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COMO AVALIAR ARGUMENTOS?

A LÓGICA INFORMAL
1. Argumentos não dedutivos
2. Falácias informais.
Discurso argumentativo
Estrutura e organização

Introdução Desenvolvimento Conclusão

Deve consistir na
Deve ser o mais breve
apresentação dos
possível, consistindo
argumentos favoráveis
numa apresentação Deve apresentar uma
à tese, bem como dos
sumária da tese que síntese que permita
argumentos que
se irá defender, ao confirmar a relevância
servem para combater
mesmo tempo que se da tese.
teses opostas, do
procura captar a
modo mais claro
adesão do auditório.
possível.

A linguagem deverá ser o mais clara e concreta possível e os argumentos devem ser
apresentados de um modo que permita distinguir as premissas da conclusão. É
também fundamental usar premissas plausíveis e verosímeis.
Argumento não-dedutivo

Um argumento não-dedutivo é um argumento em que se


pretende apenas que a verdade da(s) premissa(s) apoie ou
suporte a verdade da conclusão.
Caso essa pretensão seja bem-sucedida dizemos que o
argumento é forte, caso contrário dizemos que o argumento
é fraco.
A força dos argumentos não-dedutivos não é detetável
através da sua forma lógica.
Num bom argumento não-dedutivo, a verdade das
premissas torna apenas provável a verdade da conclusão.

De entre os argumentos não-dedutivos, destacam-se os


argumentos indutivos (generalizações e previsões), os
argumentos por analogia e os argumentos de autoridade.
O DISCURSO ARGUMENTATIVO – PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS

1 Induções (Generalizações e Previsões)

Argumentos
Não-Dedutivos
Argumentos por Analogia
ou 2
Argumentos
Informais
3 Argumentos de Autoridade

Faremos a sua apreciação em função do conteúdo significativo das


proposições que os constituem e dos efeitos que provocam nas pessoas
em contextos da vida real. 05 ∎ formas de inferência válida ∎ lógica proposicional 02 ∎ Pensar Azul 11.º
Tipos de argumentos

Argumentos não
Argumentos dedutivos
dedutivos

Argumentos indutivos Argumentos por Argumentos de


(induções) analogia autoridade

Generalização Previsão

A validade dos argumentos não dedutivos não depende da forma lógica, mas do grau de
probabilidade, razoabilidade ou relevância das proposições que compõem o argumento.
Argumentos indutivos: GENERALIZAÇÃO
Argumento cuja conclusão é mais geral do que a(s) premissa(s).

REQUISITOS DE VALIDADE DAS GENERALIZAÇÕES:

- partir de casos particulares representativos;


- não existência de contraexemplos.

  EXEMPLO DE UMA GENERALIZAÇÃO VÁLIDA:


  tem pelo. Logo, todos os cães têm pelo.
O cão Mondego

Qualquer cão parece ser um caso representativo e ainda não se acharam contraexemplos .

EXEMPLO DE UMA GENERALIZAÇÃO INVÁLIDA:


O medicamento para a tosse teve efeitos secundários graves para a saúde do meu primo.
Logo, todos os medicamentos fazem mal à saúde.

Aquele medicamento não é representativo de todos os medicamentos e não será


difícil encontrar um contraexemplo suscetível de tornar ilegítima a conclusão.
Argumentos indutivos: PREVISÃO
Argumento que, baseando-se em casos passados, antevê casos não
observados, presentes ou futuros.

A sua validade está dependente da probabilidade de a conclusão


corresponder, ou não, à realidade. Este é um tipo de argumento
muito usado pelas ciências.

 
EXEMPLO DE UMA PREVISÃO VÁLIDA:
 
Todo o sistema natural observado até hoje evolui para um estado de
máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima.
Por conseguinte, todos os sistemas naturais que doravante
observarmos evoluirão para um estado de máxima desordem,
correspondente a uma entropia máxima.

Trata-se de uma previsão válida, na medida em que é provável que


a conclusão corresponda à realidade. A verdade da premissa
fornece uma forte razão para aceitar a conclusão.
1 – Indução: Generalizações e previsões

Para ilustrar esta diferença,  consideremos dois


argumentos muito simples:

1. Cada um dos cisnes observados até agora é branco.


  Logo, todos os cisnes são brancos.
 
2. Cada um dos cisnes observados até agora é branco.
  Logo, o próximo cisne que observarmos será branco.
Argumento por analogia
Argumento que consiste em partir de certas semelhanças ou relações entre dois objetos ou duas
realidades e em encontrar novas semelhanças ou relações.

O argumento por analogia baseia-se na comparação estabelecida entre as coisas,


supondo semelhanças novas a partir das já conhecidas.
 
  EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA:
Quando alguém entra para uma equipa de futebol, concorda em obedecer às decisões do treinador.
A administração americana é como uma equipa de futebol. Logo, quando alguém entra para a
administração americana, concorda em obedecer às decisões do presidente.

Equipa de futebol = Administração americana


Treinador Presidente
 
Mas, se a administração americana é semelhante, em certos aspetos, a uma equipa de futebol,
noutros aspetos será diferente. Um argumento por analogia é válido se as semelhanças entre as
realidades forem mais relevantes do que as diferenças.

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO POR ANALOGIA INVÁLIDO: Os raciocínios por analogia são


O Universo é infinito. muito frequentes na infância.
A sociedade é tão complexa como o Universo. Também a arte se baseia
Logo, a sociedade é infinita.  bastante na analogia.
Argumento por analogia

Argumentos
por analogia

Argumentar por analogia pode à primeira vista, uma forma segura. Todavia,
para que um argumento por analogia possa ser considerado forte devemos
poder afirmativamente às duas primeiras perguntas ao conjunto que se
segue e negativamente à terceira.
• As semelhanças apontadas são relevantes para a conclusão?
• A comparação tem por base um número razoável de semelhanças.
• Não haverá diferenças importantes entre o que está a ser comparado.

Os argumentos por analogia são um


Ex: Os Mercedes são semelhantes aos BMW.
tipo de argumento que se baseia em
Os Mercedes têm a característica de serem
comparações. Tira-se uma conclusão
acerca de uma coisa ( A) comparando- seguros.
a com outra (B). Logo, os BMW são carros seguros.
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Critérios de avaliação dos argumentos por analogia

Quando recorremos a argumentos por analogia devemos ter em atenção os


aspetos em que os objetos são semelhantes e verificar se esses aspetos são
relevantes enquanto fundamento para a tese/conclusão que pretendemos
defender.

A força de um argumento por analogia depende de várias circunstâncias e tem


fundamentalmente a ver com a natureza e o número de semelhanças
encontradas e com a sua relevância relativamente à conclusão que se
pretende estabelecer.

Convém também confirmar se não há dissemelhanças entre as situações em


causa que desaconselhem o recurso à comparação, enquanto estratégia
argumentativa.

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Critérios de avaliação dos argumentos por analogia

Assim, para avaliar um argumento por analogia temos de verificar se os


aspetos considerados semelhantes são realmente semelhantes.
Que aspetos são considerados semelhantes e se têm uma relação consistente
com a conclusão, isto é, se são relevantes ou se daí nada se segue e portanto
nada se pode concluir, e se não são diferentes num outro aspeto importante
em relação à tese que se quer defender.

Por exemplo, pelo facto de dois romances terem a mesma cor de capa e
serem do mesmo autor, tal não significa que, sendo um aborrecido de ler, o
outro também o seja, quer dizer, as características semelhantes têm de ser
relevantes para a conclusão que se quer defender.

Já se, por exemplo, os dois romances tiverem o mesmo tipo de enredo, é mais
provável poder tirar-se a conclusão de que, sendo um aborrecido, o outro
também o será.

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Mau argumento por analogia

Num mau argumento por analogia, as semelhanças


observadas não são relevantes para a característica em causa
e/ou existem diferenças relevantes entre os dois elementos
da comparação que não estão a ser devidamente tidas em
conta. Um mau argumento por analogia designa-se de
“falácia da falsa analogia”.

Por exemplo:

(1) Tal como os homens as mulheres também têm pulmões, fígado e


rins.

(2) Os homens têm próstata.

(3) Logo, as mulheres também têm próstata.

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Argumento de autoridade
Argumento que se apoia na opinião de um especialista
para fazer valer a sua conclusão.

Requisitos para ser considerado válido:

•o especialista usado deve ser um perito no tema em questão;


•não pode existir controvérsia entre os especialistas do tema em questão;
•o especialista invocado não pode ter interesses pessoais no tema em causa;

EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE VÁLIDO:

Einstein disse que  E = mc². Logo, E = mc².


 
EXEMPLO DE UM ARGUMENTO DE AUTORIDADE INVÁLIDO:

O futebolista X disse que  E = mc². Logo, E = mc².


 
Argumentos de Autoridade

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Falácias informais
FALÁCIAS INFORMAIS
Argumentos inválidos, aparentemente válidos, cuja invalidade não resulta de
uma deficiência formal, antes decorre do conteúdo, da matéria, da linguagem
natural comum usada nesses argumentos.

Falácia da petição de princípio

Falácia do falso dilema

Falácia do apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam)

Falácia ad hominem( ataque ao Homem)

Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

Falácia do espantalho ou do boneco de palha

Falácia da causa falsa (post hoc, ergo propter hoc)

Falácia do apelo à força (argumentum ad baculum)

Falácia do apelo à misericórdia (argumentum ad misericordiam)


Falácia da petição de princípio

Processo que consiste em assumir como verdadeiro aquilo que se pretende provar.

A conclusão é usada, de forma implícita, como premissa, encontrando-se muitas vezes


disfarçada com palavras de significação idêntica à das da conclusão.

Argumento circular

EXEMPLOS:

Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à saúde.
 
O ser humano é inteligente, porque é um ser que possui inteligência.
Petição de Princípio
A petição de princípio é conhecida também por "falácia da
circularidade". Esta designação deve-se ao facto de as petições de
princípio conduzirem a um círculo lógico do qual não se consegue sair.
Para ilustrar esta circularidade, consideremos um diálogo imaginário
que dramatiza o argumento precedente:
- Por que pensas que Deus existe?
- Porque a Bíblia é a palavra de Deus, e, sendo assim, é verdadeira, e na
Bíblia está escrito que Deus existe.
 - Mas porque pensas que a Bíblia é a palavra de Deus?
 - Porque Deus existe e é o seu autor.
 - Mas porque pensas que Deus existe?
 - Porque a Bíblia é a palavra de Deus, e, sendo assim, é verdadeira, e na
Bíblia está escrito que Deus existe. (Etc.)
Deparamo-nos, aqui, com um círculo vicioso.(usar a conclusão como
premissa.)
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Falácia do falso dilema

Consiste em reduzir as opções possíveis a apenas duas, ignorando-


se as restantes alternativas.

Trata-se, portanto, de extrair uma conclusão a partir de uma disjunção


falsa. «Falso dilema» é sinónimo de «falsa dicotomia».

Exemplo de uma disjunção falsa:


Ou votas no partido x ou será a desgraça do país.
(Outros partidos são ignorados.)

EXEMPLO DE UM FALSO DILEMA:

Ou votas no partido x, ou será a desgraça do país!


Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.
Falso dilema

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Falso dilema

1) Ou és vegetariano, ou és carnívoro.
(2) Não és vegetariano.
(3) Logo, és carnívoro.

Neste caso estamos perante um falso dilema uma vez


que as duas hipóteses em consideração (vegetariano
e carnívoro) não esgotam todos os tipos de regime
alimentar disponíveis.

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Falácia do apelo à ignorância
(argumentum ad ignorantiam)

Comete-se esta falácia sempre que uma proposição é tida como


verdadeira só porque não se provou a sua falsidade ou como falsa
só porque não se provou que é verdadeira.

EXEMPLOS:

A alma é imortal. Na verdade, ninguém provou que a alma morre


com o corpo.

Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém


provou que eles existem.
Apelo à ignorância

Comete-se esta falácia no seguinte argumento:


 
Ninguém conseguiu provar que existe vida noutros planetas.
Logo, não existe vida noutros planetas.
 
Numa falácia de apelo à ignorância afirma-se nas premissas que não se
sabe que uma certa proposição é verdadeira, concluindo-se daí que ela
é falsa. Ou, então, declara-se que não se sabe que uma certa
proposição é falsa, concluindo-se daí que ela é verdadeira.

Ora, estas inferências são inválidas, pois do simples facto de não se


conhecer o valor de verdade de uma proposição não se segue que essa
proposição seja falsa nem que seja verdadeira. (tomar como verdadeiro
o que não se prova ser falso, ou vice-versa)
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Falácia ad hominem ( ataque ao Homem)

É o tipo de argumento dirigido contra o homem. Em vez de se atacar ou


refutar a tese de alguém, ataca-se a pessoa que a defende.

Os ataques pessoais poderão centrar-se, por exemplo, na classe social, no partido


político ou na religião da pessoa em causa. Muitas vezes, o objetivo destes
argumentos consiste em desviar as atenções daquilo que está em causa.

EXEMPLOS:

A tua tese não tem qualquer valor, porque és um ex-presidiário.

Sartre estava errado a respeito do ser humano, porque não ia


regularmente à missa.
Falácia contra a pessoa (ad hominem)

Atacar pessoalmente o opositor e não as suas afirmações.

Na classificação clássica e mais generalizada deste tipo de falácia,

distinguem-se três tipos diferentes de argumentos ad hominem:

→ Ad hominem abusivos (quando se ataca o caráter da pessoa).

→ Ad hominem circunstânciais (quando se referem circunstâncias da pessoa).


→ Tu quoque (quando se invoca o facto de a pessoa não praticar o que diz).
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

Esta falácia é cometida sempre que alguém, para refutar uma tese,
apresenta, pelo menos, uma premissa falsa ou duvidosa e uma série
de consequências progressivamente inaceitáveis.

Usa-se um exemplo que se estende indefinidamente para mostrar que um


determinado resultado indesejável inevitavelmente se seguirá.

Se permitirmos uma exceção a uma regra, mais e mais exceções se seguirão, o


que conduzirá à inevitabilidade de a regra ser totalmente subvertida ou de haver
consequências totalmente indesejáveis.

EXEMPLO:

É péssimo que jogues a dinheiro. Se o fizeres, vais viciar-te no jogo.


Desse modo, perderás tudo o que tens. Em consequência, se não
quiseres morrer à fome, terás de roubar.
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

(1) Se permitirmos o casamento entre pessoas do mesmo


sexo, não tarda estaremos a permitir a poligamia, o
incesto e até a pedofilia.
(2) Mas isso é claramente intolerável, dado que conduzirá
ao fim da civilização.
(3) Logo, não devemos permitir o casamento entre
pessoas do mesmo sexo.

Estamos perante uma falácia, uma vez que as


premissas sustentam relações causais muito
duvidosas. Ou seja, do casamento homossexual
não se segue causalmente coisas como a pedofilia
nem sequer o fim da civilização.
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

Este argumento diz-nos, em suma, que devemos proibir o


casamento homossexual porque, se não o fizermos, inicia-se um
processo de derrapagem - formar-se-á uma bola de neve, por
assim dizer - que terminará em algo calamitoso: o fim da
civilização.
No entanto, o argumento é falacioso, porque as premissas
afirmam relações causais extremamente duvidosas: nada leva a
crer que a possibilidade de os casais homossexuais adotarem
crianças leve ao fim da família tradicional, nem que o fim deste
modelo de família resulte no fim da sociedade civilizada.
 
Comete-se a falácia da derrapagem quando, invocando uma
cadeia causal implausível, se defende que não devemos aceitar
algo porque, se o fizermos, esse será o primeiro passo em direção
a algo terrível.
Falácia da derrapagem, “bola de neve” ou “declive escorregadio”

Assumir que se dermos um pequeno passo numa dada direção


não conseguiremos evitar ser conduzidos a um passo muito
mais substancial na mesma direção.

A metáfora da derrapagem é frequentemente usada para clarificar esta


falácia: se dermos um pequeno passo num declive íngreme, corremos o risco de dar
por nós a deslizar a uma velocidade crescente e progressivamente incontrolável e
assustadora. A determinada altura, à medida que descemos, deixaremos de ser
capazes de parar, mesmo que queiramos.

→ X defende a posição A. Y encadeia de forma


exagerada consequências que podem resultar se se
aceitar A.
Derrapagem ou Bola de Neve
 

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Falácia do espantalho ou do boneco de palha

Esta falácia é cometida sempre que o orador, em vez de refutar o verdadeiro argumento do seu
opositor/interlocutor, ataca ou refuta uma versão simplificada, mais fraca e deturpada desse
argumento, a fim de ser mais fácil rebater a tese oposta.

Além de não tratar realmente a afirmação do adversário, o orador tende a criticar uma
posição diferente daquela que tinha sido originalmente defendida pelo oponente.

EXEMPLO:

António defende que não devemos comer carne de animais cujo processo de industrialização os
tenha sujeitado a condições de vida e morte cruéis.
Manuel refuta António dizendo: «António quer que apenas comamos alface!»

[Em momento algum António defende que não devemos comer todo e qualquer tipo de carne,
sugerindo que sejamos vegetarianos («comer alface»), mas apenas aquele tipo de carne sujeito
às condições descritas. O argumento é assim deturpado e simplificado.]
Boneco de palha

Caricaturar uma opinião oposta para que assim seja mais


fácil refutá-la.

É uma das táticas falaciosas mais repetidas na comunicação


e no debate quotidianos.
Consiste em começar por deturpar o sentido das afirmações
adversárias, reconstruindo-as numa perspetiva enganadora
e dificilmente sustentável, claramente mais fraca, a fim de
poder refutá-las mais facilmente.
Boneco de palha

Comete-se esta falácia no seguinte argumento:


 
Os ateus defendem que o Universo surgiu do nada.
Mas é inconcebível que o Universo tenha surgido do
nada.
Logo, os ateus estão enganados - Deus existe.
Este argumento visa refutar o ateísmo.
Contudo, a primeira premissa distorce a perspetiva
do ateu: ele não tem de pensar que o Universo
"surgiu do nada"; simplesmente, tem de defender
que Deus não existe.

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Boneco de palha
 

(1) Os defensores dos direitos dos animais sustentam que é tão errado
matar um animal como matar um humano.
(2) Mas isso é obviamente falso.
(3) Logo, os defensores dos direitos dos animais estão errados (ou seja, os
animais não têm direitos).

Com este argumento pretende-se defender que os animais não têm direitos.
Porém, na premissa (1) distorce-se ou faz-se um espantalho da posição sustentada
pelos defensores típicos dos direitos dos animais, para a atacar mais facilmente.

Ou seja, faz-se e critica-se uma mera caricatura da posição em consideração, para


a combater mais fortemente. Isto porque os defensores dos direitos dos animais
não defendem que é tão errado matar um animal como um ser humano, mas sim
que os animais também são dignos de consideração moral.

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Boneco
  de palha

A falácia do boneco de palha - ou espantalho


- consiste, então, em distorcer a posição do
opositor de modo a atacá-la mais facilmente.

Assim, em vez de se refutar a verdadeira


perspetiva que o oponente defende,
derruba-se uma mera caricatura dessa
perspetiva - metaforicamente, um mero
boneco de palha, e não um homem
autêntico.

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Falácia da causa falsa
(post hoc, ergo propter hoc)

A expressão «post hoc, ergo propter hoc» significa «depois disto, logo
por causa disto». Nesse sentido, a falácia da causa falsa surge sempre
que se toma como causa de algo aquilo que é apenas um antecedente
ou uma qualquer circunstância acidental.

EXEMPLOS:

Fiquei com dores de cabeça no dia em que a minha avó fez um


bolo. O bolo foi a causa das minhas dores de cabeça.

Quando faço testes em dias de chuva, tiro negativa. Por isso, a


chuva é a causa das negativas dos meus testes.
Falácia do apelo à força
(argumentum ad baculum)

Consiste em obrigar alguém a admitir uma opinião recorrendo à força


ou à ameaça.

Submetidos a ameaças físicas ou psicológicas, os indivíduos são levados a


aceitar determinada conclusão ou tese, tendo em conta as consequências
desagradáveis que adviriam da sua não-aceitação

EXEMPLOS:

É bom que aceitem o aumento dos impostos se não querem que


o país vá à falência e venha aí uma ditadura.
 
É muito conveniente que se acredite no que diz o nosso livro
sagrado. Se alguém não acreditar, será queimado na fogueira.
Falácia do apelo à misericórdia
(argumentum ad misericordiam)

Esta falácia ocorre quando se apela ao sentimento de piedade ou de


compaixão para se conseguir que uma determinada conclusão seja aceite.

EXEMPLOS:

O meu ato, embora horrível, merece desculpa: naquele dia eu não estava
psicologicamente bem e doía-me o estômago.

Esperamos que aceite as nossas teses. No último mês, praticamente não


dormimos só para chegar a estas conclusões.
Falácia Apelo à Piedade (argumentum ad misericordiam)

Ocorre quando se apela ao sentimento de piedade ou de compaixão para se


conseguir que uma determinada conclusão seja aceite. (apelar a sentimentos em
vez de razões)

Exemplo:

Um homem vai pedir emprego.


Quando o patrão pergunta quais as suas qualificações, o
homem responde que tem mulher e filhos em casa, que a
mulher está doente, as crianças não têm que comer…

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Falácias informais

Há inúmeras falácias informais; aqui vamos referir as mais frequentemente


utilizadas, tais como a generalização apressada, a amostra não
representativa, a falsa analogia, o apelo à autoridade, a petição de princípio,
o falso dilema, a falsa relação causal, as falácias ad hominem e ad populum,
o apelo à ignorância ou ad ignorantia, o boneco de palha e a derrapagem.
Começaremos por caracterizar sumariamente estas falácias e, de seguida,
apresentaremos alguns exemplos. Pedimos, depois, aos alunos que
procurem tipificar os exemplos apresentados, referindo para cada caso a
respetiva justificação.
Sugerimos esta estratégia de aprendizagem não só pela facilidade de a pôr
em prática como também pela eficácia de que pode revestir-se.

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Falácias informais

Caracterização sumária dos diferentes tipos de falácias


Generalização apressada: é uma falácia que ocorre quando se extrai uma
conclusão a partir de um número de casos insuficiente para garantir a sua
probabilidade.

Amostra não representativa: ocorre quando os casos de que se parte não


representam a generalidade dos casos que deveriam ser considerados, pois
diferem em aspetos significativos.

Falsa relação causal: confunde relações de causalidade com relações de


concomitância.

Falsa analogia: ocorre quando os elementos comparados têm entre si diferenças


significativas que não «autorizam» a conclusão.

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Falácias informais

Apelo à autoridade: quando a autoridade invocada não é competente para se


pronunciar no caso em questão ou é contraditada por outras autoridades.

Petição de princípio: quando a conclusão, embora por outras palavras, se limita a


repetir a premissa e a admissão desta depende da admissão da própria
conclusão.

Falso dilema: se apresenta duas opções como se fossem as únicas possíveis.

Ad hominem: quando a tese e o argumento do adversário são recusados não com


base na sua análise mas na pretensa identificação de características pessoais que
não abonam a favor do arguente.

Ad populum: quando a tese é fundamentada na adesão das pessoas, do povo em


geral.

05 ∎ formas de inferência válida ∎ lógica proposicional 02 ∎ Pensar Azul 11.º


Falácias informais

Apelo à ignorância ou ad ignorantia: ocorre quando


uma tese é refutada pelo facto de ninguém ter provado
que ela é verdadeira, ou quando se defende uma tese
pelo facto de ainda ninguém ter provado que ela é
falsa.

Boneco de palha: ocorre quando se distorce a tese do


adversário e se faz dela uma caricatura que torna mais
fácil a sua refutação.

Derrapagem: quando se refuta uma tese com base nas


consequências nefastas que a sua aceitação pode
comportar.

05 ∎ formas de inferência válida ∎ lógica proposicional 02 ∎ Pensar Azul 11.º


Fim

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Exemplo

As pessoas muito inteligentes têm direito à liberdade. 


Os assassinos em série são pessoas muito inteligentes.
Logo, os assassinos em série têm direito à liberdade .

Apesar de ser considerado válido, este


argumento dedutivo parte de premissas
duvidosas, discutíveis, polémicas e chega a
uma conclusão totalmente inaceitável.

Embora se possa demonstrar que o argumento é formalmente válido, tal


argumento dificilmente terá a capacidade de convencer um vasto número de
pessoas, sendo possível argumentar a favor ou contra cada uma das suas
proposições.

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