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III Racionalidade

Argumentativa
e Filosofia

2. Argumentação
e Retórica

07 ∎ argumentação e retórica 02 ∎ Pensar Azul 11.º


2.1 O Domínio do Discurso Argumentativo
Principais Tipos de Argumentos . Os argumentos não
dedutivos

Sumário
A lógica informal – caracterização e
distinção da lógica formal e informal.
Os argumentos não dedutivos: indução
(generalização e previsão), por analogia e de
autoridade – suas caraterísticas e critérios de
validade dos mesmos. Algumas falácias
informais neles presentes (generalização
precipitada, amostra não representativa,
falsa analogia e apelo à autoridade).

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A lógica formal distingue-se da lógica informal

LÓGICA FORMAL LÓGICA INFORMAL

Estuda os argumentos não


Estuda os argumentos dedutivos dedutivos e as condições da sua
e as condições da sua validade validade, tendo de se basear em
baseando-se exclusivamente na algo mais do que a forma
forma lógica dos argumentos. lógica dos argumentos. Consiste
no estudo da argumentação
válida que não depende
exclusivamente da forma lógica.

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Tipos de argumentos

Existem várias classificações para os tipos de argumentos.


A organização mais comum é a seguinte:

a) argumentos
indutivos

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Validade dos argumentos dedutivos e não dedutivos

Argumentos dedutivos Argumentos não dedutivos

Num argumento dedutivo Num argumento não dedutivo


válido é impossível as suas válido não é impossível as suas
premissas serem supostamente premissas serem verdadeiras e a
verdadeiras e a conclusão falsa. conclusão falsa; é apenas muito
O estudo da validade dedutiva improvável, mas não impossível. A
prescinde de referências ao verdade das premissas justifica,
conteúdo das proposições e ao mas não garante a verdade da
contexto da argumentação. conclusão. O estudo da validade
A forma lógica é o que é não dedutiva não prescinde de
relevante para a validade referências ao conteúdo ou
dedutiva. matéria das proposições e ao
contexto da argumentação.
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Caracterização dos argumentos indutivos

Argumentos indutivos: Generalização e Previsão

Generalização indutiva
● É um argumento em que a conclusão acerca de um grupo de
objetos é estabelecida observando uma amostra desse grupo de
objetos. É um argumento com uma conclusão geral extraída de
casos particulares (amostra).
● A forma lógica dos argumentos indutivos por generalização é a
seguinte:
Alguns A são B (ou Todos os A observados até hoje são B).
Logo, todos os A são B.
●O que caracteriza a generalização é a conclusão ser mais geral
do que a premissa. Exemplo:
Cada um dos cães que observei até hoje
ladrava.
Logo, todos os cães ladram.
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Caracterização dos argumentos indutivos

generalização

Todos os pêssegos que abri até hoje tinham caroço.


Logo, todos os pêssegos têm caroço.
Como a conclusão é mais geral do que a(s) premissa(s), ou seja, contém
informação que ultrapassa a informação das premissas, a generalização
não pode garantir que um dos casos por observar não venha a refutar
a conclusão.
O máximo que conseguimos com este tipo de argumento é
legitimidade para tratar a conclusão como sendo muito provável,
sendo a(s) premissa(s) verdadeira(s). Com certeza, quantos mais
pêssegos eu vir que têm caroço, mais razoável será acreditar que todos
têm. 07 ∎ argumentação e retórica 02 ∎ Pensar Azul 11.º
Caracterização dos argumentos indutivos
Previsão indutiva
As previsões são argumentos indutivos em que as premissas se baseiam em
casos particulares já observados no passado e a conclusão inferida é a de que
algo ocorrerá no futuro, ou seja, refere-se a casos particulares ainda não
observados.
À semelhança do que ocorre na generalização, também na previsão
a conclusão ultrapassa a informação contida na premissa.

Uma PREVISÃO apresenta a seguinte FORMA


LÓGICA:
Todos os A observados até hoje são B.
Logo, o próximo A será B.

Exemplo:
Cada um dos cisnes observados até agora é branco.
Logo, o próximo cisne que observarmos será branco.

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Avaliação dos argumentos indutivos
Um argumento não dedutivo é forte quando as suas premissas são
verdadeiras e a verdade destas torna muito baixa a probabilidade de a
conclusão do argumento ser falsa. Podemos estabelecer algumas regras
necessárias para que uma indução seja forte:
Regra 1. A amostra deve ser ampla.
Quanto maior for a amostra referida na premissa ou premissas, mais estas
confirmam a conclusão.
Regra 2. A amostra deve ser diversificada ou representativa.
Mais do que ter uma amostra grande, importa ter uma amostra variada e
representativa. A amostra não deve omitir informação relevante. Por ex.
defender que todos os portugueses vão regularmente ao cinema porque os
meus amigos vão regularmente ao cinema viola esta regra: os meus amigos
não são representativos dos portugueses em geral.
Regra 3. Não pode haver contra-exemplos.
Esta regra exige que procuremos ativamente contra-exemplos aos casos nos
quais baseamos a indução. Um contra-exemplo à proposição “todos os
portugueses vão regularmente ao cinema”é “há portugueses que não vão ao
cinema.” 07 ∎ argumentação e retórica 02 ∎ Pensar Azul 11.º
Exercício de aplicação dos conteúdos
O seguinte argumento indutivo obedece às regras
anteriormente apresentadas? Justifica.

Até agora todas as esmeraldas encontradas são verdes.


Logo, todas as esmeraldas são verdes.

É claro que este é um bom argumento, pois obedece às regras


anteriormente referidas. A premissa é verdadeira e a conclusão é
muito provavelmente verdadeira (não é logicamente impossível que
a conclusão seja falsa, mas é improvável.)

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Avaliação dos argumentos indutivos

Concluindo:

1º Observando-se as regras da validade indutiva,


2º sendo as premissas dos argumentos verdadeiras
Então, temos fortes razões para acreditarmos que a
conclusão dos argumentos indutivos é muito
provavelmente verdadeira.

Assim, uma indução é válida ou forte se, e só se, for


improvável, mas não logicamente impossível, que a sua
conclusão seja falsa. Caso contrário a indução é inválida
ou fraca.

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Falácias Informais
Para além das falácias formais (já estudadas), existem, também as
informais.

Uma falácia informal é um erro de argumentação que não depende da


forma lógica do argumento, mas depende de outros aspetos como o
próprio conteúdo do que se afirma:

- O argumento parece ter premissas verdadeiras, mas não tem;


- O argumento parece ter premissas mais plausíveis (aceitáveis)
do que a conclusão, mas não tem.

Algumas falácias informais ocorrem porque são violadas as regras de


avaliação dos diferentes tipos de argumentos não dedutivos, como é o
caso das falácias indutivas da generalização precipitada e da amostra
não representativa, a falácia da falsa analogia e a falácia do apelo
ilegítimo à autoridade.
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Falácia da Generalização precipitada

Esta falácia ocorre quando uma generalização indutiva se baseia num


número muito limitado de casos, usado para apoiar uma conclusão
tendenciosa.
São exemplos de generalização precipitada:

Concluir, após uma experiência amorosa


falhada, que "as mulheres são a nossa
desgraça”.

Concluir que os portugueses são


antipáticos depois de se conhecer três
portugueses e de estes serem antipáticos.

Prova: Identifique as dimensões da amostra e a população em questão.


Depois mostre que a amostra é insuficiente. Pensar Azul 11.º
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Falácia da Amostra não representativa

Esta falácia ocorre quando os casos observados não representam


adequadamente o universo em causa. A amostra usada é
consideravelmente diferente da população como um todo.
As maçãs do topo da caixa parecem boas. Todas as maçãs desta
caixa devem ser boas.(As maçãs com bicho, claro, estão em
camadas mais fundas...)

Concluir que os portugueses rejeitam a eutanásia, com base nas


respostas das pessoas à entrada das igrejas.

Prova: Mostre que há diferenças relevantes entre a amostra e a


população como um todo. Depois, argumente que por a amostra ser
diferente, a conclusão é provavelmente diferente.
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Caracterização dos argumentospor analogia
Argumentos por analogia

O argumento por analogia é uma inferência baseada na


comparação entre duas coisas ou situações diferentes que se
assemelham (ou são análogas) significativamente.
A ideia é que se duas coisas são semelhantes em vários aspetos
relevantes, serão também semelhantes noutro aspeto ainda não
considerado..

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Caracterização dos argumentospor analogia
Argumentos por analogia

Tem geralmente esta estrutura ou forma lógica:


Os x têm as propriedades A, B, C, D.
Os y, tal como os x, têm as propriedades A, B, C, D.
Os x têm ainda a propriedade E.
Logo, os y têm também a propriedade E.
Os argumentos por analogia partem da ideia de que se diferentes
coisas são semelhantes em determinados aspetos, também o serão
noutros.

Exemplo:
O cão do Miguel é semelhante a este em raça, porte e olhar nervoso.
O cão do Miguel morde sem razão aparente.
Logo, este cão morde sem razão aparente.
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Avaliação dos argumentos por analogia
As premissas dos argumentos por analogia podem confirmar a sua conclusão, isto é, podem
torná-la provavelmente verdadeira. Para que isso aconteça, é preciso que respeite as
seguintes regras:
Regra 1. As semelhanças têm de ser relevantes com respeito à
conclusão. Esta regra procura garantir que as semelhanças não sejam uma
mera coincidência, mas que sejam relevantes para a conclusão que se quer
tirar. Ex. Uma pessoa que conclui que um livro é excelente porque tem uma capa da
mesma cor de outro que era excelente, o mesmo nº de páginas e que é também feito
de papel, viola esta regra.
Regra 2. É preciso que o número de semelhanças relevantes com
respeito à conclusão seja suficiente.
As semelhanças também devem ser numerosas para que não sejam meras
coincidências. Ex. Uma pessoa que conclui que um livro é excelente porque é do
mesmo autor, viola esta regra, pois embora esta semelhança seja relevante, é preciso
mais do que uma.
Regra 3. Não pode haver diferenças relevantes com respeito à
conclusão. Esta regra obriga-nos a procurar activamente diferenças
relevantes; se existirem o argumento é mau. Ex. Uma pessoa que conclui que os
homens têm útero porque são como as mulheres e estas têm útero,
07 ∎ argumentação e retórica 02viola
∎ Pensaresta
Azul 11.ºregra.
Exercício de aplicação dos conteúdos
Avalia se o seguinte argumento por analogia obedece às
regras anteriormente apresentadas? Justifica.

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Exercícios de aplicação dos conteúdos
Argumentos por analogia

1.
O sistema imunitário dos Neste argumento, se aquilo que está em
chimpanzés é muito questão é a eficácia de uma vacina nos seres
semelhante ao dos seres humanos, as semelhanças entre o nosso
humanos.
sistema imunitário e o do chimpanzé são
A vacina X resultou nos relevantes para a conclusão e numerosas, e
chimpanzés. não existem diferenças relevantes no
Logo, a vacina X há-de sistema imunitário de uns e de outros com
resultar nos seres humanos respeito à conclusão.

Conclusão: Ao argumentar por analogia temos que escolher semelhanças


numerosas e relevantes que tornem mais provável que a conclusão seja
verdadeira, e temos de garantir que não há diferenças que tornem mais
provável que a conclusão não seja verdadeira.
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Falácia da falsa analogia
Quando um argumento por analogia não obedece a qualquer uma das
regras ou critérios, nele comete-se a falácia da falsa analogia.
Exemplo de uma falsa analogia

Cartaz publicitário, da agência TBWA,


que promove uma marca de pão
industrial.

Nesta imagem compara-se a fatia de pão de forma a uma almofada, sugerindo-se


que, tal como esta, as fatias de pão de forma da marca são agradáveis e fofas. A
analogia é eficaz mas encerra, do ponto de vista lógico, alguns problemas. Por
exemplo, são ignoradas diferenças significativas entre os elementos que estão
a ser comparados (almofadas e fatias de pão). Tira-se conclusões de uma
situação para outra semelhante, sem atender às diferenças significativas.
Prova: Identifique os dois objectos ou eventos que estão a ser comparados e a
propriedade que se diz que ambos possuem. Mostre que os dois objectos
diferem de tal modo que a analogia se torna insuficiente.
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Caracterização dos argumentos de autoridade
Argumentos de autoridade

Num argumento de autoridade conclui-se que uma determinada


proposição é verdadeira porque uma certa autoridade defende que
essa proposição é verdadeira. Essa autoridade tanto pode ser um
cientista ou outro estudioso, uma organização, ou um amigo nosso
que foi a uma cidade que nunca visitamos.

Um argumento de autoridade tem a seguinte FORMA LÓGICA:


X afirma P.
Logo, P.

Exemplo:

1. Platão e Descartes acreditavam na imortalidade da alma.


Logo, a alma humana é imortal.
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Avaliação dos argumentos de autoridade
Argumentos de autoridade

As premissas dos argumentos de autoridade podem confirmar a sua


conclusão, isto é, podem torná-la provavelmente verdadeira. Para que
isso aconteça, é preciso que a autoridade invocada respeite as
seguintes regras:
Regra 1. As pessoas ou organizações citadas têm de ser
reconhecidos especialistas nas matérias em questão.
Regra 2. Deve haver consenso entre os especialistas sobre as
matérias em questão.
Regra 3. A autoridade invocada tem de ser imparcial sobre o
assunto em causa.
Regra 4. Deve-se indicar o nome da autoridade e a fonte
(documento, texto, filme, etc.) em que tal autoridade manifestou
essa ideia.
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Falácia do apelo à autoridade (ad verecundiam)
Um argumento de autoridade que parece forte mas não obedece a
qualquer uma das regras já referidas é um apelo à autoridade.

Exemplos de falácias de apelo à autoridade:


Em vez de razões, usam a credibilidade de uma autoridade que:

ou não é especialista ou é especialista em


matérias sobre as quais
no assunto em discussão
não há consenso
Exemplo:
Exemplo:
O célebre médico norte-
Descartes afirmou que há
americano Dr. House
conhecimentos inatos,
recomenda-lhe que compre o
logo, há conhecimentos
novo carro híbrido.
inatos.

Prova: Mostre uma de duas coisas (ou ambas):


- a pessoa citada não é uma autoridade no campo em questão;
- entre os especialistas não há consenso sobre o07assunto discutido.
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Exercícios de aplicação dos conteúdos
Aplica as regras (1,2,e 3) antes referidas e verifica a
validade dos seguintes argumentos de autoridade:
1. Uma empresa tabaqueira declara que o 4. As organizações de defesa dos
tabaco não faz mal à saúde. Logo, o tabaco animais defendem que uma
não faz mal à saúde. alimentação vegetariana é a mais
saudável. Logo, uma alimentação
2. Defender o uso de uma vacina por vegetariana é a mais saudável.
recomendação da Organização Mundial de
Saúde.

5. Platão e Descartes acreditavam na


imortalidade da alma.
3. Defender a pena de morte ou o
Logo, a alma humana é imortal.
consumo da cerveja Alpha por
recomendação de um famoso futebolista.

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