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FALÁCIAS

AS FALÁCIAS SÃO ERROS DE ARGUMENTAÇÃO

- São raciocínios que parecem estar bem elaborados mas não o são realmente devido a erros de forma/estrutura lógica ou a um mau
uso intencional por parte de quem argumenta.

- Esta é a diferença entre paralogismo e sofisma:

(a) – Paralogismo: erro involuntário que decorre de uma infração das regras e princípios lógicos.
(b) – Sofisma: erros provocados voluntariamente com a intenção de enganar outras pessoas.
AS FALÁCIAS SÃO ERROS DE ARGUMENTAÇÃO

Principais falácias
- Ad hominem ou ataque pessoal
- Derrapagem ou bola de neve
- Espantalho ou boneco de palha
- Ad baculum ou apelo à força
A falácia do ataque pessoal ou ad hominem tem por
objetivo atacar o caráter de uma pessoa para evitar discutir
seriamente as suas ideias.

É uma forma desonesta de fugir à questão, centrando uma


discussão não nas ideias, mas em certas características
pessoais que são irrelevantes.

É uma manobra tática argumentativa de baixo nível e é


muito mal vista pelas pessoas. Ocorre fundamentalmente nos
debates políticos.
Alguns exemplos são bastantes conhecidos da opinião
pública:

Bolsonaro: “Seu ladrão; ex-presidiário; corrupto.”


Lula: “Você é um genocida, deixou o povo morrer com
COVID-19; deixou a Amazónia arder e perseguiu os indígenas.”
Outros exemplos do quotidiano mais próximo, um diálogo entre
duas colegas de turma:
Beatriz: “O Manuel defende que devemos fazer uma campanha
na escola para preservar o meio ambiente e limpar as barreiras do
rio Guadiana.”
Ana: “Nem penses nisso, não acredites em nada do que diz o
Manuel; ele é um oportunista que só quer é dar graxa aos
professores e usa as pessoas só para seu benefício pessoal. Já viste
como ele se veste? Todo betinho, ténis da marca e telemóvel todo
XPTO. Ele só quer é dar nas vistas e promover-se. Sabias que a casa
dele tem uma fossa que não é limpa há mais de dois anos?”
Reparem que nos dois argumentos o que há são ataques ao
caráter de cada pessoa – não se discutem seriamente as
ideias.
No caso do debate Lula/Bolsonaro não se discutem as ideias
ou projetos válidos para o Brasil enfrentar os seus graves
problemas económicos e sociais (30 milhões de pessoas vivem
em estado de pobreza).
No caso do argumento das colegas de turma, não se analisa
a ideia do Manuel de limpar as barreiras do rio Guadiana, mas
exploram-se aspetos psicológicos pessoais e circunstâncias de
vida que não são importantes para o assunto em questão.
Falácia da derrapagem ou bola de neve

- É um modo de argumentar que aumenta a relação entre


acontecimentos ou situações para níveis de consequências
cada vez mais graves.
- O objetivo é fazer com que uma pessoa desista de uma
ideia, decisão, ação, devido aos efeitos catastróficos
esperados.
- O problema com a derrapagem é que a relação dos
acontecimentos entre si é pouco provável ou irreal.
Falácia da derrapagem ou bola de neve - exemplo

«Se beberes um copo de vinho, vais beber dois.


Se beberes dois, vais beber três. Se beberes três,
vais beber quatro. Logo, se beberes um copo de
vinho, vais tornar-te alcoólico».

Um consumo de um copo de vinho não


transforma as pessoas em viciadas no álcool.
Falácia da derrapagem ou bola de neve - exemplo

«Se legalizamos o consumo da canábis, todos vão


querer experimentá-la, e em pouco tempo estarão de
tal modo viciados que a sociedade se transformará
num bando de “zombies” drogados à solta pelas
ruas.»

Não se discute a ideia de legalização da canábis, mas exageram-se as


consequências do seu uso sem que isso tenha qualquer fundamento.
Falácia do apelo à força ou “ad baculum”

Argumento que faz uso de ameaças diretas às pessoas, caso


não aceitem uma opinião, ideia ou decisão.

É falacioso quando existem mais razões e outras soluções


para enfrentar um dado problema, mas procura-se impor à
força, sem discussão, uma dada ideia.

É um argumento que se encontra nos limites do uso da


razão.
Falácia do apelo à força ou “ad baculum” – Exemplo 1
«Meu caro guarda – diz um condutor que está a ser multado por
excesso de velocidade; você não deve passar-me essa multa;
esqueça isso. Já olhou bem para a minha cara? Sabe quem eu sou?
Olhe que eu tenho conhecimentos em altas esferas, incluindo o
diretor da própria GNR. Se quer manter o seu emprego, o melhor
que tem a fazer é rasgar o papelinho da multa e deixar-me seguir
a minha vida tranquilamente.»
Trata-se claramente de uma ameaça a um agente da
autoridade para impedi-lo de cumprir a lei. Procura-se coagir
uma autoridade por ameaças futuras.
Falácia do apelo à força ou “ad baculum” – Exemplo 2
«Um proprietário de uma herdade no Alentejo descobre que há
um acampamento cigano nos seus terrenos e que se prepara uma
festa de casamento. Após tentativas de demover à sua saída,
apelando ao bom senso, o proprietário apresentou esta última
razão: Se não saírem dentro de uma hora dos meus terrenos, irei
contactar a GNR. Se não saem a bem, saem forçados.»
Trata-se claramente de um apelo legítimo à força: o proprietário apenas
pretende que se cumpra a lei. Só entra em propriedade privada quem o
permite legitimamente (direito de admissão defendido pela lei).Ameaça-
se com o cumprimento da lei.
Falácia do espantalho ou boneco de palha
Erro de argumentação provocado intencionalmente (ou não) com o objetivo de distorcer as ideias ou
opiniões de uma pessoa, criando um ponto de vista fictício (uma caricatura) e mais fácil de refutar.

O erro intencional é, mais uma vez, um modo de fuga à questão, evita-se debater seriamente a ideia ou
opinião de uma pessoa num debate, criando-se um “boneco de palha” ou “espantalho” cujo objetivo é
assustar ou provocar medo do auditório em relação a uma certa tese, opinião ou ideia.

O “espantalho” ou “boneco de palha” será assim mais fácil de refutar, evitando analisar de modo
honesto a posição ou opinião real da outra pessoa. A pessoa que recorre ao “espantalho” deseja obter
uma vitória fácil sobre o adversário, iludindo o auditório, quando, na realidade, só está a refutar um
argumento da sua própria autoria.
Falácia do espantalho ou boneco de palha

É uma estratégia retórica de baixo nível e que procura ridicularizar a tese/opinião do adversário para
desviar a atenção do que realmente é interessante: o debate e análise de razão a favor ou contra uma
certa tese/opinião.

Por vezes torna-se difícil num debate saber se há criação de um “espantalho” ou se se está a avançar
com uma crítica pertinente. Só há uma forma de desfazer a dúvida: pedir à outra parte esclarecimentos
sobre a sua opinião e análise de possíveis efeitos.

Na prática, falha-se o alvo, a questão pertinente a debater, para evitar discuti-la, ou porque não se
entendeu bem a opinião e os argumentos do nosso interlocutor (falha de compreensão das razões da
outra pessoa, o que é perfeitamente possível), ou porque se pretende alcançar uma ficção de vitória,
iludindo o auditório.

As pessoas num auditório podem ficar convencidas ilusoriamente da refutação por via do espantalho,
caso desconheçam esse tipo de manobra retórica falaciosa.
Falácia do espantalho ou boneco de palha

A estrutura do argumento do espantalho é complexa, mas apresenta-se


geralmente com esta forma ou modelo de raciocínio.

A Pessoa A defende o argumento X


A Pessoa B ataca o argumento Y como se atacasse X
Na verdade, Y é uma distorção fabricada por B em relação ao argumento X
proposto por A
A pessoa B pensa ter refutado o argumento X de A, mas na realidade só
refutou o seu próprio argumento (Y).
O auditório pode julgar ilusoriamente que B refutou A.
Falácia do espantalho ou boneco de palha

Situação de debate televisivo:

A – “Devemos considerar que as condições de saúde e de higiene nas


prisões devem ser melhoradas para evitar mais surtos de doenças virais
infectocontagiosas de difícil tratamento.”

B – “Estamos mesmo a ver o que pretendem fazer com as prisões em


Portugal: torná-las em hotéis e hospitais de luxo confortáveis para pedófilos,
ladrões e homicidas. Há melhores opções para gastar dinheiro no país do
que com esse tipo de escumalha da sociedade!”
Falácia do espantalho ou boneco de palha

Nesta situação de debate, verifica-se que há por parte de B a criação de


um espantalho, criando ideias ou uma opinião fictícia que não estava a ser
exposta por A.

Do facto de se pretender defender a opinião de que se devem melhorar as


condições de saúde e de higiene no sistema prisional português, não se
segue daí a interpretação abusiva de que exista a intenção de criar hotéis e
hospitais de luxo para os presidiários.

Note-se como se falha o alvo: não se ataca a ideia de A mas uma versão
simplista e enganadora criada ilusoriamente por B.
Falácia do espantalho ou boneco de palha
Mais um exemplo:

A – “A eutanásia é um direito moral que qualquer cidadão deve exercer de modo livre e
esclarecido; é um ato médico que só deve ser praticado em último recurso e depois de
ponderados todos os fatores que envolvem uma pessoa doente terminal em grande
sofrimento e sem qualquer esperança de cura.”

B – “Aquilo que os defensores da eutanásia querem é bastante claro! Querem poder


matar quem esteja muito doente, reduzindo os custos do internamento e tratamento
hospitalares, além de aliviar as despesas da Segurança Social com idosos. É uma maneira
criminosa de reduzir o défice do país: quanto mais velhos nos cemitérios, mais cheios
ficam os cofres do Estado. É por isso que sou contra a eutanásia.”

Note-se na distorção sobre o valor da “eutanásia” que não é sequer discutida.


Falácia do espantalho ou boneco de palha
Outro exemplo:

«Os advogados, os políticos e as organizações defensoras dos direitos


humanos que pretendem atribuir a cidadania nacional para os imigrantes
ilegais querem é que o nosso país seja invadido por criminosos, ignorantes
analfabetos, terroristas – os portugueses, sobretudo os mais jovens, vão
ficar sem trabalho devido a esses indivíduos. Deviam expulsá-los todos do
país.»
Note-se que não se discute a necessidade de combater a imigração ilegal. Se os
imigrantes forem legalizados, com vistos de residência e contratos de trabalho, têm de
descontar para a Segurança Social. Se a imigração ilegal for combatida, o tráfico humano
e as redes criminosas serão travadas. Opta-se por distorcer as ideias inventando um
espantalho de que estamos a ser “invadidos”.

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