II – ARGUMENTAÇÃO RETÓRICA


ARGUMENTAÇÃO RETÓRICA E OS PRINCIPAIS TIPOS DE

ARGUMENTOS
NOÇÕES GERAIS SOBRE A RETÓRICA
A retórica é “uma instituição especulativa dos meios de produzir aquilo
que pode ser ou não ser, quer dizer, que não é científico (necessário)
nem natural.” (BARTHES, S/D, p. 52)

Convencer versus Persuadir


O que é pois persuadir? É levar alguém a crer em alguma coisa. Alguns
distinguem rigorosamente “persuadir” de “convencer”, consistindo este
último não em fazer crer, mas em fazer compreender. (REBUL, 2004, p.
xv)
Daí…

i) Paulo persuadiu-me de que sua causa é justa


Logo, “persuadir” => levar-me a acreditar em alguma coisa
Fazer-saber  fazer crer

ii) Paulo persuadiu-me a defender a sua causa


Logo, “persuadir” => levar-me a fazer alguma coisa
Fazer-saber  fazer-fazer
Todavia…

[…] a persuasão retórica consiste em levar a crer (i), sem redundar em


no levar a fazer (ii). Se, ao contrário, ele leva a fazer sem levar a crer,
não é retórica [é promessa ou ameaça]. (REBUL, 2004, p. xv)

Argumentação demonstrativa  convencimento racional pura /


silogismo

Argumentação retórica  racional + afetivo / entimema + exemplos


A mecânica da Argumentação

 quadro de questionamento: introduzido pelo sujeito que argumenta e que orienta a


perspectiva na qual ele insere o problema levantado em sua afirmação, tese ou
proposição.”
Tese versus Antítese  a estrutura básica do discurso argumentativo
pressupõe a existência de atitudes antitéticas (posições contra e favor)
explícitas e implícitas.

 Afirmação  (tese/proposição) possui uma antítese (explícita ou implícita)


 Posicionamento  concordância (total ou parcial) ou discordância (total
ou parcial) + julgamento (domínios de avaliação)
 Quadro de questionamento  insere a argumentação numa perspectiva:
social, econômica, política, religiosa, científica, matemática,
epistemológica, moral => perspectivação
Perspectivação

perspectiva desdobramentos argumentativos


selecionada
miséria O problema da miséria econômica - distribuição de renda;
é de ordem… - políticas econômicas liberais
social - acesso à educação formal;
- discriminação racial
religiosa - intolerância religiosa;
- incompreensão dos preceitos
cristãos sobre caridade.

Obs.: As possibilidades de problematização são bem diversificadas e


dependem, basicamente, do tipo de auditório ao qual a argumentação é
dirigida.
Um pontapé na problematização: Tópica ≈ uma grade

Processo  dá-se um tema ao orador; para encontrar argumentos, o


orador “desloca” o tema ao longo de uma grade de formas vazias: do
contato do tema com cada “casa” vazia (cada “lugar”) da grade (da
Tópica) surge uma ideia possível, uma premissa para entimema.
(Barthes, s/d, p. 68)

Uma Tópica: gênero, diferença, definição, enumeração das partes,


etimologia, conexos (campo associativo ao radical), comparação,
repugnância, efeitos, causas.
Aplicando a Tópica a um discurso persuasivo sobre literatura

i) a qual gênero ela pertence?  arte? discurso? produção cultural?


ii) se é arte, qual é a diferença em relação às outras artes?
iii) quantas partes atribuir-lhes e quais?
iv) o que nos inspira a etimologia da palavra/
v) qual a sua relação com seus vizinhos morfológicos (literário, literal,
letras, letrado etc.)
vi) com que a literatura está numa repugnância? o dinheiro? a Verdade?
etc.
Prática 02 – Tentar aplicar a tópica abaixo a um dos temas propostos,
criando um quadro de problematização:

Tópica: gênero, diferença, definição, enumeração das partes, etimologia,


conexos (campo associativo ao radical), comparação, repugnância,
efeitos, causas.

Temas:
- violência
- fome
- aborto
ARGUMENTAÇÃO RETÓRICA: EXEMPLOS E ENTIMEMA - NOÇÕES GERAIS

Para Aristóteles (2007, p. 120 et. seq.): Retórica

 exemplos (indução)
 entimemas (dedução)

Exemplos  “frase ou passagem de um autor, citada para estabelecer


uma opinião, confirmar uma regra ou demonstrar uma verdade.”
(Houaiss, 2009)
Em Aristóteles (2007), os exemplos são compreendidos como:

- invenção de fatos:

i) fábulas (de Esopo) - ex.: “Um carro era arrastado pelos bois. Como o
eixo rangia, eles se voltaram e disseram-lhe: ‘Nós puxamos o carro e
vocês é que gemem?’ Para uns o sacrifício, para outros as queixas.”

ii) paralelo ilustrativo - ex.: “Funcionários públicos não devem ser


selecionados por sorteio. Isto é o mesmo que utilizar sorteios para
selecionar atletas, em vez de escolher aqueles que são adequados à
competição…”
- Menção de fatos recentes

ex.: “Devemos nos preparar para lutar contra o rei da Pérsia e não deixa-
lo dominar o Egito. Pois Dario, o velho, não atravessou o Egeu até
dominar o Egito, mas, visto que o dominou, então o atravessou. E,
Xerxes, mais uma vez, não nos atacou até dominar o Egito, mas visto
que o dominou, então o atravessou. Portanto, se o atual rei dominar o
Egito, então ele também o atravessará; assim não devemos deixa-lo
fazer.”
Entimemas  “Um argumento com uma premissa ou conclusão não
formulada. [ou] ‘um silogismo completo na mente e incompleto na
expressão” (MAUTNER, 2011, p. 250)

Ex.01: Se está chovendo, levarei premissa implícita: Está chovendo.


meu guarda-chuva; logo, levarei  óbvia na ocasião
meu guarda-chuva.

Ex.02: Se Jacinto é honesto, eu sou premissa implícita: Eu não sou um


um crocodilo. crocodilo
conclusão implícita: Jacinto não é
honesto
Ainda segundo Aristóteles (2007, p. 186):

O argumento pelo ‘exemplo’ é altamente adequado à oratória política,


enquanto o argumento pelo entimema é mais adequado à oratória
jurídica. A oratória política trata de evento futuros, dos quais podemos
apenas citar eventos passados como exemplos. A oratória jurídica trata
daquilo que, no momento, é ou não verdadeiro e que pode ser melhor
demonstrado, pois não é contingente - não há contingência naquilo que
aconteceu recentemente.”
ADENDO: UM POUCO DA ARGUMENTAÇÃO DEMONSTRATIVA

Argumentação demonstrativa  visa provar a verdade (ou o verossímil) de


uma conclusão a partir da verdade das premissas. Ela parte de premissas
lógicas (explícitas) e verdadeiras para se chegar a uma conclusão derivada, ou
seja, transfere a verdade das premissas para a conclusão.

Todos os A são B Princípio da identidade


Todos os B são C A=B=C
Logo, todos os A são C

Obs.: a argumentação demonstrativa se apoia em fatos e verdades já aceitas e


que funcionam como prova para validade de outras teses e de outras verdades
Argumentação Demonstrativa e a Ciência

A ciência, para elaborar e validar as sua teses, utiliza verdades


preexistentes e tese já aceitas pela comunidade científica com ponto de
partida e como fundamentação. A verdade, sendo propriedade da
proposição (já que é aceita como tal) independe da opinião dos homens
e é por isso considerada impessoal e demonstrativa. É também objetiva,
ou seja, descarta a subjetividade das opiniões pessoais. (EMEDIATO,
2010, p. 162)
Advertência

A utilização de raciocínios lógicos para a construção de argumentações


retóricas não é rara, mas, de modo geral, elas partem de falsas premissas
ou de premissas questionáveis:

A maior dos políticos é corrupta. Todos os políticos são corruptos (?)


José Cintra é político; A maioria dos políticos é corruptos (?)
Logo, José Cintra é corrupto. Alguns políticos são corruptos (?)
E AGORA, O QUE É ARGUMENTAR?

I) A argumentação não se limita a uma sequência de frases ou de proposições


ligadas por conectores lógicos. [a questão dos topoï implícitos // A  C]

Ex.01: “Pode fazer melhor!” [boletim escolar]


=> “considerando as possibilidades deste aluno, ele pode obter resultados se
estudar mais.”

Ex.02: “Acolher, Escutar, Aconselhar – BNP” [anúncio publicitário]


=> Se você vier ao BNP, então você será acolhido, ouvido, aconselhado; ora, é o
que você mais deseja; logo, você não pode deixar de vir ao BNP.
II) Não se confunda a argumentação com outros atos de discurso que se
combinam com ela, mas que têm existência autônoma:

Ex.01:

negação ≠ refutação
Rejeitar uma asserção Demonstrar que uma tese/asserção é
falsa

A – O clima ficou maluco. “O clima ficou maluco” não é verdade,


B – Não, não é verdade. porque...
Ex.02:

proibição ≠ argumentação
=> não fazer + autoridade do o locutor busca a adesão do interlocutor
sujeito locutor apelando para o seu raciocínio.

Mãe para o filho: “Não ande no parapeito, pois você vai acabar
“Não ande no parapeito!” caindo e se machucando”
Ex.03:

Eu bebo água [sim/não é verdade]


Eu bebo água para emagrecer [sim/não é verdade]
Eu bebo água para emagrecer, porque, graças ao seu poder diurético, a água
elimina as toxinas. [adesão/refutação]
PONTO DE PARTIDA PARA A ARGUMENTAÇÃO: O ACORDO1

* “versa sobre o que é presumidamente admitido pelos ouvintes” (p. 73)

REAL  “tudo aquilo que se presume versar sobre o real se caracteriza


por uma pretensão de verdades para o auditório universal.” (p. 74)

PREFERÍVEL  ligado a um “auditório particular, por mais amplo que


ele seja” (p.74).

1
Cf. PERELMAN; OBRECHTS-TYTECA (2005, p. 74-129)
Objetos de Acordo

Real Preferível

Fatos Verdades Presunções Valores Hierarquias Lugares

Obs.: Alguns desses objetos “encontram-se igualmente como tipos de objetos de


desacordo, ou seja, como pontos sobre os quais pode incidir um litígio.” (p.74)
Objetos de acordo baseados no REAL
=> PRETENSÃO DE VALIDADE PARA O AUDITÓRIO UNIVERSAL
Fatos Verdades
“Algo cuja existência pode ser “Correspondência, adequação ou harmonia passível de ser estabelecida, por
constatada de modo meio de um discurso ou pensamento, entre a subjetividade cognitiva do
indiscutível” (HOUAISS, 2009) intelecto humano e os fatos, eventos e seres da realidade objetiva” (HOUASSI,
2009)
- realidade objetiva - sistemas mais complexos de fatos
- comum a todos - promovem a ligação entre fatos
p. ex.: teorias científicas; concepções filosóficas ou religiosas
=> adesão tal que é inútil reforçá-la, pois se impõe a todos. Todavia, pode ocorrer perda de status de Fato ou
Verdade

 dúvida lançada no seio do auditório;


 acréscimo de outros membros ao auditório => Ampliação do auditório.

p. ex.: a morte de JC; a ascensão de Maomé; Todo homem é mortal...


Ainda sobre o FATO

Não contamos com nenhum critério que nos possibilite, em qualquer


circunstância e independente da atitude dos ouvintes, afirmar que
alguma coisa é um fato. Não obstante, podemos reconhecer certas
condições que favorecem esse acordo, que permitem defender sem
dificuldade o fato contra a desconfiança ou a má vontade de um
adversário: será este o caso, notadamente, quando se dispõe de um
acordo acerca das condições de verificação; no entanto, assim que temos
de fazer esse acordo intervir efetivamente, estamos em plena
argumentação. (p.76)
Ainda sobre Fatos e Verdades

 A certeza do fato A, combinado com a crença no sistema S, acarreta


a certeza do fato B, o que significa que admitir A, mais a teoria S,
equivale a admitir B.

i) Dedução:
Estes feijões provêm deste saco (fato A)
Todos os feijões deste saco são brancos (teoria T)
Logo, estes feijões são brancos (fato B)
Em vez de admitida como vínculo certo, a relação entre A e B pode ser apenas
provável: admitir-se-á que o aparecimento de A acarreta, com certa
probabilidade o aparecimento de B.

ii) abdução:
Estes feijões são brancos (fato A)
Todos os feijões deste saco são brancos (teoria T)
Logo, estes feijões provêm deste saco (fato B)

Quando o grau de probabilidade de B pode ser calculado em virtude de fatos e


de uma teoria sobre os quais o acordo é inconteste, a probabilidade
considerada não é objeto de acordo de natureza diferente da do acordo
concernente ao fato certo.
Diferente disso é a indução:

ii) Indução:
Estes feijões provêm deste saco (fato A);
Estes feijões são brancos (fato B)
Logo, Todos os feijões deste saco são brancos (teoria T)

[todavia, todos os feijões do saco devem ser testados]

(?) Logo: Alguns feijões deste saco são brancos


(?) Logo: A maioria dos feijões deste saco são brancos
Presunções

df. “Suposição que se tem por verdadeira” (Houaiss, 2009)

Obs.: Todos os auditórios admitem presunções; todavia a adesão a elas


não é máxima, o que implica que devem ser reforçadas. No entanto, “o
mais das vezes as presunções são admitidas de imediato.” (p. 79)
Algumas presunções do uso corrente:

i. presunção de que a qualidade de um ato manifesta a da pessoa que a


praticou;
ii. presunção da credulidade natural, que faz com que nosso primeiro
movimento seja acolher como verdadeiro o que nos dizem que é
admitido enquanto e na medida em que não tivermos motivos para
desconfiança;
iii. presunção referente ao caráter sensato de toda ação humana.
iv. presunção de interesse, segundo a qual concluímos que todo
enunciado levado ao nosso conhecimento supostamente interessa;
A presunção do NORMAL

Existe para cada categoria de fatos, notadamente para cada categoria de


comportamentos, um aspecto NORMAL que pode servir de base para
raciocínios. (p. 80)

Ex.: o normal, quando se trata da capacidade que se exige de uma


motorista, é tudo quanto ultrapassa um mínimo; quando se trata da
velocidade de um automóvel que atropelou um pedestre, é tudo quanto é
inferior a um máximo.
NORMAL e grupos de referência

Embora as presunções ligadas ao normal sejam um objeto de acordo, é


preciso, ademais, haver um acordo subjacente quanto ao grupo de
referência desse normal.

Ex.: A maior parte dos argumentos que tendem a mostrar que é extraordinário, contrário a
qualquer presunção, que o homem possa ter encontrado um globo à sua medida
pressupõe, o mais das vezes sem o dizer, que o grupo de referência dos globos habitáveis,
é extremamente reduzido. Em contrapartida, um astrônomo como Hoyle, que avalia que os
mundos habitáveis são extremamente numerosos, dirá com humor que, se nosso globo não
fosse habitável, estaríamos em outro lugar.
Exemplo: as Máximas Conversacionais de Grice2 (1975)

Máxima da relação - fale o que é concernente ao assunto tratado (seja pertinente)


Máxima da quantidade - que sua contribuição contenha o tanto de informação exigida;
- que sua contribuição não contenha mais informação do que é exigido.
Máxima da qualidade - que sua contribuição seja verídica:
i) não afirme o que você pensa que é falso;
ii) não afirme coisa de que você não tem provas.
Máxima da maneira Seja claro:
i) evite exprimir-se de maneira obscura;
ii) evite ser ambíguo;
iii) seja breve (evite a prolixidade inútil);
iv) fale de maneira ordenada.

2
Apud Fiorin (2004, p. 177)
Objetos de acordo baseados no PREFERÍVEL
=> PRETENSÃO DE VALIDADE PARA O AUDITÓRIO PARTICULAR

Valores

* opiniões sobre condutas e escolhas;


* domínios de avaliação;
* justifica certas escolhas
Valores
Abstratos Concretos
- baseados na unicidade do ser.
justiça, veracidade, fidelidade, Franca, Brasil, Igreja, Estado,
lealdade, solidariedade, Nação etc.
fraternidade, disciplina etc.

(?) “Os homens são iguais porque são filhos de Deus”


AS HIERARQUIAS

Concretos: superioridade do homem sobre os animais

Abstratos: superioridade do justo sobre o útil


LUGARES DO PREFERÍVEL

* rubricas para classificar argumentos (depósito)

Ex.: (1) Mais duradouro e mais estável é mais preferível ao menos

(?) amor
(?) saúde
(?) mal
(?) cerveja

(2) superioridade do todo sobre a parte


Anéis, dedos, mão, corpo...
Lugares-comuns
Lugar Características Exemplos
Lugar da - uma coisa é melhor do que - um número maior de
quantidade outra por razões bens é melhor do que um
quantitativas número menor;
- o todo é melhor do que a
parte.
Lugar da - contesta a virtude do - cerveja X: a mais gostosa
qualidade número; do Brasil / a boa
- valoriza o único.
Lugar da ordem - superioridade do anterior, - Brahma: a número 1
primeiro sobre o posterior. - Bohemia: a primeira
cerveja do Brasil
Lugar do existente - superioridade do que - mais vale um pássaro na
existe (atual, real, possível) mão do que dois voando.
sobre o que não existe
(eventual, impossível)
Lugar da essência - concede valor superior aos - sabão em pó: Omo;
indivíduos enquanto - carro esportivo: um
representantes bem Ferrari, um Lamborghini,
caracterizados da essência. um Aston Martim etc.
- relógio: um Rolex
(?) Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque
vende mais.
Referências

ARISTÓTELES. Retórica. São Paulo: Rideel, 2007.


CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: os modos de organização do discurso. São
Paulo: Contexto, 2008.
EMEDIATO, W. A fórmula do texto. São Paulo: Geração Editorial, 2010.
HARARI, Y. N. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
MAUTNER, T. Dicionário de filosofia. Lisboa: Edições 70, 2011.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica.
2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
REBUL, O. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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