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Falácias

Uma falácia é o uso de raciocínio inválido ou defeituoso na construção de um


argumento. Algumas falácias cometidas intencionalmente para manipular ou
persuadir por engano são chamadas de sofismas, enquanto as cometidas
involuntariamente devido a descuido ou ignorância são chamadas de
paralogismos. A solidez dos argumentos legais depende do contexto em que
os argumentos são apresentados.

As Falácias que iremos trabalhar são:

I - Ambiguidade:

A) Equívoco

Usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao


contexto.
Ex.: Matar não é humano. Portanto, os humanos não matam.

Problema: Joga-se com os significados das palavras. A palavra "humanos"


possui vários sentidos, pode ser um tipo de primata (sentido biológico) ou uma
boa pessoa (sentido moral), mas a falácia usa a palavra sem considerar a
diferença de sentido.

B) Anfibologia

Ocorre quando as premissas usadas no argumento são ambíguas devido a sua


má elaboração sintática.
Ex. Ela levou o pai ao médico em seu carro.

Problema: No carro de quem? Dela? Do pai dela? Da pessoa a quem foi dita a
frase? Não ficou clara a fala.

II - Apelo a Motivos:

A) Argumentum ad metum (apelo ao medo)


Apelar ao medo para validar o argumento.

Ex.: Se tal candidato vencer vai instaurar o Comunismo no país.


Problema: O exemplo acima é em casos em que o candidato não demonstra tal
interesse e a Democracia no país é muito bem instaurada, logo o medo é
exagerado.

B) Argumentum ad misericordiam (apelo à misericórdia)

Recorrer à emoção para validar o argumento.

Ex.: Apelo ao júri para que contemple a condição do réu, um homem sofrido,
que agora passa pelo transtorno de ser julgado em um tribunal.
Problema: O advogado quer que o júri absolva o réu por compaixão, sem
considerar seus crimes.

C) Argumentum ad verecundiam (apelo à autoridade)

Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para


comprovar a premissa.

Ex.: Sou formado em Física, por isso eu afirmo: Safo de Lesbos é a maior
poetisa grega.
É como se um especialista pudesse acertar em tudo o que diz, mesmo sendo
algo fora da sua área de especialidade. Essa falácia consiste em usar as
opiniões de especialistas em áreas nas quais eles são leigos, como um físico
se pronunciando sobre poesia. A opinião dele só vale dentro da física.

D) Apelo à Autoridade Anônima

Trata-se de fazer afirmações recorrendo a supostas autoridades, mas sem citar


as fontes.

Ex.: Estudos comprovam que o irmão mais velho é o mais inteligente.

Problema: Estudos feito por quem? Não foi citado o nome da instituição.
III - Erros categoriais e de regras gerais

A) Acidente

Essa falácia tem o nome original de Dicto Simpliciter e pode ser chamada
em português de Generalização Inadequada.
Trata-se de querer aplicar uma regra geral a todos os casos, ignorando as
exceções.
Ex.: Não me importa se você está com o pé ferido. Não pode entrar de
sandálias na Escola!

Problema: A pessoa quer cumprir a regra de maneira cega, ou seja, sem abrir
exceções e com isso prejudicou alguém que não merecia.

B) Inversão do Acidente

Trata-se de querer usar uma exceção como se fosse uma regra geral.

Ex.: Se a aluna grávida pode sair a hora que quiser de sala, então todos
podem.

Problema: A pessoa usa uma exceção válida e quer aplicar a todos.

IV – Causais

A) Cum hoc ergo propter hoc (com isso, logo, por causa disso)

Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos, eles estão
relacionados. Sendo que a relação é fraca e inconsistente.

Ex: Desde que a Filosofia entrou no currículo escolar os alunos pioraram nas
notas de Matemática. Logo, a Filosofia atrapalha o conhecimento em
Matemática

Problema: Nota-se que a conclusão do argumento é absurda e por isso é falsa.


Pois a Filosofia estuda vários filósofos que eram matemáticos (Tales,
Pitágoras, Arquitas, Descartes, Pascal etc.) e ajuda no processo matemático.
Além disso, ambas disciplinas possuem uma matéria em comum: Lógica, e no
conteúdo de Filosofia da Ciência estuda-se a pseudociência chamada
Numerologia e a compara com a Matemática acentuando as diferenças.

B) Post hoc ergo propter hoc (depois disso, logo, por causa )

Consiste em dizer que, pelo simples fato de um evento ter ocorrido logo após o
outro, eles têm uma relação de causa e efeito. Porém, correlação não
implica causalidade.

Estrutura: Ocorreu A e depois ocorreu B. Logo, A é a causa do B. Supõe-se


que se A não aconteça, o B não acontecerá também.
Ex.: João muda-se para uma casa e logo a casa começa a ter rachaduras. O
dono diz que as pessoas que moraram antes alegam que nunca houve esse
problema, dando a entender que a rachadura só existe porque João passou a
morar na casa.

Problema: O erro está em entender que algo só aconteceu devido ao que


antecedeu, sendo que é óbvio que o fato aconteceria de qualquer modo.

C) Inversão de causa e efeito

Considerar um efeito como uma causa.

Ex.: A inserção da educação sexual nas escolas fez aumentar o número de


alunas grávidas.

Problema: Na verdade, foi exatamente o contrário. O aumento de gravidezes


na adolescência que levou ao incremento da educação sexual como forma de
prevenção.

D) Terceira causa

Ignorar a existência de uma terceira causa, não levada em conta nas


premissas.
Ex.: O Dólar ultrapassou R$ 5,00 devido a pandemia do Covid-19.
Problema: Não é só devido ao Coronavírus que o dólar está a esse valor. O
alto índice de desemprego, a menor exportação e outros quesitos resultaram
nisso. Então, o erro é colocar apenas uma causa, sendo que há outras.

V- Non-sequitur (não se segue que)

Tipo de falácia no qual a conclusão não se sustenta nas premissas. Há uma


violação da coerência textual. Essa falácia ocorre quando a pessoa cria um
Silogismo de modo errado, seja na construção do mesmo ou quando as
premissas não têm ligação entre si.
Ex.: Pedro é maior que Matheus e Matheus é maior que Lucas, logo Lucas é
maior que Pedro.

Problema: O modelo básico do silogismo vira essa falácia porque as premissas


não levam à conclusão e podem até levar ao sentido contrário, por isso não faz
sentido Lucas ser maior que Pedro se o Matheus é maior que Pedro e menor
que Lucas.

VI - Falácias da explicação

A) Divindade das lacunas


Responder a questões sem solução com explicações sobrenaturais e/ou que
não podem ser comprovadas.

Ex.: Os passageiros do avião sobreviveram porque Jeová interveio no acidente.

Problema: A divindade supre a falta de explicações, as lacunas. É uma teoria


“irrefutável” para os crentes na religião citada.

B) Petitio principii (petição de princípio)

Demonstrar uma tese partindo do princípio de que já é válida.


Ex.: José é pobre porque possui poucos recursos financeiros.

Problema: Trata-se de usar uma premissa que é igual à conclusão e forma com
esta um raciocínio circular. Na premissa já sabia o que a conclusão afirmou.
C) Conclusão irrelevante

Obter uma conclusão que não decorre das premissas.


Ex.: Ela não é inteligente porque possui cabelos loiros.

Problema: A relação da cor do cabelo com a inteligência da pessoa tem relação


nenhuma. Logo a conclusão não tem relevância.

VII- Falácias da dispersão

A) Falsa dicotomia

Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas,
quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.
Ex.: Ou tu és meu amigo ou és meu inimigo.

Problema: Não há apenas essas duas opções: ser amigo ou inimigo, sendo
que a pode simplesmente não ser amiga e nem inimiga dessa pessoa.

B) Argumentum ad temperantiam (meio-termo)


Recorrer ao meio-termo sem uma razão lógica.

Ex.: A distância de Rio Bonito a São Gonçalo tu dizes que é de 20 km, eu digo
que é 50 km, então vamos dizer que a distância é de 35 km.

Problema: Meio-termo pode ou não ser falacioso, depende do contexto. Além


disso, a exclusão do meio-termo pode também ser uma falácia. Nesse caso, há
uma distância certa entre as cidades e não há como fazer o uso do meio-termo,
por isso é um argumento falacioso.

C) Inversão do ônus da prova


O argumentador transfere ao seu opositor a responsabilidade de comprovar o
argumento contrário, eximindo-se de provar a base do seu argumento original.

O ônus da prova inicial cabe sempre a quem faz a afirmação primária positiva.

Ex.: Sereias existem porque ninguém conseguiu provar que elas não existem.
Problema: O ônus da prova recairá sobre quem fez a afirmação de que sereias
existem. A ausência de prova não significa prova de ausência, não sendo
necessário que alguém prove a existência de algo para demonstrar a
invalidade dos argumentos que defendem a inexistência.

D) Argumentum ad nauseam (repetição nauseante)

É a aplicação da repetição constante e a crença incorreta de que, quanto mais


se diz algo, mais correto isso está.

Ex.: Se o prefeito diz tanto que sua opositora política é uma corrupta , então ela
é.

Problema: Espera-se convencer o oponente com a saturação da sua mente


pelo argumento. Nesse caso, o prefeito o faz para prejudicar a oponente.
Mesmo sendo verdade, se ele não apresenta dados e quer convencer só pelo
discurso repetitivo ocasiona nessa falácia.

VIII - Argumentum ad Personam (ataque pessoal)

Também conhecida como ‘Argumento contra o Homem', nessa falácia, em vez


de o argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que
fez o enunciado.

Ex.: Ela mostrou dados de que o candidato que eu votei não é honesto, eu a
chamei de feia e magrela além de xingá-la de outras coisas.
Problema: A pessoa deixou de argumentar o assunto, provavelmente por não
saber refutar, e faz ataques pessoais, saindo do assunto da discussão.

IX – Falácia do Espantalho

É um argumento em que a pessoa ignora a posição do adversário no debate e


a substitui por uma versão distorcida, que representa de forma errada, esta
posição.

Estrutura: Pessoa A defende o argumento X


Pessoa B ataca o argumento Y como se ele fosse o argumento X,
quando na verdade ele é uma versão distorcida de X.
Ex.: Pessoa A - Nós deveríamos ter leis menos rígidas em relação a legislação
da cerveja;
Pessoa B - Não, toda a sociedade com acesso irrestrito a bebidas
alcoólicas acaba perdendo qualquer senso ético e termina em ruína.

X - Generalização precipitada

A) Amostra Limitada

Ocorre quando uma pequena amostra, enumeração insuficiente ou imperfeita,


conduzem a uma conclusão tendenciosa. A amostra não representa todo o
grupo, mas a parte é tomada como sendo o todo.

Ex: Conheço dezessete homens que traem suas esposas, logo todo Homem
traí.

Problema: Nota-se que a pessoa não conhece um número suficiente de


homens para fazer tal conclusão, generalizando a todos essa característica.

B) Falsa analogia
De uma semelhança parcial conclui-se uma semelhança total; em outras
situações, duas coisas sem relação são comparadas.

Ex.: Os filhos são como pregos - temos que martelar a cabeça para que
cumpram suas funções.

XI – Esnobismo Cronológico

Ocorre quando o pensamento, a arte ou a ciência de um período histórico


anterior é tido como inevitavelmente inferior ou superior, quando comparado
com os equivalentes do tempo presente.
Estrutura.: A é um argumento antigo, da época em que as pessoas também
acreditavam em B. Se B é claramente falso, A também é falso.

Ex.: Na filosofia, Platão á está ultrapassado. É melhor Sartre, pois é mais


recente.
Problema: O argumento diz que está certo é simplesmente porque é mais
recente, ou seja, não é um argumento sólido para dizer que é melhor em
relação a algo mais antigo.

XII - Evidência anedótica

Refere-se a uma evidência informal na forma de anedota (conto, episódio,


derivado do grego anékdota, significando "coisas não publicadas") ou de "ouvir
falar". A evidência anedótica é chamada de testemunho.

Ex.: Ouvi boatos de que seu pai, falecido há 20 anos, foi morto por milicianos.

Problema: Sem provas concretas, a pessoa se baseia em um testemunho


pessoal para sustentar o argumento.

XIII - Probabilidade Condicionada

Ocorre quando se expõem estatísticas e probabilidades sem oferecer o


contexto necessário para sua interpretação, confundem-se probabilidades
condicionais, invertendo-as ou tratando-as como se fossem incondicionais.

Estrutura: Refere-se à probabilidade de um evento A sabendo que ocorreu um


outro evento B e representa-se por P(A|B), lida "probabilidade condicional de A
dado B" ou ainda "probabilidade de A dependente da condição B".

Ex.: O marido ser o principal suspeito de matar a mulher porque ele a


espancava e a probabilidade de uma mulher ser morta por um marido
espancador é de 1 em 1.000, ou seja, mais alta que o risco de ser morta por
um marido que não a espanca ou por um estranho qualquer na rua.

XIV - Nomotética

Consiste na crença de que uma questão pode ser resolvida simplesmente


dando-lhe um novo nome, quando, na realidade, a questão permanece sem
solução.
Ex.: Não creio no criacionismo, mas no design inteligente.

Problema: Design Inteligente é o mesmo que Criacionismo, logo a pessoa


mudou o nome para parecer que é diferente, melhor.

XV – Arenque Vermelho
Falácia cometida quando material irrelevante é introduzido no assunto
discutido, para desviar a atenção e chegar a uma conclusão diferente.

Ex.: Será que o palhaço é o assassino? No ano passado, um palhaço matou


uma criança.

Problema: O fato de um palhaço ter matado uma criança não significa nada,
não interfere no caso em questão.

XVI - Falso axioma

Consiste em fazer uma frase popular como se fosse uma verdade


incontestável.

Ex.: Ninguém deve se meter na confusão dos vizinhos, pois como diz o ditado -
Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.

Problema: A pessoa usa essa frase popular para dizer que está certa.

XVII – Teoria da Conspiração

Consiste em atribuir verdade aos fatos, exclusiva ou principalmente por conta


de seu caráter supostamente secreto ou sigiloso. A impossibilidade de verificar
os fatos torna a falácia mais persuasiva, convencendo o interlocutor da
capacidade dos conspiradores de esconder a própria existência.

Ex.:

1. Um grupo antigo e secreto controla todos os aspectos da vida na Terra.


2. Não há nenhuma prova da existência deste grupo.
3. Isso acontece porque um grupo antigo e secreto controla todos os aspectos da
vida na Terra.

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