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Guia das falácias ● Já deixaste de fazer vendas ilegais?

(São duas questões: já


Stephen Downes cometeste ilegalidades? Já te deixaste disso?)
Tradução e adaptação de Júlio Sameiro Prova: Identifique as duas proposições conectadas e mostre que
https://criticanarede.com/falacias.html acreditar numa não implica acreditar na outra.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 86; Copi e Cohen: 96
O objectivo de um argumento é expor as razões Apelo a motivos (em vez de razões)
(premissas) que sustentam uma conclusão. Um argumento é As falácias desta secção têm em comum o facto de apelarem a
falacioso quando parece que as razões apresentadas sustentam a emoções ou a outros factores psicológicos. Não avançam razões
conclusão, mas na realidade não sustentam. Da mesma maneira que para apoiar a conclusão.
há padrões típicos, largamente usados, de argumentação correcta, Apelo à força (argumentum ad baculum)
também há padrões típicos de argumentos falaciosos. A tradição O auditório é informado das consequências desagradáveis que se
lógica e filosófica procurou fazer um inventário e dar nomes a essas seguirão à discordância com o autor. Exemplos:
falácias típicas e este guia faz a sua listagem. ● É melhor admitires que a nova orientação da empresa é a
FALÁCIAS DA DISPERSÃO melhor — se pretendes manter o emprego.
Cada uma destas falácias caracteriza-se pelo uso ilegítimo ● A NAFTA é um erro! E se não votares contra a NAFTA,
de um operador proposicional, uso que desvia a atenção do então “votamos-te” para fora do escritório.
auditório da falsidade de uma certa proposição. Prova: Identifique a ameaça e a proposição. Argumente que a
Falso dilema ameaça não tem relação com a verdade ou a falsidade da
É dado um limitado número de opções (na maioria dos proposição.
casos apenas duas), quando de facto há mais. O falso dilema é um Referências: Cedarblom e Paulsen: 151; Copi e Cohen: 103.
uso ilegítimo do operador “ou”. Pôr as questões ou opiniões em Apelo à piedade (argumentum ad misercordiam)
termos de “ou sim ou sopas” gera, com frequência (mas nem Definição: Pede-se a aprovação do auditório na base do estado
sempre), esta falácia. Exemplos: lastimoso do Autor. Exemplos:
● Ou concordas comigo ou não. (Porque se pode concordar ● Como pode dizer que eu reprovo? Eu estava mais perto da
parcialmente.) positiva e, além disso, estudei 16 horas por dia.
● Reduz-te ao silêncio ou aceita o país que temos. (Porque ● Esperamos que aceite as nossas recomendações.
uma pessoa tem o direito de denunciar o que entender.) Passámos os últimos três meses a trabalhar
● Ou votas no Silveira ou será a desgraça nacional. (Porque desalmadamente nesse relatório.
os outros candidatos podem não ser assim tão maus.) Prova: Identifique a proposição e o apelo à autoridade e argumente
● Uma pessoa ou é boa ou é má. (Porque muitas pessoas são que o estado lastimoso do argumentador nada tem a ver com a
apenas parcialmente boas.) verdade da proposição.
Prova: Identifique as opções dadas e mostre (de preferência com um Referências: Cedarblom e Paulsen: 151; Copi e Cohen: 103, Davis:
exemplo) que há pelo menos uma opção adicional. 82.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 136 Apelo às consequências (argumentum ad consequentiam)
Apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam) O argumentador, para “mostrar” que uma crença é falsa, aponta
Os argumentos desta classe concluem que algo é consequências desagradáveis que advirão da sua defesa. Exemplos:
verdadeiro por não se ter provado que é falso; ou conclui que algo é ● Não podes aceitar que a teoria da evolução é verdadeira,
falso porque não se provou que é verdadeiro. (Isto é um caso porque se fosse verdadeira estaríamos ao nível dos
especial do falso dilema, já que presume que todas as proposições macacos.
têm de ser realmente conhecidas como verdadeiras ou falsas). Mas, ● Deve-se acreditar em Deus, porque de outro modo a vida
como Davis escreve, “A falta de prova não é uma prova”. (p. 59) não teria sentido. (Talvez. Mas também é possível dizer que,
Exemplos: como a vida não tem sentido, Deus não existe.)
● Os fantasmas existem! Já provaste que não existem? Prova: Identifique as consequências e argumente que a realidade
● Como os cientistas não podem provar que se vai dar uma não tem de se adaptar aos nossos desejos.
guerra global, ela provavelmente não ocorrerá. Referências: Cedarblom e Paulsen: 100; Davis: 63.
● Fred disse que era mais esperto do que Jill, mas não o Apelo a preconceitos
provou. Portanto, isso deve ser falso. Termos carregados e emotivos são usados para ligar valores morais
Prova: Identifique a proposição em questão. Argumente que ela à crença na verdade da proposição. Exemplos:
pode ser verdadeira (ou falsa) mesmo que, por agora, não o ● Os portugueses bem intencionados estão de acordo em
saibamos. plebiscitar a pena de morte.
Referências: Copi e Cohen: 93; Davis: 59 ● As pessoas razoáveis concordarão com a nossa política
Derrapagem (bola de neve) fiscal.
Para mostrar que uma proposição, P, é inaceitável, extraiem-se ● O primeiro-ministro tem a veleidade de pensar que as
consequências inaceitáveis de P e consequências das novas taxas de juro ajudarão a diminuir o déficit. (O uso de
consequências... O argumento é falacioso quando pelo menos um “tem a veleidade de pensar” sugere sem argumentos que o
dos seus passos é falso ou duvidoso. Mas a falsidade de uma ou primeiro ministro está enganado.)
mais premissas é ocultada pelos vários passos “se... então...” que ● Os burocratas do parlamento resistem às leis de defesa do
constituem o todo do argumento. Exemplos: património. (Compare-se com: “Os parlamentares
● Se aprovamos leis contra as armas automáticas, não rejeitaram a proposta de lei de defesa do património”.)
demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas, Prova: Identifique os termos preconceituosos usados: (p. ex.:.
e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. “portugueses bem intencionados” ou “Pessoas razoáveis”). Mostre
Acabaremos por viver num estado totalitário. Portanto não que discordar da conclusão não é suficiente para dizer que a pessoa
devemos banir as armas automáticas. é “mal intencionada” ou “pouco razoável”.
● Nunca deves jogar. Uma vez que comeces a jogar verás que Referências: Cedarblom e Paulsen: 153; Davis: 62.
é difícil deixar o jogo. Em breve estarás a deixar todo o teu Apelo ao povo (argumentum ad populum)
dinheiro no jogo e, inclusivamente, pode acontecer que te Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira por
vires para o crime para suportar as tuas despesas e pagar ser aceite como verdadeira por algum sector representativo da
as dívidas. população. Esta falácia é, por vezes, chamada “Apelo à emoção”
● Se eu abrir uma excepção para ti, terei de abrir excepções porque os apelos emocionais pretendem atingir, muitas vezes, a
para todos. população como um todo. Exemplos:
Prova: Identifique a proposição, P, que está a ser refutada e ● Se você fosse bela poderia viver como nós. Compre
identifique o evento final, Q, da série de eventos. Depois mostre que também Buty-EZ e torne-se bela. (Aqui apela-se às
este evento final, Q, não tem de ocorrer como consequência de P. “pessoas bonitas”)
Referências: Cedarblom e Paulsen: 137 ● As sondagens sugerem que os liberais vão ter a maioria no
Pergunta complexa parlamento, também deves votar neles.
Dois tópicos sem relação, ou de relação duvidosa, são conjugados e ● Toda a gente sabe que a Terra é plana. Então por que razão
tratados como uma única proposição. Pretende-se que o auditório insistes nas tuas excêntricas teorias?
aceite ou rejeite ambas quando, de facto, uma pode ser aceitável e a Referências: Copi e Cohen: 103; Davis: 62.
outra não. Trata-se de um uso abusivo do operador “e”. Exemplos: FUGIR AO ASSUNTO (FALHAR O ALVO)
● Deves apoiar a educação familiar e o Direito, dado por As falácias desta secção fogem ao assunto, discutindo a pessoa que
Deus, de os pais educarem os filhos de acordo com as suas avançou um argumento em vez de discutir razões para aceitar ou
crenças. não aceitar a conclusão. Em algumas ocasiões é aceitável citar
● Apoias a liberdade e o direito de andar armado? autoridades (por exemplo, citar o médico para justificar o uso de um
medicamento); mas quase nunca é apropriado discutir a pessoa em 4. Diz-se que o primeiro-ministro vai decretar outro feriado
vez dos seus argumentos. antes das eleições.
Ataques pessoais (argumentum ad hominem) Prova: Argumente que pelo facto de não conhecermos a fonte e a
Ataca-se pessoa que apresentou um argumento e não o argumento base da informação, não temos maneira de avaliar a fiabilidade da
que apresentou. A falácia ad hominem assume muitas formas. Ataca, informação.
por exemplo, o carácter, a nacionalidade, a raça ou a religião da Referências: Davis: 73.
pessoa. Em outros casos, a falácia sugere que a pessoa, por ter algo FALÁCIAS COM REGRAS GERAIS
tem algo a ganhar com o argumento, é movida pelo interesse. A Uma regra geral é um enunciado habitualmente verdadeiro mas nem
pessoa pode ainda ser atacada por associação ou pelas suas sempre o é. As regras gerais são indicadas, muitas vezes, por
companhias. expressões como “quase sempre” ou “a maioria”. Por exemplo, “a
Há três formas maiores da falácia ad hominem: maioria dos conservadores favorecem cortes na Segurança Social”.
1. Ad hominem (abusivo): em vez de atacar uma afirmação, o Algumas vezes usamos a palavra “geralmente”, como em
argumento ataca pessoa que a proferiu. “Geralmente os conservadores são a favor de cortes na Segurança
2. Ad hominem (circunstancial): em vez de atacar uma Social”. Mas algumas vezes nenhuma palavra específica é usada,
afirmação, o autor aponta para a relação entre a pessoa como, por exemplo, em “Os conservadores favorecem cortes na
que a fez e as suas circunstâncias. Segurança Social”. As regras gerais nem sempre são estritamente
3. Tu quoque: esta forma de ataque à pessoa consiste em verdadeiras. Portanto, quando alguém trata uma regra geral como se
fazer notar que a pessoa não pratica o que diz. fosse estritamente sempre verdadeira, comete uma falácia.
Exemplos: Falácia do acidente
1. Podes dizer que Deus não existe mas estás apenas a seguir É aplicada a regra geral quando as circunstâncias sugerem que se
a moda (ad hominem abusivo). deve aplicar uma excepção à regra. Exemplos:
2. É natural que o ministro diga que essa política fiscal é boa 1. A lei diz que não deves conduzir a mais de 50 Km/h.
porque ele não será atingido por ela (ad hominem Portanto, mesmo que o teu pai não possa respirar, não
circunstancial). deves passar dos 50 km/h.
3. Podemos passar por alto as afirmações de Simplício porque 2. É bom devolver as coisas que nos emprestaram. Portanto,
ele é patrocinado pela indústria da madeira (ad hominem deves devolver essa arma automática ao louco que te a
circunstancial). emprestou. (Adaptado de Platão, A República, I).
4. Dizes que eu não devo beber, mas não estás sóbrio faz Prova: Identifique a regra geral em questão e mostre que não é uma
mais de um ano (tu quoque). regra geral estrita. Depois mostre que as circunstâncias deste caso
Prova: Identifique o ataque e mostre que o carácter ou as sugerem que a regra não deve aplicar-se.
circunstâncias da pessoa nada tem a ver com a verdade ou falsidade Referências: Copi e Cohen: 100.
da proposição defendida. Falácia inversa do acidente
Referências: Barker: 166; Cedarblom e Paulsen: 155; Copi e Aplica-se uma excepção à regra geral a casos em que se deve
Cohen: 97; Davis: 80. aplicar a regra geral. Exemplos:
Apelo à autoridade (argumentum ad verecundiam) 1. Se deixarmos os doentes terminais usar heroína, devemos
Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para deixar toda a gente usá-la.
suportar uma opinião, a maioria das vezes não o é. O apelo à 2. Se deixou que Joana, a tal moça que foi atropelada por um
autoridade é especialmente impróprio se: camião, entregasse o trabalho mais tarde, também deveria
1. A pessoa não está qualificada para ter uma opinião de permitir que toda a turma entregasse o trabalho mais tarde.
perito no assunto. Prova: Identifique a regra geral em questão e mostre que o caso
2. Não há acordo entre os peritos do campo em questão. especial é uma excepção à regra.
3. A autoridade não pode, por algum motivo ser levada a sério Referências: Copi e Cohen: 100.
— porque estava brincar, estava ébria ou por qualquer outro Falácias causais
motivo. Os argumentos causais são os argumentos onde se conclui que uma
Uma variante da falácia do apelo à autoridade é o “ouvi dizer” ou coisa ou acontecimento causa outra. São muito comuns mas, como
“diz-se que”. Um argumento por “ouvir dizer” é um argumento que a relação entre causa e efeito é complexa, é fácil cometer erros. Em
depende de fontes em segunda ou terceira mão. Exemplos: regra, diz-se que C é a causa do efeito E se e só se:
1. O famoso psicólogo Dr. Frasier Crane recomenda-lhe que 1. Geralmente, quando C ocorre, também E ocorre; e
compre o último modelo de carro da Skoda. 2. Geralmente, se C não ocorre, então E também não ocorre.
2. O economista John Kenneth Galbraith defende que uma Diz-se “geralmente” porque há sempre excepções. Diz-se, por
apertada política económica é a melhor cura para a exemplo, que riscar o fósforo é a causa da chama porque:
recessão. (Apesar de Galbraith ser um perito, nem todos os 1. Geralmente, quando riscamos o fósforo ele acende
economistas estão de acordo nesta questão.) (excepto quando riscamos o fósforo dentro de água...); e
3. Encaminhamo-nos para uma guerra nuclear. A semana 2. Geralmente, quando o fósforo não é riscado, ele não
passada Ronald Reagan disse que começaríamos a acende (excepto quando o acendemos com um
bombardear a Rússia em menos de cinco minutos. (Claro maçarico...).
que o disse por piada ao testar o microfone.) Muitos especialistas requerem também que uma afirmação causal
4. Sousa disse que nunca perdoaria ao Pinto. (Trata-se de um seja apoiada por uma lei da natureza. Por exemplo, a afirmação
caso de “ouvir dizer” — de facto ele apenas disse que Pinto “riscar o fósforo é a causa da chama” é justificado pelo princípio “a
nada tinha feito para ser perdoado.) fricção produz calor, e o calor produz o fogo”.
Prova: Mostre uma de duas coisas (ou ambas): Depois disso, por causa disso (post hoc ergo propter hoc)
1. A pessoa citada não é uma autoridade no campo em O nome em Latim significa: “depois disso, logo, por causa disso”. Isto
questão; descreve a falácia. Um autor comete a falácia quando pressupõe
2. Entre os especialistas não há consenso sobre o assunto que, por uma coisa se seguir a outra, então aquela teve de ser
discutido. causada por esta. Exemplos:
Referências: Cedarblom and Paulsen: 155; Copi e Cohen: 95; Davis: 1. A imigração do Alentejo para Lisboa aumentou mal a
69. prosperidade aumentou. Portanto, o incremento da
Autoridade anónima imigração foi causado pelo incremento da prosperidade.
A autoridade em questão não é nomeada. Isto é uma forma de apelo 2. Tomei o EZ-Mata-Gripe e dois dias depois a minha
à autoridade porque quando a autoridade não é nomeada é constipação desapareceu...
impossível confirmar se se trata de um perito. Esta falácia é tão Prova: Mostre que a correlação é coincidência, mostrando: 1) que o
comum que merece uma menção especial. Uma variante desta “efeito” teria ocorrido mesmo sem a alegada causa ocorrer, ou que
falácia é o apelo ao rumor. Como a fonte do rumor é, em regra, 2) o efeito teve uma causa diferente da que foi indicada.
desconhecida, não é possível verificar se o rumor merece crédito. Efeito conjunto
Rumores falsos e caluniosos são lançados muitas vezes Sustenta-se que uma coisa causa outra mas, de facto, são ambas o
intencionalmente com o objectivo de desacreditar o oponente. efeito de uma mesma causa subjacente. Esta falácia é muitas vezes
Exemplos: apresentada como um caso especial de falácia post hoc ergo propter
1. Um membro do governo disse que uma nova lei sobre hoc. Exemplos:
posse e uso de armas será proposta amanhã. 1. Estamos a viver uma fase de elevado desemprego que é
2. Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma provocado por um baixo consumo. (De facto, ambos podem
guerra nuclear é estar preparado para ela. ser causados por taxas de juro muito elevadas.)
3. Sabe-se que milhares de operações desnecessárias são 2. Estás com febre e isso está a fazer com que te enchas de
realizadas todos os anos. borbulhas. (De facto, ambos os sintomas são causados pelo
sarampo.)
Prova: Identifique os dois efeitos e mostre que ambos são Referências: Copi e Cohen: 105.
provocados pela mesma causa subjacente. É preciso indicar a causa Espantalho
oculta e provar que ela causa cada efeito. O argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238. opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco ou
Causa genuína mas insignificante tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das “técnicas”
O objecto ou evento identificado como a causa de um efeito, é uma de argumentação mais usadas. Exemplos:
causa genuína — mas insignificante quando comparada com outras 1. As pessoas que querem legalizar o aborto, querem
causas desse evento. Note-se que não se trata desta falácia quando prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos
todas as outras causas são igualmente insignificantes. Não é uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser
falacioso dizer que a sua ajuda causou a derrota do partido do legalizado.
governo, porque o seu voto tem o mesmo peso de qualquer outro 2. Devemos manter o recrutamento obrigatório. As pessoas
voto e, portanto, é igualmente parte da causa. Exemplos: não querem o fazer o serviço militar porque não lhes
1. Fumar causa a poluição do ar em Edmonton. (É verdade convém. Mas devem reconhecer que há coisas mais
mas o efeito do fumo do tabaco é insignificante comparado importantes do que a conveniência.
com o efeito poluente dos automóveis.) Prova: Mostre que o argumento oposto foi mal representado,
2. Deixando a tua fornalha acesa durante a noite contribuis mostrando que os opositores têm argumentos mais fortes. Descreva
para o aquecimento global do planeta. um argumento mais forte.
Prova: Identifique uma causa mais significativa. Referências: Cedarblom e Paulsen: 138.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238. Falácias da ambiguidade
Tomar o efeito pela causa As falácias desta secção são, todas elas, falácias geradas pela falta
A relação entre causa e efeito é invertida. Exemplos: de clareza no uso de uma frase ou palavra. Há dois modos de isto
1. O cancro faz fumar. suceder:
2. A propagação da SIDA foi provocada pela educação sexual. 1. A palavra ou frase pode ser ambígua, caso em que tem
(De facto, o desenvolvimento da educação sexual foi mais de um sentido distinto;
provocado pela propagação da SIDA.) 2. A palavra ou frase pode ser vaga. Nesse caso não tem um
Prova: Exponha um argumento causal, mostrando que a relação sentido distinto.
entre causa e efeito foi, de facto, invertida. Equívoco
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238. A mesma palavra pode ser usada com dois significados diferentes.
Causa complexa Exemplos:
O efeito é provocado por um certo número de objectos ou eventos, 1. Criminalidade é ilegalidade. O julgamento de um roubo ou
dos quais a causa identificada é apenas um parte. Uma variante assassínio são acções criminais. Os julgamentos de roubos
disto são os ciclos de feedback onde o efeito é ele mesmo parte da e assassínios são designados de acções criminais. Logo, os
causa. Exemplos: julgamentos de roubos e assassínios são ilegais. (Exemplo
1. O acidente não teria ocorrido se não fosse a má localização retirado de Copi.)
do arbusto. (Certo, mas o acidente não teria ocorrido se o 2. Os assassinos de cianças são desumanos. Portanto, os
condutor não estivesse bêbado, e se o peão tivesse humanos não matam crianças. (O argumento joga com os
prestado atenção ao trânsito.) significados moral e descritivo de “humano”)
2. A explosão do Challenger foi causada pelo tempo frio. 3. Para ser grande ou pequeno um objecto tem, primeiro, de
(Verdadeiro, mas não teria ocorrido se as juntas tóricas ser. Logo, o ser do objecto surgiu primeiro. (Jogo com os
tivessem sido bem fabricadas.) significados lógico e físico de “ser”)
3. As pessoas estão com medo por causa do incremento do Prova: Identifique a palavra que é usada mais de uma vez. Depois,
crime. (Certo, mas as pessoas têm sido levadas a violar a lei mostre que a palavra surge com diferentes definições, adequadas
em consequência do seu medo. O que ainda aumenta mais o num dos seus usos e desadequadas noutros.
crime.) Referências: Barker: 163; Cedarblom and Paulsen: 142; Copi e
Prova: Mostre que todas as causas e não apenas aquela que foi Cohen: 113; Davis: 58.
mencionada são precisas para explicar o efeito. Anfibologia
Referências: Cedarblom e Paulsen: 238. Uma anfibologia ocorre quando a construção da frase permite
Falhar o alvo atribuir-lhe diferentes significados. Exemplos:
Estas falácias têm em comum o facto de falharem a prova de que a 1. No teu emprego todos gostam de um carro. Portanto, há
conclusão é verdadeira. um carro muito especial. (Todos gostam de um carro
Petição de princípio (petitio principii) qualquer ou do mesmo carro?)
A verdade da conclusão é pressuposta pelas premissas. Muitas 2. O Oráculo de Delos disse a Croseus que se ele continuasse
vezes, a conclusão é apenas reafirmada nas premissas de uma forma a guerra destruiria um reino poderoso. (O Oráculo não disse
ligeiramente diferente. Nos casos mais subtis, a premissa é uma que seria o seu próprio reino...)
consequência da conclusão. Exemplos: Prova: Evidencie a ambiguidade da frase, mostrando que pode
1. Dado que não estou a mentir, segue-se que estou a dizer a receber diferentes interpretações.
verdade. Referências: Copi and Cohen: 114.
2. Sabemos que Deus existe, porque a Bíblia o diz. E o que a Ênfase
Bíblia diz deve ser verdadeiro, dado que foi escrita por A ênfase é usada para sugerir uma proposição diferente daquela
Deus e Deus não mente. (Neste caso teríamos de concordar que, de facto, é expressa. Exemplos:
primeiro que Deus existe para aceitarmos que ele escreveu a 1. Não há CERVEJA GRÁTIS!
Bíblia.) 2. A ex-namorada, procurando vingar-se do capitão, escreveu
Prova: Mostre que para acreditarmos nas premissas já teríamos de no jornal: “Hoje, o capitão estava sóbrio”. (Ela sugere, com a
aceitar a conclusão. ênfase, que habitualmente o capitão está bêbado. Copi, p.
Referências: Barker: 159; Cedarblom e Paulsen: 144; Copi e 117)
Cohen: 102; Davis: 33. Prova: Explicite a proposição sugerida, contrastando-a com a
Conclusão irrelevante (ignoratio elenchi) proposição realmente expressa.
Um argumento prova uma coisa diferente da pretendida. Exemplos: Referências: Copi e Cohen: 115, 117.
1. Deves aceitar a nova política de arrendamento. Não Erros categoriais
podemos continuar a ver pessoas a viver nas ruas, devemos Estas falácias ocorrem porque o autor pressupõe erroneamente que
ter rendas mais baratas. (Podemos pensar que é inaceitável as partes e o todo devem ter propriedades semelhantes. No
ver pessoas a viver nas ruas e, no entanto, não estarmos de entanto, as coisas podem ter, como um todo, propriedades
acordo com as novas rendas) diferentes das que cada uma tinha em separado.
2. A lei deve estipular uma percentagem mínima de mulheres Falácia da composição
nos cargos políticos, repartições e empresas. Os homens Por as partes de um todo terem uma certa propriedade,
dominam praticamente todos os cargos importantes. Só argumenta-se que o todo tem essa mesma propriedade. Esse todo
uma sociedade discriminatória o pode suportar. Não pode ser tanto um objecto composto de diferentes partes, como
fazermos nada para alterar esse estado de coisas é uma colecção ou conjunto de membros individuais. Exemplos:
inaceitável. (Podemos concluir, com o argumentador, que a 1. Cada tijolo tem três polegadas de altura, portanto a parede
nossa sociedade é machista sem termos de aceitar que a de tijolo tem três polegadas de altura.
discriminação positiva que ele propõe é a solução.) 2. As células não têm consciência. Portanto, o cérebro, que é
Prova: Mostre que a conclusão apresentada pelo argumentador, feito de células, não tem consciência.
com a qual até pode concordar, não é a conclusão que ele pretendia Prova: Identifique o todo e as partes em questão. Mostre que, em
tirar. geral o todo não têm de ter as propriedades das partes, ou,
podendo ser mais específico, mostre que o todo em questão não Prova: Parta de uma das afirmações e use-a como uma premissa
tem as propriedades das partes. para mostrar que a outra é falsa.
Falácia da divisão Referências: Barker: 157.
Como o todo tem uma certa propriedade, argumenta-se que as FALÁCIAS DA EXPLICAÇÃO
partes têm essa propriedade. O todo em questão, pode ser tanto Uma explicação é uma forma de raciocínio que tenta dar resposta à
um objecto como uma colecção ou conjunto de membros pergunta “Porquê?” Por exemplo: é com uma explicação que
individuais. Exemplos: respondemos a uma pergunta como “Por que é que o céu é azul?”
1. A parede de tijolo tem 1,90 m de altura. Portanto os tijolos Uma boa explicação será baseada numa teoria científica ou
têm 1,90 de altura. empírica. A explicação do azul do céu será dada em termos da
2. Como o cérebro tem consciência, cada célula do cérebro composição dos céus e das teorias da reflexão.
deve ter a consciência. Invenção de factos
3. Como tudo tem uma causa, então há uma causa de tudo. Uma explicação pretende dizer-nos por que razão acontece certo
4. Como todos têm uma mãe, então há uma mãe de todos. fenómeno. A explicação é falaciosa se o fenómeno não ocorre ou se
Prova: Mostre que as propriedades em questão são propriedades não houver prova de que possa ocorrer. Exemplos:
das partes mas não do todo. Se for preciso, descreva as partes para 1. A razão da timidez da maioria das pessoas solteiras reside
mostrar que elas não têm as propriedades do todo. no carácter possessivo das suas mães. (É uma tentativa de
Referências: Barker: 164; Copi e Cohen: 119. explicar por que razão a maioria das pessoas solteiras são
Non sequitur tímidas. No entanto, não é verdade que a maioria das
O termo non sequitur significa literalmente “não se segue que”. pessoas solteiras sejam tímidas.)
Nesta secção descrevemos falácias que ocorrem em consequência 2. João entrou na loja porque queria ver a Maria. (Isto é uma
da forma de argumento usado ser inválida. falácia porque, de facto, João não entrou na loja.)
Falácia da afirmação da consequente 3. A razão pela qual a maioria das pessoas se opõem à greve é
Esta falácia deriva da confusão entre condição suficiente e condição o medo de perder o emprego. (Pretende-se explicar a
necessária. Por exemplo: dadas as proposições oposição dos trabalhadores à greve. Mas suponha que eles
P = Hitler levou com a bomba H. votam a continuação da greve. Então não há, de facto,
Q = Hitler morreu. oposição à greve.)
Se admitir que P é verdadeira, concluirei que Q é verdadeira. P é Prova: Identifique o fenómeno que está a ser explicado. Mostre que
suficiente para Q. Q é necessária para P (não há P sem Q). Mas, do não há razão para acreditar que o fenómeno tenha de facto
facto de Q ser verdadeira, não posso concluir que P o seja (Q não é ocorrido.
suficiente para P). Logo, todo o argumento com a seguinte forma é Referências: Cedarblom e Paulsen: 158.
inválido: Distorcer factos
Se P, então Q. Uma explicação pretende dizer-nos por que razão acontece certo
Ora, Q. fenómeno (facto). O fenómeno ou facto está estabelecido, o
Logo, P. argumento visa estabelecer a explicação. Neste tipo de falácias, no
Exemplos: entanto, apesar de algo semelhante ao fenómeno a explicar ter
1. Se jogamos bem, ganhamos. Ora, ganhámos. Logo, ocorrido, ele é falsificado, apresentado de forma parcial ou baseado
jogámos bem. (De facto jogámos mal, mas o adversário em provas ad hoc. Exemplos:
jogou pior e o árbitro ajudou) 1. A timidez da maioria dos solteiros explica-se pelo carácter
2. Se estou em Faro, estou no Algarve. Ora, estou no Algarve. dominador das mães. (Pretende-se explicar a timidez da
Logo, estou em Faro. (Claro que posso estar em Olhão ou maioria dos solteiros. No entanto provou-se que o autor
em Sagres.) baseou a sua argumentação em dois solteiros que conheceu
3. Se a fábrica estivesse a poluir o rio, então veríamos o em tempos, sendo ambos tímidos... Isto está longe de ser
número de peixes mortos aumentar. Há cada vez mais artificial: é assim que muitas vezes formamos a nossa
peixes a morrer. Logo, a fábrica está a poluir o rio. opinião sobre diversos grupos humanos)
Prova: Mostre que, mesmo sendo as premissas verdadeiras, a 2. A razão pela qual obtenho boas classificações é que os
conclusão pode ser falsa. Em geral basta mostrar que Q pode ser meus alunos me apreciam. (Isto é uma falácia quando as
consequência de outra coisa que não P. Por exemplo, a morte dos avaliações com menos de 70% são eliminadas com a
peixes pode ser provocada pela aplicação de pesticidas e não pela justificação de que os alunos não compreenderam a
fábrica. questão...)
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 24; Copi e Cohen: Prova: Identifique o fenómeno que está a ser explicado. Mostre que
241. as provas avançadas para afirmar a existência do fenómeno foram,
Falácia da negação da antecedente de algum modo, manipuladas.
Nesta falácia confunde-se a condição suficiente com a condição Referências: Cedarblom e Paulsen: 160.
necessária. Com uma frase condicional (Se P, então Q) dizemos que Irrefutabilidade
se P for verdadeira, Q também é; mas não dizemos que a recíproca é A teoria que foi concebida para explicar a ocorrência de algum
verdadeira. Por isso, os argumentos com a seguinte forma são fenómeno não pode ser testada. Testamos uma teoria por meio das
inválidos: suas previsões. Por exemplo, uma teoria pode prever que a luz muda
Se P, então Q. de trajectória em certas condições, ou que um líquido muda de cor
Não-P. com o ácido, ou que um psicótico responda mal a certos estímulos.
Logo, não-Q. Se o evento previsto não ocorrer, então a informação obtida
Exemplos: contradiz a teoria. Uma teoria não pode ser testada se não faz
1. Se fores atingido por um carro quando tiveres 6 anos, previsões. Também não pode ser testada se prevê acontecimentos
morres jovem. Mas não foste atingido por um carro aos 6 que podem ocorrer independentemente de a teoria ser verdadeira.
anos. Portanto, não vais morrer jovem. (Claro que ele Exemplos:
poderia ser atingido por um comboio com a idade de 6 anos 1. Um avião desapareceu no meio do Atlântico devido ao
e, nesse caso, morria jovem) efeito do Triângulo das Bermudas, uma força tão subtil que
2. Se estou em Faro, então estou no Algarve. Não estou em não pode ser medida por qualquer instrumento. (À “força”
Faro. Logo, não estou no Algarve. (Mas pode estar em do Triângulo das Bermudas não se atribui mais nenhum
Olhão...) efeito além do desaparecimento ocasional de um avião. Por
Prova: Mostre que a conclusão pode ser falsa mesmo que as as isso, a única previsão que permite é que mais aviões se irão
premissas sejam verdadeiras. Em particular, mostre que a perder. Mas isto é o que pode muito bem acontecer
consequente, Q, pode ocorrer mesmo que P não ocorra. independentemente de a teoria ser verdadeira ou falsa. )
Referências: Barker: 69; Cedarblom e Paulsen: 26; Copi e Cohen: 2. Ganhei a lotaria porque a minha aura psíquica me fez
241. ganhar. (Uma maneira de testar esta teoria é tentar ganhar
Falácia da inconsistência de novo a lotaria. Mas a pessoa responde que essa aura só o
O argumentador avança pelo menos duas proposições que não faz ganhar uma vez. Não há, portanto, uma maneira de
podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Em tais casos as determinar se ganhou em resultado da aura ou do acaso.)
proposições podem ser contrárias ou contraditórias. Exemplos: 3. A razão pela qual tudo existe é que Deus tudo criou. (Isto
1. Montreal está a cerca de 200 km de Otava, enquanto pode ser verdade, mas como explicação não tem qualquer
Toronto está a 400 km de Otava. Toronto está mais perto peso porque não temos meios para testar tal teoria.
de Otava do que Montreal. Nenhuns factos no mundo podem mostrar que esta teoria é
2. John é maior do que Jake, e Jake é maior do que Fred, falsa porque, de acordo com tal teoria, todos os factos
enquanto Fred é maior do que John. foram criados por Deus.)
4. Ny Quil fá-lo dormir devido à sua fórmula dormitiva. condições da conclusão mas que obviamente não seja uma instância
(Quando pressionado, o fabricante definirá a “fórmula do termo a definir.
dormitiva" como “qualquer coisa que o faz dormir”. Para Referências: Cedarblom e Paulsen: 182.
testar esta teoria, teríamos de descobrir outra coisa que Definição demasiado restrita
contivesse a fórmula dormitiva e verificar se ela faz dormir. A definição não inclui tudo o que deveria incluir. Exemplos:
Mas como encontramos alguma coisa que contenha a 1. Uma maçã é algo vermelho e redondo. (Há muitas maçãs, e
fórmula dormitiva? Procuramos por coisas que façam deliciosas maçãs, que, não sendo maçãs vermelhas, não
dormir! Mas nós podemos prever que as coisas que fazem estão incluídas na definição e deveriam estar.)
dormir fazem dormir, não interessando o que a teoria diz. 2. Um livro é pornográfico se e só se contiver fotografias de
Esta teoria é vazia.) pessoas nuas. (Os livros escritos pelo Marquês de Sade não
Prova: Identifique a teoria. Mostre que ela não faz previsões, ou que contêm fotografias. No entanto, são tidos como
as previsões feitas com a teoria são falsas ou que as previsões que pornográficos. Portanto, a definição é demasiado limitada.)
ela faz podem ser verdadeiras mesmo que a teoria seja falsa. 3. Uma coisa é música se e apenas se for tocável num piano.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 161. (Um solo de bateria não pode ser tocado num piano e, no
Âmbito limitado (ad hoc) entanto, não deixa de ser música.)
A teoria só explica um fenómeno e nada mais. Exemplos: Prova: Identifique o termo que está a ser definido. Identifique as
1. Havia hostilidade em relação aos hippies dos anos 60 por condições da definição. Apresente um item que seja uma instância
causa do ressentimento dos seus pais em relação às do termo mas não preencha essas condições.
crianças. (Esta explicação é deficiente porque explica a Referências: Cedarblom e Paulsen: 182.
hostilidade em relação aos hippies e nada mais. Uma teoria Definição pouco clara
melhor seria dizer que havia hostilidade em relação aos A definição é tão ou mais difícil de compreender do que o termo a
hippies porque os hippies são diferentes, e as pessoas definir. Exemplos:
temem coisas diferentes. Esta teoria explicaria não só a 1. Uma pessoa é dissoluta se e só se for lasciva. (Pretende-se
hostilidade em relação aos hippies, mas também outras definir o termo “dissoluta”. Mas o significado do termo
formas de hostilidade.) “dissoluta” é tão obscuro como o do termo “lasciva”. Assim a
2. As pessoas tornam-se esquizofrénicas porque as diferentes definição falha o seu objectivo de clarificação.)
partes do seu cérebro funcionam separadas. (Esta teoria 2. Um objecto é belo se e só se for esteticamente
explica a esquizofrenia e nada mais.) bem-sucedido. (O termo “esteticamente bem-sucedido” é
Prova: Identifique a teoria e o fenómeno que ela explica. Mostre que mais difícil de compreender do que o termo “belo”.)
a teoria não explica nada mais. Argumente que as teorias que só Prova: Identifique o termo que está a ser definido. Identifique as
explicam um fenómeno são, na melhor das hipóteses, incompletas. condições da definição. Mostre que as condições não estão mais
Referências: Cedarblom e Paulsen: 163. claramente definidas do que o termo a definir.
Pouca profundidade (superficialidade) Referências: Cedarblom e Paulsen: 184.
As teorias explicam os factos apelando a causas ou fenómenos Definição circular
subjacentes. As teorias que não apelam a causas subjacentes e A definição inclui o termo definido como parte da definição. Uma
apenas apelam à pertença a uma categoria (apenas incluem o definição circular é um caso especial da falta de clareza. Exemplos:
fenómeno em uma classe de fenómenos) são superficiais. 1. Um animal é humano se e só se tem pais humanos.
Exemplos: (Pretende-se definir “humano”. Mas para encontrarmos um
1. A minha gata gosta de atum porque é uma gata. (Esta ser humano temos de encontrar pais humanos. Para
teoria apenas afirma que os gatos gostam de atum, sem encontrarmos pais humanos temos já de saber o que o que é
explicar este facto.) um ser humano.)
2. Ronald Reagan era militarista porque era americano. 2. Um livro é pornográfico se e só se contiver pornografia.
(Certo, ele era americano. Mas, em que é que o facto de ser (Teríamos já de saber o que é a pornografia para dizer se um
americano o torna militarista? O que o levou a agir dessa livro é ou não pornográfico.)
maneira? A teoria não nos diz isso e, portanto, não nos dá Prova: Identifique o termo que está a ser definido. Identifique as
uma boa explicação.) condições da definição. Mostre que pelo menos um termo usado nas
3. Estás a dizer isso só porque pertences ao sindicato. (Esta condições é o mesmo que o termo que está a ser definido.
tentativa de rejeição do argumento pretende explicar o Referências: Cedarblom e Paulsen: 184.
comportamento do opositor como manifestação de Definição contraditória
frivolidade. Falha, no entanto, porque não é uma explicação. A definição é autocontraditória. Exemplos:
Suponhamos que toda a gente do sindicato dizia o mesmo. 1. Uma sociedade é livre se e só se a liberdade for
E daí? Tínhamos de ir mais fundo — tínhamos de perguntar maximizada e as pessoas forem legalmente obrigadas a
por que razão toda a gente do sindicado dizia isso, antes de tomar a responsabilidade das suas acções. (As definições
podermos concluir que as afirmações do opositor são deste tipo são muito comuns, especialmente na Internet.
frívolas.) Mas, se uma pessoa for legalmente obrigada a fazer alguma
Prova: As teorias desta espécie tentam explicar um fenómeno, coisa, já não podemos dizer que a liberdade foi maximizada.)
mostrando que ele é parte de uma classe ou categoria de 2. As pessoas podem candidatar-se à carta de condução se:
fenómenos semelhantes. Aceitando esse facto, exija uma explicação (a) não tiverem experiência anterior de condução
mais vasta para os fenómenos dessa categoria. Argumente que uma (b) tiverem acesso a um veículo, e
teoria explicativa deve referir causas e não apenas classificações. (c) tiverem operado veículos motorizados
Referências: Cedarblom e Paulsen: 164. (Uma pessoa não pode ter operado veículos motorizados se
Erros de definição não tiver experiência prévia de condução)
Usamos definições para tornar os nossos conceitos mais claros. O Prova: Identifique as condições da definição. Mostre que nem todas
propósito da definição é enunciar com exactidão o significado de podem ser, ao mesmo tempo, verdadeiras. Em particular, parta de
uma palavra. Uma boa definição deve permitir que o leitor a aplique uma das condições e, depois, mostre que uma das outras é falsa).
a casos concretos sem ajuda exterior. Por exemplo, suponhamos que Referências: Cedarblom and Paulsen: 186.
queremos definir a palavra “maçã”. Se a definição for bem-sucedida,
então o leitor deve poder aplicá-la a cada maçã que existe e só a
maçãs. Se o leitor falhar algumas maçãs ou incluir outros objectos
(como pêras) ou não puder dizer se algo é maçã ou não, então a
definição falha. As definições não são argumentos. Por isso, não se
pode, com rigor, falar de “Falácias da Definição”. Mas as definições
incorrectas, por vezes tendenciosas, são muitas vezes incluídas em
argumentos tornando-os falaciosos.
Definição demasiado lata
A definição inclui mais do que devia incluir. Exemplos:
1. Uma maçã é um objecto vermelho e redondo. (O planeta
Marte é vermelho e redondo. Portanto está incluído na
definição. Mas é óbvio que Marte não é uma maçã.)
2. Uma figura é quadrada se e só se tiver quatro lados de igual
comprimento. (Não são só quadrados que têm quatro lados
de igual comprimento. Os losângulos também.)
Prova: Identifique o termos que está a ser definido. Identifique as
condições da definição. Procure um objecto que preencha as

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